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segunda-feira, 2 de dezembro de 2024
quinta-feira, 18 de abril de 2024
HISTÓRIA DA SUBIDA AO PODER DOS XIITAS NO IRÃO (e relações «secretas» com Israel)
Este vídeo também esclarece obre a possibilidade das hostilidades entre Israel e o Irão serem o ponto de partida para uma 3ª Guerra Mundial.
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
PEPE ESCOBAR: RAÍZES DA DEMONIZAÇÃO DO ISLÃO XIITA, PELOS NORTE-AMERICANOS
17/1/2020, Pepe Escobar, Unz Review
Tradução Amigos do Brasil
O assassinato premeditado pelos EUA, que se serviram de um drone como arma do crime, do major-general Qassem Soleimani, além de uma torrente de ramificações geopolíticas cruciais, mais uma vez empurra para o centro do palco uma verdade bastante inconveniente: a incapacidade congênita das chamadas elites norte-americanas para, pelo menos que fosse, tentar entender o xiismo – e a incansável demonização 24 horas por dia, 7 dias por semana, com o objetivo de degradar não apenas os xiitas mas também os governos liderados por xiitas.
Washington já fazia uma Guerra Longa antes mesmo de o conceito ser popularizado pelo Pentágono em 2001, imediatamente após do 11/9: uma Guerra Longa contra o Irã. Tudo começou mediante o golpe contra o governo democraticamente eleito de Mosaddegh em 1953, substituído pela ditadura do xá. Todo o processo vem sendo super turbinado há mais de 40 anos, desde quando a Revolução Islâmica esmagou aqueles bons velhos tempos da Guerra Fria, quando o xá reinava como o privilegiado “gendarme americano do Golfo (persa)”.
Mas é processo que vai muito além da geopolítica. Não há absolutamente nenhuma maneira de alguém conseguir compreender as complexidades e o apelo popular do xiismo, sem pesquisa acadêmica séria, complementada com visitas a locais sagrados selecionados no sudoeste da Ásia: Najaf, Karbala, Mashhad, Qom e o santuário Sayyida Zeinab perto de Damasco. Pessoalmente, tenho percorrido esse caminho do conhecimento desde o final dos anos 90 – e continuo estudante humilde.
Em espírito de abordagem inicial – para abrir um debate bem informado leste-oeste sobre uma questão cultural crucial, totalmente marginalizada no ocidente ou afogada por tsunamis de propaganda, pedi a colaboração de três excelentes pesquisadores, que ofereceram algumas primeiras impressões.
São eles: Prof. Mohammad Marandi, da Universidade de Teerã, especialista em Orientalismo; Arash Najaf-Zadeh, que escreve sob o pseudônimo de Blake Archer Williams e especialista em teologia xiita; e a extraordinária Princesa Vittoria Alliata, da Sicília, escritora e principal islamologista italiana, autora, dentre outros livros, do hipnotizante Harem – que detalha suas viagens por terras árabes.
Há duas semanas, fui hóspede da princesa Vittoria em Villa Valguarnera, na Sicília. Estávamos mergulhamos numa longa e envolvente discussão geopolítica – da qual um dos principais temas era EUA-Irã – poucas horas antes de um ataque de drone no aeroporto de Bagdá matar os dois principais xiitas na guerra real contra ISIS/Daech e al-Qaeda/al-Nusra: o major-general iraniano Qassem Soleimani e o iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis, segundo no comando do grupo Hashd al-Shaabi.
