segunda-feira, 2 de janeiro de 2023
Debussy: Suite Bergamasque (interprete: Seong-Jin Cho)
CRISE ENERGÉTICA; SUA ORIGEM E A QUEM BENEFICIA
domingo, 1 de janeiro de 2023
FUNDO SOBERANO RUSSO AUTORIZADO A SUBIR PERCENTAGEM DE YUAN ATÉ 60%
sábado, 31 de dezembro de 2022
A CRISE DA ESQUERDA E PORQUE ISSO É GRAVE PARA TODOS
Neste fim de ano de 2022, gostaria de vos dar, senão uma perspetiva sorridente do ano que vem aí, pelo menos apresentar-vos alguma paisagem com uma nesga de céu azul de esperança. Mas, tal não será fácil de acontecer, pelo menos na transição de 2022 para 2023, apesar de que todos - subjetivamente - nos sentimos atraídos para o otimismo, nestas épocas.
É difícil e penoso explicar-vos a enorme revolta que sinto, quando penso na evolução que o mundo está a tomar. Mas, após esse pensamento inicial, pergunto-me: «como é que chegámos aqui?». Qual o fio condutor que nos leva - durante estes anos todos - a chegar com a quase fatalidade da tragédia, ao estado presente do mundo e das nossas sociedades?
As raízes do mal presente são tão fundas, que preciso recuar no tempo (pelo menos) até aos alvores das democracias. Contrariamente ao que muitos podem pensar, as democracias na Europa e América do Norte, não se instauraram de uma vez, como resultado de uma «revolução». Foi um processo lento, com períodos muito conturbados, é certo, mas com a persistente vontade dos povos a serem representados ao nível das estruturas de poder. Qualquer que seja a democracia que daí decorreu, quer mais «parlamentar», quer mais «presidencial», todas elas se basearam no princípio da representação.
O princípio da representação, como fundamento de um Estado democrático, eis o que nos soa a natural, a óbvio.
Porém, ao nível de grandes conjuntos populacionais, não existe nunca uma representação, sem que o processo ocorra através de representantes políticos eleitos. Então essa pedra-angular da representação (como diziam os revolucionários liberais americanos: não pode haver taxação sem representação) foi substituída por outro critério, muito menos transparente, que é o «princípio da eleição».
Ora, como tenho várias vezes escrito neste blog e noutros locais, a representação é inevitavelmente falseada pelos mecanismos eleitorais, que dão peso - implicitamente - a quem tem mais poder económico. Os magnates «gostam» de entregar milhares ou milhões a partidos e seus candidatos, não porque estes tenham a sua simpatia ideológica. Mas, antes porque assim os têm «na mão». Ou seja, o partido ou candidato que «morder a mão que lhe dá de comer», já sabe que, na próxima eleição, não terá subsídios (meios de corrupção) para conseguir atender às importantes e inevitáveis despesas eleitorais. Não será eleito, porque a campanha de propaganda de seu(s) adversário(s) estava melhor subsidiada, portanto, as campanhas rivais «convenceram» o eleitorado, em detrimento da campanha do «partido ingrato».
Perante este esquema de corrupção estrutural, não existe verdadeira democracia, pois a representação do dinheiro (quem tem mais dólares, mais euros, etc. e que os podem investir nas campanhas) é quem inevitavelmente ganha. Não são mesmo necessárias grandes fraudes, ao nível da votação ou da contagem dos votos. Os partidos que compõem o leque parlamentar e sobretudo, o leque dos elegíveis para cargos de governo, acabam sempre por ser partidos em consonância com o sistema, mesmo que alguns tenham posturas radicais de direita ou de esquerda.
O que se constata da história das democracias, é que não são poucos os casos históricos de partidos de esquerda que chegaram ao poder, para logo - ou passado pouco tempo - governarem, não em função da vontade dos seus eleitores (em geral, da classe trabalhadora e da burguesia mais modesta), mas dos interesses dos grandes capitalistas. Justificam estas viragens com o «interesse nacional», ou outra frase-feita, suficientemente vaga, para que não seja fácil demonstrar a falácia.
