A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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segunda-feira, 21 de março de 2022

PREVISÕES ECONÓMICAS PARA O FUTURO PRÓXIMO

   



Com o cenário de crise internacional agravado pelo conflito militar Rússia-Ucrânia, as sanções têm sido o instrumento de guerra económica escolhido pelos ocidentais para punir a Rússia. Estas sanções têm a ver com aspetos financeiros e aspetos económico/comerciais.

VERTENTE FINANCEIRA

No aspeto financeiro, sobressaiem a expulsão de muitos bancos russos do sistema de pagamentos internacionais SWIFT, e o congelar das contas em divisas e do ouro, do banco central russo, que estavam -em parte - depositados em bancos dos países ocidentais.  

Quanto ao SWIFT, os russos estavam preparados para isso, desde há bastante tempo, tendo construído a sua alternativa interna de pagamentos interbancários, «MIR». Também muito antes desta crise, já havia em muitos bancos russos a conexão com o sistema chinês UNIONPAY que fornece serviço equivalente ao MASTERCARD e outros cartões de crédito ocidentais. Já havia muitos cidadãos russos que usavam este cartão de crédito chinês. De agora em diante, serão oferecidos sistematicamente aos clientes dos bancos russos cartões de crédito com ligação ao Unionpay. 

Graças às medidas tomadas pelo governo e pela banca, não houve nenhuma corrida aos depósitos, por parte do público. Houve até um ligeiro aumento dos depósitos. Como é que conseguiram isso? 

- Primeiro, deixou de haver possibilidade de levantamento em divisas estrangeiras, o que tinha sido possível até há bem pouco tempo. Muitos russos acumularam dólares e outras divisas ocidentais. Mas agora, devido aos controlos de capitais é difícil, senão impossível exportar divisas para fora da Rússia. 

As divisas estrangeiras são agora meio exclusivo de compra de ouro, prata, platina e palladium, que os bancos comerciais começaram agora a comercializar. Com esta decisão original, o governo russo evita fuga de divisas estrangeiras, a sua acumulação em mãos privadas e, simultaneamente está a favorecer os cidadãos. Os metais preciosos têm vindo a valorizar-se muito. 

Com todas as medidas de emergência tomadas, o rublo não sofreu o colapso que os falcões dos EUA/NATO esperavam. 

O roubo (não há outra maneira de chamar isto) ocidental das reservas do banco central russo (incluindo o ouro) que se encontravam no estrangeiro, foi algo inesperado e inédito para a Rússia. Lembro que, em períodos de grande tensão internacional, no passado, continuou a haver uma certa «imunidade diplomática» dos bancos centrais, mesmo entre países beligerantes. Esta ação criminosa poderá representar uma perda importante (30-40%) das reservas russas no estrangeiro.

 Mas, tem um efeito de longo prazo grave, pois afeta a confiança que países terceiros - países neutrais ou pró-russos, incluindo a Índia, a China, etc - poderão ter (ou deixar de ter) nas instituições bancárias do Ocidente. Os países não ocidentais registaram esta medida. Aliás, ela segue-se a «tomadas de posse» de ativos do Irão, da Venezuela, e recentemente, do Afeganistão. 

A confiança nas instituições ocidentais está definitivamente abalada. Nenhum país está ao abrigo duma tomada de ativos pelos ocidentais, se esses ativos não estiverem, estritamente, depositados nos bancos centrais respetivos. Note-se, esses ativos não são pertença de governos ou órgãos políticos: As reservas dos bancos centrais pertencem aos povos, às nações. Isto vai acelerar a desdolarização.


VERTENTE ECONÓMICA

No plano económico, o fluxo do gás russo mantém-se porque existe uma vontade política clara dos russos, de não dar pretexto a que considerem que há uma falta contratual, da parte deles. Isto vai ao ponto de - apesar do boicote e dificuldade de movimentação financeira - os russos, através de um banco americano, terem pago no passado dia 18 de Março, os juros de obrigações de Estado russas, perante a surpresa dos observadores financeiros no Ocidente. Todos pensavam que a Rússia iria fazer «default».

Gás e Combustíveis

No entanto, os contratos de fornecimento de gás e de petróleo irão caducar, alguns deles já no final de 2022. Não serão, com certeza, renovados. A quebra não é pequena, entre a Europa ocidental e a Rússia. 

Para a Europa (UE), não haverá realmente um fornecimento alternativo de gás natural. A hipótese de navios-tanques de gás liquefeito dos EUA virem abastecer a Europa pode ser excluída. É inviável, no curto prazo. Isto, porque o número de navios com estas características é muito pequeno e estão fretados para outros clientes, noutras partes do Globo. No total, o número de navios-tanque disponíveis para fornecer no imediato o mercado europeu é claramente insuficiente para as necessidades. 

Será que a Europa vai continuar a apostar num «unicórnio»? Será que julgam que as energias «renováveis» são a grande salvação? Atualmente, abastecem, uns poucos por cento das necessidades energéticas totais da Europa. Irão as energias solar e eólica sustituir (num ano? por magia?) a energia do gás natural? Dizem que as reservas atuais de gás natural não se extendem para além de Junho deste ano. Para lá disso, é a incerteza total. Poderão reabrir centrais nucleares ou centrais a carvão. Mesmo isso, não será instantâneo. Reabrir centrais a carvão, bastante poluidoras, será um recuo das políticas ditas de «descarbonização», levadas a cabo por todos os governos europeus.  Reabrir as centrais nucleares será sempre um risco, pois muitas delas estavam próximas do termo do seu «tempo de vida»... Poderá custar o governo ao chanceler Scholz na Alemanha e fazer cair governos doutros países. 

Matérias-primas industriais

Quanto a matérias-primas industriais diversas, nomeadamente os metais industriais em que a Rússia é líder, ou detém grande fatia das exportações globais, pode-se esperar um efeito ainda mais grave. Enquanto a substituição de uma fonte energética por outra, é possível, como fonte de produção de energia elétrica, já o mesmo não se passa ao nível dos metais. O Titânio, por exemplo, não pode ser substituído, nem o Níquel, nem as chamadas «terras raras». As produções industriais vão ficar muito mais caras: Os ocidentais terão de obter em sítios «exóticos» esses mesmos metais, cujo preço já disparou e ainda vai subir muito mais. 

Reorientação das exportações russas

Note-se que a China não irá ficar carente, nem de combustível russo, nem de metais, ou de outras matérias-primas. Ela terá capacidade de absorver grande parte das exportações, que agora são embargadas pelo Ocidente. A China poderá fornecer uma parte dos produtos industriais que a Rússia comprava aos países ocidentais, substituindo-se assim como um parceiro fiável e com estreitos laços de amizade. 

Cereais de exportação

O mesmo se passa em relação aos produtos agrícolas. Os russos, com os bielorussos asseguravam - antes da invasão da Ucrânia - cerca de um terço do trigo colocado no mercado mundial. A Ucrânia, que era outro país com excedente em cereais, terá de os importar, neste ano. Mas a Rússia continuará a fornecer os países não-ocidentais em trigo e outros cereais. Os europeus ocidentais, pelo contrário, não apenas não poderão comprar cereais, como não terão adubos em quantidade suficiente, pois muitos vêm da Rússia.


Situação da Europa

No Ocidente, em particular na Europa, a inflação disparou quando os bancos centrais começaram a emitir divisas (dollar, euro, pound...) sem parar, com o pretexto do COVID, mas realmente devido à incapacidade dos vários países conseguirem controlar suas dívidas soberanas (a dívida soberana da França, por exemplo, é já maior que a da Grécia). As tensões no abastecimento e as ruturas nas cadeias logísticas que se registam neste ano e no ano passado, antecederam a guerra russo-ucraniana. Agora, com o aumento do preço dos combustíveis, a escassez de matérias-primas, a dificuldade em obter materiais estratégicos, somam-se à deficiência industrial, herdada dos últimos 30 anos de deslocalizações (um «benefício» do neo-liberalismo globalista). A Europa ocidental vai pagar o preço económico mais pesado, devido ao estado de guerra total. Além de estar junto do palco da guerra localizada, com o seu cortejo de mortes, destruição e refugiados, vai ficar cortada de fontes de abastecimento em energia e matérias-primas. É possível que não consiga obter quantidade suficiente para suprir as necessidades básicas quer da população, quer da sua indústria. 

