O que os bem informados não se apercebem, é que, em contraste com a «Guerra Fria Nº1», os poderes usam os avanços da tecnologia e da I.A. para fabricar uma falsa realidade, uma informação «cientificamente» manipulada. Isso, é uma situação inteiramente nova.
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segunda-feira, 10 de abril de 2023

CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL (nº12) GUERRA E PROPAGANDA



 Já sabemos que a guerra é um acontecimento disruptivo e uma catástrofe pessoal, familiar e social, para os povos nela envolvidos. Também sabemos que, quem governa, apresenta «motivos» para fazer a guerra. Pretextos, mais ou menos bem cozinhados, com «factos» inventados e «falsas bandeiras», como foi a «invasão polaca» dum posto fronteiriço da Alemanha, pretexto para o desencadear da invasão da Polónia pelas tropas do IIIº Reich, ou a provocação permanente, «secando» o Japão de petróleo (1) e empurrando o Japão imperial contra os EUA para, desta forma, o governo americano ter um pretexto credível junto da sua opinião pública, para entrar em guerra, juntando-se aos Aliados da coligação anti- hitleriana. 

                                      Pilotos kamikases japoneses,  IIª Guerra Mundial

Mas, para manter a adesão dos próprios cidadãos dum país em guerra, a máquina de propaganda do Estado e a media ao serviço dos interesses dominantes, vão esforçar-se por fabricar uma realidade, para manter o apoio popular a essa guerra e às posições do governo, não com base em realidades mas, antes, com base na distorção dos factos. Usam uma narrativa que se impõe através da repetição exaustiva da mentira. Uma técnica aprendida com Goebbels: «Se disserem uma mentira mil vezes, ela passa por verdade». Mas também, com a omissão de factos relevantes, ou o hipertrofiar de hipóteses, mais ou menos verosímeis, como se fossem «factos» inquestionáveis. 

                      Joseph Goebbels, ministro de Hitler

Por exemplo, a OTAN e os seus governos apresentaram a invasão russa de 24 de Fevereiro de 2022, como sendo uma «agressão não motivada». Evidentemente, com a omissão de que antes desta guerra russo-ucraniana, nos 8 anos após o golpe realizado com auxílio dos EUA e da UE, que derrubou um governo legítimo, os «ocidentais» prepararam, equiparam e treinaram, as forças militares ucranianas, de modo a que estas atingissem o nível considerado «apto para combater nas fileiras da OTAN». 

O exército ucraniano (2), em Janeiro de 2022 estava posicionado no Don e preparava-se para invadir os territórios das Repúblicas rebeldes. Tal invasão iria, segundo os estrategas da OTAN e da Ucrânia, «resolver» o problema do separatismo pela erradicação da resistência por meios militares, ou seja, negando enfática e explicitamente o compromisso, a solução negociada que era substância e letra dos acordos de Minsk. Em suma: preparavam-se abertamente para completar o crime de genocídio, contra uma parte da sua própria população.

Claro que esta situação nunca é explicada ao público dos países ocidentais, quer pelos governos da OTAN, quer pelos media que alinham caninamente com a política dos respectivos governos, liderando campanhas histéricas em relação aos «inimigos».  


Tropas da OTAN em treinos no Báltico junto à fronteira da Rússia

De facto, o verdadeiro inimigo fala a nossa língua, tem lugares proeminentes nos departamentos de Estado, pode considerar-se - sem exagero - que é composto por traidores ao serviço de uma potência estrangeira ...  Penso que já compreenderam que me estou a referir aos nossos respetivos governos,  com as máquinas de apoio político e propagandístico, que eles manobram. 

Ao fim e ao cabo, eles conseguem exercer o seu papel, ou porque as pessoas têm sido enganadas, ou porque, quem sabe a verdade, tem medo de a dizer frontalmente. A intimidação é o objetivo das campanhas de difamação contra vozes dissonantes, mesmo as vindas de dentro do  próprio sistema, sejam de políticos, militares, académicos, ou de celebridades. Nestes casos, a «penalidade» habitual é o blackout e o ostracismo; mas, pode ir até ao assassinato (3)  .

                                 MLK Jr.: Assassinado por se opor à guerra do Vietname

Os vira-casacas também são de todas as épocas. Já se veem pessoas a fazer uma «conversão», a «repudiar» a causa que defenderam, como se - de repente - tivessem visto «a luz», ou como se tivessem sido «contra» em segredo. Na verdade, viram algo bem mais terra-a-terra; viram que as probabilidades do seu lado ser vencedor, se esfumaram. 

No caso da presente guerra da OTAN contra a Rússia, aquela aliança militar (agressiva e não defensiva) está numa situação desfavorável e por sua própria culpa. Os EUA e "aliados" (= vassalos) mostraram imensa «húbris», nenhum senso, nenhuma precaução: Desrespeitaram os acordos de Minsk, dos quais eram cossignatários, juntamente com o governo ucraniano e os governos das Repúblicas do Don. Tudo o que fizeram durante esse período, foi encorajar a agressividade do governo da Ucrânia. Este, controlado por nacionalistas-étnicos, que têm um ódio de morte à Rússia e aos russos, queria «limpar» de russófonos as Repúblicas separatistas do Don.  

O regime ucraniano estava decidido a fazer este ato de agressão contra o seu próprio povo, razão pela qual os russos invadiram a Ucrânia em Fevereiro de 2022, logo depois de terem formalmente reconhecido a independência das duas repúblicas do Don. Afinal, eles não fizeram mais do que impedir a realização do ataque iminente contra as referidas repúblicas. Um exército ucraniano de elite, com armas modernas, estava estacionado, desde Janeiro de 2022, em frente da região do Don. Quotidianamente, bombardeavam zonas citadinas das repúblicas, causando mortos e feridos civis. Nas últimas semanas antes da invasão russa, intensificaram os bombardeamentos, facto que foi observado e registado pelos observadores da OSCE

À partida, toda a gente bem informada sobre as forças militares em presença, sabia que o resultado da guerra seria o que está a acontecer, agora. Uma derrota dos exércitos ucranianos, face à superioridade numérica, em equipamento e à produção industrial russa (sobretudo de munições) nas quantidades necessárias para abastecer as tropas do lado russo. 

Do lado ucraniano, o exército foi desbaratado nos primeiros dias da invasão, a sua força aérea foi neutralizada, assim como as defesas antiaéreas. Sofreu imensas perdas em soldados bem treinados, tendo que preencher as fileiras com recrutas muito pouco ou nada treinados, arrastados muitas vezes à força (4). Quanto ao material, era desadequado, ou por ser antiquado (material da era soviética), ou dos países da OTAN, o qual ou não se adequava às condições do terreno, ou era demasiado sofisticado, obrigando a um treino longo (feito em países da OTAN; França, Alemanha, etc.); ou esse equipamento era servido por soldados da OTAN, transformados em «voluntários». Assim, para os militares e políticos da Ucrânia, a única esperança de não perderem a guerra era o envolvimento direto e sem máscara dos países da OTAN.                                          

A Polónia, membro da OTAN, interveio com um número apreciável de efetivos (estimados em cerca de 20 mil homens) e tem sofrido pesadas baixas. Campos de treino de mercenários (quase todos de países da OTAN) no oeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Polónia, foram atingidos por mísseis hipersónicos russos, causando muitos mortos e feridos. 

