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domingo, 28 de julho de 2019

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE III)

                        Resultado de imagem para Matrix pills

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Sem quaisquer pretensões em profetizar seja o que for, tenho de dizer - com toda a sinceridade - que fico surpreendido com a justeza e precisão das minhas previsões. Por exemplo, nunca duvidei que as divisas em papel (ditas «fiat») iriam sofrer uma erosão, tanto maior quanto o «quantative easing» e os juros zero ou negativos viessem distorcer os mercados, implicando que as pessoas, os negócios, os próprios Estados, já não poderiam - de todo - confiar no valor do dinheiro.
Perante a crise da dívida, o elefante na loja de porcelanas que tudo quebra, as entidades ditas «reguladoras», os bancos centrais, apenas têm duas «balas» para carregar a sua pistola: 
- uma delas, é a impressão ilimitada de divisas e sua distribuição aos bancos comerciais (o «quantitative easing»); ora, esta tendência é retomada após um interregno breve, menos de dois anos, pela FED (Reserva Federal Americana, o banco central, privado, dos EUA) e não tendo verdadeiramente parado, nos casos do ECB (Banco Central Europeu, emissor do Euro) e do BOJ (Banco central do Japão). 
- a outra, é a manutenção dos juros (das obrigações soberanas, isto é emitidas pelos Estados), a níveis que seriam «estimulantes» da economia. 
Embora estes juros não permitam qualquer investimento racional em poupança, por parte dos agentes económicos, visto que, em vários casos, já sejam negativos (os bancos cobram ao fim de um ano, uma quantia, em vez de dar um juro ao depositante), eles são defendidos pelos economistas ao serviço dos poderes, por duas razões: 
- são encorajadores do consumo, visto que muitas compras actualmente são feitas a crédito [argumento válido, em princípio, mas que implicaria que os salários tivessem uma subida moderada e real, pelo menos acompanhando a inflação, ora os salários não sobem, estagnam... em termos reais, o poder de compra das pessoas diminui]
- vão embaratecer a liquidação das dívidas, sobretudo dos Estados e grandes instituições privadas (banca e grandes empresas). Este argumento não é produzido frequentemente na imprensa mainstream, pois é realmente muito desfavorável à imagem dos poderes do dinheiro e dos Estados. É um facto que o pagamento dos compromissos, desde pensões de reforma, até aos empréstimos (as emissões de obrigações do tesouro, a dez, vinte, trinta ou mais anos) fica muito mais fácil, se o quantitativo dos ditos compromissos (o montante em dívida) ficar praticamente idêntico e a inflação tiver diminuído o valor real do dinheiro: com uma inflação de 2% anual, ao fim de 10 anos, uma pensão de reforma que se tenha mantido sem actualização (é exactamente o que acontece, em muitos países)  terá um poder de compra real de menos 20%... Se a inflação real não for de 2%, mas sim muito maior, de 10% (bem mais próximo da realidade, num país como Portugal) ao fim de 10 anos, a mesma pensão valerá cerca de 10 % apenas do valor inicial em termos de poder de compra, ou seja, a partir duma soma aceitável, passa-se para a indigência! 
Torna-se evidente que os bancos centrais e os governos, apenas querem safar-se, o melhor possível, da montanha de dívidas que foram fazendo nestes anos e que acelerou após a grande crise de 2007-2008. 
Como medidas de «combate» à crise, apenas fizeram uso das «duas balas» acima descritas e mesmo estas, usaram-nas somente para favorecer os já muito privilegiados (os 0,01%), que tinham a possibilidade de obter empréstimos tão baratos, quase gratuitos, não para favorecer a economia real, onde intervêm pequenos empresários, trabalhadores e suas famílias. O efeito foi que se formaram enormes bolhas nos mercados financeiros - acções e obrigações - acrescidas da bolha no imobiliário, que teve efeitos devastadores na gentrificação dos centros urbanos em todo o mundo, colocando a aquisição dum andar de preço médio, fora do alcance das famílias da classe média, seja em Londres, Paris, ou Nova York ...
Penso que a «elite» que nos desgoverna não vai evitar a crise que aí vem, a qual será com certeza de uma ordem de magnitude maior que a de 2008: a que rebentou há pouco mais de dez anos tinha como epicentro as hipotecas sobre imobiliário feitas a pessoas que não tinham as condições necessárias para as obterem («sub-prime» quer dizer isso). A crise que se desencadeou quase causou a derrocada do edifício bancário mundial e apenas foi «estancada» com a oferta de 26 triliões de dólares (ou o equivalente, noutras divisas) para que os bancos não ficassem a descoberto. Estas enormes somas não foram reabsorvidas, mas antes reforçadas com o constante fluxo de dinheiro (é isso o «quantitive easing»), dirigido às mesmas entidades bancárias. Entretanto, sabendo estas que «tinham as costas quentes» graças aos bancos centrais, em vez de emprestar aos empresários e às famílias, puseram uma parte destas quantias em reserva nos próprios bancos centrais, com um juro quase nulo, mas sem risco; a parte restante, serviu para jogos de auto-compra de acções nas bolsas, destinadas a fazer subir artificialmente as cotações das próprias acções... o que - por sua vez - ia aumentar os bónus que os administradores desses bancos recebiam!
Face a esta situação, pode-se afirmar que estamos pior, a nível do «Ocidente» pelo menos, relativamente à véspera da falência do Lehman Brothers, em Setembro de 2008. 
A «resposta» das elites do dinheiro e do poder foi a mais medíocre que se possa imaginar. Não admira que estejam somente a adiar o estoiro final dos vários esquemas de Ponzi (*), que eles próprios instauraram.

