A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

[Portugal 1974-75] COMO SE DESFAZ UMA REVOLUÇÃO

                                                                           Cartaz de Helena Vieira da Silva 

Como se desmonta uma revolução peça por peça 

Para a história do pós 25 de Abril

É talvez mais difícil do que parece, efetuar um trabalho de reflexão e análise sobre acontecimentos históricos, sociais e políticos, nos quais se participou. Isto é válido, tanto para os que participaram ao nível de atores principais, como para os figurantes: pela simples razão que a sua subjetividade está presente em todas as suas recordações (boas e más), associadas nas suas mentes, aos acontecimentos e à época que pretendem retratar. Por isso, irei abordar o assunto ao nível das generalidades e não me debruçarei explicitamente sobre episódios em que participei, de que fui testemunha ou de que tive conhecimento mais ou menos direto.
Mas estou convicto que ser verdadeiro é honrar devidamente o povo anónimo e as conhecidas figuras, que participaram nesta revolução. Isto tem o significado para mim, de fazer - tanto quanto possível - a correta avaliação das forças em presença, do que estava em jogo, do real, e não ficcionado, desenrolar dos acontecimentos, dos erros cometidos de parte a parte.
Infelizmente, muitos dos que escrevem sobre acontecimentos nos quais estiveram envolvidos, costumam omitir ou distorcer o seu papel pessoal, ou das forças nas quais estavam integrados. Por esse motivo, os seus testemunhos têm de ser vistos sempre criticamente, mesmo se tiverem a nossa simpatia.
Os movimentos revolucionários emancipatórios que se desenrolaram nos vários países e continentes, nas várias épocas que nos é dado estudar através da História, têm - a meu ver - a característica de enormes fracassos: ou porque falharam e resultaram em banhos de sangue, ou porque, aparentemente triunfantes, degeneraram em regimes cuja prática está no polo oposto daquilo que os revolucionários da primeira hora defendiam. A revolução bolchevique foi um fracasso, a revolução maoista, idem. Nestas, como em muitas outras, a edificação do poder decorrente, veio colocar uma chapa suplementar «em nome do povo», sobre as opressões multiseculares que estes povos sofriam.
Portanto, as «revoluções triunfantes» têm sido, quase sempre, triunfantes pela burocracia e sobre os desapossados, os desclassificados. O facto de institucionalizarem um ritual, uma doutrina, uma verdade de Estado sobre os acontecimentos históricos, sobre os seus desenvolvimentos e significados, é uma mordaça suplementar, que colocam a eventuais críticos que possam surgir nas suas fileiras. Estão assim a designá-los – a priori - como contrarrevolucionários, ou como traidores à causa do povo.
Diria que é uma tragédia mais, a adicionar à tragédia concreta destes eventos históricos designados por «revolução», o facto de que nem os protagonistas, nem as gerações seguintes, aprendem algo de substancial com eles. Isso é assim, em grande parte, porque tais acontecimentos foram usados como argumento, como «demonstração», pelas várias correntes, sejam elas revolucionárias, ou antirrevolucionárias. Os relatos históricos nunca são neutros, sabemo-lo bem mas, no caso destes episódios, carregados de significado ideológico, dá-se a sua transformação precoce em narrativas míticas. É quase inevitável que assim seja. Sobretudo, se nos limitarmos às narrativas da história oficial, ou oficiosa. A estas, aplica-se a expressão de que «a história é escrita pelos vencedores». Porém, não chega haver uma «contra-história», produzida, cultivada e difundida em círculos reduzidos, para que a situação possa inverter-se.
Perante esta situação, qual será a atitude possível, tanto do ponto de vista da ética, como duma prática de mudança?
- Os que se assumiram do lado da revolução, deveriam perguntar a si próprios porque falharam. Mas, a sério: Não tentando aliviar culpas, não procurando atenuantes, embora sem fazer disso um exercício de autoflagelação. Isto não é simples de se fazer, mas é possível, no entanto. É um caminho que implica o pôr-se em causa as certezas e preconceitos. Mas, sobretudo, implica aceitar-se que as premissas que levaram os protagonistas a agir de tal ou tal maneira, estavam erradas.
É frequente as pessoas que estiveram envolvidas nos acontecimentos do 25 de Abril e posteriores, reconhecerem que existiu sectarismo. É tempo de se despirem desse sectarismo. Só o podem fazer, se aceitarem que estavam imbuídas de preconceitos: o preconceito do vanguardismo, a convicção da verdade «infalível» e «científica» da teoria marxista-leninista; a ideia de que tudo o que não estivesse de acordo com seus pontos de vista, era «reacionário», «contrarrevolucionário»; a ideia da inevitabilidade e da irreversibilidade do «caminho para o socialismo».
Enfim, existiram tantos erros fundamentais, que o resultado prático foi os «revolucionários» comportarem-se de um modo irrealista, reflexo de um pensamento totalmente alienado. Uma tal situação só podia dar naquilo que deu. Só podia resultar no triunfo das forças moderadas e antirrevolucionárias. Porque o povo, a maioria não arregimentada no ideário marxista, percebia que o estavam a levar para um beco ou para uma catástrofe.
As pessoas realmente revolucionárias devem reconhecer que estiveram erradas. Pois, se não percebem o erro, a sua natureza, sua extensão e gravidade, vão persistir nele. Os intoxicados com a sua própria ideologia são como drogados: Estes julgam estar perfeitamente capazes de dominar, de «controlar» a droga, quando é exatamente o contrário. As pessoas imbuídas de ideologias também se julgam muito sábias, muito capazes de compreender o mundo, graças à ideologia que lhes daria a chave de tudo. Como indica o próprio nome «ideologia», é um sistema de ideias que se sobrepõe ao real. As ideologias são sempre ilusórias; não são a realidade, não são a ciência. São apenas discurso de ideias.
É preciso colocar as coisas no devido pé: A ideologia é uma inversão da realidade. É uma miragem, uma ilusão de ótica, que mantém os indivíduos enganados. É costume pensar-se que as pessoas são impelidas a agir por causa de suas ideias, ou que atuam sob influência de certas ideias. Porém, não são «as ideias que os guiam para a ação», é antes o oposto. O resultado da ação é que exerce um papel significativo, transformativo, nas ideias e sentimentos das pessoas envolvidas em determinados acontecimentos.
A única possibilidade de se teorizar, seja no que for, é sempre a posteriori: Primeiro vem o fenómeno, depois vem a teoria. Os que se dizem marxistas, muitas vezes põem a teoria à frente, a «guiar» a práxis. Eu penso que alguém mergulhado na ciência, se colocará antes na postura inversa, de testar a teoria: perante a práxis e seus resultados, muda-se o que se deve mudar, na teoria.
Os revolucionários, tal como os estrategas militares, que estudam as táticas e estratégias da última guerra, costumam estudar a(s) revolução/ões passada(s). Isto não lhes dá nenhum guião sobre como conduzir-se na revolução seguinte. Mas, ao menos, o seu estudo inteligente poderá impedi-los de cair exatamente nos mesmos erros, ou parecidos. Isto já é alguma coisa.
A crítica e autocrítica não deveria ser vista como exercício para determinar qual ou quais seguem a linha justa ou quais «são oportunistas e revisionistas» (os «inimigos» interiores). Esta paranoia é uma doença crónica que tem servido para esfacelar organizações revolucionárias.
Enfim, um espírito aberto, o mais amplo possível, é necessário. Não se pode ter certezas definitivas nenhumas. Há pessoas que invocam a torto e a direito a «ciência», sem saberem que a ciência nunca prova nada, apenas fornece hipóteses. Estas hipóteses são consideradas válidas como aproximações da realidade, até vir um facto, ou conjunto de factos, que as invalida. Portanto, a modéstia e a humildade deveriam proibir os revolucionários de chamar a suas teses de «científicas» e, muito menos, de «cientificamente provadas».
Eu baseio-me neste princípio, tanto nas ciências naturais, como nas ciências humanas, na história e na sociologia. Se determinado evento correu desta maneira, e não como nós desejávamos ou esperávamos, é porque a análise feita na altura estava equivocada, a um ou outro nível. A modéstia e inteligência consistem em ver os nossos erros, não atirando culpas para a maldade do inimigo, a traição de aliados ou a imaturidade do povo, tudo argumentos que tenho me cansado de ouvir, até em bocas ilustres. Tais falsos argumentos são apenas autoilusão, sacudir água do capote.
O período do «PREC» («Processo Revolucionário em Curso»), foi marcado pelo florescimento da liberdade e pela aprendizagem da política mas, igualmente, por radicalismos e visões marcadamente ideologizadas da sociedade portuguesa. Só quem esteve por dentro do torvelinho nesse período,  compreenderá como ele pôde, em breve sucessão, suscitar uma enorme vaga de esperança e uma profunda deceção.
Penso que não sou o primeiro a considerar que o 25 de Abril foi a última revolução leninista na Europa, ou no «Ocidente». É verdade que uma parte dos jovens, fossem eles trabalhadores, estudantes ou soldados, estavam influenciados pela ideologia marxista-leninista, não só veiculada pelo PCP, como por grupos esquerdistas que, também em Portugal, apesar da repressão, se tinham desenvolvido após o Maio de 68. Esta «sacudidela revolucionária», cujo epicentro foi em França, teve repercussão internacional e desencadeou, por sua vez, movimentações em muitos outros países.
A guerra colonial arrastava-se, sem outra perspetiva que a humilhante derrota à vista. Isto era a convicção, não apenas dos «capitães de Abril», como de todas as pessoas que refletiam. Este facto, conjugado com o congelamento das «reformas» de Marcelo Caetano (o sucessor de Salazar), assim como a crise social e industrial, que empurrava cada vez maior número de jovens para a emigração, eram causas de descontentamento e de radicalização específicas da situação portuguesa.
Precisamos de ouvir historiadores sérios, quaisquer que sejam os seus pontos de vista, que se debrucem em profundidade sobre o período entre o 25 de Abril de 74 e o 25 de Novembro de 75 (o «PREC»). Precisamos de confrontar os vários pontos de vista. Devemos ponderar as análises, face a dados objetiváveis, de que possamos dispor.
Não creio que este tão rico momento da História de Portugal esteja suficientemente estudado. Sobretudo, falta debater serenamente, não «a favor ou contra» as correntes políticas intervenientes, mas antes a génese e dinâmica do processo. 
É uma lacuna que se deveria colmatar agora, que se aproximam os 50 anos do 25 de Abril de 74 e estando vivos muitos protagonistas dessa época, que podem dar o seu testemunho. Não creio que as jovens gerações, que não viveram esse período, possam compreender o Portugal contemporâneo, se os mantêm na ignorância, disfarçada por alguns clichés, sobre o pós 25 de Abril, sobretudo o período dito revolucionário. Porém, é certamente uma chave necessária para se compreender a evolução da sociedade portuguesa, de 1974 até à atualidade.