Era claro que a Rússia podia usar estas mesmas armas, impossíveis de interceptar, contra os estados-maiores políticos e militares inimigos. Porém, o jogo da Rússia não era de aniquilar o governo ucraniano, mas de o obrigar a sentar-se à mesa de negociações. Conseguiu estabelecer, na Bielorrússia primeiro, e depois na Turquia, conversações com vista a um cessar-fogo e á paz. Isto passou-se pouco mais de um mês após o início da invasão. Em Istambul, as delegações tinham chegado a um pré-acordo. O presidente ucraniano, Zelensky, muito pressionado pelos Anglo-Americanos (Boris Johnson foi a Kiev para dar «o recado»), deu ordem para a delegação ucraniana congelar as conversações e recusar qualquer acordo. Nesta altura, a propaganda dos ocidentais fazia grande barulheira, fazendo crer que os russos estavam em retirada, enfraquecidos, que estavam a perder a guerra. Podemos ter a certeza que os estados-maiores e as agências de espionagem ocidentais sabiam que isso não era verdade. Mas queriam convencer as opiniões públicas, de que a sua escolha de fazer a guerra à Rússia, usando como «ariete» o regime ucraniano, estava a dar bons resultados. O estado-maior ucraniano também não podia ter ilusões, mas os políticos ucranianos ultra- nacionalistas (para não dizer nazis) queriam, a todo o custo, a continuação da guerra. Eles chegaram a assassinar a sangue-frio um diplomata ucraniano que participou nas negociações de Istambul. Fizeram isso, como sinal de que seriam impiedosos com quaisquer que, no governo e forças armadas ucranianas, se atrevessem a propor uma solução negociada com a Rússia.

Além da opinião pública ignorar (por ser desinformada) o que aconteceu, em especial, nestas conversações e como foram brutalmente interrompidas pela ingerência direta anglo-americana, ela era quotidianamente «bombardeada» com falsos relatos horripilantes, sobre a conduta dos soldados russos em território ucraniano. Nalguns casos, foi possível comprovar que os crimes foram perpetrados pelas tropas ucranianas (5) e falsamente atribuídos aos soldados russos. 

A propaganda da OTAN e da imensa maioria da media ocidental, também seguiu aquela frase, que dizia que «a mentira é tanto mais facilmente engolida pelas massas, quando mais inverosímil parecer» (Goebbels).

No cômputo geral, a guerra na Ucrânia está perdida para a OTAN e os ucranianos têm um país depauperado, em ruínas, um Estado com uma dívida astronómica e incapaz de refazer um semblante de unidade nacional. Depois de tudo o que fizeram, o governo e seus apoiantes estão desacreditados perante a população. 

Este resultado era previsível. Desde a guerra da Coreia (que foi uma espécie de «empate») as guerras em que os EUA se envolveram diretamente, ou que foram instigadas por eles, resultaram em desastre, mesmo quando os EUA estiveram, temporariamente, numa posição militar de domínio absoluto nas primeiras fases (lembram-se do Iraque?). 

Os neocons têm a obsessão do domínio (full spectrum dominance) e sobretudo, preferem a destruição do «inimigo», a qualquer solução negociada. Lembrem-se naquilo em que transformaram a Líbia, o país mais próspero de África. Quando podem causar divisões entre países, ou entre fações num país, fazem-no, mascarando as ingerências como «revoluções coloridas»; foi assim na Síria e numa dúzia doutros países do Médio-Oriente e noutras regiões.

O problema, falando pragmaticamente, é que as guerras diretas entre superpotências são demasiado perigosas,  podem transformar-se em holocausto nuclear.  Nesta hipótese, afetando gravemente toda a humanidade, não haverá senão vencidos. Ou, caso sejam as chamadas guerras por procuração, vão causar a destruição dos países e o seu empobrecimento duradoiro, para além das mortes, feridos e destruição (foram os casos do Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iémen e agora o caso da Ucrânia).

Por isso, um governo responsável nunca deveria empurrar outras nações para a guerra. O que chamam «diplomacia dos EUA», é apenas fazer intervir a CIA, a NED e outras agências encobertas, que promovem a subversão dos regimes que não agradam ao poder imperial dos EUA. Eles também impõem sanções brutais, destinadas a afetar as populações, por definição inocentes dos crimes, praticados ou não, pelos seus governos. São especialistas em criar casus belli, usando ataques de falsa bandeira, fornecendo o pretexto para bombardeamentos e invasões, literalmente não deixando «pedra sobre pedra». Depois, dominam esse país de modo colonial. Tal comportamento é essencialmente igual nas administrações democratas ou republicanas. Todo este caos traz imensos lucros para as empresas de mercenários (6) e fornecedoras de equipamento militar e armamento (a maior indústria e que mais exporta, nos EUA). Esta política alimenta e é alimentada pela corrupção a todos os níveis, desde as empresas com contratos para a «reconstrução» desses países, até às chorudas «comissões» aos membros do governo e do congresso.

Chegou o tempo em que o poder político e económico dos EUA se está a revelar tal como ele é, na realidade. 

O que descrevi acima faz sentido, em si mesmo. Além disso, explica a muito recente movimentação de ex-aliados dos EUA, Arábia Saudita, Turquia, Japão... Estão a desertar o campo «ocidental» ou seja, os EUA, mais seus vassalos, porque temem a «benevolência» yankee!

Por estes motivos, creio sinceramente que os maiores inimigos do chamado Ocidente são, sem sombra de dúvida, OS SEUS PRÓPRIOS GOVERNOS.


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1) O Japão, nessa altura, tinha os EUA como seu único fornecedor de petróleo. O Japão era um aliado do «Eixo», com a Alemanha, Itália e outras potências.

2) Eram cerca de 80 mil, os soldados das unidades de elite do exército ucraniano, estacionados frente às fronteiras das repúblicas separatistas.

3) Martin Luther King, é um exemplo: tem sido celebrado como «mártir da causa negra», mas hoje, sabe-se que ele foi assassinado porque se ergueu contra a GUERRA DO VIETNAME.

4) Filmes vídeo mostram civis a serem arrastados e metidos à força em camiões do exército em cidades ucranianas.

5) É o caso muito falado da vila de Bucha, onde os ucranianos construíram uma encenação  depois de terem matado civis «colaboradores» dos russos (pessoas que receberam ajuda sob forma de alimentos), dispuseram os cadáveres alinhados ao longo da estrada principal, muitos tinham ainda a braçadeira branca que significava que não eram inimigos dos russos.

