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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

O DISCURSO DO ÓDIO E A MONTANHA MÁGICA

Hoje, abrimos um jornal qualquer, ouvimos um programa de rádio ou televisão, ou consultamos uma página de Internet e deparamo-nos com dois tipos de discurso: ou uma série de futilidades, mais ou menos «engraçadas», ou supostamente «úteis», ou então peças sobre política, geopolítica, sobre figuras de estadistas, ou ainda relatando atos terroristas ou ações bélicas.
Os leitores são puxados - de uma forma ou de outra - a consumir notícias, nas quais, afinal, são cada vez mais frequentes os apelos ao ódio, ao ódio cego e vesgo, contra certos povos, correntes políticas, ou individualidades.
Os autores dessas peças consideram que os leitores devem partilhar com eles, os sentimentos de aversão, de repúdio, etc. Evocam situações do passado, mas apenas com o objetivo de avivar o medo. Note-se que nem sequer procuram comparações pertinentes com as respetivas figuras históricas.
A propaganda é um instrumento de destruição do espírito crítico. É uma forma de fazer a guerra, mas sem risco verdadeiro, pois apenas se explode em insultos e insinuações gratuitas, contra aqueles cuja imagem se pretende destruir junto das massas.
O discurso do ódio tem sido o instrumento das ditaduras, em especial das totalitárias. Encontram-se tais discursos na boca de Hitler, de Estaline, etc, mas também e sobretudo, nos seus «lacaios», que faziam de comentadores ou jornalistas, nos órgãos de comunicação, completamente controlados pelo poder.
A situação atual é perfeitamente paralela com outras ocasiões, que antecederam as duas Guerras Mundiais. É mais acentuada a massificação da média; aumentaram (mas não em diversidade) os canais que chegam aos ouvidos e olhos dos cidadãos. Mas, a monotonia do discurso político é a mesma, característica típica da propaganda prevalecente: «Canta-se» o mesmo, em todos os tons, com todos os instrumentos e todas as vozes. O resultado é um discurso obsessivo, amplificado, seja sobre o que for.
Em geral, são falácias, que se destinam a esconder os podres do poder, do regime, sempre designando os Outros, como sendo os maus, os causadores das desgraças, os perversos, que só agem para nos destruir ou escravizar, etc.
Este discurso, que se tornou o mais comum, é dicotómico, simplista, sem a preocupação de fornecer dados não-enviesados, nem de tentar uma abordagem realista, objetiva: É também com palavras de que são feitas as guerras, as tragédias da nossa Era.


