Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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sexta-feira, 3 de julho de 2020

FALÊNCIA DO IMPÉRIO E CEGUEIRA SELECTIVA

                             

As pessoas estão de tal maneira condicionadas pela narrativa da media de massas, que não se apercebem como as suas percepções do mundo estão dependentes e influenciadas por 24/24 e 7/7 de «notícias», cujo conteúdo obsessivo nos faz adoptar uma visão, não apenas sobre aquilo que se passa a milhares de km de distância, como sobre sociedades com problemáticas que não são as nossas.  
Por outro lado, as mais escandalosas falhas de um sistema que se auto-proclama como democrático, não nos incomodam. Prossegue a saga kafkiana de Julian Assange, não só dele, afinal, pois é a morte do jornalismo independente em todo o mundo, que está em jogo. Mas, a media está nas mãos de interesses tais, que este assunto é quase eliminado,  para proveito dos poderes globalistas e sua ditadura mundial fascista em progressão deslizante. 


As pessoas de esquerda na Europa ocidental adoptam frequentemente uma postura de vassalagem ao imperialismo dos EUA, sem sequer perceber como estão mentalmente colonizadas, através da ideologia dos direitos humanos, a esse poder. 

                          Now ‘anti-racist protesters’ are desecrating statues of elk and mermaids, can we please just call them vandals?
                                       Fotos de estátuas de veado e da sereia de Andersen vandalizadas.

Esta ideologia é apenas uma arma de arremesso daquele poder, destituído que quaisquer considerações humanitárias verdadeiras. Na verdade, o Estado Profundo dos EUA (Deep State), é quem detém a capacidade para desencadear «revoluções coloridas», em qualquer parte do mundo, para avançar a agenda desse mesmo Estado Profundo. 
Agora, é a vez dos próprios EUA, com a onda de pseudo revolucionários e actos de vandalismo com ausência real de perigosidade para o referido Estado, visto que tudo o que concentra a fúria destrutiva dos activistas são símbolos... Acaso verdadeiros revolucionários iriam desencadear uma ofensiva... para derrubar estátuas dos personagens históricos? 
- Ou iriam antes organizar a ofensiva contra os verdadeiros responsáveis das injustiças e da opressão? Ao desviarem, assim, a ira popular do poderio dos bancos, das multinacionais, das agências de controlo das massas, como a CIA, o FBI, a NSA, etc. não estarão eles (BLM, Antifa, etc) a fazer o jogo, ou mesmo a ser os agentes desse mesmo poder?

sexta-feira, 1 de março de 2019

POR QUE MOTIVOS FALHARAM AS CONVERSAÇÕES TRUMP-KIM EM HANOI?



Artigo de Manuel Baptista inicialmente publicado em:



A imprensa internacional «mainstream» apenas tem dado eco às declarações de Donald Trump, logo após o cancelamento brusco da cimeira:
“Era basicamente acerca das sanções,” disse o Presidente Donald Trump aos repórteres após cessar as negociações com Kim Jong-un. “Queriam as sanções levantadas na íntegra e nós não podíamos fazer isto. Ás vezes tem-se de abandonar conversações e foi exactamente o caso disso.”
As declarações de Ri Yong-ho, o ministro dos negócios estrangeiros da Coreia do Norte, afirmam circunstâncias bem diferentes:
A Coreia do Norte pediu o levantamento parcial das sanções …“que tolhem a economia civil e os meios de subsistência do povo,” referindo partes de cinco resoluções da ONU de 2016 e de 2017. Existem, no total, 11 resoluções da ONU impondo sanções à Coreia do Norte.
Além disso, o compromisso de Junho de 2018 deixava bem claro o que fazer de uma e outra parte e qual a sequência do processo.
O Presidente Trump e o Secretário-Geral Kim Jong Un afirmam o seguinte:
1.  Os Estados Unidos (EUA) e a República Democrática Popular da Coreia (DPRK) comprometem-se a estabelecer relações de acordo com o desejo dos povos de ambos os países, pela paz e prosperidade.
2.  OS EUA e a DPRK juntarão seus esforços para conseguir uma paz duradoira e estável na Península Coreana.
3.  Reafirmando a declaração de Panmujom de 27 de Abril de 2018, a DPRK compromete-se a trabalhar em direcção à completa desnuclearização da Península Coreana.
4.  Os EUA e a DPRK comprometem-se a resgatar os restos mortais de prisioneiros de guerra e de soldados combatentes, incluindo o repatriamento imediato dos que já estão identificados.

Após oito meses, nem a abertura de embaixadas, nem um levantamento de sanções foi assinado. A Coreia do Norte destruiu túneis de teste de armas nucleares e uma rampa de testes nucleares. Alguns restos mortais de prisioneiros de guerra/soldados foram repatriados. Mas do lado dos EUA não houve quaisquer medidas que correspondessem ao cumprimento dos seus compromissos.
A «cereja no bolo» foi o aparecimento extemporâneo de John Bolton, o conselheiro de segurança de Trump, que teria – segundo a imprensa sul coreana – feito exigências suplementares sobre destruição de armas químicas e biológicas da Coreia do Norte – o que, manifestamente, não se encontrava na agenda – perto do final das conversações, tendo por objectivo fazer capotar a hipótese de um acordo. 
A opinião pública sul coreana reagiu com desânimo e incredulidade ao comportamento leviano, que atribui à delegação dos EUA.
Resta compreender como e porquê, o Presidente Trump está mais preocupado em agradar ao ramo mais conservador e belicista da Administração, do que ao seu próprio eleitorado. Tem-se a sensação de que o Presidente ficou refém do «Estado profundo», não podendo satisfazer as promessas eleitorais de que iria descomprometer os EUA de teatros bélicos pelo mundo fora, concentrando-se antes na defesa das suas próprias fronteiras.