domingo, 19 de setembro de 2021

PORTUGAL: MONO- E OLIGOPÓLIOS PARASITAS / ESTADO DOMINADO POR MÁFIAS

 É muito comum, no meu país, as pessoas queixarem-se «do Estado», que seria, segundo elas, responsável por muitas coisas funcionarem mal. A um nível superficial, esta acusação parece ter pleno cabimento, mas... «O diabo está nos pormenores».

Em primeiro lugar, desde há muito tempo, o Estado tem sido capturado por interesses privados

O que significa isso, no concreto? Significa que serviços públicos são levados a um estado lamentável por corruptos, desde os gestores públicos, até aos ministros, que estão - na verdade - a fazer aquilo que convém ao sector privado. Fazem-no, para tornar possível uma intervenção do sector privado, por falha óbvia das estruturas públicas em satisfazerem, com um mínimo de qualidade e dignidade, as tarefas que lhes competem. 

São inúmeros os casos de desleixe criminoso nos sectores públicos de saúde, de educação, de transportes e outros. Estes fracassos são vistos, pelo público, como justificando que tais serviços sejam privatizados. 

Os sectores privados envolvidos são persistentes na procura do lucro e têm capacidade para subornar diversos agentes públicos, incluindo deputados, partidos e suas burocracias. Portanto, um sector, um grupo de empresas ou uma instituição, que estejam na mira desses senhores, acabam por cair-lhes no bolso.

Mas, o fenómeno não envolve meramente simples perda de património e perda do efeito de alavancagem, por parte do Estado. A operação, bastas vezes, é uma cedência do Estado aos privados, por tuta e meia, ou mesmo, por nada, ou menos que nada.

Não é raro o processo de privatização envolver pesados encargos, para o referido Estado, que vão muito além do que o bom-senso ditaria, como é o caso de cobrir os prejuízos futuros da estrutura privatizada, no pressuposto de que a entidade privada tenha «aceite» o encargo de ficar com a estrutura, na condição desta gerar um determinado lucro. 

Foi o caso do acordo desastroso com a «Lone Star», que se tornou proprietária do Novo Banco (Ex- BES), mas sem ter o risco de suportar prejuízos. O Estado é que tem obrigação contratual de o fazer! 

O mesmo se passa com número considerável de empresas, pequenas, médias e grandes. Temos um efeito gigantesco de extração de renda. Ou seja, os prejuízos são para o erário público (todos nós, contribuintes), mas os lucros são privados, são para os acionistas.

Se virem como foram feitos os contratos de privatização no sector dos transportes de camionagem interurbana, foi exatamente assim. O nº de passageiros que utilizam a empresa de camionagem, é base de cálculo para o Estado «indemnizar» a empresa pelo serviço.

O valor das ajudas oficiais e das isenções de impostos, de que os colégios privados beneficiam, daria para equipar e modernizar as escolas públicas e, ainda por cima, para recrutar pessoal docente e auxiliar, de forma que a escola pública fosse de qualidade. 

O mesmo em relação ao sector empresarial da medicina, que tem invadido o serviço público de saúde, visto que os empresários do ramo conseguiram ter muita da clientela do SNS, da ADSE, etc., além dos acordos com as seguradoras. 

O incauto não compreende que a má qualidade e ineficiência das estruturas públicas se devem, não a «laxismo» do pessoal ou a «controlo» dos sindicatos, ou de outras atoardas que lançam, para denegrir tudo o que seja serviço público. 

Muitas coisas são feitas com a conivência no topo, de ministros, secretários, diretores-gerais, gestores, que deveriam zelar pelo bom funcionamento dos serviços públicos, pela eficaz administração e pela criteriosa atribuição dos dinheiros públicos, mas que - ao falharem nisso  - são «remunerados», por caírem nas boas graças dos patrões dos sectores privados respetivos. 

É a máfia que se infiltra nos altos cargos do Estado e assume o papel de sabotadora do mesmo. Assim, o negócio da privatização passa muito bem, com figurões políticos como seus defensores, não desinteressados, visto que satisfazem as clientelas dos sectores privados, com apetite por tragar os bocados rentáveis, ou facilmente rentabilizáveis dos sectores públicos. 

Primeiro, as coisas são degradadas, a rentabilidade diminui ou desaparece, os prejuízos acumulam-se, agravados pelas más gestões sucessivas, pelo que - no final - é colocada em cima da mesa a proposta de privatização.

 Uma vez concretizada a privatização, o objetivo passa a ser o lucro e a entidade privada que detém a empresa vai fazer tudo para obter máxima rentabilidade, incluindo através de acordos leoninos com o Estado. 

