A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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terça-feira, 29 de outubro de 2019

«O CALIFA, FILME CIA ENTRE A FICÇÃO E A REALIDADE»


POR Manlio Dinucci -- A Arte da Guerra 
TRADUÇÃO DE : Maria Luísa de Vasconcellos





ITALIANO PORTUGUÊS

“Foi como assistir a um filme”, disse o Presidente Trump, depois de testemunhar a eliminação de Abu Bakr al Baghdadi, o Califa, Chefe do ISIS, transmitido na Situation Room da Casa Branca. Aqui, em 2011, o Presidente Obama assistia à eliminação do então inimigo número um, Osama Bin Laden, Chefe da Al Qaeda. O mesmo argumento: os serviços secretos dos EUA tinham localizado,há muito tempo, o inimigo; este não é capturado, mas eliminado: Bin Laden é morto; al Baghdadi suicida-se ou é “suicidado”; o corpo desaparece: o de Bin Laden é sepultado no mar,os restos de al Baghdadi, desintegrados pelo cinto de explosivos,também esses são espalhados no mar. O mesmo produtor do filme: a Comunidade de Inteligência, formada por 17 organizações federais. Além da CIA (Agência Central de Inteligência), existe a DIA (Agência de Inteligência de Defesa), mas cada sector das Forças Armadas, bem como o Departamento de Estado e o Departamento de Segurança Interna, têm o seu próprio serviço secreto.


Para as acções militares, a Comunidade de Inteligência usa o Comando das Forças Especiais, instalado em, pelo menos, 75 países, cuja missão oficial compreende, além da “acção directa para eliminar ou capturar inimigos”, a “guerra não convencional conduzida por forças externas, treinadas e organizadas pelo Comando ". É, exactamente, o que começou na Síria, em 2011, no mesmo ano em que a guerra USA/NATO destrói a Líbia. Demonstram-no as provas documentadas, já publicadas em ‘il manifesto’.

- Por exemplo, em Março de 2013, o New York Times publicou uma pesquisa detalhada sobre a rede da CIA, através da qual chegam à Turquia e à Jordânia, com o financiamento da Arábia Saudita e de outras monarquias do Golfo, rios de armas para os militantes islâmicos treinados pelo Comando de Forças Especiais USA, antes de serem infiltradas na Síria. 

- Em Maio de 2013, um mês após ter fundado o ISIS, al Baghdadi, encontra na Síria uma delegação do Senado dos Estados Unidos chefiada por John McCain na Síria, como mostra a documentação fotográfica. 


- Em Maio de 2015, um documento do Pentágono datado de 12 de Agosto de 2012 é desclassificado pela Judicial Watch, no qual se afirma que há “a possibilidade de estabelecer um principado salafita na Síria oriental, e é exactamente o que os países ocidentais desejam, os Estados do Golfo e a Turquia, que apoiam a oposição”. 

- Em Julho de 2016, é desclassificado pelo Wikileaks um email de 2012 no qual a Secretária de Estado, Hillary Clinton, escreve que, dada a relação Irão-Síria, “a destituição de Assad constituiria um imenso benefício para Israel, diminuindo o medo de perder o monopólio nuclear.” Isso explica por que motivo, não obstante os EUA e os seus aliados iniciarem, em 2014, a campanha militar contra o ISIS, as forças do ISIS podem avançar sem perturbações em espaços abertos, com longas colunas de veículos armados.


A intervenção militar russa em 2015, de apoio às forças de Damasco, reverte o destino do conflito. O objectivo estratégico de Moscovo é impedir a demolição do estado sírio, que provocaria um caos do tipo líbio, vantajoso para os USA e para a NATO, para atacar o Irão e cercar a Rússia.


Os Estados Unidos, irracionais, continuam a jogar a cartada da fragmentação da Síria, apoiando os independentistas curdos e depois abandonando-os para não perder a Turquia, posto avançado da NATO na região.


Neste contexto, compreende-se por que al Baghdadi, como Bin Laden (anteriormente aliado dos USA contra a Rússia, na guerra do Afeganistão), não podia ser capturado para ser processado publicamente, mas que devia desaparecer fisicamente para fazer desaparecer as provas do seu verdadeiro papel na estratégia USA. Por isso, a Trump agradou tanto o filme com um final feliz.


il manifesto, 29 de Outubro de 2019

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

ESTÃO EM CRISE DUAS MOEDAS COM PARIDADE CAMBIAL COM O DÓLAR

                                
Chamo a atenção para o artigo de Tom Luongo, que analisa em pormenor a crise de legitimidade no governo de Hong Kong e a desestabilização desta «praça-forte» da finança internacional na Ásia e que possui desde há longos anos uma moeda local, o dólar de Hong Kong (HKD) em paridade cambial com o dólar US , por um lado...  
...Por outro lado, lembra-nos Luongo, existe outra moeda em paridade cambial com o dólar, o Riyal da Arábia Saudita (SAR). Ora,  o desastre que tem sido ultimamente a guerra do reino da Arábia Saudita com os Houthi do Iémene, poderá precipitar uma mudança estratégica  na região.

                                  
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Analisemos historicamente o papel que desempenharam ambas as paridades cambiais com o dólar US, o qual tem sido a moeda de reserva internacional, desde o fim da II Guerra Mundial. 


