O OURO DOS BANCOS CENTRAIS

O ouro que está à guarda dos bancos centrais, na Europa, pertence ao respectivo povo. Não pertence ao governo, não pertence ao Banco Central Europeu (BCE), nem à Comissão de Bruxelas. É preciso reafirmá-lo neste momento, pois os governos querem usá-lo na guerra contra a Rússia. Uma guerra que não conta com o apoio da maioria do povo europeu. Os governos procuram a guerra para não ter de prestar contas da sua gestão catastrófica das economias. A guerra serve para disfarçar a bancarrota; esta pode facilmente (e falsamente) ser atribuída à guerra.
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segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

A CHINA CONTINENTAL É COMUNISTA?

(alguns vídeos foram retirados do artigo de Hua Bin seguinte:)


                                                     Documentário sobre modernas cidades chinesas 


Lembro-me de ter visto um pedinte, com as pernas gravemente incapacidadas, que se arrastava pelo chão do acesso a uma estação de comboio, algures no centro da China. Ele pedia esmola, erguendo um copo, à caridade dos transeutes que passavam sem lhe prestar atenção. Esta cena deixou-me perturbado, não que não tivesse visto coisas semelhantes do Ocidente e no meu próprio país, mas justamente porque este tipo de estendal de miséria não era próprio de um país que se considera praticando uma moral comunista, um país do socialismo da abundância, ou seja, o tal «socialismo com características chinesas». 

Não foi caso único, também encontrei um sem-domicílio enrolado numa manta numa passagem subterrânea duma grande avenida de Pequim. Não julguem que eu estava à procura desses casos, nada disso: Eu estava inserido num grupo de turistas, todos portugueses, que visitavam a China.  

Numa noite em que jantámos num célebre restaurante de  Pequim, deparei-me com uma mulher idosa a pedir na rua, onde estacionavam os carros, fazendo gestos de «levar comida à boca». Fez-me pena, embora tais cenas estejam igualmente presentes em capitais de países ocidentais e das mais opulentas. 

Mas eu acreditava, ingenuamente, que tais manifestações de miséria eram impossíveis num país dito socialista e orgulhoso das suas façanhas económicas e em ter arrancado da miséria uma grande fatia da sua população. Mas, o pior de tudo era que tais exemplos concretos de miséria, recebiam apenas indiferença da população. 

As pessoas são iguais em Pequim, Toronto, Londres, ou Madrid: quanto mais afluentes, menos se preocupam com as pessoas destituídas. Esta também é uma lição para confrontar a realidade com a propaganda de um «socialismo» com «rosto capitalista». Pode ser socialista na condução geral da economia, mas as pessoas concretas não «comem o PIB», nem se vestem com «estatísticas da produção». 

Martin Armstrong é capitalista e favorável ao tipo de regime (dito de «democracia liberal») que vigora nos países ocidentais. No entanto, como pessoa inteligente e pragmática que também é, tanto apresenta os lados positivos como negativos do regime chinês. A bem da verdade, tenho de confirmar que ele tem razão em vários pontos de um artigo seu, abaixo (*).

O prof. Michael Hudson, que tem trabalhado em universidades chinesas, como professor convidado de economia, caracteriza a China como um sistema misto. Ele é globalmente favorável ao regime aí implantado, porém reconhece que foi a abertura à iniciativa privada, no tempo de Deng Xiao Ping, que permitiu o arranque para o desenvolvimento neste imenso país. 

A China foi ficando para trás, após a implantação da RPC em 1949, durante mais de 20 anos de comunismo radical sob a batuta autoritária do partido e do seu «timoneiro» Mao Tsé Tung. Continua oficialmente o regime, continua a ditadura «proletária» do partido, mas o regime foi-se transformando profundamente por dentro. 

As pessoas esperam que, no futuro, tal como no passado recente, o seu nível de vida vá melhorar ainda mais. As pessoas na China são iguais às pessoas noutro ponto qualquer do globo. Querem viver com o mínimo de decência e dignidade, não precisando de se dobrar perante cada «apparatchik» que lhes apareça. 

