«O Mahatma Gandhi, ao ser-lhe perguntado, “O que pensa da Civilização Ocidental?,” consta que respondeu, "Penso que seria uma boa ideia." »
Atribui-se a frase a Gandhi. Não consegui, porém, obter confirmação dele a ter proferido. Mas, mesmo apócrifa, a frase sintetiza o que muitas pessoas pensam sobre o orgulhoso Mundo Ocidental.
A demolição da economia, das instituições e da própria demografia, na chamada «União» Europeia, está em curso. Não nos deveríamos admirar, pois ela foi anunciada e programada de longa data e isso não passou despercebido a quem estava atento. Podemos nos admirar da passividade do povo, perante a demolição em grande escala da sua própria existência, do seu território, da sua cultura, da sua subsistência: Ele cai sempre na esparrela - óbvia - das sereias mediáticas, «É culpa de....» (preenche, com o nome do personagem mais demonizado no momento). Creio que existe um grande número de pessoas que estão confusas, não veem as manobras que as «elites» europeias estão constantemente a efetuar nas suas costas. Mas, também existe um número crescente de pessoas que vê e sabe, mas que tem medo.
Por isso, este terreno é fértil para demagogos, desde a «extrema direita» à «extrema esquerda» e de tudo pelo meio. Daí se vê que a decadência, que desfigura a imagem das mais belas e emblemáticas cidades da civilização europeia, não é somente exterior, é também uma podridão interna do sistema, dos mais altos responsáveis aos meros executantes, nas instituições políticas, judiciais, científicas ou académicas. A podridão de que falo, deriva da ausência de uma moral ou ética, que permita às pessoas nortearem-se no torvelinho das mudanças nas suas vidas e em torno delas, na sociedade. Pois, a partir do momento em que deixaram de existir valores, destes já não terem sido internalizados, as pessoas ficaram suscetíveis a todas as corrupções.
Há quem aponte o facto de que, nesta sociedade inteiramente mercantilizada, também a consciência das pessoas é como uma mercadoria, ou como pastilha elástica que se pode deformar, esticar e encolher. Alguém disse-me (há muitos anos) que «nesta sociedade, todas as pessoas têm um preço»... Infelizmente, parece-me que sim, embora seja impossível testar a validade de tal afirmação. Mas, ficamos com a impressão de que as instituições foram corrompidas, não somente partidos políticos e diversos corpos do Estado, incluindo Forças Armadas, Polícia e Tribunais; também na «sociedade civil», na vida económica, das atividades comerciais e industriais, às de prestação de serviços.
Esta é a civilização onde me encontro geográfica e temporalmente, mas não emotivamente, não em termos de ideologia, nem em termos racionais. Ela irá desaparecer, algum dia. Isto poderá demorar uns cem anos, ou mais. Ou talvez demore muito menos tempo. Ela, a civilização ocidental decadente, não apenas produz no seu interior as substâncias tóxicas que irão causar-lhe a morte, como também vai deixar às gerações vindouras, um terreno largamente improdutivo, quase estéril.
Há quem defenda que estamos no início duma nova «Idade das Trevas». Tal não me surpreenderia. Evidentemente, não temos possibilidade de dar um salto no tempo para avaliarmos, daqui a 500 anos ou um milénio, se efetivamente terá sido assim. Mas, os sintomas da decadência estão por todo o lado: Da economia, à governação, da ausência de valores (individuais e coletivos), às modas.
A chamada civilização europeia/ocidental foi propulsora, no passado, de progresso científico e técnico. Devido a este facto, conservou algum prestígio junto dos povos colonizados por ela. Nestes últimos decénios, os povos ex-colonizados têm feito esforços para se libertarem do neo-colonialismo proveniente das antigas metrópoles coloniais. Porém, a superpotência hegemónica tem mantido a dominação global através dum capitalismo predador e parasitário, «financeirizado». Este capitalismo dedica-se a extrair lucro, principalmente em atividades de especulação e não do trabalho produtivo, como na era do capitalismo industrial.
- A aposta otimista é de que a decadência do Ocidente seja acompanhada pela ascensão de novos agregados de nações, erguendo novas civilizações, ou revigorando antigas, aproveitando parte da herança deixada pela civilização europeia moribunda.