Entretanto, vão acelerando a corrida aos armamentos, com a estúpida e perigosa fantasia do «keynesanismo militar» uma teoria que aproveita a ideia de Keynes de que o Estado deve entrar em despesa para ajudar a arrancar a economia do marasmo, mas com a variante «militar», trata-se de despesa não-reprodutora de capital e logo dissipadora de riqueza, não criadora. Pois o armamento e despesas conexas, jamais poderão constituir uma base para enriquecimento global: o destino do armamento, ou é ser armazenado (o armazenamento tem custos); caso não seja usado, fica caduco e será preciso mais dinheiro para construir novas armas; ou, se for utilizado, significa destruição de pessoas e bens. Numa economia globalizada, a miséria dos vencidos também acaba por bater à porta dos «vencedores».
Para convencerem os cidadãos dos seus países de que é preciso acelerar a corrida aos armamentos, recorrem ao medo, ao papão da «ameaça» russa ou chinesa. Eles precisam de tornar a ameaça credível; então, inventam mil e uma situações de potencial conflito. Os estados maiores anglo-americanos tornaram-se especialistas em gerar e gerir o atrito em várias frentes: o Irão e estreito de Ormuz, mas também o Mar da China e as fronteiras russo-bálticas. 
Em todos os casos, estão a «brincar com o fogo», pois as provocações podem, num dado momento, ser confundidas com o desencadear duma ofensiva e, por sua vez, suscitarem contra-ataques, ou pode até haver respostas não desejadas pelos comandos superiores, causadas por subordinados demasiado enervados com estas danças e contra-danças. 
A criminalidade da NATO, dos governos dos países que dela fazem parte e de todas as hierarquias de altas patentes militares, é por demais evidente. 
A necessidade de se encarar esta organização como o factor de desestabilização nº1, em todo o mundo, não é exagerada da minha parte. Basta ver o que diz sobre o assunto Paul Craig Roberts, um ex-subsecretário de Ronald Reagan, que  preparou o terreno para o final da Guerra-Fria, por Reagan e Gorbatchov.   
Relativamente a tudo o que ouvimos e lemos nestes dias na media corporativa, aquilo que incide sobre reais questões candentes da actualidade, é muito pouco. A media continua a fazer seu papel ao atulhar os olhos e ouvidos das pessoas com «notícias» irrelevantes, satisfazendo a gula que muitas pessoas têm pelo sórdido, pelo escabroso, pelo indecente...  
As verdadeiras notícias, no melhor dos casos, são servidas descontextualizadas. Só os especialistas as compreendem realmente e colocam-nas no devido contexto. Outras vezes, são distorcidas e apresentadas de modo falsamente objectivo, são «fake news» produzidas pelas grandes organizações de media (CNN, BBC, NYT, The Guardian, Libération, Le Monde ...). Note-se que muitos títulos com passado glorioso, foram capturados pelo «politicamente correcto» e pela narrativa obsessiva, que coloca sempre os «outros» como «Império do Mal», não importando que seja em resultado de análises completamente distorcidas e dando crédito a «fontes» muito dúbias. Eles estão cumprindo o papel de instrumentos de propaganda, que lhes foi destinado, dentro do grande esquema da 3ª Guerra Mundial. 
Esta 3ª Guerra Mundial, já tem anos. Começou com o gigantesco ataque de falsa bandeira às Torres Gémeas e ao Pentágono, no dia 11 de Setembro de 2001. Desde então, não parou - não houve nenhum ano decorrido, sem acções militares desencadeadas pelos EUA sozinhos, ou com aliados seus da NATO. 
Por isso, é que temos a realidade que temos. 

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(*) Esquema de Ponzi: um especulador que inventou uma burla nos anos 1920 para captar incautos; dava juros altos, com os novos capitais que - entretanto- vinham afluindo.
  

sábado, 15 de junho de 2019

ENTREVISTA A MICHEL CHOSSUDOVSKY: «Sem desinformação, a NATO desmoronar-se-ia»


Michel Chossudovsky fala sobre as conclusões do colóquio internacional na ocasião do aniversário da NATO, salientando como a opinião publica ignora a natureza desta aliança fictícia, os seus verdadeiros objectivos, o seu funcionamento e os seus crimes.

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Da esquerda para a direita: General Fabio Mini, intérprete, Michel Chossudovsky (de pé), Vladimir Kozyn, intérprete, Giulietto Chiesa, Manlio Dinucci (de pé).
Q:Qual foi o resultado da Conferência de Florença?
Michel Chossudovsky : Foi um acontecimento de máximo sucesso, com a participação de oradores qualificados dos Estados Unidos, Europa e Rússia. Foi apresentada a história da NATO. Os crimes contra a Humanidade foram identificados e cuidadosamente documentados. No final da Conferência, a foi apresentada a “Declaração de Florença” para sair do sistema de guerra.
Q : Na sua introdução, afirmou que a Aliança Atlântica não é uma aliança…
Michel Chossudovsky : Pelo contrário, sob o disfarce de uma aliança militar multinacional, o Pentágono domina o mecanismo da tomada de decisões da NATO. Os EUA controlam as estruturas de comando da NATO, que estão incorporadas nas dos EUA. O Comandante Supremo Aliado na Europa (SACEUR) é sempre um general americano, nomeado por Washington. O Secretário Geral, actualmente, Jens Stoltenberg, é essencialmente um burocrata encarregado das relações públicas. Não tem nenhum papel decisivo.
Q : Outro tema salientado por si é o das bases militares dos EUA, em Itália e em outros países europeus, mesmo no Leste, apesar do Pacto de Varsóvia ter deixado de existir desde 1991 e apesar da promessa feita a Gorbachov de que não haveria expansão para Leste. Para que é que elas servem?
Michel Chossudovsky : O objectivo tácito da NATO - um tema relevante no nosso debate em Florença - foi instalar, sob uma designação diferente, uma “ocupação militar” de facto, na Europa Ocidental. Os Estados Unidos não só continuam a “ocupar” os antigos “países do Eixo” da Segunda Guerra Mundial (Itália, Alemanha), mas usaram o emblema da NATO para instalar bases militares dos EUA em toda a Europa Ocidental e, posteriormente, na Europa Oriental, no prosseguimento da Guerra Fria e nos Balcãs, na continuação da guerra da NATO contra a Jugoslávia (Sérvia e Montenegro).
Q : O que mudou sobre um possível uso de armas nucleares?
Michel Chossudovsky : Logo após a Guerra Fria, foi formulada uma nova doutrina nuclear, focada no uso preventivo de armas nucleares, isto é 'first strike’ (primeiro ataque) nuclear como meio de autodefesa. No âmbito das intervenções USA/NATO, apresentadas como acções de manutenção da paz, foi criada uma nova geração de armas nucleares de “baixa potência” e “mais utilizáveis”, descritas como “inofensivas para os civis”. Os políticos americanos consideram-na “bombas para a pacificação”. Os acordos da Guerra Fria, que estabeleciam algumas salvaguardas, foram cancelados. O conceito de “Destruição Mútua Assegurada”, relativo ao uso de armas nucleares, foi substituído pela doutrina da guerra nuclear preventiva.
Q : A NATO estava “obsoleta” na primeira metade da presidência de Trump, mas agora é reactivada pela Casa Branca. Qual é a relação entre a corrida armamentista e a crise económica?
Michel Chossudovsky : A guerra e globalização andam de mãos dadas. A militarização apoia a imposição da reestruturação macroeconómica nos países-alvo. Impõe a despesa militares para apoiar a economia de guerra em detrimento da economia civil. Leva à desestabilização económica e à perda de poder das instituições nacionais. Um exemplo: recentemente, o Presidente Trump propôs grandes cortes na saúde, na educação e na infraestrutura social, enquanto exigiu um grande aumento no orçamento do Pentágono. No início da sua administração, o Presidente Trump confirmou o aumento da despesa para o programa nuclear militar, lançado por Obama, de 1.000 a 1.200 biliões de dólares, alegando que isso serve para manter o mundo mais seguro. Em toda a União Europeia, o aumento da despesa militar, juntamente com medidas de austeridade, está a levar ao fim o que foi designado como “Welfare State” = “Estado Providência ou de bem-estar social”. Agora, a NATO está sob pressão dos EUA para aumentar as despesas militares e o Secretário Geral, Jens Stoltenberg, declara que essa é a coisa certa a fazer para “manter a segurança da nossa população”. As intervenções militares são combinadas com actos simultâneos de sabotagem económica e manipulação financeira. O objectivo final é a conquista dos recursos humanos e materiais e das instituições políticas. Os actos de guerra sustentam um processo de conquista económica completa. O projecto hegemónico dos Estados Unidos é transformar os países soberanos e as instituições internacionais em territórios abertos à sua penetração. Um dos instrumentos é a imposição de fortes restrições aos países endividados. Para empobrecer vastos sectores da população mundial contribui a imposição de reformas macroeconómicas prejudiciais.
Q : Qual é e qual deveria ser o papel da comunicação mediática?
Michel Chossudovsky : Sem a desinformação distribuída, na generalidade, por quase toda a comunicação mediática, a agenda militar dos USA/NATO desabava como um castelo de cartas. Os perigos iminentes de uma nova guerra com as armas mais modernas e com o perigo atómico não são notícia de primeira página. A guerra é representada como uma acção de pacificação. Os criminosos de guerra são descritos como pacificadores. A guerra torna-se paz. A realidade está deturpada. Quando a mentira se torna verdade, não se pode voltar atrás.
Tradução 
Fonte 