6) Um exército sempre pronto a intervir, com mais de 50 mil homens disponíveis a qualquer momento.

sábado, 8 de abril de 2023

QUE ESCOLHAS TEM A EUROPA? MUNDO MULTIPOLAR É DO INTERESSE DA EUROPA


      Eurodeputada CLARE DALY:


https://www.youtube.com/watch?v=F5tZ9HS387k


Comentário de MB:

A Europa já não é - há muito tempo - sede de grandes impérios coloniais. O seu papel como potência autónoma desapareceu, progressivamente, após a IIª Guerra Mundial, sendo englobada (na sua maioria), dentro duma aliança militar, política e económica com os EUA, a nova potência hegemónica. 
Esta aliança, a OTAN, era dirigida contra a URSS e países do Pacto de Varsóvia. Com o desaparecimento de qualquer ameaça credível ou verosímil, vinda de leste, a partir dos anos 1990, a Europa tornou-se ainda mais refém dos interesses dos EUA. 

Hoje em dia, a escolha realista é entre:
- Submissão a um império decadente, que nos impõe a sua vontade, desde a guerra na Ucrânia, sanções causadoras de estrangulamento do acesso a matérias-primas e a  energia barata, até à ameaça de atrair as indústrias europeias para os EUA;
- A independência, de forma a que os países europeus possam escolher, com os outros blocos e nações, quais as parcerias que forem mais interessantes, sem pretender fazê-lo contra seja quem for. 
Ou seja, a solução inteligente consiste num jogo de múltiplos parceiros, sem dominância absoluta (hegemónica) de nenhum deles. 

sábado, 1 de abril de 2023

Inflação: o imposto oculto

 Não existe ainda uma consciência na generalidade das pessoas, sobre o modo como o Estado obtém o financiamento para as despesas que faz. Teoricamente, ele funcionaria com o dinheiro dos impostos. Mas, é fácil constatar que ele gasta muito mais do que recebe e, ainda por cima, tem despesa que não está inscrita no Orçamento de Estado.

Como é que os Estados se mantêm, muitas vezes com défices orçamentais que se avolumam de ano para ano?

Existem vários mecanismos que levam a um aumento da receita de imposto, sem que isso se torne muito óbvio para a generalidade das pessoas. Assim, se houver um aumento geral dos preços, todos os produtos que têm o imposto de valor acrescentado (IVA) aumentam na mesma proporção. Dirão: mas o valor maior cobrado vai cobrir as maiores despesas do Estado, portanto em termos líquidos, não é propriamente um aumento.

- Certo, só que as despesas do Estado são, numa grande fatia, despesas fixas ou que pouco aumentam: Estou  a referir-me a despesa com ordenados dos funcionários e agentes do Estado, assim como as pensões de reforma e invalidez. Estas despesas deveriam aumentar na devida proporção do aumento do custo de vida, mas tal não acontece nunca. Um funcionário público, ou um pensionista do Estado, terão mais alguns euros no seu ordenado ou pensão, mas de forma nenhuma tais aumentos atingem o valor que corresponderia à inflação.

Além do mais, o índice de inflação não é objetivamente avaliado. Desta forma, o Estado não tem de desembolsar tanto como seria o caso, se a inflação fosse avaliada corretamente. Se o verdadeiro índice de inflação for de 12 % ao ano, o «cozinhado» que fazem com as estatísticas poderá dar um índice (falso) de 8%. Nestas circunstâncias, não apenas o Estado desembolsa menos 4% com ordenados e pensões, como vai buscar mais na receita do IVA. 

Em geral, o Estado, sobretudo quando estiver em défice, cobre as despesas emitindo obrigações do Tesouro,  títulos de dívida que vencem a prazos de 2, 5 ou 10 anos, por exemplo. Nesse intervalo, o Estado vai dar um juro fixo. Se nesse intervalo de tempo houver uma inflação maior do que a taxa de juro fixo, o Estado vai pagar menos (em valor real) pelo empréstimo feito: nominalmente é a mesma coisa mas, tanto o principal da obrigação, como o juro a ela associado, terão menor valor real (menos capacidade aquisitiva). 

Os Estados do Euro, têm sido «premiados» com a compra automática das obrigações que colocam no mercado e que não encontraram comprador,  pois o BCE (Banco Central Europeu) comprometeu-se a comprar todos os títulos do Tesouro dos Estados aderentes ao Euro. Então, os juros foram baixando para estas obrigações, até ao ponto em que Estados muito débeis, em termos financeiros, como Portugal, tinham um juro associado a sua dívida semelhante, ou mesmo inferior, a Estados com melhor situação económica e financeira. Assim, Portugal estava obrigado a pagar juros da dívida no valor (por hipótese) de 3% em média durante um longo período, mas semelhante juro era o de obrigações estatais de países com muito melhor situação global. Era como se os compradores da dívida portuguesa aceitassem adquiri-la, embora o valor real das obrigações fosse muito menor. 

Com efeito, o valor de uma obrigação é tanto maior quanto mais baixo for o seu juro. Isto reflete o cálculo do mercado sobre os riscos que correm os compradores de - ao fim do tempo definido - não receberem pagamento do principal (situação de bancarrota do Estado), ou de haver interrupção temporária no pagamento dos juros, ou outro tipo de incumprimento. Nestas circunstâncias, o apoio sistemático do BCE através da compra de obrigações dos Estados mais débeis, reflete-se a vários níveis: Estes empréstimos têm comprador garantido, com juro mais baixo e com menor despesa nos orçamentos públicos desses Estados (Os juros da dívida pública são obrigatoriamente inscritos no orçamento de Estado).  

Os ordenados e pensões são sistematicamente depreciados: o seu «ajuste» é feito tardiamente, num intervalo que pode ser dum ano; é baseado num índice oficial de inflação fictício; nalguns casos, provoca o aumento no imposto (IRS), por mudança  de escalão, o que anula o pequeno aumento recebido. 

Os grandes capitalistas também aproveitam a inflação em seu favor. Não apenas nos ordenados que têm de pagar; mesmo aumentando-os, estes terão menos valor, em termos relativos. Eles «antecipam» as subidas de preços, colocando a mesma mercadoria, cuja compra foi ao «preço antigo», com preço inflacionado ou aumentando a margem de lucro porque decidem vender a um preço muito maior que a inflação, que eles próprios sofreram no processo de fabrico.  

Em Portugal, o Estado não tem verdadeiros motivos para se preocupar muito com a subida dos preços, até certo ponto. O ponto crítico é a capacidade da população em suportar uma forte descida do seu nível de vida. Esta descida pode significar a caída na pobreza extrema, para alguns, e o empobrecimento relativo para a imensa maioria. Penso que a generalidade das pessoas estaria de acordo que, em Portugal, o bem-estar económico tem diminuído para a grande maioria, desde há alguns anos, sobretudo desde há cerca de ano e meio, com o agravamento da inflação.

Há perdas acentuadas nos pequenos comércios e nos serviços, que são as empresas mais criticamente dependentes da retração brusca da clientela. Muitos têm de abrir falência, outros têm de reduzir pessoal para fazer face ao novo contexto. Esta concentração favorece os grandes grupos, por exemplo os hipermercados, ao eliminar a concorrência do pequeno comércio de bairro.  