A partir de certo ponto, que começou no início do século vinte, deu-se a rendição da social-democracia; eram partidos inicialmente revolucionários, que pretendiam derrubar o capitalismo e instaurar o socialismo. Sucessivas ondas de (ditos) representantes do proletariado, nas democracias ditas liberais, tiveram o mesmo destino; iniciaram a sua atividade parlamentar como forças de «fora» do sistema, mas em pouco tempo integraram-se inteiramente na mecânica parlamentar. Quando vemos isto, podemos ficar desencorajados, pois é um mecanismo que não pode ser mudado facilmente; o mecanismo da cooptação é o que melhor garante a continuidade do status- quo.
Aquilo que se está a passar neste momento trágico na Ucrânia, é devido à rendição das diversas esquerdas, que jogaram o jogo do belicismo. Isto é válido em todos os países da Europa, incluindo claro, a Rússia. Mas, sobretudo, as forças mais poderosas da esquerda, as que se agrupam na chamada 2ª Internacional Socialista, que têm tido governos ou forças parlamentares de oposição fortes em praticamente todos os países da Europa ocidental, todas se alinharam com o belicismo: Marcharam todas integrando o desfile militar, a passo cadenciado, a mando dos que dominam, da oligarquia. Uma guerra, sobretudo destas dimensões (pan-europeia, na verdade), é sempre impulsionada pela ínfima minoria que explora e domina a maior parte da riqueza criada e que tem manobrado os governos, através do seu controlo das finanças, da média, da corrupção dos partidos, dos peritos e especialistas.
O dilema de uma força de esquerda parlamentar é, hoje, bastante claro:
- Ou se retira da fantochada eleitoral e a breve trecho desaparece, como força organizada ao nível nacional, reduzindo-se à dimensão de «seita»;
- Ou se mantém, mesmo que diga que o faz «criticamente», mas o seu objetivo acaba por ser a manutenção e expansão da representação parlamentar, com o objetivo de vir a ser convidada e participar num governo de centro-esquerda.
Não creio que possa existir uma «terceira» via, para partidos de esquerda, que escolheram a via de colaboração com o sistema. É esta a mensagem implícita que nos dão as suas estratégias e táticas, as suas tomadas de posição e declarações. Claro, não vão dizer ao eleitorado, largamente das classes mais pobres, «nós vamos continuar a política de centro-direita/centro esquerda» e «vocês devem votar em nós, porque nós somos os bons, os competentes, etc.» Claro que a sinceridade está fora do jogo do parlamentarismo. São enganadas muitas pessoas, convencidas de que a transição para o socialismo está ao virar da esquina, bastando para isso votar nos partidos que têm advogado o socialismo. É dentro desta alienação que opera toda a esquerda parlamentar, hoje em dia.
Não quero deixar a impressão de que tenho uma saída - de curto prazo - para este problema. Não a tenho e confesso-o sem hesitar.
Porém, a única forma de transformar a realidade política e social em profundidade é através da educação, é pela educação que as pessoas se tornam críticas, que são capazes de raciocinar e de estudar por si próprias, aprendendo não só aspetos «técnicos» dos assuntos, mas também as questões mais profundas. Uma educação verdadeira implica conhecimento, o estudo de livros e artigos sobre Filosofia, Política, Sociologia, Psicologia e História. É de constatar que a escola de hoje está muito longe de encorajar a independência de espírito. As pessoas que organizaram os curricula - desde curricula da escola primária até ao ensino superior- são pessoas da inteira confiança da classe dominante. A escola não é um corpo separado do resto da sociedade, mas é atravessado pelas contradições que nela se exprimem. Apesar disso, a educação, mesmo que não tenha sequer uma réstia de crítica ao poder dominante, é sempre perigosa para este, pois alguns filhos da classe oprimida, conseguem atingir um nível de compreensão aprofundada das matérias e destes, uns poucos, serão críticos da realidade social que se lhes depara.