terça-feira, 5 de março de 2019

A UM ANO DE DISTÂNCIA DO «CASO SKRIPAL»


                             

Lembram-se com certeza do barulho e histeria que rodearam, há precisamente um ano atrás, este caso jamais plena e satisfatoriamente esclarecido?

Pois, um distinto escritor, Michael Antony, um britânico residente na Suíça, produziu recentemente uma narrativa alternativa, que sintetiza brilhantemente aquilo que se sabe sobre o caso rocambolesco e apresenta uma solução racional, baseada em evidências, que nos permite compreender toda a engrenagem envolvida neste caso. 

As implicações deste caso estão longe de estar encerradas. Não é de excluir que se volte a assistir a novos casos da mesma natureza ou do mesmo género. Ou seja, fabricações de serviços secretos ocidentais, para convencer as opiniões públicas zombificadas, com o objectivo último de criar um ambiente de nova «guerra fria» com a Rússia.
  
Claro que nunca saberemos toda a verdade sobre o assunto. Mas, pelo menos, com os elementos de que nós dispomos, sabemos que a versão oficial - a das autoridades britânicas - não pode ser verdadeira, nem sequer é verosímil. 

Leiam os artigos abaixo e avaliem:

https://michaelantonyblog.wordpress.com/2019/02/22/the-alternative-skripal-narrative/

https://off-guardian.org/2019/03/04/the-skripal-case-one-year-on/

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

SOBRE OS NOSTÁLGICOS DA GUERRA FRIA



A ingenuidade, a inocência dos ignorantes, a ilusão, a miragem dum mundo de celulóide, mais real que o real...
Sim, compreende-se que algumas pessoas tenham saudades da guerra-fria e queiram restabelecer os muros que dividiram ao meio continentes e  povos: Dum lado, os maus, do outro, os bons; dum lado, os dogmas e do outro, as verdades; dum lado, a ideologia perniciosa, do outro, a democracia verdadeira...  Reparem que uns e outros davam a si próprios o papel nobre, elevado, moral... 

Porém, as pessoas que  nasceram por volta de 1989, ou depois disso, apenas podem olhar com estranheza e alheamento o universo dos seus avós, ou bisavós... dos que viveram - desde 1947 - a instalação e continuação da tal «Guerra Fria», que foi tão conveniente para a dominação dos «senhores do mundo». 
Tendo eu nascido em 1954, tenho memórias e não tenho saudades da época que terminou com a queda do Muro de Berlim. 
As ideologias caducas, apesar de reconhecidas como tal, perduraram, porém... muito para além da situação que lhes podia dar alguma razão de ser. 
Hoje em dia, a ideologia identitária, o nacionalismo, as versões fundamentalistas das várias religiões, substituem-se às ideologias simétricas do comunismo e do anti-comunismo, com as quais doutrinaram as gerações que viveram em plena guerra fria.  
Estas ideologias identitárias estão construídas sobre preconceitos, deturpações da história, etc. tal qual como aquelas que substituíram. Por vezes, trata-se até de meras variações das mesmas, sob capa de algo «novo».
As de agora são tão absurdas e perigosas como as suas antecessoras. Aliás, muitas vezes subvertem completamente valores e ensinamentos das religiões ou doutrinas filosóficas que dizem professar. Transformando-se em instrumentos de poder, procuram justificar o domínio de uns (os «eleitos»), sobre os outros. 
Afinal de contas, tais ideologias são construções que incitam e encobrem, ou mesmo participam directamente nos genocídios, nas limpezas étnicas, nas barbáries e crimes contra a humanidade... 

É difícil combater o veneno da intolerância, do fanatismo, do ódio, do desprezo pelo outro, sem dúvida. 
Mas, por isso mesmo, pessoas com responsabilidades nos domínios cívico, político, artístico, académico, etc. deveriam exercer esclarecimento e revelar a fraqueza e falsidade dos pseudo conceitos que estão na sua origem. 
São estas as  pessoas que têm maior audiência e maior papel na formação das jovens gerações. Porém, isto não significa que as outras, as pessoas «comuns», devam basear seu comportamento no delas e transformá-las em «ídolos». Devem pensar por elas próprias, determinar o que devem ou não fazer, sem modelos impostos.

Afinal, talvez o conhecimento do que foi realmente a tal «guerra fria nº1», seja um bom antídoto para que os mais jovens não se deixem manipular pelos nostálgicos da mesma.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

COREIA DO NORTE - COREIA DO SUL: CIMEIRA HISTÓRICA

                              

Estive recentemente na Coreia do Sul, com minha esposa de origem coreana e visitei a sua família. Não tive ocasião de falar em pormenor com os meus cunhados sobre o assunto  do dia, mas tive oportunidade de perceber que na sociedade sul-coreana existe um grande alívio, uma força muito particular, a das pessoas e povos que estão certos que o caminho que estão trilhando é aquele que devem fazer. 
Os coreanos, como confucionistas que sempre foram (pelo menos 99% deles), não se guiam pelo princípio do «prazer» mas do «dever». Eles sabem que o devem a si próprios, à sua descendência e à imagem que transmitem ao Mundo, que assim tinha que ser. Era o único caminho honroso.
Lembro-me de uma conversa amistosa que tive há cerca de vinte anos sobre o problema da resolução das relações entre as duas Coreias, com uns amigos coreanos que então estavam a trabalhar como quadros superiores em Portugal: disse-lhes nessa ocasião, que não me considerava um especialista do seu país, apesar da minha esposa coreana, mas que falava «do coração». Dizia eu, que tinha atrevimento de considerar o seguinte:
- Só poderia haver solução para o problema das Coreias, se houvesse um diálogo directo entre os dirigentes das duas Coreias. 
Coreia do Sul estava refém dos seus «amigos» americanos, assim como a Coreia do Norte, dos «amigos» chineses ( e russos)
Se não houvesse diálogo directo, as Coreias iriam manter-se num estado de «nem guerra, nem paz» indefinidamente, porque isso satisfazia os desejos das respectivas potências tutelares. 
Os meus amigos olharam-se uns aos outros, considerando o que dizer ... e, para minha surpresa, deram-me uma  subtil réplica, disseram-me que eu «falava como um coreano». Fiquei convencido - na altura - que a sua opinião era de que eu me tinha um bocado intrometido nos assuntos «internos» do seu povo, mas compreendiam que eu amasse a sua Pátria.

