Porque razão os bancos centrais asiáticos estão a comprar toneladas de ouro? - Não é ouro em si mesmo que lhes importa neste momento, mas é a forma mais expedita de se livrarem de US dollars!!
Mostrar mensagens com a etiqueta consumismo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta consumismo. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

TRADIÇÃO ESPIRITUAL E CIENTÍFICA

 Complicam tudo.

De facto, a Palavra de Cristo é muito clara;  não tem nada de misterioso ou de «escandaloso» como alguns pretendem. 

Toda a dificuldade na questão da interpretação das palavras e atos atribuídos a Jesus nos Evangelhos, tem a ver com os preconceitos da nossa época. 

Uma época materialista e racionalista não pode  compreender - porque não pode aceitar - um discurso que se situa num universo mental diferente:  Um Mundo profundamente imbuído do Espírito, onde o Espírito é a realidade última, enquanto  a matéria é uma manifestação limitada, momentânea, da energia espiritual. 

Os milagres são inversão da ordem natural das coisas, por intervenção do Espírito. Sem dúvida, no tempo de Jesus, havia falsos profetas, que tentavam iludir os incautos com truques de magia. As pessoas comuns que viram e sentiram a energia que se desprendia da presença física de Jesus, sabiam da existência desses falsos profetas, algumas até os teriam visto em ação. Portanto, de certa maneira, temos aqui uma prova de que Jesus era diferente de (falsos ou verdadeiros) profetas que o antecederam.

A arrogância das pessoas atuais consiste em pensarem que toda a sofisticação da sua maquinaria, seus gadgets eletrónicos, seus instrumentos científicos, permitiriam descobrir os truques usados (supostamente) por Jesus, nessas intervenções. Na verdade, sendo a Energia cósmica uma realidade espiritual ou não-material, não sendo formada por partículas ou ondas no Universo, a modificação instantânea de certos parâmetros físicos é tudo o que há de mais fácil para Deus. Cristo pediu o auxílio ao Deus Cósmico, que ele chamava «Pai», e Este, repetidas vezes, satisfez o pedido.   

Daqui, não decorre que a filiação de Cristo ao Pai, seja de ordem material. Obviamente, é espiritual e a intervenção do Espírito Santo na gravidez de Maria é uma imagem simples, compreendida pela humanidade da época. 

O contexto era espiritualista, não materialista. A gravidez era tida como fenómeno material, sabia-se perfeitamente que havia intervenção do sémen masculino para fecundação da mulher. Porém, a  vida era considerada «dom de Deus», ou seja, toda a criança nascia por vontade de Deus. 

Se acreditas realmente em Deus, qualquer que seja a forma como se reveste a tua visão do Divino, aceitas que os fenómenos - além das suas causas «mecanísticas» - estão sujeitos à vontade Divina. Ou, por outras palavras: Há uma espiritualidade que emana de todo e qualquer fenómeno, que ocorra, cuja «parte material» é indissociável da correspondente «parte espiritual». 

Algures nos Evangelhos, é explicado que somos todos «filhos de Deus». Então, muitos fazem o erro de atribuir a Cristo a designação exclusiva de «filho de Deus» quando, na realidade, ele refere-se a si próprio como «O Filho do Homem». 

Para mim,  a dualidade não existe, há simplesmente um Universo, em toda a sua maravilhosa complexidade, a sua extensão no tempo e no espaço, de que somos todos «filhos». A mensagem de que somos todos «irmãos», não tem justificação no sentido literal, obviamente. Nem teria, a partir de especiosos argumentos sobre ADN antigo e recorrendo à Paleoantropologia, a Ciência do Aparecimento e da Evolução do Humano. 

Mas, tem completo sentido para mim e para todos os «espirituais», que aceitam a comunhão fundamental dos seres vivos com o Universo. Não compreendo que pessoas que se consideram científicas, digam que somos feitos a partir da matéria formada nas estrelas (o que é verdadeiro, aliás)  e não se considerem em comunhão com os outros seres vivos, nomeadamente com os outros humanos (de quaisquer «raças», nações, credos, etc.).

Para mim, as coisas são simples, no seu âmago, mas hoje, demasiado difíceis ou laboriosas de explicar. Porque, qualquer civilização humana, até bem perto dos nossos dias, dava a presença do Espírito sob suas várias formas, como uma evidência, como dado adquirido. 

Porém, um nefasto extremismo materialista veio acentuar, a partir do século XVII, o «exclusivismo » da matéria, desenvolvendo um paradigma mecânico na física, que depois se estendeu a outras ciências, incluindo a fisiologia e a psicologia. 

Triunfou a falácia de que «tudo é matéria»: Isto implicava que só seriam validadas explicações que recorressem exclusivamente aos aspetos materiais. Vê-se claramente que se trata dum raciocínio circular: Dá como provado aquilo que pretende provar. Pior, tudo o que seja espiritual é decretado como uma «emanação», como um «fenómeno secundário» do cérebro humano, de relações eletroquímicas e moleculares neste. 

As consequências éticas desta postura são evidentes. Embora existam pessoas materialistas com elevada ética individual, uma civilização baseada nos princípios acima, é suscetível de cometer os piores crimes contra a Humanidade ou a Natureza. Claro que não será por isso que uma posição filosófica será mais ou menos verdadeira. Mas, a sacralidade da Vida, a religião verdadeira do Respeito pelo Cosmos, está a ser arredada, de várias maneiras, da esfera pública pelo «transumanismo», pelo «materialismo consumista», pelo «egoísmo hedónico», que tão obviamente penetram na psicologia das massas, quer através de «intelectuais», quer da media corporativa, quer da publicidade destinada a criar a dependência pelo novo e pela acumulação de objetos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

AUTONOMIA EM CONTEXTO DE CRISE SISTÉMICA

 Porque não aproveitar o contexto de crise, para fazer mudanças radicais no nosso próprio estilo de vida? Serão apenas multimilionários, os capazes de tirar partido das oportunidades que inegavelmente surgem, como agora, aquando duma crise sistémica?

Não pretendo aqui insinuar que se deva fazer isto ou aquilo. Não quero dar a ideia de que preconizo algo como uma ruptura na vida particular do/a leitor/a. Primeiro, porque - em muitos casos - desconheço completamente o/a leitor/a; segundo, mesmo que conheça, a minha ética coíbe-me de ser juiz ou conselheiro da vida alheia. 

Eu apenas olho em torno e vejo como certas pessoas mudaram suas vidas, com imenso benefício para a sua saúde e também, nalguns casos, melhorando o seu bem-estar material.  

Penso que essas pessoas de que falo, não são susceptíveis de aparecer em destaque nos jornais e magazines. Algumas terão dado entrevistas, ou entreaberto a porta das suas vidas a jornalistas, mas - por norma - estão completamente fora da «grelha», fora da «rede». 

Encontram-se normalmente em pequenas comunidades, não muito maiores do que meia-dúzia de famílias. Têm um modo perfeitamente sensato de se comportar; cultivam a terra, produzem o que consomem, algum excedente serve-lhes para obter somas de dinheiro que precisam, para comprar o que não podem obter por eles próprios, ou que é não-rentável produzir.

As crianças dessas comunidades têm liberdade de fazer a descoberta da natureza, acompanhadas por seus pais. Não têm de frequentar uma escola normalizada e redutora da sua criatividade natural. Isso implica um programa estrito de ensino ao domicílio, os seus encarregados de educação desempenham o papel de professores. Assim foi, durante incontáveis gerações. Antes da existência da escola formal, como aprendeu o género humano? Com os pais, com a família alargada, com os vizinhos e com pessoas que pertenciam ao mesmo agrupamento.

A sua existência, tanto das crianças como dos adultos, não é monótona, nem incerta. Estão vocacionados para se comportarem como seres activos. Têm de providenciar ao máximo de necessidades da vida, não apenas à obtenção de alimentos; também à construção (ou restauro) de casas, construção ou reparação de veículos e ferramentas, confecção de roupa, etc. 

Não havendo recurso ao que se chama «comodidades», ou seja comércio - principalmente, as grandes superfícies-  vendendo quase tudo o que uma pessoa possa necessitar - também a sua vida está mais livre. Não dependem essencialmente do dinheiro para viver. 

A coesão de tal sistema passa, inicialmente, por uma tomada de consciência dos males que advêm da sociedade dita «desenvolvida», na qual os indivíduos são postos ao serviço da máquina económica, quer como escravos assalariados, quer como consumidores... o que é, aliás, a mesma coisa, pois a imensa maioria só poderá consumir, ou porque ganha salário, ou o ganhou no passado, sendo agora pensionista. 

Mas, depois dessa tomada de consciência do que se rejeita, tem de verificar-se uma tomada de consciência positiva, daquilo que se pode empreender para mudar uma situação que não nos satisfaz. 

A construção nasce de um projecto familiar ou de vários projectos familiares confluentes, obra de pessoas activas, capazes de grande eficiência em múltiplas tarefas, mas que sabem que a complementaridade das pessoas é um aspecto fundamental para o todo. Daí que ninguém esteja excluído, ou tenha um papel passivo. Logo a partir deste ponto, em tal grupo, que não ultrapassa umas poucas dezenas, as pessoas estão real, material, emocional e espiritualmente unidas. Este facto, em si mesmo, desencadeia uma sinergia, possibilitando a edificação realmente fora do sistema.

Nada obriga a que os membros da comunidade tenham os mesmos valores. Porque hão-de todos guiar-se por ideologia ou religião, comuns?

