Documentário da BBC
domingo, 30 de outubro de 2022
Açores - Descoberta de Civilização Atlântica (Idade do Bronze / 2000 A.C.)
Documentário da BBC
sábado, 29 de outubro de 2022
[Glenn Greenwald] O CONSÓRCIO QUE IMPÕE A CENSURA É FORMADO PELO ESTADO E CORPORAÇÕES
[Citação da Newsletter de Glenn Greenwald:
Glenn Greenwald <greenwald@substack.com> ]
Tem havido alguma notícia - por mim e por outros — sobre a nova e francamente fraudulenta indústria de «desinformação». Esta auto- proclamada peritagem, baseada em pouco mais do que uma ideologia política simplista, reivindica o direito de ser oficialmente quem decreta o que é «verdadeiro» e «falso», para, entre outras coisas, justificar a censura feita pelo Estado e as corporações, exercida pelos «peritos» que são quem decreta aquilo que é «desinformação». Estes grupos são financiados por um consórcio de um pequeno grupo de bilionários neoliberais (George Soros e Pierre Omidyar) junto com as agências de serviços secretos dos EUA, Reino Unido e U.E. Tais grupos, financiados pelos bilionários e governos, estão quase sempre disfarçados sob nomes com conotações inócuas, tais como:
The Institute for Strategic Dialogue, The Atlantic Council's Digital Forensics Research Lab, Bellingcat, the Organized Crime and Corruption Reporting Project.
Estes, estão desenhados para darem uma aparência de serem grupos de estudiosos apolíticos. No entanto, sua finalidade real é a de fornecer o enquadramento justificativo de campanhas para estigmatizar, reprimir e censurar quaisquer pensamentos, opiniões e ideias, em dissidência com a ortodoxia neoliberal dos poderes. Eles existem, por outras palavras, para dar a impressão de que a censura e outras formas de repressão, têm fundamento científico, em vez de ideológico.
Leia a continuação (em inglês) no link seguinte:
sexta-feira, 28 de outubro de 2022
O «LIVRE» MERCADO, EXISTE?
Eu não sou «competente» para falar deste assunto, segundo os especialistas que se arrogam o exclusivo de perorar sobre economia. Porém, tendo eu vivido e estudado, estou em condições - como qualquer um - de observar a realidade do «livre mercado» ou sua ausência.
Adam Smith designava-se a si próprio como «filósofo moral»
Podemos retomar as obras de Adam Smith, David Ricardo, e outros, para nos certificarmos que o seu liberalismo significava outra coisa, completamente diferente daquilo que as correntes neoliberais contemporâneas postulam em relação a este assunto.
As correntes neoliberais atuais, defensoras do «livre mercado», pretendem que este seja uma espécie de «Deus ex Machina», que acaba por tudo regular, por satisfazer os compradores e os vendedores, com o seu jogo de valores, pelas intervenções de uns e de outros.
Mas, logo aqui, os modelos dos neoliberais sobre o comportamento dos intervenientes nos mercados são totalmente abstratos: Com efeito, o interveniente no mercado é representado como uma entidade abstrata com conhecimento instantâneo de todos os preços praticados nos mercados! Um átomo que tudo vê, tudo sabe, como se fosse Deus!? Esse agente-mitificado seria capaz de fazer, para cada operação de compra e venda, um lance otimizado. Além disso, o seu raciocínio e comportamento seriam inteiramente racionais, não sofreria do viés de quaisquer preconceitos. Mas, afinal, este «agente-robot-do-mercado» não teria nada do que há de humano no comportamento.
Mesmo que se queira atribuir à «mão invisível»(1), essa propriedade misteriosa que faz com que os preços finais acabam por ajustar-se aos desejos, tanto dos vendedores como dos compradores, tal está muito longe da realidade sentida, da realidade económica do dia-a-dia.
Atrevo-me a dizer que é observável por todo o lado a distância entre o modelo de mercado livre, segundo os neoliberais e a realidade, quer se trate da transação de couves (uns poucos euros), quer de apartamentos (dezenas ou centenas de milhares de euros). Na realidade, o que eu e muitas pessoas verificamos, é que a capacidade aquisitiva por parte do comprador e a perceção do vendedor, de que tem muitos ou poucos clientes para seu produto, são os fatores decisivos para o ajuste dos preços.
Não existe ciência económica no mesmo plano que as ciências naturais. Esta ciência económica «matematizada», que nos querem fazer engolir do ensino secundário até à faculdade e mais além, como se fosse uma ciência rigorosa, é simplesmente uma fraude.
Os clássicos acima referidos consideravam a economia, como fazendo parte das ciências «morais»: Queriam com isso dizer que estavam sujeitas a muitas das paixões humanas, o que - não tenho dúvida - continua a ser atual. Se não tivermos em conta o jogo psicológico, do nível dos indivíduos ao das relações internacionais, não podemos compreender nada do que se passa.
Os pânicos das bolsas, as manias e outros ventos de loucura, que estão sempre a surgir, em tal ou tal ponto do globo e em tal ou tal circunstância, seriam - a meu ver - a prova cabal de que a economia é uma ciência humana, que está correlacionada com as paixões, as políticas, as ambições de poder, de status, de proteção, etc. Sentimentos muito humanos, quer lhes demos uma conotação positiva ou não; o facto é que as matematizações desses comportamentos são apenas construções arbitrárias, não descrevendo de forma adequada, nem os fenómenos aparentes dos mercados, nem a psique. Os modelos não têm em conta a enorme diversidade e maleabilidade do comportamento humano, devido à diversidade e riqueza da psique.
A economia contemporânea, na sua versão dominante, está conscientemente a fazer inferências abusivas, no que respeita aos indivíduos e ao seu comportamento nos mercados. Não espanta que os modelos construídos com base em tais falácias, sejam apenas «bonitas construções» para fazer correr um programa de software e ... nada mais.
Mas, o modelo «da economia de livre mercado» está tão arreigado na mente dos políticos e economistas, que penso seja um caso de construção obviamente ideológica, que se infiltrou no discurso dominante, ao ponto de convencer muitos da sua validade.
Os mercados existem e não apenas nas economias capitalistas: existiram desde a mais alta antiguidade. Não me insurjo contra a noção de mercado. É uma realidade, desde os alvores das civilizações; mas temos de compreender como é que os nossos antecessores realizavam as trocas, como as encaravam. O capitalismo obnubilou muita coisa. Antes do triunfo do modo de produção capitalista (final do século XVIII ou princípio do século XIX), as relações humanas não se guiavam pela «ditadura da mercadoria». Não existia, em muitos casos, uma economia onde o dinheiro dominasse, mas isto não significa que não existissem uma economia e trocas comerciais.
Hoje mesmo, em que a mercantilização de tudo predomina, existem numerosas instâncias em que as pessoas e organizações não são movidas por critérios económicos, mas por outros (2). Não significa que tais comportamentos sejam resquícios do passado, mas antes que nós somos essencialmente os mesmos (afetivamente e psicologicamente) que os humanos de há dez mil, ou mais anos.
A questão do mercado ser «livre», reduz-se somente à questão de existir - ou não - intervenção estatal no mesmo, se eu bem compreendo os defensores do neoliberalismo na economia.
Ora, o Estado tem regulado os mercados de várias maneiras: Não vejo que a ausência de regulação do mercado possa ser benéfica para os intervenientes. O respeito por regras é fundamental para haver mercados ordenados, logo, para serem «livres», no sentido de exprimirem a concorrência entre os vários intervenientes, de modo não falseado. Tem de existir, nas sociedades capitalistas contemporâneas, uma intervenção do Estado nos mercados. Não acredito que os defensores dos tais «livres mercados» prescindam dessa mesma intervenção.
Parece-me que as pessoas muito preocupadas em preservar a «liberdade dos mercados», estejam sobretudo preocupadas com o mercado do trabalho, quer o afirmem, quer não. Se houver um enquadramento legislativo, que constrange os patrões e os empregados a estabelecer relações contratuais coletivas, a liberdade de recrutar e de despedir está efetivamente restringida.
Não penso que os trabalhadores queiram prescindir da sua liberdade de estabelecer um contrato com os patrões, de mudar de emprego, de rescindir o contrato de trabalho, em caso de incumprimento por parte da entidade patronal, etc.
Portanto, quer-me parecer que se fosse aplicada a liberdade de contratação segundo as regras e leis vigentes nos países onde os direitos laborais são respeitados, não haveria boa parte da conflitualidade entre as classes patronal e trabalhadora. Estes conflitos surgem, muitas vezes, devido à negação dos direitos dos assalariados, em termos de contratação, ou de negociação e perante a obstinação dos patrões em não aceitarem discutir as reivindicações pertinentes dos trabalhadores.
Afinal, os trabalhadores são os reais defensores da liberdade de contratação e de negociação. Muitas vezes os patrões, não apenas se negam a negociar, como vão pedir a intervenção estatal, para reprimir (por vezes violentamente) as reivindicações dos empregados.
A liberdade do mercado de trabalho ganharia se os capitalistas e seus suportes mudassem de postura. Em vez de falarem constantemente de «livres mercados», deveriam antes aplicar os princípios legais em vigor ao mais importante mercado económico e social, que é o do trabalho.
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(1) Expressão usada por Adam Smith na sua obra «A Riqueza das Nações». Usou-a para exprimir, não a confiança cega nos mecanismos do mercado, o sentido que agora lhe é atribuído (falsa interpretação), mas antes, no contexto dum discurso teórico, uma idealização das relações mercantis na sociedade. Trata-se dum processo literário, o da «experiência mental». Este tipo de demonstração, usando situações imaginárias, era frequente nas Luzes. Muitos escritores usaram-na: Diderot, D'Alembert e Jonathan Swift, entre outros.
(2) Um artigo de Karl Polanyi dá-nos uma visão global da evolução das sociedades e dos respetivos valores: https://www.commentary.org/articles/karl-polanyi/our-obsolete-market-mentality/
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
RULES BASED ORDER; O QUE É, AFINAL?
terça-feira, 25 de outubro de 2022
VALÉRIE BUGAULT: DO SISTEMA DE DOMINAÇÃO À MUDANÇA DE PARADIGMA
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
A CHAVE PARA DESENCRIPTAR O PODER
Por mais absurdo ou chocante que nos pareça o comportamento de um «grande ator coletivo», este tem sempre uma lógica intrínseca, tem uma estratégia, persegue objetivos, justos ou injustos, realistas ou utópicos. O que, à primeira vista, pode parecer irracional, não o é, mas antes obedece a uma lógica que nunca nos é revelada.
Por exemplo, a lógica dos grandes bancos centrais, em particular da FED, parece estar intencionalmente a conduzir o mundo para uma severa recessão. Os bancos centrais não são - de modo nenhum - independentes dos grandes interesses financeiros privados, visto que estes estão representados no capital e na administração das referidas instituições. Com a expansão da massa monetária, seguida de sua contração, com a descida e subida da taxa de juros de referência, eles desestabilizam o sistema monetário e financeiro mundial: As suas intervenções estão na base dos grandes ciclos de expansão e contração do crédito, que desencadeiam as bolhas especulativas, seguidas pelas recessões. Isto parece contrário ao bom funcionamento do sistema capitalista, mas a realidade é que sem estas instabilidades, não haveria tantas oportunidades para operações lucrativas (aquisições e fusões) que são - de facto - as que permitem a expansão da banca, das grandes empresas e das grandes fortunas...
Outro exemplo, os setores de serviço ao público, a educação, a saúde, o fornecimento de água, de eletricidade, as infraestruturas básicas: No pós 2ª Guerra mundial, estas funções eram assumidas com naturalidade pelos diversos Estados capitalistas, não apenas pela necessidade premente de reconstruir as sociedades e de somente o Estado estar em condições de o fazer, como também, deste modo ficarem garantidos os serviços básicos (não lucrativos) indispensáveis ao funcionamento da sociedade. O Estado investia-se em setores indispensáveis, mas não rentáveis, permitindo que os capitais privados se investissem na indústria e noutros setores rentáveis. Mas, a lógica do capitalismo fez com que os setores antes rentáveis, ficassem cada vez menos. Então, decidiram os grandes grupos capitalistas atacar os setores que antes eram considerados reservados ao domínio público. Por volta dos anos 1980/90, o panorama mudou radicalmente. Descobriram «o milagre das privatizações»: bastava o Estado ceder a exploração desses setores, para eles se tornarem rentáveis. O Estado tinha efetuado - ao longo de décadas - investimentos em infraestruturas, em formação dos funcionários etc.: Isso era posto de lado, na avaliação do valor das empresas estatais destinadas a serem alienadas ao setor privado. As avaliações eram feitas por «agências» vinculadas aos interesses dos grandes capitalistas, pelo que foram eles que ditaram os preços e mesmo as condições das operações de privatização. Os representantes do Estado não defenderam os interesses do Estado, foram corrompidos e fizeram o jogo dos beneficiários da privatização. Muitos desses políticos e altos funcionários corruptos continuam no poder, quer em cargos do executivo, quer em agências e institutos públicos, quer em administrações de empresas privadas. Outros já estão aposentados, com reformas que são um insulto aos pobres que eles supostamente deveriam ter servido. O público ignora - devido a ocultação intencional pela media - a quantidade de corrupção, de privilégio, de reformas douradas, que aqueles políticos e burocratas obtiveram pela venda ao desbarato de bens e empresas do domínio público.
O «sucesso» das grandes empresas consiste -afinal de contas - em capturar um setor dos serviços (saúde, educação, fornecimento de água, de telefones, etc...), obtendo garantias de «rentabilidade», ou seja, em condição de monopólio, ficando afastada a hipótese de concorrência. Chegam a cozinhar clausulas nos contratos de privatização, em que o Estado é condenado caso tome decisões que façam diminuir os lucros. Por exemplo, se houver - da parte do Estado - uma decisão de aumento de impostos, novas regulamentações, para atender a preocupações sociais, ou ambientais, etc.
Esta fase de privatização generalizada do que tinha sido do domínio público, está a encerrar-se atualmente no Ocidente. Aquilo que se verifica atualmente é ascensão do poder duma casta de multimilionários que - não apenas controla conglomerados de empresas, que dominam completamente o mercado internacional - como têm captado instâncias nacionais e internacionais, que passam a ser veículos dos seus interesses.
Por exemplo, veja-se o caso do Fórum de Davos, que não é o único, longe disso: As teses de Schwab, com o apoio de multimilionários com Bill Gates e de outros, vão no sentido de uma sociedade sob controlo total. Ele inspira-se na sociedade chinesa atual. Nesta, já estão em funcionamento muitos dos mecanismos que eles gostariam de ver aplicados, em grande escala, nas «democracias ocidentais»: A vigilância generalizada, o sistema de crédito social, a (quase) universalidade do dinheiro digital, a censura e a vigilância permanentes dos conteúdos on-line. Finalmente, as medidas drásticas supostamente para «parar» o vírus, como os lockdowns e os sistemáticos testes PCR, que na China se traduzem num inferno chamado «Zero-COVID».
Note-se que tudo isto é feito com a aceitação passiva, mas não lúcida da cidadania. Os que são lúcidos, a cidadania que reage, protesta, denuncia, é um incómodo para os globalistas. Sua imagem tem de ser denegrida têm de ser declarados «neo-nazis», «fascistas», «terroristas internos» e outros «mimos de linguagem», tanto por «fontes governamentais» como por «ex-esquerdistas» que foram cooptados, a maior parte com plena consciência disso. Por outro lado, os manifestantes não possuem meios de se defender, de contrariar a lama e os insultos raivosos que lhes dirigem. A «liberdade de expressão» tornou-se uma piada de mau gosto, pois o que resta de «liberdade» é a de ficar calado perante todas a infâmias cometidas em nosso nome, ou em alternativa, denunciá-las e ser violentamente reprimido, excluído, difamado, perseguido, despedido, preso. Este é o grau a que se chegou, no orgulhoso Ocidente.
Para mim, os totalitarismos equivalem-se, não existe um que seja melhor que o outro. Todos eles fazem a sua auto- apologia, todos eles mostram realizações muito impressionantes... publicitárias. Mas todos eles perpetuam o poder duma casta,
- sejam os burocratas «vermelhos», cuja fortuna está nas mãos de parentes (filhos, sobrinhos, noras, etc.), na China «comunista»,
- ou os multimilionários, que fazem e desfazem os governos das «democracias ocidentais», cujos líderes são os seus fantoches, nos encontros de Davos, de Bilderberg ou outros.
Para se saber realmente deslindar a verdade, seja em política nacional, internacional, ou noutro domínio, o ponto fundamental a analisar, não são os discursos, declarações, slogans, ou gestos teatrais, cerimónias, etc.
São os atos, que realmente são portadores de significado na pugna pelo poder, que é todo o jogo político (e empresarial), ao nível local ou global.
O que eles/elas fazem - e não aquilo que declaram - é que pode dar-te a chave para compreenderes, por detrás das máscaras, seus motivos, intenções e estratégias.
domingo, 23 de outubro de 2022
FUTURO DAS RELAÇÕES COM A CHINA
Apresentação dos sete elementos da comissão permanente do CC do PCCh
Tento, abaixo, fazer o ponto sobre a visão que tenho em relação à China, ao partido comunista chinês, às relações da China com o Ocidente, da minha forma de apreender a realidade geopolítica.
A proibição de empresas americanas exportarem «chips» para a China, assim como de pessoal que trabalha na China em empresas de alta tecnologia de escolher entre continuar a ter nacionalidade americana e demitir-se desses empregos, ou guardar o emprego e ver-se destituído de sua nacionalidade americana, é um golpe violento, mas pode fazer «boomerang» como outras sanções fizeram no passado.
Penso que numa guerra económica total como os EUA estão a fazer à China, o mais provável de poderá resultar destas medidas, é a aceleração do fabrico de «chips» made in China. Não nos devemos espantar que estes sejam cópia de «chips» americanos, usando tecnologia com patente americana, mas sem o reconhecer. A China tem desenvolvido suas indústrias, infringindo os direitos de patentes, durante mais de 40 anos! Agora, com uma guerra, vai fazê-lo ainda mais e não se importará muito em perder o mercado americano, pois vai compensar com o alargamento dos mercados nos BRICS e nações parceiras das Novas Rotas da Seda.
Por outro lado, os americanos podem não conseguir substituir importações vindas da China, quer porque estão - de momento - incapazes de fabricar essas mercadorias eles próprios, quer porque os potenciais fornecedores alternativos já têm sua capacidade produtiva saturada. A medida brutal dos EUA em relação à China, poderá transformar-se num «tiro pela culatra».
O 20º Congresso do PCCh traduz-se numa reforçada centralização do poder em torno dos órgãos executivos e do secretário-geral, Xi Jinpin. Este desfecho já estava, desde há longa data, inscrito no rumo do gigante asiático. Por muito complexo e perigoso que seja o contexto internacional, não vislumbro um enfraquecimento do poder do PCCh, no curto prazo.
Há muitas vozes que se especializaram, na Internet e no Youtube, em profetizar a catástrofe, a partir deste ou daquele aspeto da política ou da economia chinesas. Não me parece que estes discursos sejam credíveis, estão imbuídos de objetivos propagandísticos. Mas, se o público que ouve, vê e lê tais notícias catastróficas tivesse espírito crítico, veria que elas se repetem. Se tivessem alguma ponta de verdade, então já teria havido uma revolução, um colapso da economia, um terramoto político, social e civilizacional. Mas, nada disso aconteceu, embora aconteçam muitas coisas que merecem a nossa atenção.
Isto mostra, sobretudo, como o público no Ocidente é manipulado por campanhas destinadas a denegrir a imagem da RP da China. Esta deformação mediática é baseada nas técnicas de condicionamento, manipulação (gaslighting) e reforço dos preconceitos de muitas pessoas: O racismo anti-asiático e, particularmente anti-chinês, está bem vivo. Ele é mantido e estimulado, ao nível das pessoas mais incultas, por campanhas que vão reforçar os estereótipos e o medo, como formas de fazerem passar mensagens racistas, xenófobas, anti-socialismo e pró-capitalismo.
Face a esta realidade, a única maneira de se compreender os fenómenos complexos é de usar a técnica da «caixa preta»: O que entra (input) e o que sai (output), pode ser avaliado (com algum esforço, é certo) pelos observadores atentos. O que se passa dentro do sistema, é de tal maneira distorcido pela propaganda - quer seja a favor ou contra - que não se pode avaliar nada corretamente: Se o tentarmos, apenas caímos na armadilha de narrativas ideológicas, mesmo (e sobretudo) quando disfarçadas de «factos» objetivos.
Esta análise do input e do output, não tem que fazer hipóteses sobre mecanismos internos. Pelo contrário, a melhor maneira de abordar a questão é de NÃO FAZER HIPÓTESES sobre o funcionamento interno. Também assim se consegue evitar o nosso viés (favorável ou desfavorável).
Assim, será possível ver a realidade da China no Mundo de hoje. Num processo de reflexão política amadurecida, deveria ser esta a preocupação primeira. Não faz sentido julgar a política e a geoestratégia num quadro moralista ou partindo dos valores que nós defendemos. Deve-se olhar como um processo que é inteligível, mas dentro da lógica do realismo politico, da lógica de relações de poder. Pode-se gostar ou não deste poder, mas a realidade é esta.
Portanto, se queremos saber como é o mundo que nos cerca, quais as forças que o moldam, qual a dinâmica por detrás ou debaixo da fachada, então temos de pôr de parte os aspetos afetivos, ideológicos, culturais, que nos enformam.
A um outro nível, já não de análise, mas de escolha política, de determinação para a ação, aí sim, podemos (e é lógico) fazer entrar o nosso sentimento ou nossa preferência por este ou aquele partido, ou corrente ideológica.
A atualidade, em grande plano, é a da separação da placa tectónica Euroasiática, da placa tectónica Europeia ocidental, sendo esta última capturada pela placa tectónica Norte-americana. O mundo está a mudar de configuração e, tal como as placas tectónicas da geologia, estas macromudanças da política e da economia são devidas a forças tão profundas e fortes, que apenas podemos constatar os seus efeitos. Seria fútil pretender mudar-lhes o rumo.