Chegou então o momento, como dizia ontem o Embaixador da Coreia do Sul em artigo de opinião do DN. Vai ser um processo longo e complicado, mas para as pessoas ou as nações se porem «a caminho», o essencial é dar o primeiro passo. Este já tinha sido dado afinal...  algures e em segredo. 
Eu estou convencido que as conversações iniciadas hoje, são um teatro diplomático, longamente negociado entre as duas partes, para consumo da media. Provavelmente, os pontos fundamentais já tinham sido acordados antes dos jogos Olímpicos de Inverno, na Coreia do Sul, este ano. 
Os últimos resquícios da guerra fria estão a fundir-se, como as últimas neves invernais se vão transformando em jovens e cantantes riachos primaveris!

segunda-feira, 19 de março de 2018

O QUE É QUE CARACTERIZA UM ESTADO DE DIREITO?

             

Vem esta reflexão a propósito do caso do ex-espião Skripal supostamente envenenado com um gás em Inglaterra. 
Houve um acesso de histeria, ao nível na classe política, ampliada pela imprensa tablóide, perante as afirmações peremptórias de Theresa May e de membros do seu governo, as quais estão completamente fora dos procedimentos, tanto no que respeita aos acordos internacionais relativos a gases tóxicos, como até à presunção de inocência de um caso de tentativa dupla de homicídio. 
Com efeito, o incidente que causou o envenenamento de Sergei Skripal e de sua filha de 33 anos Yulia deveria ser matéria de investigação criminal, para se estabelecer os factos, o motivo e  o agente do crime.
Uma qualquer organização ou Estado, podia ter - de facto - acesso ao tal gás, podia mesmo fabricar o referido gás, usado na tentativa de assassinato. 
Torna-se ainda mais preocupante a reedição de reflexos anti-comunistas primários, que tinham sido amplamente usados para manipular o medo dos «vermelhos» e sobretudo a perseguição, a inclusão em «listas negras», de todos os que eram suspeitos de simpatias pelo «inimigo», a Rússia soviética.
As guerras contra o «terror», lançadas na época de Bush filho, foram um enorme fracasso militar e portanto político também. A oligarquia autoritária precisava de um novo perigo real ou imaginário. O caso de Putin e da Rússia, serviu tal finalidade de poder manter o eleitorado debaixo do medo. Sob o efeito do medo, as pessoas deixam de ter espírito crítico e começam a ter reflexos gregários, que se observam igualmente nas multidões arregimentadas, nos regimes totalitários.
A proximidade de um grande colapso nos mercados - ainda mais no mercado da dívida, do que nas bolsas de acções - faz com que a oligarquia se esmere em criar incidentes para poder desencadear uma guerra total, já não apenas uma guerra económica (sanções diversas), cuja intensidade aliás ultrapassa as restrições ao comércio com a URSS, durante a Guerra Fria Nº1.  
Uma situação muito preocupante para a liberdade de opinião, de palavra, quando o próprio líder da oposição, Jeremy Corbyn, é insultado no parlamento, apenas por colocar questões pertinentes ao governo.
Em resumo: o que se vem assistindo com o folhetim do ex-espião russo é um sinal de que não existe verdadeiro Estado de Direito, logo que «estala o verniz» das instâncias oficiais e se comportam de forma tipicamente autoritária, para não dizer fascista. 

sábado, 20 de janeiro de 2018

ESTADO ISLÂMICO, INSTRUMENTO DE TERROR IMPERIAL


                     US Gambling on the Islamic State to Undermine China and Russia’s Position in Africa


A guerra dita contra o «terror» foi um instrumento de dominação, planeado e executado pelos neocons, no aparelho de Estado (o chamado «Estado profundo») dos EUA. 
Mas, a partir da década de 2010, essa guerra «contra o terror» já estava claramente perdida com as derrotas humilhantes no Afeganistão e no Iraque, da maior superpotência que jamais infectou o planeta.
Assim, as «luminárias» da administração Obama, aproveitando a onda de contestação nos países árabes da orla do Mediterrâneo (Tunísia, Egipto, etc) produzida por um empobrecimento das pessoas e a manutenção de regimes corruptos e autoritários, desencadeia a operação chamada «primavera árabe».
Esta consistia em utilizar, nestes países, os elementos radicais islamitas, em geral de obediência sunita, onde a sociedade secreta, a Fraternidade Muçulmana, tinha muita força. 
F. W. Engdahl descreveu tal jogada, ocorrida durante a passagem de Hilary Clinton pelo Departamento de Estado dos EUA, pelo que não irei aqui desenvolver o assunto. 
Basta recordar que, muito antes de Trump, por volta de 2014, já era completamente claro o papel desastroso que esta política representava para o conjunto das nações do Médio Oriente. 
Com efeito, esta política, começada com a guerra terrorista contra a Líbia, continuou com a exportação dos Jihadistas usados como elementos no derrube do regime de Kadafi (em particular em Benghazi)  para a guerra «civil» Síria. 
Esta guerra «civil» foi claramente insuflada do exterior, numa coligação operacional que envolvia Israel, a Arábia Saudita e os Emiratos (nomeadamente o Quatar, proprietário da cadeia de tv internacional Al Jeezira), assim como os aliados / súbditos da NATO (Turquia, França, Alemanha, Grã Bretanha...). 
Mas esta guerra «civil» também não estava a correr bem: 
O regime de Damasco, em vez de ser derrubado, estava-se consolidando e começou a ser apoiado militarmente pela Rússia. Esta decidiu ir em socorro do seu aliado sírio, para contrariar estrategicamente a expansão da «Jihad» no seu território. Lembremos as Repúblicas de maioria muçulmana, da Federação Russa no Cáucaso, não apenas a Chéchénia, e das minorias muçulmanas presentes em muitas outras partes da Federação Russa.
Para contrariar a influência russa no Médio Oriente, o presidente Obama e seus conselheiros arriscaram montar uma «Segunda Al Quaida». A primeira, com Osama Bin Laden, foi também organizada pelos serviços secretos americanos, durante a luta contra a URSS, no Afeganistão. O resultado fatal e trágico é que, tal como os monstros do tipo «Frankenstein», estas organizações terroristas sempre escapam ao seu criador.  
A segunda Al Quaida foi baptizada ISIS (mas este nome não era conveniente, pois idêntico ao acrónimo oficial, em inglês, dos serviços secretos de Israel). Depois, o seu nome foi resumido para «IS» (Islamic State) ou Estado Islâmico (ou Daech).
Esta força consistia numa reunião heterogénea de mercenários jihadistas, equipados, treinados e financiados pelos serviços secretos dos EUA e diversos Estados vassalos (Turquia, Arábia Saudita, Quatar, Jordânia...).
Esta coligação manteve, durante algum tempo, o jogo duplo, de combater formalmente o Daesh, enquanto lhes fornecia equipamento e abastecimento necessários para a continuidade da guerra contra Assad, na Síria, o regime que o «Ocidente» queria a todo o custo derrubar. 
Cabe aqui reflectir no que seria hoje em dia o Médio Oriente, se estas ambições dos imperialistas se tivessem concretizado: 
- Estaríamos perante um Califado, a estender-se desde Bagdad até a Damasco. Este Califado seria de obediência fundamentalista islâmica. As minorias, árabes ou não, muçulmanas, cristãs, ou outras, seriam impiedosamente sujeitas a «limpeza étnica» (exactamente como fizeram no Kosovo com a minoria sérvia ortodoxa). Mesmo os muçulmanos não sunitas radicais (existem grandes minorias Chiitas, Alauitas, etc.) seriam submetidos, num reino de terror, como aconteceu nas zonas e cidades (Mossul, Raqqa, etc,) sob controlo do ISIS.
 Não se deve esquecer que sejam eles designados por Al Quaida, Estado Islâmico, etc. são fundamentalmente a mesma coisa: 
- uma organização de mercenários, fanatizados na versão  mais fundamentalista do Islão.

Apesar da aparente modificação (apenas retórica?) da doutrina oficial de «defesa» nacional dos EUA da era Trump, o facto é que estes continuam a apoiar estes grupos e agora planeiam usá-los* de modo encoberto, nas repúblicas (ex-soviéticas) da Ásia Central, que têm fronteiras com a Rússia e a China, com o claro propósito de colocar em cheque a Nova Rota da Seda. Desestabilizando estes vastos territórios, tanto no interior da China e Rússia, como nos Estados fronteiriços, os imperialistas continuam a apostar na política de guerra-fria, afinal mais e sempre mais guerra. 
Além do sofrimento das populações destas regiões, tais políticas podem desencadear uma guerra mundial entre superpotências. 

(*) 


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

SANÇÕES UNILATERAIS SÃO ACTOS DE GUERRA E CRIMES SEGUNDO LEI INTERNACIONAL

                           

       A política de sanções que a aristocracia americana (e o Estado profundo) está a impor a um presidente fraco e manietado pela sua própria hesitação, está a chegar ao ponto de ruptura com os aliados tradicionais dos EUA. 
Igualmente, a atitude dos chamados «inimigos», russos e chineses, não pode mais continuar a ser de complacência, nem de crer que os líderes do império globalista desejam negociar. 

Com efeito, as sanções são actos de guerra, segundo a definição da ONU. Também segundo o estabelecido pela ONU, é ilegal um país impor sanções a outros, de forma unilateral. É, pois, a lei internacional que está sendo constantemente espezinhada por aqueles em cujo território está a sede da ONU! 

Além da ilegalidade, há outros aspectos substanciais que importa destacar: 
- as populações e não as elites governantes é que são as vítimas de embargos, sanções, etc. 
- estas medidas hostis têm como natural consequência o entrincheirar dos regimes visados; a sua popularidade geralmente cresce; proporciona uma união nacional, ou reforça-se esta, em torno dos líderes. Nunca as sanções resolveram problemas internos de quaisquer regimes.
- finalmente, para os arautos do «comércio livre», uma nação pretender ditar às restantes as regras de quem, como e o quê se pode comerciar é o máximo do cinismo. Embora já soubéssemos que o «liberalismo» deles se resumia a impor os interesses da superpotência dominante aos restantes actores, vemos que deixaram cair a máscara.

Constatação inquietante: o único vector constante na política externa dos EUA é a imposição pela força da sua vontade, não hesitando até fazer a guerra, sempre que exista uma grande assimetria de armamento com os regimes que eles antagonizam. 

Tão depressa colocam meio mundo sob sanções, como pretendem liderar o concerto das nações; tão depressa cometem e apoiam crimes de guerra sem fim, como se perfilam enquanto paladinos dos direitos humanos; tão depressa apoiam os regimes mais despóticos e contrários ao direito, como pretendem ser a «nação excepcional». 

                           

Talvez agora a UE mostre que não é assim tão servil, talvez saiba dizer «NÃO!» a sanções, que - parece - lhes são antes destinadas: a eles, aos aliados dos EUA, aos parceiros da NATO. 

 Mas eu não acredito que tal possa acontecer, enquanto a população europeia não acordar da letargia em que se encontra. 

Para manter o adormecimento, a media corporativa joga um papel de relevo. Que tem sido assim, mostram-nos as informações e análises sobre o papel da CIA, especialmente nos media da Europa, recentemente vindas a público graças a «whistleblowers» e ex-operacionais das agências secretas. 
Mas, na maioria dos casos, estas informações são ocultadas, ignoradas, pela media ao serviço dos poderosos.

Podemos estar no momento de passagem da «Guerra Fria 2.0» à «Guerra Quente». 

                                       

sábado, 14 de janeiro de 2017

NA GUERRA, A PRIMEIRA VÍTIMA É A VERDADE...


Estamos à beira de uma guerra, mas ninguém no Ocidente se incomoda com isso. 
A opinião pública foi quase completamente anestesiada com a política-espectáculo e essa guerra é vista como mais um espectáculo. 
Só que, desta vez, pode ser bem pior do que aquando do desencadear das guerras locais, pois será uma guerra entre super-potências nucleares. O público, os eleitores, os contribuintes, dos países ditos «ocidentais» só se incomodarão quando os efeitos baterem às sua porta. 

A horrível guerra civil na Síria só começou a incomodar os europeus quando estes tiveram de abrir as portas dos seus países a um mar de refugiados. Mesmo nessas circunstâncias, não lhes interessava saber como é que a guerra (imposta a essas populações) destruíra o modo de vida dos sírios e as vidas de muitos parentes deles. O que lhes importava era se o seu modo de vida iria ser perturbado pela presença dessa gente de «tez escura». 

Há dias, li uma notícia sobre o estado de espírito na Dinamarca, segundo a qual muitos estariam convencidos que «os Russos vêm aí...». Ora, os dinamarqueses são um pequeno povo, mas com um nível elevado de cultura. Como é possível terem uma ideia tão absurda como a do exército russo ir invadir o seu território? Como é que estão convencidos que os russos querem destruir as suas infraestruturas? Qual seria o objetivo de uma coisa dessas? A população com medo, sujeita a uma lavagem de cérebro permanente não pensa, não equaciona as coisas. É lhe fornecida propaganda da forma mais neutra, como se fossem informações absolutamente verificadas, quando se trata, na melhor das hipóteses de conjeturas.
Não são conjeturas, as concentrações massivas de equipamento bélico ofensivo ultra sofisticado acompanhado de muitos milhares de tropas da NATO, nas fronteiras da Rússia, supostamente para «defenderem» os estados «ameaçados». Fazem reviver o «papão da guerra fria», desencadeando um reflexo anti-russo nestes povos, assim como noutros, incluindo os dos EUA que pouco sabem da história europeia, na qual participa desde sempre a Rússia. 
Nos EUA, um inquérito de rua a jovens com cerca de vinte anos mostrava que estes não sabiam nada da Guerra Civil (entre os estados do norte e do sul dos EUA), muitos nem sabiam que o norte tinha saído vencedor! Perante essa incultura abismal, entre jovens que nasceram e frequentaram a escola nos EUA, não nos podemos espantar da ignorância mais ou menos total no que respeita à história e cultura europeias.
O legado de Obama é realmente abismal. Numa correria contra o relógio, antes de sair da presidência, procura criar situações de conflito com a Rússia e a China, para embaraçar o eleito, mas ainda não empossado, presidente Trump. 
Vejam aqui  a extensão das manobras que o Estado profundo (Deep State) perpetua, para obrigar o novo presidente a obedecer aos «neo-cons» (que dominam o setor da defesa e diplomacia do governo Obama). 
Os neo-cons têm uma doutrina segundo a qual os EUA são a força indispensável, o benigno império do bem e da democracia, sem o qual o mundo cairá no caos, devendo portanto ser a superpotência única, não devem deixar que qualquer potência esteja em condições de disputar a supremacia. 
Neste caso estarão a Rússia e a China, pelo que eles, neo-cons, acham que se deve fazer uma política eufemisticamente designada por «containement», na realidade de provocações permanentes, com vista a encontrar um pretexto para uma guerra. 
Eles desejam esta guerra, porque estão convencidos que, se lançarem um primeiro ataque, ele seria suficientemente devastador para inviabilizar uma riposta da potência atacada.
Isso é loucura total, numa escala absurda, pois põem em risco a segurança global, põe mesmo em severo risco a população civil dos EUA. 
Com efeito, os dirigentes da China ou da Rússia podem, a certa altura considerar que já chega de seus países estarem constantemente a serem ameaçados por um país agressivo de 350 milhões de habitantes (1300 milhões, só os chineses, 1/5 da população de todo o planeta). 
Pensem que eles se podem sentir tão ameaçados que arrisquem -eles próprios - a desencadear um ataque nuclear de surpresa, arrazando os EUA e muitos dos países ditos aliados, na realidade vassalos!
Felizmente que Putin e Xi Jin Pin não são instáveis e caprichosos, projetando o seu ego numa força militar, ao contrário de dirigentes americanos e alguns europeus. 

O agravamento da crise económica mundial, o não crescimento/recessão mundial que estão previstos para muito breve, vão originar pressões, não necessariamente no seio de grandes potências. Para «aliviar» a pressão sobre os governos, por parte das pessoas descontentes, recorrem a políticas belicistas, que acabam por conduzir a uma guerra. Tradicionalmente, a «unidade nacional» era assim obtida, evaporando-se ou silenciando-se as vozes críticas do governo, por imperativo «patriótico».

No nosso século, como verificámos, os tambores da guerra soam cada vez mais alto. Quando as pessoas «normais», nada inclinadas a aventuras belicistas, acordarem... será tarde demais!!! 

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

LÓGICA DE PAZ VERSUS LÓGICA DE GUERRA FRIA

Neste final de 2016, constatamos que o mundo está um pouco menos ameaçado pela guerra global. Isto seria uma quase certeza, caso Hillary tivesse vencido as eleições americanas. 
Não devemos pensar, porém, que tudo se vai compor, não devemos cair na ilusão de que uma détente EUA-Rússia é automática e inevitável, pois existem muitas frentes de fricção que podem, a qualquer momento, especialmente antes da entrada do governo Trump em funções na segunda metade de janeiro 2017, rebentar em conflitos fora de controlo e complicarem muito a situação internacional. 

Esta situação presente poderia caracterizar-se como «nem paz, nem guerra», não se trata de uma situação estável, nem se pode equacionar a nova «Guerra Fria» com o famoso «equilíbrio do terror» da «Guerra Fria nº1». Com efeito, a política agressiva e provocatória dos EUA e de seus aliados da OTAN, tem sofrido revezes de toda a ordem:
- Os tratados de comércio «livre», TPP e TTIP, estão realmente afundados, já estavam seriamente em risco antes da eleição de Trump, sendo que a sua eleição apenas representa o prego final no caixão.
- O lodaçal da Ucrânia tem azedado as relações nem sempre cordiais dos «aliados» (súbditos) europeus na OTAN com os EUA, pois existem demasiados setores industriais europeus a sofrer por causa das sanções à Rússia. Esta, declarou recentemente que as contrassanções, banindo a importação de géneros agrícolas, vão continuar. Muitos outros motivos, como a desesperada necessidade de abastecimento de gás natural, que nunca será substituído pelas energias renováveis, pelo menos no curtíssimo prazo, aconselham os governos a uma atitude de não confronto com a Rússia, que continua a ser um importante fornecedor da União Europeia (especialmente, da Alemanha do Norte).
- A derrota militar na Síria está a tornar claro o jogo sujo lançado pelos EUA, com o pleno apoio da Arábia Saudita e do Qatar. Os objetivos militares eram claramente de empurrar os terroristas do Estado Islâmico (ele próprio uma criação dos EUA, Israel, Arábia Saudita e Qatar) contra o exército sírio governamental, na esperança de causar uma situação crítica e finalmente o derrube de Assad. 
Aliás, isto foi, enquanto estratégia de Hillary, como secretária de Estado do governo Obama, O OBJECTIVO ESTRATÉGICO dos EUA no médio oriente.
- A perda das Filipinas como um dos baluartes de cerco à RP da China. Esta estratégia do «Asia pivot» ruiu com a recusa estrondosa de Duterte em aceitar ser o vassalo obediente dos imperialistas, virando-se claramente para os chineses, para se livrar da dominação colonial secular dos EUA sobre o seu país.
- A redução de influência, em relação aos governos do sul da América: tem surgido uma América Latina cada vez mais independente económica, militar e diplomaticamente do poderoso vizinho do norte.
- Mesmo os aliados mais próximos dos EUA, como a Grã-Bretanha, têm de ter cuidado até onde vão no seu apoio à política «da canhoneira», pois as suas possibilidades de continuarem a desempenhar um qualquer papel no xadrez económico-político-diplomático, dependem das boas relações com a China, e eles sabem-no perfeitamente. Os britânicos ofereceram a praça de Londres para emitir e negociar bonds denominados em yuans, o que lhes daria uma vantagem importante sobre Frankfurt, a principal praça europeia.