 - A única questão que se coloca a este nível, é o entendimento de que, cada pessoa e o grupo no seu todo, são solidários em relação a todas as decisões que se tomaram em conjunto. Estão no mesmo barco, se o sacudirem com intrigas, polémicas e ódios, o mais certo é o barco virar-se e naufragar... Mas, parece óbvio que as pessoas que levam a cabo esta caminhada, pelo menos as mais experientes, sabem como evitar conflitos, como debater as questões em assembleia, como construir relações baseadas na entreajuda, sem hierarquias. 

O investimento inicial incidirá sobre um terreno adequado para exploração agrícola; pode ter ou não construções. No caso de ter edifícios arruinados, a precisar de restauro, este pode ser levado a cabo quando o grupo esteja na transição da cidade para o espaço rural. 

Um bom terreno agrícola, longe dos grandes centros urbanos, pode ser adquirido por um preço módico. Um grupo que constitui o núcleo inicial da cooperativa ou sociedade, poderá repartir o custo do terreno em partes iguais. A contribuição em trabalho será de acordo com a capacidade de cada pessoa, que é parte do projecto. O trabalho encomendado a alguém ou empresa exteriores, naturalmente implica pagamento, o qual deverá ser repartido entre todos.  

Não é necessário recorrer ao crédito (bancário), em muitos casos. É mesmo de o evitar, pois as mensalidades são difíceis de pagar em certos momentos, obrigando a manter uma entrada de dinheiro - normalmente, sob forma de trabalho assalariado - para cobrir a mensalidade devida ao banco. 

Não faz sentido uma quantificação rigorosa, mas a título de exemplo, dou esta indicação: Se 5 famílias tiverem adquirido um terreno, pelo valor de 100 mil euros, 20 mil euros para cada uma. A contribuição de cada parte poderá ser obtida por diversas modalidades: venda de propriedade pré-existente, poupanças, trabalho...

Eu sei que tal projecto é como um sonho para muitas pessoas. Mas, é realizável, aqui e agora. 

O Portugal do interior, abandonado durante dezenas de anos (senão séculos), ao contrário da estreita faixa «desenvolvida» do litoral, proporciona as vantagens de um ambiente pouco ou nada poluído, permitindo realizar agricultura biológica (logo, com elevado valor de mercado, nos circuitos comerciais), além de haver o povoamento das aldeias, onde tal comunidade terá necessariamente de se apoiar.

 Pois autonomia não significa «autarcia». Embora sejam frequentemente confundidas, são coisas totalmente diferentes:

- Na autonomia, uma pessoa ou grupo consegue tomar as decisões que norteiam a sua vida, consegue levar a cabo as tarefas necessárias para cumpri-las, consegue alcançar os fins que traçou.

- Na autarcia, há procura de auto-suficiência total, de não pedir nada a outrem, só contar com as produções próprias, em todos os aspectos da vida. A autarcia é impossível de se realizar, senão em escala muito grande e exigindo muitos sacrifícios das pessoas envolvidas na situação. Normalmente, é algo de países onde reina uma ditadura totalitária, ou em seitas que se apropriam das vidas das pessoas e as escravizam.

- O princípio da autonomia é transponível para a vida de cada um, seja em que circunstância for. É o indivíduo que assume a responsabilidade dos seus actos: por exemplo, tem cuidado em prevenir a doença, não precisando senão esporadicamente de cuidados médicos; ou que assume o controlo das suas finanças, pondo o dinheiro ao serviço do seu projecto de vida e não o inverso, ou seja, não fica amarrado a dívidas. É ser capaz de estar em sociedade, seja no emprego, seja noutro contexto, compreendendo como interagir com os outros, como desempenhar trabalho útil e fazer-se respeitar pelas suas qualidades, pela sua personalidade forte e confiável.

Pelo contrário, a autarcia será o projecto de alguém sem escrúpulos em explorar e dominar outros. Necessariamente, terá de haver outros. As vítimas que, devido a suas «vendas nos olhos», se deixam levar pelo(s) líder(es). Tipicamente, será o caso de uma seita. 

Uma vez compreendido o princípio da autonomia e a sua aplicação em toda a escala, desde o indivíduo à comunidade com variável dimensão, torna-se possível cooperar com outras pessoas que partilhem um desejo de vida liberta do ciclo infernal: perder a vida para ganhar dinheiro, e perdê-la novamente, gastando aquele dinheiro no consumoútil ou inútil.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

CAN'T BUY ME LOVE...?


