Artigo de Manuel Baptista inicialmente publicado em:
A imprensa internacional
«mainstream» apenas tem dado eco às declarações de Donald Trump, logo após o
cancelamento brusco da cimeira:
“Era
basicamente acerca das sanções,” disse o Presidente Donald
Trump aos repórteres após cessar as negociações com Kim Jong-un. “Queriam as sanções levantadas na íntegra e
nós não podíamos fazer isto. Ás vezes tem-se de abandonar conversações e foi
exactamente o caso disso.”
As declarações de Ri
Yong-ho, o ministro dos negócios estrangeiros da Coreia do Norte, afirmam
circunstâncias bem diferentes:
A Coreia do Norte pediu o
levantamento parcial das sanções …“que
tolhem a economia civil e os meios de subsistência do povo,” referindo
partes de cinco resoluções da ONU de 2016 e de 2017. Existem, no total, 11
resoluções da ONU impondo sanções à Coreia do Norte.
Além disso, o compromisso de
Junho de 2018 deixava bem claro o que fazer de uma e outra parte e qual a
sequência do processo.
O Presidente Trump e o Secretário-Geral Kim Jong Un afirmam o seguinte:
1. Os
Estados Unidos (EUA) e a República Democrática Popular da Coreia (DPRK)
comprometem-se a estabelecer relações de acordo com o desejo dos povos de ambos
os países, pela paz e prosperidade.
2. OS
EUA e a DPRK juntarão seus esforços para conseguir uma paz duradoira e estável
na Península Coreana.
3. Reafirmando
a declaração de Panmujom de 27 de Abril de 2018, a DPRK compromete-se a
trabalhar em direcção à completa desnuclearização da Península Coreana.
4. Os
EUA e a DPRK comprometem-se a resgatar os restos mortais de prisioneiros de
guerra e de soldados combatentes, incluindo o repatriamento imediato dos que já
estão identificados.
Após oito meses, nem a
abertura de embaixadas, nem um levantamento de sanções foi assinado. A Coreia
do Norte destruiu túneis de teste de armas nucleares e uma rampa de testes
nucleares. Alguns restos mortais de prisioneiros de guerra/soldados foram
repatriados. Mas do lado dos EUA não houve quaisquer medidas que
correspondessem ao cumprimento dos seus compromissos.
A «cereja no bolo» foi o
aparecimento extemporâneo de John Bolton, o conselheiro de segurança de Trump,
que teria – segundo a imprensa sul coreana – feito exigências suplementares
sobre destruição de armas químicas e biológicas da Coreia do Norte – o que, manifestamente, não se encontrava na agenda – perto do final das conversações,
tendo por objectivo fazer capotar a hipótese de um acordo.
A opinião pública sul coreana reagiu com desânimo e incredulidade ao comportamento leviano, que atribui à delegação dos EUA.
A opinião pública sul coreana reagiu com desânimo e incredulidade ao comportamento leviano, que atribui à delegação dos EUA.
Resta compreender como e
porquê, o Presidente Trump está mais preocupado em agradar ao ramo mais
conservador e belicista da Administração, do que ao seu próprio eleitorado.
Tem-se a sensação de que o Presidente ficou refém do «Estado profundo», não
podendo satisfazer as promessas eleitorais de que iria descomprometer os EUA de
teatros bélicos pelo mundo fora, concentrando-se antes na defesa das suas
próprias fronteiras.
Leituras complementares:
https://www.rt.com/news/452693-halt-nuclear-sanctions-korea/
https://www.rt.com/news/452717-gabbard-north-korea-nukes/
https://www.rt.com/news/452717-gabbard-north-korea-nukes/