Delineei acima algumas de um vasto conjunto de situações, ocultadas ou tratadas de forma completamente distorcida pela média corporativa, mostrando que estamos perante um quadro muito complexo em que a agressividade de uma das partes - o campo «ocidental», nitidamente mais agressivo na retórica e nos atos- acabe por desencadear uma reação da outra. Ou seja, que a provocação constante acabe por causar um passo em falso dos outros. 
Isto é claramente uma estratégia de tensão, que é levada a cabo pelos EUA e aliados (na realidade... súbditos) da União Europeia, agrupados sob o chapéu da OTAN.
- Este posicionamento perigoso é acompanhado por uma torrente importante de propaganda, que faz com que muitas pessoas, incluindo pessoas sinceramente devotadas à causa da paz, confundam as situações e pretendam tomar as suas «distâncias» em relação ao conflito em curso, mas de forma equivocada.
Ora, para se ter uma visão apropriada, deve-se considerar as coisas, não sob a forma que a propaganda quer e deseja que façamos, mas sob a forma que nos parece justa em termos globais, ou seja, sob forma de um desenlace que seja aceitável pelas diversas partes, dentro dum espírito realista de resolução dos conflitos por meios pacíficos, pela prioridade à negociação sobre a confrontação armada, pela reafirmação do princípio da soberania dos Estados, pela não-ingerência de Estados nos assuntos internos dos outros (ou seja, o completo abandono da doutrina de «intervenção humanitária», que apenas trouxe desastres humanitários e destruição total). 
A propaganda tem sempre um objetivo claro em relação à cidadania sobre a qual incide: É desencadear reflexos de medo. O medo impede as pessoas de pensar. Para isso, deflete as questões, não permite que as pessoas percebam onde estão as responsabilidades reais. 
Penso que uma estratégia de paz não passa por contrapropaganda, ou seja, por demonizar aqueles que emitem a propaganda. Isso não é eficaz por várias razões. 
- Em primeiro lugar, porque nos põe, não como críticos, mas como favorecendo apenas um dos lados; ficamos ao mesmo nível que propagandistas. 
- Por outro lado, não permite que se aprofunde, se compreenda, com base em factos e não em opinião, as causas dos acontecimentos. 
Pois é exatamente isso que a média corporativa nos oculta sistematicamente. Esmera-se sempre em obliterar completamente o contexto das notícias, especialmente de conflitos armados, mas - em geral  - faz isso com todo o noticiário de política internacional. 
Pelo contrário, esmeram-se em transcrever e reproduzir todas as declarações oficiais de um dos lados, de forma extensiva, omitindo completamente quaisquer contrapontos. O discurso do poder é registado sem qualquer observação crítica, como um «deus», inquestionável. Para essa média, o «deus» é realmente o poder do dinheiro, seja ele o dos nossos impostos ou o das publicidades que alimentam essas enormes máquinas de propaganda moderna.  
Assim, as pessoas de boa vontade devem educar seus concidadãos a verem a realidade por detrás da propaganda, indo à raiz dos problemas.
Apenas alguns exemplos de manipulações e ocultações recentes da média corporativa internacional:
- Eles sabiam perfeitamente, mas ocultaram quem desencadeou e nutriu as guerras da Líbia, da Síria, quem equipou e subsidiou Al-Nusra, ramo Sírio de Al-Quaida… e como sabemos, estas guerras estiveram realmente na origem do problema – gravíssimo – dos refugiados destas guerras.

- Eles sabiam perfeitamente e ocultaram que houve interesses que se serviram dos refugiados para desestabilizar vários países da Europa central: era conhecido o envolvimento do multibilionário George Soros, que subsidia as ONGs que tiveram um papel de relevo nesta crise.

- Eles sabiam, não apenas do papel das ONGs locais, subsidiadas por Soros, um fator importante na «revolução» de Maidan na Ucrânia, como das forças nazis e antissemitas sem quaisquer máscara, mas que foram apelidadas de «democráticas» pela média e pelo departamento de Estado dos EUA. Foi um golpe de Estado, monitorizado e financiado pelos EUA e com o apoio das chancelarias europeias, nomeadamente alemãs, francesas, britânicas…

Poderia citar mais exemplos, eles estão constantemente a surgir. Mas estes bastam, para se perceber como a média distorce as realidades no terreno, exerce uma forte pressão na opinião pública, não como veículo de informação, que deveria ser, mas como veículo de propaganda.

A meu ver, a propaganda não deve ser combatida com «contrapropaganda», mas com informação objetiva, que desmascare as operações de propaganda. Por isso, importa formar uma cidadania com uma elevada capacidade de pensar criticamente. Não «acreditar» seja o que for, seja de onde vier a informação, sem questionar, examinar as provas da mesma, ver até que ponto se trata de factos, não fabricados, mas objetivos. Depois, ver se estes tais factos suportam ou são coerentes com as teses ou hipóteses defendidas e se não terá havido omissão de outros factos, que iriam contrariar as conclusões…
Esta educação e formação de espíritos livres devem ser assumidas como fator muito importante, essencial mesmo, na construção de um movimento pacifista.



sábado, 22 de outubro de 2016

CONSTRUIR O MOVIMENTO PELA PAZ


Num contexto de horrível desacerto mundial, que se traduz por centenas de milhares de mortos, milhões de feridos e dezenas de milhões de refugiados, qual o propósito de se intervir dentro de sociedades abúlicas, apenas centradas nos seus prazeres hedónicos, completamente egoístas, incapazes de traçar as origens dos males às suas próprias chefias e ao indiferentismo das massas e à sua cobardia, também? 

Penso que é sempre necessário - agora, muito mais - firmar uma posição ÉTICA, ou seja, a posição com a qual nós nos identificamos profundamente, aquela que deveria estar, não apenas nas palavras, mas também nos atos dos nossos dirigentes. 

Ora, uma posição ética deve começar pela denúncia, pelo desmascaramento, mas não deve confinar-se a isso. A denúnica permite uma tomada de consciência da cidadania. Mas, isso apenas pode ocorrer, caso a cidadania já esteja previamente imbuída de valores humanistas, repudiando demagogias, com sua capacidade própria de consciência crítica. 

A denúncia dos crimes de guerra, sobretudo dos que são perpetrados pelos «NOSSOS» governos, exércitos e agentes é - sem dúvida - algo que se deve continuar a fazer, com a força serena da consciência, da justiça, do humanismo. 