Leituras complementares:


https://tomluongo.me/2019/02/28/north-korea-talks-breakdown-trump-keeps-the-empire-happy/

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

ENQUANTO A VERDADE É NEGADA, O ESTADO PROFUNDO AVANÇA


              Image result for huawei 5g

Enquanto a verdade é negada ao público americano e internacional em geral, o «Estado Profundo» da nação que se auto-classifica como «indispensável» continua a manobrar com total impunidade.

Em múltiplas ocasiões verifica-se que Trump foi ultrapassado pelo «Estado profundo», nomeadamente em relação à sua política de apaziguamento com a Rússia, sabotada múltiplas vezes, sendo a última o incidente marítimo no estreito de Kerch, com navios de guerra ucranianos entrando em águas territoriais russas, uma manobra destinada a provocar um aumento de tensão ao nível não apenas local, mas a bloquear qualquer movimento de países europeus e  de  Trump no sentido de aliviar a política de sanções
Estas sanções, como sabemos, têm sido talvez piores para os países europeus e aliados dos EUA, do que para a Rússia propriamente. Esta política tem propiciado que Putin leve a cabo a modernização do arsenal estratégico russo, o aumento da operacionalidade das forças armadas, o reforço da aliança com a China em todos os domínios, incluindo o militar, a aceleração da «desdolarização» da economia russa. 

O incidente com a prisão no Canadá, por pedido expresso dos americanos, sobre a cidadã chinesa, Meng Wanzhou, directora executiva da Huawei, filha do principal accionista da mesma, tem contornos demasiado escabrosos. 
O pretexto de que a Huawei tem relações comerciais com o  Irão, seria risível, se não fosse uma negação patente da lei e direito internacionais. Com efeito, a referida directora da Huawei não cometeu nenhum crime, nem face às leis americana ou canadiana nem face à lei internacional, para ser colocada nesta posição. É, portanto, o equivalente ao nível de Estados de uma tomada de refém por bandidos. Reflecte este acto exactamente aquilo em que se tornaram os EUA, desde que os neocons fazem a lei, ou seja, desde as presidências de Bill Clinton, G. W. Bush, Obama e agora de Trump.

Em termos de lei internacional, os EUA deve ser considerado um «Estado pária», um «rogue State», pois as convenções e regras internacionais, quer as que regem relações ao nível dos Estados, quer de empresas tanto entre elas, como com Estados (direito internacional privado), estão a ser postas em causa flagrantemente pelos EUA, os quais só as invocam quando isso lhes convém para a sua retórica. 
Para cúmulo, também as convenções internacionais que protegem os cidadãos do arbítrio dos Estados, são espezinhadas, agora. 
Com esta política, os Estados-vassalos, particularmente na Europa, terão as maiores dificuldades de se alinharem e mesmo serão forçados a entrar em contradição com a política dos EUA. Já o fizeram em relação à retirada unilateral dos EUA do acordo com o Irão.  

Face a tanta falta de senso político e mesmo de senso comum, há que tentar compreender a razão e lógica subjacentes a isto tudo. Parece-me que o Estado profundo tem forçado Trump a aceitar políticas contrárias às suas crenças e à vontade que exprimiu na campanha eleitoral, que foram uma das razões porque foi eleito, sendo a outra, o facto de uma vasta camada de eleitores estar farta de ser humilhada por uma «elite» bem pensante (liberal de esquerda), que apoiava Clinton. 

Podemos criticar severamente as incoerências das posições e dos actos praticados por Trump, sem dúvida. Sem dúvida, ele tem responsabilidades. 
Mas, parece-me que ele está sujeito a chantagem. Parece-me que muito do que se passa por detrás da cena tem a ver com isso. Parece-me que o «Estado profundo» dispõe de meios eficazes de exercer chantagem. Usou essa chantagem com a pretensa cumplicidade russa na sua campanha e eleição de 2016, quando, na verdade, foram Obama e Hillary que deram aos russos a concessão (perigosa, em termos de defesa dos EUA), o acordo dito do urânio, segundo o qual os russos efectuariam a refinação do combustível nuclear, destinado às centrais nucleares americanas. 
Sabemos que o Estado profundo americano tem no seu passado o assassinato de um presidente (JF Kennedy) e de muitos outros destacados cidadãos (Martin Luther King, Malcolm X, etc, etc), para não falar do golpe de Estado, encoberto de ataque terrorista, do 11 de Setembro de 2001
Este Estado profundo não é «reformável» e nem creio que seja possível aplacá-lo. 
Trump tem sido obrigado a ceder em aspectos vitais da política americana. A própria composição do governo tem sofrido alterações no sentido de colocar homens e mulheres de confiança dos neocons, como John Bolton, enquanto garantes de que as políticas de Trump não tomem caminhos demasiado contrários aos desígnios estratégicos deles. 