Estamos sempre ocupados a medir coisas que supomos saber medir, mesmo a felicidade! Ou seja, acreditamos que existe uma maneira de acrescentar mais felicidade, «amor», apenas com um incremento quantitativo, ou com uma diminuição de sofrimento… mas - afinal - as coisas não são bem assim! Embora pareça que o sofrimento humano global diminuiu muitíssimo, a  verdade é que nós, que vivemos numa sociedade relativamente protegida da pobreza em massa, de catástrofes como a guerra ou as suas consequências, não temos em conta a evolução global do mundo. Hipertrofiamos o que está à nossa volta, ao ponto de tudo o que esteja um pouco mais longe do nosso olhar é como se não existisse, ou tem um estatuto de algo abstracto… A sociedade globalizada, em termos de informação, é (paradoxalmente) uma sociedade extremamente centrada no seu umbigo e quando não é assim, quer avaliar os outros, as outras sociedades, pela bitola da sua própria existência.
A qualidade está sempre a ser preterida pela quantidade. A aparência, o «look», é o que importa. Nesta sociedade, não existe nenhuma igualdade de facto, nem «meritocracia», pois as pessoas mais medíocres podem ser içadas aos lugares cimeiros dos negócios, da política, gozar duma popularidade assente apenas em dinheiro, em poder económico. Os pobres ou os remediados não contam ou contam apenas como números, como consumidores, como contribuintes, como votantes… enfim como «coisas» que os «de cima» têm (de vez em quando) de seduzir, têm de fingir que os «compreendem», para melhor perpetuar a servidão voluntária.
A época que vivemos, mesmo nos países afluentes, é caracterizada por uma involução social, mesmo em termos de certos índices quantitativos. As patologias psíquicas e o consumo de psicofármacos (com ou sem prescrição médica) têm aumentado exponencialmente. O sedentarismo, a comida hipercalórica, a acumulação de agressões ambientais, fazem aumentar também exponencialmente os números da diabetes, da obesidade, do cancro …
Os afectos são tratados de forma completamente inadequada. As pessoas jovens em particular são, muitas vezes, enredadas numa visão totalmente distorcida do prazer e da sexualidade. Os suicídios entre jovens também têm crescido.
Eu não sei se podemos considerar que existe um «progresso», quando temos tantas facilidades por um lado e tanto desperdício e tantos problemas ambientais, decorrentes dessa abundância, por outro. Apenas estamos a atirar os problemas para as gerações seguintes. Sabemos que terão muito menos recursos naturais, em todas as coisas largamente consumidas, desde as jazidas de petróleo, às de metais diversos; desde a água disponível para consumo dos humanos, à terra fértil e aos ambientes não degradados, não contaminados.
Valorizamos o dinheiro, que é um mero símbolo, mas - ao mesmo tempo - deixamos que os bancos centrais e os governos organizem uma orgia de desvalorizações, por «impressão monetária», na realidade, electrónica. Há bem pouco tempo atrás, isso era um crime grave! Na realidade, valorizamos o dinheiro enquanto «fétiche», temos uma visão realmente alienada do dinheiro, que vemos como fim em si mesmo, quando apenas deveria ser considerado um meio para determinados fins.
A humanidade tem de voltar a viver noutra dimensão que não a dos bens materiais; não apenas a nutrição do corpo, não apenas a satisfação do desejo hedónico. Deveria parar de «medir» o seu sucesso ou fracasso pela abundância ou falta de dinheiro.
A sociedade fragmentou-se, não existe propriamente, de facto: existe uma colecção de indivíduos, mas solitários, mesmo quando se acoplam. Mesmo quando «convivem», não o fazem senão na superfície mais epidérmica. A sua vacuidade serve para esconder, a eles próprios, a sua tristíssima condição. Muitas pessoas teimam na ilusão pois, lá no fundo, têm medo de serem confrontadas com a sua própria vacuidade.
Uma espiritualidade, que não é sinónimo de religião, mas é outra coisa, pode ajudar a construir indivíduos, famílias e comunidades mais em harmonia consigo próprios. Só podemos realmente progredir na esfera social com uma busca colectiva, mas de proximidade. Os passos teoricamente são simples de enunciar:  
- Reconhecimento da nossa própria alienação e o assumir de que cada pessoa individual não pode, por si própria, encontrar a solução.
- Construção de comunidades intencionais, ou seja, que ponham em comum energias e projectos convergentes, para mudar qualitativamente (aqui e agora) as nossas vidas.
   