Martírio x relativismo cultural
O professor Marandi oferece explicação sintética: “O ódio irracional dos EUA ao xiismo deriva do forte senso de resistência à injustiça, característico dos xiitas – a história de Karbala e do Imã Hussein e o muito que os xiitas enfatizam a proteção dos oprimidos, a defesa dos oprimidos e a resistência contra o opressor. São ideias que os EUA e as potências ocidentais hegemônicas simplesmente não podem tolerar. “
Blake Archer Williams enviou-me me resposta que foi publicada como artigo à parte. Essa passagem, em que o autor discorre sobre o poder do sagrado, sublinha claramente o abismo que separa a noção xiita de martírio, de um lado, e, de outro, o relativismo cultural ocidental:
“Nada mais glorioso para um muçulmano que alcançar o martírio enquanto luta no Caminho de Deus. O general Qāsem Soleymānī lutou por muitos anos com o objetivo de acordar o povo iraquiano, até o ponto em que eles passaram a desejar assumir com as próprias mãos o comando do destino do próprio país. A votação do parlamento iraquiano mostrou que ele alcançou seu objetivo. Seu corpo foi tirado de nós, mas seu espírito foi amplificado mil vezes, e seu martírio garantiu que fragmentos de sua luz abençoada sejam incorporados nos corações e mentes de todo homem, mulher e criança muçulmana, imunizando todos contra o câncer-zumbi dos relativistas culturais satânicos da Novus Ordo Seclorum [Nova Ordem dos Tempos]. “
[um ponto em discussão: Novus Ordo Seclorum, ou Saeculorum, significa “nova ordem dos tempos”, e deriva de famoso verso de Virgílio que, na Idade Média, era considerado pelos cristãos como profecia da vinda de Cristo. Sobre isso, Williams respondeu que “embora esse sentido etimológico da frase seja verdadeiro e ainda permaneça, a frase foi sequestrada por um George Bush O Jovem como representante da cabala globalista da Nova Ordem Mundial, e é nesse sentido que predomina hoje” [e aparece no verso da nota de 1 EUA-dólar. (NTs)]
Escravizados pelo wahabismo
A princesa Vittoria prefere organizar o debate em torno da atitude dos norte-americanos de não questionar o wahabismo: “Não acho que tudo isso tenha algo a ver com odiar o xiismo ou ignorá-lo. Afinal, o Aga Khan está super inserido na segurança dos EUA, uma espécie de Dalai Lama do mundo islâmico. Acredito que a influência satânica vem do wahabismo e da família saudita, que são muito mais hereges que os xiitas, para todos os sunitas do mundo, mas sempre foram o único contato com o Islã aceito pelos governantes dos EUA. Os sauditas financiaram a maior parte das guerras e dos assassinatos feitos primeiro pelos Irmãos Islâmicos, depois pelas outras formas de salafismo, todos eles inventados sobre base wahabista. “
Assim, diz a princesa Vittoria, “eu não tentaria tanto explicar o xiismo, mas, sim, mais, tentaria explicar o wahabismo e suas consequências devastadoras: daí nasceram todos os extremismos, bem como o revisionismo, o ateísmo, a destruição de santuários e de líderes sufistas por todo o mundo islâmico. E, claro, o wahabismo está muito próximo do sionismo. Existem até pesquisadores que exibem documentos que parecem provar que a Casa de Saud é uma tribo de Dunmeh de judeus convertidos expulsos de Medina pelo Profeta depois de tentarem matá-lo, apesar de terem assinado um tratado de paz. “
A princesa Vittoria também enfatiza o fato de que “a revolução iraniana e os grupos xiitas no Oriente Médio são hoje a única força bem-sucedida de resistência aos EUA, e isso faz com que sejam odiados mais do que outros. Mas, isso, só depois que todos os outros oponentes sunitas foram eliminados, mortos, aterrorizados (pense na Argélia, mas existem dezenas de outros exemplos) ou corrompidos. Essa, é claro, não é posição exclusivamente minha, mas é a posição da maioria dos islamólogos de hoje.”
O profano contra o sagrado
Conhecendo o imenso conhecimento de Williams sobre a teologia xiita e sua experiência em filosofia ocidental, incentivei-o a, literalmente, “pular na jugular” da questão. E ele não fugiu: “A questão de por que os políticos americanos são incapazes de entender o Islã xiita (ou o Islã em geral) é simples: o capitalismo neoliberal irrestrito gera oligarquia, e os oligarcas “selecionam” candidatos que representam seus interesses, já antes de serem “eleitos” pelas massas ignorantes. Exceções populares, como Trump, ocasionalmente escorregam para dentro do poder (ou não, como no caso de Ross Perot, que se retirou sob coação), mas mesmo Trump passou imediatamente a ser controlado pelos oligarcas com ameaças de impeachment, etc. Portanto, o papel do político eleito nas democracias parece incluir não se esforçar para compreender coisa alguma, mas, simplesmente cumprir a agenda das elites que são donos deles, que mandam neles.”
A resposta “pulo na jugular”, de Williams, é ensaio longo e complexo que gostaria de publicar na íntegra, mas só quando nosso debate aprofundar-se – acompanhado de possíveis refutações.
Para resumir, ele esboça e discute as duas principais tendências da filosofia ocidental: dogmáticos versus céticos; detalha como “a trindade sagrada do mundo antigo era de fato a segunda onda dos dogmáticos, tentando salvar as cidades gregas e o mundo grego de maneira mais geral, da decadência dos sofistas”; investiga a “terceira onda de ceticismo”, que começou com o Renascimento e atingiu o pico no século 17 com Montaigne e Descartes; e depois estabelece conexões “com o Islã xiita e com o fracasso do Ocidente em entendê-lo”.
E isso o leva ao “cerne da questão”: “Uma terceira opção e uma terceira corrente intelectual, além e acima dos dogmáticos e céticos, e essa é a tradição dos xiitas tradicionais (em oposição aos filósofos) estudiosos da religião.”
Agora compare tudo isso e o último empurrão dos céticos, “como o próprio Descartes admite, dado pelo daemon que veio a ele em sonhos, e que resultou na escrita de seu Discurso sobre o Método (1637) e Meditações sobre a Primeira Filosofia (1641). O Ocidente ainda sofre efeitos desse golpe, e parece ter decidido deixar de lado os andaimes de sustentação da razão e os sentidos (que Kant tentou em vão conciliar, tornando as coisas mil vezes piores, mais complicadas e desagregadas), para deixar-se afogar e afogar na modalidade autocongratulatória do irracionalismo conhecido como pós-modernismo, que deveria ser chamado de ultramodernismo ou hipermodernismo, pois não está menos enraizado na “virada subjetiva” cartesiana e na “revolução copernicana” kantiana, do que os pré-modernos e modernos”.
Para resumir uma justaposição bastante complexa, “o que tudo isso significa é que as duas civilizações têm duas visões totalmente diferentes sobre o que deva ser a ordem mundial. O Irã acredita que a ordem do mundo deve ser o que sempre foi e é na realidade, gostemos ou não, e mesmo que não creiamos na realidade (como alguns no Ocidente não costumam crer). E o ocidente secularizado acredita numa nova ordem mundana (em oposição à ordem de outro mundo, ou divina).
E, portanto, não é tanto um choque de civilizações, mas um choque de profano contra o sagrado, com elementos profanos nas duas civilizações que combatem as forças sagradas nas duas civilizações. É o choque da ordem sagrada da justiça versus a ordem profana da exploração do homem nas mãos de seu próximo; profanar a justiça de Deus para o benefício (a curto prazo ou mundano) dos que se rebelam contra a justiça de Deus. “
Dorian Gray revisitado
Williams fornece um exemplo concreto para ilustrar esses conceitos abstratos: “O problema é que, embora todos saibam que a exploração do 3º Mundo nos séculos 19 e 20 pelas potências ocidentais foi injusta e imoral, essa mesma exploração continua até hoje. A continuação dessa injustiça ultrajante é a base definitiva para as diferenças existentes entre o Irã e os Estados Unidos, que continuarão inevitavelmente enquanto os EUA insistirem em suas práticas de exploração e enquanto continuarem a proteger os governos de protetorados norte-americanos, os quais só sobrevivem contra a vontade avassaladora do povo que governam, por causa da presença deformante e viciante das forças americanas que os sustentam para que continuem a servir aos interesses dos EUA, não aos interesses dos respectivos governados. É uma guerra espiritual pelo estabelecimento de justiça e autonomia no 3º Mundo.
O Ocidente pode continuar a parecer bem aos seus próprios olhos, porque controla reality-show dito “realidade” (o discurso mundial), mas sua imagem real é bem clara para todos verem, embora o Ocidente continue a se ver como Dorian Gray, no único romance de Oscar Wilde: como uma pessoa jovem e bonita cujos pecados só apareciam num retrato. O ‘retrato’ reflete a realidade que o 3º Mundo vê todos os dias, enquanto o ocidental Dorian Gray continua a se ver como é retratado pelas CNNs e BBCs e New York Times do mundo.”
“O imperialismo ocidental na Ásia ocidental é geralmente simbolizado pela guerra de Napoleão Bonaparte contra os otomanos no Egito e na Síria (1798–1801). Desde o início do século 19, o Ocidente tem sugado a veia jugular do corpo muçulmano político, como um verdadeiro vampiro cuja sede de sangue muçulmano nunca é saciada e que se recusou a soltar a jugular muçulmana.
Desde 1979, o Irã, que sempre desempenhou o papel de líder intelectual do mundo islâmico, levantou-se para acabar com esse ultraje contra a lei e a vontade de Deus, e contra toda decência.
Portanto, trata-se de revisar uma visão falsa e distorcida da realidade, devolvendo-a ao que a realidade realmente é e deve ser: uma ordem justa. Mas essa revisão é dificultada tanto pelo fato de que os vampiros controlam o ‘making-of’ da realidade, quanto pela inaptidão dos intelectuais muçulmanos e por sua incapacidade de entender até os rudimentos da história do pensamento ocidental, seja em seu período antigo, medieval ou moderno. “
Há chance de que o ‘making-of’ da realidade seja desmascarado? É possível que sim: Possivelmente: “O que precisa acontecer é que a consciência mundial abandone o paradigma pelo qual as pessoas realmente creem que um maníaco como Pompeo e um palhaço como Trump representariam o modelo de normalidade; que troquem esse paradigma, por outro, pelo qual as pessoas creiam que Pompeo e Trump são gângsteres, reles bandidos, que fazem o que bem entendam, não importa o quanto sejam repugnantes e depravadas as coisas que eles façam, e o fazem com quase total e absoluta impunidade.
E esse é um processo de rejeitar o discurso do paradigma dominante e de se unir ao Eixo da Resistência, liderado pelo mártir general Qāsem Soleymānī.
Não menos importante, esse processo envolve rejeitar o absurdo segundo o qual a verdade seria relativa (e também, desculpe, Einstein, rejeitar o absurdo segundo o qual tempo e espaço seriam relativos); e abandonar a filosofia absurda e niilista do humanismo; e despertar para a realidade de que existe um Criador e que Ele está realmente no comando.
Claro que tudo isso é demais para a mentalidade moderna tão iluminada, que entende tudo de tuuuuuuuuuuuuuudo!”
Aí está. E isso é só o começo. Acréscimos e refutações são bem-vindas. Convocam-se todas as almas informadas: está aberto o debate.
sábado, 20 de julho de 2019
FRANÇA - O DESAPARECIMENTO
O desaparecimento da França com Barbara Lefebvre
Barbara Lefebvre é professora de História e Geografia. Com o seu último trabalho, «C'est ça la France» (É isto a França), a autora mostra-nos a deplorável constatação do estado do país, com o desprezo dos próprios e a ideologia das comunidades. Neste ensaio, ela defende a urgência de ser reactivado o conceito de pátria.
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