Por fim, a injustiça desta taxa, ou imposto oculto, ressalta se verificarmos que as pessoas pobres, ou com rendimentos médios-baixos, têm como principal despesa a alimentação (e outras necessidades quotidianas): A inflação é sempre mais acentuada neste item. Ora, os ricos têm, proporcionalmente às despesas, muito menos impacto, com o aumento dos preços da alimentação:  A alimentação pode representar uns 60% do rendimento, numa família pobre e somente 20% numa família rica. 


Alimentos subiram 20% na UE, num ano.


quarta-feira, 29 de março de 2023

PARLAMENTO EUROPEU - CORRUPÇÃO E IMPUNIDADE

 Corruptos Eurodeputados Votando Para Proteger Outros Eurodeputados e Suas Corrupções:

A reputação do Parlamento Europeu e da própria União Europeia é a última das preocupações dos deputados europeus. 

Leia o artigo de Martin Jay e perceba porque esta cadeia contínua de escândalos, protecionismo, favoritismo, corrupção e total desvergonha, raramente toca a média dos diversos países que compõem a União. 

São biliões de euros que fluem dos contribuintes dos países da UE. A manutenção desta máquina de corromper serve os interesses dos negócios e das grandes fortunas. 

No parlamento europeu, quem não é pessoalmente corrompido, encobre os do mesmo grupo que o são.  Quem pensa que existe «pinga» de democracia neste órgão, abra os olhos e desengane-se de vez! 

Bent MEPs Vote to Protect Bent MEPs and Their Graft. What Is the Point of the European Parliament?

The beating heart of the EU institutions is greed and self-gratification either by hook or by crook, Martin Jay writes.

Just how important would you say the European Parliament is, both on a local (European) level and internationally? In a pro-European Belgian newspaper in around 2001 I remember reading the results of a survey of Europeans with over 70 percent agreeing that the institution was an important body, while almost 80 percent admitting they didn’t really know what it did.

The European Parliament’s role often comes into question both by the staunch supporters of the EU and those who have lost faith in the EU as a whole. Recently, it was interesting to see MoroccoGate of QatarGate take up a lot of EU media oxygen as a bribery scandal rocked the very foundations of the parliament forcing its president to act quickly and suspend the MEPs who were milking their positions and the EU for everything they could get. Notably, these MEPs were all fiercely pro-EU, at least in theory glancing at their political stripes (socialists) but in reality you could easily argue that they had no belief in the project as a whole, given that they were happy to piss in its soup.

What emerged not only from the parliament but from the EU as a whole were warnings that such scandals can bring the entire EU project to its knees and that corruption on all levels needs to be tackled head on. But, just as Neil Kinnock in 1999 was brought in as Vice President to supposedly clean up graft, does it mean that in reality, just like Kinnock’s role, the new initiative will be to cover it up better? Kinnock’s legacy as Vice President was to draw up new internal EU roles, which the bulk of the British pro EU press genuinely believed was about preserving the sanctity of the EU. In reality, his first few years were dealt with him dealing with whistleblowers – which largely meant having briefings with journalists where he defamed them and claimed they were mentally unwell. I should know. I was at one of those briefings in his huge Brussels office. He soon drew up new rules which practically made it impossible for whistleblowers to expose corruption and keep their jobs and their rights. Kinnock himself – and his family who all had EU jobs – returned to the UK after almost a decade of riding the EU gravy train at least 6 million quid in assets and cash which the now defunct News of the World wanted to claim was in reality closer to 10m pounds using friends and family to purchase properties on his behalf, before, that is, he threatened to sue them hours before publication.

Corruption is really the very heart of what the EU is about. The beating heart of the EU institutions is greed and self-gratification either by hook or by crook. And with almost no real accountability, looking beyond the phalanx of fake watchdogs or graft investigation authorities, it’s hardly surprising that socialist MEPs – who belonged to the same pan-EU group in the European parliament as the Kinnocks – would be found with millions of euros of cash stuffed in suitcases under their beds in their Brussels’ apartments like Kaili and Panzeri.


Ex-Vice-Presidente do parlamento europeu, a socialista grega Eva Kaili, foi destituída após o escândalo de corrupção a favor de Marrocos. 

But now we are led to believe that the European parliament itself is doing something about this bribery scandal, preventing another one from happening. Some leading MEPs, apparently, believe it would have never happened if Panzeri was not allowed to act as a lobbyist when he lost his MEP seat and continued to work in the parliament in the murky world of consultancy.

Remarkably, this is the focus of attention. We should remember of course that the phoney democracy that the EU is, produced a parliament a couple of years after the entire grandiose project launched. It is only at best a rubber-stamping body which was mainly created to give the EU some credibility as something vaguely democratic. If that were the case, of course, the MEPs would be allowed actually to propose new EU laws. Given that this is beyond their reach, we could at least assume that this institution is merely window dressing at best.

And within this mindset, it is hardly surprising that such scandals which involve bribing MEPs to gain influence or, in the case of Morocco and Qatar, whitewash their appalling human rights records, exist in the first place. I would argue that the latest scandal probably only scratches the surface and that a lot more of this ‘pay-as-you-go’ bribery for influence is happening and that the europress, whenever they stumble across it, feel it their duty – as also part of the corruption – to cover it up. Journalists in Brussels are pro-establishment and actually believe that they are self-harming if they actually do any erudite reporting of the dark side of the EU.

The real story here is that the MEPs themselves – even the ones who are not taking bribes – have known about this murky world and are not remotely interested in cleaning it up, which makes their recent acerbic tutelage which they delivered to the Moroccans about their human rights record and their banged-up journalists preposterous, if not hilarious.

MEPs think about themselves and their careers first, their political party second, their own country third and the EU’s sanctity last, if at all. When they recently suggested that the rules about MEPs becoming lobbyists when they leave office needed amending what they were really doing is thinking about themselves and how hard it would be to keep the payments up, not to mention cash flowing to keep their mistresses in the life they aren’t accustomed – and so came up with this plan which still allowed them to suck the milk from the EU teat while pretending that they cared about sleaze. Six-months break? Are they having a laugh? If they were serious then they would propose an entire five-year gap but this of course would make them very unpopular with their older bosses who are eying a key, high-paying appointment with Weber Shandwhick or Hill and Knowlton or any of the other sleaze operations which represent the interests of shareholders of the largest and most powerful corporations in the world. Fuck the EU.

segunda-feira, 27 de março de 2023

Too big but failing banks: QUAL É O DOMINÓ QUE SE SEGUE?

 

Gráfico acima: As cotações, nos últimos 5 anos, destes bancos que faliram em 2023: os números a negro são as cotações no início do período considerado; a vermelho, as cotações no momento da falência; enquadrado a rosa, as respetivas percentagens de descida.




Este vídeo mostra a extensão e gravidade da intervenção do Estado Helvético na compra de Crédit Suisse*. 

Também assinala a cadeia de CDS (Credit Default Swaps) que ficam expostos no Deutsche Bank e noutros.

A confiança está na base do negócio da banca. Se falha isso, as pessoas deixam de acreditar nos bancos e no sistema.

Veja como é frágil a posição do Deutsche Bank**, um gigante que pode perfeitamente ir à falência (1).

As regras do negócio bancário foram abaladas. 

Na realidade, o papel dos EUA em relação à banca europeia é o de predadores. 

As autoridades judiciais que colocam multas a bancos europeus, trabalham no interesse da banca dos EUA. 

Há uma hemorragia de capitais para fora da Europa, que migram para determinadas praças, consideradas mais seguras, como Singapura. 

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* Descrição detalhada da doença e certidão de óbito do Crédit Suisse: AQUI

** Too big, but nonetheless failing bank (um banco demasiado grande que, no entanto, está a falhar)

(1) Veja, em 2020, eu tinha acertado nas grandes linhas:  https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2020/03/jogo-final-end-game.html


domingo, 19 de março de 2023

TEMPESTADE DE CRASHES - EXPLICAÇÃO DO QUE SE ESTÁ A PASSAR

Conhecem com certeza a história de Pedro e o Lobo. O Pedro divertia-se a dar falsos alarmes, mas um dia o lobo veio mesmo à aldeia, só que nessa ocasião, ninguém queria acreditar nisso! Aqui, também se passa o mesmo, mas os «Pedros» são os que deram o alerta da situação disfuncional dos mercados e nas instituições financeiras, em particular, desde 2009.

O sistema financeiro e monetário mundial é controlado a partir da FED (Banco Central, uma instituição privada, embora o presidente seja escolhido pelo presidente dos EUA) e também do BIS (Bank of International Settlements) em Basileia (que é tão especial que a polícia suíça não pode lá entrar, mesmo com um mandato de captura).

O projeto de CBDC (Central Bank Digital Currencies) é oriundo e apadrinhado por aquelas duas instituições «mamutes» e por um terceiro «mamute», o FMI.

O processo de introduzir estas CBDC só tem interesse para os banqueiros centrais (em particular, os dos países ocidentais) se implicar a digitalização do dinheiro a 100%. O dinheiro-papel (ou em moedas) deixaria de ter validade.

Este processo talvez seja viável em países muito familiarizados com os cartões de crédito e débito. Nos países ricos (EUA, Suécia, Reino Unido,...) uma maioria das pessoas usa estes meios eletrónicos no quotidiano. A generalização dos pagamentos correntes através de cartão ou de app no smartphone, não seria muito problemática, à primeira vista.

Mas, vejamos o que aconteceu com a introdução do CBDC na Nigéria, país africano considerado rico pelo facto de ser um grande produtor de petróleo: Ver AQUI.

Neste país, houve uma situação caótica, em que as notas de banco eram «racionadas», onde mães, que tinham de alimentar as crianças, saltavam elas próprias as refeições, porque não havia acesso ao dinheiro no banco, não tinham suficiente para se abastecer de alimentos no mercado !

Se nos países desenvolvidos há problemas em instaurar os CBDC, é antes porque a cidadania já percebeu que o controlo do Estado central vai se tornar muito mais problemático do que a mera prevenção da fraude, da criminalidade e da fuga ao fisco.

Nestes países, apesar da propaganda, compreende-se que este processo não é a favor da liberdade, da autonomia e da privacidade dos cidadãos. A aceitação de tal medida tem de ser na sequência dum enorme caos, de uma crise profundíssima, só assim os governos e banqueiros centrais pensam conseguir a «adesão» ao «100% digital».

Note-se que as falências têm ocorrido numa série de bancos de depósito. Estes, são considerados «pequenos», em comparação com as 5 maiores instituições financeiras dos EUA: JP Morgan, Morgan Stanley, Freddie Mac, Bank of America, CITI Bank

Segundo Robert Kiyosaki, há a hipótese de tal cadeia de falências ter sido prevista e desejada. Houve um aumento brusco dos juros das obrigações e outros títulos de dívida, da parte da FED. Esta subida tem sido efetuada com o pretexto de domar a inflação. Mas, não é crível que a FED e o Tesouro dos EUA não tenham previsto que os bancos (justamente, os de depósito) que tinham como reserva principal «Treasuries» (obrigações soberanas dos EUA), não fossem muito impactados, alguns ficando mesmo insolventes. [Note-se que a subida dos juros nas obrigações, significa a diminuição do seu valor.]

Uma grande parte do dinheiro depositado nestes bancos, já voou para os 5 grandes bancos de negócios (ditos «Too Big to Fail») - sobretudo o dinheiro de clientes empresas/negócios, que tinham lá somas acima do limite de cobertura do FDIC. Esta instituição garante os depósitos até 250.000 dólares, mas não dispõe senão do necessário para cobrir 0 .05% do cash presente nos bancos dos EUA, que está dentro dos limite acima indicado.

Conclusão: Estão a fazer com que o mundo ocidental sofra uma enorme crise, porque temem que se forem introduzir o dinheiro digital (CBDC) «devagar, suavemente», aconteça uma rejeição semelhante à da Nigéria.

Agora, esta onda de choque provocada (Shock and Awe), vai ter implicações muito graves no continente europeu (e eles sabem-no). Note-se que a dimensão dos bancos deste lado do Atlântico é muito menor, só alguns bancos europeus fazem parte da tabela dos 100 maiores bancos.

Portanto, se a derrocada de bancos continuar com os pequenos ou médios bancos de depósitos na Europa, não será caso para surpresa. Além de estarem todos interconectados, é um facto que o ECB tem feito uma política muito parecida à da FED

Para os globalistas, não será um problema, pois faz parte dos seus planos: Eles querem que a Europa fique de rastos para aceitar qualquer boia de salvação lançada pelo FMI, Banco Mundial, BIS, etc.

Neste processo, compreende-se que a concorrência entre capitalistas, não é apenas de «Ocidentais» contra «Orientais». Desde há bastante tempo, os governos europeus e a Comissão Europeia, têm aceite o papel de vassalos, face aos interesses do «hegemon». Esta postura de subserviência constata-se em todas as organizações regionais e internacionais: Sem dúvida a OTAN , mas igualmente instituições globalistas como BIS, OMS, OCDE, etc.

Este jogo revela-se agora como duma «demolição controlada» do edifício monetário e financeiro «global». Destina-se a obter ainda maiores fatias de poder. Isso vai implicar obter a resignação e a anuência das populações, por medo.


ROBERT KYIOSAKI  COM ANDY SCHECTMAN : VEJA AQUI

VEJA ABAIXO Video SOBRE O CBDC:

ATUALIZAÇÃO 1: Durante o fim-de-semana foi negociada a compra, por 3 mil milhares de dólares, do Crédit Suisse pelo banco (Suiço) UBS, com apoio da BNS (Banco Central da Suiça) que fez um empréstimo de garantia de 100 mil milhares de dólares. Ver em: 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

[Cynthia Chung] NACIONALISMO UCRANIANO, ARMA DA GUERRA FRIA [+ COMENTÁRIO, POR M.B.]


Podes encontrar o artigo de Cynthia Chung «Nacionalismo Ucraniano, Arma da Guerra Fria» no link seguinte:

Nota Prévia: O texto, abaixo, pode considerar-se um comentário meu, após leitura do texto referido acima, de Cynthia Chung. Neste comentário, tento estabelecer as fronteiras demarcando um nacionalismo «étnico», normalmente agressivo, chauvinista e autoritário, de um nacionalismo «político», compatível com valores humanistas.