domingo, 26 de fevereiro de 2017

SOBRE O NIILISMO, O FUNDAMENTALISMO E A NECESSIDADE DE ACREDITAR

 Nas minhas andanças e experiências, tive oportunidade de conviver com algumas pessoas, ateias ou crentes, que tinham uma grande segurança e firmeza. Porém, nuns e noutros casos, pareceu-me que essas pessoas se fechavam dentro dum sistema, de uma visão global, de uma ideologia.
Uso a palavra «ideologia» no sentido mais lato, não no de «ideário político», mas mais no sentido filosófico de uma narrativa construída, destinada a explicar tudo, a vida, o universo, a natureza.
Assim, mesmo em pessoas que se designam de ateias, vejo que se sobrepõe à racionalidade pura, uma necessidade ou desejo de crer, de acreditar. Eu chamaria estas pessoas de «crentes», sem qualquer desprezo ou menosprezo pelos seus pensamentos ou sentimentos.
Contrariamente, as pessoas que se deixam enrodilhar nas vaidades das modas, incluindo obviamente, as modas intelectuais, são as que têm diminuta firmeza nas suas crenças. Em geral, não as confrontaram com outras narrativas, ou porque não tiveram essa oportunidade, ou porque preferiram evitar esse confronto.
Na realidade, se algo caracteriza o grupo dos «crentes», e nos permite distingui-lo do segundo, os «seguidores das modas», é o grau de profundidade da consciência.
As pessoas mais sujeitas a modas, a seguirem a corrente, facilmente ficam decepcionadas com alguma ideologia, religiosa ou não, porque estavam falsamente convencidas de que podiam «comprar», a felicidade, a iluminação, a beatitude, etc. com a sua «adesão» exterior.
Face às realidades da vida, cedo vêem que as coisas não se apresentam como imaginavam. O resultado é caírem numa passividade em relação ao domínio social, refugiando-se no egoísmo, no hedonismo, no consumismo, posturas encorajadas pela própria sociedade.
Quanto às pessoas «crentes», estas podem também ser confrontadas com decepções nas suas respectivas convicções, religiosas ou não. As pessoas com maior pendor crítico tenderão a reformular, a requintar as suas convicções.
Mas muitas pessoas caem num «extremismo» conceptual, traduzindo-se quer em niilismo, quer em fundamentalismo. Por outras palavras, ou repudiam todo e qualquer sistema teórico, ideologia, convicção (niilismo) ou, pelo contrário, atribuem à sociedade - ao «mundo» - os males todos, vendo nela o «pecado» da não-aceitação plena da sua verdade (fundamentalismo).
Sem tentar absolutizar, creio que isto é uma chave importante para se compreender porque razão os adolescentes de hoje, como outros de outras épocas históricas, têm - com frequência - uma grande apetência pelas versões ideológicas ou religiosas ditas «mais radicais», mais «fundamentalistas», ou que se traduzem em práticas violentas e totalitárias.  
Na adolescência e juventude, muitas pessoas mostram uma grande necessidade de acreditar: por isso, as suas posições são absolutas ou, pelo menos, manifestam-se deste modo.  
Na plenitude da idade adulta, o confronto com as realidades da vida transforma as pessoas que não desistiram de se interrogar – as pessoas dotadas de consciência- o que se traduz pela evolução dos seus pensamentos e crenças, que ganham em subtileza, em consistência, por comparação com as posições adoptadas na adolescência.
Porém, a adolescência é uma época de grande insegurança do «eu», em que este já não se sente essencialmente protegido pelo aconchego familiar, maternal, mas ainda não sabe agir e posicionar-se no mundo dos adultos. 
A sociedade mercantilizada tem como alvo principal os jovens. A indústria do entretenimento explora as necessidades de afirmação, de oposição em relação aos parentes, por vezes confundida com rebeldia. Jogando com a psicologia dos jovens, a publicidade acentua os sentimentos de frustração, para lhes apresentar o consumo como panaceia: consumir música, roupas, bebidas alcoólicas, drogas, motos, etc…Consumir é «viver»! O vazio deste consumismo não deixa de se tornar patente, mais cedo ou mais tarde. É aí que muitos optam pela tal viragem «radical», pela sua entrega a uma causa, seja ela de âmbito secular ou religioso.
Neste caso, o que predomina é a enorme necessidade de acreditar, de ter fé em algo, de fugir ao vazio de uma sociedade que apresenta como único modelo o consumismo. As versões mais totalitárias das religiões, ou das ideologias políticas, têm aí a sua base de recrutamento.
Julgo que as condições para o crescimento do niilismo e do fundamentalismo residem mais na sociedade do que nos indivíduos. Verifica-se que os jovens que aderem a organizações terroristas são pessoas idealistas, transviadas e manipuladas. Pois a procura de ideal, a entrega a uma causa elevada, deveria ser factor para elevação desses jovens e não de serem utilizados como «peões», em violências terroristas.
O factor primário reside na ausência de referências, de valores, que se notam nos seus microambientes de estrutura familiar, comunitária, de trabalho; na malha social, em geral.
A sociedade atomizada, onde a norma é essencialmente hedónica e egoísta, onde predomina o darwinismo social mais primário como ideologia, não pode esperar ter outros «filhos e filhas».