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No lado chinês, durante os anos de isolamento do regime comunista da China em relação ao «ocidente», a praça financeira de Hong Kong, colónia britânica até 1997, desempenhou um papel insubstituível para a China continental, de porta de entrada e saída de mercadorias e de fluxos de capitais. A partir da grande viragem protagonizada pela política de Deng Xiao Ping, este papel foi reforçado. Nos últimos vinte anos, de crescimento exponencial, a China utilizou Hong Kong de modo intensivo para atrair os fluxos de capitais para investimento no território da RPC. Do ponto de vista dos capitalistas interessados em investir na RPC, era muito mais tranquilizador estar baseado em Hong Kong, que tinha e tem um conjunto de garantias relativas aos capitais estrangeiros, devido aos acordos de devolução válidos até 2047, do que a alternativa de Xangai, onde se aplica em pleno a legislação da RPC. 
Para atrair os investimentos via Hong Kong, a paridade do dólar de Hong Kong (HKD) com o dólar US, é estratégica. Com efeito, o governo da China tem vindo a desvalorizar sua moeda nacional, o Yuan, como forma de manter a competitividade dos produtos «made in China». Ultimamente, ainda se fala mais da desvalorização da divisa chinesa, uma guerra cambial no seguimento da guerra comercial, inaugurada por Trump. 
Tornando-se instável a situação de Hong Kong, havendo tendência para fuga de capitais, ou diminuição acentuada da entrada de capitais frescos para fazer negócios com a China, é provável que o dólar de Hong Kong não consiga manter paridade cambial com o dólar US. A certa altura, o dispêndio de dólares US - nas reservas do banco central de Hong Kong - para sustentar o dólar de Hong Kong, pode ser excessivo e haver o desligar da paridade cambial.
Há fortes indícios duma «mãozinha ocidental» na desestabilização política de Hong Kong: mesmo que não tenha sido iniciada mas apenas aproveitada pelos EUA, esta é uma arma que eles estão a usar, para forçar a China a ceder em certos aspectos fundamentais desta guerra, dita «comercial». 
O que nos é vendido como «guerra comercial», é - na realidade - o redesenhar das esferas de influência mundiais, ou seja, como é que as duas super-potências (China e EUA) vão partilhar o mercado global e que tipo de relacionamento se vai estabelecer entre elas.

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A paridade do dólar US com o Riyal (SAR), está intimamente relacionada ao acordo dos EUA com os sauditas, negociado em 1973, na origem do chamado petro-dólar. 
Recordemos que Kissinger conseguiu obter que os barris de petróleo só pudessem ser cotados e vendidos em dólares US, em troca de uma protecção total do Reino, então o maior produtor de petróleo da OPEP. 
Toda a política dos EUA no Médio Oriente tem estado orientada para manter esta exclusividade da venda do petróleo em dólares, mais importante ainda do que o acesso directo dos EUA ao crude. 
Com efeito, enquanto houver necessidade de dólares US para comprar crude no mercado internacional, a moeda nacional dos EUA poderá continuar a ser a principal moeda de reserva mundial. 
A paridade cambial do riyal (SAR) com o dólar US facilita o afluxo de capitais, não apenas para investimento no reino saudita, como também para todos os sultanatos em redor. Vai permitir que os investidores internacionais estejam mais seguros, quanto ao retorno sobre seus investimentos. 
A garantia cambial é muito importante para os negócios. Com efeito, sem tal garantia cambial, o investimento num país com moeda instável e com tendência para desvalorização periódica, pode anular qualquer rentabilidade dos capitais investidos. Esta é uma das razões principais por que o volume do investimento estrangeiro fica abaixo do seu potencial, em muitos países ditos «em desenvolvimento».   

No momento em que ocorre uma mudança tectónica nas relações económicas, financeiras e geopolíticas ao nível mundial, não é coincidência que duas moedas com paridade cambial com o dólar US, estejam sob «ataque». Note-se que num caso (Hong Kong), a desestabilização joga a favor do «reino do dólar US», enquanto no outro caso (Arábia Saudita), é precisamente o contrário.
- Desestabilização em Hong Kong, cria uma situação de escassez de investimento estrangeiro na China, no momento em que esta necessita de ainda mais capital do exterior, para consolidar a sua economia, no momento em que está a realizar a grande viragem duma economia de exportação, para uma economia mais vocacionada para satisfazer o consumo interno. 
- Desestabilização na Arábia Saudita, fragiliza o principal aliado dos EUA no Médio Oriente, ao ponto de se equacionar o afastamento do príncipe herdeiro e responsável da guerra no Iémene, perante a situação de derrota estrondosa do seu exércitoface aos Huthis. 
Embora a Arábia Saudita tenha sido compradora de muito armamento sofisticado aos EUA, Reino Unido, França... observa-se, recentemente, uma mudança «deslizante» de suas alianças, com a China a substituir-se paulatinamente aos EUA, propondo a compra de petróleo saudita utilizando o yuan (em troca da entrada de capitais chineses na Aramco) e a Rússia a oferecer-se como garante da defesa e fornecedora de armamentos de ponta à monarquia saudita.

São demasiado complexas as jogadas envolvidas. Nada do que se passa no Médio Oriente (vejam-se os últimos desenvolvimentos na situação da fronteira Síria-Turquia) nos é explicado de forma cabal. 
A media limita-se a reproduzir o discurso de propaganda dum ou doutro governo. Nunca equaciona - nas suas pseudo-análises - a agenda globalista, a Nova Ordem Mundial
No entanto, embora eu não tenha ideia precisa dos pontos em negociação, tenho a certeza de que esta agenda globalista está sendo negociada agora, discretamente.


terça-feira, 15 de outubro de 2019

MANLIO DINUCCI: A NATO POR TRÁS DO ATAQUE TURCO À SÍRIA

                                                     RETIRADO DE NO WAR NO NATO

                                     

                                                    



A Alemanha, a França, a Itália e outros países que, em trajes de membros da União Europeia, condenam a Turquia pelo ataque à Síria, são, juntamente com a Turquia, membros da NATO, a qual, quando já estava em curso o ataque, reiterou o seu apoio a Ancara. Fê-lo oficialmente, o Secretário Geral da NATO, Jens Stoltenberg, encontrando-se em 11 de Outubro na Turquia, com o Presidente Erdoğan e com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Çavuşoğlu.