- A aposta pessimista é de que a civilização ocidental, sob hegemonia anglo-americana, fique cada vez mais agressiva, à medida que vai perdendo influência e poder. Num dado momento do processo, ela poderá desencadear uma guerra nuclear. Todos sabemos que isso implicaria a destruição das sociedades, da humanidade e talvez mesmo, de todas as formas de vida do Planeta, devido à contaminação de longo prazo dos ecossistemas, com os elementos radiativos libertados pelas bombas.
Num contexto de horrível desacerto mundial, que se traduz por centenas de milhares de mortos, milhões de feridos e dezenas de milhões de refugiados, qual o propósito de se intervir dentro de sociedades abúlicas, apenas centradas nos seus prazeres hedónicos, completamente egoístas, incapazes de traçar as origens dos males às suas próprias chefias e ao indiferentismo das massas e à sua cobardia, também?
Penso que é sempre necessário - agora, muito mais - firmar uma posição ÉTICA, ou seja, a posição com a qual nós nos identificamos profundamente, aquela que deveria estar, não apenas nas palavras, mas também nos atos dos nossos dirigentes.
Ora, uma posição ética deve começar pela denúncia, pelo desmascaramento, mas não deve confinar-se a isso. A denúnica permite uma tomada de consciência da cidadania. Mas, isso apenas pode ocorrer, caso a cidadania já esteja previamente imbuída de valores humanistas, repudiando demagogias, com sua capacidade própria de consciência crítica.
A denúncia dos crimes de guerra, sobretudo dos que são perpetrados pelos «NOSSOS» governos, exércitos e agentes é - sem dúvida - algo que se deve continuar a fazer, com a força serena da consciência, da justiça, do humanismo.
Mas, a «opinião pública» está tão amestrada, tão abúlica que os poderes já nem precisam de suprimir os «dadores de alerta»: apenas, fazem com que eles sejam desacreditados por uma média inteiramente ao seu serviço.
A média tem mostrado que se preocupa apenas com «que origem» e «como» veio a público a informação escandalosa e incriminadora para os poderes. Nunca discute o próprio conteúdo dessa informação.
Assim, eles, os que controlam a média corporativa, fazem com que em vez do político corrupto, seja o «dador de alerta» a ficar desacreditado no tribunal da opinião pública, torna então possível que não exista empatia por parte do público em relação a ele.
Algumas vezes, felizmente, eles falham nos seus propósitos, pois o público está cada vez mais simpatizando com esses dissidentes, para grande susto dos poderosos.
Porém e apesar do que se afirmou acima, os poderosos sociopatas e psicopatas que nos governam, têm conseguido defletir o debate daquilo que seria «mortal», em termos de sua própria imagem pública.
Por exemplo, em vez de se discutir os crimes de Hillary Clinton, principalmente os que praticou aquando da sua passagem pelo Governo (nomeadamente, aquando da expedição criminosa contra a Líbia e suas consequências), discute-se se a fuga de informação foi uma «piratagem» por «hackers russos» ou teve outra origem...
Este típico processo ocorreu com outros atores da política, nos EUA e em muitos outros países: não pretendi aqui somente discutir o caso patológico da Hillary Clinton.
Evidentemente, esse truque funciona porque a massa já está fortemente condicionada pela média: são infelizmente demasiados aqueles que se deixam embalar pelas conversas das «versões oficiais» dos factos... chamando «teorias da conspiração» a tudo aquilo que demonstra a inanidade dessas mesmas «versões oficiais», cheias de cortes e remendos...
Mas, entretanto, numa escala não menos grave, as Constituições são feitas em pedaços, os próprios mecanismos de funcionamento do Estado, as Leis, os Parlamentos, são transformados em «bobos», mas tudo isso na maior indiferença das massas. Se as pessoas leram Hannah Arendt e o seu magistral ensaio sobre as origens do totalitarismo, recordarão que ela escalpelizou o processo da instalação na Alemanha dum Estado totalitário; após a tomada do poder, Hitler e os nazis não revogaram a Constituição e muitas Leis democráticas da República de Weimar; ignoraram-nas completamente, ficando elas letra-morta, tal como agora acontece nas chamadas «democracias ocidentais».
