Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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quinta-feira, 14 de outubro de 2021

MÚLTIPLAS CAUSAS PARA UM EFEITO


NOTA PRÉVIA: Não sou adepto de indústria e transportes baseados em combustíveis fósseis. Estes combustíveis são responsáveis por imensos danos ambientais, a começar pelos locais de onde são extraídos e a acabar nos pulmões dos citadinos, que povoam as cidades, fortemente dependentes destes combustíveis e cujo ar é de fraca qualidade.

1- Porém, a escassez de combustíveis fósseis desde o carvão, com particular incidência na China*, até ao petróleo e a gasolina utilizados para aquecimento, transportes individuais e, sobretudo, para transportes de mercadorias, passando pelo gás natural, cuja escassezafeta gravemente a rentabilidade de muitas empresas, especialmente na Alemanha, está correlacionada com os lockdowns longos, que causaram interrupções na extração dos referidos combustíveis e uma paragem nos esforços de prospeção. Pontualmente, houve o absurdo preço negativo dos contratos de futuros de barris de petróleo, consequência de um excesso momentâneo da oferta de petróleo no mercado mundial, na primavera do ano passado. Mas, aquando do retomar das atividades económicas diversas, o consumo de energia, em particular da energia elétrica, disparou. Os preços também dispararam, pois a produção tinha ficado parcialmente emperrada ou, pelo menos, incapaz de fazer face a tais oscilações do consumo, nada normais ou habituais. 

2- A frenética campanha do «tudo elétrico» (carros movidos a baterias elétricas que, por sinal, têm uma pegada ecológica superior aos carros movidos a gasolina), pode enriquecer Elon Musk e dar uma certa euforia aos acionistas da Tesla mas, no cômputo geral, a caminhada para uma energia «renovável», capaz de se bastar a si própria e proporcionar uma satisfação das necessidades de consumo dos cidadãos e das indústrias, está longe de ter chegado ao momento, não de fruição, mas somente de se ver, por fim, a luz ao fundo do túnel. 

Com efeito, os planos absolutamente voluntaristas dos dirigentes mundiais e suas promessas de eliminação de emissões de CO2, oriundas dos combustíveis fósseis, são apenas promessas, feitas para mostrar empenho aos verdes eleitores ("verdes", no sentido de imaturos). Na realidade, precisamos de todas as formas de obtenção de energia, conquanto as possamos gradualmente sujeitar à substituição faseada e não brusca, conquanto tenhamos em conta que também a energia nuclear, por mais riscos potenciais que se lhe possam atribuir, tem que fazer parte da equação, se quisermos manter os confortos a que nos habituámos, no Ocidente.

Com efeito, os ecologistas políticos, com um coração grande (talvez), mas com pouco discernimento, têm feito um grande barulho em torno do «efeito de estufa», supostamente causado pelas emissões humanas**. Têm pressionado os governos para tomar medidas drásticas. Estes, por sua vez, ficam encantados pela oportunidade para mais regulações e impostos, com aceitação, ou mesmo, aprovação dos eleitores. 

3- Obviamente, a escassez leva ao encarecimento dos produtos, sejam matérias-primas industriais, cuja extração supõe consumo importante de energia, seja de bens alimentares, também fortemente dependentes de energia, sobretudo nos países exportadores e nas estufas (vejam o caso paradigmático das estufas holandesas). Um aumento nos preços finais teria de se verificar. 

Deu-se a conjugação seguinte para uma «tempestade perfeita»: a) Desorganização no ponto de origem - fabrico, extração ou cultivo. b) Desorganização do transporte (ex: transportes marítimos num caos nos portos da China, transportes rodoviários com sérias deficiências, em Inglaterra) e, finalmente, c) A renovada apetência de consumo dos cidadãos, depois de prolongadas e artificiais paragens, causadas pelos «lockdowns». 

4- Agora, querem fazer-nos crer que a subida da inflação é transitória. Pois bem; o que eu vejo, é que existem várias causas envolvidas nesta subida dos preços. Muitas pessoas pensam em termos lineares, mas a realidade não é assim; a realidade é formada de causas e efeitos imbrincados, de grande complexidade e com variação no tempo. O mundo é caótico, pela sua própria natureza; o Homem apenas o torna um pouco mais, apenas fabrica situações suplementares, ou acentua as existentes. 