Fica assim o utente a pagar duas vezes, pelo menos: Uma, diretamente pelo serviço privatizado; outra, de modo diferido pelo financiamento do Estado à empresa. Assim se explicam os preços de monopólio ou de oligopólio, que a entidade privada costuma cobrar. 

Não se esqueça que, se o utente tiver um reembolso (total ou parcial) do serviço, através da Segurança Social, ou doutra entidade pública, esse reembolso é feito com dinheiro público, para o qual o utente contribuiu.

Por estas razões, não me custa compreender por que razão Portugal é um país com tão baixo índice de bem estar e desenvolvimento humano, apesar destes quase 50 anos de «democracia» estável, ao fim e ao cabo: 

É que as máfias tomaram conta do poder político, exercendo enorme extração de renda, encapotada mas inegável, ao povo e ao Estado, como eu expliquei. 

quarta-feira, 28 de julho de 2021

UM REQUIEM POR OTELO, UMA PEDRA TUMULAR NO ROMANTISMO REVOLUCIONÁRIO

 Tudo ou quase tudo, me separa do Che Guevara. 

O seu romantismo revolucionário não o impedia de ter o prazer sádico de executar ele próprio os «traidores» à revolução. Muitos adoradores do Che não sabem do seu estalinismo furioso e da sua detestação de Kruschev: Com efeito, sob o novo secretário-geral do PCUS, a União Soviética estava a orientar-se na senda da paz e da coexistência pacífica com o outro superpoder, os EUA. Mas, o Che estava convencido que somente uma nova guerra mundial iria implantar - por fim - o socialismo à escala do planeta. Quer trouxesse ou não o socialismo, o certo é que as armas nucleares usadas numa guerra total entre as superpotências, fariam da Terra um local tão inóspito, que tornaria invejável a sorte dos que tivessem falecido imediatamente no holocausto nuclear. 

Sua teoria do «foquismo», de criar muitos focos de guerrilha, fazendo com que as forças militares dos EUA e seus aliados acabassem por ser derrotadas por «100 ,1000 Vietnames...» foi um desastre completo, que levou à sua própria morte na Bolívia, além da morte de muitas outras pessoas. Está por fazer o balanço da sucessão de erros trágicos, causados pelo Che ou inspirados pelo guevarismo: É que, tanto sua prática como sua teoria, são as mais elitista-vanguardistas que se possam imaginar. 

Aliás, o foquismo rejeita, no fundo, a luta de classes, pois condena o trabalho legal nos sindicatos, que tentam unir trabalhadores em torno de objetivos concretos. 

A teoria foquista impregnou a mentalidade de muitos jovens da minha geração, tomaram isso pelo suprassumo revolucionário. 

Naturalmente, a incapacidade de compreenderem a luta de massas, foi um bónus para a burguesia, para a classe capitalista e os imperialistas. 

Só ingénuos podem acreditar que ser-se realmente revolucionário, é ser-se mais extremista que o vizinho do lado, ou que o seu companheiro. 

Em Portugal, após o 25 de Abril de 74, tal disputa fútil, infantil, de autoproclamados «revolucionários», foi causadora de muito mal nas fileiras dos jovens que estavam com a revolução, que queriam sinceramente uma transformação para o socialismo. 

Eles estavam emocionalmente com o socialismo, mas não compreenderam que líderes sem escrúpulos os estavam encaminhando para um beco sem saída, quanto não para a negação total e completa, teórica e prática, do socialismo. 

Não admira portanto, que, passados os anos mais entusiastas pós-revolução, muitos se tenham acoitado em partidos burgueses. 

Eles eram como amantes dececionados: viram que a revolução comunista romântica, que os fez sonhar, era só um devaneio e que tinham sido jogados, manipulados. Em consequência disso, começaram a odiar todas as correntes que propugnassem o derrube do capitalismo, sem distinção. 

Mas, o maior prejuízo que os elitistas-vanguardistas de inspiração guevarista causaram, foi o repúdio duradouro pelo socialismo, numa parte importante do país, o país rural, o país provinciano, «atrasado» segundo os padrões esquerdistas. Os «atrasados», afinal, tinham sido os grandes sacrificados do regime de Salazar e Caetano. 

Estes elitistas-vanguardistas assustaram os pequenos camponeses, o chamado «povo miúdo». A partir daí, foi muito fácil serem arregimentados para combater (de armas na mão, em muitos casos), tudo o que fosse «comunista»...ou andasse lá perto. 

Este papel contra-revolucionário do esquerdismo foi menosprezado pela maioria dos historiadores: 

- ou porque simpatizavam com o campo vitorioso do 25 de Novembro; então estavam satisfeitos pelo facto do povo ter escorraçado, ter derrotado o «comunismo», 

- ou porque estavam no campo oposto, e consideravam que a derrota no golpe de 25 de Novembro, foi consequência da força superior dos «contra-revolucionários», nunca aceitando que os elitistas-vanguardistas tinham cavado a sua própria sepultura, e isso, meses antes do 25 de Novembro, no chamado «Verão Quente», num clima de guerra civil. 

Esta forte dissociação do campesinato, mas também dos pequenos funcionários e camadas mais modestas dos empregados de serviços, nas cidades, teve consequências que vão até hoje.

Por exemplo, a forma como estão estruturados e como funcionam os movimentos dos trabalhadores e dos agricultores: mais que em qualquer outro país da Europa, nota-se uma estrita obediência partidária das organizações. 

Este sectarismo, pode situar-se sua origem nessa época, na partição entre sindicatos na Intersindical, fiéis a uma clássica tradição «comunista» (PCP, mais grupos «revolucionários») por um lado; e por outro, na UGT, cujos dirigentes estavam em partidos como o PS, o PSD e o CDS, aceitando inteiramente o capitalismo. 

Está tudo por analisar na história do fracasso da última tentativa de revolução leninista na Europa. Sobretudo, não tenho a impressão de ter havido uma reflexão madura, apenas de autoabsolvição, duma parte da «extrema esquerda».

Infelizmente, estão imbuídos de mitologias guevaristas, muitos esquerdistas: Provavelmente, numa fase ou noutra do seu percurso, envolveram-se com organizações deste tipo. 

Entre estas pessoas e organizações, Otelo Saraiva de Carvalho foi a figura carismática. Ele agradava aos que já tinham o «mito do herói», sendo o modelo, Che Guevara. 

Otelo, membro destacado da revolução dos capitães de 25 de Abril de 74, tornou-se o derrotado Otelo, primeiro militarmente, com o 25 de Novembro, depois nas urnas, aquando da eleição do General Ramalho Eanes.

A sua figura serviu, na ideologia confusa de parte do esquerdismo português, como chefe «anti-autoritário»: isto é, de facto, uma contradição nos termos, mas não se pode «culpar» disso o falecido Otelo.  

Não sou eu que irei fazer a História do descalabro, do esfacelar da revolução portuguesa. Isso não me dá nenhum gosto. Fico triste quando penso na enormidade dos disparates que os que se proclamavam do lado da revolução, fizeram.

Enterraram, precisamente, a revolução verdadeira, a que implicaria participação esclarecida de um máximo de pessoas, não violentando crenças, costumes, religião, atendendo às necessidades verdadeiras e reais dos pobres. 



Essa história triste vem-me à memória, agora, que oiço um coro de «carpideiras» na morte de Otelo. A tragédia nasceu na Grécia. Porém, migrou tardiamente para as paragens da Ibéria, primeiro com a Revolução Espanhola, depois, com a Revolução Portuguesa. 

O preço da estupidez dos alucinados «revolucionários», foi muito alto, mas foi pago pelo conjunto da população portuguesa. Por isso, não me sinto inclinado à indulgência na análise do seu papel nesta época conturbada do pós-25 de Abril. 