Sem dúvida, os EUA são efectivamente um país de «partido único» como diz Chomsky, com duas alas, os Democratas e os Republicanos... Eu acrescentaria que por detrás da cena quem tem realmente a chave do poder nos EUA são os neocons, sendo estes voluntariamente, agentes do complexo militar industrial e securitário, agentes dos lobbies do armamento, da agro-indústria, da indústria farmacêutica e, sobretudo, da grande banca, de «Wall Street», os interesses financeiros, que possuem directa ou indirectamente uma enorme fatia dos EUA.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

CIMEIRA KIM - TRUMP: HAVERÁ, NÃO HAVERÁ?

                       US officials in talks with North Korea over Trump-Kim summit – State Department
     [soldado sul coreano, fotografado no local de reuniões na linha de separação norte-sul coreana, em Panmunjom]

Decididamente, Kim Jon Un tem-nos habituado a sensações fortes, a voltefaces inesperados, a jogos diplomáticos subtis... tudo no oposto da pesada máquina da «diplomacia» americana, que apenas sabe jogar com o registo da ameaça da força bruta, militar, para vergar as outras potências, aliadas inclusive.
As afirmações de Pence estão na origem de um incidente diplomático, duma atitude de repúdio muito compreensível, expressa por uma ministra do governo Norte Coreano, portanto, para tomar como um aviso muito sério.  Em substância, o vice-presidente dos EUA, em entrevista televisiva, afirmou que a «solução líbia» (ou seja, o invadir, arrasar e assassinar o presidente) era a opção, caso as conversações de paz não chegassem a bom termo. Isto numa altura em que as diplomacias dos dois países se ocupavam com os pormenores para a cimeira Trump - Kim. 
Não há dúvida que Pence é um instrumento dócil do «Estado profundo» dos EUA, tanto mais que, na abertura dos jogos olímpicos de inverno, na Coreia do Sul há apenas alguns meses, tinha feito declarações muito ofensivas, pouco diplomáticas, até uma total ausência de cortesia para com a Coreia do Sul, ao comentar de forma provocatória os contactos exploratórios e a aproximação «olímpica» entre as duas Coreias.

Estes episódios rocambolescos que antecedem a famosa cimeira não devem dar qualquer ilusão de que é neste cenário que coisas importantes se vão decidir. Quando a cimeira ocorrer, se tiver lugar, tudo já estará tratado. Mesmo  assim, vai ser importante para Trump, como um golpe de publicidade para a sua capacidade na arena internacional e para Kim, como consagração do regresso (se é que jamais lá esteve) aos circuitos «normais» da diplomacia e da abertura da Coreia do Norte a um diálogo  com a República Sul Coreana...

Nos EUA  - e, mesmo, na Coreia do Sul - não são poucas as forças que desejam e apostam no fracasso destas iniciativas de paz. 
A guerra é o seu sustento: Literalmente, no caso dos fabricantes de armas e seu poderoso lobby; mas indirectamente, em relação a todos os que, quer sejam democratas, quer republicanos, têm feito a sua carreira em torno da reactivação da Guerra Fria. 
São estas as pessoas que fazem parte do «Estado profundo» (altos funcionários da CIA, NSA, Pentágono, Departamento da Defesa...), ou que por ele se deixam manipular. 
Pence, embora vice-presidente de Trump, mais parece um vice-presidente do «Estado profundo». É um actor secundário, mas ficámos a saber - pela sua própria boca - como é que seria - ao nível das relações internacionais - a «presidência Pence», caso ocorresse algo ao actual presidente (morte súbita, assassinato, impeachment...). 

Curiosamente, nos EUA, maior potência mundial, as políticas externas são ditadas - numa larga medida - pelas intrigas da política interna. Não existe visão geoestratégica de largo alcance, ao contrário do que seria de esperar, de quem pretende guardar para si a hegemonia mundial. 

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

AFEGANISTÃO: CEMITÉRIO DE IMPÉRIOS

Desde o império de Alexandre da Macedónia, passando pelo império Britânico no século XIX,  pela União Soviética nos finais do século passado, até ao império dos EUA de hoje, o Afeganistão tem sido  (com muitos milhares de mortos em vão!) literalmente o cemitério de exércitos poderosos, mas igualmente, o cemitério no sentido metafórico de perda completa de ilusões imperialistas de grandeza, finalmente desfeitas em cacos, sem honra nem glória.


Por que razão quase não se fala desta guerra perdida, teimosamente mantida durante 16 anos... até hoje, contra toda a racionalidade?
- Será para ocultar a «perda de face» do Estado profundo, que controla o Pentágono, a CIA e todos os políticos de Washington, incluindo os presidentes...

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

PROFECIAS AUTO-REALIZADAS?

Será que o facto de se esperar que um dado acontecimento ocorra (e afirmá-lo), aumenta a probabilidade deste mesmo ocorrer? Será que por se gritar «vem aí o lobo!» ele acaba por vir?

Estas interrogações vêm a propósito da guerra anunciada dos EUA com a Coreia do Norte, que certos arautos de um imperialismo sem limites, não se cansam de chamar. 
Estes têm interesse em fazer com que esta guerra rebente.
Veja-se a situação completamente artificial nos EUA: 
 - uma economia fracamente produtiva, realmente dependente de importações daqueles que - oficialmente - são potência rival, para não dizer inimiga (R. P. China); 
- uma finança completamente distorcida por uma dívida monstruosa, impagável, com tendência para se acumular e nenhum incentivo a qualquer medida de contenção; 
- com o prestígio dos EUA completamente de rastos, quer pela patética prestação de Trump enquanto presidente, quer sobretudo, da errática estratégia de Washington em que grupos rivais no Estado profundo se degladiam, ora levando a melhor um sector, ora outro.

Por outro lado, a ascensão dos BRICS e sobretudo da China, tem como corolário a descida do dólar e, em especial do petrodólar, a moeda reserva mundial, que é um dos sustentáculos da política dos EUA, sendo o outro o seu enorme poderio militar. 

Mesmo no campo estritamente militar, as guerras eternas em que os EUA se envolveram (e envolveram seus aliados da NATO) no Médio-Oriente, nada corre bem. Estes fracassos mostram que a força militar, por mais poderosa que seja, não é capaz de tudo: está limitada pela sua incapacidade em ser vitoriosa contra forças de guerrilha, desde que estas estejam determinadas e tenham uma base real na população onde actuam.


Jim Rickards é um homem familiarizado com as altas esferas da finança (FMI, etc.), do complexo militar (Pentágono) e dos serviços de informação (CIA): 
Por isso, preocupa-me esta  entrevista dada por Jim Rickards a Greg Hunter
Avisa sobre a alta probabilidade da Coreia do Norte disparar um novo míssil, aquando do aniversário (10 de Outubro) do partido comunista Norte-coreano. 
Igualmente preocupantes são os exercícios militares planeados pela Coreia do Sul para 21 deste mês. 
Rickards vê uma janela entre 10 e 21 de Outubro, em que algo poderá acontecer. É verdade que ele não deseja que algo aconteça, mas está - de certa maneira - a avisar o seu público, sobretudo do mundo dos negócios.  
Embora ele não o afirme taxativamente, o facto é que nestas ocasiões, se as forças do Estado profundo quiserem, elas podem accionar um ataque de falsa bandeira, como o tem feito noutros momentos.
Não serão as pessoas em torno do presidente Trump, nem ele próprio, que irão fazer recuar os «neocons» nos seus intentos, como aliás vimos, com a comédia da suposta interferência da Rússia na eleição de Trump. 
Hoje, é por demais evidente que se tratava de um estratagema para colocar embaraços ao presidente eleito, logo a seguir à sua eleição, como aviso de que ele não conseguiria realizar nada, a não ser que aceitasse seguir, no essencial, a estratégia desse mesmo «Estado profundo»...
Seria bom que houvesse consciência internacional de que há forças interessadas em desencadear uma guerra «a quente», não apenas com a Coreia do Norte, pois pensam -loucamente - que há reais hipóteses de que uma tal guerra possa ser vitoriosa para o «Ocidente». 
Sabemos, infelizmente, que há mais hipóteses de que, partindo de uma guerra dita «limitada», se possa chegar a um holocausto nuclear, que eliminará a civilização e talvez até a vida na Terra.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

JOGO DÚBIO E CRIMINOSO NA SÍRIA

Conforme tinha esclarecido, em artigo anterior, a situação na zona de Deir Ezzor está muito volátil e foi aproveitada pelos «terroristas moderados» para um ataque certeiro que atingiu mortalmente três militares russos de alta patente. Como diz o blog «Moon of Alabama»...
« durante 3 anos o ISIS cercou as tropas sírias na cidade e no aeroporto de Deir Ezzor. Nunca ele conseguiu atacar com sucesso o quartel-general sírio e matar militares de alta patente. Agora, quando forças aliadas dos EUA, «aconselhadas» por forças especiais de comandos dos EUA, tomaram posições ao norte de Deir Ezzor, o ISIS tem de repente dados de espionagem e capacidade de tiro certeiro com morteiros, capaz de matar um grupo de oficiais russos em visita?» 

Ninguém acredita na versão de que o ataque foi efectivamente perpetrado pelo ISIS. Os russos fingem acreditar que foi assim, mas não deixam de mostrar por vários canais o que foi registado em fotos de satélite, que mostram as forças de comandos dos EUA e das SDF entrarem em território até agora controlado pelo ISIS, ao norte de Deir Ezzor, mas sem preocupação especial de cobertura ou escolta, como se esse território fosse seguro para elas.

                     

Como eu previra, os militares envolvidos no «Estado profundo», uma coligação entre forças «neo-conservadoras» poderosas, com ramificações em todo o aparelho de segurança, CIA, NSA, etc... assim como no Pentágono, estão a criar as condições para permanência, no longo prazo, de forças militares de elite americanas. Esta é a lógica por detrás destas provocações: manterem focos de instabilidade a todo o custo e propiciarem incidentes diversos, envolvendo forças sírias e agora também russas, na esperança de manterem um semblante de «justificação» para a presença ilegal de bases americanas «clandestinas» no leste e norte da Síria, cujo governo legítimo nunca autorizou.

Confirma-se, como para o caso da crise com a Coreia do Norte, que as lideranças dos EUA, dominadas pelas facções mais belicistas pensam que as soluções militares são de facto eficazes. Ou, embora reconheçam que as intervenções militares não chegam por si só, são essenciais para manter sob tensão os inimigos, ou seja os russos, os chineses e seus aliados.  
As elites do poder - o Pentágono, das diversas agências de espionagem, as facções mais conservadoras da políticas (como o senador MacCain, por exemplo) - escolhem o caminho do confronto e do caos. 

Sempre o mesmo modelo de geoestratégia, inspirado de Mac Kinder e de Brezinzky: não permitir, ou contrariar, a aliança entre as principais potências do continente euro-asiático e fomentar guerras e toda a espécie de operações secretas de desestabilização em territórios dessas mesmas potências  ou de seus aliados, na esperança de poder «dar cartas» num jogo, afinal, onde os americanos não têm nenhuma legitimidade para participar.  
  

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

AGENTE DA CIA EXPÕE A EXTENSÃO E PODER DO ESTADO PROFUNDO


Este vídeo, pela sua clareza, dispensa comentário. Tenho pena de não dispor de uma tradução em português. Encorajo os leitores do blog a divulgarem ao máximo, pois estas verdades, ditas por alguém «de dentro», têm muito mais impacto.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

SANÇÕES UNILATERAIS SÃO ACTOS DE GUERRA E CRIMES SEGUNDO LEI INTERNACIONAL

                           

       A política de sanções que a aristocracia americana (e o Estado profundo) está a impor a um presidente fraco e manietado pela sua própria hesitação, está a chegar ao ponto de ruptura com os aliados tradicionais dos EUA. 
Igualmente, a atitude dos chamados «inimigos», russos e chineses, não pode mais continuar a ser de complacência, nem de crer que os líderes do império globalista desejam negociar. 

Com efeito, as sanções são actos de guerra, segundo a definição da ONU. Também segundo o estabelecido pela ONU, é ilegal um país impor sanções a outros, de forma unilateral. É, pois, a lei internacional que está sendo constantemente espezinhada por aqueles em cujo território está a sede da ONU! 

Além da ilegalidade, há outros aspectos substanciais que importa destacar: 
- as populações e não as elites governantes é que são as vítimas de embargos, sanções, etc. 
- estas medidas hostis têm como natural consequência o entrincheirar dos regimes visados; a sua popularidade geralmente cresce; proporciona uma união nacional, ou reforça-se esta, em torno dos líderes. Nunca as sanções resolveram problemas internos de quaisquer regimes.
- finalmente, para os arautos do «comércio livre», uma nação pretender ditar às restantes as regras de quem, como e o quê se pode comerciar é o máximo do cinismo. Embora já soubéssemos que o «liberalismo» deles se resumia a impor os interesses da superpotência dominante aos restantes actores, vemos que deixaram cair a máscara.

Constatação inquietante: o único vector constante na política externa dos EUA é a imposição pela força da sua vontade, não hesitando até fazer a guerra, sempre que exista uma grande assimetria de armamento com os regimes que eles antagonizam. 

Tão depressa colocam meio mundo sob sanções, como pretendem liderar o concerto das nações; tão depressa cometem e apoiam crimes de guerra sem fim, como se perfilam enquanto paladinos dos direitos humanos; tão depressa apoiam os regimes mais despóticos e contrários ao direito, como pretendem ser a «nação excepcional». 

                           

Talvez agora a UE mostre que não é assim tão servil, talvez saiba dizer «NÃO!» a sanções, que - parece - lhes são antes destinadas: a eles, aos aliados dos EUA, aos parceiros da NATO. 

 Mas eu não acredito que tal possa acontecer, enquanto a população europeia não acordar da letargia em que se encontra. 

Para manter o adormecimento, a media corporativa joga um papel de relevo. Que tem sido assim, mostram-nos as informações e análises sobre o papel da CIA, especialmente nos media da Europa, recentemente vindas a público graças a «whistleblowers» e ex-operacionais das agências secretas. 
Mas, na maioria dos casos, estas informações são ocultadas, ignoradas, pela media ao serviço dos poderosos.

Podemos estar no momento de passagem da «Guerra Fria 2.0» à «Guerra Quente». 

                                       

segunda-feira, 24 de julho de 2017

ONDE ESTÁ O VERDADEIRO PODER, NOS EUA?

The Reign of Propaganda

Para evitar o holocausto nuclear, o mundo tem de deixar de estar hipnotizado, sujeito a lavagem ao cérebro pela média ocidental.


Ela própria é propriedade e agente directa dos grandes interesses que estão realmente a governar o mundo, por detrás da cena. Não, não se trata de mais uma «teoria da conspiração»! Não se pode realmente compreender nada do que se passa, se tomarmos como certo e seguro tudo o que os governos e a média regurgitam diariamente como «verdades», para consumo das massas.
Infelizmente, as pessoas estão inconscientes da manipulação. Esta só pode ter efeito, se as massas estiverem completamente inconscientes de que são manipuladas, nos seus sentimentos, nas suas opções, nas suas escolhas... É condição para a manipulação existir e continuar.
Outra condição, é a enorme catadupa de futilidades, de falsas notícias, de intrigas e coscuvilhices das «stars», satisfazendo a humana mas vã curiosidade das pessoas pela vida privada das celebridades. Esta catadupa implica que a mente das pessoas é constantemente distraída, desviada dos assuntos com real impacto nas suas vidas, desviada de se interessar por aquilo que verdadeiramente importa. A ignorância gera a indiferença, a qual, por sua vez, gera a impotência.
Outra tática que resulta é o efeito de familiaridade, que joga ao nível das estruturas profundas: um tipo que brinca, que goza com a sua própria imagem, «não pode ser mau tipo»... todos conhecemos as palhaçadas do Obama, por exemplo. É assim que se tornam «próximos», é assim que os vemos, como nossos conhecidos, vizinhos,  colegas... Este truque, ou ilusão de estarmos próximos destes personagens, de que temos uma certa intimidade com eles, induz as pessoas, não apenas a aceitar, mas a amar quem esteja no poder.  