5- Por que motivos os preços continuarão a subir?

- A energia subiu e não vai descer, de modo significativo: O mundo ainda depende, numa enormíssima percentagem, das energias fósseis; estas estão a atingir, ou já atingiram, o famoso «pico de Hubbert». Os preços não podem descer; escasseia a oferta e a procura também não desce, pelo menos, ao nível global.

- Os impostos sobre o consumo, apresentados como «taxas carbono», significam que os cidadãos terão maior carga de impostos. Significa também, que terão menos dinheiro disponível, a rentabilidade das empresas será menor. Tudo isto é antieconómico, irá traduzir-se em escassez, artificialmente causada pela mão pesada do Estado. Isto resume-se à gula dos políticos; sabendo eles que a «moda é o verde», pensaram que isso os beneficiaria eleitoralmente. Também vão carregando a nota das regulamentações, causadoras de maiores custos, repercutidos pelas empresas nos preços ao consumidor. 

- A escassez de mão-de-obra, em certos sectores-chave, só será suprida se houver acréscimo substancial dos salários. Parece-me pouco provável isso acontecer, no curto prazo. O que vai haver é uma estagnação-inflação, que os anglo-saxónicos chamam «stagflation». Será muito dura: os trabalhadores terão falta de trabalho, quando há aumento do custo de vida, quando têm menos entradas de dinheiro para o seu sustento. 

- Finalmente, a contínua impressão monetária, sem fim à vista, apesar de anúncios de «abrandamento», pelos dirigentes da FED. Com efeito, a subida dos juros da dívida pública, sabendo nós que a dívida pública anda em torno de 140 % do PIB, para muitos países do chamado «1º Mundo», vai tornar absolutamente impossível a paragem da impressão monetária, do «quantative easing». No momento em que houvesse tal paragem, a subida brusca dos juros das obrigações estatais levaria os Estados diretamente à falência, por falta de capacidade de pagamento de juros de obrigações, por eles emitidas. Sendo este o cenário que todos querem evitar, a espiral inflacionária vai continuar e acentuar-se, com o risco de se transformar em hiperinflação.


Gráficos com comentários de Charles Hugh Smith

É muito simples, se há triliões que são impressos, em face duma produção de bens materiais constante - no melhor dos casos - haverá maior número de unidades monetárias, para um mesmo número de produtos. O preço destes tem de aumentar, pela própria «lei da oferta e da procura».  

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A situação tornou-se tão dramática, que a China teve de reverter seu embargo de importação de carvão australiano, apesar de estar de candeias às avessas com a Austrália, por esta ter sugerido uma comissão de inquérito internacional às atividades do Instituto de virologia de Wuhan. Esta atitude desencadeou a retaliação por parte da China, banindo a importação, desde a lagosta até ao carvão australianos. 

** Uma realidade não tão nítidapara mim, que me tenho debruçado seriamente sobre o assunto (desde os anos noventa do século passado!)



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PS1 (15-10-2021): Se não tens grande confiança na minha palavra, compreendo, sou apenas um «Zé Ninguém»! Mas - ao menos - tem em consideração o artigo que Jim Rickards acaba de publicar: «The Revenge Of The Fossil Fuels», que vai totalmente ao encontro daquilo que escrevi acima.

PS2 (17-10-2021) - Um artigo que explica as causas da crise de escassez global (com tendência a agravar-se), tanto nas matérias-primas como nos produtos acabados: https://www.rt.com/op-ed/537664-supply-chains-shortage-crisis/

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

ENFRENTAR AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS OU GERIR NARRATIVAS, RUMO AO CONTROLO CENTRALIZADO DA SOCIEDADE?

Decidi traduzir uma parte do artigo de Matthew Piepenburg, «The Death of Truth & the Rise of Centralized Government Control».
 
[Ler o artigo na íntegra, em inglês, no link abaixo (1)].

 Políticas de «Câmbio Climático» - Sábias, Altruístas ou Apenas Mais Controlo Centralizado?