Será «virtuoso» enriquecer, como dizia a propaganda no tempo de Deng? - Sim, na medida em que este enriquecimento provenha do trabalho e do reconhecimento social por esse mesmo trabalho. Este princípio pode e deve existir numa sociedade socialista, ao contrário do que a propaganda propala de que o socialismo é igualizador, de que mata toda a criatividade, etc. Aliá, esta propaganda é afinal auto-destruidora, pois ela não explica como o desenvolvimento técnico e científico, assim como a excelência nas artes, se desenvolveram na URSS, na China e em muitos países «socialistas» durante a Guerra-Fria. 

Se as pessoas fossem condicionadas a pensarem rotineiramente, nem cientístas, nem engenheiros, nem artistas em todas as artes, poderiam ter surgido. Dirão que são uns poucos que escaparam a um condicionamento radical; pois, a ser assim, estes que se notabilizavam seriam logo esmagados por hierarcas e pelos seus iguais. Algo de semelhante a isso começou - como um vento destruidor - na China durante  a «revolução cultural»: Nesta altura foram destruídos imensos monumentos e sobretudo criminosamente enxovalhadas, castigadas e humilhadas centenas de milhares de pessoas, intelectuais na maioria. Muitos indivíduos que deram o melhor de si próprios, nos anos anteriores, foram alvos preferidos dos «guardas vermelhos» da China. 

Deng Xiao Ping foi uma  vítima, assim como o pai de Xi Jin Pin e o próprio Xi. Se a «revolução cultural», iniciada com o pleno acordo e estímulo de Mao e continuada pelos seus mais chegados aliados, fosse coroada de sucesso, hoje a China seria um país miserável. 

Para mim, que aceito de bom grado os objetivos últimos do comunismo, mas não os desmandos que foram cometidos em seu nome (numa grande parte do século XX, sobretudo), não tenho qualquer complexo de superioridade em relação ao povo chinês. Antes, fico maravilhado pela sua capacidade de «endurance», de trabalho árduo, de solidariedade familiar, de auto-disciplina, de espírito coletivista. Devo dizer, no entanto, que estas propriedades não se desenvolveram a partir da China «comunista». Foram, durante milénios, o produto das experiências, dos fracassos mais sangrentos aos períodos mais aúreos, do povo chinês.    

Para mim, o trato com um chinês é o mais natural, pois eu tenho muito respeito pela sua civilização e procuro naturalmente pontes para me relacionar com ele. Os chineses que eu encontrei ao longo da minha vida, muitas vezes foram cordiais, nada distantes. Pois, eles intuíam que eu não tinha qualquer complexo racista, de ser produto duma «civilização superior». 

Por isso, amo as pessoas, compreendo que todos somos uma raça única, temos todos as mesmas necessidades fundamentais e legitimidade para nos afirmar dentro da sociedade, dando o melhor de nós próprios e recebendo - em troca - a justa recompenasa. 

Só não acredito que um sistema ferreamente hierárquico, mesmo que tal ocorra apenas numa fase de transição histórica, possa conduzir-nos a um comunismo verdadeiro, aquele em que as pessoas têm igualdade de direitos e deveres, um poder largamente distribuido por todos, uma liberdade de expressão e criação em todos os domínios . 

É como se me quisessem convencer que a melhor maneira de ir de Lisboa ao Porto, é tomar a estrada em sentido contrário, a que vai de Lisboa a Setúbal. Por que razão toda a gente veria isto como loucura, mas uma parte das pessoas convenceu-se que a «ditadura do proletariado» (do partido, na verdade) era, não apenas o melhor mas o «único» caminho para o socialismo e comunismo? 

- Eu chamo a isso alucinação, mais que endoutrinamento, porque muitas pessoas - minhas conhecidas - adoptaram esse ponto de vista e não eram estúpidas, eram inteligentes e pareciam-me sinceras.

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(*) MARTIN ARMSTRONG:

« The Chinese Communist Party is not “communist.” China permits private ownership and corporations. Consumerism and capitalism are alive and well. Forbes reported in April 2021 that a new billionaire was created worldwide every 17 hours, with the majority of newfound wealth coming from China.

