sexta-feira, 11 de abril de 2025

PHYLLIS BENNIS: TRUMP, NETANYAHU E A LÓGICA GENOCIDA DE ISRAEL



Phyllis Bennis é uma lutadora, lúcida e assumidamente contra o imperialismo dos EUA.

A sua firmeza permite-nos distinguir as pessoas como ela, presentes na esfera anglo-americana, com o mais elevado sentido moral e intelectual, e que contrastam com o colonialismo dos poderes.

Na Palestina sob mandato britânico, foram autorizados pelos britânicos o massacre e a expulsão (Nakba) do povo autóctone da Palestina. Estes crimes horrendos, perpetrados antes e depois da independência de Israel, pela Irgun e outros grupos sionistas, foram seguidos por quase 80 anos de apartheid e atos genocidários do Estado de Israel.

Nos EUA, Austrália, África do Sul, entre outros, o poder colonial anglossaxónico também se apropriou violentamente dos territórios, escravizando, expulsando e massacrando as populações autóctones respectivas (limpeza étnica, genocídio).




quarta-feira, 9 de abril de 2025

CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL, Nº 42: A TEMPESTADE TARIFÁRIA, OS MERCADOS E AS ALIANÇAS


Há mercados e mercados. Os mercados bolsistas, mesmo as ações das empresas mais conhecidas, ou os índices do «S&P 500» ou do «NASDAQ», apenas afetam diretamente os que investiram nesses ativos. Mesmo os «valores seguros», estão sujeitos a grandes perdas, como nos foi dado ver, nestes últimos dias, no crash da libertação a 2 de Abril

O S&P perdeu 11.5% em 3 dias, e o juro das obrigações do Tesouro a 10 anos [ 10Y UST ] situa-se agora a 4.38%. As «treasuries» dos EUA  já não podem servir como  tradicional «porto refúgio» dos capitais.

Esta mudança tectónica é, no entanto, mais significativa ainda no médio/longo prazo para os mercados de matérias-primas e produtos manufaturados, ou seja, para a «economia real», a qual afeta todas as pessoas, em todos os países.

Não tenho dúvidas de que estamos perante um crash induzido: Os que planearam este crash, no círculo de Trump, sabem perfeitamente que estas modificações bruscas de tarifas alfandegárias têm implicações a vários níveis. Não só afetam os preços das mercadorias ao consumidor, os fluxos das mesmas mercadorias, e - em consequência - os fluxos de capitais. Mas, igualmente jogam com o panorama de alianças no âmbito da IIIª Guerra Mundial.

Estas mudanças estão ainda no começo, embora as novas linhas de fratura já se vislumbrem, pelos discursos e sobretudo, pelos atos concretos dos governos. Os vassalos do império dos EUA, Starmer, Macron, Van der Leyen, etc, estão atónitos: Após a mudança de rumo nos assuntos da guerra Russo-Ucraniana, vem um «segundo punch», que os deixa a cambalear. Estão incapazes de fazer frente à nítida desautorização, pela potência tutelar que os «protegia».

Mas, a China não se deixou intimidar e respondeu exatamente com as mesmas medidas tarifárias, mas em sentido contrário às dos EUA. Além disso, e muito menos divulgado, decidiu proíbir a exportação de «terras raras» que os EUA precisam para sua indústria de eletrónica, incluindo o fabrico de «microchips» para os jets, mísseis e outras armas sofisticadas.

A China encontra-se, claramente, em vantagem; constatação consensual, qualquer que seja a simpatia ou antipatia dos observadores, em relação ao gigante asiático. Do ponto de vista das alianças, igualmente está a ganhar, com o estreitamento dos laços comerciais e a formação duma «frente comum», com os parceiros da ASEAN. Isto reveste-se de significado estratégico também, pois as (atuais e futuras) sanções ocidentais não a incomodarão; a China terá ainda maior independência comercial, em relação aos EUA e seus vassalos ocidentais. Mesmo os mais fiéis vassalos dos EUA no Extremo-Oriente (Coréia do Sul e Japão), estão dispostos a coordenar ações com a China, para minimizar o efeito do «tornado tarifário Trump» sobre as exportações.

Tudo o que se possa pensar sobre a polaridade globalização/soberanismo, está posto em causa; pois, tradicionalmente, a defesa da globalização capitalista era obra dos EUA e de seus aliados, enquanto as políticas de defesa da soberania, eram protagonizadas pela Rússia, a China e seus aliados nos BRICS...

Hoje em dia, o Mundo descobre que é um perigo bem maior, em termos comerciais e de estabilidade económica, política e geoestratégica, desenvolver laços com os EUA. Estes, serão ainda a potência económica maior em volume de capitais investidos, embora já não em termos de produção de bens industriais.

Pelo contrário, a China é um parceiro confiável: Está sempre atenta aos fatores de estabilidade, predictibilidade e recíprocidade. 
Por isso, também, é vã a tentativa de desacoplar a Rússia, da China: Estão envolvidos numa aliança a vários níveis, da defesa ao comércio, da diplomacia à construção de novas rotas terrestres e marítimas (incluindo a rota o Ártico).

Finalmente, o que deveria preocupar mais as pessoas no Ocidente, seria antes a atitude aventureira dos dirigentes, que não sabem como atuar; as suas visões estavam falseadas... mas, falseadas por eles próprios. É um caso de auto-engano, de tomarem seus desejos pela realidade. A sua credibilidade atinge mínimos, nas sondagens de opinião. Estes factos não nos devem tranquilizar, pelo contrário; pois a nossa «democracia», com todas as suas limitações já não é tolerável para os «nossos dirigentes». Eles revelaram-se naquilo que já eram, em segredo: Autocratas ao serviço das oligarquias, interessados apenas retoricamente em afirmar os valores da democracia «para dar uma imagem», para consumo do povo.
O que fazem, na realidade, é no interesse diametralmente oposto ao dos respetivos povos, das respetivas nações. 
Com leis absurdas, produzidas por eles próprios, estão muito atarefados a neutralizar  (pela censura, por processos judiciais e pelo assédio policial) todos aqueles que se atrevem a contestar a sua política. 
Os poderes têm não apenas difamado, como reprimido,  manifestantes contra a monstruosidade do genocído dos palestinianos pelos israelitas, em Gaza e na Margem Ocidental. Se isto não é fascismo em ação, expliquem-me então, o que é...

Tudo aquilo que eu temia, quando falava da destruição de um semblante de legalidade e do Estado de Direito, a propósito da repressão aos dissidentes do COVID e da campanha de «vacinação» forçada, está a ser (re)posto em prática, agora. Existe um centro operacional comum, que coordena ao nível dos países da UE e da OTAN, a repressão da dissidência. É uma contínua guerra contra a cidadania, silenciosa mas sem quartel. 
 Os poderes de Estado, violentos, têm as forças repressivas ao seu serviço e os povos estão desarmados: Os tribunais são a maior farsa e as forças de oposição parlamentar têm sido impotentes, quando não colaborantes.

O fascismo do século XXI , não só tem avançado (ver artigo de Jonathan Cook), mas já tem o atrevimento de negar, ostensivamente, os valores que enformavam a «democracia liberal» nos países da OTAN em geral e, em especial, na França, Alemanha e Reino-Unido...

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PS1: OS BRICS e a multipolaridade são fatores decisivos, que modificam qualitativamente as relações do «Sul global» com o «Ocidente global».

PS2: Veja o que tem acontecido com as compras de ouro pelo banco central da China (a azul) e com as compras/vendas de Obrigações do Tesouro US (a vermelho): O PBOC tem um meio eficaz de pressão sobre o dólar e tem exercido essa pressão, de forma consistente.


segunda-feira, 7 de abril de 2025

A sonata "Tempestade" de Beethoven, por András Schiff

 



O título  "Tempestade" não  foi dado pelo compositor. No entanto, parece adequado ao diversificado discurso musical, onde sobressaem os contrastes entre passagens alternadamente melancólicas, esperançadas, tempestuosas, serenas...   

domingo, 6 de abril de 2025

REFLETINDO SOBRE CULTURA, SABEDORIA E SABER TÉCNICO-CIENTÍFICO

 

Se fosse tão fácil medir a concentração de sabedoria, como a concentração de riqueza num país, veríamos que certos países, desprezados como «atrasados», estão muito melhor equipados nesta qualidade - a sabedoria - que outros.

 Infelizmente, a dissociação entre sabedoria e saber, entre sabedoria e poder, tem vindo a aumentar. 

As zonas europeias, cujo desenvolvimento científico e técnico se adiantou ao resto do Mundo, a partir do Século XVI, formando o núcleo da modernidade, com suas descobertas, invenções e aplicações técnicas,  produziram a 1ª Revolução Industrial (desde cerca de 1700, até ao presente). 

Igualmente, produziram armamento mortífero em quantidade e qualidade superiores às doutros povos, incluíndo civilizações florescentes e requintadas, como a China ou a Índia. 

A partir daqui e até agora, a dominação económica, política e militar foi mantida pelo chamado «Ocidente». Este, passou a incluir países que - embora na órbita geopolítica anglo-americana (como a Austrália, a Coreia do Sul, o Japão) - não são ocidentais do ponto de vista da Geografia.  

Porém, em termos de civilização, os países ocidentais possuem uma enorme fragilidade. Apesar de traços muito negativos, como a colonização, o tráfico de escravos e sua exploração, manifestavam-se outros traços, como a abertura, modernidade, tolerância relativa, os avanços científicos e tecnológicos, que foram e são ainda o motivo principal para outros povos  - mesmo não aceitando o seu domínio - reconhecerem e admirarem vários dos seus frutos. Igualmente, verificou-se que elites governantes em nações não-ocidentais, foram educadas com valores semelhantes ou idênticos aos das elites do Ocidente. 

A incapacidade de muitas pessoas comuns - e mesmo dos intelectuais - nos países ocidentais, se elevarem acima de uma visão do mundo centrada nas suas próprias raízes, tradições e valores, deve-se a uma arreigada visão racista do que seja a cultura, o valor do intelecto, da espiritualidade, etc. É frequente pensarem em termos semelhantes aos de seus antepassados, quando estes colonizavam povos e nações noutros continentes (África, Ásia, América Latina), sendo a extensão desses impérios coloniais múltiplas vezes a da área geográfica da própria metrópole colonial. Depois destes países terem perdido as suas colónias, alguns ficaram com uma espécie de «orgulho ferido», por terem «sido roubados» esses territórios coloniais à sua nação. No caso de Portugal, a incapacidade em compreender a inevitabilidade da independência das colónias africanas (Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angol, Moçambique) e asiáticas (Macau, Timor-Leste), constatei-a em contactos tidos com várias pessoas. 

É surpreendente que Portugal, um país tão atrasado, tão cheio de analfabetos, tivesse tanto orgulho em «possuir» estes territórios, que supostamente lhe pertenciam porque os «conquistou»... Na verdade, o espírito do colonialismo mais atrasado, mais retrógado, que sacrificou o próprio desenvolvimento da metrópole para manter essas colónias durante a longa guerra colonial, sem qualquer esperança de ser ganha pelo exército colonial, não desapareceu inteiramente de certos indivíduos, incluindo de membros de gerações que não conheceram o tempo da guerra colonial. 

A perpetuação desta visão, completamente distorcida da realidade, tem permitido que uma extrema-direita autóctone, com óbvios laivos racistas, se pavoneie nas ruas (e agora também no parlamento), na indiferença dos «democratas» arrumados, endinheirados, que hoje e amanhã são capazes de fazer coligações com esta extrema-direita. Isto, porque existe muita incultura, mesmo nas pessoas com diplomas universitários: Existe um vazio enorme - um quase silêncio - sobre o que foram, verdadeiramente, para os povos colonizados, os séculos em que Portugal foi a potência colonial. Há mesmo (falsos) intelectuais que se dedicam a branquear a imagem do colonialismo português, supostamente «mais brando» que o dos outros potentados europeus. 

Este complexo colonial tem efeitos graves na mentalidade de muitas pessoas. Estas, não são cultas mesmo que o aparentem: Exibem um complexo de superioridade racial, óbvio ou semi-disfarçado; uma ignorância total das contribuições dos outros povos e das personalidades notáveis destes outros povos para o desenvolvimento espiritual, científico e artístico, da humanidade no seu todo; incapacidade prática em dialogar com pessoas oriundas doutras culturas; o desprezo pela humanidade dos 4/5 da população mundial; uma total contradição com a matriz espiritual do cristianismo, a religião e berço cultural da qual esses indivíduos, quase todos, se reivindicam.  

A persistência deste complexo tem relação com a forma deturpada como lhes é ensinada a História do seu país, assim como das regiões colonizadas pelos portugueses. Tem também relação com o dogmatismo característico dos ignorantes; aqueles que menos sabem sobre um assunto, são os que falam mais sobre ele, que dão a ilusão (aos ingénuos) de possuírem uma vasta cultura e de terem estudado aprofundadamente o assunto! 

É minha convicção de que será necessário as gerações mais jovens descolarem das narrativas efabuladas e enganadoras sobre o passado do seu país, que aprendam os factos, buscando em boas e diversas fontes.  Só assim estes jóvens podem ter um papel construtivo no Mundo de hoje/amanhã. 

Os que estiverem bem equipados cientificamente, mas não do ponto de vista da sabedoria, terão menos hipóteses de ser aceites e apreciados, em trabalhos de equipa. Pelo contrário, os que tiverem abertura maior às outras culturas, a outras espiritualidades, todas elas dignas e representativas da riqueza da humanidade, não serão marginalizados, serão bem acolhidos e terão experiências gratificantes, como muitos de nós tivemos. 

TRUMP, 2 DE ABRIL, EUA: DIA DA LIBERTAÇÃO... PARA QUEM???

 


Segundo Peter Schiff, o dia "da libertação " de Donald Trump vai ser o começo  de um período extremamente penoso para os consumidores dos EUA, de aprofundamento da crise de solvência  das contas públicas, de aceleração  da inflação americana e de escassez de bens e matérias-primas no mercado americano. 

Mas não será  necessariamente assim para o resto do mundo. Será fácil para as economias que exportavam para os EUA bens de consumo, reorientarem-se para outros mercados, incluindo os dos países  emergentes. Haverá também  mais capitais disponíveis para investir nestas economias. Se os países emergentes não imitarem os americanos, taxando tudo e todos indiscriminadamente, vão melhorar a sua posição na competição  mundial. Seria irónico  mas muito justo, que - afinal  - este dia (2 de Abril de 2025) da imposição de tarifas alfandegárias pelos EUA, fosse O DIA DA LIBERTAÇÃO DO MUNDO* DA PARASITAGEM DOS ESTADOS UNIDOS SOBRE AS ECONOMIAS DOS PAÍSES  EXPORTADORES.

(*Dentro de um ano, a 02 de Abril de 2026, penso que já estaremos em condições de fazer um primeiro balanço do efeito dessas medidas na economia dos EUA e no Mundo)

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PS1: Prof. Warwick Powell considera aas tarifas uma prenda para a China e os BRICS. Veja AQUI

PS2: Um americano com muita experiência vivida na China explica-nos porque as subidas tarifárias não poderão atingir os objetivos pretendidos por Trump:

https://herecomeschina.substack.com/p/america-underestimates-the-difficulty

sexta-feira, 4 de abril de 2025

QUANTO MAIS GRAVES AS ATROCIDADES EM GAZA, MAIS SILENCIOSA É A BBC [JONATHAN COOK]


The graver Israel’s atrocities in Gaza, the quieter the BBC grows
Once again the UK state broadcaster goes missing in action – this time at the discovery of a mass grave of emergency workers executed by Israel                           

https://substack.com/@jonathancookOs nossos políticos têm consentido com tudo o que tem sido feito pelo Estado de Israel, e não apenas em Gaza, nos últimos 18 meses. Este genocídio tem sido cometido ao longo de decénios.


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PS1: Acumulam-se mais provas de que as alegadas violações em massa de mulheres israelitas pelo Hamas, no 7 de Outubro, eram uma completa fabricação de propaganda. Veja aqui: