Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

CRÓNICA (Nº23) DA III GUERRA MUNDIAL: Quando os Erros se Sucedem

    Localização do ataque à base americana «Tower 22» ver artigo em Zero Hedge

Em certos momentos, a classe no poder fica demasiado desorientada. É nestas ocasiões - que se podem verificar em diversas épocas históricas - que os poderes dirigentes são levados a fazer erro sobre erro. As tomadas de decisão desastrosas conduzem a um agravamento da situação, o que leva a que tomem medidas mais e mais brutais, mais e mais desesperadas, para assegurar o domínio sobre os adversários.
Nós estamos a verificar agora, no caso das guerras declaradas e não declaradas dos EUA e seus aliados,  uma sucessão catastrófica de erros, que apenas resultam no enfraquecimento da posição global destes, em relação às nações que ainda ontem eram aliadas do Império, ou que não o sendo, tentavam evitar o confronto direto, para não sofrer o peso esmagador das sanções, da subversão e da guerra, pela potência hegemónica.
Uma característica sobressai dos fracassos, quer de israelitas (nomeadamente, no 7 de Outubro passado), quer dos EUA e vassalos da OTAN: A excessiva confiança nos sistemas automatizados de controlo, deteção e riposta, quer no cenário de Gaza, quer no cenário da base americana (ilegal) «Tower 22» na fronteira jordano-síria. O ataque com drones a esta última base, por milícias xiitas baseadas no Iraque, foi bem sucedido porque as defesas aéreas automáticas que defendiam a base não funcionaram. Já em Outubro os militantes palestinianos conseguiram inativar os sistemas de monitorização e desencadear um ataque para fora do perímetro de Gaza, fortemente vigiado. Neste caso, também os sistemas automáticos de resposta não funcionaram. Nos subsequentes ataques com mísseis, quer no lado do Sul (HAMAS), quer do Norte (HEZBOLLAH), a chamada «Cúpula de Ferro» (iron dome), o sistema israelita de deteção e contra-ataque com misseis teleguiados que - supostamente - iria neutralizar os mísseis e drones que se aproximassem, também não funcionou com a eficácia que lhe era creditada. Os americanos decidiram punir o Iémen, em retaliação dos ataques dos Houthis contra navios da frota de guerra dos EUA, estacionados na entrada do Mar Vermelho. Este ataque não causou danos significativos ao dispositivo de mísseis dos Houthis: Menos de 24 h depois do ataque americano, eram disparados pelos Huthis salvas de mísseis em direção a navios de carga e de guerra americanos e aliados.
No Tribunal Internacional de Justiça (um órgão da ONU) Israel foi condenado em termos nada ambíguos como autor de massivas e flagrantes violações dos direitos humanos e das convenções internacionais de proteção dos civis, em tempo de guerra (convenções de Genebra). Mas, não só Israel, também o governo americano, desprezaram esta sentença, mostrando - mais uma vez - o que os imperialistas entendem por «respeito pela ordem internacional baseada em regras»: Não se trata da obediência ao direito internacional, mas sim da submissão aos interesses dos EUA.  A organização de apoio aos refugiados UNRWA, um organismo da ONU, foi-lhe seguidamente interrompido o financiamento, sob pretexto de que alguns (poucos) trabalhadores* deste organismo, em Gaza teriam alegadamente (sob tortura) confessado terem laços com o Hamas. Que este gesto dos poderes ocidentais apareça como vingança torna-se patente, pelo «timing» em que se ocorreu essa interrupção do financiamento: dias após a sentença do TIJ, mas semanas após terem sido conhecidas as alegadas ligações.
Veja-se, desde 2001, o percurso catastrófico das guerras no Médio-Oriente (Afeganistão, Iraque, Líbano, Síria Israel/Palestina), da guerra na Ucrânia, das provocações ao largo de Taiwan (legalmente e internacionalmente reconhecido como território chinês, não esqueçamos) e a intensificação da agressividade da potência que pretende ser hegemónica. Apesar deste crescendo, a sua posição estratégica global só diminuiu. 