 Portugal, país europeu, ficou para neocolónia das Nações europeias mais fortes, que puderam explorar os recursos naturais e o trabalho dos portugueses. 


sábado, 12 de junho de 2021

SONANGOL, ISABEL DOS SANTOS E PORTUGAL


 Em Portugal não se fala disto. 
Há uma espécie de conivência com a fraude e o roubo puro e simples.
Há uma percentagem da «classe política», dos banqueiros, dos escritórios de advogados, etc. que está envolvida nos negócios escuros de Isabel dos Santos.

A CAPA DE ESQUERDA QUE NOS CONFUNDE

O MEDO é raramente algo que nos induza a ter comportamentos racionais. Quando alguém opera impulsionado pelo medo, tem tendência a tomar decisões terríveis e a apoiar causas e leis opressoras. As pessoas amedrontadas também tendem a juntar-se em largas multidões, formadas com outras pessoas, como elas amedrontadas: Assim, sentem-se mais seguras e anónimas, no meio da massa. Assim também, poderão atuar, impulsionadas pelo medo, sem terem que pagar pelas consequências dos seus atos.

As mesmas pessoas que estão sob o domínio do medo, são - quase todas - das classes que têm sido atacadas e submetidas pelo neoliberalismo, nestes últimos decénios. São pessoas que perderam a segurança no emprego, a capacidade de levar a cabo uma vida normal, de conservar o poder de compra que tiveram no passado. Em suma: São massas destituídas da capacidade de resistir às crises, de enfrentar os tempos difíceis. Por isso, têm medo. Mas, o seu medo exprime-se de modo irracional, manifesta-se em termos de pânico.

Não são pessoas com treino de análise racional e crítica, que saibam distinguir e desmascarar a trapaça, a demagogia, o apontar de bodes expiatórios, e de todas as demais artimanhas da oligarquia dominante e de seus vassalos e prostitutos, em lugares de poder.

A fúria destruidora, motivada em primeiro lugar pelo medo, é convenientemente desviada pela propaganda insidiosa da media, dos políticos demagogos e reforçada pelos preconceitos ancestrais. A designação do inimigo, tanto externo como interno, nunca corresponde ao perigo real: São sempre os outros povos, «os russos», «os chineses», ou outra religião, o «islamismo»; ou ainda, etnias diferentes que «invadem» o país, mas que, afinal, são pobres imigrantes com salários miseráveis, que trabalham como escravos. 

Ora, convenientemente, uma «esquerda bem-pensante», tem sempre feito a ginástica necessária para parecer estar contra os poderes dominantes mas, em simultâneo, iludindo as massas que nelas acreditam. Trata-se de fenómeno religioso, de fé na salvação. Os dirigentes políticos e sindicais especializaram-se em dirigir seus adeptos para pseudo-lutas, intencionalmente sem  hipótese real de sucesso. 

É por isso que são permitidas manifestações, greves simbólicas e que apenas afetam o salário ao fim do mês dos grevistas, grandes mobilizações eleitorais, com belos discursos e belas palavras, mas com o fim de obter assentos na Assembleia da República, onde irão cozinhar compromissos com partidos mais poderosos; normalmente, com aqueles que são a fundo, e não apenas marginalmente, subsidiados pela oligarquia.

Os dirigentes e os quadros mais importantes desses partidos de esquerda, têm grande ambição de poder, que disfarçam com belas palavras de «servir o povo», etc. Sabem disfarçar suas traficâncias para alcançar e se manterem no poder. Os militantes estão sob hipnose. É para isso que servem as palavras de ordem, os rituais dos comícios, propriamente religiosos, mesmo sem Deus. Os adeptos estão condicionados a reagir perante os estímulos fornecidos pela elite partidária: não pensam. Não precisam de pensar mas, somente, de ter uma fé infinita nos líderes, reproduzindo preconceitos de toda a ordem. 

Não são diferentes, na verdade, dos fanáticos nazis ou fascistas, deste século e do século passado. São feitos da mesma massa. Os slogans são diferentes, as cores e os símbolos, também. Mas, os objetivos são os mesmos. Eles não suspeitam sequer disso. Por debaixo das retóricas de emancipação das classes trabalhadoras, está a verdadeira motivação: A propulsão da casta  dirigente partidária ao poder. Uma vez no poder, fazem exatamente o que outros fizeram: Irão favorecer (discretamente) os que lhes forneceram os fundos, usando uma retórica mais ou menos «audaciosa», mas só para iludir o povo fiel. 

Os democratas de esquerda nos EUA são uma anedota. As figuras de proa dos partidos de esquerda europeia também. A traição da esquerda contemporânea, ao nível do mundo «ocidental», é só comparável ao que fizeram na véspera da 1ª guerra mundial. A esquerda desse tempo, renunciando ao combate contra o militarismo, recusando convocar uma greve geral, traiu a classe trabalhadora e tornou possível a 1ª Guerra Mundial.
A esquerda de hoje serve-se dos votos e dos lugares obtidos - em geral - graças às classes com menos poder, para ainda lhes retirar a réstia de poder que uma democracia fictícia e truncada ainda não tinha completamente roubado. Com efeito, estão dentro de estruturas de poder, o parlamento europeu, por exemplo, para «carimbarem» tudo o que os globalistas querem. Mais; são a garantia dos neo-liberais, de que têm uma pseudo-oposição, o que lhes dá um «verniz» democrático. Aliás, são eles os maiores responsáveis da subida da extrema-direita.

Ao fim e ao cabo, serão os serventuários mais eficazes do grande capital, das forças mais reacionárias, dos imperialismos: porque estes precisam de atores que mantenham a ficção da democracia representativa, que desempenhem o papel de defensores dos oprimidos, dos explorados, com algum grau de verosimilhança.

Os esquerdistas são de tendência autoritária, quase todos: Têm uma visão destorcida da democracia. Acham que 51% dos votos para um dado partido ou coligação, legitima que os eleitos façam tudo, como se os 49% eleitoralmente derrotados, não tivessem diretos, não tivessem voz na matéria. O que -obviamente- é uma completa negação da nossa constituição e das leis. Também é negação de um conceito realmente democrático. Mas isso não lhes importa muito, pois são eles que fazem a lei, são eles que são a legalidade, são eles que decidem o que é ou não, legal e legítimo.

Viu-se e vê-se em Portugal e noutros países europeus, ditos democráticos:

- O espezinhar a constituição, decretando um «estado de emergência», em violação flagrante do que diz a constituição sobre as condições exigidas para tal. 

- Produção pelo governo de legislação avulsa, criminalizando pessoas que pacificamente apenas desejam continuar a exercer sua atividade, como comerciantes. 

- Imposição da absurda obrigatoriedade de máscara, mesmo ao ar livre, na rua.

- Negação da liberdade de informar e ser informado sobre a verdadeira biologia do vírus SARS-Cov-2, sobre a verdadeira ciência epidemiológica, sobre as boas práticas terapêuticas, deixando morrer milhares de pessoas que poderiam ter sobrevivido e ficado curadas, se tivessem sido aplicadas terapêuticas comprovadas, tudo isso para favorecer o cartel das grandes farmacêuticas... 

- Para culminar, a vacinação forçada (hipocritamente) pois as pessoas não poderão fazer nada senão ficarem em eterno confinamento, caso recusem ser vacinadas e o passaporte «sanitário»... 

- E perante esta sucessão de atropelos e violações das liberdades e direitos, o que fazem os partidos de esquerda? O que fazem eles -realmente - para defender os oprimidos, os que ficam com a vida numa catástrofe, de um momento para o outro? O que fazem para impedir a supressão do Estado de Direito, com a instalação de um Estado de arbítrio, de ditadura sobre o povo?

- Têm sido eles os mais zelosos cumpridores e, por vezes, os mais entusiastas proponentes destas medidas!

Este comportamento é grave e traz consequências. 

. A primeira das quais, é que as forças políticas de esquerda serão relegadas para as margens, como forças residuais. 

. Outra, será a impossibilidade de se contar com estas forças, imbuídas de padrões autoritários, para combater as tentativas oligárquicas de impor a Nova Ordem Mundial. 

. Quem não percebe, ou não quer perceber, o facto fundamental, de que elas estão apostadas em impor seu modelo distópico, malthusiano, eugenista, neofeudal, em que poderá contribuir para a resistência a tal estado de coisas? 

. Será necessária uma outra consciência cívica e ética, distante dos modelos autoritários, de «esquerda» ou de «direita». 

Por enquanto, ainda não verifico - apesar de manifestações em vários pontos do globo - o advento dum novo modo de fazer política. Acredito que ele virá e que será realmente a grande novidade, o polo emancipatório no século XXI.

Esse momento - creio - ainda não chegou. Porém, a minha esperança reside no facto das oligarquias terem projetos megalomaníacos, como - no seu tempo - os de Napoleão e Hitler. Mas,  tais projetos, pela sua própria natureza e pela «húbris» dos seus líderes, estão destinados a falhar.

 

segunda-feira, 5 de abril de 2021

DOMENICO SCARLATTI NA GUITARRA CLÁSSICA



Algo de muito especial na história da música ocorreu com Domenico Scarlatti (Nápoles 26 de Outubro 1685 - Madrid, 23 de Julho 1757). Os «exercícios» e as sonatas, especificamente para o cravo, são simultaneamente excelente música adaptável e adaptada a variados instrumentos de corda e tecla, o clavicórdio, ou o forte-piano mas também de corda dedilhada, como se pode apreciar neste recital de guitarra clássica.

A música instrumental de Domenico é popular e aristocrática, ao mesmo tempo. As formas mais puras da sonata bipartita são postas ao serviço de uma profusão de temas, muitos dos quais com inegável sabor popular. Sem dúvida, influenciaram as circunstâncias muito especiais em que produziu a sua obra, na qualidade de músico e professor da Infanta Maria Bárbara de Bragança, que depois foi Rainha de Espanha... A sua obra é ímpar pela quantidade e qualidade das sonatas, única na sua diversidade e coerência, no reportório de cravo da Península Ibérica.

Penso ser adequado considerar Domenico Scarlatti como músico ibérico de origem italiana (napolitana), pois exerceu os seus talentos na Corte portuguesa a partir de 1719, como professor da Infanta e, depois como músico na corte em Madrid, a partir de 1733, quando esta infanta se tornou rainha de Espanha. Scarlatti exerceu durante longos anos este cargo, com os seus extraordinários talentos de compositor e de cravista, até ao fim da vida. Além das peças para cravo, compôs peças litúrgicas, cantatas e óperas. Mas, a parte mais célebre da sua obra são as 555 sonatas para cravo. 

Esta obra monumental tem sido servida por notáveis cravistas, pianistas e guitarristas pois, pela estrutura e carácter, muitas sonatas, embora escritas para o cravo, adaptam-se perfeitamente a outros instrumentos. 


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

MITOLOGIA COVIDIANA

Um estudo estatístico bem documentado, prova que a prevalência de casos de COVID é independente do grau mais ou menos restritivo das medidas sanitárias ditas «preventivas». O estudo compara os vários Estados dos Estados Unidos, nos quais alguns têm tomado atitudes marcadamente diferentes quanto às restrições a aplicar. 

Nomeadamente, o estudo debruça-se em detalhe sobre os efeitos dos confinamentos muito estritos, que aconteceram na Califórnia, por comparação com a Flórida, onde houve uma paragem dos confinamentos desde Setembro passado e onde não mais se repetiu esta situação. 

A comparação mostra que não houve estatisticamente diferença significativa e, a haver, ela seria favorável à Flórida. Com efeito, a população da Flórida é composta por uma percentagem superior de idosos em relação à Califórnia, um dos Estados com a população mais jovem dos EUA. 

Igualmente, o argumento dos californianos serem pouco cumpridores das restrições impostas, não colhe. Com efeito o estudo mostra - com o apoio de gráficos comparativos - que o comportamento social dos habitantes da Flórida tem sido mais «descontraído» que o da Califórnia, em todo este período. 

                     

https://mises.org/wire/almost-year-later-theres-still-no-evidence-showing-governments-can-control-spread-covid-19

Finalmente, a questão climática também não é pertinente, visto que ambos os Estados possuem um clima bastante ameno, onde a amplitude de temperaturas entre estação fria e quente é moderada.

O autor também se debruça sobre os dados estatísticos dos restantes Estados dos EUA. Verifica-se que não existe correlação entre as medidas mais estritas de confinamento e o grau de seriedade da epidemia, tanto nas mortes, como em relação a casos confirmados de COVID. O autor defende que a única correlação verificável tem a ver com factores sazonais e climáticos, esses sim, causando variações nos 50 Estados, sendo legítimo falar-se da «estação do COVID», assim como se fala da «estação da gripe».

Os fervorosos adeptos das medidas de distanciamento «social», de confinamento (ou prisão domiciliária, mais propriamente), das máscaras nos espaços públicos, mesmo abertos.... esses é que têm a obrigação de provar que estas medidas têm efectivo benefício para a população em geral. 

As campanhas massivas, tanto dos governos como da media convencional, não «provam» nada, mas têm espalhado a convicção da necessidade dessas medidas, quando toda a evidência é contrária a isso. 

Mais; o argumento de que os confinamentos evitariam a sobrecarga dos serviços de cuidados intensivos do sistema hospitalar é também falso, pois se verifica, como de costume no inverno, no hemisfério norte, um forte acréscimo do trabalho nas urgências hospitalares e nos cuidados de saúde, em geral, quer o país em causa esteja em confinamento estrito, quer não. 

A sazonalidade existe em relação a uma série de doenças, na população. As notícias divulgadas em Portugal, por exemplo,  da sobrecarga destas estruturas hospitalares, não só não referiam esta questão, como omitiam que os serviços «vulgares» de atendimento aos doentes, os centros locais de saúde, os hospitais de dia, etc, tinham sido sujeitos às restrições mais draconianas, afastando (intencionalmente?) doentes «normais» (ou seja, não COVID) do acesso e da utilização dos serviços locais e dos respectivos cuidados médicos. Claro que estes doentes não tinham outro recurso senão as urgências, que foram inundadas por imensas pessoas, algumas a precisar efectivamente de cuidados urgentes, mas outras apenas porque não tinham o acesso normal ao apoio médico nas unidades de saúde locais. 

As medidas tomadas em relação às estruturas locais de saúde foram um erro crasso (e mascarado) do governo português. A media, em vez de denunciar a imbecilidade de tais medidas (cujo efeito era previsível, logo à partida), atribui errónea e desonestamente o excesso de público nas urgências ao «COVID». 

Simplesmente, a estes propagandistas disfarçados de jornalistas, não lhes ocorreu que - estando o país inteiro «em confinamento» durante boa parte do inverno, apenas com algumas excepções pontuais - deveria haver menos pressão nas urgências, do que o habitual nesta época. Isto é, se os confinamentos e as outras medidas fossem realmente eficazes em evitar a saturação dos serviços de urgência nos hospitais!

Enfim, as campanhas de medo, de condicionamento da opinião pública, sucedem-se e a cidadania é simplesmente tratada como «gado», tanto pelo governo como pela media.