Mas, a «opinião pública» está tão amestrada, tão abúlica que os poderes já nem precisam de suprimir os «dadores de alerta»: apenas, fazem com que eles sejam desacreditados por uma média inteiramente ao seu serviço.
A média tem mostrado que se preocupa apenas com «que origem» e «como» veio a público a informação escandalosa e incriminadora para os poderes. Nunca discute o próprio conteúdo dessa informação. 

Assim, eles, os que controlam a média corporativa, fazem com que em vez do político corrupto, seja o «dador de alerta» a ficar desacreditado no tribunal da opinião pública, torna então possível que não exista empatia por parte do público em relação a ele. 

Algumas vezes, felizmente, eles falham nos seus propósitos, pois o público está cada vez mais simpatizando com esses dissidentes, para grande susto dos poderosos. 

Porém e apesar do que se afirmou acima, os poderosos sociopatas e psicopatas que nos governam, têm conseguido defletir o debate daquilo que seria «mortal», em termos de sua própria imagem pública. 

Por exemplo, em vez de se discutir os crimes de Hillary Clinton, principalmente os que praticou aquando da sua passagem pelo Governo (nomeadamente, aquando da expedição criminosa contra a Líbia e suas consequências), discute-se se a fuga de informação foi uma «piratagem» por «hackers russos» ou teve outra origem... 

Este típico processo ocorreu com outros atores da política, nos EUA e em muitos outros países: não pretendi aqui somente discutir o caso patológico da Hillary Clinton.

Evidentemente, esse truque funciona porque a massa já está fortemente condicionada pela média: são infelizmente demasiados aqueles que se deixam embalar pelas conversas das «versões oficiais» dos factos... chamando «teorias da conspiração» a tudo aquilo que demonstra a inanidade dessas mesmas «versões oficiais», cheias de cortes e remendos...

Mas, entretanto, numa escala não menos grave, as Constituições são feitas em pedaços, os próprios mecanismos de funcionamento do Estado, as Leis, os Parlamentos, são transformados em «bobos», mas tudo isso na maior indiferença das massas. Se as pessoas leram Hannah Arendt e o seu magistral ensaio sobre as origens do totalitarismo, recordarão que ela escalpelizou o processo da instalação na Alemanha dum Estado totalitário; após a tomada do poder, Hitler e os nazis não revogaram a Constituição e muitas Leis democráticas da República de Weimar; ignoraram-nas completamente, ficando elas letra-morta, tal como agora acontece nas chamadas «democracias ocidentais»

As pessoas foram aprendendo que esta democracia não é senão o poder de uma oligarquia, que a representação da vontade popular é uma grotesca farsa e portanto, afastam-se e apenas se centram nos seus afazeres imediatos, em ganhar o pão, cuidar dos filhos, extrair algum prazer de suas vidas... com exclusão do resto, ou seja de qualquer dimensão de cidadania! Afinal, assim conformam-se àquilo que a elite deseja. 

Por conseguinte, não chega que haja, no seio do povo, desprezo pelas elites que nos governam, elas não se importam que não as adoremos, desde que não «façamos demasiadas ondas». 

O que falta para que haja paz, é que tem de haver uma consciência de paz, têm de ser as próprias pessoas a fazer prevalecer o bom-senso e o profundo sentimento de justiça e de igualdade. 

Todas as pessoas que eu conheço, independentemente da sua ideologia, credo religioso, condição económica, nacionalidade, etc. não apenas estão basicamente de acordo em relação aos direitos dos indivíduos, como ao direito das diversas culturas e sociedades em viverem de acordo com os seus costumes e as suas leis, desde que elas não impeçam que outros o façam também, também sigam os seus caminhos próprios. 

E eu não vivo num mundo à parte, garanto-vos: então, porque motivo um consenso difuso que parece existir, não se traduz na prática? 
Esta e outras questões não carecem tanto de uma resposta lógica ou psicológica, mas sobretudo uma resposta na prática social, na prática coletiva.

Vamos, por isso, lançar iniciativas de paz dentro das nossas comunidades, debatendo como aprofundar os caminhos da paz, da recusa da guerra, do militarismo, do racismo, da xenofobia... pela positiva.

Saberemos tomar o destino nas nossas mãos, a partir do momento em que tivermos a consciência clara de que, não apenas a nossa opinião, mas também o nosso gesto conta e muito... 

Por exemplo, no campo financeiro, um magnate quer investir um milhão numa campanha para nos convencer -subtilmente, como faz a publicidade - a adoptar determinado ponto de vista e comportamento.  

Seria fútil, no atual contexto, tentar impedir que tal coisa aconteça, pois a acontecer, será em segredo, sem que o público tome conhecimento dos propósitos de tais campanhas de «informação» (na realidade, de  lavagem ao cérebro!).

Mas seria bem melhor e muito possível que nós - pessoas  comuns - fizéssemos campanha em pleno, realizando, por meios ao nosso alcance - com maior eficácia até do que os «especialistas» da publicidade - por aquilo que é justo e necessário.

Mesmo no plano estrictamente financeiro, uma campanha que atingisse um número elevado de pessoas, doando apenas - em média- um euro ou um dólar por cada pessoa, poderia ficar rapidamente com meios superiores à campanha do tal magnate.

Uma vez que as pessoas se reunam com propósito claro de construir uma cultura de diálogo de paz e de igualdade, entre elas e com todos os povos, será imparável. 

O problema é mais que as pessoas estejam muito auto-anuladas. Exageram a sua impotência; descrêem do seu potencial. Isso é devido a um complexo de razões, mas deve ser também compreendido como parte da caminhada em prol da paz. 

Sermos capazes de convencer os nossos semelhantes que têm muito maior capacidade, eficácia, etc. do que lhes querem fazer crer. Sem esse interiorizar da impotência, as pessoas não seriam domináveis e manipuláveis.

A cultura de paz tem de abordar esses fenómenos e tentar responder de forma coerente, adequada e criativa para se expandir e irradiar até se tornar uma maré avassaladora. 

Eu acredito que seja perfeitamente possível. 
Temos exemplos históricos disso, desde Gandhi e o movimento essencialmente não violento pela independência da Índia em relação ao Império Britânico (nos anos quarenta do século vinte), a luta nos EUA pelos direitos civis dos negros e outras minorias, pelo qual Luther King deu a vida (nos anos sessenta), mas também a luta contra a instalação dos Pershing II (nos anos oitenta), o movimento contra as armas nucleares e de destruição massiça, que obrigou os Estados a efetuar tratados internacionais (hoje, estão a denunciar alguns desses, o que mostra claramente o perigo da situação), etc.

Estamos a construir essa comunidade de paz, com pessoas nossas conhecidas, com as quais temos afinidade. 
Daremos conta aqui e noutros sítios deste movimento DE SOLUÇÕES PARA A PAZ!

https://issuu.com/warresistersint/docs/design?e=0/38826787

https://www.youtube.com/watch?v=6_bVVAVwfSQ

https://www.facebook.com/events/187269765054832/