A segunda coisa que o mundo tem de compreender, para evitar o holocausto nuclear, é de que não é uma estrutura simples e visível, a pirâmide do poder em Washington.

O poder político do presidente dos EUA esteve sempre fortemente condicionado pelo chamado «Estado profundo». Uma medida, seja ela qual for, para ser implementada (ou não), não depende em exclusivo da vontade presidencial ou do Congresso, mas da boa ou má vontade, daquilo que for compreendido como «o interesse nacional» pelos milhares de altos funcionários não-eleitos, da CIA e do Pentágono, até às múltiplas agências do Governo Federal.
Tem sido muito revelador, neste contexto, o que se tem passado desde a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA. Tem havido uma guerra surda contra ele, do «Estado profundo», fazendo obstáculo e distorcendo todos os aspectos da sua política. O objectivo - mais ou menos confesso - é o do seu derrube, porque ele não está de alma e coração alinhado e cúmplice com os interesses da «elite» política que tem dirigido os destinos do país mais poderoso do planeta.
Por sua vez, esta mesma «elite» política e mediática é serventuária da «elite» das corporações. Aquela é beneficiada pela generosa contribuição dos lóbis constituídos pelos grandes interesses corporativos. São eles que determinam se um político é eleito ou não. Muito antes de se contarem os votos, contam-se os (milhões de) dólares. É quase certo que, quem conseguiu arrecadar a maior quantidade de dólares em fundos de campanha, será o candidato eleito.


Se não tivermos em conta este conjunto complexo e obscuro de relações, formando uma teia inextricável, não conseguiremos contextualizar as notícias da media, ignorando tudo do jogo que se desenrola por detrás do pano de cena.
Mas podemos deixar instantaneamente de ser manipulados, se compreendermos processos dessa manipulação.

domingo, 16 de julho de 2017

A CRISE DOS REFUGIADOS É UMA CATÁSTROFE CONSTRUÍDA

Não me interpretem mal, quando digo que é uma catástrofe construída. 
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Não quero dizer que se trata de uma pseudo-catástrofe: pelo contrário, é uma real e autêntica catástrofe humanitária e com dimensões muito sérias, que se extende pela a Europa mediterrânea, especialmente a Itália e a Grécia, com um agravamento substancial desde que foi lançada a guerra suja, dita civil, contra a Síria, pelas potências da NATO.
Quando digo que é construída, estou a apontar para aqueles que estão no comando da globalização, que decidem qual o destino dos povos. Não é sequer duvidoso que a chamada «primavera árabe» foi aproveitada desde muito cedo, mesmo que os acontecimentos iniciais fossem essencialmente espontâneos, pela administração Obama/Clinton, para lançar o caos em todo o mundo árabe. 
O objectivo era o de conseguir ter domínio sobre a região mais estratégica do Mundo por concentrar os maiores depósitos de combustíveis fósseis (petróleo e gás) e as estratégicas vias de comunicação marítimas (canal de Suez) ou terrestres (oleoductos e gazoductos). 
O papel dos neocons - que dominam a política externa de Washington desde Bill Clinton - tem resultado numa série de fracassos e de terríveis rupturas nos países alvo. São criminosos de guerra sem quaisquer escrúpulos que se escondem por detrás de uma fachada de políticos eleitos e corruptos.

A oligarquia que governa a nível mundial queria a todo o custo impedir que a Europa se autonomizasse - o que implicava dispor de um fluxo seguro e constante, a preço moderado, de gás natural proveniente da Rússia. 
Na Ucrânia, em Fevereiro de 2014, o golpe neo-nazi orquestrado pelos EUA, sob batuta directa de Victoria Nulan (esposa de um neocon da primeira hora, P. Kagan) foi parcialmente eficaz para dificultar o acesso de gás natural à Europa ocidental e sobretudo à Alemanha. Esta, pragmatica, continuou em relação de negócios com os Russos, apesar das sanções (a que foi obrigada a contra-gosto a aceder). 
Mas a necessidade de submeter por todos os meios a Europa renitente, continua, visto que o gang dos neocons está manifestamente ao comando, sendo Trump destituído de verdadeiros aliados ao nível do Estado Profundo
Neste mundo unipolar que querem instaurar, têm de manter a Europa Ocidental firmemente nas garras da águia americana, só assim podendo manter a superioridade em relação ao eixo Russo-Chinês. Eles não podem aceitar que se forme e consolide um poder contiental (no chamado «heartland» ou seja, na grande massa do continente euroasiático)
É assim que eles raciocinam; é esta a sua lógica, que se vem reproduzindo desde os tempos de Mackinder, em todo o mundo anglo-saxónico. 
A política do caos é portanto lançada sobre os países europeus da NATO, formalmente aliados, na realidade vassalos, tal como foi planeada, através destas ondas migratórias maciças vindas das zonas que eles próprios ou seus aliados bombardearam  (Iémen, Síria, Iraque, Líbia, África negra...). 
O próprio Estado Islâmico ou ISIS é uma grotesca construção de forças mercenárias constituída por variadíssimas nacionalidades, recrutada e encaminhada por redes salafistas/ wahabitas, enquadrada por agentes encobertos da CIA, do MI5, do Mossad, financiada por várias monarquias sunitas, reaccionárias e aliadas de Washington, do Golfo, a começar pela Arábia Saudita...
É fundamental compreender que a elite mundial precisa do caos e do terrorismo para poder dominar, não apenas os povos dos países de onde extrai imensas riquezas, como também os seus próprios povos (norte-americano e europeus, essencialmente). 
O seu domínio depende da aceitação pelos povos de que a necessidade de combater o terrorismo (fabricado em larga escala pelos poderes, mas que eles não sabem) «justifica» praticamente tudo em nome da segurança. 
Como dizia Benjamin Franklin «Um povo que renuncia à liberdade em nome da segurança, não é merecedor nem duma nem doutra». 

As pessoas não conseguem ver como estão a ser impiedosamente tratadas como «lixo», porque estão cheias de preconceitos sobre as suas próprias sociedades, os seus Estados, os seus sistemas políticos... Mas elas já perderam o respeito por si próprias ao negarem o estatuto de seres humanos e a dignidade a tantas vítimas dos seus próprios governos, aqueles mesmos que, através da NATO ou de outros instrumentos de guerra, têm espalhado a morte a destruição em larga escala nos países e nos povos mais débeis (Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia, Iémen, Sudão, etc, etc...)
Penso realmente que as pessoas na Europa têm de acordar e compreender o que se tem estado a passar. Só têm que fazer uma coisa para que isto tudo acabe; é deixarem-se de encolher os ombros e dizer... «não há nada a fazer; de qualquer maneira, não é nada comigo». A partir daí, procurar realmente saber como é que as coisas chegaram ao ponto em que estão e até que ponto as elites as traíram. 
Se essas elites traíram todos os príncípios morais que enformam a civilização ocidental, tem de se impedir - por todos os meios - de continuarem a fazer o mesmo. 


quarta-feira, 21 de junho de 2017

«ESTADO PROFUNDO» NOS EUA, POLÍTICA EXTERNA E GUERRA

               Ever Closer to War
Desde há alguns dias, vimos a assistir a uma escalada; as provocações sucedem-se. 
Primeiro, o abate de um avião da força aérea síria, por avião dos EUA no espaço aéreo sírio e com o fim de impedir (em vão) que caísse um bastião dos terroristas islâmicos do ISIS. 
Nas últimas horas, uma série de incidentes nas proximidades da fronteira russo-báltica... incluindo uma aproximação de um avião da NATO, próximo de avião transportando um ministro russo e que obrigou a que caças russos interviessem para afastar os intrusos.
O Estado profundo, nos EUA, dominado pelos neocons continua as fazer das suas. 
Admitindo que Trump não fosse o candidato preferido dessa perigosa fação, quererá isso dizer afinal que ele não tem verdadeiramente mão neles, está à mercê de todas as sabotagens dos seus esforços de apaziguamento com a Rússia? 
Alternativamente, pode-se imaginar que o presidente, vendo que eles eram demasiado poderosos e que as ameaças contra ele eram para tomar a sério, acobardou-se e decidiu jogar o seu jogo. 
Penso que ambos os cenários são de uma gravidade extrema, pois -pelos seus efeitos - nos colocam à beira da IIIª Guerra Mundial, a qual inevitavelmente, se transformará em guerra nuclear TOTAL. 
É essa a aposta louca dos neocons, mas parece que muito poucos vejam os perigos... a media ocidental, os próprios governos da NATO «aliados» dos EUA parecem jogar o jogo letal, sem consciência de que é um risco demasiado alto para se tomar, seja qual for o prémio. 
Os gregos designavam pelo termo HUBRIS a cegueira e inebriamento do poder vitorioso dos chefes. Porém,  o povo não poderá senão sofrer caso continue adormecido. Aliás, nem mesmo essa oligarquia, que terá bunkers anti-nucleares para aguentar durante algum tempo (6 meses, um ano?) poderá viver numa Terra onde todas as formas de vida que os poderiam sustentar ficaram extintas. 
É esse o grau de loucura dos neo-cons
Tenho acompanhado a brilhante carreira de ensaísta político de Dmitri Orlov. Na entrevista dada a Chris Marteson ele explica com meridiana clareza os riscos que corremos todos. A transcrição da mesma pode ser lida aqui.

sábado, 8 de abril de 2017

O JOGO DO PODER É SEMPRE «OBSCURO»


Quando ouvi, manhã cedo de sexta-feira, dia 07 de Abril de 2017, as notícias do ataque americano com mísseis contra a base aérea síria, fiquei muito chocado e realmente custou-me muito compreender o que se estava a passar. O facto de haver um «pretexto» para tal ataque era demasiado cru, uma falsa bandeira demasiado evidente (ver aqui  e aqui). 
Por outro lado, isto mostrava que esta reviravolta na política externa da maior superpotência militar do planeta fora cuidadosamente planeada, não fora uma resposta intempestiva, não fora um acto «estúpido», pelo menos dentro da lógica do jogo de superpotência que tem sido o dos EUA.
A dificuldade em compreendermos o que motiva uma aparente reviravolta na conduta de um assunto tão importante na política externa americana não devia nos surpreender: o jogo do poder é sempre «obscuro».

Mas, «como gato escondido com rabo de fora», existem pistas que permitem aceder à lógica interna dos que realmente decidem, ou seja, do «Estado profundo», composto por uma série de conselheiros, de peritos quer oficiais, quer informais, que acabam por moldar de forma decisiva a política em Washington.
Nomeadamente, estes são adeptos da velha teoria geoestratégica de MacKinder estudada,  aplicada e actualizada por muitos dos estrategas, nomeadamente por Henry Kissinger .
Neste contexto, deu-se a junção concreta do «Estado profundo», dominado  pelos neocons, com o complexo militar-securitário (englobando Pentágono, CIA, NSA e outras agências, assim como a indústria de armamento, a única que não foi desmontada e exportada para fora dos EUA). 
Os neo-conservatives ou neocons  constituem um grupo responsável por grande parte do que se vem passando desde as presidências de Clinton, W. Bush,  Obama e, agora, Trump. 
Este grupo, contendo ex-esquerdistas decepcionados com a revolução e pessoas que sempre foram duma direita ultra conservadora e imperial, considera que o facto de os EUA terem «ganho» a Guerra Fria, ficando como única verdadeira superpotência, lhes dá «historicamente»  o direito e mesmo o dever moral de manter essa hegemonia (dita «benevolente») e de esmagar qualquer poder que tentasse resistir e sobretudo crescer, ao ponto de se tornar concorrente potencial ao primeiro lugar.
Tinha eu infelizmente razão ao afirmar, na sequência da vitória de Trump a 8 de Nov. de 2016, que este era apenas outra facção dentro da oligarquia que comanda nos EUA. Note-se que este ponto de vista é partilhado por Chomsky, como se pode claramente ver nesta entrevista de Chomky a «Democracy Now».

Sendo assim, pode-se compreender que os EUA vão provavelmente vogar entre uma política de apaziguamento para com a Rep. Popular da China, tentando desactivar «o fusível da bomba nuclear» da Coreia do Norte, ao mesmo tempo que vão fazendo uma chamada contenção activa contra a Rússia.  O objectivo será separar os dois gigantes continentais. Estes, em situação de rivalidade serão incapazes de colocar em risco a hegemonia americana. 
Penso que poderá ter sido este, o conselho estratégico dado por Kissinger (e outros) ao presidente e sua equipa, recém-chegados à Casa Branca. 
Kissinger aplicou esta mesma estratégia como responsável directo da diplomacia na aproximação espectacular com a China «comunista» de Mao, nos anos 70, contribuindo para o azedar cada vez maior de relações entre os gigantes «comunistas» da URSS e da China.
Mas, atualmente, se observarmos as relações entre Rússia e China, veremos que não existe contencioso entre eles, contrariamente aos anos 70 do século passado, em que havia - de modo endógeno - uma série de fatores de conflito. 
Nos anos 60 a URSS passava pela fase do degelo pós-estalinista, enquanto a direcção chinesa glorificava Estaline e encetava o culto da personalidade do Presidente Mao, acusando de revisionismo os dirigentes soviéticos. 
Foi nessa altura eliminada grande parte da velha-guarda do partido comunista chinês,  durante a Revolução cultural. 
No presente, tanto a Rússia como a China, são governadas pragmaticamente. Ambos os governos possuem a visão de que os seus interesses geoestratégicos convergem necessariamente. Além disso, têm toda a vantagem em cooperar, são naturalmente complementares em muitos aspectos das suas economias.

Segundo o projecto dado a conhecer em 1999, intitulado PNAC (manifesto dos neocons, consultável aqui ), o século XXI vindouro, seria o da América. Este projecto recebeu, sem dúvida, grandes impulsos para a sua concretização. Não recuaram perante nada para o fazer avançar, desde a guerra do Kosovo, até ao «inside job» do 11 de Setembro de 2001 e consequente estado de guerra permanente instaurado. 
A cascata de intervenções dos EUA e aliados, os focos de guerra por eles acendidos ou atiçados, são situações que se eternizam, com destruição profunda das sociedades. Qualquer destas situações foi planeada, foi desejada: 2001 Afeganistão, 2003 Iraque, 2007 Líbia, 2011 Síria, 2014 Ucrânia…
O estado de guerra permanente é uma loucura que está arrastando americanos e seus súbditos da NATO, ao mesmo tempo que causa um rasto de sofrimento e destruição inextinguível na memória dos povos-vítimas.  

Por outro lado, existe a Organização de Cooperação de Xangai, que não é uma organização do tipo da NATO, não é um pacto militar, mas uma estrutura flexível destinada a «combater o terrorismo». Ela vem desempenhando um papel de aproximação e harmonização dos exércitos de vários países da Eurásia e dos sistemas tecnológicos respectivos. Os BRICS, o Banco Asiático para o Desenvolvimento, as novas Rotas da Seda, são vários aspectos dessa cooperação fora da hegemonia EUA/Europa ocidental, que se tem traduzido em áreas de cooperação bilateral diversas, com projectos de infra-estruturas, de comércio, de transporte de matérias primas, de oleodutos e gasodutos.


Assiste-se portanto à tentativa desesperada do «híper poder» americano em manter a sua hegemonia sobre um Mundo que não pode ser senão multipolar. 

A razão, o bom senso e o realismo deveriam levar todos os governos dos países mais poderosos a aceitarem o mundo tal como ele é, não de acordo com os sonhos de poder, revestidos de ideologias talhadas a preceito.