Só sabem fazer uma coisa: «mentir, mentir, mentir» como dizia Voltaire, ironicamente: «mintam e difamem, sempre alguma coisa ficará»... ou seja, já no tempo dele, verificava-se que a desinformação tinha um efeito, mesmo quando era óbvia a mentira ou distorção, para pessoas com um mínimo de espírito crítico.   

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

AUTONOMIA EM CONTEXTO DE CRISE SISTÉMICA

 Porque não aproveitar o contexto de crise, para fazer mudanças radicais no nosso próprio estilo de vida? Serão apenas multimilionários, os capazes de tirar partido das oportunidades que inegavelmente surgem, como agora, aquando duma crise sistémica?

Não pretendo aqui insinuar que se deva fazer isto ou aquilo. Não quero dar a ideia de que preconizo algo como uma ruptura na vida particular do/a leitor/a. Primeiro, porque - em muitos casos - desconheço completamente o/a leitor/a; segundo, mesmo que conheça, a minha ética coíbe-me de ser juiz ou conselheiro da vida alheia. 

Eu apenas olho em torno e vejo como certas pessoas mudaram suas vidas, com imenso benefício para a sua saúde e também, nalguns casos, melhorando o seu bem-estar material.  

Penso que essas pessoas de que falo, não são susceptíveis de aparecer em destaque nos jornais e magazines. Algumas terão dado entrevistas, ou entreaberto a porta das suas vidas a jornalistas, mas - por norma - estão completamente fora da «grelha», fora da «rede». 

Encontram-se normalmente em pequenas comunidades, não muito maiores do que meia-dúzia de famílias. Têm um modo perfeitamente sensato de se comportar; cultivam a terra, produzem o que consomem, algum excedente serve-lhes para obter somas de dinheiro que precisam, para comprar o que não podem obter por eles próprios, ou que é não-rentável produzir.

As crianças dessas comunidades têm liberdade de fazer a descoberta da natureza, acompanhadas por seus pais. Não têm de frequentar uma escola normalizada e redutora da sua criatividade natural. Isso implica um programa estrito de ensino ao domicílio, os seus encarregados de educação desempenham o papel de professores. Assim foi, durante incontáveis gerações. Antes da existência da escola formal, como aprendeu o género humano? Com os pais, com a família alargada, com os vizinhos e com pessoas que pertenciam ao mesmo agrupamento.

A sua existência, tanto das crianças como dos adultos, não é monótona, nem incerta. Estão vocacionados para se comportarem como seres activos. Têm de providenciar ao máximo de necessidades da vida, não apenas à obtenção de alimentos; também à construção (ou restauro) de casas, construção ou reparação de veículos e ferramentas, confecção de roupa, etc. 

Não havendo recurso ao que se chama «comodidades», ou seja comércio - principalmente, as grandes superfícies-  vendendo quase tudo o que uma pessoa possa necessitar - também a sua vida está mais livre. Não dependem essencialmente do dinheiro para viver. 

A coesão de tal sistema passa, inicialmente, por uma tomada de consciência dos males que advêm da sociedade dita «desenvolvida», na qual os indivíduos são postos ao serviço da máquina económica, quer como escravos assalariados, quer como consumidores... o que é, aliás, a mesma coisa, pois a imensa maioria só poderá consumir, ou porque ganha salário, ou o ganhou no passado, sendo agora pensionista. 

Mas, depois dessa tomada de consciência do que se rejeita, tem de verificar-se uma tomada de consciência positiva, daquilo que se pode empreender para mudar uma situação que não nos satisfaz. 

A construção nasce de um projecto familiar ou de vários projectos familiares confluentes, obra de pessoas activas, capazes de grande eficiência em múltiplas tarefas, mas que sabem que a complementaridade das pessoas é um aspecto fundamental para o todo. Daí que ninguém esteja excluído, ou tenha um papel passivo. Logo a partir deste ponto, em tal grupo, que não ultrapassa umas poucas dezenas, as pessoas estão real, material, emocional e espiritualmente unidas. Este facto, em si mesmo, desencadeia uma sinergia, possibilitando a edificação realmente fora do sistema.

Nada obriga a que os membros da comunidade tenham os mesmos valores. Porque hão-de todos guiar-se por ideologia ou religião, comuns?

 - A única questão que se coloca a este nível, é o entendimento de que, cada pessoa e o grupo no seu todo, são solidários em relação a todas as decisões que se tomaram em conjunto. Estão no mesmo barco, se o sacudirem com intrigas, polémicas e ódios, o mais certo é o barco virar-se e naufragar... Mas, parece óbvio que as pessoas que levam a cabo esta caminhada, pelo menos as mais experientes, sabem como evitar conflitos, como debater as questões em assembleia, como construir relações baseadas na entreajuda, sem hierarquias. 

O investimento inicial incidirá sobre um terreno adequado para exploração agrícola; pode ter ou não construções. No caso de ter edifícios arruinados, a precisar de restauro, este pode ser levado a cabo quando o grupo esteja na transição da cidade para o espaço rural. 

Um bom terreno agrícola, longe dos grandes centros urbanos, pode ser adquirido por um preço módico. Um grupo que constitui o núcleo inicial da cooperativa ou sociedade, poderá repartir o custo do terreno em partes iguais. A contribuição em trabalho será de acordo com a capacidade de cada pessoa, que é parte do projecto. O trabalho encomendado a alguém ou empresa exteriores, naturalmente implica pagamento, o qual deverá ser repartido entre todos.  

Não é necessário recorrer ao crédito (bancário), em muitos casos. É mesmo de o evitar, pois as mensalidades são difíceis de pagar em certos momentos, obrigando a manter uma entrada de dinheiro - normalmente, sob forma de trabalho assalariado - para cobrir a mensalidade devida ao banco. 

Não faz sentido uma quantificação rigorosa, mas a título de exemplo, dou esta indicação: Se 5 famílias tiverem adquirido um terreno, pelo valor de 100 mil euros, 20 mil euros para cada uma. A contribuição de cada parte poderá ser obtida por diversas modalidades: venda de propriedade pré-existente, poupanças, trabalho...

Eu sei que tal projecto é como um sonho para muitas pessoas. Mas, é realizável, aqui e agora. 

O Portugal do interior, abandonado durante dezenas de anos (senão séculos), ao contrário da estreita faixa «desenvolvida» do litoral, proporciona as vantagens de um ambiente pouco ou nada poluído, permitindo realizar agricultura biológica (logo, com elevado valor de mercado, nos circuitos comerciais), além de haver o povoamento das aldeias, onde tal comunidade terá necessariamente de se apoiar.

 Pois autonomia não significa «autarcia». Embora sejam frequentemente confundidas, são coisas totalmente diferentes:

- Na autonomia, uma pessoa ou grupo consegue tomar as decisões que norteiam a sua vida, consegue levar a cabo as tarefas necessárias para cumpri-las, consegue alcançar os fins que traçou.

- Na autarcia, há procura de auto-suficiência total, de não pedir nada a outrem, só contar com as produções próprias, em todos os aspectos da vida. A autarcia é impossível de se realizar, senão em escala muito grande e exigindo muitos sacrifícios das pessoas envolvidas na situação. Normalmente, é algo de países onde reina uma ditadura totalitária, ou em seitas que se apropriam das vidas das pessoas e as escravizam.

- O princípio da autonomia é transponível para a vida de cada um, seja em que circunstância for. É o indivíduo que assume a responsabilidade dos seus actos: por exemplo, tem cuidado em prevenir a doença, não precisando senão esporadicamente de cuidados médicos; ou que assume o controlo das suas finanças, pondo o dinheiro ao serviço do seu projecto de vida e não o inverso, ou seja, não fica amarrado a dívidas. É ser capaz de estar em sociedade, seja no emprego, seja noutro contexto, compreendendo como interagir com os outros, como desempenhar trabalho útil e fazer-se respeitar pelas suas qualidades, pela sua personalidade forte e confiável.