Quanto a mais exemplos de uso criativo da linguagem para esconder a verdade, pode aparecer como uma surpresa para todos aqueles de nós que se preocupam com o planeta, de que o súbito e politizado interesse no «câmbio climático» possa não ser tão altruísta ou progressivo como os políticos gostariam de vos fazer crer.
Num contexto global de desespero causado pela dívida insolvente e de crescente centralização, os líderes sequiosos de aumentar a sua credibilidade, desejam que nós admiremos a sua iniciativa verde. Mas, o real motivo por detrás dos seus planos pode ser menos colorido de verde do que da cor do petróleo.
Com todas as forças inflacionárias se conjugando (expansão extrema da massa monetária, déficits fiscais, garantias governamentais, etc.), a última coisa que os nossos líderes - não muito confiáveis - desejam confessar é que os preços do petróleo e as dificuldades do abastecimento em petróleo, mostram que chegámos ao «pico do petróleo», que a era do petróleo barato está a chegar ao fim.
Em vez de confessar que, na base das inúmeras ondas de choque na economia e na política, existe a situação do «pico do petróleo», os poderes preferem usar as «Alterações Climáticas» para se justificarem, na guerra total que - de repente - estão a lançar contra os combustíveis fósseis e isto para mascarar a viragem para um controlo governamental mais centralizado dos cidadãos, dos seus pensamentos e dos seus consumos de energia.
No início de Julho, por exemplo, o Financial Times anunciou que “em ordem a que uma finança sustentável funcione, precisamos de Planificação Central.
A sério? - Ótimo, mais planificação central.
Esta afirmação sincera foi produzida face à nova estratégia da UE, de finança sustentável e de Padrão das Obrigações Verdes, destinadas a fazer da Europa o primeiro continente climaticamente neutro em 2050.
Parece nobre? Quem não gosta da "neutralidade do clima"?
Mas, porquê a finança sustentável e a neutralidade climática exigiriam uma planificação central?
O que é deliberadamente censurado nesta iniciativa é este pequeno conceito incómodo e em perigo hoje, o de permitir que os mercados livres decidam qual das diversas fontes de energia tem o melhor «Retorno da Energia sobre a Energia Investida» [“Energy Return on Invested Energy” (EROIE)].
Escusado será dizer que, no que toca à otimização dos custos, a melhor taxa de retorno continua a ser a desses malcheirosos combustíveis, não das eólicas ou de reatores nucleares.
Escusado, também, será dizer que, se as forças do mercado estivessem a atuar realmente, os participantes escolheriam a forma de energia mais barata, mais eficiente para um mesmo custo, de novo: os combustíveis fósseis.
A fazer as manchetes, nestes dias, no entanto aparecem os atores políticos globais (de Yellen, até à IEA) preocupados (nobremente?) em liquidar a rentabilidade dos combustíveis fósseis. A IEA declarou querer que os grupos do sector energético deixem de produzir petróleo e gás a partir de 2050.
Mas, de novo: Será que o motivo é realmente nobre? Será acerca do ambiente? Da segurança do planeta? Ou outra coisa?
Cinicamente, pode haver um problema escondido por debaixo desta superfície brilhante da política, incluindo o facto de que a taxa de extração de petróleo abaixo da superfície deste mesmo planeta, não se moveu muito, na década passada.


Por outras palavras, terá o mundo atingido o pico do petróleo?
Será que os decisores políticos estão deliberadamente a atacar o mercado livre de utilização das fontes energéticas para salvar o planeta ou ,secretamente, acreditam que o pico do petróleo (nomeadamente, do petróleo «barato») é uma realidade poderosa, contra a qual eles devem agir agora, dum modo extremo?
Em resumo, será a «Alteração Climática» uma astúcia politicamente correta (2) para mascarar a realidade muito mais sombria, de que o «pico do petróleo» está em cima de nós, o que terá um impacto muito drástico nos mercados da dívida, na geopolítica (pense-se na Arábia Saudita), e na inflação (subindo na vertical)?
Sem dúvida, que a «mudança climática» oferece uma imagem mais simpática, que umas parangonas sobre o «pico do petróleo», com tudo o que isso traz em consequência, caso o petróleo a preço acessível se torne uma memória distante.

in:

[2] https://www.zerohedge.com/weather/advance-climate-agenda-never-waste-bad-weather