Claude Debussy, Paul Verlaine e o Simbolismo
Paul Verlaine (1844 -1896) tem sido considerado um dos chefes de fila do movimento Simbolista.
Tal era a sua potência poética que - apesar da sua «má vida» e dos amores proibidos com Artur Rimbaud - o elegeram o «Príncipe dos Poetas», do Parnasso Contemporâneo.
A sua arte é talvez a forma mais acabada de síntese entre o clássico e o moderno.
Quando nos debruçamos sobre a sua obra, valorizando os aspetos estéticos, ficamos extasiados pela musicalidade, subtileza e pela utilização de audácias de estilo que seriam lembradas pelos seus sucessores.
Afinal de contas, é certo que ele seja o Príncipe: Porque, que mais pode uma alma literária desejar para sua posteridade, do que ser admirada, plagiada, estudada, posta em música e isto, em sucessivas gerações!?
A peça Clair de Lune (Luar) de Debussy, integrada na suite «Bergamasque», não sendo um «poema musicado» é uma peça que banha na atmosfera simbolista e possui óbvias referências à poesia de Verlaine. Não apenas o nome «Clair de Lune» é idêntico a um dos poemas da recolha das «Fêtes Galantes» mas, no poema de Verlaine, este menciona «masques et bergamasques»: Trata-se de uma ironia saborosa, pois «masques» (máscaras) estão unidas, pela rima interna, com «bergamasque» a dança renascentista, originária de Bergamo, Itália.
Estou convencido que Debussy escolheu este título da suite «Bergamasque», como forma de homenagear o poeta simbolista.
Os versos de Verlaine têm sido postos em música por sucessivas gerações de compositores, desde Gabriel Fauré e Reynaldo Hahn, a Léo Ferré e Georges Brassens ... e muitos mais!
Clair de lune
Votre âme est un paysage choisi
Que vont charmant masques et bergamasques
Jouant du luth et dansant et quasi
Tristes sous leurs déguisements fantasques.
Tout en chantant sur le mode mineur
L'amour vainqueur et la vie opportune,
Ils n'ont pas l'air de croire à leur bonheur
Et leur chanson se mêle au clair de lune,
Au calme clair de lune triste et beau,
Qui fait rêver les oiseaux dans les arbres
Et sangloter d'extase les jets d'eau,
Les grands jets d'eau sveltes parmi les marbres.
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[Tradução de Manuel Banet]
Ao Luar
Vossa alma é a paisagem escolhida
Onde se movem máscaras e bergamascas
Tangem alaúdes, dançam e vão quase
Tristes sob suas roupagens de fantasia.
Enquanto cantam em modo menor
O amor triunfante e a vida sorridente,
Parecem não crer na sua felicidade
E sua canção mistura-se ao luar
Ao luar calmo, triste e belo
Que faz sonhar pássaros nos ramos
E soluçar de êxtase repuxos de água,
Grandes repuxos esbeltos entre os mármores.
3 comentários:
Clair de Lune, na harpa por Héloise de Jenlis:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/01/heloise-de-jenlis-clair-de-lune-debussy.html
Penso que nenhum compositor tivesse estado antes tão profundamente ligado a uma corrente estética nas outras artes - poesia, literatura, artes plásticas - como Debussy e os movimentos «simbolistas» e «impressionistas».
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/01/preludio-tarde-de-um-fauno-mallarme.html
A etiqueta «impressionista» dada a Debussy, não é legítima, deriva de um incidente pontual, sem grande significado. Pelo contrário, o simbolismo, será sua estética natural, tendo frequentado poetes e pintores simbolistas bem conhecidos. Ver:
http://www.scena.org/lsm/sm18-1/sm18-1_debussy_fr.html
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