Pelo contrário, a autarcia será o projecto de alguém sem escrúpulos em explorar e dominar outros. Necessariamente, terá de haver outros. As vítimas que, devido a suas «vendas nos olhos», se deixam levar pelo(s) líder(es). Tipicamente, será o caso de uma seita. 

Uma vez compreendido o princípio da autonomia e a sua aplicação em toda a escala, desde o indivíduo à comunidade com variável dimensão, torna-se possível cooperar com outras pessoas que partilhem um desejo de vida liberta do ciclo infernal: perder a vida para ganhar dinheiro, e perdê-la novamente, gastando aquele dinheiro no consumoútil ou inútil.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

ARBÍTRIO - UM ESTADO DE NÃO-CONSTITUCIONALIDADE, SOB PRETEXTO DE COMBATER O COVID



ESTADO DE NÃO-CONSTITUCIONALIDADE é, por definição, uma DITADURA

[Para quem tiver dúvidas, apresento em baixo o artigo da Constituição em que, supostamente, o governo deste país se baseia para impor uma série de medidas INCONSTITUCIONAIS.]

Análise Constitucional

Antes de mais, não existe no texto constitucional um «estado de calamidade pública», por si. Figura o «estado de sítio» e o «estado de emergência». No ponto 2 do referido artigo constitucional, aparece a menção de «calamidade pública», como justificação de ser decretado estado de sítio ou de emergência. Não há simplesmente nada que se assemelhe -AQUI E AGORA - a calamidade pública. Mesmo no caso de efectivamente haver calamidade pública, o que não é o caso, é notória a preocupação do texto constitucional, de que as medidas tomadas no contexto de um estado de emergência sejam proporcionais e adequadas à situação. Por exemplo, se um furacão se abater sobre a região dos Açores, isso pode originar um decretar de um estado de emergência na região, mas não no todo do território nacional... Os cuidados ao nível do texto são múltiplos, para que os poderes (governo, legisladores e judiciais) não possam abusar do referido artigo da constituição. 

Análise factual

Quanto ao fundo, há manifesta falta de prova de que estamos perante o que o Primeiro-Ministro designa como «agravamento» da pandemia de Covid-19.
Os pressupostos, em que se baseia o Primeiro Ministro, são falsos.
A epidemia mede-se, não pelo número de testes positivos, mas sim pelas pessoas cuja infecção é activa (estas são apenas uma fracção diminuta das que têm teste PCR positivo). Também se pode medir pelos óbitos. Ambos os valores estão a diminuir, mais de 90%, em relação ao pico da epidemia, em múltiplos países da Europa. O pico de Março/Abril, não foi repetido. A Suécia e a Bielorússia, que nunca fizeram confinamento, estão com uma taxa de mortalidade de quase zero, menor do que a de países que usaram as políticas estritas de confinamento.

Este decretar do «estado de calamidade» é simplesmente anti-constitucional pois não existe o pressuposto de uma calamidade. Uma calamidade é algo muito grave. É algo que se traduz por muitos mortos subitamente, por muitas pessoas afectadas, por desorganização das estruturas. Nada disto se verifica. 

A epidemia do medo

O que se verifica é uma campanha de alarmismo, programada, nos media portugueses (e de muitos outros países), um silenciar das vozes científicas que denunciam esta manipulação, um exercício do poder sem respeito pelos direitos fundamentais dos indivíduos, usando e abusando do pretexto para impor arbitrariamente medidas, que não têm utilidade real ou pior. Por exemplo, o uso da máscara em espaços públicos, que apenas vai implicar mais doenças pulmonares, por re-inalação de bactérias e vírus que os próprios exalaram. 
Isto não é maneira de combater uma epidemia, que aliás está a extinguir-se naturalmente, à medida que muitas pessoas tiveram contacto com o vírus e portanto têm resistências e não são transmissores. 
Esta medida de impor máscara e «distanciamento social» ao ar livre, em espaço público, é mesmo absurda: a própria OMS reconhece a sua ineficácia. 

O mecanismo do golpe 

Se não existe justificação alguma médica e sanitária, então, estamos a assistir a quê, em Portugal e noutros países da Europa? O que se verifica é antes um constante matraquear de números pela media: estes, em regra, não são estatisticamente tratados e contextualizados. Está-se perante uma ausência de significado epidemiológico, apenas tendo como efeito psicológico manter e agravar a psicose colectiva induzida.
O aspecto mais perturbador é o facto de quererem impor aos cidadãos o uso de um «app» no seu «smart-phone», com capacidade deste detectar, supostamente, alguém que «tenha covid».
 Isto só tem paralelo com a obrigatoriedade dos leprosos usarem uma campainha, para assinalar a sua aproximação, na Idade Média. 

Condicionamento de massas

Que a media e muitas pessoas achem isso «normal e proporcional», mostra até que ponto estão sob influência, condicionadas, como se a epidemia de Covid fosse tão grave como a lepra ou a peste, sendo que está ao nível de mortalidade da gripe, como tenho feito referência no meu blog: [DR IOANNIDIS] taxa de mortalidade de Coronavírus semelhante à Gripe

Instalação da censura e arbítrio

A monstruosidade e cobardia disto salta à vista, pois é evidente que estão a censurar as vozes dissidentes desta nova ditadura totalitária. 
Os mais prestigiados especialistas das ciências biológicas e médicas são censurados, impedidos de ser ouvidos em público. O público é impedido de ouvir e tomar conhecimento das opiniões discordantes do «mantra» dominante. A isto chama-se uma ditadura.
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LEIA EM APENSO ARTIGO 19 DA CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA

(Suspensão do exercício de direitos)

Como apêndice a este artigo, junto excerto do artigo de CJ Hopkins «The Covidian Cult»: https://consentfactory.org/2020/10/13/the-covidian-cult/  

«... The Head of the Health Emergencies Program at the WHO has basically confirmed an IFR of 0.14%, approximately the same as the seasonal flu. And here are the latest survival rate estimates from the Center for Disease Control:

  • Age 0-19 … 99.997%
  • Age 20-49 … 99.98%
  • Age 50-69 … 99.5%
  • Age 70+ … 94.6%

The “science” argument is officially over. An increasing number of doctors and medical experts are breaking ranks and explaining how the current mass hysteria over “cases” (which now includes perfectly healthy people) is essentially meaningless propaganda, for example, in this segment on ARD, one of the big mainstream German TV channels. »

sábado, 1 de agosto de 2020

Portugal: Colapso Anunciado e Oportunidade de Renovo

The Best European River Cruises for 2019 and 2020 | Jetsetter ...

A partir de agora, a situação económica começa a «apertar» no Ocidente (falo da Europa e América do Norte, principalmente). 
Mas, o Ocidente não é homogéneo do ponto de vista económico e da exposição a situações causadoras de extrema desorganização e do acentuar da pobreza. Existem clivagens muito grandes entre países como, por exemplo, o Norte e o Sul da União Europeia: 
- Com a Alemanha, a Áustria, a Holanda e a Escandinávia, contrastando em desafogo económico e capacidade de suavizar uma situação prolongada de crise, com um Sul, incluindo Grécia, Itália, Espanha e Portugal, todos eles em situação muito mais frágil perante a crise profunda, pois estão muito dependentes do turismo para sobreviverem e não possuem diversificação suficiente para aguentar o embate e o marasmo prolongado no sector, que era o seu principal «ganha-pão».