“A Turquia está na primeira linha, nesta região muito volátil, nenhum outro Aliado sofreu mais ataques terroristas do que a Turquia, ninguém está mais exposto à violência e à turbulência proveniente do Médio Oriente”, disse Stoltenberg, reconhecendo que a Turquia tem preocupações “legítimas” com a sua própria segurança”. Depois de, diplomaticamente, tê-lo aconselhado a “agir com moderação”, Stoltenberg salientou que a Turquia é “um Aliado valoroso da NATO, importante para a nossa defesa colectiva”, e que a NATO está "fortemente empenhada em defender a sua segurança”. Para esse fim - especificou - a NATO aumentou a sua presença aérea e naval na Turquia e investiu mais de 5 biliões de dólares em bases e infraestruturas militares. Além do mais, colocou um comando importante (não mencionado por Stoltenberg): o LandCom, responsável pela coordenação de todas as forças terrestres da Aliança.
Stoltenberg evidênciou a importância dos “sistemas de defesa antimísseis” inseridos pela NATO para “proteger a fronteira sul da Turquia”, fornecidos em rotação pelos Aliados. A este respeito, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Çavuşoğlu agradeceu, em particular, à Itália. Desde Junho de 2016, a Itália instalou na província turca do sudeste, em Kahramanmaraş, o “sistema de defesa aérea” Samp-T, produzido em conjunto com a França. Uma unidade Samp-T compreende um veículo de comando e controlo e seis veículos lançadores, cada um armado com oito mísseis. Situados perto da Síria, eles podem abater qualquer avião no espaço aéreo sírio. Portanto, a sua função, é tudo menos defensiva. Em Julho passado, a Câmara e o Senado, com base na decisão das comissões estrangeiras conjuntas, deliberaram prolongar, até 31 de Dezembro, a presença da unidade de mísseis italiana na Turquia. Stoltenberg também informou que estão em curso negociações entre a Itália e a França, produtores conjuntos do sistema de mísseis Samp-T e a Turquia, que deseja comprá-lo. Neste ponto, com base no decreto anunciado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Di Maio, para bloquear a exportação de armas para a Turquia, a Itália deveria retirar imediatamente o sistema de mísseis Samp-T do território turco e comprometer-se a não vendê-lo à Turquia.
Continua, assim, o trágico teatro da política, enquanto na Síria o sangue continua a jorrar. Os que hoje ficam horrorizados com os novos massacres e pedem para bloquear a exportação de armas para a Turquia, são os mesmos que voltaram a cabeça quando o próprio New York Times publicou uma investigação detalhada sobre a rede da CIA, através da qual chegavam à Turquia, também da Croácia, rios de armas para a guerra camuflada na Síria (il manifesto, 27 de Março de 2013 e Réseau Voltaire). Depois de ter demolido a Federação Jugoslava e a Líbia, a NATO tentou a mesma operação na Síria. A força do choque era constituída por um exército agressivo de grupos islâmicos (até há pouco rotulados por Washington como terroristas) provenientes do Afeganistão, da Bósnia, da Chechénia, da Líbia e de outros países. Eles afluíam às províncias turcas de Adana e Hatai, na fronteira com a Síria, onde a CIA tinha aberto centros de formação militar. O comando das operações estava a bordo de navios da NATO, no porto de Alessandretta. Tudo isto é suprimido e a Turquia é apresentada pelo Secretário Geral da NATO como o Aliado “mais exposto à violência e à turbulência do Médio Oriente”.

il manifesto, 15 de Outubro de 2019

segunda-feira, 29 de abril de 2019

ESTADOS UNIDOS AMEAÇAM A PAZ MUNDIAL

Com a retoma das sanções em relação aos países que comerciassem com o Irão, entre os quais se contam a China, o Japão, a Coreia e países europeus, os EUA confirmam que querem - daqui por diante - comportar-se como «os senhores feudais globais», ditando que países podem comerciar com quem, e o quê. 

                                Washington is effectively telling Beijing to first ask for permission on which countries it and its companies can do business with. Photo: Reuters

Há alguns países que irão adoptar a postura da China, que tem uma percentagem elevada do seu abastecimento em petróleo assegurada por Teerão mas, outros, não têm os mesmos meios para se opor às imposições americanas, brutais e totalmente ilegais, face à Lei Internacional. 

Fica cada vez mais claro qual o plano subjacente dos EUA, ao terem saído do acordo multilateral (que incluía a Rússia, a China, países da UE, além dos EUA e do Irão), negociado pela administração Obama, um dos poucos sucessos diplomáticos destes últimos anos, dos EUA. 

A escalada decretada pela administração Trump está a  verificar-se no plano económico, apertando o cerco, causando dano à população iraniana, com o fim de isolar o governo do seu povo. Esta táctica, além de imoral, não resulta: vejam-se os embargos contra Cuba e Coreia do Norte, só têm permitido a consolidação destes regimes.

Mas, a referida escalada também se está a verificar no plano institucional e diplomático, com apoio incondicional a Israel, inclusive em violação de resoluções da ONU .
Por fim, está a desenvolver-se também no plano militar,  na Síria, ao incluírem as tropas de elite iranianas, os Guardas da Revolução, na categoria de «terroristas», pela administração Trump. 

No território sírio, onde permanecem bases americanas (ilegais), agora já sem o pretexto da luta contra o ISIS, tudo é feito para manter acesos os confrontos étnicos, apoiando determinadas facções contra outras. 
Israel tem efectuado ataques aéreos contra o território sírio, a pretexto de combater o Hezbollah, ou os iranianos. Estes crimes de guerra não têm a mínima legitimidade, nem são, sequer, uma resposta a qualquer movimentação agressiva daqueles contingentes, contra as posições israelitas.
Os israelitas colocam-se como agentes locais do imperialismo americano e, portanto, ameaçam e fazem sortidas destruidoras de vidas e de bens, com total impunidade. 
A ONU, relegada ao papel de fantoche, não reage, totalmente incapaz de tomar uma posição coerente, no seguimento de todos os atropelos à sua própria lei. 

Os Estados Unidos, além de serem culpados, neste século, de crimes hediondos contra a humanidade, contra populações indefesas (Afeganistão, Iraque, Líbia...), têm destruído sistematicamente todo o edifício dos acordos entre potências nucleares, laboriosamente estabelecido na época da URSS. 
Nas Nações Unidas, adoptam uma postura de cobertura permanente dos aliados, Israel e Arábia Saudita, em sistemático desrespeito pelos Direitos Humanos. 
No continente Americano têm promovido o golpe de Estado contra o governo e o povo da Venezuela, também usando a arma das sanções económicas, de maneira unilateral, 100% ilegal, face à lei internacional.

No conjunto, verifica-se que os EUA estão a preparar-se para a guerra contra aqueles que designa como seus inimigos (que são, também, inimigos de Israel): o Irão, seus aliados do Hezbollah e do governo da Síria. 

As violações sistemáticas do edifício da legalidade internacional (que os próprios EUA ajudaram a construir, no pós-IIª Guerra Mundial) são desenvolvimentos trágicos, não só pelos crimes associados a tais actos, como também pelos futuros desenvolvimentos, que prenunciam.