Concedo que um partido pudesse ser o veículo dessa educação independente, não enfeudada a interesses de classe, que são os tipos de ensino dominantes nas escolas superiores e universidades, controladas por vários arautos da burguesia. Mas, a verdade é que este tipo de educação, muitas vezes, se limita a formar quadros do próprio partido. Assim, a educação popular, em todas as esferas da atividade não pode ser veiculada por qualquer partido, mesmo que este tenha as melhores intenções do mundo. Porém, organizações populares de base, não enfeudadas a nenhum partido, poderiam desempenhar um papel muito mais relevante do que o fazem hoje: Cooperativas, associações populares, associações de vizinhança, sindicatos (não controlados por nenhum partido) etc., podem ser um bom terreno para a emergência duma cultura não-elitista, que proporcione as mesmas oportunidades a todos .
Se o mundo sobreviver entretanto, talvez daqui a muitos anos haja uma transformação qualitativa nas sociedades e seja ultrapassada a etapa capitalista, em que nos encontramos. Parece-me afinal mais construtivo apontar para um objetivo longínquo mas realizável, do que insistir na fórmula vazia (corrompida e corruptora) do parlamentarismo. Os políticos «profissionais» de esquerda, que sabem isso melhor que ninguém, vivem do engano dos seus eleitores.
Não é verdade que a «esquerda», por o ser, tenha uma qualquer vantagem moral sobre as formações políticas de direita, ou de centro. A mitificação da esquerda, como superior moralmente às outras forças, traduz-se numa autoilusão, numa alucinação mesmo (nalguns casos) de militantes de base sinceros; enquanto os outros, sobretudo dos escalões de topo e intermédios, têm sobretudo uma enorme sede de poder e não são de modo nenhum sinceros.
Costumo dizer que a melhor maneira de nos corrigirmos, é olharmos para nós próprios e vermos realmente aquilo que nós fizemos de certo ou de errado. É uma autoanálise praticada pelos filósofos desde a antiguidade greco-romana, pelo menos. Também faz parte do ensinamento de muitas escolas filosóficas do Oriente: do Confucianismo, do Budismo Zen. Está igualmente presente no Cristianismo, no Judaísmo e no Alcorão. Em correntes leninistas e maoistas, encontramos apelos à «crítica e autocrítica»; encontramos semelhante apelo para a introspeção em filósofos influenciados pela psicanálise, ou em pós-modernistas. Podemos encontrar em muitas filosofias, não-europeias, este apelo; a própria «sabedoria das nações», repositório da experiência multissecular dos povos, vai nesse sentido. Seria de esperar que tal fosse praticado pelo povo de esquerda também, ou seja, pelos que não se deixaram corromper e que não têm a soberba de achar que o mundo todo está errado, que eles é que estão certos.
Um bom ano de lutas para 2023!
Uma ilustração de humor satírico de William Banzai
https://www.zerohedge.com/news/2022-12-30/stay-woke
quinta-feira, 29 de dezembro de 2022
A CRISE DAS RELIGIÕES E O SEU SIGNIFICADO
Este século, ainda tão jovem, já está bem cheio de acontecimentos - mas não de quaisquer!
- Acontecimentos suficientemente graves e irreversíveis para mudarem para sempre a(s) civilização/ões, que estamos acostumados a associar a determinadas zonas geográficas e a determinadas tradições: A História, a Arte, a Literatura e a Religião, são - entre outras - identificadoras de determinado complexo cultural ou civilização.
Embora saibamos que todas as civilizações são mortais, tal como os humanos, não sabemos que género de morte espera cada uma delas. Será uma morte por colapso catastrófico? Será um definhar progressivo, até ser englobada por outra, ascendente? Serão outras modalidades, demasiadas para enumerar aqui?
As religiões não podem ser estranhas à construção civilizacional pois, em qualquer civilização, mesmo nas que se proclamam oficialmente «ateias», acaba por haver fenómenos de tipo religioso.
Inversamente, em civilizações que se identificam, a si próprias, como cristãs, nota-se a dissolução progressiva dos laços da população com o elemento cristão.
Isto traduz-se - por exemplo - numa paganização do Natal, a época do ano em que tradicionalmente os cristãos de todas as confissões saudavam a vinda do Salvador. O mesmo, em relação à paganização da Páscoa, transformada em ocasião para dar ovos e coelhos de chocolate às crianças.
Esta paganização não se faz, no mundo cristão, sob forma de um qualquer ressuscitar das religiões pagãs que antecederam o aparecimento do Cristianismo nesses territórios. Faz-se com o abandono de tradições e, sobretudo, de assistência ao(s) culto(s). Muitos são aqueles que dizem professar o cristianismo e, no entanto, não observam quase nenhuma tradição, não vão à missa (ou culto) dominical, apenas frequentam igrejas, quando se trata de um casamento, batizado ou enterro.
O estádio último desta descristianização, verifiquei-o há poucos anos, na belíssima capital da República Checa. As igrejas do centro de Praga (magníficos monumentos barrocos, na sua maioria) estavam transformadas em locais de concertos (de música clássica em geral, mas não de música clássica sacra) e isto não era temporário. Tinham sido permanentemente transformadas em «salas de concerto históricas», pela muito pragmática razão de que o número de pessoas, na vizinhança, dispostas a frequentar essas igrejas era tão diminuto, que elas deixaram de ter sustentabilidade económica e, sobretudo, de centros vivos de cristianismo.
O principal «culpado» aqui, não é o Estado, diretamente - pelo menos - mas o processo de «gentrificação» dos centros históricos, que também afeta - de modo insidioso, mas brutal - Lisboa e muitas outras capitais da Europa.
Assim, o turismo, fonte preciosa de divisas e estimulador de atividade económica está a contribuir para matar os centros culturais. Isto passa-se em países como França, Espanha, Itália, Grécia e outros, muito turísticos. Todos sofrem de uma gentrificação dos locais mais emblemáticos. Estes centros mais investidos pelo turismo, são locais com maior significado monumental e histórico, os centros civilizacionais desses países.
A «verdadeira religião é o dinheiro», mas esta frase banal, não deixa de soar como grave sentença de morte, de civilizações que se construíram em torno de determinada espiritualidade.
Pode-se argumentar que a espiritualidade se mantém em indivíduos que não são religiosos. É verdade: No entanto, ao nível de um todo civilizacional, de uma sociedade inteira, isso nunca aconteceu. Basta ver-se o renovo do cristianismo ortodoxo, que já antes da queda da URSS, tinha um aumento sensível de adesão. É portanto, uma regra empírica, constatar-se que onde esmorece a tradição religiosa, com cultos e clero, também a religião «popular» recua. Verifica-se o inverso, quando há um renovo da(s) Igreja(s), este acompanha, em paralelo, a evolução da sociedade.
Tudo o que sei sobre as civilizações do passado, é que uma civilização em ascenso vai propulsionar, senão criar mesmo, um determinado movimento religioso. Por outro lado, a espiritualidade não desaparece quando, por motivos políticos e ideológicos (como no Estalinismo ou na Revolução Cultural Maoista), se combatem ativamente a difusão ou, mesmo, a existência de religiões.
Há uma necessidade profunda, que pode ultrapassar a explícita adesão a determinado credo religioso. Penso que a humanidade não pode viver com uma visão estreita, «materialista» da vida, da Natureza e do próprio ser humano. O materialismo de hoje, acantona-se numa forma estreita de propaganda antirreligiosa. Não me parece que haja uma oposição entre a espiritualidade de hoje e a aceitação e mesmo a procura ativa de saber científico. Acho mesmo que esta contradição é um subproduto de ideologias do século XIX (sobretudo, do cientismo e do ateísmo «militante»).
É verdade que as religiões, na sua vertente exterior, perante a sociedade concreta, não foram capazes, muitas vezes, de fazer atualizações que se impunham. Imagine-se alguém do clero, formado/a na perspetiva de que, aceitar a ideia de Evolução biológica e do Homem, era uma heresia intransponível e um passo para a mais total negação de Deus, ou seja, para o ateísmo. Este doutrinamento atravessou várias gerações. Portanto, não se pode ter a ilusão de que as formas de pensar morrem quando desaparecem os criadores ou primeiros cultores de determinada corrente.
Para ilustrar isso, basta-me evocar a estranha - para mim - forma de abordar a sociedade e todos os fenómenos através de um prisma marxista. O marxismo é um exemplo importante e típico de uma religião sem Deus. Mas tudo nele aponta para o fenómeno religioso, como forma de ver o Mundo e o Universo, como se fossem apenas inteligíveis através da «ciência marxista» (que, afinal, é apenas «cientismo»).
Seria muito estranho que, caso a «ciência do marxismo» fosse verdadeira, o mundo científico atual estivesse totalmente divorciado da filosofia / ideologia do marxismo: Note-se que não é uma teoria esotérica, muitos terão tido contacto com ela; muitos cientistas terão mesmo estado convencidos, durante uma etapa de suas vidas, de que se tratava de uma forma de pensar adequada à ciência. Mas, nada disto é verdadeiro, para a imensa maioria dos cientistas de hoje.
Ao fazerem ciência, não invocam « S. Marx ou S. Engels, ou S. Lenine», da mesma forma que não invocam os Santos cristãos, nem os Deuses pagãos. Têm, como pessoas cultas, conhecimento de correntes filosóficas e de religiões. Mas, na sua imensa maioria, nem escrevem sobre a relação da ciência que praticam, com a espiritualidade.
Noutras partes do globo, eventualmente, os fenómenos serão divergentes. Eu tenho de me limitar ao que conheço melhor. Não acredito que as diversas civilizações se tenham fundido numa só, ou que esta fusão esteja em curso. Tenho observado mesmo que diversas civilizações afirmam cada vez mais as suas idiossincrasias, para fazer face ao globalismo, largamente promovido por ocidentais.
Embora não seja uma ideologia cristã, o globalismo da nossa época, enquanto veículo de dominação ideológica, é propagado por pessoas, algumas das quais se afirmam como «cristãs» (não é senão uma capa, para elas, a meu ver).
Estou convicto de que as ideias profundas que os homens podem produzir hoje, estão radicadas na essência da humanidade, daí que não seja difícil encontrar ensinamentos de sabedoria, de espiritualidade e sensibilidade estética, em civilizações passadas, hoje consideradas «mortas». Porém, sua existência foi um passo, uma etapa, para o que a humanidade é, hoje.
Os aspetos espirituais, têm a sua evolução própria, de certa forma, análoga com a evolução biológica. Os traços da evolução biológica não pararam nos alvores da espécie humana, pois a evolução continua aos vários níveis (genético, anatómico, fisiológico, comportamental) nos humanos do século XXI.
A cultura e a religião, a pertença a um dado universo mental, a uma forma de compreender o Todo Universal, nada disso pode congelar, tudo se vai transformando. As formas de religião também evoluem; cabe aos contemporâneos atuar no sentido de não «deitar fora o bebé, com a água do banho», isto é, não se deixarem iludir com formas transitórias do fenómeno religioso, como se estas fossem a essência e razão de ser das religiões.
Sou tão incapaz de descrever as formas que as religiões irão adotar no futuro, como de antever como as sociedades serão organizadas. A minha aposta, porém, é que continuarão a existir valores e que podemos procurá-los em civilizações passadas. Não posso saber quais serão selecionados, da profusão de filosofias, de formas e conteúdos, de mitos, de relatos, etc.. Mas possuo a certeza íntima de que as civilizações futuras irão guardar alguns valores, adaptando-os à sua época.
Foto de ruínas do Convento do Carmo, Lisboa
ACREDITAR OU NÃO ACREDITAR, EIS A QUESTÃO!
NA CIÊNCIA, ACREDITAMOS?
NO ESTADO, ACREDITAMOS?
NOS MEDIA, ACREDITAMOS?
NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS, ACREDITAMOS?
William Banzai: https://www.zerohedge.com/news/2022-12-27/trust-scienceNão sei se repararam, o verbo «acreditar» é que junta estas frases todas entre si. Mas o que é acreditar: É dar crédito a ...uma pessoa, uma ideia, uma religião, etc.
As coisas repetem-se, no que toca à credulidade.
Fazem as pessoas acreditar que um coronavírus é muito perigoso e causa imensos estragos, que a única maneira de nos vermos livres desse pesadelo é andarmos mascarados, enquanto não recebemos uma injeção duma «vacina» experimental (= um veículo de clonagem contendo um gene viral), e nós temos de «acreditar» que esta seja salvadora (1).
Depois, constatamos que acreditámos nos media, nas autoridades de Saúde, nos fabricantes de vacinas, mas eles «enganaram-se» um pouco e, afinal, estas vacinas não previnem o contágio (curioso, como conservam o nome de «vacina» para algo que nem sequer previne o contágio). O pior é que as tais vacinas, «totalmente seguras», causam miocardites, AVCs e outros efeitos secundários graves, em pessoas saudáveis, com frequência superior a quaisquer outras vacinas, para outras doenças, que tenham sido aplicadas a largas populações. A partir daqui, passam a chamar de «mortes por COVID», às mortes por injeção de «vacina» contra o COVID (2).
No caso da guerra com a Ucrânia, dizem eles que a culpa é toda dos russos e de Putin. Mas, «esquecem-se» de dizer que, pelo menos 6 milhões de russos étnicos, vivendo nas Repúblicas separatistas do Don, foram, durante 8 anos acossados, bombardeados, massacrados, num conflito étnico brutal. O silêncio mediático e das chancelarias ocidentais, não foi suficiente para que tais atos fossem completamente ignorados e existem bastas provas desses crimes (3).
Na realidade, segundo o ponto de vista de altos responsáveis de países da NATO, não é «tolerável» que um país (a Rússia) seja tão privilegiado, que tenha, não apenas petróleo e gás natural suficientes para mais de um século, para si e para vender; também com tantos minerais estratégicos, com tanto território (o maior país do mundo, em área) e com potencial que não foi totalmente explorado (4).
Embora não seja frequente - nos media ocidentais - ser discutida a questão das riquezas naturais da Rússia, é ainda menos frequente ouvir-se falar daquilo que os responsáveis da NATO gostariam de fazer com ela: Ou seja, transformar este imenso território numa manta de retalhos de pequenas nações, onde cada nova entidade ficaria sem poder efetivo para negociar a cedência (por preços ridículos) de tais riquezas que, como devem calcular, estarão destinadas aos «civilizados» do Ocidente. Naturalmente, estes mesmos que têm iluminado as nações que ajudam (5).
Basta ver os «fogos de artifício» resultantes da alegria dos autóctones, desejosos de aderir ao modo de vida ocidental ... ou será fogo causado por bombas napalm, bombas de fragmentação, e outras «prendas» que os prestimosos serviços aéreos lhes enviam como «ajuda», a esses povos atrasados???
Como não podia deixar de ser, visto que há guerra na Ucrânia, temos da acreditar nos «correspondentes» ocidentais em Kiev, ou nas capitais de países da OTAN. Eles não param de enviar copiosas «análises», do que se passa no terreno. Diga-se, em abono da verdade, que são totalmente impermeáveis à propaganda russa. Pelo que os órgãos de informação ocidental têm mostrado que as forças armadas ucranianas têm estado a vencer a guerra e que - a qualquer momento - virá a contraofensiva que destruirá o moral das tropas russas e logo a população russa irá erguer-se em massa contra Putin, o pior facínora que jamais apareceu à face da Terra. Enfim, apenas vos dou uma pequena amostra da «objetiva» media ocidental, que tem alimentado a «reflexão» de tantos defensores da democracia, que é uma maravilha. Só me resta uma dúvida; Por que razão eles não se mexem ou falam, quando são oprimidos e esmagados países pelas tropas «especiais» do mesmo Ocidente e os mercenários por eles alimentados e armados? Vá-se lá saber porquê... um mistério!
Têm os governos e a media ocidentais declarado que esta guerra na Ucrânia é muito perigosa, que pode desencadear uma escalada para um confronto nuclear. Porém, este facto objetivo nunca é justaposto na média e nos discurso oficiais, com o não menos objetivo facto de o tão odiado Putin ter repetidas vezes dito estar aberto a negociações de paz. Mas a isso, a resposta das chancelarias do Ocidente é um silêncio ensurdecedor. Ou antes, em vez de resposta da diplomacia, enviam-se armas, em cada vez maior número e mais poderosas, aos beligerantes do «nosso» lado, os «Azov» e outros nazis. Não há dúvida que o mundo todo deveria estar extasiado pela bondade e generosidade do Ocidente.
Se tal não acontece, é porque são uns ingratos, só merecem aquilo que têm: São países atrasados, que apesar do nosso papel civilizador em África, Ásia, América Latina e Oceânia, não souberam aproveitar os benefícios da nossa ocidental generosidade. Agora voltam-se, os ingratos, para a China, que lhes proporciona «pequenas coisas» tais como caminhos-de-ferro, boas estradas, modernos portos e aeroportos, em condições muito razoáveis para os tais países em desenvolvimento, com pagamentos suaves, em períodos alargados. É verdade que, com isso, poderão arrancar-se ao ciclo do neocolonialismo, deixarão de ter de vender os minerais e produtos agrícolas aos países do Ocidente, a troco de armas, aviões, carros blindados, obsoletos aqui no Ocidente, mas que são perfeitos para as guerras regionais que carinhosamente nós lhes cozinhamos, para os entreter!
Ouvi -no outro dia- alguém, um académico estrangeiro, vaticinar que o Ocidente está muito perto da derrocada, que em todo o lado há sinais de decadência, de corrupção e de brutalidade, que estes sinais já não podem ser disfarçados por retórica «democrática». Mas, claro, vê-se logo que não passa dum «agente de Putin». Porque os principais líderes de opinião do Ocidente, desde Biden a Van der Leyen, desde Trudeau até Klaus Schwab, todos eles nos dizem que estamos no início duma era nova, a «4ª Revolução Industrial». Porque não haveria de acreditar neles? A comunicação social está sempre a apresentar-nos os pontos de vista de personalidades célebres: Todos eles concordam com tal visão do futuro. Quem sou eu para duvidar de gente tão ilustre?
E os bancos? Ah, os bancos e instituições financeiras... como eles gostam do nosso dinheiro! É um mimo vê-los a aproveitarem-se da nossa insaciável gula, do nosso desejo de enriquecer, para eles se banquetearem. Os media também aqui prestam um excelente serviço, embora mais às instituições financeiras, do que a ti, caro leitor. Se eu lesse todas as coisas que escrevem e se «acreditasse» nelas, seria - com certeza - «tosquiado» e alguém ficaria um pouco mais afortunado, do que já era. A bolsa é um «jogo» de soma zero: O que significa que, aquilo que uma pessoa ganha, outra perde. Na economia, em geral, pode não ser assim: por exemplo, numa empresa que saiba aplicar uma estratégia inteligente, os empréstimos que fizer irão para o aumento da produtividade, ou para a expansão do negócio.
Mas, numa economia financeirizada como é a nossa (6), as empresas vão antes fazer lucros através das suas aplicações financeiras. É típico grandes empresas fazerem auto compra dos seus títulos nas bolsas, para aumentar artificialmente o valor das ações. Multiplicaram-se as empresas que se dedicam à gestão de produtos financeiros (por exemplo CDS, ou outros derivados). Tais empresas sabem proteger-se das perdas; os riscos e potenciais perdas, são transferidos para os compradores desses produtos financeiros. Quanto às pessoas atraídas pela miragem dum lucro fácil, elas vão investir no topo dos ciclos. Estas, de certeza, irão ter perdas avultadas. O facto de acreditarem em miragens do dinheiro especulativo, é sinónimo, para tais investidores, de serem depenados!
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(1) O artigo abaixo descreve como as coisas se passaram, em relação ao «golpe de estado global» a pretexto da pandemia de covid:
https://unlimitedhangout.com/2022/11/investigative-reports/covid-19-mass-formation-or-mass-atrocity/?utm_source=substack&utm_medium=email
(2) Os numerosos casos de efeitos secundários graves, incluindo letais, da «vacina anti- COVID» foram denunciados por vários autores. Mas, esta inquietante realidade ficou encoberta «casualmente» pela invasão russa de 24 de Fevereiro:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/02/lesoes-e-mortes-subitas-apos-vacinas.html
(3) É esclarecedora a leitura crítica que Patrick Lawrence faz das declarações da ex-Chanceler Ângela Merkel a dois jornais alemães. Mostram tais entrevistas, o real posicionamento do Ocidente face à Rússia:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/12/a-alemanha-e-as-mentiras-do-imperio-por.html
(4) Na realidade, para os neocons que controlam o Estado profundo nos EUA a Guerra Fria (nº1) nunca acabou:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/11/campanha-contra-russia-assemelha-se-as.html
(5) Os recursos, sempre os recursos... É esta a motivação real das forças atlantistas, para a nova Guerra Mundial não declarada, mas efetiva:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/02/mais-um-episodio-da-iii-guerra-mundial.html
(6) Não conheço melhor que Michael Hudson, para nos explicar em que consiste a viragem na economia ocidental, do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/12/entrevista-com-o-prof-michael-hudson.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/12/entrevista-com-o-prof-michael-hudson_20.html
quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
UMA DAS PIORES ARMAS DE DESTRUIÇÃO MASSIVA [PROPAGANDA 21, nº17]
Esta ilustração do blog de John Helmer, está inserida numa reflexão irónica e de humor negro sobre a «bomba castrante». Eu reconheço muito bem os efeitos dessa bomba. Vejo cada vez mais pessoas no meu país, e além dele, que têm a capacidade de andar normalmente, veem sem problemas, ouvem, falam... mas ficaram incapazes de pensar, de ter ideias críticas em relação à propaganda constante e venenosa dos media e dos governos:
- O agente ativo desta bomba destruidora do pensamento crítico, não é, creio, um agente químico, como o «novichok », pois este faria um dano irreversível a vários aparelhos e órgãos corporais das vítimas. Ou, pelo menos, caso o agente seja químico, então será como um anestésico, que temporariamente adormece a capacidade racional dos indivíduos.
PS1: Para teres uma ideia das guerras de propaganda em torno de redes sociais, Tik-Tok, Facebook, Google, etc., consulta o artigo de Glenn Greenwald, aqui:
PS2: Os aparelhos de propaganda servem-se que quaisquer ideologias para chegarem aos seus fins (a dominação global).