Mas, também estamos perante a crise interna dos Estados e regimes, visto que a inadequada e autoritária resposta à epidemia de Covid-19 (um problema sanitário real), veio desencadear reflexos de medo e uma contracção da vida nas suas vertentes sociais. 
Isto pode ser conveniente para a oligarquia que governa estes países, no curto prazo. Porém, vão servir-se do mesmo pretexto da pandemia e de mais que duvidosas «segundas e terceiras» ondas, para retomar o controlo de todas as alavancas do poder, sem contestação. O grau de corrupção, na política e nas sociedades em geral, nunca foi tão elevado, com os lançadores de alerta a serem completamente ignorados ou perseguidos e calados. A cidadania, semi-adormecida, está num ponto em que pode ser facilmente manipulada, pelos da maioria governamental, ou pelas oposições.
Mas tudo isto tem, como fenómeno subjacente, o colapso do modelo económico e financeiro que governou o Ocidente.

Este colapso é bem visível nos EUA, país emblemático deste capitalismo. A cidadania nos EUA está completamente fraccionada. Existe um total divórcio em relação a quaisquer valores, que poderiam ser identificadores comuns do povo dos EUA. A coesão existente, é em relação a factores de grupo, nos quais se contam «raça», «religião», «pertença social», «orientação sexual», etc, etc. Não existe futuro para um país assim: irremediavelmente dividido. Ainda é o mais poderoso, em termos militares e ainda detém o privilégio do dólar US ser a maior divisa de reserva ao nível mundial:
- Mas, no plano geo-estratégico está em situação de competição com 2 super-grandes (Rússia e China), que possuem armamento sofisticado e - mesmo - superior em domínios-chave, face a modelos mais antiquados, que equipam as forças armadas dos EUA e seus aliados da NATO. 
- E, no plano monetário, o dólar está sob grande pressão, com uma descida significativa em relação às moedas ocidentais concorrentes, nomeadamente, ao euro. Além disso, o dólar (e todas as divisas) estão constantemente a perder valor, em relação ao ouro e à prata
Isto significa claramente a fuga dos investidores mais lúcidos dos mercados das obrigações e das acções e outros activos financeiros em geral, que se expressam em moedas-papel, ou «fiat». 
Pelo contrário, existe um aumento de procura muito significativo, além dos metais preciosos, no imobiliário em vários países europeus. Tal se deve ao facto de muitas pessoas estarem a converter bens financeiros em bens imobiliários, estes menos sujeitos a volatilidade e, sobretudo, que poderão atravessar esta crise longa, conservando o seu valor, em termos reais, no final.

No meio da «grande reestruturação» («great reset»), na qual nos encontramos, as pessoas dominadas (sem o saberem) por uma media, inteiramente ao serviço dos poderosos, são susceptíveis de fazerem escolhas erradas. Tais erros e ilusões, induzidos pela media mentirosa, ainda irão agravar mais a sua fragilidade, em termos económicos. Muitas das que tinham algum bem-estar económico, irão perder tudo, tal como aconteceu em todas as crises anteriores.  
Mas, a perda de uns, é o ganho de outros. Haverá pessoas e entidades que irão enriquecer, que irão fazer negócios chorudos, capturando bens e negócios por «tuta e meia».
 Estes, estarão em força quando se der a retoma da economia produtiva. Uma vez que o pior da crise tiver passado, que um novo sistema monetário veja a luz do dia, esses capitalistas terão o terreno limpo para seus negócios avançarem nas melhores condições. 
Com efeito, a ausência de concorrência vai permitir situações de controlo ou monopólio do mercado, em sectores de actividade e largas regiões geográficas; isso vai multiplicar as possibilidades de lucro. 
No capitalismo monopolista, que é o do nosso tempo, os que planificam e executam as acções dos grandes grupos financeiros não são uns amadores. Eles próprios, têm formação e contam com apoio de especialistas, em todas as áreas necessárias, que garantem - não apenas os negócios correntes - mas também a prospectiva, a visão estratégica de longo prazo.

Sendo assim, nos tempos mais próximos, depois da onda de falências e de grande contracção da economia, fase que durará, pelo menos, até ao próximo Verão de 2021, vai verificar-se uma grande concentração e reestruturação em todos os sectores-chave:
- concentração da distribuição, estendendo as redes de pequenas lojas mas com «label» de um grande distribuidor. Destruição visível do comércio de proximidade, desaparecimento do pequeno comércio nas zonas habitacionais: a mercearia, a frutaria, a pequena loja de electro-domésticos, a papelaria-tabacaria, etc. 
- concentração da banca, com fusões e aquisições de pequenos bancos por gigantes. Mas também uma diminuição da rede de balcões e/ou a conversão de serviços para 100% on-line, o que fará com que o número de funcionários bancários em contacto directo  com o público diminua ainda mais. 
- A Inteligência Artificial e a robotização vão avançar em todos os domínios, desde a medicina, engenharia, arquitectura, etc.  até às tarefas pouco especializadas, como a colheita de frutas e legumes, até agora assegurada por uma mão-de-obra muito «barata», normalmente imigrante. 

Vai haver uma generalização do desemprego estrutural. Não vai ser possível encaixar nos sectores produtivos, as pessoas agora despedidas, pois haverá muito menos postos de trabalho, além de que a tendência será de substituir humanos pelos robôs, ou por sistemas de IA (Inteligência Artificial). 
Face a esta situação, a opção dos Estados será - provavelmente - de criar um «Rendimento Básico Universal» (RBU), com capacidade de manter as pessoas assistidas no limiar de subsistência, mas ainda assim, sem chegar à indigência. 
O RBU será saudado como «grande progresso social» por alguns desmiolados, mas será a forma prática de manter as pessoas sob controlo, sobretudo jovens, quando não existe possibilidade ou vontade de as canalizar para tarefas produtivas e reprodutíveis.

Porém, existem muitas instâncias em que o trabalho poderá ser aplicado de forma útil e produtiva, com verdadeiro emprego e com verdadeiro salário
Estou a pensar nas enormes tarefas que estão por fazer, nos campos, especialmente no interior deste país, com todo o efeito de arrastamento de indústrias conexas ao renascimento agrícola, baseado em energias renováveis e em conceitos ecológicos. 
Estou a pensar também no apoio domiciliário a muitas pessoas idosas e/ou com deficiência, que não deveriam ser armazenadas em «lares», instituições completamente inadequadas. Veja-se o que aconteceu aquando do surto de Covid-19: pense-se que apenas vimos a ponta do iceberg.  
Na educação, ao contrário da tendência para realizar tudo «on-line», acentuada com a recente epidemia, que confinou as crianças e jovens em casa, tem de se apostar numa diferente e criativa forma de educar. 
Têm de ser criados «centros de educação e excelência tecnológicos» que não sejam os «parentes pobres» do que é, ou era (como há mais de 50 anos!) considerado nobre: as vias que conduzem ao ensino superior. 
Poderia multiplicar exemplos, desde a marinha mercante e portos, à rede ferroviária e a todas as infraestruturas associadas... campos em que haveria trabalhos de estrutura a fazer-se e com grande utilidade para o país.
Porém, este esforço muito necessário é impossível sem a mobilização de energias, de vontades, sem a existência de um projecto nacional. Para que vingue, é preciso realismo, vontade e persistência. São estas as três características morais impossíveis de desenvolver e cultivar no marasmo actual, sonhando uns com utopias caducas, outros com «milagres» de ajudas vindas do exterior, etc. 
Há muitas maneiras de cairmos; para nos levantarmos, só há - basicamente - uma; dobrar as pernas, retesar os músculos, fazer força apoiando-se no chão, exercendo toda a força para cima, o corpo unido no gesto de se erguer, de retomar a vertical. No caso dos povos, é o mesmo! 
Onde está o essencial da questão? 
Na tomada de consciência de que a salvação não virá do exterior, mas de nós próprios, de fazermos o que seja preciso para nos pormos de novo, em pé!