Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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segunda-feira, 22 de maio de 2023

FAZ COMO DIZ FREI TOMÁS ...

... NÃO FAÇAS COMO ELE FAZ!

Este provérbio diz-nos que uma doutrina pode ser correta e boa, mesmo quando proclamada por uma pessoa que, de forma encoberta, faz o oposto do que defende em palavras. É um preceito importante para se ter BOM SENSO. Eu aprecio o sentido crítico de muitas pessoas, mesmo das que não têm meus ideais.


Um dos autores que gosto de ler e que dá muita informação, é Matthiew Piepenburg, da empresa suíça Matterhorn. Numa escrita brilhante á qual tem habituado os seus leitores, traça o retrato realista da perda de estatuto do dólar como moeda de reserva e das suas implicações. O artigo «Dollar Woes to Debt Denial: The USA Is Screwed - Matterhorn - GoldSwitzerland», é uma leitura frutuosa; verá que tem "muito sumo".

Outro exemplo é o de Vladimir Ilitch Ulianov que esteve exilado na Suíça durante boa parte da Primeira Guerra Mundial: Ele lia o Neues Zürcher Zeitung (Zürich, já nessa altura, era uma importante praça financeira), o jornal melhor documentado sobre finança e economia na Suíça e no mundo. Tinha uma linha editorial em sintonia com a opinião dos seus leitores. Ninguém poderia esperar algo diferente do jornal que era leitura quotidiana da classe capitalista, conservadora, burguesa. Mas, então, este exilado não era o chefe dos bolcheviques, que pouco tempo depois iria tomar o poder na Rússia ?

- Era sim; o mesmo que se tornaria famosíssimo sob o pseudónimo de Lenine *. Ele queria saber os factos, não a propaganda, fosse de que lado fosse; por isso, ia às fontes mais credíveis, nessa época. Num regime capitalista, onde é que pode haver informação credível? Obviamente, os homens de negócios precisam de estar informados sobre o que se passa REALMENTE; não lhes interessa perder tempo com propaganda destinada às massas. Liam os jornais que melhor os informavam sobre os negócios, a economia, a guerra, a diplomacia, a tecnologia, etc.


quarta-feira, 27 de abril de 2022

VER O MUNDO DE OUTRA FORMA?


 
Lenine dizia... mais ou menos, isto: «Há décadas em que não se passa nada de muito relevante; e depois, surgem períodos em que os acontecimentos se precipitam, dando a sensação de que se viveram décadas, durante apenas uns meses ou semanas.»

Esta citação pareceu-me adequada para abrir uma reflexão sobre a mudança e - em particular - a mudança que temos experimentado, nos últimos anos. Temos a sensação de que a História se acelerou, de que grandes transformações ocorreram, de que se passam muitas coisas insuspeitas do grande público e mesmo de muitos dos peritos, que têm o potencial de transformar a nossa relação com o mundo, com o Estado, com a sociedade, com a economia, etc.

Seria muito interessante avaliar as diversas expetativas do que seria o século presente, enunciadas por eminentes intelectuais ou políticos no século anterior (século XX): Muitas delas revelaram-se muito distantes do real, quando confrontadas com os acontecimentos da história recente. Mas este exercício não se destinaria a fazer «chacota» dessas pessoas (nós também, tínhamos perspetivas que se revelaram falsas!), nem a nos mostrarmos mais clarividentes, que os nossos contemporâneos. 

Esse exercício mental seria um bom «remédio» para as pessoas (de quaisquer setores do espectro político-ideológico), que estão cheias de certezas, capazes de dar resposta a tudo, etc. Seria, afinal, um exercício de humildade, se efetuado honestamente. Obrigava-nos a ir aos fatores fundamentais e analisar, não a partir dos nossos desejos, ou das nossas construções ideológicas, mas a partir da realidade.

Veio-me à memória outra citação de Lenine; ele dizia: «Os factos são teimosos!». 

Não creio estar errado, se disser que a economia real deve prevalecer - numa visão de conjunto - sobre a economia financeirizada. 

Com efeito, as necessidades globais em alimentação, energia e matérias-primas, sobrepõem-se (muito visivelmente, agora) aos movimentos erráticos e caóticos do dinheiro especulativo. Porém, este facto não é particular à época atual; sempre foi assim! Mas, quando existia bonança ou, quando o abastecimento dos mercados em relação a esses produtos (alimentos, energia, matérias-primas), estava a funcionar normalmente, a atenção das pessoas era puxada para a componente especulativa da economia, ou seja, para a ganância do lucro, de «fazer dinheiro» com dinheiro. 