As pessoas foram aprendendo que esta democracia não é senão o poder de uma oligarquia, que a representação da vontade popular é uma grotesca farsa e portanto, afastam-se e apenas se centram nos seus afazeres imediatos, em ganhar o pão, cuidar dos filhos, extrair algum prazer de suas vidas... com exclusão do resto, ou seja de qualquer dimensão de cidadania! Afinal, assim conformam-se àquilo que a elite deseja.
Por conseguinte, não chega que haja, no seio do povo, desprezo pelas elites que nos governam, elas não se importam que não as adoremos, desde que não «façamos demasiadas ondas».
O que falta para que haja paz, é que tem de haver uma consciência de paz, têm de ser as próprias pessoas a fazer prevalecer o bom-senso e o profundo sentimento de justiça e de igualdade.
Todas as pessoas que eu conheço, independentemente da sua ideologia, credo religioso, condição económica, nacionalidade, etc. não apenas estão basicamente de acordo em relação aos direitos dos indivíduos, como ao direito das diversas culturas e sociedades em viverem de acordo com os seus costumes e as suas leis, desde que elas não impeçam que outros o façam também, também sigam os seus caminhos próprios.
E eu não vivo num mundo à parte, garanto-vos: então, porque motivo um consenso difuso que parece existir, não se traduz na prática?
Esta e outras questões não carecem tanto de uma resposta lógica ou psicológica, mas sobretudo uma resposta na prática social, na prática coletiva.
Vamos, por isso, lançar iniciativas de paz dentro das nossas comunidades, debatendo como aprofundar os caminhos da paz, da recusa da guerra, do militarismo, do racismo, da xenofobia... pela positiva.
Saberemos tomar o destino nas nossas mãos, a partir do momento em que tivermos a consciência clara de que, não apenas a nossa opinião, mas também o nosso gesto conta e muito...
Por exemplo, no campo financeiro, um magnate quer investir um milhão numa campanha para nos convencer -subtilmente, como faz a publicidade - a adoptar determinado ponto de vista e comportamento.
Seria fútil, no atual contexto, tentar impedir que tal coisa aconteça, pois a acontecer, será em segredo, sem que o público tome conhecimento dos propósitos de tais campanhas de «informação» (na realidade, de lavagem ao cérebro!).
Mas seria bem melhor e muito possível que nós - pessoas comuns - fizéssemos campanha em pleno, realizando, por meios ao nosso alcance - com maior eficácia até do que os «especialistas» da publicidade - por aquilo que é justo e necessário.
Mesmo no plano estrictamente financeiro, uma campanha que atingisse um número elevado de pessoas, doando apenas - em média- um euro ou um dólar por cada pessoa, poderia ficar rapidamente com meios superiores à campanha do tal magnate.
Uma vez que as pessoas se reunam com propósito claro de construir uma cultura de diálogo de paz e de igualdade, entre elas e com todos os povos, será imparável.
O problema é mais que as pessoas estejam muito auto-anuladas. Exageram a sua impotência; descrêem do seu potencial. Isso é devido a um complexo de razões, mas deve ser também compreendido como parte da caminhada em prol da paz.
Sermos capazes de convencer os nossos semelhantes que têm muito maior capacidade, eficácia, etc. do que lhes querem fazer crer. Sem esse interiorizar da impotência, as pessoas não seriam domináveis e manipuláveis.
A cultura de paz tem de abordar esses fenómenos e tentar responder de forma coerente, adequada e criativa para se expandir e irradiar até se tornar uma maré avassaladora.
Eu acredito que seja perfeitamente possível.
Temos exemplos históricos disso, desde Gandhi e o movimento essencialmente não violento pela independência da Índia em relação ao Império Britânico (nos anos quarenta do século vinte), a luta nos EUA pelos direitos civis dos negros e outras minorias, pelo qual Luther King deu a vida (nos anos sessenta), mas também a luta contra a instalação dos Pershing II (nos anos oitenta), o movimento contra as armas nucleares e de destruição massiça, que obrigou os Estados a efetuar tratados internacionais (hoje, estão a denunciar alguns desses, o que mostra claramente o perigo da situação), etc.
Daremos conta aqui e noutros sítios deste movimento DE SOLUÇÕES PARA A PAZ! https://issuu.com/warresistersint/docs/design?e=0/38826787 https://www.youtube.com/watch?v=6_bVVAVwfSQ https://www.facebook.com/events/187269765054832/