Para tanto, socorro-me de uma cena do famoso romance de Thomas Mann, «A Montanha Mágica» onde o autor faz evoluir seus personagens, numa micro sociedade. Eram os doentes de um sanatório e seus acompanhantes, nos Alpes suíços. O local de convívio era o refeitório, onde doentes e familiares tinham reservadas suas mesas respetivas. Nestas ocasiões, eram discutidas notícias internacionais; nesse tempo, a informação era apenas veiculada pelos jornais. 
Normalmente, havia cortesia entre pessoas das diversas nacionalidades que aí se encontravam. Mesmo quando discordavam frontalmente da opinião política de seu interlocutor, exprimiam a discordância de forma firme, mas bem educada. Não lhes passava pela cabeça, como gente de boa educação, de se porem a insultar os que tinham opiniões contrárias às suas próprias. 
Mas, à medida que Agosto de 1914 se aproximava, notava-se uma agitação cada vez maior, um alçar do tom das vozes, que subiam num burburinho diferente do habitual. E esta agitação ia aumentando, à medida que se aproximava aquilo que iria ser a 1ª Guerra Mundial. No momento em que rebentou efetivamente, com declarações de guerra das diversas potências, com marchas dos diversos exércitos e sua colocação em posições perto das fronteiras, os hóspedes do sanatório dos Alpes, enfurecidos uns contra os outros, esqueceram toda a 'civilidade' e 'educação', insultando-se grosseiramente para logo se envolverem em cenas de pugilato.
Este episódio do livro - que me ficou gravado na memória - traduz muito bem o clima histérico que antecede estes acontecimentos trágicos. Não acontece isto com toda a gente mas, se tivermos uma amostra suficientemente grande, veremos que existem sempre algumas pessoas mais exaltadas, mais acaloradas. Tenho verificado este fenómeno em várias circunstâncias da minha vida; agora também, o insulto, o discurso do ódio, tem vindo a substituir-se ao sereno sopesar dos vários argumentos.
Note-se que a média ao serviço dos grandes poderes tem tido um papel de «atiçador do ódio» entre as pessoas, fazendo eco ao comportamento das figuras de proa nos governos e partidos de poder.
Nós devemos resistir às «sereias do ódio», devemos conservar o nosso espírito crítico e sobretudo autocrítico. Primeiro, devemos compreender os fenómenos que ocorrem nestas ocasiões: Levam a uma radicalização das pessoas, envolvidas em catadupas de propaganda.
Segundo, devemos ter em conta que nunca nos dizem a verdade do que se passa, de como as decisões que mais nos afetam foram tomadas, a quem - de facto - estas decisões beneficiam, quem as encomendou.
A nossa ignorância pode ser devida - nalguns casos - à teimosia de só ouvir ou ler o discurso de um dos lados (o nosso, claro).
Mas, embora a censura e o «nevoeiro da guerra» sejam reais, existe o secretismo nas deliberações e decisões dos poderes. Eles podem argumentar que, senão, o inimigo saberia logo o que se estava a preparar e o lance perderia totalmente a eficácia. Mas, as deliberações mais vastas, as estratégicas, não cabem nesta tipificação.
Acontece com frequência que a lógica verdadeira que impulsiona um campo a entrar em choque com outro, tenha a ver com «razões» não apresentáveis:
- A vontade de poder dum chefe ou dum grupo de dirigentes políticos;
- o forte interesse em obter assim posições de chefia no Estado Civil, ou nas Forças Armadas
- estar-se ao serviço de grandes fortunas, tais como os multimilionários Georg Soros, a família Rothschild, os Rockefeller e os donos das empresas tecnológicas (Microsoft, Tesla, Amazon ...);
etc.
De qualquer maneira, a democracia, mesmo o «ersazt» que nos servem no mundo Ocidental, acaba por se evaporar, ficando apenas a «casca» da mesma, ou seja, aquilo que formalmente define uma democracia, mas que é sistematicamente desrespeitado ou mesmo, espezinhado: São as constituições (intactas no papel, mas violadas na prática), as eleições formais (de onde certas forças políticas são excluídas), etc. que permitem conservar as aparências de democracia liberal.
É aquilo que se pode claramente observar hoje, tanto nos EUA, como nos seus aliados da OTAN.
Os dados estão lançados; só não sabemos ainda em que momento as pessoas irão acordar para aquilo que venho dizendo há muito tempo: Estamos numa Nova Guerra Mundial, com uma nova cortina de ferro, um novo confronto entre potências, usando países frágeis ou movimentos de guerrilha, como «proxi».
A probabilidade do desencadear da guerra nuclear nunca foi tão grande como agora.
Temo que a cidadania dos diversos países só abra os olhos tarde demais.

terça-feira, 18 de abril de 2023

PORQUE NÃO SOU MARXISTA

 De facto, apenas «cri» nas teorias marxistas na adolescência. Já no início da idade adulta, colocava várias objeções pertinentes, em especial, às versões leninistas do marxismo. 

Com o meu afastamento da «religião» M-L (Marxista Leninista), pude ter abertura de espírito para ler clássicos da política, da economia política e da sociologia (secundariamente, pois eu estudava biologia, a minha maior paixão).

Devo dizer que conhecia bem as obras de Marx, Engels, Lenine, um pouco de Trotsky, de Mao e de outros. Muitos autores pró-marxistas eu li; também li muitos anti-marxistas, ou críticos das obras de Marx.

Foi importante para mim ler as obras críticas da ideologia marxista-leninista, de Dominique Lecourt, um filósofo francês. Também li outros autores. A hegemonia  do marxismo e das suas tendências ou correntes, era notória na minha geração. Mas, igualmente notória, a ignorância sobre o conteúdo concreto das obras dos que se idolatrava. 

Muito do que se passou (e passa) com o marxismo, faz-me pensar que, em termos sociológicos ou antropológicos, estamos perante uma religião sem Deus. Ou pior; que endeusaram «personalidades» dessa corrente política, sem o mínimo espírito crítico, mostrando assim que nem sequer o conteúdo objetivo das obras, tinham eles lido ou percebido. 

Hoje em dia, compreendo quais as razões psicológicas (mas não lógicas) do fascínio e adesão a tais teorias. É que elas abarcavam um todo: O «materialismo dialético» era uma explicação última e uma fórmula simples que permitia reivindicar o estatuto de cientificidade para uma teoria de dialética hegeliana, com pedaços de materialismo mecanicista

O século XIX, foi aquele em que se criou um culto da ciência. As pessoas acreditavam na «Ciência», acreditavam no papel libertador do ateísmo científico e  do mecanicismo. Foi este, o cocktail ideológico em que banharam as elites burguesas e os revolucionários, quase todos, oriundos da mesma burguesia ascendente ou triunfante.

Na verdade, tive o privilégio de estudar a fundo as ciências físicas e naturais. Não apenas a biologia, mas igualmente a física (em especial a termodinâmica), a química (também ao nível experimental), a ciência dos sistemas, etc.  A matematização dos modelos não me intimida; eu tive oportunidade de estudar muitos assuntos, que recorriam a modelos matematizados, da Biologia Populacional, à Teoria do Caos, aos Fractais...

Para mim, é evidente que o que se pensa ser a cientificidade da economia, em  especial, das teorias neokeynesianas e monetaristas,  deve-se ao uso de instrumentos matemáticos (por exemplo, os gráficos) mas sem assumirem ou explicitarem as enormes simplificações (o reducionismo) associadas. O não-iniciado fica impressionado com tanta matematização, do mesmo modo que fica impressionado com a matematização dos modelos da física, da química e mesmo da biologia. 

Mas, a quantificação e o tratamento dos dados em termos estatísticos ou usando outras metodologias é útil, sobretudo, para expor uma teoria. Estou a referir-me, obviamente, aos ramos do saber que não sejam diretamente «matemática», incluindo a «física matemática». Faz parte da estratégia de exposição nas ciências naturais, apresentar curvas e gráficos, em conferências ou em publicações científicas. Mas, na maior parte dos casos, as matemáticas têm uma função auxiliar.  

Em biologia, também se utiliza muito as matemáticas. Porém, o substrato último da biologia é experimental e continuará a sê-lo. Mais importante que a matemática, é a metodologia propriamente experimental utilizada, cujos dados podem ser traduzidos sob forma matemática, ou não. Os conteúdos das descobertas ou observações, podem ser descritos de diversas maneiras. Um excelente artigo na área de ciências biológicas pode nem sequer apresentar os resultados sob forma de dados estatísticos.

Esta longa digressão serve para nos precavermos da insistência de certos propagandistas, seja qual for a sua ideologia, em «citar» a Ciência, dizendo que  estão «baseados» na Ciência, ou algo deste género. É confrangedor ver como esta evidente aldrabice funciona: Pois a Ciência não tem nada que ver com seus pronunciamentos políticos; aliás, a «ciência nunca prova nada» (G. Bateson). O pior é que eles são seguidos por muitas pessoas, fascinadas com as aparências. Mas isto não é novo; já no século XIX, usavam o mesmo «disfarce», para melhor levar o auditório a aderir às suas teorias políticas.  

De facto, os verdadeiros cientistas, sobretudo os da ciência experimental, quer estejam no laboratório, ou em «atividade de campo», não têm hoje - nem jamais tiveram - grande interesse pelo marxismo; isso deveria surpreender os que aderem ainda à ideia de que o marxismo «se baseia na ciência», ou mesmo «que é uma teoria científica». 

Marx era um filósofo, Engels, filho dum industrial e Lenine, de família de professores primários. Eles tinham a ideologia «silenciosa» do cientismo da época;  imbuíram as suas políticas de «teorias ad oc», que «justificavam cientificamente» suas teses propriamente políticas. Eles conseguiram arrastar consigo uma parte da intelectualidade da época, pois o discurso deles parecia científico e isso impressionava muitos. Ainda hoje, alguns se deixam impressionar. Se lerem, por exemplo, a obra «Materialismo e Empiriocriticismo », compreenderão que se trata de uma obra panfletária de Lenine, que discorre sobre questões fundamentais da natureza da matéria, segundo as teorias em debate na época . Mas, Lenine não percebeu realmente o debate entre várias correntes da física, nem estava à altura de poder discutir os méritos e fraquezas de cada uma. É um exemplo interessante, pois mostra como questões científicas, foram abusivamente enquadradas na moldura ideológica do «materialismo dialético». Lenine atribuiu adjetivos de «progressista» ou de «reacionária», a tal ou tal teoria e aos cientistas a estas associados.

O mesmo processo, mas em mais trágico, pois muitos cientistas foram mortos ou deportados, passou-se com o decretar da genética como ciência «burguesa», por Estaline e seu protegido Lysenko. Foi importante, para a minha formação, ler a obra sobre Lysenkismo de Dominique Lecourt. É daquelas «lições» que nunca se esquecem. E se nos esquecermos, há líderes e sociedades que voltam a cair nos mesmos erros. O lysenkismo foi nos anos 30 do século XX na União Soviética do estalinismo triunfante. Infelizmente, viu-se um ressurgir recente daquele comportamento no mundo contemporâneo: A histeria «covidiana», desencadeada pelo poder, a campanha de violência difamatória contra as pessoas com espírito crítico, a «caça às bruxas», etc. 

No que toca à teoria política, propriamente dita, é um facto que não existe libertação ou emancipação, se a sociedade estiver sujeita a um governo totalitário, que se considera incumbido duma tarefa «messiânica». Um poder que fala em nome da classe operária, do proletariado, não se importando, porém, de o esmagar da maneira mais rude, de lhe retirar todos os meios legais de contestação. Uma pessoa medianamente instruída e que tenha convicções socialistas/comunistas irá naturalmente divergir da teoria política marxista leninista, perante a observação da «práxis» dos mesmos, quando alcançam o poder. 

Eu estive muito interessado nos primeiros socialistas que eram, quase todos, da vertente «não-autoritária»: William Godwin , Gracchus Babeuf, Charles Fourier, Pierre-Joseph Proudhon, e muitos outros, vilipendiados por Marx e marxistas de hoje, que continuam a repetir as difamações de ignorantes, contra esses pioneiros. Na verdade, o que os primeiros socialistas não-autoritários «descobriram», foi retomado e aperfeiçoado por várias gerações de socialistas libertários ou anarquistas, pioneiros em associações não baseadas no lucro e na desigualdade, que estiveram largamente envolvidos na criação e desenvolvimento dos sindicatos, que fundaram muitas cooperativas, etc. A difamação foi pôr-lhes um rótulo («socialistas utópicos») que não lhes corresponde, que os ridiculariza: Marx era costumeiro disso, em dar etiquetas falsas,  em relação a pessoas  que ele detestava. 

O século XXI tem demasiados desafios próprios, para as pessoas ficarem tomadas pela «paixão pelas coisas mortas». Eu quero com isso dizer que o passado, a história, não são para ignorar, mas também não se devem mitificar. Não se ignorem as realizações, as teorias e as reflexões dos séculos anteriores, mas deve pôr-se tudo isso num contexto apropriado. 

A intolerância e o fanatismo, em pessoas que se dizem socialistas é exatamente tão contraditória, como em pessoas que se afirmam cristãs. Aliás, o cristianismo é uma das fontes e das inspirações do socialismo - comunismo - anarquismo: desde a Reforma no século XVI, passando pelos movimentos sociais dos séculos XIX e XX, até aos movimentos de hoje. 

domingo, 6 de março de 2022

«MUNDOS SEPARADOS». O AUTORITARISMO, A GUERRA E A GEOPOLÍTICA

                  


Incessante tendência dos autoritários de todas as cores ideológicas em querer moldar o mundo exterior à IMAGEM DO SEU MUNDO INTERIOR, TEM CONSEQUÊNCIAS que estão de todos à vista. 

Comento o excelente artigo, de LIAM COSGROVE «The US Is Culpable in Today's Ukraine Crisis  - How the incessant neo-conservative urge to reshape foreign nations in the Western image has brought us to the brink of World War.»
Curiosamente, os herdeiros da ideologia liberal (quase toda a classe política dos países ditos do «ocidente») têm muito mais traços de autoritarismo, do que os que estiveram (caso dos russos), ou mesmo ainda estão (caso dos chineses), debaixo de regimes totalitários.
Mas, ao fim e ao cabo, como eu repetidas vezes avisei, o cisma entre o Ocidente e o Oriente, vai traduzir-se por dois mundos separados
Quando não se confrontarem com armas, quando não fizerem guerra por procuração («proxi-wars») farão pelo menos, guerra económica, política, ideológica, ou «de informação». A globalização «feliz» advogada por ambos, acabou. Agora, será a pseudo-globalização do calvário dos povos, com a forma simbólica de cruz: o eixo «vertical» - os atlantistas, contra o eixo «horizontal» - os euro-asiáticos.
Ver o meu artigo QUEM SÃO OS VENCEDORES DA TRANSFERÊNCIA DE RIQUEZA DO «GREAT RESET»?. Quanto aos vencidos, o resultado desta crise é o empobrecimento geral, mais cruel para os pobres, o reforço dos traços autoritários, o estreitamento da «janela de Overton» até ser praticamente indistinguível de um regime fascista, como foi Portugal, durante os 48 anos de Salazar e Caetano, um dos membros iniciais da NATO*. Talvez piores sejam estes regimes, que agora se estão a instalar em toda a Europa, na concha vazia das democracias liberais. Não só haverá uma profunda ruptura dentro da sociedade, como não haverá qualquer tolerância para pessoas com ideologias divergindo da ortodoxia imposta pela ditadura «democrática». O «fascismo Mc Donald» irá fazer com que estas pessoas sejam ostracizadas, perseguidas, não haverá «direitos humanos» para elas. Os dissidentes no Ocidente, estão já a ser pior tratados, nalguns casos, do que os da URSS, quando esta existia. É que a campanha continuada dos media corporativos, juntamente com a aprovação, em grande parte do público, das discriminações a pretexto de COVID e o infame passe vacinal, vieram mostrar que os governos ocidentais podiam avançar com este autoritarismo, deixando intacta a letra da lei, para a esvaziar do seu conteúdo, impondo novas realidades sociais e políticas, em seus respectivos países. Isto foi analizado por Hannah Arendt, há quase um século. Porém, os que se reclamam de esquerda, anti-fascistas, etc, estão completamente olvidados da análise que ela fez dos totalitarismos.
É que estes «esquerdistas» também são autoritários; são adoradores do Estado. Eram eles, que achavam que as medidas de «lockdown» e a imposição do passe vacinal, não apenas eram justificadas em nome da «saúde pública», como queriam mais energia e celeridade na sua implementação.
De facto, os liberais genuínos, os libertários, os anarquistas pacifistas e outros não-autoritários, já estão completamente excluídos do discurso público, que se tornou num discurso meramente do poder, com várias cambiantes, para dar ilusão de democracia. 
Não sei até onde a ausência de vergonha, a hipocisia e o puro sadismo poderão chegar, mas podemos ver o paralelo histórico da instalação das ditaduras totalitárias do passado onde, após o esmagamento da oposição (quer na Alemanha de Hitler, quer na URSS de Estaline), aumentou o nível de repressão feroz, indiscriminada e sem qualquer preocupação em guardar as aparência da legalidade. Nas ditaduras «vulgares», tais regimes, depois de terem triunfado, de terem consolidado a sua vitória, vão querer dar uma aparência de respeito pelos direitos humanos, de tolerância, etc. Mas, nos regimes totalitários, uma vez consolidado o poder, a repressão é intensificada, como nunca antes. Isto é um facto que se tem observado repetidas vezes, que os dissidentes de hoje terão de ter em conta. 
Esperemos que tal não aconteça, mas não sejamos ingénuos ao ponto de acreditar que a salvação esteja nos bandidos de um bando,  que eles se vão arriscar a derrubar os do outro bando, sobretudo quando estão a beneficiar do estatuto de «oposição» tolerada, construtiva, etc. dentro do regime!
No plano mundial, teremos uma polarização, do «império ocidental» sob a garra reforçada dos EUA, enquanto no «império oriental», a China dominará a Rússia. Isto será consequência da Rússia ter sido expulsa violentamente da esfera internacional e diabolizada pelos europeus.

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*Sim, a NATO aceitou no seu seio o regime fascista de Portugal, a tal estrutura atlântica destinada a defender as democracias contra o comunismo totalitário!

sábado, 18 de maio de 2019

AQUECIMENTO GLOBAL ENQUANTO LOGRO


David Icke é um dos divulgadores mais dinâmicos que existem hoje no Reino Unido. Foi muito perseguido pela sua forma incomum e corajosa de apresentar aquilo que ele tem observado ao longo de décadas. A verdade é que existe uma supressão sistemática pelo mainstream (BBC, CNN, etc, etc) que impede todas as vozes discordantes de serem ouvidas, dos seus argumentos serem avaliados serenamente. 

A realidade irá encarregar-se de desmascarar a enorme campanha de «psi-op» que o mundo está sofrendo, desde os anos 90, sobre este assunto. 

Mas, no entretanto, biliões terão sido investidos nas coisas erradas, para solucionar falsos problemas. 
É uma perda para a humanidade, porque uma parte significativa do esforço de investigação e de investimento industrial está a ser desviada. Estas entidades, que se aproveitam do status quo, têm interesse em que a opinião pública esteja constantemente a ser reforçada nos seus preconceitos, como explica Icke. 


O maior e melhor meio de controlo é o medo. O desejo, o entusiasmo por algo - material ou espiritual - apenas dura instantes. A humanidade é tal, que aquilo que a faz mover-se é a necessidade e o medo de se encontrar numa situação de necessidade. 

A manipulação é grave; eu posso testemunhar, pois fui intrujado pelo logro durante muitos anos e ensinei noções erradas aos meus alunos. Espero que eles me perdoem, pois eu também estava a ser enganado! 

Felizmente, eu nunca deixei de aprofundar os assuntos; sempre inquiri sobre as coisas que despertavam a minha curiosidade. Como biólogo e como cidadão, a minha  pesquisa exaustiva do assunto tem muitos anos, informei-me sobre variados aspectos de climatologia. Ninguém, no mundo de hoje, pode considerar que a sua formação científica está terminada... só a actualização permanente nos permite acompanhar e reflectir com propriedade sobre um assunto científico.

Aquilo que tenho visto é que - na media e nos diversos sites da Internet, destinados a explicar o «aquecimento global» - são sistematicamente omitidas informações que são muito justamente referidas por David Icke. 

Quem realmente quer saber mais sobre o assunto, que siga as pistas que ele dá e estude os ciclos climáticos ao longo de centenas e milhares de anos; estude o efeito reconhecido e decisivo do Sol; de muitos fenómenos análogos aos que hoje se verificam. Verificará que ocorreram em épocas remotas, onde não havia indústrias ou actividades humanas causadoras de uma grande libertação de CO2, como a que existe hoje, etc.

Mas, tenho a impressão de estar a falar ou escrever para pessoas «anestesiadas», «zombificadas», pessoas em estado de denegação. 

O que é muito triste é que isto não é um mero debate académico, que esteja sendo debatido entre cientistas; isto é algo que tem a ver com a narrativa de como funcionam as coisas, de como funciona o mundo de hoje. 

Quem controla a narrativa, controla as mentes: é isso, com o poder inerente que decorre daí, que faz com que a narrativa do «aquecimento global» tenha sido objecto de condicionamento na opinião pública, com imensa gente fazendo sua carreira à custa disso. 

O objectivo (que nunca lhe dirão) é o controlo que a grande banca e as mega-corporações têm sobre a gestão dos recursos e sobre os fluxos de mercadorias, de capital, de informação, de pessoas...

É necessário compreender o fenómeno do condicionamento de massas e de «terror de Estado» que está associado a este assunto. 
Remeto, a esse propósito, para o estudo do caso Lysenko. Este nome é muito importante, pois foi um pseudo-cientista na era soviética que reinou sobre a Academia das Ciências. Ele defendia uma visão lamarckiana e «progressista» da genética, condenando, e não apenas em termos teóricos, os que defendiam as teorias (correctas!) de Mendel e de Morgan... tidos como suportes da «ciência burguesa» e capitalista!

Nos anos de chumbo do regime soviético, a ditadura de Estaline tornou-se  um reino de terror totalitário. Vários cientistas eminentes, que estudaram a genética seriamente, foram vítimas das purgas organizadas por Lysenko e pelos lysenkistas, tendo obviamente a aprovação de Estaline. 

Não que as coisas se repitam, mas há um certo tom de intolerância, um ignorar ostensivo duma parte da comunidade científica, um silenciar dos argumentos contrários, usando argumentos de autoridade, de exclusão, etc. processos esses que não são honestos, nem deviam existir num debate científico.

Assim como na questão da «genética» lisenkista, o cerne não era um debate científico, mas sim a utilização do tema para fazer uma purga, uma campanha de terror, também hoje a media mainstream amplifica enormemente os argumentos pró-alterações climáticas e silencia ou difama tudo o que vem dos cépticos, em relação ao fenómeno e às causas do mesmo.

Eu vejo isto como um enredo em que a ciência ficou refém dos grandes interesses globalistas e será muito difícil ela se libertar, pois a sua submissão é feita com «cadeias de ouro», não «douradas» meramente, mas de «ouro maciço». Quer isto dizer que qualquer cientista tem de ter muita coragem para fazer valer um ponto de vista contrário ou crítico do «consenso» (falso, traficado, aliás) pois isso significa ficar cortado de uma série de coisas: oportunidades de carreira, convites para projectos, subsídios para investigações, etc. etc...

Mas sou um optimista, apesar de tudo: acredito que «a verdade acaba sempre por vir ao de cima». 
Porém, durante este tempo em que esteve comprimida, abafada, suprimida, ela não pode ajudar a que soluções reais para os problemas reais surjam. 

Entretanto, espero que meus leitores não se deixem embalar, nem durante um segundo, na ilusão de que globalistas multibilionários, como Gates ou Soros ou outros, têm realmente «bom coração» e querem «salvar a humanidade»! 


(Assista a debate ao vivo no speakers corner... Londres )



sexta-feira, 21 de abril de 2017

CIÊNCIA, RELIGIÃO, ESPIRITUALIDADE, ÉTICA

                                 



Este cientista tem uma abordagem de bom senso, mas de um bom senso que não vai tão longe como isso. Quando fala da impossibilidade de se solucionar o «porquê», mas apenas o «como» dos fenómenos, através da ciência, está a ser correcto.
Porém, a existência de um espírito cósmico é vista com relutância por uma série de pessoas imbuídas de cientismo, talvez mais do que de ciência propriamente dita. O facto é que o célebre teorema de Goedel implica que não possamos abarcar nunca o todo para o submeter à lei de um sub-conjunto, seja ele qual for.
A ciência é um instrumento precioso, mas não é uma chave de sabedoria.
A sabedoria tem como fundamento o «coração», a ciência tem como fundamento a «razão». Quando a razão se junta com desejo de poder, transforma-se numa mistura muito perigosa e instável, dando origem às derivas mais obscuras da história humana.
Só enunciarei algumas delas (cada uma necessitaria de uma longa explanação):

- J. Robert Openheimer, um dos pais da bomba A, suicidou-se cheio de remorsos pelo monstro que ajudou a criar. Com efeito, muitos cientistas envolvidos em torno do Manhattan project consideravam como um dever patriótico desenvolver essa bomba, até porque havia indicações da espionagem (erradas ou sobrevalorizadas como depois se verificou) de avanços significativos dos cientistas alemães nazis neste domínio, de controlarem o átomo para fabricarem a bomba atómica.

- O darwinismo foi distorcido e transformado em «argumento» para justificar duas teorias monstruosas, o racismo e arianismo dos nazis, o lyssenkismo na URSS do tempo de Estaline.

- A eugenia é uma teoria racista que foi originada por Galton (sobrinho de Darwin) e que tem feito muito mal, inspirado muitos programas nefastos, desde esterilizações em massa de vários povos, até à promoção das guerras em que uma parte da humanidade contemporânea está mergulhada.

Poderia continuar com uma infindade de factos, por todos os investigadores consensualmente aceites, nomeadamente com a utilização de saberes das ciências e técnicas, para cometer depredações ou crimes ecológicos extremamente graves para o presente e futuro da humanidade...

O meu argumento é de que a ciência é um instrumento, podendo ser empregue para o bem ou para o mal, consoante as mãos nas quais esteja.
Isto sempre foi compreendido pelos cientistas, eles próprios. Por exemplo, Leonardo da Vinci escrevia os seus textos, suas notas para estricto uso pessoal, numa escrita indecifrável (excepto para ele). Era afinal a imagem em espelho da escrita vulgar, que ele treinou, provavelmente desde muito jovem, como «canhoto» que era. Os célebres manuscritos de Da Vinci só foram reconhecidos plenamente no seu enorme significado científico e filosófico, muito recentemente, em pleno século XX!

A não conflitualidade da pesquisa científica e dos seus conceitos e teorias com a religião foi reconhecida pelo papa João Paulo II. Ele, evidentemente, procedeu ao «aggiornamento» indispensável para manter a influência do catolicismo na intelectualidade esclarecida da sua/nossa época.
Do lado do ateísmo, Michel Onfray por exemplo, afirma sem qualquer problema que - apesar de ateu - ele (e muitos outros) é culturamente cristão, o que é uma evidência, não apenas pela educação, mas também pelo facto de que praticamente todas as teorias sociais e políticas contemporâneas (republicanismo, democratismo, socialismo, comunismo, anarquismo...) serem afinal laicizações do cristianismo. Esta constatação, que poderá surpreender alguns, teria de ser desenvolvida por si só num artigo ou numa série de artigos...

Mas o mais interessante, no meu ponto de vista, é que se afastem falsos argumentos:

- Uns, imbuídos do prestígio «mágico» do cientismo, usam abusivamente o nome de «ciência».

Já ouviram, com certeza, pessoas a falar do que em geral NÃO SABEM: costumam dizer, doutoralmente: «a ciência prova que...» ora a ciência nunca provou, nem prova nada, como dizia Bateson*; as ciências físicas e naturais não são como a matemática em que, aí sim, existe prova, ainda que esteja subordinada a um conjunto de axiomas (ex.: a geometria mais corrente é euclidiana; porém não tem cabimento num contexto riemanniano).

- Outros, temerosos da ciência, combatem-na em nome duma «fé», não compreendendo que a sua fé só pode ganhar com um aprofundamento do conhecimento do Universo, ou seja, de Deus.

Segundo uma visão muito consensual em várias religiões, não se pode ter uma compreensão total, nunca, do que está para além da compreensão racional, seja qual for o estado da ciência ou do desenvolvimento tecnológico humano. Porém, se essa «fé» é temerosa da ciência enquanto método de conhecimento do real, é apenas um medo, uma ignorância. Talvez essas pessoas precisem de ter mais fé, para que ela não seja abalada pelo tipo de estudo realizado no âmbito da pesquisa científica.

Isto não significa que não se coloquem limites éticos à pesquisa científica. A procura da verdade, em si mesma, não deve ser vista como um absoluto. Praticamente todos os cientistas e filósofos, quer sejam ateus, ou possuíndo alguma forma de espiritualidade, entendem que devem existir limites éticos a essa pesquisa científica, podem é não estar de acordo no traçado das fronteiras.

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Science sometimes improves hypothesis and sometimes disproves them. But proof would be another matter and perhaps never occurs except in the realms of totally abstract tautology. We can sometimes say that if such and such abstract suppositions or postulates are given, then such and such abstract suppositions or postulates are given, then such and such must follow absolutely. But the truth about what can be perceived or arrived at by induction from perception is something else again.
  • p. 27


sábado, 4 de fevereiro de 2017

HANNAH ARENDT E O TOTALITARISMO

                     

Tenho uma impagável dívida para com esta filósofa. É graças a ela que eu entendi verdadeiramente o que é o TOTALITARISMO e como se distingue de outros regimes ditatoriais.

O totalitarismo é um processo complexo de supressão de toda a sociedade civil, que é «fagocitada» até ser colocada inteiramente ao serviço do Estado. Não existe nada além do Estado. O Estado é tudo; nem as pessoas, nem as instituições mais ou menos democráticas subsistem. 
Não podem sobreviver, a não ser que se submetam completa e incondicionalmente aos desígnios do Estado. 
As corporações são incorporadas no Estado: o regime corporativo, caro aos fascistas Maurras, Mussolini, Franco e  Salazar, incorpora toda a actividade económica, associativa, patronal e laboral, numa máquina burocrática que abarca tudo.

 Nada se pode afirmar fora do Estado, o qual tem literalmente poder de vida e de morte em relação aos indivíduos e mesmo aos grupos sociais. 
Muitas vezes, no discurso de propaganda surgem - como instrumentos de unificação - as palavras «pátria» ou «nação»: estes conceitos são subsumidos como os fundadores míticos do Estado, mas na realidade, apenas estão dando cobertura ao detentor absoluto do poder.

Na obra «As origens do totalitarismo» Arendt descreve a transmutação do regime da República democrática de Weimar no III Reich hitleriano, assim como a violenta transformação da pátria dos Sovietes, numa ditadura impiedosa. Em ambos os casos, os instrumentos jurídicos que fundavam a legalidade não chegaram a ser erradicados; foram simplesmente ignorados. 
A «legalidade» passa a ser simplesmente a vontade, a palavra do «chefe supremo», seja ele Hitler ou Estaline.

Esta realidade não aparece de chofre, vai coalescendo, pé ante pé, mesmo quando existem episódios de uma grande brutalidade. Se tais episódios foram ostensivos nalguns casos, noutros foram ocultados das massas, que viviam dentro duma atmosfera saturada de propaganda. 
Note-se que os campos de concentração do regime nazi começaram por se encher de militantes anti-fascistas, operários, intelectuais, antes de serem utilizados em grande escala para o genocídio dos povos judeu, cigano e outros ...
Igualmente, os campos de concentração soviéticos começaram muito antes da era de Estaline. Logo na era de Lenine e  Trotsky, houve repressão política brutal e sanguinária, não apenas dos czaristas, dos sociais democratas opositores do novo regime, mas também de operários socialistas revolucionários e anarquistas porque recusavam que os sovietes fossem manietados e controlados pelo partido bolchevique.




Muitas pessoas chamam «Hitler» ou «Estaline» a este ou aquele dirigente político contemporâneo. Ao usarem tal designação insultuosa, estão porém a «banalizar» o mal absoluto que é o totalitarismo e a contribuir para confundir as jovens gerações.

O pior disto é que, se aparecer um líder que tenha - de facto - as características de algum novo Hilter, será muito mais difícil a generalidade das pessoas reconhecê-lo, pois vivem na ignorância da génese dos regimes totalitários no século passado!