Se nós tomarmos um bocado de recuo, agora, neste momento particularmente conturbado da cena internacional, com as repercussões enormes que se estendem em todos os setores da economia, com particular incidência nos aspetos mais vitais, o que vemos? Vemos que a globalização capitalista, a engenharia económica e financeira, para aumentar as mais-valias da exploração do trabalho, com a exportação de fábricas e outros meios para os países do «Terceiro Mundo», onde não havia regulação séria do mercado de trabalho e onde era possível as multinacionais aí instaladas obterem um rendimento muitas vezes superior ao obtido na América do Norte ou na Europa, essa globalização ruiu.

Ela, globalização, ruiu e os países em «piores lençóis» são exatamente aqueles cujas burguesias mais beneficiaram dessa exploração acrescida, durante a fase de expansão e internacionalização mais agressivas do capital. 

As pessoas ainda não perceberam, porque continuam embaladas na ideologia neocolonial, ou no consumismo acéfalo, mas o facto é que as componentes tecnológicas essenciais estão a ser fabricadas pelas nações e pessoas que elas (no fundo) desprezaram. Estas pessoas são técnicos altamente qualificados, engenheiros, investigadores, que enxameiam muitas das instituições de ponta do orgulhoso «ocidente» e, sem elas, simplesmente não haveria capacidade humana para realizar o trabalho de investigação e desenvolvimento, nos vários setores. Eu sei isso muito bem, pois tenho acompanhado na minha área (biologia molecular e genética) essa progressão, mas tenho informação segura de que se passa o mesmo, noutras áreas muito diferentes, mas igualmente ditas «de ponta». 

Assim, o próprio desenvolvimento da economia financeirizada, o capitalismo na fase senescente, veio dar - a ele próprio - a machadada final. 

O efeito político e geoestratégico disto é o que estamos a presenciar neste ano de 2022. Uma separação radical em dois mundos, o eixo Russo-Chinês, incluindo a Índia e muitos parceiros da Ásia Central e do Sul, além de uma ampla gama de acordos com África, América Latina e mesmo em setores da Europa. Por outro, um mundo dito Ocidental, que está mais ou menos limitado à Europa da UE, ao Reino Unido, aos EUA e aos anglófonos Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Neste bloco, os EUA reinam como potência hegemónica, ditando  o que se deve ou não fazer e que posições tomar, até ao pormenor. 

Atrevo-me a dizer que não haverá mais globalização liderada pelo «Ocidente», pois ela foi propositadamente deitada abaixo, tendo os estrategas norte-americanos decidido que era melhor assim para o seu poderio. Esta tendência já se afirmara claramente no consulado de Donald Trump. Agora, apenas está a ser levada ao extremo pelos neocons que decidem a política em Washington. 

Segundo esta visão, é melhor ter uma mão forte, segurando um conjunto de países-vassalos (os da NATO e sua réplica no Pacífico), ao Império ter que se confrontar em permanência com competição, resultante da ascensão económica e geoestratégica dos que não se conformam com sua ditadura. Eles chamam isso: «Rules based order». 

Isto serve também, ao fim e ao cabo, os interesses geoestratégicos da Rússia e da China, que estão apostadas ambas em maximizar a conectividade entre si e com os países da Organização de Cooperação de Xangai. 

No meio, ficam nações falidas, destruídas pela guerra : a Ucrânia é a última de tais nações, mas não devemos esquecer a Líbia, o Afeganistão, o Iraque, o Iémen, e outras... Cada uma dessas nações terá de se reconstruir após guerras cruéis, o que poderá corresponder a decénios. 

Nunca a história volta atrás; O que aconteceu num dado período, deixa um traço indelével que se prolonga até ao presente. Sem inteligência da História, dum modo aprofundado, somos conduzidos por clichés, por preconceitos, por ideologias de pacotilha. 

Nunca é fácil compreender o mundo. Ele não se rege por qualquer «lei», ao contrário do que Marx e os marxistas criam; o mundo dos homens, das sociedades, das civilizações é caótico, ou seja, não é possível se aplicar qualquer «lei, regra ou princípio». 

É preciso compreender isto e compreender que o mundo natural - o mundo das necessidades energéticas, incluindo alimentação, que é afinal energia para o nosso corpo - esse obedece a certas constrições, que não se podem eliminar: as leis da termodinâmica, as leis da vida, das leis genéticas até às leis que governam as populações; as leis da ecologia, dos sistemas renováveis e dos recursos finitos, etc. 