«Nacionalismo étnico» e o que o distingue do «nacionalismo político»

Desde logo, deve ser visto como radicalmente distinto dum nacionalismo POLÍTICO, onde a nação é reconhecida como uma construção política à qual pode pertencer qualquer indivíduo de qualquer origem étnica, na condição de aceitar a constituição e leis pela qual se rege. Esta visão da nação como uma construção política, vem da Revolução Francesa, do conceito de nação dos republicanos franceses, que inclusive aceitaram como nacionais e portanto elegíveis para a Assembleia Nacional, cidadãos da Polónia e da Irlanda, e outros, pois estavam com o regime republicano instaurado.

Quanto ao caso triste e trágico do nacionalismo da OUN, trata-se de algo completamente distinto: A organização terrorista ucraniana OUN nascida nos anos 1920, começa por ser um movimento anti-polaco na região de Lvov, a província da Galícia do Império Austro-Húngaro, para derivar para um movimento de apoio ao nazismo, responsável por dezenas de milhares de mortes de civis polacos, judeus e ucranianos soviéticos. São criminosos de guerra, sem qualquer dúvida, e realmente torna-se muito preocupante que os poderes ocidentais, em particular, os da U.E. estejam a branquear a origem assumida dos partidos no poder em Kiev e a darem uma ideia falsa, intencionalmente (pois sabem a verdade), ocultando o seu racismo e colaboração com o nazismo, como se eles fossem «democratas» e «patriotas»...

Alguns links:






segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

«IN GOD DOLLAR WE TRUST» ?

 

                                    Nova Iorque: Empire State Building visto no ocaso


                       Gráfico retirado dum artigo de A. Mcleod, que pode consultar AQUI

Nós somos matraqueados permanentemente com a «força do dólar», em relação às outras divisas ocidentais, pelo menos, as que têm maior peso tanto no comércio, como enquanto membros de SDR,  a famosa «divisa» artificial, que é (de facto) um cabaz de divisas, usado na contabilidade interna do FMI.  Mas, o comércio e a participação dos países nas trocas globais não se resume ao «Ocidente». Este conjunto de países é denominado assim, embora devessem ser designados por aquilo que - de uma forma, ou de outra - são: Constituem os mais fieis aliados (ou vassalos) dos EUA; os países de língua inglesa (Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, Canadá e EUA), a Europa da União Europeia, o Japão, a Coreia do Sul e pouco mais (cerca de 15% da população mundial).

O sistema de Bretton Woods, foi instaurado quando os EUA eram a potência tecnicamente vencedora da 2º Guerra Mundial. A URSS e muitos outros países que lutaram contra as potências do Eixo (Alemanha hitleriana e potências suas aliadas) estavam de rastos. A sua vida económica e social sofreu de tal maneira, que não estavam muito melhor que os países vencidos (Alemanha, Japão, Itália, e outros.)

Assim, quando foram assinados os acordos de Bretton Woods em 1944, e nos anos imediatos, os EUA dominavam o comércio mundial (cerca de 50% deste), possuíam a maioria das reservas de ouro em bancos centrais (cerca de 70 % do ouro guardado nos bancos centrais) e tinham uma infraestrutura industrial intacta e em plena expansão. 

Um sistema de Bretton Woods não poderá voltar a ser reinstalado, não porque seja impossível reinstaurar um padrão-ouro (embora seja uma má solução), mas porque não existe nenhuma potência com o poderio hegemónico dos EUA à saída da IIª Guerra Mundial.

Um futuro multipolar será sempre mais instável, que um futuro unipolar. Mas, um sistema global unipolar não dará a um conjunto de países, possuindo a maioria da população mundial e dos recursos em matérias-primas, a possibilidade de fazerem valer os seus interesses e de poderem negociar em termos aceitáveis, a sua participação no comércio, no investimento e na repartição do bem-estar individual e social, ao nível mundial. Por muito injusto que seja um mundo multipolar, como o foi em diversos períodos da História, para aqueles povos submetidos a um império ou a uma nação mais forte,  nada se compara com a força bruta e a ausência total de consideração pelos direitos e pela dignidade dos mais pobres, num império mundial único, hegemónico. 

O império liderado pelos EUA tem demonstrado isso, neste pequeno intervalo de tempo, que vai da implosão da União Soviética (1991), até hoje. No entanto, reveste o seu desprezo absoluto, com a hipocrisia típica da civilização de comerciantes, aventureiros e donos de escravos - que foram os impérios Português, Espanhol, Britânico, Holandês - especializados na guerra de razia e de rapina, que foi o modo como se expandiram e enriqueceram estas potências coloniais desde o século XVI até hoje. 

Não é por o comércio internacional ser feito em tal ou tal unidade de valor, vulgo «moeda», que a troca é mais ou menos desigual. Desde Ricardo, que se reconhece que determinadas nações têm determinadas vantagens competitivas, no comércio internacional, em relação a determinados produtos industriais, agrícolas ou minerais. É sobretudo o preço do trabalho que conta, por agregado. Assim, os países onde o trabalho é mais barato, foram aqueles que receberam as indústrias deslocalizadas dos países industriais tradicionais, os países europeus ocidentais e os EUA, sobretudo. 

Mas o globalismo, ideologia associada ao neoliberalismo, está completamente posto em causa. Este globalismo «reinou» durante um curto período, em que as potências industriais europeias e norte-americanas exportaram as suas indústrias para beneficiarem da mão-de-obra barata dos países ex- coloniais, ou que tinham uma grande diferença no seu grau de desenvolvimento. Estes países, entretanto, fortaleceram-se e tornaram-se mais capazes de impor suas condições a países outrora dominantes. 

Esta mudança entra em colisão com a mentalidade colonialista e imperialista, das classes dirigentes dos países ocidentais, que também se transmitiu a extratos explorados desses mesmos países.  Órfã de uma instância política que formalmente a representasse, a classe trabalhadora dos países do Ocidente virou-se para os demagogos de extrema-direita, ou confinou-se na rejeição da política. O abstencionismo crónico tem sido maior na classe trabalhadora marginalizada,  do que na «classe média», ou classe trabalhadora integrada, que tradicionalmente vota à esquerda.

Do ponto de vista do império dominante, este já percebeu que é demasiado tarde para inverter a tendência global. Trump não foi bem sucedido, porque - em parte - não conseguiu o entusiasmo interclassista e patriótico que ele esperava para a sua campanha de fazer regressar as indústrias ao solo americano. Sem dúvida, ele foi sabotado pelo «establishment» de Washington, mas também não conseguiu uma adesão significativa dos setores da indústria, ditos «high-tech», tecnológicos. 

As mutações do sistema monetário são sempre consequência de um duplo jogo de forças: As forças relacionadas com o capitalismo mais dinâmico - hoje, a China e outros países asiáticos, principalmente - por um lado, e por outro, com a capacidade militar global: Sabe-se que as simulações duma guerra Russo-Chinesa / Americana (NATO), realizadas no Pentágono, deram invariavelmente resultados negativos para as forças americanas e suas aliadas. 