Situação previsível para os não diretamente implicados

1) Os EUA incitaram a que a NATO tomasse uma posição intransigente, para provocar a decisão russa. Lembro que Putin vinha avisando que havia «linhas vermelhas» a não ultrapassar, e isto, desde a célebre conferência sobre Segurança de Munique de 2007. Repetiu o aviso muitas vezes, desde então. Mas não foi tomado a sério. Nesta guerra, quem tem os custos principais - do lado ocidental - são justamente os Estados europeus da NATO. Os EUA têm a vantagem estratégica de criarem uma rutura profunda entre a Rússia e o ocidente europeu, o que significa, para eles EUA, manter e reforçar a situação de dependência dos seus parceiros (vassalos) da NATO.

2) Os europeus não ganham nada com a situação, pois terão que sofrer o «ricochete» das sanções, que irá dizimar, ainda mais, a sua capacidade industrial. A Europa não está preparada para ser auto-suficiente; ela abriu-se demasiado à globalização capitalista, às importações provenientes da China e doutros países asiáticos, desde os produtos de «baixa gama» (confeções, por exemplo), aos produtos sofisticados (por exemplo, computadores, smartphones).

3) Os chineses, como já tinha apontado noutros artigos, são os grandes beneficiários da situação. Primeiro, porque se tornaram vitais para a economia da Rússia. Também, consolidam sua aliança estratégica com a Rússia. Conseguem garantir os fornecimentos através de contratos de importação de energia, de matérias-primas e de produtos agrícolas. Vão reforçar as suas exportações industriais para a Rússia. O mercado russo-chinês, vai ser «oleado» por um mecanismo comum de pagamento, já existente, a nota de crédito em Yuan. Esta obrigação comercial de curto prazo, é remível em ouro, na bolsa de metais de Xangai. O sistema em vigor servirá como modelo para as relações comerciais destes dois gigantes com outros países, na Ásia Central, em África e na América Latina.

Nota: Aqui, neste texto, não referi diretamente o aspeto militar-estratégico, nem outros. Sei que estão imbricados aos aspetos comerciais, económicos e financeiros. Mas, quis manter este artigo facilmente legível. Fica para outra ocasião, a análise militar e geoestratégica. 

PS1: Decreto de Putin estabelecendo que os Estados hostis deverão a partir de agora usar rublos para pagar o petróleo e o gás que compram à Rússia. Isto é uma mudança qualitativa. Veja AQUI.

PS2: Alex Christoforu explica o alcance do decreto de Putin, obrigando países «não amigos» terão de usar rublos, para comprar as exportações russas (gás, petróleo, metais, cereais, etc)

domingo, 6 de março de 2022

«MUNDOS SEPARADOS». O AUTORITARISMO, A GUERRA E A GEOPOLÍTICA

                  


Incessante tendência dos autoritários de todas as cores ideológicas em querer moldar o mundo exterior à IMAGEM DO SEU MUNDO INTERIOR, TEM CONSEQUÊNCIAS que estão de todos à vista. 

Comento o excelente artigo, de LIAM COSGROVE «The US Is Culpable in Today's Ukraine Crisis  - How the incessant neo-conservative urge to reshape foreign nations in the Western image has brought us to the brink of World War.»
Curiosamente, os herdeiros da ideologia liberal (quase toda a classe política dos países ditos do «ocidente») têm muito mais traços de autoritarismo, do que os que estiveram (caso dos russos), ou mesmo ainda estão (caso dos chineses), debaixo de regimes totalitários.
Mas, ao fim e ao cabo, como eu repetidas vezes avisei, o cisma entre o Ocidente e o Oriente, vai traduzir-se por dois mundos separados
Quando não se confrontarem com armas, quando não fizerem guerra por procuração («proxi-wars») farão pelo menos, guerra económica, política, ideológica, ou «de informação». A globalização «feliz» advogada por ambos, acabou. Agora, será a pseudo-globalização do calvário dos povos, com a forma simbólica de cruz: o eixo «vertical» - os atlantistas, contra o eixo «horizontal» - os euro-asiáticos.
Ver o meu artigo QUEM SÃO OS VENCEDORES DA TRANSFERÊNCIA DE RIQUEZA DO «GREAT RESET»?. Quanto aos vencidos, o resultado desta crise é o empobrecimento geral, mais cruel para os pobres, o reforço dos traços autoritários, o estreitamento da «janela de Overton» até ser praticamente indistinguível de um regime fascista, como foi Portugal, durante os 48 anos de Salazar e Caetano, um dos membros iniciais da NATO*. Talvez piores sejam estes regimes, que agora se estão a instalar em toda a Europa, na concha vazia das democracias liberais. Não só haverá uma profunda ruptura dentro da sociedade, como não haverá qualquer tolerância para pessoas com ideologias divergindo da ortodoxia imposta pela ditadura «democrática». O «fascismo Mc Donald» irá fazer com que estas pessoas sejam ostracizadas, perseguidas, não haverá «direitos humanos» para elas. Os dissidentes no Ocidente, estão já a ser pior tratados, nalguns casos, do que os da URSS, quando esta existia. É que a campanha continuada dos media corporativos, juntamente com a aprovação, em grande parte do público, das discriminações a pretexto de COVID e o infame passe vacinal, vieram mostrar que os governos ocidentais podiam avançar com este autoritarismo, deixando intacta a letra da lei, para a esvaziar do seu conteúdo, impondo novas realidades sociais e políticas, em seus respectivos países. Isto foi analizado por Hannah Arendt, há quase um século. Porém, os que se reclamam de esquerda, anti-fascistas, etc, estão completamente olvidados da análise que ela fez dos totalitarismos.
É que estes «esquerdistas» também são autoritários; são adoradores do Estado. Eram eles, que achavam que as medidas de «lockdown» e a imposição do passe vacinal, não apenas eram justificadas em nome da «saúde pública», como queriam mais energia e celeridade na sua implementação.
De facto, os liberais genuínos, os libertários, os anarquistas pacifistas e outros não-autoritários, já estão completamente excluídos do discurso público, que se tornou num discurso meramente do poder, com várias cambiantes, para dar ilusão de democracia. 
Não sei até onde a ausência de vergonha, a hipocisia e o puro sadismo poderão chegar, mas podemos ver o paralelo histórico da instalação das ditaduras totalitárias do passado onde, após o esmagamento da oposição (quer na Alemanha de Hitler, quer na URSS de Estaline), aumentou o nível de repressão feroz, indiscriminada e sem qualquer preocupação em guardar as aparência da legalidade. Nas ditaduras «vulgares», tais regimes, depois de terem triunfado, de terem consolidado a sua vitória, vão querer dar uma aparência de respeito pelos direitos humanos, de tolerância, etc. Mas, nos regimes totalitários, uma vez consolidado o poder, a repressão é intensificada, como nunca antes. Isto é um facto que se tem observado repetidas vezes, que os dissidentes de hoje terão de ter em conta. 
Esperemos que tal não aconteça, mas não sejamos ingénuos ao ponto de acreditar que a salvação esteja nos bandidos de um bando,  que eles se vão arriscar a derrubar os do outro bando, sobretudo quando estão a beneficiar do estatuto de «oposição» tolerada, construtiva, etc. dentro do regime!
No plano mundial, teremos uma polarização, do «império ocidental» sob a garra reforçada dos EUA, enquanto no «império oriental», a China dominará a Rússia. Isto será consequência da Rússia ter sido expulsa violentamente da esfera internacional e diabolizada pelos europeus.