As pessoas que têm formação em biologia ou áreas conexas, têm natural propensão em ver o mundo deste modo: Este modo de ver, se não for transformado numa pseudo- ciência, ou numa forma atualizada da ideologia cientista dos séculos XIX e XX, pode ser um instrumento muito mais fértil, quer para a prospetiva, quer para a planificação flexível. 

Afinal, o melhor modelo é aquele que passou «o teste» de Éons de evolução biológica: Compreender a fundo estes mecanismos não implica compreender tudo o que respeita ao mundo dos humanos e suas sociedades, mas ajuda a colocar a economia, a sociologia e  política,  em perspetiva.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

ROUBO DAS PENSÕES DE REFORMA, ESTÁDIO DERRADEIRO DO CAPITALISMO?


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Foto dos anos 1930, mostrando uma «sopa dos pobres»; aquilo a que os idosos deste século XXI estarão reduzidos com a liquidação dos sistemas de pensões por repartição

O que é que caracteriza o sistema actual na maioria dos países da Europa ocidental (há excepções, como Grã-Bretanha e outros)? 
- O facto de que os fundos são co-geridos pelas associações patronais e sindicatos, com a colaboração do Estado.

Qual a consequência disso na prática? 
- Na sequência da crise mundial de 2008 estes fundos não ficaram demasiado afectados, ao contrário dos fundos de pensões do outro lado do Atlântico, que têm uma gestão privada nos EUA e sofreram (e sofrem) profundos abalos, pondo em causa a viabilidade das pensões de reforma de ex-empregados do Estado. Têm sido noticiadas falências de caixas de pensões de polícias, bombeiros, professores, etc... 

Porque é que tais fundos (dos EUA) ficaram descapitalizados? 
- Sendo geridos privadamente, não havia restrições em colocar os capitais em instrumentos de rentabilidade alta, mas muito inseguros. Por outras palavras, fez-se participar estes fundos, em pleno, na economia especulativa. Uma maior rentabilidade significa maior risco, normalmente. Nos fundos de pensões da Europa ocidental são colocadas restrições sobre quais os investimentos que são permitidos e, dentro da estrutura dos mesmos, há uma base, suficientemente larga, de investimentos considerados sem risco ou com risco muito baixo. 

Qual o sentido profundo da reforma Macron das pensões? 
- A aparente preocupação com uniformização do cálculo e uma pseudo-igualdade, vem preparar o terreno para a privatização por etapas da gestão dos fundos de pensões, a retirada do controlo dos trabalhadores.

Quais as consequências da gestão privatizada destes fundos?
- Os assalariados serão empurrados para fundos de gestão privada (modelo dos EUA e de outros países onde reina o neo-liberalismo). Nestes, não apenas estarão sujeitos a um esquema «por capitalização», mas os capitais serão apropriados para toda a espécie de engenharias financeiras. Vão multiplicar-se as falências, pois a tomada de riscos excessivos é considerada «normal», sobretudo se quem toma esses riscos, não o faz com seus próprios capitais!

Contrariamente ao senso comum, Christine Lagarde, ex-chefe do FMI e nova patroa da BCE, parece ignorar que «não há capitalismo sem capital». Ela deu logo o tom, pouco depois de entrar nas novas funções, ao afirmar: «quanto à perda dos juros dos depósitos (e logo a impossibilidade de poupanças), as pessoas deviam considerar isto muito menos importante do que conservar o emprego». O que está implícito no seu raciocínio, é que os juros convidam as pessoas a manter suas poupanças «improdutivas», nas contas bancárias, por contraste com o investimento em «veículos financeiros» que vão alimentar e dinamizar a economia... Mas isso, é apenas uma falácia, pois os juros mantêm a poupança, esta constitui o mais importante meio de formação de capital, o qual será aplicado em investimento... Sem poupança... não há capital, sem capital... não há investimento, sem investimento... não há capitalismo. Fazem de conta que estão a favorecer a economia produtiva, enquanto estão a limitá-la severamente. 
A apropriação dos fundos de pensões, públicos e privados, é a próxima etapa do chamado «reset», pela oligarquia.
                                                 
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É caso para plagiar o  título do livro de Lenine («Imperialismo, estádio supremo do capitalismo»): 

- «Roubo das pensões, estádio derradeiro do capitalismo»