Com efeito, o projecto imperial e hegemónico dos EUA, sob o domínio do complexo militar-securitário-industrial, pode resumir-se à doutrina Brzezinski, o conselheiro e estratega ao serviço de várias administrações em Washington, falecido há poucos anos. 
Segundo Brzezinski, os EUA não deveriam permitir que qualquer outra potência atingisse um nível tal que pudesse tornar-se numa ameaça credível ao domínio hegemónico de Washington. Donde, segundo a sua doutrina, havia que conter sistematicamente essas nações (tratava-se da Rússia e da China, claro). 

No contexto actual, o mundo pode ser confrontado com uma guerra total. O seu desencadear poderia vir no seguimento de uma acção de desespero do Irão. Muito provavelmente, é isso que os EUA procuram. 
Por exemplo, os iranianos podem ser tentados a recorrer ao bloqueio do estreito de Ormuz, por onde passam muitos petroleiros em direcção a países asiáticos e europeus, importadores de petróleo das monarquias petrolíferas do Golfo. 
              
O agravamento do cerco e a tentativa de estrangulamento económico do Irão, significam que Washington está a provocar o adversário, para este cometer actos agressivos, em reacção a uma situação em que vê ameaçados os seus interesses vitais. Assim, os EUA e seus aliados da NATO e os Israelitas teriam um pretexto para desferir um golpe mortífero. 
Este país, com uma multi-milenar civilização, tem sido sistematicamente hostilizado, por não ser dócil em relação às multinacionais do petróleo e por não aceitar os EUA como suzerano mundial.

   

terça-feira, 26 de março de 2019

OS MONTES GOLAN, EUA E ISRAEL: MAIS UM EXEMPLO DE UNILATERALISMO




Aquando da manobra de reconhecimento por parte dos EUA de Jerusalém como capital de Israel, com anúncio de que iriam mudar a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, já tinha chamado a atenção [1] para a indiferença total do actual poder em Washington, não apenas pela substância do respeito da legalidade internacional, como mesmo, da sua aparência.

Agora, fica claro que o papel da administração Trump [2] é de servir os desígnios das facções mais extremas do sionismo em Israel, em particular redourando a estrela de Natanyahu a braços com um processo por corrupção que poderá inviabilizar a sua eleição ou tomada de posse. 

O poder em Washington tem-se comportado como um apoio incondicional do governo israelita, assim como do todo-poderoso herdeiro do trono da Arábia Saudita, Mohamed Bin Salman.

 Que mensagem dão estas tomadas de posição [3], estas comprometedoras alianças, sem condições e sem contra-peso de uma legalidade internacional, expressa nas numerosas resoluções da ONU, muitas das quais subscritas por Washington?
Os parceiros e adversários dos EUA ficam claramente com a noção de que Washington se considera acima da legalidade internacional. Isto, apesar de ter sido um dos pilares da sua construção no pós-IIª Guerra Mundial. 
A outra ideia com que ficam todos, é que existem compromissos secretos, acordos que implicam estas posturas. Natanyahu ou Bin Salman por mais poderosos que sejam dentro dos seus respectivos Estados, não seriam nada sem o apoio decisivo dos EUA. 
Por outro lado, os EUA, comprometem-se - ao tomar como aliados incondicionais, esses governos - com um desempenho dos mais negativos, em termos de direitos humanos. Mas Trump e seu governo, continuam a usar a «cantilena» dos direitos humanos, como pretexto para agredir a Venezuela, ou quaisquer outros países que não se submetam ao seu «diktat».

Uma tal postura equivale a que os EUA estão a auto-sabotar a sua imagem de propaganda que gostariam de dar; a de uma nação que está preocupada com a legalidade, com a democracia e com os direitos humanos. Mas, esta arrogância não revela grande poderio, antes pelo contrário, uma grande fragilidade. 
Pode-se ver a política externa dos EUA como fortemente condicionada por Israel e pela Arábia Saudita, o que apenas mostra a sua enorme fraqueza, a sua dependência mesmo. 
- Terão Natanyahu e Bin Salman meios de pressionar Trump, de um modo tal, que este seja obrigado a «deitar às urtigas» a tal capa de respeitabilidade internacional?
 - Serão tais pronunciamentos, como a declaração relativa aos montes Golan, decorrentes do facto de Washington desejar retirar-se?
- Estaria Washington a preparar o terreno para seus aliados estratégicos da região ficarem mais fortalecidos, antes da sua retirada? 

Seja como for, as convulsões e sofrimentos [4] dos povos no Médio Oriente, quer do povo da Palestina, quer da Síria ou do Iémene, foram claramente causadas pelos EUA e por seus aliados. 
Estas guerras criminosas têm como consequência que os povos dos países da região e doutras zonas do mundo, anseiem pela queda dos EUA enquanto hiper-potência mundial, não sujeita a qualquer restrição, não respeitando leis nem direito, mas impondo pela força a sua vontade. 
Estas manifestações de arrogância («hubris») são afinal mais umas pedras para a tumba de seu suposto estatuto de «nação indispensável», de que se ufanam. 

[1] https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/12/jerusalem-tem-de-ser-promessa-de-paz.html

[2] http://www.informationclearinghouse.info/51329.htm

[3] https://www.asiatimes.com/2019/03/article/us-golan-move-turns-1967-setback-into-reality/

[4] https://www.zerohedge.com/news/2019-03-25/israeli-airstrikes-rock-gaza-target-hamas-command-after-netanyahu-cut-short-us-trip

segunda-feira, 4 de março de 2019

BASES POR TODO O LADO, EXCEPTO NO RELATÓRIO DO PENTÁGONO


                     

 Tradução por Manuel Banet Baptista, inicialmente publicado em:

https://ogmfp.wordpress.com/2019/03/03/bases-por-todo-o-lado-excepto-no-relatorio-do-pentagono/



Por Nick Turse  TomDispatch


Num espaço de horas, depois do Presidente Trump ter anunciado a retirada das forças do EUA da Síria, o equipamento da base de al-Tanf já estava a ser inventariado para ser removido.  A mais importante base americana na Síria estaria (talvez) sendo riscada dos livros do Pentágono – só que, al-Tanf nunca esteve efectivamente nos livros do Pentágono. Inaugurada em 2015 e, até recentemente, albergando centenas de soldados dos EUA, é uma das muitas bases militares que existem algures entre a luz e a sombra, um reconhecido posto avançado que nunca fez parte do inventário oficial de bases do Pentágono.

Oficialmente, o Departamento da Defesa mantém 4.775 «locais», espalhados por todos os 50 Estados, por oito territórios dos EUA e por 45 países estrangeiros. Um total de 514 destes postos avançados estão localizados no estrangeiro, de acordo com o Catálogo mundial do Pentágono. Apenas para mencionar alguns da longa lista, estão nela incluídas as bases no Oceano Índico de Diego Garcia, de Djibouti, no Corno de África, tal como no Perú e em Portugal, nos Emiratos Árabes Unidos e no Reino Unido. Mas a versão mais actualizada do catálogo, emitida em 2018 e designada como «Relatório das Estruturas de Bases»  (BSR), não inclui a base de al-Tanf. Ou qualquer outra das bases na Síria ou no Iraque, ou outros locais onde se saiba que tais acampamentos militares existem e, ao contrário da Síria, estejam em expansão.

De acordo com David Vine, autor de “Uma Nação de Bases: Como é que as Bases Militares dos EUA no Estrangeiro Afectam a América e o Mundo,” pode haver centenas de bases semelhantes, fora dos registos oficiais, em todo o mundo. «Os locais ausentes são um reflexo da falta de transparência do sistema do que considero serem as 800 bases dos EUA fora dos 50 Estados e de Washington, D.C., que têm pontilhado o globo desde a IIª Guerra Mundial» afirma Vine, que é também membro fundador da recém criada Coalição Pelo Rearranjo e Fechamento das Bases no Estrangeiro, um grupo de analistas em assuntos militares, que atravessa o espectro ideológico e advoga a redução da «pegada global» dos militares dos EUA.

Tais bases, ausentes dos registos, estão fora deles por um motivo. O Pentágono não quer falar delas.  “Falei com o oficial de contacto com a imprensa, responsável pelo «Relatório da Estrutura das Bases» e não tem nada a acrescentar, nem ninguém com quem se possa falar mais sobre isto, neste momento” Foi o que a porta-voz do Pentágono, tenente-coronel Michelle Baldanza afirmou ao TomDispatch, quando interrogada sobre as muitas bases misteriosas do Departamento da Defesa.
“As bases não recenseadas estão imunes de escrutínio pelo público e mesmo pelo Congresso,” explicou Vine. “As bases são uma manifestação física da política estrangeira e militar dos EUA; portanto, bases fora-do-registo significa que os militares e o executivo estão a tomar decisões políticas sem debate público, frequentemente gastando milhões ou biliões de dólares e que, potencialmente, podem envolver-se em guerras e conflitos sobre os quais o nosso país não sabe nada.”


Quais São Elas?

A Coalição pelo Realinhamento e Encerramento das Bases notou que os EUA possuem cerca de 95 por cento das bases militares no estrangeiro, enquanto países como a França, a Rússia e o Reino Unido, têm cerca de 10-20 bases no estrangeiro, cada. A China possui apenas uma.
O Departamento de Defesa até se gaba de que as suas localizações incluem 164 países. Dito de outro modo, tem uma presença militar em 84 por cento das nações deste  planetaou, pelo menos, assim reivindica o Departamento de Defesa. Após TomDispatch ter pesquisado sobre tal número numa página Internet, destinada a contar a «história» do Pentágono ao público em geral, esta foi mudada rapidamente. “Apreciamos a sua diligência em ir ao fundo deste assunto,” disse a tenente-coronel Baldanza. “Graças às suas observações, actualizámos o sítio defense.gov para  ‘mais de 160.’”




O que o Pentágono ainda não definiu é o termo «local». O número 164 está mais ou menos a par com a avaliação do Departamento da Defesa das estatísticas de efectivos, que mostra pessoal colocado em 166 locais no estrangeiro, incluindo algumas nações com um número escasso de militares dos EUA e outras, como o Iraque e a Síria, em que a dimensão dos efectivos das tropas é obviamente muito maior, mesmo se não incluídas na lista ao tempo do recenseamento. (O Pentágono afirmou, recentemente, que existem cerca de 5.200 militares no Iraque e, pelo menos, 2.000 na Síria, embora este número deva agora reduzir-se significativamente.) O inventário de tropas no estrangeiro também contabiliza tropas em territórios americanos como Samoa, Puerto Rico, Ilhas Virgens, e Ilha Wake. Dúzias de soldados, segundo o Pentágono, também estão estacionados em “Akrotiri” (que, de facto, é uma aldeia na ilha grega de Santorini !) e milhares de outros estão aquartelados em locais «desconhecidos».
No seu último relatório, o número total das tropas com «localização desconhecida»,  excede 44.000.

                 Official Defense Department manpower statistics show U.S. forces deployed to the nation of "Akrotiri."

Os custos anuais com o pessoal militar dos EUA no estrangeiro, tal como manter e gerir tais bases, atinge uma estimativa de 150 biliões de dólares anuais. O custo dos postos avançados apenas, soma, aproximadamente, dois terços do total. “As bases dos EUA no estrangeiro custam cerca de 50 biliões de dólares por ano, só para as edificar e manter, o que poderia ser usado em necessidades prementes nos EUA, na educação, saúde, habitação e infraestruturas” faz notar Vine. 
Talvez o leitor não fique surpreendido por as declarações do Pentágono serem um bocado vagas, sobre onde as tropas estariam estacionadas. O novo sítio Internet do Departamento da Defesa contabiliza “4.800+ sítios de defesa” à volta do mundo. Depois de TomDispatch ter pesquisado sobre esse total e como se relaciona com a contagem oficial de 4.775 locais mencionados na listagem oficial do BSR, o sítio Internet foi mudado para “aproximadamente 4.800 sítios de defesa.”
“Obrigado por apontar a discrepância. Estamos a mudar para um novo sítio Internet, estamos a actualizar informação,” escreveu a tenente-coronel Baldanza. “Por favor refira-se ao «Base Structure Report» (BSR) que tem os últimos números.”
Num sentido literal, o «Base Structure Report» tem realmente os números mais recentes — mas a sua precisão é outro assunto. “O número de bases contabilizadas no BSR tem pouco a ver com o número efectivo de bases dos EUA fora dos Estados Unidos, diz Vine. “Muitas bases, muitas delas bem conhecidas e outras secretas, têm sido deixadas de fora da lista.”
Um exemplo notório é o da constelação de postos avançados que os EUA construíram em África. O inventário oficial da BSR apenas menciona um punhado de locais aí – na Ilha de Ascencion, tal como em Djibuti, no Egipto e no Quénia. Na realidade, no entanto, existem muitos mais locais em muitos outros países africanos.

                            East Africa Response Force soldiers during emergency response exercise, Camp Lemmonier, Djibouti. (U.S. Air Force photo by Senior Airman Peter Thompson)

Uma recente investigação pelo Intercept, baseada em documentos obtidos do «U.S. Africa Command» através da Lei de Liberdade de Informação, revelava a existência de uma rede de 34 bases, sobretudo agrupadas no Norte e Oeste deste continente, assim como no Corno de África. A «postura estratégica» da AFRICOM consiste em ter maiores postos avançados, «duradoiros», incluindo dois «locais de operações avançadas» (FOSes), 12 «locais de segurança em cooperação» (CSLs) e 20 mais austeros, conhecidos como «localizações contingentes» (CLs).
O inventário do Pentágono incluí dois locais: Ilha de Ascension e a jóia da coroa de bases de  Washington em África, o Camp Lemonnier em Djibouti, que se expandiu de 88 acres, no início dos anos 2000, até cerca de 600 acres, actualmente. O referido relatório «Base Structure Report», no entanto, omite um «local de segurança em cooperação» (CSL) no mesmo país, o Chabelley Airfield, um posto-avançado menos vistoso, a cerca de 10 Km do primeiro, que tem servido como base de drones em África e no Médio Oriente.
A listagem oficial do Pentágono também menciona uma base pela designação obscura de “NSA Bahrain-Kenya.” A AFRICOM tinha começado por descrevê-la como um grupo de armazéns construídos na década de 1980, no porto e aeroporto de Mombaça, no Quénia, mas agora aparece como «CSL» na listagem de 2018. No entanto, há uma outra base no Quénia, o Campo Simba, mencionada em 2013, num estudo interno do Pentágono sobre operações secretas com drones na Somália e no Iémen. Pelo menos duas aeronaves pilotadas de vigilância estiveram baseadas aí, na altura. Simba foi, há algum tempo, uma  instalação operada pela Marinha; agora é mantida pela Força Aérea, concretamente pelo Esquadrão Expedicionário Nº475 de Base Aérea, parte da Esquadra Aérea Expedicionária Nº435.

O pessoal dessa mesma esquadra aérea pode ser encontrado noutro posto avançado, que não está mencionado no «Base Structure Report»,  situado no lado oposto do continente. O BSR declara que não regista informação sobre locais «não EUA» e que menciona somente os que tenham pelo menos 10 acres  de tamanho e que valham pelo menos 10 milhões de dólares. Porém, a base em questão — A Base Aérea 201  em Agadez,  no Níger — tem já um custo em construções de 100 milhões de dólares, quantia que será em breve eclipsada pelo custo de funcionamento da base, de 30 milhões de dólares anuais. Quando, em 2024, o presente acordo de dez anos cessar, seus custos de construção e de funcionamento atingirão cerca de 280 milhões de dólares.

Outras bases que faltam no relatório BSR são as do vizinho Camarões, incluindo uma base de longa duração em Douala, um campo aéreo de drones na longínqua Garoua e uma instalação conhecida como Salak. Este local, segundo uma investigação de 2017 pelo Intercept, pela Forensic Architecture, e por Amnesty International, tem sido usado por pessoal dos EUA e por contratantes, para vigilância com drones e missões de treino, e pelas forças camaronesas, aliadas dos EUA, para prisões ilegais e torturas.

Segundo Vine, o facto de manterem secretas as bases africanas dos EUA tem vantagens para Washington: Protege os aliados neste continente da possível oposição pela presença de tropas dos EUA, enquanto garante que não haverá um debate a nível doméstico sobre despesas e compromissos dos militares envolvidos. “É importante para os cidadãos dos EUA saberem onde estão baseadas as suas tropas em África e em todo o mundo” disse ao TomDispatch, “porque a presença de tropas dos EUA custa biliões de dólares todos os anos e porque os EUA estão envolvidos ou potencialmente envolvidos em guerras e conflitos que poderiam ter uma escalada e ficarem fora de controlo.”


As tais Bases Ausentes

África está longe de ser a única zona em que a lista oficial do Pentágono não se coaduna com a realidade. Durante mais de duas décadas, o «Base Structure Report» ignorou as bases em toda a espécie de zonas de guerra, com intervenção de americanos.  No culminar da ocupação do Iraque, por exemplo, os EUA tinham 505 bases aí, desde postos avançados, até bases com instalações gigantescas. Nenhuma delas aparecia nas listagens oficiais do Pentágono.
No Afeganistão, os números ainda são mais elevados. Tal como foi noticiado por TomDispatch em 2012, a Força Internacional liderada pelos EUA tinha cerca de 550 bases naquele país. Se forem adicionados os postos de controlo da ISAF – pequenas bases para garantir a segurança de estradas e aldeias – à contagem das mega-bases, o número atinge o valor de 750. E se tivermos em conta as instalações estrangeiras  – incluindo as logísticas, as administrativas e as instalações de apoio – o comando conjunto da ISAF contabilizou 1.500 locais. A quantidade das que estavam ao cuidado dos americanos ficou porém misteriosamente ausente da contagem oficial do Departamento de Defesa.

                         

Existem agora muito menos instalações assim no Afeganistão – os números podem descer ainda mais nos próximos meses, na proporção da redução das tropas. Mas a existência do Campo Morehead, da Base Fenty de operações avançadas, do Aeródromo de Tarin Kowt, do campo Dahlke ocidental, do Aeródromo de Bost, tal como do Campo Shorab,  uma pequena instalação no que foi antes o local das bases gémeas conhecidas como Campo Leatherneck e Campo Bastion, são incontestáveis. No entanto, nenhuma destas jamais apareceu no «Base Structure Report».

Analogamente, embora já não existam mais de 500 bases dos EUA no Iraque, nos anos mais recentes, visto que regressaram tropas americanas a este país, alguns quartéis foram restaurados ou construídos de raiz. Estes incluem o Complexo Besmaya Range, a base de Sakheem, a  base de Um Jorais, e a base aérea Al Asad, assim como o  aeródromo de Qayyarah Ocidentaluma base situada a 40 milhas a sul de Mosul, mais conhecida por “Q-West.” De novo, não encontrareis quaisquer delas na lista oficial do Pentágono.

Nestes dias, é difícil obter informação rigorosa sobre efectivos militares nas zonas de guerra, onde estejam envolvidos americanos, assim como sobre o número de bases em cada uma delas. Como explica Vine, “Os militares dizem que mantêm os números secretos, em parte, para esconder as bases dos seus adversários. Mas, como não será difícil localizar as bases em locais como a Síria ou o Iraque, tal secretismo é destinado antes a prevenir o debate ao nível doméstico, sobre o dinheiro, o perigo e mesmo para evitar tensões diplomáticas e inquéritos internacionais.

Se o objectivo do Pentágono tem sido o de evitar o debate doméstico, tem sido alcançado ao longo dos anos, escapando às questões sobre a sua postura global ou sobre o que um colaborador regular de TomDispatch, Chalmers Johnson designava como o “Império de bases americano.”
Em meados de Outubro, TomDispatch  perguntou a Heather Babb, uma outra porta-voz do Pentagon, sobre os postos avançados no Afeganistão, no Iraque e na Síria, que estavam ausentes do relatório «Base Structure Report», assim como os que faltavam em relação às bases africanas. Entre outras questões colocadas a Babb: O Pentágono poderia dar uma simples contagem – ou uma listagem – de todos os postos avançados? Possui uma verdadeira contagem das instalações no estrangeiro, mesmo que esta não tenha sido revelada ao público – uma lista que afinal fizesse o que a «Base Structure Report» apenas alega fazer? Outubro e Novembro passaram sem resposta.
Em Dezembro, em resposta aos pedidos de informação, Babb respondeu – em linha com a política usual de manter os cidadãos americanos no escuro acerca das bases que estes pagam e sem ter em conta a dificuldade de negar a existência de postos que se estendem de Agadez no Níger a Mosul no Iraque – «Não tenho nada a acrescentar», declarou ela, «à informação e aos critérios que estão incluídos no relatório».

A decisão do Presidente Trump em retirar tropas americanas da Síria, significa que o relatório de 2019 «Base Structure Report» será provavelmente o mais preciso desde há alguns anos. Pela primeira vez, desde 2015, a contabilidade dos postos avançados do Pentágono já não omitirá a guarnição de al-Tanf (ou, de novo então, talvez o faça). Mas isso ainda deixa de fora centenas de bases, ausentes da listagem oficial. Um posto avançado terá saído, mas quem sabe quantos ainda faltam?

Nick Turse é editor da redacção de TomDispatch e colaborador de Intercept
O seu livro mais recente intitula-se “Next Time They’ll Come to Count the Dead: War and Survival in South Sudan.”(«Na próxima, vez virão para contar os mortos: guerra e sobrevivência no Sudão do Sul»).
O seu sítio Internet é NickTurse.com.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

EUA ETERNIZA A SUA PRESENÇA E PROTEGE TERRORISTAS NA SÍRIA

                          

https://www.zerohedge.com/news/2018-12-11/us-occupies-territory-syria-size-croatia-russia-slams-illegal-stronghold-evil

O CONTINGENTE AMERICANO NA SÍRIA, ALÉM DE ILEGAL, ESTÁ A PROTEGER OS RESTOS DOS GRUPOS TERRORISTAS QUE PUSERAM ESSE PAÍS A FERRO E A FOGO DURANTE SETE ANOS.

Os EUA só podem ter como objectivo manter um foco de desestabilização na Síria e no Médio Oriente. 
A arrogância e a indiferença perante a lei internacional estão patentes. Nomeadamente, para todos os países que não estejam alinhados (vassalos) dos EUA. Os EUA com a sua obsessão de domínio mundial irão arrastar os seus aliados-vassalos nomeadamente europeus para mais aventuras pós-coloniais. 
É o destino dos vassalos fornecerem os contingentes (carne para canhão) dos impérios que os controlam.
Enquanto a NATO (cujo raio de acção se estende por todo o mundo, hoje em dia) existir, os vassalos europeus estarão forçados a lutar nas guerras imperiais.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

COMO É QUE O IMPÉRIO DOS EUA TRATA OS SEUS «ALIADOS»

Escrevo este artigo como comentário do muito bem informado e lúcido artigo de Grete Mautner, abaixo:

Não irei repetir os argumentos desta autora, com os quais estou geralmente de acordo, apenas tentarei acrescentar algumas reflexões originais.

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As pessoas têm tendência a ver com olhos favoráveis o papel dos EUA em relação à política europeia. No entanto, a memória é curta, basta relembrar o caso Gládio, que está na origem dos «anos de chumbo» em Itália, ou o constante e dedicado apoio à aliança de Portugal de Salazar e Caetano, com a África do Sul do Apartheid, que foi o eixo estratégico dos EUA para combater a «ameaça soviética» em África e conduziu ao prolongamento de uma guerra insustentável e perdida à partida para as forças portuguesas. Pois os líderes políticos desta «grande democracia» americana, não têm muitos motivos de se alegrarem com uma independência, mesmo que relativa, do bloco UE, que se poderia autonomizar ainda mais do ponto de vista económico, político e militar-estratégico em relação ao «Big Brother» dos EUA. 
A imagem da diplomacia dos EUA é a do «bully» que ameaça e faz chantagem permanente com adversários e aliados. Vezes sem conta, os EUA fizeram exactamente o necessário para colocar europeus uns contra os outros, como no caso do golpe arquitectado, financiado e monitorizado pelo governo de Obama, que derrubou um governo constitucional na Ucrânia, pondo no poder líderes de movimentos de extrema-direita e a tomada de muitas riquezas estratégicas deste país pelos interesses americanos. A imposição toma o lugar da diplomacia num país sem cultura de verdadeira consensualização, de harmonização de interesses: os EUA, sempre que podem, tentam impor a sua «lei» ao resto do mundo. Veja-se o caso das sanções contra o Irão e o «torcer da mão» de uma UE sem verdadeiro contra-peso para essa chantagem (uma expressão de Obama, usada em relação a adversários, mas que estaria bem também em relação a «amigos»). 
Acumulam-se os sintomas de que a UE vai ser objecto de manobras para a desestabilizar, já que esta se atreveu a pronunciar o tabu máximo: a possibilidade de construção de uma defesa autónoma, sem necessidade de recurso à NATO e portanto, a prazo, o definhamento e finalmente a total secundarização, senão a morte, da aliança estratégica agressiva. 
No plano financeiro, a guerra surda entre o dólar e o euro já existe, com a subida do juro (iniciada há mais de um ano) das taxas da FED, enquanto os das taxas equivalentes do BCE se mantinham próximos de zero; isto foi drenar muitos capitais para os EUA. Mas não é tudo:
- As patentes e escandalosas benesses fiscais de que as grandes firmas americanas beneficiam (como Apple e Microsoft) no espaço da UE não seriam toleradas a empresas da própria UE, 
- O esforço de guerra que os europeus têm efectuado nas aventuras neocoloniais em África, têm drenado para essas operações, sob a bandeira da NATO, muitos biliões, ao longo dos anos. 
- A presença da NATO no Afeganistão, um fracasso militar (americano principalmente) que se prolonga há 17 anos, tem como resultado a mobilização de forças europeias, desde as mais ricas, como a Alemanha, até às mais pobres como Portugal.  

De facto, a geração de políticos medíocres e oportunistas, que tem o poder numa grande parte dos países europeus, tem favorecido o jogo americano. Mas, no geral, um «bully» tem tendência a exagerar e a causar reacções naqueles que escolhe como vítimas: a opinião pública de países centrais na UE cada vez mostra mais claramente o seu repúdio por líderes submissos e que prestam vassalagem aos EUA. Por este motivo, mesmo os mais servis vassalos têm de dar um ar de independência, de vez em quando. 
Muito se fala nos media europeus de uma onda de populismo misturando este com o «trumpismo», mas que são realidades e conceitos distintos. 
O que os chamados «populistas» europeus pretendem é substancialmente diferente do que pretende a liderança do império. 
Aqueles pretendem um reapossar dos comandos do governo em mãos nacionais, contra a oligarquia de Bruxelas que tem desempenhado o papel de poder imperial «subordinado», ou seja enquanto vassalo directo de Washington. 
Ao contrário, Trump pretende que os EUA voltem a um relativo isolacionismo, abandonando a ingerência permanente como «polícia» mundial, assim como uma reindustrialização do país, podendo assim livrar-se da dependência em que se encontra em relação à China, a qual se tornou uma espécie de «fábrica do Mundo».
Em qualquer instância, o comportamento futuro dos EUA em relação aos seus «aliados» será o mesmo que tem sido até agora: 
- Afundem-se as economias da zona Euro, para que o dólar e os mercados dos EUA possam flutuar e até prosperar com o sofrimento alheio. 
- Uma Europa fraca do ponto de vista económico não poderá ser capaz de forjar um exército poderoso que dispense a presença «amiga» das bases da NATO. 
Aliás, o constante acirrar da tensão, usando constantes provocações militares contra a Rússia, tem como objectivo mostrar aos europeus que eles continuam a «precisar» das tropas americanas para sua defesa, como no tempo da Guerra Fria nº1.
Uma Europa dividida por rivalidades e querelas mas temerosa de desagradar aos seus senhores, será sempre terreno propicio para a diplomacia americana, tal como ela costuma fazer com países do «Terceiro Mundo» na África, Médio-Oriente, América Latina, etc. Para os olhos dos imperialistas dos EUA, a Europa é um espaço a manter sob seu domínio.

Os europeus são sistematicamente «deitados por debaixo do autocarro» pelos seus aliados:
- São os que têm de aguentar com o pior das crises económicas, para usufruto de Wall Street, 
- São os que aguentam com o peso económico e também militar estratégico de uma ocupação permanente do território com tropas estrangeiras (as bases da NATO), colocando esses países automaticamente na mira de um ataque nuclear preventivo por parte dos russos (o que se torna mais provável com a constante arrogância e provocação que tem sido a política americana em relação a estes)
- São os que têm de aguentar na sua fronteira com situações explosivas como a guerra civil da Síria com o seu cortejo de destruição e de violência, os refugiados, as crises de chauvinismo e a subida da extrema-direita aproveitando essas circunstâncias ou a secessão das regiões do leste da Ucrânia. Em ambas as situações é clara a interferência pesada de Washington, quer na sua eclosão quer na sua manutenção.
- São os que vão como «subcontratantes» para países de África como o Mali, a Rep. Centro-Africana, e outros, para manter no seu posto governos completamente submissos ao «Ocidente» a pretexto de combater grupos aparentados com a Al Quaida (mas, entretanto os grupos do tipo Al Quaida, na Síria são considerados «rebeldes moderados», visto que são úteis para combater Assad).

Infelizmente, tenho de ser pessimista no curto/médio prazo, pois não vejo nas forças que estão irrompendo no cenário, na maior parte dos casos, mais do que oportunistas explorando um sentimento de profunda frustração das massas, de desencantamento pelo paraíso do consumismo como a UE dos anos 80 e 90 se apresentou, de medo de perda da identidade e que vai de par com uma completa incompreensão do papel dos dirigentes no próprio desencadear das guerras causadoras de ondas de refugiados. Um cenário de nacionalismo «genuíno» é tão impossível como um voltar para trás no tempo, para o passado, para o século XIX. Com efeito, a afirmação duma nação com a sua expressão de comunidade política,  está historicamente correlacionada com a aliança precária entre classes - como a pequena, a média e a grande burguesia - para explorarem melhor e sem concorrência, os recursos dentro de cada país (a sua própria classe operária, inclusive). Mas o capital hoje em dia está verdadeiramente internacionalizado, nem sequer poderá haver um capitalismo auto-suficiente no mais rico e poderoso país do mundo, os EUA, quanto mais em pequenos ou médios países. Aliás nem isso seria bom, quer em termos de desenvolvimento humano, quer em termos de conservação da paz entre os povos.
Mas, este cenário de avanço dos nacionalismos tem como vantagem -para os EUA- fraccionar politicamente o espaço da UE. Para os EUA, isso vai tornar mais fácil subjugar o seu continente «aliado» e rival, a Europa. 
É possível que este seja o cenário em que se desmorone a UE ou em que esta seja relegada a mera união aduaneira.