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*Sim, a NATO aceitou no seu seio o regime fascista de Portugal, a tal estrutura atlântica destinada a defender as democracias contra o comunismo totalitário!

domingo, 19 de dezembro de 2021

ÚLTIMAS GUERRAS DO IMPÉRIO

Costuma-se dizer que os generais são competentes em emitir opiniões sobre como as forças armadas sob seu comando deveriam ter atuado na última guerra. Mas, incompetentes em relação à guerra seguinte, pois a vêem pelo prisma  da última guerra  passada. Evidentemente, isto aplica-se com particular acuidade ao Pentágono e ao seu chefe nominal, na Casa Branca.
Estranhamente, a «húbris», ou «embriaguez da vitória», não se dissipou nos estrategas de gabinete, apesar dos desaires contínuos destes últimos anos. Eles são somente peritos em pressionar para aumentos nas rubricas da «Defesa» dos orçamentos;  não  esperem que eles vejam com realismo o que vai pelo mundo. O orçamento de «Defesa» dos EUA, para o próximo ano, subiu mais uma vez, apesar deles terem uma guerra a menos que custear.
Todo o mundo olha - com um misto de receio e descrédito - a figura que faz o maior superpoder nuclear, com a maior concentração de armamento e capacidade destruidora que jamais existiu, ao comportar-se de forma totalmente irresponsável, não apenas na retirada vergonhosa do Afeganistão, como na cruel e contraproducente utilização de sanções, embargos e capturando os ativos financeiros e o ouro pertencentes ao Estado do Afeganistão. Esta punição coletiva afeta, não o governo dos Taliban, mas a população paupérrima, após duas décadas de ocupação, pelos EUA e NATO.
Não nos deve surpreender que estas coisas aconteçam com o Partido Democrata ao comando. Historicamente, ele tem sido mais belicoso que o partido republicano. Tem iniciado mais guerras, ou tem agravado as existentes, tem promovido golpes e feito alianças contranatura com regimes reacionários. Claro que o desempenho do Partido Republicano, ao longo da história, também não lhe fica longe. Na verdade, com ambos os partidos nas mãos dos grandes fabricantes de armas, dos contratistas mercenários, dos diversos fornecedores dos militares, e ainda da «sopa de letras», DIA, NSA, CIA, das 17 agências de «inteligência», não se pode esperar grande diferença, a este nível, entre os dois partidos que se alternam no poder.
É realmente insólito que um estado-maior duma nação poderosa, dispondo de todos os meios sofisticados para avaliar a situação, não se aperceba que tudo o que tem feito vai piorar a situação estratégica dos EUA e seus aliados.
Se a coordenação entre os outros dois superpoderes militares (a Rússia e a China) está cada vez mais aperfeiçoada, isso deve-se - em grande parte - às constantes provocações e ao desrespeito pelos compromissos assumidos pela NATO e pelos EUA, ao longo dos últimos decénios em relação a estas duas nações.
Por outro lado, a postura agressiva, o «bullying» contra governos e povos muito mais fracos, em vez de mostrar a força do Império, mostra a sua fraqueza. Eles deixaram-se enredar duas vezes em guerras de desgaste mas, nestas, o desgaste maior foi das forças americanas e seus aliados. O Iraque e o Afeganistão foram dois completos fiascos, no que respeita aos objetivos proclamados: A implantação de democracias de tipo ocidental e a consolidação da presença dos EUA e NATO nestas regiões. Quanto ao aspeto de catástrofe humana, eles pensam que, ao não contabilizarem os mortos resultantes das suas invasões e ocupações, se livram da etiqueta de genocidas. Talvez se livrem dela, junto de uma faixa do público americano, anestesiada pela propaganda. Nos restantes países, mesmo os vassalos dos EUA, a imagem das guerras imperiais dos últimos vinte anos é desastrosa. É impossível censurar e deturpar tudo, em todo o lado. Wikileaks e Julian Assange tiveram um papel de relevo. Esta, foi a razão de fundo da bárbara vingança anglo-americana, o «processo de extradição» sobre o jornalista e editor australiano.
Querem nos manter no medo, com relatos sobre os sofisticados armamentos russos e chineses. Compreendo que os russos e os chineses não desejem ser aniquilados militarmente, invadidos, subjugados, repartidos, etc. Recentemente, aconteceu isso na ex-Jugoslávia ou ainda na Líbia, país em guerra civil permanente, na miséria total e onde existem mercados de escravos. Era o país com maior nível de vida e maior índice de bem-estar humano, em África, antes de ser «libertado» pelas forças euro-americanas.
Na realidade, os falcões nostálgicos da Guerra Fria nº1 gostariam que a Rússia invadisse a Ucrânia, e/ou a China invadisse Taiwan. Como eles ficariam felizes se os russos e chineses fossem cometer esses erros!
Mas, na verdade, estes generais de secretária e peritos em geoestratégia com mentalidade do século passado, seguem o modelo ultrapassado de Mac Kinder, um geógrafo que teve muita influência e aconselhou o poderoso Império Britânico no auge do seu poderio.
É preciso serem imbecis completos para achar que ambos os seus rivais serão suscetíveis de cair em tais armadilhas. Sim, eles podem tentar ataques de «falsa bandeira», provocações. Mas, felizmente para TODAS as nações (incluindo EUA!), em face deles não têm dirigentes e equipas do poder completamente autoiludidas, fracas, corruptas, cheias de arrogância. Esse estado de espírito é o típico dos círculos neoconservadores americanos e da media ocidental que difunde a histeria anti- China e anti- Rússia. Tomam as próprias fraquezas e perversidades, como sendo as dos seus adversários. Estão a projetar sua mente patológica nos outros. Na verdade, estão a ver-se ao espelho!
Há pessoas que acham que ter uma posição coerente pela paz é igual a copiar a Rússia, ou a China. Mas essas pessoas estão iludidas. Não preciso de ter qualquer entusiasmo pelos regimes desses países. Seria absurdo eu pretender imitar a maneira como os meus vizinhos gerem as suas respetivas casas. Mas, não é nada absurdo querer manter relações cordiais com eles. Pelo contrário, que cada qual tenha o seu espaço próprio, o seu modo de viver e pensar. Cada um que viva, sem interferir com a vida do próximo. Não é isto uma atitude adequada? - Muito precisamente, o que Rússia e China querem que os EUA e seus aliados respeitem.


Não há dúvida; uma guerra longa e desgastante abateu-se sobre os nossos povos, outrora portadores dos valores de liberdade, do respeito pelos direitos, a igualdade de tratamento, a não-discriminação, tudo isto aplicado tanto na esfera pessoal, no interior das sociedades, como entre países, na esfera internacional.
Enquanto os povos do Ocidente não se livrarem dos grandes oligopólios e das classes políticas corruptas, vai continuar a pairar a ameaça de guerras, com nações e povos que não queiram submeter-se.
Mas, isto só acontece porque existe internamente uma guerra surda, contínua. Uma guerra das classes opressoras sobre seus povos respetivos. Como diz Warren Buffett: É a classe capitalista que está a ganhar, neste momento, essa guerra.
Embora não tenha ilusões sobre os «nossos» dirigentes, espero que os generais tenham bom senso. Que não precipitem uma guerra. Uma 3ª Guerra Mundial, além de desastrosa em si mesma, será, no mínimo, o precipitar definitivo dos orgulhosos ocidentais para uma nova idade das trevas, uma nova era obscura.
Talvez os povos acordem antes disso e percebam os perigos. Hoje em dia, uma guerra nuclear pode ser desencadeada, sem haver real vontade política, por acidente.

PS1: Através da perseguição e desrespeito continuado e deliberado dos direitos fundamentais de Julian Assange querem intimidar todas as pessoas, jornalistas ou outros, que sejam testemunhas e queiram denunciar os crimes do Império. 
Veja Nils Melzer, sobre a tortura feita a Julian:

PS2: A «Húbris» dos que ditam, por trás da ribalta, o comportamento dos políticos, não tem limites: Estão decididos a provocar uma guerra com a Rússia, utilizando provocações das forças nazis ucranianas, em relação às duas repúblicas separatistas do Don. Esperam assim atrair a Rússia para outro lodaçal, semelhante ao do Afeganistão: 

quinta-feira, 27 de maio de 2021

NO IMPÉRIO DECADENTE, NEM SEQUER RESTA A LIBERDADE DE PALAVRA

 Escrevo estas reflexões perante a notícia seguinte:



A espionagem em massa foi decretada ilegal pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, dando razão a Snowden e mostrando que o GCHQ (do Reino Unido) não tinha legitimidade para o que tem estado a fazer.

Isto pode parecer um passo importante para o reconhecimento concreto da liberdade de expressão. 
Mas as plataformas - sob o pretexto de serem «privadas» - continuarão a censurar, em nome do Estado, todas as opiniões que acham possam ser lesivas da posição estatal. Em particular, todas as críticas - mesmo as mais cientificamente fundamentadas - às campanhas de vacinação do COVID, são sistematicamente eliminadas pelo FACEBOOK, YOUTUBE, etc. ,sob pretexto de não estarem «de acordo com a ortodoxia» da OMS. Mas a própria OMS tem vindo a  corrigir suas atitudes e declarações. Ao fim e ao cabo, os novos censores, os «fact-checkers», são quem decide se tal ou tal posição é «aceitável ou não».


Speakers corner, no Hyde Park de Londres: onde qualquer pessoa pode discursar, sem censura e ser ouvida por quem se dispuser a isso. 

O «speakers corner» ainda existe, mas desapareceu a liberdade de palavra no mundo mais vasto das plataformas da internet, que podiam ser o instrumento de diálogo não censurado. Elas transformaram-se em instrumentos de propaganda e condicionamento das opiniões públicas. 
Quem está por detrás dessa transformação, são as mega corporações (Amazon, Google, Facebook, Microsoft...) aliadas aos governos mais poderosos e suas agências de espionagem
Foram, aliás, estas corporações as claras ganhadoras dos lockdowns e da conversão das economias e sociedades ocidentais em algo que seria apreciado pelos regimes «comunistas» da URSS, Alemanha de Leste, etc. e dos respetivos aparelhos de repressão e vigilância.
 Para mim, não existe diferença real entre a censura hipócrita que fazem no «Ocidente» e a do governo (totalitário) chinês: este, em permanência, vigia e censura nas plataformas chinesas equivalentes ao Facebook, Twitter, etc....
O que é mais nítido é que o Ocidente faz um trabalho de gestão da imagem, uma permanente e subtil lavagem ao cérebro, onde a propaganda é apresentada como se fosse neutral, onde as campanhas de desinformação são constantes e constantemente reforçadas. Os media ocidentais tornaram-se nos cavalos de batalha da  luta pelo controlo da perceção dos cidadãos, num modo não muito diferente do que foi antecipado por Orwell. 

Quem se emancipar desta «matrix», pode enfrentar as situações mais diversas, do presente e do futuro, com maior calma e serenidade. 
É uma enorme vantagem perceber, antecipadamente, quais são os objetivos e meios dos poderosos. É como antever 4 ou 5 jogadas, num jogo de xadrez. 

Refletir em como escapar da «Matrix» é ponto de partida da emancipação, individual e coletiva : 

domingo, 28 de março de 2021

UM MUNDO FRÁGIL -POR NÓS FRAGILIZADO

 

Sabemos que o nosso mundo é intrínseca e irremediavelmente frágil. Sobretudo, fragilizado pela estupidez humana. 

Não bastava a estupidez dos políticos que nos arrastaram para uma nova crise sanitária, ainda maior que a perigosidade do vírus SARS-Cov-2 original. 

Com efeito, os «lockdowns» repetidos (e não «o COVID»!) estão a arrastar o mundo inteiro para uma depressão profundíssima, com consequências humanas terríveis. 

Além disso, os «lockdowns» funcionaram como processo de selecção de novas estirpes, que escapam assim à imunidade natural das populações, ou à imunidade artificial, induzida pelas vacinas. 

Aliás, as vacinas deixaram de ser eficazes, incapazes de travar os variantes, cuja propagação é facilitada pela não-construção duma imunidade de grupo, nas populações (entrevista aqui, do Prof Wittkovski).

Como uma crise nunca vem só, temos agora um navio de mercadorias a bloquear - há vários dias *- o Canal de Suez, por onde passam mercadorias e, sobretudo, o petróleo para a Europa.

         

Foto acima (tirada na estação internacional espacial), do navio encalhado no canal de Suez

Os circuitos de comércio, mesmo sem guerra nenhuma, mesmo sem sabotagem, podem ser gravemente perturbados. 

Os sistemas informáticos, sobre os quais se baseia a economia mundial, são igualmente ou ainda mais, frágeis. Nem é preciso «hackers»; pensemos que os sistemas informáticos podem ser seriamente danificados por uma tempestade electromagnética ou outro acontecimento natural. Isso significaria, não apenas a paragem de toda a vida económica (banca, bolsas, negócios, comércio), como também de estruturas hospitalares, de segurança, do controlo aéreo, etc... 

Mas há pior: Agora, os falcões estão ao comando. Os dirigentes dos EUA, Reino Unido e de outros países, súbditos do império Anglo-americano, fazem uma política belicista, hostilizando a China, a Rússia e o Irão. Querem provocar a guerra, segundo a ideia idiota e criminosa de que a poderão ganhar. 

A guerra mundial híbrida, já está em curso, pelo menos desde 2014, onde vale tudo, menos (... por enquanto) a utilização das armas nucleares. Ela tem causado imensas perdas humanas e materiais. Os próprios dirigentes «ocidentais» (inclui também Austrália e Nova Zelândia...), estão apostados em criar e manter a tensão permanente, um confronto, uma Guerra Fria Nº2

Mas os povos, de um lado e doutro da nova «cortina de ferro», só têm a perder. Enquanto não puserem em causa as suas oligarquias, estas vão causar mais e mais danos, mais e mais miséria, mais e mais crise económica. Tudo isto pode acabar em guerra generalizada. 

Não preciso ser profeta, basta ver a sucessão de catástrofes:

- Umas, ditas «naturais», mas proporcionadas pelo desrespeito das leis da Natureza. 

- Outras, claramente causadas pelos humanos, em especial pela gula dos que dominam o sistema económico. Por mais que falem das crises dos mercados, como se fossem resultantes de forças da Natureza. 

Se as pessoas acordarem e disserem «NÃO!», talvez se consiga evitar uma catástrofe bem pior que a crise dita «do COVID». 

Mas, duvido que exista, de momento, plena consciência da gravidade da situação. Infelizmente, noto um alheamento, um sentimento de impotência, de fatalismo. Isso é estímulo para os poderosos continuarem as suas actividades criminosas.

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* Demorou 6 dias o desencalhar do navio, no Canal de Suez: https://sputniknews.com/world/202103291082477070-giant-cargo-ship-ever-given-reportedly-refloated-in-suez-canal/


sábado, 27 de fevereiro de 2021

PARA ALÉM DO COLAPSO, A MUDANÇA TECTÓNICA

                              


         Desde o momento em que o sistema financeiro e económico entrou em roda livre, o colapso perfilava-se no horizonte.

Creio que, agora mesmo, estamos a vê-lo acontecer; ao dizer isto, eu não creio estar a ser um «profeta do Apocalipse».

Na minha vida, porém, já assisti A VÁRIAS MUDANÇAS DE PARADIGMAS e não das menores: 

- O abandono do sistema de Bretton Woods, com a retirada por Nixon, em 1971, da convertibilidade do dólar em ouro. 

- A introdução do petro-dólar, em 1973, negociada por Kissinger com o rei da Arábia Saudita e vigente até aos dias de hoje.

- A financeirização da economia nos países capitalistas afluentes, convertendo-os em economias de serviços, materialmente dependentes de países asiáticos (China, Indonésia, Paquistão, Vietname, Coreia do Sul, etc...) cujas economias se industrializaram e se tornaram grandes exportadoras.

- O colapso final e a desagregação da União Soviética e das suas repúblicas; seguida pela tentativa dos «conselheiros», provenientes de Wall Street, em colocar sob tutela o imenso território Euroasiático. 

- A ascensão e a consolidação de Putin e a restauração do poderio económico e militar da Rússia.

- O imenso sucesso da China com a adopção do capitalismo mais dinâmico de todo o planeta, embora conservando o férreo controlo do PCCh.

- O colapso do sistema financeiro baseado na dívida, em 2008, sendo as falências de Lehmann Brothers e de outros bancos, apenas epifenómenos. 

- O deitar pela borda fora das regras que balizavam a acção dos bancos centrais ocidentais, levando à criação monetária na origem da espiral inflacionista dos activos «em papel».

- A queda dos bancos centrais e governos ocidentais na sua própria armadilha, amarrados à política de insuflar as bolhas especulativas, para evitar um colapso imediato.

- Ao agirem assim, sacrificaram as moedas, ao ponto de estarem em risco de destruição, de perda total do seu valor. Porém, a sua substituição por uma moeda digital, emitida pelos bancos centrais, ou pelo FMI, não resolverá os problemas de fundo.

- Muito antes do «COVID», em Setembro de 2019, o sistema já dera sinais claros de disfunção terminal, com a FED a ter de intervir para sustentar o mercado «repo» (empréstimos inter-bancários, para superar limitações temporárias de liquidez).

- Enquanto a economia do Ocidente está de rastos, paralisada devido aos confinamentos/«lockdowns», a pretexto de e não causados verdadeiramente pela pandemia, assiste-se à predação do grande capital sobre o médio e pequeno capital. Os lucros dos grandes conglomerados aumentaram vertiginosamente: Ocupam os nichos de mercado deixados vazios por pequenas e médias empresas, que estão falidas.

-  O sistema mundial está a evoluir para um «duopólio»: o Bloco Atlântico e o Bloco Eurasiático. As consequências desta partição binária mundial são globais e de longo prazo. 

- Até o sistema mundial - com os aspectos geoestratégico, financeiro, produtivo, comercial - atingir novo equilíbrio, mesmo que somente meta-estável, o Mundo vai sofrer uma série de convulsões, crises e revoltas. Suas vítimas principais vão ser os povos: sobretudo, povos do Terceiro Mundo, os que menos têm; os que menos usufruíram da sociedade de consumo.

- Nos países afluentes - com o empobrecimento das classes médias - progridem as correntes fascizantes, capazes de tomar o poder eleitoralmente, ou - pelo menos - de exercer pressão sobre os partidos de direita e de centro «clássicos», que adoptam políticas xenófobas e muitos outros pontos do programa da extrema-direita, sem o reconhecerem abertamente.

- Apesar de tudo o que descrevi acima, o colapso em curso não deverá ser visto como um Apocalipse, o Dia do Juízo Final, a catástrofe global, o fim da civilização, ou da própria espécie humana. 

- Não! Todas estas mudanças são mais semelhantes a fenómenos geológicos: serão análogas aos movimentos tectónicos, com as configurações dos continentes a mudarem e em que novas oportunidades se abrem, ao mesmo tempo que se encerram episódios da História da Terra e das espécies.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A BOA CONSCIÊNCIA DO OCIDENTE E O REGIME DE APARTHEID SIONISTA

                        



Numa sociedade elitista e hipócrita, as chamadas esquerdas, elas próprias produtos político-culturais das metrópoles capitalistas - colonialistas - imperialistas, têm como modo de pensamento, as «certezas» (preconceitos) sobre o que seja «progressista», sobre como se devem regular as sociedades, como se deve avaliar o respeito pelos direitos humanos... Enfim, elas pensam que estão absolutamente certas, que têm «God on our side» (Deus do nosso lado). 
As forças anti-coloniais são negadas, são tidas como «terroristas», imbuídas de nacionalismo - algo «errado» para os internacionalistas de pacotilha - ou de «fundamentalismo» religioso, termo que não se aplica (sic!) às igrejas cristãs dos EUA e doutros lugares, que assumem a causa de Israel como sendo a delas!

Se o chamado Ocidente bem-pensante tem «tolerado» o crime continuado do colonialismo e do apartheid no Estado de Israel, isto não se deve a qualquer falha de lógica das suas «elites», especialmente as ditas de esquerda. Estas luminárias do pensamento «progressista» encontram pseudo-razões, pseudo-justificações, para os crimes continuados dos sionistas em Israel e nos territórios Palestinianos, nos crimes efectuados pelo regime nazi sobre as populações judias, do seu próprio país e dos países conquistados durante a IIª Guerra Mundial. Isto é realmente absurdo, mas funciona como um processo psicológico de inibir a análise objectiva. Trata-se, afinal, duma forma extrema de autoritarismo, o processo de «envergonhar» novos e inocentes indivíduos, por crimes praticados, talvez, por alguns dos seus avós ou bisavós, ou mais longínquos antepassados. Não existe nada mais contrário ao Direito e aos Direitos Humanos, do que «responsabilizar» alguém por crimes que não praticou.

Mas, na realidade, eles fazem-no, porque estão sob a influência do lobby sionista. Em vários países este lobby controla poderosos meios de comunicação social e detém uma influência muito grande junto de quase totalidade da classe política. 

Para prova disto, basta pensar-se na oferta incondicional, ano após ano, que os EUA fazem - votada no Congresso, junto com o orçamento - de ajuda bilionária ao Estado de Israel. Mais nenhum outro Estado do mundo recebe tal benesse anual. E quando algum Estado recebe ajuda, são quantias muito menores; nunca tais ajudas são renovadas automaticamente. O congresso dos EUA é  a câmara de eco dos interesses sionistas. 

Israel domina a política interior dos EUA: Nenhum candidato à presidência pode atingir sequer as «primárias», seja do Partido Democrático, seja do Partido Republicano, caso se suspeite que possa levantar objecções... a este apoio tão especial. A congressista Tulsi Gabbard foi afastada da corrida para nomeação à presidência pelo partido Democrático, apesar de ser ex-combatente no Iraque, somente porque teve a ousadia de visitar a Síria e falar com pessoas comuns, para saber directamente a sua opinião. 

No Reino Unido, o dirigente do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn foi traído e destituído, num golpe interno de membros sionistas (os «amigos» de Israel), porque ele não abdicava de defender a causa Palestiniana, de acordo com sua consciência, a dos seus apoiantes e seguindo as melhores tradições do movimento socialista e laboral. 

Muitos outros exemplos se poderiam referir.

O certo, é que as pessoas se deixam enredar na retórica dos direitos humanos, muito correcta em si mesma. Mas, o que falta, à grande maioria, é espírito crítico.

Se houvesse esse espírito, questionariam: Se se aplica aos Uigures, então porque não se tem o mesmo discurso, em relação aos Palestinianos? Se se aplica aos Venezuelanos, porque não se aplica aos Sauditas? etc, etc...

Tais «indignações» vesgas, são tão obviamente hipócritas que deveriam provocar o desprezo, a risota, desqualificando os políticos, jornalistas e intelectuais, que se revestem do manto de «defensores dos direitos humanos»...quando lhes convém. 

O que me deixa triste e céptico sobre a racionalidade de parte dos meus concidadãos, é que os piores oportunistas têm sucesso, conseguem vogar nas águas da política-espectáculo, são aplaudidos, apesar de terem esses tais comportamentos!  


sábado, 1 de agosto de 2020

Portugal: Colapso Anunciado e Oportunidade de Renovo

The Best European River Cruises for 2019 and 2020 | Jetsetter ...

A partir de agora, a situação económica começa a «apertar» no Ocidente (falo da Europa e América do Norte, principalmente). 
Mas, o Ocidente não é homogéneo do ponto de vista económico e da exposição a situações causadoras de extrema desorganização e do acentuar da pobreza. Existem clivagens muito grandes entre países como, por exemplo, o Norte e o Sul da União Europeia: 
- Com a Alemanha, a Áustria, a Holanda e a Escandinávia, contrastando em desafogo económico e capacidade de suavizar uma situação prolongada de crise, com um Sul, incluindo Grécia, Itália, Espanha e Portugal, todos eles em situação muito mais frágil perante a crise profunda, pois estão muito dependentes do turismo para sobreviverem e não possuem diversificação suficiente para aguentar o embate e o marasmo prolongado no sector, que era o seu principal «ganha-pão».

Mas, também estamos perante a crise interna dos Estados e regimes, visto que a inadequada e autoritária resposta à epidemia de Covid-19 (um problema sanitário real), veio desencadear reflexos de medo e uma contracção da vida nas suas vertentes sociais. 
Isto pode ser conveniente para a oligarquia que governa estes países, no curto prazo. Porém, vão servir-se do mesmo pretexto da pandemia e de mais que duvidosas «segundas e terceiras» ondas, para retomar o controlo de todas as alavancas do poder, sem contestação. O grau de corrupção, na política e nas sociedades em geral, nunca foi tão elevado, com os lançadores de alerta a serem completamente ignorados ou perseguidos e calados. A cidadania, semi-adormecida, está num ponto em que pode ser facilmente manipulada, pelos da maioria governamental, ou pelas oposições.
Mas tudo isto tem, como fenómeno subjacente, o colapso do modelo económico e financeiro que governou o Ocidente.

Este colapso é bem visível nos EUA, país emblemático deste capitalismo. A cidadania nos EUA está completamente fraccionada. Existe um total divórcio em relação a quaisquer valores, que poderiam ser identificadores comuns do povo dos EUA. A coesão existente, é em relação a factores de grupo, nos quais se contam «raça», «religião», «pertença social», «orientação sexual», etc, etc. Não existe futuro para um país assim: irremediavelmente dividido. Ainda é o mais poderoso, em termos militares e ainda detém o privilégio do dólar US ser a maior divisa de reserva ao nível mundial:
- Mas, no plano geo-estratégico está em situação de competição com 2 super-grandes (Rússia e China), que possuem armamento sofisticado e - mesmo - superior em domínios-chave, face a modelos mais antiquados, que equipam as forças armadas dos EUA e seus aliados da NATO. 
- E, no plano monetário, o dólar está sob grande pressão, com uma descida significativa em relação às moedas ocidentais concorrentes, nomeadamente, ao euro. Além disso, o dólar (e todas as divisas) estão constantemente a perder valor, em relação ao ouro e à prata
Isto significa claramente a fuga dos investidores mais lúcidos dos mercados das obrigações e das acções e outros activos financeiros em geral, que se expressam em moedas-papel, ou «fiat». 
Pelo contrário, existe um aumento de procura muito significativo, além dos metais preciosos, no imobiliário em vários países europeus. Tal se deve ao facto de muitas pessoas estarem a converter bens financeiros em bens imobiliários, estes menos sujeitos a volatilidade e, sobretudo, que poderão atravessar esta crise longa, conservando o seu valor, em termos reais, no final.

No meio da «grande reestruturação» («great reset»), na qual nos encontramos, as pessoas dominadas (sem o saberem) por uma media, inteiramente ao serviço dos poderosos, são susceptíveis de fazerem escolhas erradas. Tais erros e ilusões, induzidos pela media mentirosa, ainda irão agravar mais a sua fragilidade, em termos económicos. Muitas das que tinham algum bem-estar económico, irão perder tudo, tal como aconteceu em todas as crises anteriores.  
Mas, a perda de uns, é o ganho de outros. Haverá pessoas e entidades que irão enriquecer, que irão fazer negócios chorudos, capturando bens e negócios por «tuta e meia».
 Estes, estarão em força quando se der a retoma da economia produtiva. Uma vez que o pior da crise tiver passado, que um novo sistema monetário veja a luz do dia, esses capitalistas terão o terreno limpo para seus negócios avançarem nas melhores condições. 
Com efeito, a ausência de concorrência vai permitir situações de controlo ou monopólio do mercado, em sectores de actividade e largas regiões geográficas; isso vai multiplicar as possibilidades de lucro. 
No capitalismo monopolista, que é o do nosso tempo, os que planificam e executam as acções dos grandes grupos financeiros não são uns amadores. Eles próprios, têm formação e contam com apoio de especialistas, em todas as áreas necessárias, que garantem - não apenas os negócios correntes - mas também a prospectiva, a visão estratégica de longo prazo.

Sendo assim, nos tempos mais próximos, depois da onda de falências e de grande contracção da economia, fase que durará, pelo menos, até ao próximo Verão de 2021, vai verificar-se uma grande concentração e reestruturação em todos os sectores-chave:
- concentração da distribuição, estendendo as redes de pequenas lojas mas com «label» de um grande distribuidor. Destruição visível do comércio de proximidade, desaparecimento do pequeno comércio nas zonas habitacionais: a mercearia, a frutaria, a pequena loja de electro-domésticos, a papelaria-tabacaria, etc. 
- concentração da banca, com fusões e aquisições de pequenos bancos por gigantes. Mas também uma diminuição da rede de balcões e/ou a conversão de serviços para 100% on-line, o que fará com que o número de funcionários bancários em contacto directo  com o público diminua ainda mais. 
- A Inteligência Artificial e a robotização vão avançar em todos os domínios, desde a medicina, engenharia, arquitectura, etc.  até às tarefas pouco especializadas, como a colheita de frutas e legumes, até agora assegurada por uma mão-de-obra muito «barata», normalmente imigrante. 

Vai haver uma generalização do desemprego estrutural. Não vai ser possível encaixar nos sectores produtivos, as pessoas agora despedidas, pois haverá muito menos postos de trabalho, além de que a tendência será de substituir humanos pelos robôs, ou por sistemas de IA (Inteligência Artificial). 
Face a esta situação, a opção dos Estados será - provavelmente - de criar um «Rendimento Básico Universal» (RBU), com capacidade de manter as pessoas assistidas no limiar de subsistência, mas ainda assim, sem chegar à indigência. 
O RBU será saudado como «grande progresso social» por alguns desmiolados, mas será a forma prática de manter as pessoas sob controlo, sobretudo jovens, quando não existe possibilidade ou vontade de as canalizar para tarefas produtivas e reprodutíveis.

Porém, existem muitas instâncias em que o trabalho poderá ser aplicado de forma útil e produtiva, com verdadeiro emprego e com verdadeiro salário
Estou a pensar nas enormes tarefas que estão por fazer, nos campos, especialmente no interior deste país, com todo o efeito de arrastamento de indústrias conexas ao renascimento agrícola, baseado em energias renováveis e em conceitos ecológicos. 
Estou a pensar também no apoio domiciliário a muitas pessoas idosas e/ou com deficiência, que não deveriam ser armazenadas em «lares», instituições completamente inadequadas. Veja-se o que aconteceu aquando do surto de Covid-19: pense-se que apenas vimos a ponta do iceberg.  
Na educação, ao contrário da tendência para realizar tudo «on-line», acentuada com a recente epidemia, que confinou as crianças e jovens em casa, tem de se apostar numa diferente e criativa forma de educar. 
Têm de ser criados «centros de educação e excelência tecnológicos» que não sejam os «parentes pobres» do que é, ou era (como há mais de 50 anos!) considerado nobre: as vias que conduzem ao ensino superior. 
Poderia multiplicar exemplos, desde a marinha mercante e portos, à rede ferroviária e a todas as infraestruturas associadas... campos em que haveria trabalhos de estrutura a fazer-se e com grande utilidade para o país.
Porém, este esforço muito necessário é impossível sem a mobilização de energias, de vontades, sem a existência de um projecto nacional. Para que vingue, é preciso realismo, vontade e persistência. São estas as três características morais impossíveis de desenvolver e cultivar no marasmo actual, sonhando uns com utopias caducas, outros com «milagres» de ajudas vindas do exterior, etc. 
Há muitas maneiras de cairmos; para nos levantarmos, só há - basicamente - uma; dobrar as pernas, retesar os músculos, fazer força apoiando-se no chão, exercendo toda a força para cima, o corpo unido no gesto de se erguer, de retomar a vertical. No caso dos povos, é o mesmo! 
Onde está o essencial da questão? 
Na tomada de consciência de que a salvação não virá do exterior, mas de nós próprios, de fazermos o que seja preciso para nos pormos de novo, em pé!  


segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

PEPE ESCOBAR: RAÍZES DA DEMONIZAÇÃO DO ISLÃO XIITA, PELOS NORTE-AMERICANOS

                               
17/1/2020, Pepe Escobar, Unz Review
Tradução Amigos do Brasil


O assassinato premeditado pelos EUA, que se serviram de um drone como arma do crime, do major-general Qassem Soleimani, além de uma torrente de ramificações geopolíticas cruciais, mais uma vez empurra para o centro do palco uma verdade bastante inconveniente: a incapacidade congênita das chamadas elites norte-americanas para, pelo menos que fosse, tentar entender o xiismo – e a incansável demonização 24 horas por dia, 7 dias por semana, com o objetivo de degradar não apenas os xiitas mas também os governos liderados por xiitas.

Washington já fazia uma Guerra Longa antes mesmo de o conceito ser popularizado pelo Pentágono em 2001, imediatamente após do 11/9: uma Guerra Longa contra o Irã. Tudo começou mediante o golpe contra o governo democraticamente eleito de Mosaddegh em 1953, substituído pela ditadura do xá. Todo o processo vem sendo super turbinado há mais de 40 anos, desde quando a Revolução Islâmica esmagou aqueles bons velhos tempos da Guerra Fria, quando o xá reinava como o privilegiado “gendarme americano do Golfo (persa)”.

Mas é processo que vai muito além da geopolítica. Não há absolutamente nenhuma maneira de alguém conseguir compreender as complexidades e o apelo popular do xiismo, sem pesquisa acadêmica séria, complementada com visitas a locais sagrados selecionados no sudoeste da Ásia: Najaf, Karbala, Mashhad, Qom e o santuário Sayyida Zeinab perto de Damasco. Pessoalmente, tenho percorrido esse caminho do conhecimento desde o final dos anos 90 – e continuo estudante humilde.

Em espírito de abordagem inicial – para abrir um debate bem informado leste-oeste sobre uma questão cultural crucial, totalmente marginalizada no ocidente ou afogada por tsunamis de propaganda, pedi a colaboração de três excelentes pesquisadores, que ofereceram algumas primeiras impressões.

São eles: Prof. Mohammad Marandi, da Universidade de Teerã, especialista em Orientalismo; Arash Najaf-Zadeh, que escreve sob o pseudônimo de Blake Archer Williams e especialista em teologia xiita; e a extraordinária Princesa Vittoria Alliata, da Sicília, escritora e principal islamologista italiana, autora, dentre outros livros, do hipnotizante Harem – que detalha suas viagens por terras árabes.

Há duas semanas, fui hóspede da princesa Vittoria em Villa Valguarnera, na Sicília. Estávamos mergulhamos numa longa e envolvente discussão geopolítica – da qual um dos principais temas era EUA-Irã – poucas horas antes de um ataque de drone no aeroporto de Bagdá matar os dois principais xiitas na guerra real contra ISIS/Daech e al-Qaeda/al-Nusra: o major-general iraniano Qassem Soleimani e o iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis, segundo no comando do grupo Hashd al-Shaabi.

Martírio x relativismo cultural

O professor Marandi oferece explicação sintética: “O ódio irracional dos EUA ao xiismo deriva do forte senso de resistência à injustiça, característico dos xiitas – a história de Karbala e do Imã Hussein e o muito que os xiitas enfatizam a proteção dos oprimidos, a defesa dos oprimidos e a resistência contra o opressor. São ideias que os EUA e as potências ocidentais hegemônicas simplesmente não podem tolerar. “

Blake Archer Williams enviou-me me resposta que foi publicada como artigo à parte. Essa passagem, em que o autor discorre sobre o poder do sagrado, sublinha claramente o abismo que separa a noção xiita de martírio, de um lado, e, de outro, o relativismo cultural ocidental:

“Nada mais glorioso para um muçulmano que alcançar o martírio enquanto luta no Caminho de Deus. O general Qāsem Soleymānī lutou por muitos anos com o objetivo de acordar o povo iraquiano, até o ponto em que eles passaram a desejar assumir com as próprias mãos o comando do destino do próprio país. A votação do parlamento iraquiano mostrou que ele alcançou seu objetivo. Seu corpo foi tirado de nós, mas seu espírito foi amplificado mil vezes, e seu martírio garantiu que fragmentos de sua luz abençoada sejam incorporados nos corações e mentes de todo homem, mulher e criança muçulmana, imunizando todos contra o câncer-zumbi dos relativistas culturais satânicos da Novus Ordo Seclorum [Nova Ordem dos Tempos]. “

[um ponto em discussão: Novus Ordo Seclorum, ou Saeculorum, significa “nova ordem dos tempos”, e deriva de famoso verso de Virgílio que, na Idade Média, era considerado pelos cristãos como profecia da vinda de Cristo. Sobre isso, Williams respondeu que “embora esse sentido etimológico da frase seja verdadeiro e ainda permaneça, a frase foi sequestrada por um George Bush O Jovem como representante da cabala globalista da Nova Ordem Mundial, e é nesse sentido que predomina hoje” [e aparece no verso da nota de 1 EUA-dólar. (NTs)]

Escravizados pelo wahabismo

A princesa Vittoria prefere organizar o debate em torno da atitude dos norte-americanos de não questionar o wahabismo: “Não acho que tudo isso tenha algo a ver com odiar o xiismo ou ignorá-lo. Afinal, o Aga Khan está super inserido na segurança dos EUA, uma espécie de Dalai Lama do mundo islâmico. Acredito que a influência satânica vem do wahabismo e da família saudita, que são muito mais hereges que os xiitas, para todos os sunitas do mundo, mas sempre foram o único contato com o Islã aceito pelos governantes dos EUA. Os sauditas financiaram a maior parte das guerras e dos assassinatos feitos primeiro pelos Irmãos Islâmicos, depois pelas outras formas de salafismo, todos eles inventados sobre base wahabista. “

Assim, diz a princesa Vittoria, “eu não tentaria tanto explicar o xiismo, mas, sim, mais, tentaria explicar o wahabismo e suas consequências devastadoras: daí nasceram todos os extremismos, bem como o revisionismo, o ateísmo, a destruição de santuários e de líderes sufistas por todo o mundo islâmico. E, claro, o wahabismo está muito próximo do sionismo. Existem até pesquisadores que exibem documentos que parecem provar que a Casa de Saud é uma tribo de Dunmeh de judeus convertidos expulsos de Medina pelo Profeta depois de tentarem matá-lo, apesar de terem assinado um tratado de paz. “

A princesa Vittoria também enfatiza o fato de que “a revolução iraniana e os grupos xiitas no Oriente Médio são hoje a única força bem-sucedida de resistência aos EUA, e isso faz com que sejam odiados mais do que outros. Mas, isso, só depois que todos os outros oponentes sunitas foram eliminados, mortos, aterrorizados (pense na Argélia, mas existem dezenas de outros exemplos) ou corrompidos. Essa, é claro, não é posição exclusivamente minha, mas é a posição da maioria dos islamólogos de hoje.”

O profano contra o sagrado

Conhecendo o imenso conhecimento de Williams sobre a teologia xiita e sua experiência em filosofia ocidental, incentivei-o a, literalmente, “pular na jugular” da questão. E ele não fugiu: “A questão de por que os políticos americanos são incapazes de entender o Islã xiita (ou o Islã em geral) é simples: o capitalismo neoliberal irrestrito gera oligarquia, e os oligarcas “selecionam” candidatos que representam seus interesses, já antes de serem “eleitos” pelas massas ignorantes. Exceções populares, como Trump, ocasionalmente escorregam para dentro do poder (ou não, como no caso de Ross Perot, que se retirou sob coação), mas mesmo Trump passou imediatamente a ser controlado pelos oligarcas com ameaças de impeachment, etc. Portanto, o papel do político eleito nas democracias parece incluir não se esforçar para compreender coisa alguma, mas, simplesmente cumprir a agenda das elites que são donos deles, que mandam neles.”

A resposta “pulo na jugular”, de Williams, é ensaio longo e complexo que gostaria de publicar na íntegra, mas só quando nosso debate aprofundar-se – acompanhado de possíveis refutações.

Para resumir, ele esboça e discute as duas principais tendências da filosofia ocidental: dogmáticos versus céticos; detalha como “a trindade sagrada do mundo antigo era de fato a segunda onda dos dogmáticos, tentando salvar as cidades gregas e o mundo grego de maneira mais geral, da decadência dos sofistas”; investiga a “terceira onda de ceticismo”, que começou com o Renascimento e atingiu o pico no século 17 com Montaigne e Descartes; e depois estabelece conexões “com o Islã xiita e com o fracasso do Ocidente em entendê-lo”.

E isso o leva ao “cerne da questão”: “Uma terceira opção e uma terceira corrente intelectual, além e acima dos dogmáticos e céticos, e essa é a tradição dos xiitas tradicionais (em oposição aos filósofos) estudiosos da religião.”

Agora compare tudo isso e o último empurrão dos céticos, “como o próprio Descartes admite, dado pelo daemon que veio a ele em sonhos, e que resultou na escrita de seu Discurso sobre o Método (1637) e Meditações sobre a Primeira Filosofia (1641). O Ocidente ainda sofre efeitos desse golpe, e parece ter decidido deixar de lado os andaimes de sustentação da razão e os sentidos (que Kant tentou em vão conciliar, tornando as coisas mil vezes piores, mais complicadas e desagregadas), para deixar-se afogar e afogar na modalidade autocongratulatória do irracionalismo conhecido como pós-modernismo, que deveria ser chamado de ultramodernismo ou hipermodernismo, pois não está menos enraizado na “virada subjetiva” cartesiana e na “revolução copernicana” kantiana, do que os pré-modernos e modernos”.

Para resumir uma justaposição bastante complexa, “o que tudo isso significa é que as duas civilizações têm duas visões totalmente diferentes sobre o que deva ser a ordem mundial. O Irã acredita que a ordem do mundo deve ser o que sempre foi e é na realidade, gostemos ou não, e mesmo que não creiamos na realidade (como alguns no Ocidente não costumam crer). E o ocidente secularizado acredita numa nova ordem mundana (em oposição à ordem de outro mundo, ou divina).

E, portanto, não é tanto um choque de civilizações, mas um choque de profano contra o sagrado, com elementos profanos nas duas civilizações que combatem as forças sagradas nas duas civilizações. É o choque da ordem sagrada da justiça versus a ordem profana da exploração do homem nas mãos de seu próximo; profanar a justiça de Deus para o benefício (a curto prazo ou mundano) dos que se rebelam contra a justiça de Deus. “

Dorian Gray revisitado

Williams fornece um exemplo concreto para ilustrar esses conceitos abstratos: “O problema é que, embora todos saibam que a exploração do 3º Mundo nos séculos 19 e 20 pelas potências ocidentais foi injusta e imoral, essa mesma exploração continua até hoje. A continuação dessa injustiça ultrajante é a base definitiva para as diferenças existentes entre o Irã e os Estados Unidos, que continuarão inevitavelmente enquanto os EUA insistirem em suas práticas de exploração e enquanto continuarem a proteger os governos de protetorados norte-americanos, os quais só sobrevivem contra a vontade avassaladora do povo que governam, por causa da presença deformante e viciante das forças americanas que os sustentam para que continuem a servir aos interesses dos EUA, não aos interesses dos respectivos governados. É uma guerra espiritual pelo estabelecimento de justiça e autonomia no 3º Mundo.

O Ocidente pode continuar a parecer bem aos seus próprios olhos, porque controla reality-show dito “realidade” (o discurso mundial), mas sua imagem real é bem clara para todos verem, embora o Ocidente continue a se ver como Dorian Gray, no único romance de Oscar Wilde: como uma pessoa jovem e bonita cujos pecados só apareciam num retrato. O ‘retrato’ reflete a realidade que o 3º Mundo vê todos os dias, enquanto o ocidental Dorian Gray continua a se ver como é retratado pelas CNNs e BBCs e New York Times do mundo.”

“O imperialismo ocidental na Ásia ocidental é geralmente simbolizado pela guerra de Napoleão Bonaparte contra os otomanos no Egito e na Síria (1798–1801). Desde o início do século 19, o Ocidente tem sugado a veia jugular do corpo muçulmano político, como um verdadeiro vampiro cuja sede de sangue muçulmano nunca é saciada e que se recusou a soltar a jugular muçulmana.

Desde 1979, o Irã, que sempre desempenhou o papel de líder intelectual do mundo islâmico, levantou-se para acabar com esse ultraje contra a lei e a vontade de Deus, e contra toda decência.

Portanto, trata-se de revisar uma visão falsa e distorcida da realidade, devolvendo-a ao que a realidade realmente é e deve ser: uma ordem justa. Mas essa revisão é dificultada tanto pelo fato de que os vampiros controlam o ‘making-of’ da realidade, quanto pela inaptidão dos intelectuais muçulmanos e por sua incapacidade de entender até os rudimentos da história do pensamento ocidental, seja em seu período antigo, medieval ou moderno. “

Há chance de que o ‘making-of’ da realidade seja desmascarado? É possível que sim: Possivelmente: “O que precisa acontecer é que a consciência mundial abandone o paradigma pelo qual as pessoas realmente creem que um maníaco como Pompeo e um palhaço como Trump representariam o modelo de normalidade; que troquem esse paradigma, por outro, pelo qual as pessoas creiam que Pompeo e Trump são gângsteres, reles bandidos, que fazem o que bem entendam, não importa o quanto sejam repugnantes e depravadas as coisas que eles façam, e o fazem com quase total e absoluta impunidade.

E esse é um processo de rejeitar o discurso do paradigma dominante e de se unir ao Eixo da Resistência, liderado pelo mártir general Qāsem Soleymānī.

Não menos importante, esse processo envolve rejeitar o absurdo segundo o qual a verdade seria relativa (e também, desculpe, Einstein, rejeitar o absurdo segundo o qual tempo e espaço seriam relativos); e abandonar a filosofia absurda e niilista do humanismo; e despertar para a realidade de que existe um Criador e que Ele está realmente no comando.

Claro que tudo isso é demais para a mentalidade moderna tão iluminada, que entende tudo de tuuuuuuuuuuuuuudo!”

Aí está. E isso é só o começo. Acréscimos e refutações são bem-vindas. Convocam-se todas as almas informadas: está aberto o debate.