A lei do lucro e do poder é uma lei de morte, que se opõe à lei do amor e da vida. Esta ideologia difusa, que dita os comportamentos de uns e de outros, é a produtora do terrorismo; precisa do terrorismo como pseudo-justificação das suas derivas autoritárias, securitárias. 
Desmascarar a origem do terrorismo como instrumento de todas as derivas autoritárias, quer sejam oriundas dos Estados ou de grupos autoritários que disputam a hegemonia aos Estados, parece-me ser o principal e fundamental ponto de partida da luta pacifista, não-autoritária.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

NATAL… NÃO É AQUILO QUE PENSAS

O Natal é celebrado nos diversos recantos do mundo, não apenas nos sítios em que existe devoção cristã e prática assídua dos ritos, como em muitos outros sítios, por muitas pessoas que não estão a pensar no nascimento do Menino Jesus, ao comemorarem o Natal.
O Natal paganizou-se ao longo do século XX, perdendo o cariz estrito de festa religiosa, nos nossos países ditos cristãos, na exata medida em que eles mesmos se paganizavam.
A nova «religião» do consumismo ia progredindo, à medida que eles se tornavam países mais ou menos afluentes ou onde os elementos mais afluentes da sociedade exibiam o seu poder de compra, a sua alegria de consumir, comprando prendas, fazendo festas e cometendo excessos de comida e bebida. Não creio que estivessem conscientes de que reproduziam, embora com adaptações, a festa pagã do «Sol Invictus», que era celebrada na Roma antiga e no Império Romano: Este culto solar era universal, de uma forma ou outra era celebrado em todas as grandes religiões pagãs da antiguidade... Esta festa, em Roma, estava associada às Saturnalia, em honra do patrono da Cidade e era pretexto para excessos de toda a ordem.  
O Deus Sol, segundo os primeiros cristãos seria uma antevisão confusa do Messias. O símbolo do solstício de Inverno, propiciador de ritos em adoração ao Deus, foi assim subvertido completamente pelos teólogos para que o povo recém-cristianizado deixasse de celebrar as Saturnalia e adorasse o nascimento da Luz do Mundo, de Cristo Redentor. 
Nestas épocas, em que as pessoas comuns tinham uma vida curta e bastante dura, em que a tradição oral era poderosa, tal conversão de símbolos foi eficaz. Também o foram a cristianização de símbolos de fertilidade pagãos (os ovos, os coelhos de Páscoa), por ocasião da Páscoa. Embora, neste caso, a tradição da Páscoa judaica impôs-se naturalmente na religião recém-constituída, tendo sido associada à Paixão e Ressurreição de Cristo.

O que os poderes civis e religiosos sempre fizeram e continuam fazendo é estabelecer e perpetuar uma série de comemorações, de feriados e de rituais, que têm como efeito imediato marcar o tempo vivido, o tempo subjetivo das sociedades em geral, mas também de todos os indivíduos, seja qual for o seu credo religioso. Também num país muçulmano os feriados marcarão o calendário e os não seguidores desta religião terão de se conformar com tais ocasiões, mesmo que não partilhem esses significados simbólicos.

Nos países de capitalismo de Estado, quer na defunta URSS e satélites do Leste, quer na China e outros, houve campanhas oficiais para abolir a religião, sobretudo no período do estalinismo, mas essas campanhas não tiveram o resultado esperado: o povo permaneceu, em segredo, profundamente religioso.

Podemos ver que, em geral, a repressão da religião traz sempre um reforço da mesma, fanatismo gera fanatismo, intolerância gera intolerância, é assim que se originam as divisões no seio dos povos, que se originam conflitos com base religiosa.

No Islão, conflito entre sunitas e xiitas - sempre latente desde o grande cisma – estava adormecido e foi reavivado na sequência das invasões ocidentais do Iraque e dos outros países do Médio Oriente. Aí, os EUA e vassalos da NATO (países ditos «cristãos», com excepção da Turquia) têm tentado impor a sua «democracia» a ferro e fogo.
Embora as circunstâncias sejam diferentes, vemos que existem analogias mais do que superficiais com as guerras de religião que assolaram a Europa dos séculos XVI e XVII.
Tanto os países de religião oficial católica como protestante, tinham uma política de total intolerância e discriminação dos cidadãos do próprio país que tivessem o credo minoritário. Perseguiam e suprimiam com enorme crueldade toda a dissidência religiosa. Iniciavam guerras religiosas que devastavam grande parte dos países, comparáveis às guerras contemporâneas. As alianças entre chefes de Estado seguiam, no geral, a linha divisória Católicos/Protestantes. 
Muito do comportamento político-religioso dessa época reproduz-se agora, no mundo de hoje.

O conceito de laicidade, que o filósofo Espinoza defendeu no seu «Tratado Teológico Político», foi uma resposta inteligente da elite intelectual da época, retomada pelas sociedades e por fim pelos próprios Estados a esta vaga de intolerância destruidora do tecido social, económico e das relações internacionais.

A laicidade não significa que as diversas religiões estejam «em pé de igualdade». No sentido inicial que lhe deram Espinoza e outros filósofos políticos era antes a neutralidade estatal perante a religião: O Estado não se imiscuía nos assuntos religiosos, as leis não refletiam as escolhas pessoais dos monarcas por esta ou aquela religião.
Em caso algum, se tinha o objetivo de colocar no mesmo pé, dar igual oportunidade nos media do Estado, às diversas confissões religiosas, ou ter aulas de religião nos estabelecimentos de ensino do Estado, ministradas pelas diversas religiões.
Essa interpretação da laicidade é realmente muito falsa, pois significa realmente a perpetuação da «mão do poder estatal» nos assuntos religiosos.
Penso que é muito importante, compreender que a paz civil, a concórdia entre pessoas com credo religioso diverso ou sem religião, é um valor positivo muito importante agora, não apenas no século XVII e aqui também, na Europa, não apenas no Médio Oriente.
Especialmente, quando as fanatizações político-religiosas de diversos elementos conduzem a intensificar os ataques terroristas, dirigidos indiscriminadamente a pacíficos cidadãos.
A ideia de que se deve dar uma tribuna às diversas religiões, nos meios de comunicação públicos estatais é mortífera. Bem entendido, considero essencial para o exercício da liberdade de imprensa e de opinião, que toda e qualquer corrente religiosa tenha o direito de produzir e difundir sua propaganda, como entender. Mas que o faça com seus meios próprios, não com os meios do Estado. Não considero lícito que o Estado censure e persiga judicialmente alguém ou uma entidade, apenas por fazer ataques contra a religião A ou B. 
Defendo que é ao nível da sociedade civil, na opinião pública,  que tais comportamentos devam ser energicamente combatidos pelas pessoas esclarecidas da sociedade, cientes do risco dos elementos fanáticos tomarem a dianteira da cena e desencadearem vagas de intolerância.

A não-ingerência do Estado nos assuntos religiosos tem um efeito benéfico na liberdade religiosa, em geral. Esta noção deveria ser compreendida pelos hierarcas das diversas religiões, minoritárias ou maioritárias. 
Nos países de tradição cristã, países que hoje se declaram «laicos», as hierarquias católica, ortodoxa, anglicana ou luterana estão muito imiscuídas em assuntos de Estado, embora em graus diversos, quando são maioritárias.
Argumenta-se em defesa deste estado de coisas com a tradição. Mas a tradição não pode ter maior importância do que a paz civil.

- Haverá algo pior do que uma guerra civil?

- Resposta: Não, nada pior ...a não ser uma guerra civil de religião.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