                               Bases americanas na Ásia Ocidental

A guerra económica, com sanções, embargos, boicotes, tarifas punitivas, arresto de ativos financeiros e - mesmo - o confisco puro e simples destes, foi brutal, deitou abaixo muitas relações construtivas que se tinham tecido no pós-Guerra Fria. Isto conduziu à derrota do Ocidente, em termos da economia produtiva e  - claramente - a favor dos «inimigos», a Rússia, a China e outros. Ou seja, os EUA e restantes membros da OTAN, essencialmente, perderam em termos económicos, com as sanções e outras formas de guerra económica, que tomaram a iniciativa de desencadear. 
Há quem diga que os BRICS não precisam de tomar uma iniciativa agressiva contra a OTAN, basta se auto-desenvolverem, estreitarem laços de cooperação com projetos comuns entre eles e com outros, que queiram participar. Os tresloucados dirigentes ocidentais vão continuar a dar tiros nos pés, a se autopunirem, num jogo macabro e inútil, pois eles não podem já ditar as leis na arena internacional. Já estão completamente desmascarados; ninguém os vê como defensores da legalidade internacional. Agora, a verdade sobressai em todos os planos e ao nível global: São os EUA e os seus aliados (OTAN, Israel e alguns outros países aliados), quem estão - em permanência - fora da legalidade internacional; que não acatam resoluções da ONU, nem os veredictos de tribunais internacionais, quando lhes são desfavoráveis; são eles que multiplicam as ações de provocação, com o perigo destas induzirem o alargamento dos conflitos até ao nível global.
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NB:
* «That a dozen or less of the 30,000 UNRWA worker were probably involved in the October 7 events was known for weeks» Citado em MoA



                             DESENHO HUMORÍSTICO DE JOHN HELMER


Dois excelentes e detalhados artigos relativos às situações que enunciei acima, por John Helmer, e «Moon of Alabama»:


Este meu artigo acima, vem atualizar o ensaio em duas partes «As Quatro Fragilidades do Império»:
 



sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

MEDITAÇÃO

Se queres partir do princípio que Deus exista, seja.

Se queres designar um livro sagrado, como fundamento da tua religião (a Bíblia, o Alcorão, os Sutras, os Vedas, etc), seja.

Mas, se Deus nos fez suas criaturas, então o que ele nos deu foi a inteligência e o livre-arbítrio: a inteligência permite que nós possamos ler as histórias de um livro sagrado, dentro do contexto; que possamos aprender a sabedoria e compreender o sumo da questão que estava em causa nessa história. As interpretações literais, as interpretações facciosas, etc. são demasiado falsas para que as pessoas que as produzem (muitas delas, capazes intelectualmente e bastante cultas) beneficiem da «presunção de inocência». Para mim, estão realmente a pecar pois, intencionalmente, usam esses livros ou passagens, que dizem venerar, para promover suas agendas; para dominar e persuadir os outros a fazerem o combate deles, claramente com o objetivo do poder. 

                        Refeitório do Mosteiro de Alcobaça, Portugal

Para mim, Deus não precisa de intermediação nenhuma; pode ser «lida a vontade de Deus» em toda a sua Obra; pode ser lida no interior de nós próprios. 

                                                                     René Descartes

                      Contrariamente ao «Cogito» de Descartes, eu sei que existo, pela íntima certeza de ser «filho de Deus». Coisa que não tem que ver com cogitar, pois se trata de sentir, essa íntima certeza não pode ser demonstrada; ela apenas pode ser expressa, ou seja, vivida na sua plenitude e na sua humildade. 

Outros dirão que Deus é isto ou aquilo, eu considero impossível reduzir a palavras, dizer o indizível: como dar conta verbalmente do Cosmos, do Universo? A única forma de o dizer é paradoxal: está para além do que se pode conceber, para além do que se possa exprimir, transcende todo o entendimento e toda a racionalidade. Não é incognoscível; é porém impossível de o abarcar no seu Todo: É por isso que qualquer constrangimento ou coação dos nossos semelhantes, seja qual for a intenção com que isso é feito, é uma violência, é um verdadeiro crime contra a essência do Espirito Cósmico. As religiões são desviadas dos seus propósitos nobres pelos teólogos que, nos seus escritos, teorias ou doutrinas, defendem a legitimidade dessa coação. 

Por esse motivo separo claramente o fenómeno religioso, da espiritualidade: a espiritualidade que se desprende de todo o Universo vem até mim, os meus canais de sensibilidade acolhem-na. Eles têm de estar bem abertos, para que o meu ser possa receber e banhar nesse espírito. 

                                William Blake: «Newton»  - desenho à pena e aquarela

Querer impor a minha maneira de ver as coisas de Deus, do Mundo, do Universo, da sociedade ou da ciência, seria fútil e contraproducente. Antes, devo estar aberto a que os outros - ou a própria Natureza - me corrijam, me façam evoluir na procura da sabedoria, que aceite profundamente em mim aquela semente divina, ou seja, aceite e siga a Natureza, porque ela é boa, ela é a vontade de Deus. Quanto  às limitações, elas vêm de mim. Eu posso não ter capacidade intelectual ou sensibilidade do coração para entender plenamente essa vontade. 

                   Kurt Gödel

Sou limitado, não por algo externo, mas ontológico; pela impossibilidade enunciada no teorema de Gödel: é impossível a parte ser capaz de abarcar o Todo. O mais que ela pode fazer, é intuir ou conjeturar que existe um Todo, que está para além da nossa compreensão limitada. 


quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

DECLARAÇÃO DE CJ HOPKINS AO TRIBUNAL DE BERLIM (23 de Janeiro de 2023)

Esta declaração é - na verdade - um rol de acusação daquilo em que se transformou a «justiça» na Alemanha e por extensão em todos os países europeus cujos governos (e status quo) se dedicaram a perseguir, excluir, censurar e difamar as pessoas que legitimamente contestavam as medidas ditas de «contenção» do COVID. Sabemos pelos factos que estas últimas tinham plena razão; que as «medidas de contenção» tinham apenas um fim: a sujeição da cidadania. Um traço típico de poderes totalitários. 



É absolutamente claro, qual foi e é a intenção do autor, nunca havendo o mínimo traço de «propaganda pró-nazi». O facto dessa acusação ter sido formulada e admitida em tribunal e do próprio julgamento ter tido lugar (mesmo que tenha havido absolvição) equivale - antes de mais - a perseguição e difamação, pelo próprio aparelho de «justiça», nesse país. É grave, na medida em que o poder do Estado (poder judicial, neste caso) usou a lei de forma totalmente distorcida e isenta de qualquer fundamento razoável, para perseguir um autor com uma visão crítica, dissidente. 

Goste-se ou não, concorde-se ou não, CJ Hopkins tem direito a exprimir a sua opinião por todos os meios, sendo que todo o atentado à sua integridade e aos direitos básicos de autor são índice seguro de que novo tipo de totalitarismo se está a instalar e domina  em certo número de consciências, incluindo nas de autoridades que deveriam zelar pelo cumprimento da legalidade democrática. 

Um caso em que o aparelho judicial alemão é humilhado pela sua própria conduta, enquanto o réu CJ Hopkins fica claramente em posição de vencedor. Seria justo que o Estado de Berlim fosse processado e tivesse que pagar indemnização pelos danos materiais e morais causados. 

Abaixo, a declaração de CJ Hopkins ao tribunal:

Berlin District Court, January 23, 2024

My name is CJ Hopkins. I am an American playwright, author, and political satirist. My plays have been produced and received critical acclaim internationally. My political satire and commentary is read by hundreds of thousands of people all over the world. 20 years ago, I left my own country because of the fascistic atmosphere that had taken hold of the USA at that time, the time of the US invasion of Iraq, a war of aggression based on my government's lies. I emigrated to Germany and made a new life here in Berlin, because I believed that Germany, given its history, would be the last place on earth to ever have anything to do with any form of totalitarianism again.

The gods have a strange sense of humor. This past week, thousands of people have been out in the streets all over Germany protesting against fascism, chanting "never again is now." Many of these people spent the past three years, 2020 to 2023, unquestioningly obeying orders, parroting official propaganda, and demonizing anyone who dared to question the government's unconstitutional and authoritarian actions during the so-called Covid pandemic. Many of these same people, those who support Palestinian rights, are now shocked that the new form of totalitarianism they helped usher into existence is being turned against them.

And here I am, in criminal court in Berlin, accused of disseminating pro-Nazi propaganda in two Tweets about mask mandates. The German authorities have had my speech censored on the Internet, and have damaged my reputation and income as an author. One of my books has been banned by Amazon in Germany. All this because I criticized the German authorities, because I mocked one of their decrees, because I pointed out one of their lies.

This turn of events would be absurdly comical if it were not so infuriating. I cannot adequately express how insulting it is to be forced to sit here and affirm my opposition to fascism. For over thirty years, I have written and spoken out against fascism, authoritarianism, totalitarianism etc. Anyone can do an Internet search, find my books, read the reviews of my plays, read my essays, and discover who I am and what my political views are in two or three minutes. And yet I am accused by the German authorities of disseminating pro-Nazi propaganda. I am accused of doing this because I posted two Tweets challenging the official Covid narrative and comparing the new, nascent form of totalitarianism that it has brought into being -- i.e., the so-called "New Normal" -- to Nazi Germany.

Let me be very clear. In those two Tweets, and in my essays throughout 2020 to 2022, and in my current essays, I have indeed compared the rise of this new form of totalitarianism to the rise of the best-known 20th-Century form of totalitarianism, i.e., Nazi Germany. I have made this comparison, and analyzed the similarities and differences between these two forms of totalitarianism, over and over again. And I will continue to do so. I will continue to analyze and attempt to explain this new, emerging form of totalitarianism, and to oppose it, and warn my readers about it.

The two Tweets at issue here feature a swastika covered by one of the medical masks that everyone was forced to wear in public during 2020 to 2022. That is the cover art of my book. The message conveyed by this artwork is clear. In Nazi Germany, the swastika was the symbol of conformity to the official ideology. During 2020 to 2022, the masks functioned as the symbol of conformity to a new official ideology. That was their purpose. Their purpose was to enforce people's compliance with government decrees and conformity to the official Covid-pandemic narrative, most of which has now been proven to have been propaganda and lies.

Mask mandates do not work against airborne viruses. This had been understood and acknowledged by medical experts for decades prior to the Spring of 2020. It has now been proven to everyone and acknowledged by medical experts again. The science of mask mandates did not suddenly change in March of 2020. The official narrative changed. The official ideology changed. The official "reality" changed. Karl Lauterbach was absolutely correct when he said, "The masks always send out a signal." They signal they sent out from 2020 to 2022 was, "I conform. I do not ask questions. I obey orders."

That is not how democratic societies function. That is how totalitarian systems function.

Not every form of totalitarianism is the same, but they share common hallmarks. Forcing people to display symbols of conformity to official ideology is a hallmark of totalitarian systems. Declaring a "state of emergency" and revoking constitutional rights for no justifiable reason is a hallmark of totalitarian systems. Banning protests against government decrees is a hallmark of totalitarian systems. Inundating the public with lies and propaganda designed to terrify people into mindless obedience is a hallmark of totalitarian systems. Segregating societies is a hallmark of totalitarian systems. Censoring dissent is a hallmark of totalitarianism. Stripping people of their jobs because they refuse to conform to official ideology is a hallmark of totalitarian systems. Fomenting mass hatred of a "scapegoat" class of people is a hallmark of totalitarianism. Demonizing critics of the official ideology is a hallmark of totalitarian systems. Instrumentalizing the law to punish dissidents and make examples of critics of the authorities is a hallmark of totalitarianism.

I have documented the emergence of all of these hallmarks of totalitarianism in societies throughout the West — including but not limited to Germany — since March of 2020. I will continue to do so. I will continue to warn readers about this new, emerging form of totalitarianism and attempt to understand it, and oppose it. I will compare this new form of totalitarianism to earlier forms of totalitarianism, and specifically to Nazi Germany, whenever it is appropriate and contributes to our understanding of current events. That is my job as a political satirist and commentator, and as an author, and my responsibility as a human being.

The German authorities can punish me for doing that. You have the power to do that. You can make an example of me. You can fine me. You can imprison me. You can ban my books. You can censor my content on the Internet, which you have done. You can defame me, and damage my income and reputation as an author, as you have done. You can demonize me as a "conspiracy theorist," as an "anti-vaxxer," a "Covid denier," an "idiot," and an "extremist," which you have done. You can haul me into criminal court and make me sit here, in Germany, in front of my wife, who is Jewish, and deny that I am an anti-Semite who wants to relativize the Holocaust. You have the power to do all these things.

However, I hope that you will at least have the integrity to call this what it is, and not hide behind false accusations that I am somehow supporting the Nazis by comparing the rise of a new form of totalitarianism to the rise of an earlier totalitarian system, one that took hold of and ultimately destroyed this country in the 20th Century, and murdered millions in the process, because too few Germans had the courage to stand up and oppose it when it first began. I hope that you will at least have the integrity to not pretend that you actually believe I am disseminating pro-Nazi propaganda, when you know very well that is not what I am doing.

No one with any integrity believes that is what I am doing. No one with any integrity believes that is what my Tweets in 2022 were doing. Every journalist that has covered my case, everyone in this courtroom, understands what this prosecution is actually about. It has nothing to do with punishing people who actually disseminate pro-Nazi propaganda. It is about punishing dissent, and making an example of dissidents in order to intimidate others into silence.

That is not how democratic nations function. That is how totalitarian systems function.

What I hope even more is that this court will put an end to this prosecution, and apply the law fairly, and not allow it to be used as a pretext to punish people like me who criticize government dictates, people who expose the lies of government officials, people who refuse to deny facts, who refuse to perform absurd rituals of obedience on command, who refuse to unquestioningly follow orders.

Because the issue here is much larger and much more important than my little "Tweet" case.

We are, once again, at a crossroads. Not just here in Germany, but throughout the West. People went a little crazy, a little fascist, during the so-called Covid pandemic. And now, here we are. There are two roads ahead. We have to choose ... you, me, all of us. One road leads back to the rule of law, to democratic principles. The other road leads to authoritarianism, to societies where authorities rule by decree, and force, and twist the law into anything they want, and dictate what is and isn't reality, and abuse their power to silence anyone who disagrees with them.

That is the road to totalitarianism. We have been down that road before. Please, let's not do it again.


N.B. A German version of the statement is available in Aya Velázquez’s article and on Bastian Barucker’s blog.

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PS (21/03/2024): O caso não foi encerrado. O procurador do tribunal de Berlim decidiu recorrer da sentença. É - simultaneamente - uma história absurda e angustiante, pelo facto dos supostos guardiães da legalidade e direitos civis, estarem a usar os tribunais para perseguição política. Mas, isto passa-se em todo o «Ocidente». Leia o artigo e entrevista a CJ Hopkins, de autoria de Matt Taibbi:

https://www.zerohedge.com/markets/its-not-about-trump-american-cj-hopkins-charged-again-germany-describes-global-censorship


quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

LE DERNIER REPAS - JACQUES BREL

 https://www.youtube.com/playlist?list=PLUv1WgIwP9IPk6USCWVJbq7e4t8JFCOss


À mon dernier repasJe veux voir mes frèresEt mes chiens et mes chatsEt le bord de la mer
À mon dernier repasJe veux voir mes voisinsEt puis quelques chinoisEn guise de cousins
Et je veux qu'on y boiveEn plus du vin de messeDe ce vin si joliQu'on buvait en Arbois
Je veux qu'on y dévoreAprès quelques soutanesUne poule faisaneVenue du Périgord
Puis je veux qu'on m'emmèneEn haut de ma collineVoir les arbres dormirEn refermant leurs bras
Et puis je veux encoreLancer des pierres au cielEn criant Dieu est mortUne dernière fois
À mon dernier repasJe veux voir mon âneMes poules et mes oiesMes vaches et mes femmes
À mon dernier repasJe veux voir ces drôlessesDont je fus maître et roiOu qui furent mes maîtresses
Quand j'aurai dans la panseDe quoi noyer la terreJe briserai mon verrePour faire le silence
Et chanterai à tue-têteÀ la mort qui s'avanceLes paillardes romancesQui font peur aux nonnettes
Puis je veux qu'on m'emmèneEn haut de ma collineVoir le soir qui chemineLentement vers la plaine
Et là debout encoreJ'insulterai les bourgeoisSans crainte et sans remordsUne dernière fois
Après mon dernier repasJe veux que l'on s'en ailleQu'on finisse ripailleAilleurs que sous mon toit
Après mon dernier repasJe veux que l'on m'installeAssis seul comme un roiAccueillant ses vestales
Dans ma pipe je brûleraiMes souvenirs d'enfanceMes rêves inachevésMes restes d'espérance
Et je ne garderaiPour habiller mon âmeQue l'idée d'un rosierEt qu'un prénom de femme
Puis je regarderaiLe haut de ma collineQui danse, qui se devineQui finit par sombrer
Et dans l'odeur des fleursQui bientôt s'éteindraJe sais que j'aurai peurUne dernière fois

Esta soberba canção abre a minha playlist, dedicada ao mais notável autor-compositor de origem franco-flamenga. Ele nos encantou enquanto adolescentes, encarnando todo o fulgor de revolta e de amor que nos incendiava também. 

Sabemos muito sobre a vida deste grande vulto da canção francófona, mas isso não explica nada, pois o fenómeno de criatividade, quer nas letras, quer nas melodias, continua a ser, para mim, um caso ímpar. Dificilmente, se encontra meia dúzia de interpretes/compositores, que tenham atingido a perfeição e qualidade de Jacques Brel.

Jacques Brel é também um formidável intérprete.  Tem imensa qualidade vocal, nas gravações ao vivo ou em estúdio: Elas são de grande perfeição, não apenas pela sua musicalidade, como pela sua perfeita dicção: consegue-se perceber todas as palavras, mesmo nas canções com um ritmo muito vivo.

Algumas canções do «grand Jacques» foram interpretadas por outros cantores/cantoras. Mas, para mim, nenhuma dessas interpretações (embora algumas tenham real qualidade) vale a versão original.  

Brel escreve sobre o amor, sobre os desencontros do amor, sobre os seus fracassos, sobre a condição humana, sobre os problemas sociais, sobre a guerra e a paz, sobre o militarismo, sobre a morte, etc. Dizer - porém - que é um «cantor/autor de intervenção» ou «engagé» é um bocado redutor, não se aplica ao personagem e à sua obra. Ele transcende as divisões esquerda/direita, ou ateísmo/religião. Por isso, pode ser amado ou odiado por muitos, em todos os quadrantes: as canções que eu escolhi na playlist dão, espero, uma amostra representativa das temáticas das canções de Brel.

Brel viveu apaixonadamente, nunca recusando os desafios que a vida lhe colocava. Pode dizer-se que é um exemplo de comportamento «heroico» ou voluntarista, mas não cai dentro da categoria típica das «stars», pois ele não gostava nada que os media da altura se imiscuíssem na sua vida privada. Tinha, além disso, um sentido profundo de solidariedade e de justiça social, que não era fictício, pois ele assumia estes valores que proclamava. Pode dizer-se que o seu substrato profundo fosse de um libertário social, que assumia o humanismo como herança da civilização em que estava inserido, mas rejeitava as hipocrisias dos burgueses, dos falsos devotos, etc.    

Gostaria que houvesse outros artistas como ele, que estivessem vivos e atuantes, que soubessem fazer a denúncia das iniquidades e das brutalidades dos poderosos, com a mesma verve, pois a força da expressão artística tem a capacidade de abrir os corações. Uma das coisas que mais falta faz, neste século, parece-me ser a coragem de se ser coerente com os  ideais proclamados.



domingo, 21 de janeiro de 2024

O SÉCULO DA DERROTA DO OCIDENTE

 Como qualquer poder imperial que tenha tido no passado uma expansão, o poder dos EUA, que é designado eufemisticamente por «Ocidente», está agora em declínio acelerado. Não será como a implosão da URSS, um colapso súbito, será antes um progressivo desmembrar das estruturas internas e internacionais que mantinham o sistema coeso. Esta progressiva perda de prestígio e de influência, são característicos de um Império em decadência. Esta, pode durar varias dezenas, ou mesmo, centenas de anos, nalguns casos. Mas, qualquer que seja o ritmo a que se produzem os fenómenos, eles são caracterizados por um abastardar dos valores. Contrariamente ao que uma mente imbuída de materialismo mecanicista poderia imaginar, aquilo que começa a enfraquecer, não são as estruturas materiais: as bolsas ocidentais podem continuar durante algum tempo a alimentar a ilusão de riqueza, as forças armadas do Império não deixam de ter um potencial de ataque e de destruição considerável, as sociedades  - elas próprias - não deixam de funcionar, por vezes com disfunções graves mas, no conjunto, mantendo uma aparência de normalidade. 

Não; aquilo que enfraquece de forma irreversível, é o aspeto moral ou ético; é o recuo do respeito pela legalidade; é a ausência de freio moral, sobretudo das classes dirigentes, o que se repercute em todos os níveis da sociedade;  é o abastardar das formas de representação da vontade popular; é a transformação de sociedades «liberais», em sociedades policiais, não se distinguindo o comportamento das suas polícias e dos seus tribunais, dos órgãos dos Estados que, no presente ou no passado, são classificados como «totalitários»; sobretudo, trata-se -da parte dos poderes- de impor a violenta opressão sobre os não-privilegiados, através da guerra, que serve às mil maravilhas para projetar os lucros dos consórcios militar-industriais-financeiros-tecnológicos, assim como de pretexto para a vigilância generalizada dos cidadãos; é a ocasião, sonhada pela oligarquia, para fazer passar leis que visam claramente criminalizar as dissidências.  

Quem não está plenamente a  compreender o que se passa agora, ainda está  tempo de o fazer.




Numa entrevista muito esclarecedora, Jacques Baud, antigo membro dos serviços de segurança da Suíça, foi entrevistado em TV Libertés. Nesta, ele descreve o conjunto de erros que o «Ocidente», ou seja, os poderes nos referidos países ocidentais, cometeram na avaliação da situação da Ucrânia, da Rússia e deles próprios. Seguiu-se uma dinâmica nada saudável de persistência no erro: como se o facto de se ser teimoso, pudesse magicamente reverter o erro, pudesse originar uma estratégia bem sucedida. 

O segundo elemento, é o livro de Emmanuel Todd, um conhecido geógrafo, demógrafo, analista das sociedades francesa e europeia, que escreve um livro que já é um marco inevitável no debate político e geopolítico, não apenas na sociedade francesa, como internacionalmente. Não tive ainda ocasião de o ler, mas compreendo, através daquilo que nos diz Pepe Escobar (e outros), que estamos perante o diagnóstico inapelável da decadência do Ocidente. Esta decadência é espelhada através da derrota militar, estratégica, moral e ideológica, do chamado «Ocidente» que, no espaço curto do século XXI, perdeu todo o potencial de simpatia e de possibilidade de encetar uma era de paz e de cooperação com outros poderes económicos e militares. Os governos americanos sucessivos, efetivamente controlados pelos neoconservadores - figuras pouco conhecidas, mas com muita influência na condução das políticas da Casa Branca - deixaram-se enredar na dialética duma nova guerra fria, que eles não poderão «vencer». 

Aliás, a Guerra Fria nº1, não foi o triunfo do poderio americano, antes pelo contrário, pois se tratou de uma implosão - portanto, a partir de dentro - da URSS e do sistema do Pacto de Varsóvia, porque os próprios dirigentes destes Estados compreenderam que o sistema de governança ao qual presidiam, não era sustentável, que estava condenado a ficar cada vez mais para trás na competição tecnológica com os EUA e o Ocidente, portanto, também na inovação nos sistemas bélicos, estreitamente associados às inovações tecnológicas nos campos da informática, da robótica, das tecnologias informação, ou seja, na ciência e tecnologia em geral.

Agora, o comportamento do Ocidente, prevejo, será de tentar cativar os Estados e respetivos povos, que estavam na sua orla e que tentavam não cair na dependência, de uns ou de outros. Nestes casos, prevejo que tentem a técnica da «cenoura ou do pau»: a cenoura de acordos bilaterais, o pau das sanções económicas, seguidas da força militar bruta, caso necessário.   Nos países vassalos dos EUA, pelo contrário, vai haver uma  desaparição da democracia, mesmo da democracia truncada, que existiu desde a segunda metade do século passado. Os povos não serão fáceis de vergar, porque têm um nível geral de educação que torna a propaganda terrorista dos media corporativos menos eficaz. Não se pode enganar um povo permanentemente, com mentiras sucessivas que logo se revelam como tais; uma tal circunstância não pode durar pois que, uma vez que o povo compreende como foi manipulado, é praticamente «imune» às novas campanhas de manipulação de massas. Quando o engano não já funciona, então entra o medo, ou seja, a repressão a quente, já não a supressão seletiva das vozes dissidentes, mas campanhas violentas, ao estilo dos piores regimes totalitários que a humanidade conheceu.

 Finalmente, aquilo que sobressai do panorama atual é que a civilização judaico-cristã, tal como existiu desde a queda do Império Romano até hoje, está ferida de morte. Ela não pode sobreviver aos «mil ferimentos» que são constantemente produzidos, não apenas pelos seus inimigos, como - sobretudo - pela ausência de  discernimento de altos dirigentes dos Estados, quer sejam governos ou Estados-Maiores das forças armadas. A somar a isto, dá-se uma recente e violenta negação dos valores de defesa dos direitos humanos, da liberdade, da democracia, apregoados pelos governos, embora não fossem cumpridos. As situações tornaram-se tão conspícuas que, nem mesmo uma espessa camada de propaganda, pode ocultar a verdade de que à pequena elite, só lhes interessa o poder. Esta elite, para o manter, não hesita em sacrificar centenas de milhares de vidas inocentes e em destruir a hipótese das vítimas sobreviventes poderem ter uma pátria, onde levassem uma vida decente: isto tanto se aplica à Palestina como à Ucrânia.

Não creio que esta fase, de «Guerra Fria 2.0», possa durar: Ela será instável, pois não haverá «equilíbrio do terror», como no tempo da URSS. Haverá sim, um conjunto de ações de destabilização de parte a parte que, ou se resolverão pelo desmantelamento do presente sistema geopolítico, ou talvez ocorra uma fragmentação que inviabilize a tomada de poder por qualquer entidade estatal ou supra-estatal, ao nível mundial. Dada a existência de atores sociopatas na cena mundial, dado o facto deles estarem nas mãos de poderosos lóbis, não se pode excluir, em alternativa, o cenário seguinte: Uma fuga para a frente duma psicopática e aventureira «elite» ao comando de algum Estado, que desencadeie uma guerra nuclear. Isto não está fora dos possíveis. 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O SÉCULO DE OURO, LITERALMENTE

 A de-dolarização* vai continuar ao longo do ano de 2024. Ela atinge agora um marco histórico. As reservas de ouro detidas pelos bancos centrais relativamente a Obrigações do Tesouro dos EUA, alcançaram a marca dos 50% pela primeira vez.

Gráfico nº1: Valor das reservas oficiais (Bancos Centrais) em ouro relativamente às Obrigações do Tesouro denominadas em dólares


Sendo a China a segunda maior detentora de dívida americana, sob forma de Obrigações do Tesouro dos EUA, a mudança na composição de suas reservas em ouro e em ativos denominados em dólares é muito significativa. Note-se que os valores oficiais em toneladas de ouro, contabilizadas no Banco Central Chinês (o PBC), são considerados por muitos observadores muito abaixo da realidade, pois existem grandes quantidades de ouro nas mãos do Estado, que não estão incluídas na contabilidade do referido banco central. 

Gráfico nº2:  China - o valor dos ativos em ouro em relação aos ativos de Obrigações do Tesouro dos EUA


A acumulação de ouro pelos BRICS, comparada com os ativos em ouro dos EUA e da União Europeia, vai aumentando, sem nenhum sinal de abrandamento. Alguns pensam que esta acumulação de ouro indica que será lançada no futuro próximo uma moeda comum, sustentada pelo ouro. Mas, outros observadores pensam que os BRICS, em vez de adotarem uma moeda comum, diretamente ancorada ao ouro, vão continuar as trocas em divisas nacionais respetivas, servindo o ouro como parâmetro de ajustamento nas trocas bilaterais. De qualquer maneira, o ouro nos BRICS  já desempenha um papel relevante no sistema monetário em construção.

Gráfico nº3: Ativos em ouro nos bancos centrais dos BRICS, em proporção com os ativos em ouro dos bancos centrais dos EUA e da União Europeia.

De uma forma ou de outra, o ouro está a ser reintroduzido no sistema monetário mundial. Os BRICS não são os únicos: o Banco de Compensações Internacionais estabeleceu, há vários anos, que o ouro iria ser considerado  como «Tier 1», em todo o sistema bancário (bancos centrais e comerciais). Isto significa que os Estados, as empresas e as pessoas podem usar o ouro como colateral, da mesma forma como usavam as obrigações soberanas.

(Gráficos copiados do site seguinte  

https://kingworldnews.com/eric-pomboy-what-is-happening-in-the-gold-market-is-stunning/   )

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* NB: A de-dolarização é sobretudo uma recusa em deter ou em comprar dívida do tesouro dos EUA («treasuries»). Quando um banco central vende «Treasuries», não importa por que motivo, está a adquirir dólares em troca dessas treasuries. Assim, a procura de dólares no mercado mundial das divisas aumenta pontualmente. Mas, como os EUA estão falidos, o que acontece direta ou indiretamente, é a emissão de mais dólares, para cobrir essa operação de resgate de treasuries. Ao fazê-lo, o banco central americano (a FED) está diluindo o valor do dólar. Por outro lado, ser possuidor de dólares, equivale a  ser sujeito a sanções e chantagens pelo governo dos EUA. Estas, apenas se podem efetivar através da manipulação do dólar e das contas denominadas em dólares, possuídas por entidades estrangeiras. Quem não esteja disposto a isso, mesmo sendo aliado dos EUA, vai evitar converter os seus excedentes em Treasuries e vai preferir algo que não possa ser instrumentalizado contra o próprio detentor: é o caso de barras de ouro. 

HABANERA por Emmanuel Chabrier (piano: Jorge Federico Osorio)

Fragonard: La leçon de musique


Habanera*, excerto do The French Album, por  Jorge Federico Osorio


O álbum vale pela seleção criteriosa das peças de compositores franceses do virar do século XIX, para o século XX (Gabriel Fauré, Claude Debussy, Emmanuel Chabrier, Maurice Ravel) com uma incursão no século XVIII (obras de Rameau); e vale também pela interpretação límpida, sem concessões, pondo em relevo a poesia encerrada nestas partituras.

Um prazer raro, a não perder:


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*Esta habanera, em versão de orquestra: