Porque razão os bancos centrais asiáticos estão a comprar toneladas de ouro? - Não é ouro em si mesmo que lhes importa neste momento, mas é a forma mais expedita de se livrarem de US dollars!!
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domingo, 3 de dezembro de 2023

SE ESTAMOS A VIVER NUMA ÉPOCA EXCECIONAL...

 Se estamos a viver numa época excecional, então devemos cuidadosamente rever todos os conceitos aos quais estávamos mais ligados. Devemos analisá-los criticamente, à luz das realidades emergentes e ver quais os que podem ser resgatados, quais devem ser reformulados e quais os que devem ser «deitados para o caixote de lixo».

Quando reflito sobre isto, a minha mente é imediatamente atraída pela palavra «contenção». Com efeito, as circunstâncias gerais, em cada sociedade e cada vida privada, tornaram-se de tal maneira voláteis, que nós devemos nos interrogar sobre a nossa «grelha de leitura» da realidade. 

Com efeito, os parâmetros que considerámos para avaliar a realidade  social, aqueles sobre os quais nos baseámos no passado, até mesmo no passado mais recente, ou se tornaram obviamente caducos, ou têm de ser reformulados, no todo ou em parte. 

As pessoas que não façam esse exercício, irão sofrer, nas condições de instabilidade e perturbação profunda que agora se estão a revelar. Elas irão  ser arrastadas/induzidas a tomar posições sobre as quais não tinham refletido previamente. 

Assim, em todos os aspetos da vida,  deve-se ser particularmente cuidadoso, não tomar os desejos pela realidade, não pronunciar juízos definitivos, sobre aquilo que parece ser, no momento. 

Dito isto, é verdade que as escolhas que fizermos poderão ser decisivas para nós, pessoalmente e socialmente. O que vi acontecer com muitos, é que tentam «encaixar» as inéditas situações, no molde envelhecido das suas ideologias. Seria este um caso para evocar a parábola bíblica do «vinho novo, em odres velhos».

As novas situações não têm «resposta» em escritos de filósofos, políticos ou economistas, que pensaram e escreveram em contextos totalmente diversos da atualidade. A única coisa de que podemos ter a certeza, é que não existem, em sociologia, economia, ou história, teorias preditivas verdadeiras, genuínas. As que são formuladas, correspondem apenas à visão do Mundo e ao desejo dos seus autores. Ora, esta visão do Mundo, mesmo que fosse muito adequada quando a escreveram, não poderia ter em conta toda a panóplia de descobertas e de ideias que se desenvolveram, entretanto. 

Num período de crise, como dizia corretamente Lenine, há semanas que são tão densas em acontecimentos, que parece que passaram anos. Esses acontecimentos são imprevisíveis no seu desenrolar. Mesmo que sejam previsíveis no seu desencadear. Por exemplo: uma guerra, pode ser previsível, ao se analisar as posições e movimentos das diversas potências. Mas, ninguém pode prever que uma tal guerra futura se desenrole desta ou daquela maneira. Que dure apenas uma semana, ou dez anos. Que dê a vitória inequívoca a um dos lados, ou que se arraste e esgote o lado mais forte. Que o lado mais forte inicialmente, mesmo que vença militarmente, acabe por experimentar o princípio da sua derrocada.

As situações de imprevisibilidade nos mercados são ainda mais patentes. Os que «pilotam» os bancos centrais, munidos de poderosos instrumentos para agir sobre mercados financeiros e a economia geral, não têm o poder que se lhes empresta. São o aprendiz do conto do «Aprendiz -feiticeiro». As economias vivem sujeitas ao caos completo, onde sábias e prudentes decisões são impossíveis de tomar. Os dirigentes efetuam meros «passes de mágica», de tal modo que o vulgo acredita que eles detêm enorme poder. 

A atitude mais inteligente - neste contexto- é de garantir aquilo que nós, pessoalmente, a nossa família, a nossa comunidade, possuímos enquanto meios de preservar a vida. Manter e aumentar a nossa capacidade de aguentar nos tempos mais difíceis das nossas vidas, deveria ser a preocupação primeira.  As «sereias» que apelam para investimentos sumptuários, especulativos, que causam um desequilíbrio, ou que diminuem os ganhos e as hipóteses de ganho, são de rejeitar. Por contraste, as iniciativas para preservação do adquirido e para o aumento da nossa autonomia (exemplos: produção própria de alimentos, geração de energia, etc.) tornam-se vitais, neste contexto. Também importa uma atitude mais racional com a saúde: a boa condição física é ainda mais importante, nas circunstâncias em que colapsam as estruturas e os meios de saúde.

A nossa energia deve estar centrada nos pontos acima, sendo também muito importante não olharmos de forma acrítica para as informações que nos chegam aos ouvidos ou aos olhos. Neste contexto, a informação da mídia é mais enviesada do que nas situações anteriores. Estamos perante ondas sucessivas de condicionamento de massas, primeiro com a histeria do «COVID», depois com a violação sistemática da nossa integridade, a imposição de «vacina», a perseguição da dissidência e a instalação duma censura férrea, além de uma vigilância total. Esta fase antecedeu e preparou as pessoas para aceitarem - perante as guerras da Ucrânia e de Gaza - no meio de campanhas de histeria sucessivas, a transformação do enquadramento legal.  A «legalidade democrática» foi varrida de uma penada, para se reprimir "legalmente"  dissidências e glorificar o bárbaro esmagamento de populações civis, incluindo a ressurreição do conceito, medievo e nazi, de  «culpa coletiva».

Com o medo instilado, pretende-se que as pessoas deixem de pensar, apenas reagindo, apenas seguindo os instintos de gregarismo e de xenofobia. Muitas, adotaram um comportamento de simulação, ou ocultaram a sua posição verdadeira, por medo de serem excluídas, de serem apontadas a dedo. 

O cenário está completamente montado e, aliás, a peça de teatro já começou a desenrolar-se diante dos nossos olhos. Mas, como não compreendemos o enredo desta peça, nem queremos fazer um esforço para o compreender, somos incapazes de protagonismo, de sermos proactivos. 

Se algo de verdadeiro existe nas palavras acima, creio que devemos refletir como agir para modificar este estado de coisas. Para agir maduramente, não devemos ocultar a realidade a nós próprios, nem cair na armadilha da propaganda, de uns ou de outros. Precisamos ser capazes de nos distanciar sem trair as nossas convicções. Não devemos tomar a nossa ilusão, o nosso desejo, pela realidade. Sobretudo, devemos guardar abertura a cada momento; não desenvolver sentimentos de ódio, em relação aos que estejam no polo diametralmente oposto. Sermos adultos, propriamente, quer dizer que somos capazes de analisar e não descartar outros pontos de vista, que nos pareçam - à primeira vista - errados, ou equivocados; por vezes, nós é que estávamos equivocados e os outros  tinham - afinal - razão. 

De nenhum modo, uma atitude sectária se justifica, neste contexto: A atitude inteligente é realizar alianças, o mais amplas possíveis, aos vários níveis. 



terça-feira, 11 de abril de 2023

O QUE SIGNIFICA «REVOLUÇÃO»?

 Revolução é uma das palavras mais ambíguas do vocabulário. Ela é usada a torto e a direito, desde políticos, propagandistas, ideólogos, até mesmo historiadores. Na realidade, eu penso que existe uma indefinição semântica que só permite manter a ambiguidade e é disso que vivem todos os oportunismos.

Como ninguém tem a propriedade da língua e ainda menos da sua utilização, o que posso eu criticar, afinal? Seria legítima esta  autocrítica, se eu ficasse por aqui. Porém, irei mais fundo, pois este tema é dos mais estimulantes. Creio que - para um pensamento crítico e com verdadeiro substrato filosófico - é preciso fazer um ponto prévio, já aqui feito noutros textos, de que a língua humana é capaz de preencher muitas funções, simultaneamente. Se não tivermos atenção ao contexto e a outros fatores, arriscamo-nos a cair como preza dum locutor pouco escrupuloso com as palavras que utiliza.  

A muitos, parecerá uma preocupação excessiva com as palavras e o seu significado. Mas, eu verifico que a propaganda, usada constantemente por Estados, governos, partidos e outras instâncias segregadoras de ideologias, tem o (mau) hábito de dar «nomes», que não correspondem à descrição clássica dos mesmos.  E não faz isso por acaso!

Estudando a História, verifico que -  em ocasiões de rutura de paradigma - aparecem muitas pessoas a reivindicar a qualidade de revolucionários.  Muitas pessoas são levadas a fazer tomadas de posição, de que se envergonham mais tarde, caso tenham um mínimo espírito autocrítico. 

Não deveríamos cair nas garras dos demagogos: Eles são tais como aqueles vendedores, que antes iam de porta em porta, agora estão no écran do «smartphone, ou tv ou doutro meio eletrónico. No caso dos comerciais, podemos acabar por comprar algo de que realmente não precisamos; mas, no caso dos demagogos de todas as cores e feitios, é muito pior: podem vender-te a guerra, como sendo o caminho para a «paz», a espoliação dos países e povos mais empobrecidos, como a sua «libertação» ou «emancipação» e por aí adiante! Reparem como o célebre romance 1984, de Orwell caracteriza o estado totalitário. Ele descreve a inversão e transformação radical da língua, a «novilíngua» e a erradicação do passado («quem domina o passado, domina o presente e quem domina o presente, domina o futuro»). Além disso, havia uma total ausência de propósito estratégico, nas sucessivas guerras que Oceânia e Eurásia se faziam, assim como na inversão das alianças, sem lógica compreensível. 

Não «ressoa» isto com situações* que se estão a passar, importantes e muito reais, mas que nós - desde os mais «bem» informados, aos que estão totalmente desfasados - não compreendemos? Todos, estamos na ignorância do que será o futuro. O futuro, querem-no definir alguns megalómanos, como Klaus Schwab, que - com certeza - estudou Lenine e Mao, entre outros. 

Na nossa ingenuidade, de forma implícita e explícita, estamos sempre a «dar crédito» (= a acreditar) aos indivíduos que pronunciam belas palavras e frases, que ressoam com os nossos sentimentos, convicções, ideologias... É assim que se consegue a adesão ou a simpatia de pessoas pouco ginasticadas na análise crítica, ou seja, que confundem a palavra com o ato: ora, esta distinção é fundamental para se perceber o mundo dos homens. No campo da política, são inúmeros os exemplos dos que se apresentam aos eleitores como defensores disto e daquilo, quando na verdade, o que querem é simplesmente arrebanhar votos e consciências, para levar a cabo suas ambições de poder. 

Os típicos demagogos, os políticos com maior ambição e portanto com mais probabilidade de alcançar lugares cimeiros são aqueles que dominam perfeitamente o código dos sentimentos humanos, das paixões. Isto porque como dizia  Robert A. Heinlein, um grande autor de Ficção Científica: «os humanos não são seres racionais; mas racionalizadores». Isto aplica-se a todas as atividades humanas. Em particular, à governação e a «conduzir as massas», a liderar as «revoluções». Trata-se da técnica de pôr as pessoas a fazerem exatamente o contrário do que seriam os seus interesses, os seus sentimentos genuínos. Mas de as levar a isso, convencidas de que estão a fazê-lo para o «bem», para «o interesse coletivo», etc.  

Não é preciso o leitor estar equipado em permanência com um dicionário enciclopédico, para conseguir descortinar a profusão de sentidos da palavra «revolução», quando está a ser pronunciada ou escrita por alguém. O «segredo» é simplesmente não dar atenção exclusiva ao que essa pessoa diz ou escreve, mas antes, qual é a coerência entre o seu discurso, a sua narrativa e os seus atos concretos, neste momento e no passado. 

Pense neste exemplo: Seria ridículo um ator de cinema, de teatro ou de ópera, ser tomado como alguém deveras convencido do que diz, ou representa. Assim, o talento de ator/atriz está em fazer-nos crer que ele/ela não está a representar. De outro modo, o seu desempenho soa a «falso». É o mesmo com o mundo da política, da ideologia, de «pensadores» e «fazedores de opinião». 

Não pretendo anunciar nada de novo. Basta lembrar o provérbio, que existe em várias versões, em várias línguas, mas dizendo o mesmo: «Não sejas como Frei TOMÁS, FAZ O QUE ELE DIZ E NÃO O QUE ELE FAZ!» 

Tome-se o provérbio acima como critério, é um bom instrumento para evitarmos ser enganados. Por exemplo, na vida real encontramo-nos com um sujeito; ele apresenta-se e fala connosco sobre diversos assuntos. Após algum tempo, descobrimos que esse sujeito estava a «fazer teatro»; na realidade, ele omitiu muitas coisas, inventou outras, provavelmente com o intuito de nos induzir a fazer qualquer coisa (no interesse dele, não no nosso!). É quase impossível não se ter encontrado um tipo de pessoa assim; pode-se ter encontrado, e não se ter percebido o que ele queria realmente. 

Quanto a mim, se alguém fala de revolução, eu quero saber desde logo:

- Para quê, para que fim, com que objetivo(s) de longo alcance

- Como, ou seja, que meios serão necessários para levar a cabo essa transformação

- E quais os protagonistas: Será um grupo de revolucionários treinados? Se diz que é uma «multidão», ou é pouco inteligente, ou pensa que nós somos pouco inteligentes...

No caso em que eu fique esclarecido dos três pontos acima, depois quero ver, na prática, como agem essas pessoas que se reclamam de um objetivo «revolucionário». Pois é infinitamente mais fácil traçar um programa revolucionário, do que levá-lo a cabo. E, mais fácil proclamar os princípios, do que fazer com que todos ajam de acordo com esses mesmos princípios. Não é por um certo número de indivíduos ter uma fixação obsessiva, uma «mística» revolucionária, que estes indivíduos são realmente revolucionários! 

Certamente, outras pessoas podem ter abordagens melhores que a minha. Gostava de ler as opiniões dos leitores. Se noutra língua, que não o português, podem ser escritas na língua original e traduzidas pelo app- tradutor, que se encontra no lado direito desta página. 

Muito obrigado!

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(*) Um exemplo claro de ocultação de responsabilidades, pelos media ocidentais, é o caso Nordstream, leia: 

https://www.unz.com/jcook/why-the-media-dont-want-to-know-the-truth-about-the-nord-stream-blasts/

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

UMA DAS PIORES ARMAS DE DESTRUIÇÃO MASSIVA [PROPAGANDA 21, nº17]


 A foto no canto superior esquerdo mostra soldados feridos e amputados na 1ª Guerra Mundial; do lado direito, vê-se uma fila de soldados da mesma guerra, que ficaram invisuais em resultado da exposição a gazes.

Esta ilustração do blog de John Helmer, está inserida numa reflexão irónica e de humor negro sobre a «bomba castrante». Eu reconheço muito bem os efeitos dessa bomba. Vejo cada vez mais pessoas no meu país, e além dele, que têm a capacidade de andar normalmente, veem sem problemas, ouvem, falam... mas ficaram incapazes de pensar, de ter ideias críticas em relação à propaganda constante e venenosa dos media e dos governos: 

- O agente ativo desta bomba destruidora do pensamento crítico, não é, creio, um agente químico, como o «novichok », pois este faria um dano irreversível a vários aparelhos e órgãos corporais das vítimas. Ou, pelo menos, caso o agente seja químico, então será como um anestésico, que temporariamente adormece a capacidade racional dos indivíduos.   

http://johnhelmer.net/


PS1: Para teres uma ideia das guerras de propaganda em torno de redes sociais, Tik-Tok, Facebook, Google, etc., consulta o artigo de Glenn Greenwald, aqui:

https://greenwald.substack.com/p/reflecting-new-us-control-of-tiktoks?utm_source=substack&utm_medium=email

PS2: Os aparelhos de propaganda servem-se que quaisquer ideologias para chegarem aos seus fins (a dominação global).

https://caitlinjohnstone.com/2022/12/28/propaganda-isnt-something-that-only-happens-to-others-notes-from-the-edge-of-the-narrative-matrix/

terça-feira, 22 de março de 2022

ESCREVENDO PARA UM DISTANTE FUTURO [OBRAS DE MANUEL BANET]

                                      

Detesto que me ditem a moral, que imponham o que é bem ou mal!

Alguém que guarde a sua capacidade de pensamento independente, grande parte das mentiras que lhe chegam aos ouvidos, ou que lê, pode desmascará-las. Mas, para isso, é fundamental a aprendizagem do pensamento crítico, o estudo sério da filosofia, da história e muitos outros domínios do conhecimento. Com tais instrumentos intelectuais, uma pessoa dificilmente será sujeita a «lavagem ao cérebro». Esta reveste-se, muitas vezes, da forma de hipnose coletiva, como a que observamos na histeria do COVID e na histeria anti-russa.

Não devemos escolher qualquer um dos lados numa guerra. Ambos os lados têm culpas; sempre foi e será assim. É a guerra - em si mesma - que se deve ser impedida, contrariada. Numerosas pessoas, muitas delas contra a sua vontade, são envolvidas e instrumentalizadas pelas fações opostas. 

Não transijo nem diminuo a humanidade dos outros: ponho-me no lugar dos soldados de ambos os lados: Matar e estar sujeito a morrer, por causa da gula de poder de uns e de outros; haverá destino que seja mais lamentável? 

Agora sei qual o grau de alienação das pessoas. Pode-se dizer que cedem à pressão da constante propaganda de guerra.  Mas, em muitos casos, o que observo é que se tornam veículos entusiastas dessa propaganda, esquecendo todas as suas supostas raízes liberais, humanistas, cristãs, etc. que afinal funcionavam como mera capa social.

Após o conflito, as pessoas que assumiram acriticamente as narrativas oficiais, vão autoabsolver-se com total hipocrisia, vão varrer para debaixo do tapete quaisquer incongruências entre as realidades e a ficção que construíram, ou que lhes foi inoculada pela media. É assim que constroem a sua boa-consciência.

A media foi designada como «o quarto poder», para significar que funcionava como contrapeso aos outros corpos do Estado (executivo, legislativo e judicial). De facto, ela transformou-se em corpo destinado a influir nos outros corpos, não no sentido de lhes contrapor uma hipotética «vox populi», mas como veículo do poder económico e sem o qual não seria fácil governar. A media está nas mãos de um punhado de bilionários ou de grandes empresas de capitais privados, mesmo nos países mais poderosos e com larga tradição de «democracia liberal». São os interesses concretos dos grandes capitalistas ou dos grupos económicos e financeiros que são preservados nas narrativas, cuidadosamente talhadas para moldar a opinião pública.

Eu escolho a «liberdade», diziam alguns. Mas, não existe liberdade, sequer. Agora, é mais que evidente  que temos somente uma pseudo- liberdade, perante a mais monstruosa desigualdade. É isso que vemos atualmente. Alguns, têm o poder de moldar as opiniões, os sentimentos, a própria personalidade de milhões de indivíduos anónimos. Que a multidão de indivíduos tenha seu comportamento padronizado e conformista é o fim desejado por todo o aparato doutrinador: O governo e suas agências, a media mainstream (em mãos de magnates) e a escola, em todos os níveis de ensino, sendo mais perverso o ensino universitário e sua suposta «liberdade académica».  

A minha náusea existencial resulta de constatar o facto de que as pessoas não evoluíram nada. São tão primárias e mesquinhas como nos séculos passados; talvez mais, até. Como roupagens que as vestem, as suas ideologias de pacotilha são mudadas ao sabor das conveniências. Não mudam por dentro, só superficialmente. Estas pessoas podem mudar facilmente de posições políticas, com única condição de que percebam que o vento mudou e que é mais favorável outra postura. 

domingo, 6 de agosto de 2017

PENSAMENTO CRÍTICO



É realmente paradoxal verificar-se que, na época em que se dá uma explosão das tecnologias de informação, as pessoas sejam tão pouco e sobretudo tão mal informadas. 

O que passa por informação e por cultura é, quase sempre, ao nível dos mexericos, das frases feitas, dos slogans; não tem nada que ver com o trabalho interior da pessoa que reflecte, que assimila verdadeiramente, ou seja, faz suas as palavras e ensinamentos dos grandes mestres. 
Aliás, as pessoas só estarão aptas a exercer um papel verdadeiramente crítico, de leitores críticos, das obras dos seus contemporâneos, quando realizam o tal «trabalho interior».

Em qualquer domínio, somos confrontados essencialmente com o mesmo fenómeno. Descrevo abaixo alguns exemplos:

- Na música pop, sucedem-se vertiginosamente «celebridades», fabricadas por máquinas mediáticas, como meros produtos lançados no mercado à custa de campanhas publicitárias. 
Estas mesmas «celebridades», que ocupam agora as primeiras páginas dos jornais, ou os primeiros planos das notícias televisivas, dentro de meses ou, no máximo um ou dois anos, estarão relegadas para um lugar perfeitamente secundário, quando não completamente esquecidas. 

-  A política tornou-se uma espécie de corrida para a fama, para a popularidade. Todos os partidos e agrupamentos políticos, por esse vasto mundo, embarcaram nessa maneira de fazer política.
A dimensão de «pedagogia cívica» desapareceu completamente. Ela pode ser invocada ao nível do discurso, mas a prática é exactamente o contrário disso: chame-se endoutrinamento, propaganda, «public relations», o facto é que os partidos políticos se transformaram em gigantescas máquinas de caçar votos e dinheiro.  
O dinheiro e o poder são as duas faces da mesma realidade. Os estados-maiores que estabelecem as linha-mestras das campanhas eleitorais constroem o discurso que mais agrade ao eleitorado. Esta construção e difusão beneficia das contribuições pecuniárias, nada desinteressadas, de pessoas e de empresas interessadas em influir nos eleitos. 

- Ao nível da transmissão, os saberes académicos, sobretudo em áreas sensíveis para o exercício do poder político/económico, como economia, sociologia, e outras ciências sociais e humanas, mas também nas ciências «duras» (física, química, biologia, etc...), estão fossilizados. Só se ensinam teorias «consensuais», não havendo realmente espaço de difusão do conhecimento de outras formas de teorizar, de construir um discurso científico. 
Quaisquer tendências críticas são postas à margem pelos que ocupam lugares de poder dentro da academia. 
Este exercício do poder, nas esferas do conhecimento, tem como corolário que a grande maioria das pessoas que frequentam estudos e se diplomam têm um pensamento perfeitamente estereotipado, convencional, nada propício a «rasgos de génio». São pessoas que meramente repoduzem o que assimilaram: as formas de pensar, de estar na vida, de encarar os problemas sociais, totalmente convencionais. 

Poderia dar outros exemplos, mas penso que estes acima já são suficientes para o leitor ajuízar e procurar por si próprio, observando à sua roda. 
É certo que existem múltiplos casos, que ilustram como as coisas funcionam verdadeiramente nesta sociedade. 

Face a esta situação generalizada, a minha resposta tem sido a de construir pequenos ilhéus de  pensamento crítico, de diálogo e intercâmbio sem fronteiras. 
Claro que estes espaços reais e/ou virtuais são obra colectiva. Logicamente, não estou isolado a realizar esta tarefa. Não pretendo liderar aqueles que comigo têm participado, ao longo dos anos, nesta construção. 
Porém, parece-me importante chamar a atenção para um aspecto da questão, às vezes descurado: tenho visto que muitas pessoas, ao pretender agir no âmbito social, falham porque não têm um propósito claro, bem estabelecido, bem amadurecido. 
No meu caso pessoal, o meu combate essencial, em vários domínios de intervenção social, política (e, mesmo, no domínio da teoria) tem sido o de abrir espaços de discussão livre, de diálogo desinibido, de construção colectiva de um saber crítico, aplicável no quotidiano das pessoas. 
Desde há décadas que tenho este propósito, embora talvez não o tenha confessado nunca, tão explicitamente. 
Seja este ou outro qualquer, o que me parece importante é que as pessoas tenham um propósito claro naquilo que fazem. Podem não o explicitar para o exterior, mas devem fazê-lo para si próprias. 


quinta-feira, 15 de junho de 2017

NÃO SOU «UMA CASSANDRA»

Imagem:  Fresco de Pompeia representando Cassandra, ao centro, profetiza a destruição de Troia. 
Á esquerda, Priam com Pâris criança. À direita, o guerreiro é Heitor.

 
Cassandra, filha do Rei de Troia, segundo a lenda, tinha o dom divinatório; mas o deus Apolo amaldiçoou-a com a incredulidade dos seus contemporâneos, para se vingar de ela se ter furtado aos seus avanços.  

Não serei eu a posar como Cassandra, com certeza. Limito-me a ouvir diversas vozes que se erguem, nos vários sectores de analistas de política, geoestratégia, de economia e outras disciplinas, tentando fazer uma ideia própria do que se está  passando, nestes  últimos decénios e na atualidade. 

Um dos fenómenos que tenho observado, é que o público em geral e, sobretudo, aqueles que teriam mais a ganhar em ouvir atentamente previsões e análises de indivíduos esclarecidos, negam peremptoriamente ou diminuem o valor de quaisquer análises, quando estas contrariam os seus preconceitos. 
Estão muito mais atentos à identidade do mensageiro do que à natureza intrínseca da mensagem que ele (ou ela) transporta.

 Um indivíduo aderente a uma dada escola da economia, a uma dada corrente da política, etc. tem o ouvido atento às vozes, exclusivamente das suas fileiras, que vêm reforçar os seus preconceitos (mas que considera verdades insofismáveis). 
 Porém, repudia ou menospreza de forma altaneira, quaisquer análises, reflexões, mesmo se baseadas em informações factuais, caso estas tenham proveniência de sector que não seja o seu, ou venham de quem ele considera contrário.

Uma situação assim ocorreu comigo, para minha perplexidade, ao me debater com a não-inscrição de um professor universitário de economia. Ele tem  protagonizado uma campanha pela saída de Portugal do Euro. Porém, contrariamente a outros críticos do euro, não põe em causa o papel dos bancos centrais na crise financeira que ocorreu em 2007/2008 e cujos efeitos desastrosos se têm prolongado até hoje. A sua reação de denegação da realidade que lhe apresentei não é racional, mas emotiva. 
Tem uma ideia apriorística, preconiza um determinado caminho para a saída de Portugal da Eurolândia, juntamente com outras pessoas. Curiosamente, deste grupo de pessoas, muitas são marxistas, possuem portanto outra ideologia, travestida de ciência. 

Longe de mim pretender ser Cassandra. Nem aconselho ninguém a sê-lo, num país de vistas tão curtas, tão mesquinhas e em que as pessoas não são capazes de reconhecer que se enganaram, não são capazes de se auto-criticar. 

Compreendo que muita gente queira ignorar os perigos para os quais tento dar o alerta, tal como acontecia com os que ouviam e não acreditavam em Cassandra. 
Pois eu digo verdades que não são ao seu gosto, digo coisas que não possuem os acordes e melodias usuais nas suas capelinhas ideológicas, sobretudo mostro coisas que eles/elas preferem ignorar, porque, se as encarassem de frente, teriam de rever a sua falsa noção de normalidade: teriam de descolar do preconceito da normalidade, ou seja, do futuro como mera projeção do presente, com algumas modificações de pormenor, mas essencialmente na mesma... 

Eu não pretendo ser Cassandra... porém vou buscar os dados aonde eles estão; vou buscar a verdade esteja ela onde estiver, não vou fechar-me a uma informação só porque essa informação é veiculada por alguém que não partilha as minhas convicções. 
No fundo, apenas pretendo exercer o espírito crítico na análise política, geopolítica, económica, sociológica. 
As metodologias e formas de tratar o real, corriqueiras nas ciências «duras» (a biologia, a química, etc.) são adaptáveis às ciências humanas. Em biologia, por exemplo, é claro que se deve evitar a subjetividade, que se devem examinar todas as hipóteses, sem descartar a priori as que são emitidas por alguém que não seja do nosso agrado, etc. 
Nas ciências humanas (das quais a Economia faz parte) este tipo de comportamento sofre muitas vezes desvios significativos. Nada é «desapaixonado» nas ciências humanas, pois tudo é esgrimido, de uma ou doutra forma, para fazer avançar determinada corrente teórica, que se traduz in fine num determinado ponto de vista político.

As pessoas deviam estar conscientes da voluntária cegueira de muitos intelectuais. 
Deveriam aperceber-se que existe um enviesamento, retirando às suas análises a fria lucidez, fruto de um espírito racional, que eles pretendem ser. 
   

domingo, 5 de março de 2017

PARA OUTRA ABORDAGEM DAS NOTÍCIAS

«Um patrão exprime a sua opinião... está a falar sobre economia; um sindicalista exprime a sua opinião... é um discurso de militantismo» (citação do video abaixo)

Gosto bastante da abordagem deste jovem investigador francês em ética, que podeis ver/ouvir abaixo. Ele toca assuntos de grande relevância para a sociedade mundializada em geral, sobretudo em face da tentativa de retoma da hegemonia do «consenso» neoliberal que domina a paisagem dos meios de comunicação de massas (msm).

Nós encontramos amiúde um discurso em torno dos «factos», propalado de maneira acrítica, por aqueles mesmos que decidem se determinado facto é ou não relevante para colocar no seu órgão de informação... este simples raciocínio, que aliás pode ser perfeitamente legítimo se não for ocultado, mostra como o discurso do poder (do neoliberalismo) se «naturaliza» ao ponto dos reprodutores dessa ideologia não terem consciência de que o são, muitas vezes. 

Como me tenho confrontado com fenómenos semelhantes desde há muito tempo, cheguei à conclusão de que devemos contrariar estas tendências totalitárias do discurso do poder através do nosso espírito crítico. 

Devemos desconstruir o discurso ideológico, deve-se pensar criticamente por oposição a um «decorar» de factos ou de pseudo-factos, ingurgitados acriticamente e não susceptíveis de revisão, ou seja, transformados em peças de um «credo»... 
Este programa é exigente. Não será fácil de seguir, mesmo por aqueles que estejam convencidos de que é o melhor caminho possível.

Só no longo prazo é que esta abordagem dá frutos, pois as pessoas «não-críticas» vão estar determinadas por «reacção a» isto ou aquilo, enquanto as pessoas com senso crítico (e auto-crítico) vão conseguir navegar melhor num oceano de tormentas, que virá - que JÁ está aqui - à medida que a crise terminal do capitalismo se agrava.