Um perito diz que a National Security Agency dos EUA nunca
encontrou «portas das traseiras» da Huawei para a espionagem chinesa.
Enquanto os EUA e alguns dos seus aliados se juntam
para excluírem a Huawei das suas infraestruturas de telecomunicações, alguns
peritos em cibersegurança ocidentais questionam abertamente as razões de porem
em destaque e penalizarem a empresa chinesa de tecnologia.
Eles dizem que é «inverosímil» que a Huawei tenha construído
as chamadas «portas das traseiras» nos sistemas porque teriam medo de ser
detectadas, em especial considerando que Pequim já pode «hackear» (invadir) os
sistemas estrangeiros sem recorrer a tal auxílio.
Washington insiste em que qualquer nação que utilize
aparelhagem da Huawei nas redes sem fios da próxima geração (5G) está a dar a
Pequim um instrumento directo para espionagem. Os americanos dizem que o
gigante de tecnologia baseado em Shenzhen, ao colocar um laço global no equipamento
de 5G está a colocar-se às ordens do poder, pondo a empresa a funcionar como
agência de Pequim.
As autoridades dos EUA também citam a lei chinesa que
«compele os seus cidadãos e suas companhias a participar em actividades de
vigilância».
A directora financeira de Huawei,
Meng Wanzhou está agora em liberdade sob caução em Vancouver depois de ter
estado detida durante uma paragem em trânsito no aeroporto da cidade, em
Dezembro. O Canadá pode decidir extraditá-la a pedido dos EUA por alegadamente
ter violado as sanções contra o Irão. Foto: Reuters
Mas os peritos em segurança disseram à «Associated Press»
que o governo dos EUA estava provavelmente a exagerar esse risco. A realidade é
que Pequim não necessita de implantar software malicioso (malware) ou acesso
clandestino a aparelhagem da Huawei como routers, interfaces ou estações de
Internet sem fio para se infiltrar nas redes do estrangeiro, as quais já têm
«notoriamente fraca segurança» fazendo delas prezas fáceis de serem exploradas.
Jan-Peter Kleinhans, um especialista do grupo berlinense
«Neue Verantwortung Stiftung» especializado em segurança informática e
vigilância de Estados, diz que se os chineses quiserem conectar-se ou
imiscuir-se nas redes globais «eles farão isso independentemente do tipo de
equipamento que esteja usando» e que os hackers ao serviço de Pequim, são muito
eficientes e não têm mostrado preferência pela tecnologia de uma empresa sobre
a de outra.
Além disso, a Huawei já teria sido apanhada e banida há
muitos anos se tais portas das traseiras tivessem sido instaladas nos seus
equipamentos, para benefício da espionagem de Pequim, pois teria sido
descoberta pelos seus clientes estrangeiros ou pelos serviços de segurança dos
governos.
A Huawei accionou um contra-processo contra o governo dos
EUA por acusações fabricadas e sem quaisquer provas, da sua alegada
cumplicidade em espionagem.
Os aliados europeus têm mostrado relutância em adoptarem um
banimento sem provas do equipamento da Huawei. Por exemplo, a Alemanha
assinalou que não faz tenção de restringir o negócio da Huawei, firmando em vez
disso um acordo de não-espionagem recíproca com a China. A Polónia e República
Checa (ambas as nações membros da NATO) têm também autorizado a Huawei a
penetrar nos respectivos mercados de telecomunicações e de usuários finais.
A AP também citou Priscilla Moriuchi, ex-directora das
operações do Extremo-Oriente da NSA (National Security Agency) dos EUA de que
não tinha conhecimento da NSA ter jamais encontrado «portas das traseiras»
criadas pela Huawei para a espionagem chinesa.
Uma foto de 2013 mostra passageiros
vendo as notícias sobre Edward Snowden num comboio em Hong Kong. O ex-espião
contratante, dos EUA, criou uma indignação internacional quando revelou à
media internacional os segredos da vigilância dos EUA. Como Washington procurou
obter a sua extradição as autoridades de Hong Kong autorizaram-no a partir para
Moscovo onde lhe foi dado asilo. Foto: Reuters
A ironia consiste no conhecimento geral de que os EUA fizeram
aquilo exactamente de que acusam a Huawei de estar fazendo.
De acordo com documentos expostos em 2013 pelo contratante
dissidente da NSA, Edward Snowden, que fugiu de Hong-Kong e obteve
posteriormente asilo de Moscovo, os EUA «plantaram dispositivos de vigilância
nos equipamentos de redes, fabricados por companhias como Cisco Systems,
e estes depois foram distribuídos pelo mundo inteiro».
As revelações chocantes do dador de alerta estiveram na
origem de uma exclusão dos produtos Cisco da parte de Pequim.
Apesar do bloqueio coordenado dos EUA, a Huawei afirma que
estabeleceu contratos com 30 firmas emissoras de sinal, internacionalmente,
para teste e ensaio de redes 5G e tecnologias sem fios («wireless»).