ALIENAÇÃO, NECESSIDADE DE REVISITAR O CONCEITO

Nos dias de um Freudo-Marxismo omnipresente no discurso dos «opinadores», algumas décadas atrás, falava-se de alienação, sobretudo para citar o desapossamento do operário em relação ao produto do seu trabalho e ao seu próprio trabalho. Em simultâneo, usava-se o termo para menosprezar os que se entretinham com «futilidades» e não se dedicavam à «luta revolucionária»; neste caso, o uso da palavra alienação era para verberar as pessoas que se satisfaziam com o que a sociedade de consumo lhes podia fornecer, alienando-se no consumismo, na ausência de consciência social. Essas formas de usar o termo, ambas carregadas de ideologia, foram tornando a palavra «antiquada» e logo a riqueza polissémica do conceito de alienação deixou de ser percebida. 
Porém, no momento presente, vale a pena que nos debrucemos melhor sobre este conceito. Com efeito, «alien», significa etimologicamente «estrangeiro», só depois veio a significar um louco: assim, um doente mental está alienado na medida em que perdeu a consciência dos seus próprios atos e do seu entorno. Não compreende já, minimamente, como se encontra inserido no ambiente natural e social, já não conseguindo adequar o seu comportamento a uma realidade exterior. 
Mas o mesmo termo pode ser usado e também significa que um indivíduo perdeu ou que nunca teve os direitos de «cidadão», pois o «estrangeiro» é, por definição, aquele que não possui cidadania. 
O estado de não participação na coisa pública em que a maior parte das pessoas se confina, mesmo as que ainda «se interessam por política», faz delas alienadas, num determinado sentido. 
Elas são alienadas no sentido de serem jogetes nesta economia de mercado, condicionadas a consumir, a produzir para consumir, consumir para terem a ilusão de viver, de serem «alguém». 
As pessoas consomem bens, mas também consomem «ideias» ou slogans, formas abastardadas e ultra-simplificadas de uma determinada teoria. 
Elas julgam conhecer os filósofos ou pensadores, quando apenas leram (superficialmente) algumas citações dos mesmos. Elas nem sequer lêem: têm a TV, a Internet, o Twitter, etc. para se informarem e comunicarem. 
Assim, a alienação tem progredido: basta estar-se atento ao facto das pessoas se julgarem cada uma delas o centro do mundo e atuando como tal.  
Não posso, neste breve artigo, analisar em profundicade as raízes e ramificações desta alienação. Evidentemente, um fenómeno complexo terá muitas causas, que se interpenetram, não haverá nunca uma explicação linear, que possa minimamente satisfazer. Em sociologia e em psicologia social, entre muitos conceitos que podem ajudar-nos, vale a pena recordar o conceito de alienação, contextualizando-o, usando-o com rigor. 
O conceito, assim renovado, permitirá compreender como as multidões são tão facilmente usáveis, manipuláveis pelos media, como é que estes conseguem desencadear o medo, sobretudo,  como forma de manipulação dos sentimentos das multidões, deixando de lado quaisquer laivos de verosimilhança, de rigor informativo. 
Com efeito, um espírito livre verá facilmente os truques de propaganda, disfarçados de informação, usados pelos media corporativos. Porém, essa manipulação, tão visivel, tão fácil de desmontar, tem capacidade de influenciar e mesmo moldar o comportamento de pessoas. Como é que muitas pessoas, mesmo as que têm um nível de instrução elevado, se deixam enredar num universo ficcional, que reproduz os estereótipos da propaganda disfarçada de «informação»? 
- Penso que nós estamos a viver o início de uma nova era de totalitarismo: existem demasiadas coisas que se parecem com os inícios dos Estados totalitários do século XX, das tomadas de poder quer de Estaline, quer de Hilter, assim como de outros poderes totalitários. Os regimes totalitários que então se instalaram, não se afirmaram de início como uma enorme chapa de chumbo por cima do povo que os aclamou. 
Eles foram conquistando todos os mecanismos de controlo da sociedade e não apenas do Estado, efetuando um trabalho de propaganda massiça, sem quaisquer contrapontos, pois estes foram impiedosamente esmagados, mas em segredo. Assim, a generalidade dos indivíduos não tinha a mínima noção da brutalidade exercida contra as dissidências, nem sabia a escala da supressão dessas dissidências. 
Agora, o «totalitarismo soft» não necessita da supressão física das dissiências. As poderosas cadeias de média, autênticas máquinas de propaganda ao serviço dos poderes apenas se limitam a «ignorar» algo. 
Podem «ignorar» um movimento, uma corrente, até ao momento em que esta realidade se torne demasiado incómoda. Assim, muitas pessoas caem na armadilha mediática e fazem coisas somente para atrair a atenção dos media... que lhes dão uns instantes da sua programação, para logo se dedicarem a encher os écrans com futilidades, mediocridades, desporto-espectáculo, etc. com aquilo que o «grande público» gosta...
Hoje em dia, a barbárie é chamada pelos próprios «defensores dos direitos humanos», que não se importam que «sua» candidata (por ser mulher?) possa afirmar-se como campeã do feminismo e simultaneamente, receber os milhões e fazer os favores correspondentes à Arábia Saudita, o reino mais misógino e brutal que existe à face da Terra! 
Existe muito boa gente muito preocupada com os refugiados das guerras do Médio-Oriente. Claro, estes refugiados devem ser tratados com todo o carinho que merecem, mas porque razão é que as pessoas não dirigem simultaneamente a sua firme desaprovação perante as pessoas e os poderes - os dirigentes duma NATO com intervenções militares criminosas - primeiramente responsáveis pela destruição de suas vidas, de seus haveres e de seus países inteiros? Como é isto possível sem uma operação muito bem concertada de lavagem ao cérebro? Como é isto possível sem que as pessoas se apercebam da óbvia incongruência? 
O conceito de alienação -na sua polissemia - parece-me adequado para analisar a sociedade de hoje: as pessoas estão «alheadas», «alienadas» da sua cidadania, estão «ignorantes» ou «alienadas» da realidade social, apenas concentradas num círculo imediato de «interesses», nas suas «micro-redes sociais» que apenas reforçam recíprocamente os seus preconceitos. 
Materialmente, também estão - sem dúvida - «alienadas», quando usam compulsivamente a parafrenália informática em todo o lado... o telemóvel, a tablet, o desktop... etc. 
Mas não usam, de forma nenhuma, ou só de forma muito deficiente, o seu «PC interno», ou seja, o cérebro, que poderia analisar e processar corretamente informação, se elas tivessem o cuidado de o utilizar de forma apropriada!!
Penso que, apesar de tudo e no longo prazo, haverá sempre pessoas capazes de usar de forma criativa os instrumentos da revolução digital. Nós vemos exemplo disso - felizmente - em muitos campos. 
Infelizmente, porém, em face de meia-dúzia de pessoas realmente criativas, que o seriam também na ausência da revolução digital,  vemos imensas que se deixam alienar e dominar pelos poderes: essa assimetria é assustadora. 
Não temos uma cidadania mais esclarecida porque melhor informada. Temos exatamente o contrário daquilo que foi esperado, com optimismo, nos anos 70 do século passado, pelos que olhavam  para a revolução da informática, então nascente.
Não tenho receita ou remédio para oferecer perante estes novos fenómenos de alienação e suas diversas vertentes, mas creio que a consciência de que existe um problema é um primeiro passo. Depois, caberá a cada um, em diálogo com os seus semelhantes,  encontrar a resposta adequada, na vida pessoal e social.