The USA may be the billionaire capital of the world, with between 813 and 902 billionaires recorded, but China has seen a significant rise in the top wealth bracket in recent years. Mainland China currently has around 450 billionaires with a combined wealth of $1.7 trillion. China also hosts over 1,400 people with fortunes above $700 million. Billionaires do not exist in communist nations.

Karl Marx’s communism involved seizing the means of production. The government owns land, infrastructure, factories, and corporations under the premise that the ruling class could be eliminated by surrendering ownership to the state. Citizens may not accumulate wealth, as no one may have more than another, and certainly not more than the state. Everyone must be equal in poverty.

Under communism, the incentive for innovation is null and void. China has become a pioneer in innovative technologies and discoveries in every sector. Entrepreneurs are abundant in China, and investment and international trade are encouraged. The China of today is one of the leading players in the global economy, driven by modernization and competitiveness. The China of the past may have been communist, but the government is not going to take down statues of Mao or announce past wrongdoings.

China quietly moved away from communism decades ago. They saw it wasn’t working and made a change without a public declaration. Yes, the CCP is certainly authoritarian to some degree, but it is a fallacy to call China a communist nation.»

terça-feira, 18 de novembro de 2025

O LADO OBSCURO DO CRESCIMENTO VIGOROSO CHINÊS


 Como diz o título, trata-se duma história de construção extravagante e sem hipótese de rentabilidade, desde a estação de ski, numa província onde raramente neva, até à  transformação das praças da cidade em cópias de praças europeias célebres ... Tudo isto, deixou uma dívida de mais de 20 mil milhões de dólares, numa das províncias mais pobres do interior da China. No final, os únicos "turistas" a beneficiarem dos relvados no centro da cidade, são os rebanhos de cabras que aí vão pastar...

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NOTA: O responsável por este enorme desperdício foi julgado e condenado à pena capital. Os prevaricadores na China não têm impunidade garantida, ao contrário de seus equivalentes ocidentais, que podem fazer tudo mas são intocáveis.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

SOBRE O XXº CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA DA CHINA

Há quem diga que a China é um «país comunista ao nível do governo, com uma economia capitalista». Se a economia é capitalista, como é possível que seja «comunista»  ou governado por um partido comunista. Não existe possibilidade de reconciliar os factos com as declarações. O poder monolítico do PCCh, não admite a mais leve dissidência, ou crítica, interna ou externa. O essencial deste regime é o de uma ditadura autocrática, com laivos totalitários. A ficção de que «é comunista» vai favorecer a clique no poder, assim como funciona como espantalho ou justificação para os governos capitalistas ocidentais. Estes, tão depressa louvam o sistema «do comunismo chinês» como fazem campanhas para denegrir o mesmo, sob pretexto (hipócrita) de defesa dos «direitos humanos». 

Os que não estão enfeudados a um «marxismo-leninismo», como justificativo de contorções mentais e de posição política mais patéticas, mas que defendem o socialismo e comunismo enquanto emancipação, não precisam de se obnubilar com a propaganda de um lado ou doutro. Afinal, a verdade é revolucionária (sempre!) e a verdadeira solidariedade deve ser com os explorados, oprimidos, perseguidos, seja qual for a sua origem, etnia, nação... 

Podemos ser críticos da casta dirigente chinesa e desejar boas relações com o governo de Pequim. Uma coisa não exclui a outra, pois a nossa liberdade e autonomia deve permitir-nos analisar todos os aspetos da questão, sem a-priori, sem sentenças drásticas. Afinal trata-se de ser realista, adulto politicamente,  não interferir nos assuntos internos do povo chinês (como de qualquer outro povo), pois «a libertação dos trabalhadores é a tarefa dos próprios trabalhadores».

Um dos pontos mais notórios da ditadura a que está submetido o povo, é a campanha de intimidação disfarçada de campanha sanitária. Não é preciso tomar posições «negacionistas» em relação ao covid, para se perceber que, do ponto de vista médico e epidemiológico, a política de «COVID Zero», não tem validade científica, é mera construção política conveniente. Isto sobressai com a utilização dos testes e das quarentenas (lockdown) (1) como forma de controlo das populações. 

Mas, todo o espetáculo encenado deste XXº congresso do PCCh é o da exibição da fidelidade aos órgãos do partido e ao seu chefe máximo, não tem qualquer papel de discussão dos caminhos e métodos para o partido e para o país. Xi Jin Pin aparece como aquele que se posiciona (2) entre Mao e Deng.


A fragilidade da economia chinesa, neste momento, não pode ser menosprezada. Com a proibição de exportação de semicondutores para a China e a interdição de quaisquer cidadãos americanos colaborarem com qualquer indústria de semicondutores sediada na China, a guerra económica e de sanções dos EUA intensifica-se. Porém, estas medidas terão consequências negativas(3) para os países ocidentais.

A política de deixar o setor imobiliário desenvolver-se até formar uma bolha enorme, (4) teve a consequência de ficarem arruinadas muitas pessoas modestas, que acreditaram que investir neste setor era seguro (70 % das poupanças privadas na China estão investidas no imobiliário; compare-se com cerca de 25% para os países ocidentais). 

A China está limitada no seu desejo de investir  massivamente na sua economia interna (consumo corrente, equipamento, educação...) não por limitação de capitais, mas por limitação de meios materiais e humanos para realizar esta viragem. Neste domínio da expansão da produção para consumo doméstico, a China pode mobilizar mais depressa (5) capital e recursos humanos do que muitos outros países.



A viragem também se dá em relação às exportações: Com a nova guerra fria, os países que crescem em termos de trocas comerciais com a China são a Rússia, (6) os países da Ásia Central, África, América Latina, muitos dos quais participando em projetos das Novas Rotas da Seda. Os países ocidentais, EUA, Austrália, Reino Unido, União Europeia, verão suas trocas comerciais com a China estagnarem ou recuarem. 

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(1) https://www.youtube.com/watch?v=VLWlMFrT7bQ

 (2) https://www.youtube.com/watch?v=CbedG2j8fmY

(3)https://asiatimes.com/2022/10/china-chip-ban-a-us-exercise-in-extreme-self-harm/

(4) https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/09/se-china-implode.html

(5) https://en.ndrc.gov.cn/news/mediarusources/202202/t20220216_1315656.html

(6)  https://www.silkroadbriefing.com/news/2022/05/10/understanding-the-china-russia-trade-investment-economic-relationship-in-the-context-of-the-ukraine-conflict/

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

VÍDEO INTELIGENTE SOBRE A EVOLUÇÃO DA CHINA (em francês)

                                             


                                          (podes accionar as legendas automáticas em francês)

                                           https://www.youtube.com/watch?v=KjReGwbQDhM

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

O MUNDO SEGUNDO XI JINPIN (DOCUMENTÁRIO TV)


Aquando da sua visita de Estado recente a Portugal, foi assinado um dos acordos bilaterais mais importantes: o investimento chinês no porto de Sines. Este empreendimento vai ligar a via marítima da «Rota da Seda» com a terrestre,  numa rede de caminhos-de-ferro que se estenderá por toda a Europa e se conjugará com vias férreas vindas do extremo-oriente. Vai tornar o comércio continental euro-asiático mais seguro e mais rápido, deixando de estar dependente de grandes cargueiros.
O documentário da cadeia de televisão franco-alemã ARTE, que pode ver aqui, revela alguns aspectos menos conhecidos do actual poder chinês e ajuda a contextualizar as diversas iniciativas, em direcção a vários parceiros, sejam eles africanos, europeus ou outros... 
Sem dúvida, este documentário é imbuído de uma visão franco-alemã, mas as pessoas com espírito crítico poderão «separar o trigo, do joio». 
Oxalá o visionamento deste documentário ARTE ajude a formar uma opinião bem informada, não moldada por preconceitos ou ideologias, sobre o que se passa nesta época de viragem mundial, não ficando reféns de qualquer lado, nem do lado ocidental, nem do oriental...