Assim como a arquitetura de Bretton Woods foi consequência da prevalência dos EUA no comércio, indústria, finanças e domínio militar, após a IIª Guerra Mundial; também a nova arquitetura global do sistema monetário terá de refletir a realidade das trocas comerciais, das forças produtivas, das capacidades de defesa e da inovação tecnológica, que os diversos atores mundiais terão alcançado, na atualidade. 

O facto de o dólar surgir como «forte», em relação a outras moedas ocidentais não significa que a divisa dos EUA continue a possuir a mesma prevalência mundial. Existe uma diminuição significativa das trocas efetuadas em dólares, numa parte importante do Mundo, o que significa que há rutura, face ao período de trocas efetivamente mundializadas. Significa que os países da esfera político-económica do dólar, estão encerrados numa de matriz de tipo neocolonial em que a potência dominante tem a possibilidade (e exerce-a) de dizer o que esses países devem comerciar e com quem, com que tipo de mercadorias e com que formas de pagamento. O sistema de sanções montado pelos EUA é muito astuto, no curto prazo, porém a impossibilidade das empresas europeias comerciarem com países possuidores de grandes reservas de energia (como o Irão) ou com a Rússia e China, que possuem certos produtos praticamente insubstituíveis, no curto prazo (certos metais, como o titânio, ou terras raras, ou ainda, os «microchips»), traduz-se numa perda de competitividade  da União Europeia, nos mercados mundiais. Isto é válido para todos os seus membros, em especial, para o gigante industrial, a Alemanha.

Por contraste, os países dos BRICS+ e das Novas Rotas da Seda têm reais perspetivas de desenvolvimento, de alargamento dos mercados. Os países da «velha Europa» não estarão em condições de competir, devido à diminuição da sua parte nos mercados, ao acréscimo de custos de produção e devido à «mão de aço» da potência «hegemónica regional» , os EUA. Por enquanto, estes comportam-se como o senhor feudal (o suserano) em relação aos vassalos. 

Mas, embora o feudalismo tenha durado alguns séculos, o novo feudalismo dos EUA, perante outro sistema multipolar, não poderá manter uma «hegemonia regional», durante muito tempo. Uma tal situação é intrinsecamente instável, não poderá durar mais do que alguns decénios.

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(1) O  «SDR» significa Special Drawing Rights, em português, Direitos de Saque Especiais.

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PS1: Para compreenderes a estratégia globalista em todas as suas vertentes, lê:

https://www.globalresearch.ca/globalist-cabal-meets-again-prepare-world-domination/5805836

PS2: Os dementes que estão no poder não se importam que seja desencadeada uma guerra nuclear; por outro lado, os povos estão de tal maneira doutrinados, que não percebem realmente o que representa a generalização do conflito Rússia/Ucrânia.  

https://caitlinjohnstone.com/2023/01/25/hardly-anyone-is-thinking-logically-about-the-risk-of-nuclear-war/

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

CRISE ENERGÉTICA; SUA ORIGEM E A QUEM BENEFICIA

 


A EUROPA E A SUA ECONOMIA SÃO AS vítimas PRINCIPAIS DE SEU SEGUIDISMO DA POLÍTICA DOS EUA! ESTE O RESULTADO , agora CLARO, DO QUE PREVI HÁ CERCA DE UM ANO ATRÁS!!!

«Na guerra híbrida que estão a levar a cabo contra a Rússia, desde 2014 e contra a China, desde 2017, muitas das sanções (Nota: são atos de guerra económica) têm um efeito boomerang: São mais prejudiciais para os países que as fazem , do que para os visados.» (citação de artigo de 26 Dez 2021)

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

ENTREVISTA COM O PROF. MICHAEL HUDSON (PARTE II)

(continuação da PARTE I do artigo)

(6.) Tenho lido muitos relatórios sobre o contexto das sanções contra a Rússia. Parece que as sanções fazem cada vez mais estragos, porque eles não conseguem produzir todos os produtos - em especial - os tecnológicos, sozinhos. Por outro lado, a Rússia tem agora negócios e compradores mais estáveis, com a China e a Índia.
Qual o efeito real das sanções, segundo a sua análise?

MH: As sanções dos EUA acabaram por ser um inesperado presente dos Céus para a Rússia. Na agricultura, por exemplo, as sanções proibindo as exportações de laticínios da Lituânia e dos outros países bálticos, provocou o florescimento da indústria de laticínios russa. Agora, a Rússia é o maior exportador de cereais, graças às sanções ocidentais, que têm um efeito muito semelhante às tarifas protetoras e às quotas de importação que os EUA usaram nos anos 1930, para modernizar o sector agrícola.

Se o Presidente Biden fosse secretamente um agente russo, ele dificilmente poderia ter ajudado mais a Rússia. A Rússia precisava de isolamento económico, mas estava demasiado comprometida com a política neoliberal, contrária ao protecionismo, para o fazer de sua própria vontade. Assim, os EUA fizeram-no por ela.
As sanções forçam os países a ser mais autossuficientes, pelo menos, nos produtos básicos, tais como os setores alimentar e da energia. Esta autossuficiência é a melhor proteção contra a desestabilização económica dos EUA, que - deste modo - conseguem forçar uma mudança de regime e aceitar a submissão.
Um efeito é que a Rússia vai precisar de comprar muito menos à Europa, mesmo depois de ter terminado o conflito na Ucrânia. Portanto, será necessário menos exportação de matérias-primas da Rússia para a Europa. Pode trabalhá-las ela própria. O coração industrial da Europa pode acabar por ir parar mais à Rússia e seus aliados asiáticos, do que aos EUA.
Isto é o resultado irónico da Nova Cortina de Ferro da OTAN.


(7.) Como descreveria a China, a Rússia e a Índia: Vê nelas capitalismo industrial ou socialismo?

MH: RIC sempre foi o coração dos BRICS, agora muito alargados pela inclusão do Irão e de vários países da Ásia Central, por onde passam as vias das Novas Rotas da Seda. O objetivo é que os países da Eurásia não estejam dependentes da Europa ou da América do Norte.

O ex-Secretário da Defesa Donald Rumsfeld referiu-se várias vezes à “Velha Europa”, como sendo uma zona a definhar, próxima da morte. Não se inteirou dos planos europeus de há um século atrás, de evoluir para uma economia crescentemente socializada, que sustente níveis de vida crescente e crescente produtividade do trabalho, da ciência e da indústria. A Europa, não só rejeitou o marxismo, como a própria base da análise marxista, ou seja, os economistas clássicos Adam Smith, John Stuart Mill e seus contemporâneos. Este, foi o caminho seguido na Eurásia, enquanto o liberalismo antigovernamental das escolas Austríaca e de Chicago destruíram a economia dos países da OTAN por dentro.

Visto que o foco da liderança industrial e tecnológica se está a deslocar para o leste, o investimento europeu e o trabalho vão, provavelmente, seguir o mesmo rumo.
Os países euroasiáticos continuarão a visitar a Europa como turistas, tal como os americanos, que gostam de visitar a Inglaterra, como se fosse um parque temático da nobreza pós feudal, com guardas do palácio real e outras distantes tradições do tempo dos cavaleiros e dragões. Os países europeus serão mais parecidos com a Jamaica e o Caribe, com o setor da hospitalidade tornando-se um dos principais vetores de crescimento, com empregados franceses ou alemães, vestidos com roupa "hollywoodesca". Os museus irão ser um negócio florescente, à imagem da Europa, que se transforma, ela própria, num tipo de museu da sociedade pós industrial .

(8.) Recentemente, houve o colapso e bancarrota da plataforma de cripto-moedas, FXT. A gestão desta companhia parece ser altamente criminosa. Como avalia isto?


MH: O crime é aquilo que fez o setor cripto crescer no passado recente. Os investidores compravam cripto-divisas porque são um veículo para as fortunas obtidas com o tráfico de drogas, de armas, de outra criminalidade e da evasão fiscal. Estes são os grandes setores de crescimento, na era pós industrial, nas economias ocidentais.

As pirâmides de Ponzi são, por vezes, bons veículos de investimento no seu estádio de arranque, no estádio de «bombear e despejar». Era inevitável que os criminosos não usassem somente as cripto-divisas para transferências de fundos, mas realizassem eles próprios as suas divisas, «livres da regulação opressora» do governo. Os criminosos são os mais coerentes discípulos, entre os adeptos da Escola de Chicago do livre-mercado.

Qualquer um pode criar a sua própria cripto-divisa, tal como nos EUA da época do Oeste selvagem, os bancos faziam isso em meados do século 19: Imprimiam a contento as suas divisas. Quando se entrava em lojas, no início do século 20, estas ainda mantinham as listas de cotações das várias notas de banco. As notas com um desenho mais bonito, eram tendencialmente as com maior sucesso.

(9.) Tem algum conhecimento das relações de FTX com a Ucrânia, com o governo de Kyiv? Existem algumas conversas e artigos, na media alternativa sobre isto?

MH: O FMI e o Congresso pagaram largas somas ao governo da Ucrânia e seus cleptocratas entronados. Houve notícias de imprensa sobre uma grande fatia desse dinheiro que foi devolvida à FTX, que se tinha tornado o segundo maior financiador do Partido Democrático (atrás de George Soros o qual, diz-se, anda a tentar adquirir ativos ucranianos). Então um fluxo circular parece ter operado: O Congresso vota os fundos para a Ucrânia, que põe parte desse dinheiro na plataforma cripto FTX, para pagar a campanha para reeleição de políticos favoráveis ao regime ucraniano.


(10.) Há uns meses houve artigos na imprensa dos EUA sobre os planos da FED: Estão a planificar estabelecer o dólar digital, a Divisa Digital de Banco Central (sigla em inglês: CBDC). Na Europa também, a Sra. Lagarde e o ministro alemão para as finanças, Lindner, falaram sobre a introdução do Euro digital.
Aqui, na Alemanha, alguns especialistas críticos têm avisado que isto apenas irá permitir uma total vigilância sobre a população e clientes. O que pensa sobre as divisas digitais?

MH: Não é o meu departamento. Todas as operações bancárias são eletrónicas, portanto, o que significa «digital»? Para os libertários, isto significaria não haver vigilância governamental, mas, se estiver nas mãos do governo, este manterá registo de tudo o que alguém gasta.

(11.) Qual a sua opinião sobre as presentes subidas ou descidas do Dólar US, do Euro, da Libra britânica, do ouro e da prata?

MH: O dólar vai continuar a ser procurado, devido ao facto de ter colocado a Eurozona na sua dependência. A libra britânica tem poucas possibilidades de sustentação, há escassos motivos para que estrangeiros queiram investir nela. O euro é a divisa «júnior», um satélite do dólar.

Sem dólares ou outras divisas nas suas reservas monetárias, os governos vão continuar a aumentar a proporção de reservas em ouro nos bancos centrais, porque o ouro não tem dívida associada a ele. Portanto, o governo dos EUA simplesmente roubou o ouro russo. Analogamente, os países da Eurozona fizeram o mesmo em relação às contas em divisas do Banco Central da Rússia. Não se pode confiar que países da Eurozona não sigam as ordens dos EUA, de tomarem as divisas de um Banco Central estrangeiro, portanto, tais depósitos serão evitados.

Como a taxa de câmbio do euro desce em relação ao dólar, o investimento estrangeiro irá diminuir porque os investidores não vão querer investir (1) num mercado em retração e (2) em companhias com sede na Eurozona, pagas em euros, que vale cada vez menos em dólares, ou noutras moedas sólidas.
É óbvio que o ouro do banco central deve ser guardado no próprio país, para não ser roubado, como foi o ouro da Venezuela. Foi o que fez o Bank of England (banco central do Reino-Unido), que tomou esse ouro e entregou-o a um direitista e fantoche ao serviço dos EUA. A Alemanha faria bem em acelerar o repatriamento do seu ouro, guardado nos EUA em cofres da «U.S. Federal Reserve Bank» de Nova Iorque.

(12.) Qual é a sua análise presente das crises financeira e energética no Mundo?

MH: Não tanto uma verdadeira crise como um «crash» em câmara lenta. O aumento dos preços beneficiou as exportações dos EUA: petróleo, alimentos e tecnologias informáticas (IT) monopolistas. Com o custo de vida a aumentar mais depressa para os consumidores, do que os aumentos de salários, haverá então um apertar do cinto para a maioria das famílias. A classe média irá descobrir que realmente é - ao fim e ao cabo - uma classe assalariada e irá mergulhar mais fundo na dívida, em especial, se tentar proteger-se tomando uma hipoteca para comprar sua casa.

Tenho estudado os séculos 11 e 12, para a minha "História da Dívida" e descobri uma história que pode ter relevância para as questões que coloca. A OTAN continua a declarar que é uma aliança defensiva. Mas a Rússia não tem qualquer desejo de invadir a Europa. O motivo é óbvio: Não existe qualquer exército capaz de invadir um país dos maiores. Mais importante ainda, a Rússia não tem sequer um motivo para destruir a Europa, enquanto sua adversária e fantoche às ordens dos EUA. A Europa já está a se autodestruir.

Recordo a batalha de Manzikert em 1071, quando o Império Bizantino perdeu contra os Turcos Seljuk (em grande parte, porque o general  do qual o imperador dependia, Andronikos Doukas, desertou e depôs o Imperador). A cruzada dos reis, um suplemento de jogo, cobre a batalha de forma extensa e declara como tendo tido lugar o diálogo seguinte, entre Arslan e Romanos:

Alp Arslan: “O farias se eu fosse trazido à tua presença como prisioneiro?”

Romanos: “Talvez eu te executasse ou te exibisse nas ruas de Constantinopla.”

Alp Arslan: “A minha punição será muito mais pesada. Eu perdoo-te e deixo-te em liberdade.”

Este é o castigo que a Europa irá receber da Eurásia. Os  líderes europeus fizeram sua escolha: serem satélites dos EUA.


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Esta tradução por MB, foi feita a partir do texto no link seguinte: