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terça-feira, 7 de julho de 2020

O QUE SIGNIFICA CONCRETAMENTE O PREÇO DO OURO?

                            

O preço da onça de ouro em dólares US aproxima-se do seu recorde de sempre, a 25 de Julho de 2011. 
- Que importância tem isto? Tem a importância de uma marca simbólica, visto que o valor do dólar - assim como de todas as divisas «fiat», de todos os países, garantidas apenas pela «palavra» do respectivo governo - é um poderoso factor psicológico. 
Se as pessoas soubessem o que significa - verdadeiramente - a quantidade de dívidas (impagáveis!) de Estados, bancos, bancos centrais, empresas e particulares, uma quantia na casa dos quadriliões de dólares, número propriamente astronómico, é evidente que deixariam instantaneamente de ter qualquer confiança no dinheiro-papel e iriam querer trocá-lo, o mais depressa possível, por bens tangíveis. 
Assim se passou noutras crises monetárias, como a famosa crise hiper-inflacionária da República Alemã de Weimar de 1922-23, ou as crises que assolam a Venezuela, o Zimbabwe, a Argentina e outros países, cujas oligarquias locais se têm servido - sem vergonha - das riquezas dos países que governam. 
... E por falar nisso, cabe aqui uma referência especial à política da União Europeia e do BCE, que têm multiplicado a dívida, quer do referido banco central, quer dos Estados membros da Eurozona, sem qualquer preocupação em destruir a confiança na divisa «Euro». 
O esquema de Ponzi, já posto em prática aquando da crise do Euro de 2012, continua e é reforçado, tornando cada vez maior a folha de activos do BCE. 
Por outro lado, as dívidas dos Estados atingem valores que são considerados claramente impagáveis. Tecnicamente, todos estes Estados estão falidos. O único modo que têm para ir «pagando» as suas obrigações, desde juros das dívidas contraídas, até às obrigações com ordenados dos funcionários públicos e as pensões, é inflacionando a moeda. 
Ou seja, pagam 1000, mas essa soma uns poucos anos antes, no início da introdução do Euro em 2001 (por exemplo), equivaleria - em capacidade aquisitiva - a muito mais, o dobro, o triplo, ou mais... 
Ninguém pode dizer ao certo, porque as estatísticas estão falseadas, intencionalmente, como era prática corrente nos países de Leste do ex-COMECON. Assim, é praticamente impossível avaliar o valor real do dinheiro, portanto, quanto valem salários e todas as transacções em geral. A avaliação contabilística (feita pelo governo) é uma completa mentira. 

             

Como demonstrei noutro artigo, a única maneira de medir o valor do dinheiro-papel, é comparar os preços numa divisa, da onça de ouro, em vários momentos:
No início da introdução do Euro, era cerca de 300 € /onça troy. O preço do mesmo metal, hoje, é de 1576 € / onça troy. Portanto, o valor do Euro desceu de 5.25 vezes ou seja, vale 525% menos, em relação a 2001

Por este simples cálculo, se vê como a inflação e a sua ocultação se conjugam, para transformar a Eurozona numa experiência falida. Nem seria necessário passarmos pela experiência do Covid, para isso ser patente. 
Os únicos beneficiários da Eurozona são os grandes capitalistas, os grandes grupos, sejam eles financeiros, de comércio, ou industriais, que têm beneficiado da constante erosão dos salários de milhões de trabalhadores, mantidos num colete de forças, em que se lhes pede cada vez mais produtividade para menor paga. No regime de monopólios que vigora, o capitalismo genuíno não passa de figura de retórica. 
O que temos é um mercado protegido, com privilégios que vão desde ajudas estatais (isenção de impostos, abaixamento dos encargos sociais, etc), supostamente para «garantir» o emprego ou a «competitividade» ou outras mentiras, até aos «bail-outs» (resgates) sucessivos dos bancos ou de grandes empresas, supostamente para «salvar» a economia dum País da bancarrota. 
É justamente para a bancarrota que estamos a ser encaminhados, em toda a Eurozona, em especial nos «PIGS» (Portugal, Itália, Grécia, Espanha). 
A minha previsão é que estes governos do flanco sul europeu vão acentuar o despesismo, prometendo e dando a torto e a direito, garantindo assim os votos necessários para se manterem no poder.  

Os actuais ocupantes de lugares de poder têm a ilusão de terem as costas quentes. Pensam que estão apoiados nas forças repressivas/militares ... PSP, GNR, Forças Armadas, NATO. Mas, estas forças não estarão dispostas a defendê-los, se - elas próprias - compreenderem que nada ganham e arriscam-se a perder tudo se defenderem os pusilânimes governantes...

O povo deixará de ter ilusões, no momento em que perceber que não há recuperação do estado «pré-covid». As coisas foram feitas, justamente, de modo a que -de novo- fosse o povo a pagar a factura.  Isso tomará o seu tempo, mas não tardará muito, pois a realidade no terreno económico vai ditar a mudança de perspectiva.

Não encontro motivos para ser optimista em relação ao futuro próximo. Não fico feliz com a infelicidade dos outros. 
Porém, os meus concidadãos têm de acordar da hipnose em que ficaram mergulhados, para perceber o que se passou, o porquê daquilo que se está a passar e o que devem fazer, para tomarem em mãos a situação. 

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

OBRIGAÇÕES COM TAXAS DE JURO NEGATIVAS = CATÁSTROFE À VISTA

Existem, neste momento, cerca de 14 triliões de dólares investidos em obrigações com taxas negativas. A maior parte destas são obrigações do tesouro de Estados.

Segundo François Asselineau, o mecanismo das taxas negativas na zona Euro, explica-se pela existência de uma grande incerteza quanto ao futuro do euro. 

                    
     https://www.zerohedge.com/economics/moneys-not-worth-anything-anymore-ex-credit-suisse-ceo-blasts-crazy-negative-rates

Com efeito, se os investidores estão cépticos em relação à existência do euro dentro de 10 anos, vão apostar numa obrigação emitida pela Alemanha - por exemplo - porque se acredita que a moeda deste país, o Deutche Mark, no caso do rebentamento da zona euro, irá valorizar-se em relação ao euro e/ou às outras divisas que surgirem desse rebentamento. Assim, poderá um investidor perder 0,25 % em euros, mas mesmo assim ganhar pelo facto da nova moeda, o Marco, que substituirá o euro ficar cotado 20% - ou mais - acima da cotação do euro, em relação ao dólar e em relação a outras divisas. 

                 

Por outro lado, a existência de taxas de juro muito baixas ou negativas só é possível porque as nossas pensões e poupanças estão, directa ou indirectamente, mobilizadas para sustentar essa «experiência inédita». É o que explica o responsável pelo «Grand Angle». 

                 

Com efeito, as pessoas são forçadas a isso sem o saberem (na maioria dos casos), pela colocação de capitais dos fundos do sistema de Segurança Social, e outros fundos (por exemplo, Seguradoras) em obrigações soberanas (dos Estados), consideradas seguras. Estatutariamente, estas instituições são obrigadas a ter uma certa percentagem dos seus fundos em «investimentos seguros». Que estes investimentos seguros sejam obrigações de Estados, deve-se ao pressuposto falacioso de que «um Estado nunca entra em falência» (basta pensar na Argentina, no Zimbabwe, na Venezuela, etc.)! 

De facto, em França, algumas forças políticas já começaram a divulgar o problema, a associação «Solidarité et Progrès», é uma delas. 

                 

Muitos dados importantes são divulgados nos vídeos aqui afixados, quer se goste, ou não, das forças políticas e/ou das pessoas em causa.

Seria uma tarefa impossível eu transcrever os conteúdos para leitores que não compreendem francês...porém, deixo aqui estas informações, que possuem um mínimo de seriedade.  Elas esclareceram-me em relação  dúvidas que eu possuía.

Para terminar, para os anglófonos, eis aqui um artigo muito detalhado, por um professor de economia de Helsínquia, publicado, recentemente em Zero Hedge:

WE FINALLY UNDERSTAND HOW DESTRUCTIVE NEGATIVE INTEREST RATES ACTUALLY ARE

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

DEMONSTRADO: EURO BENEFICIOU SOMENTE ALEMANHA E HOLANDA

                     'Euro was flawed at birth and destined to collapse' - Nobel economist

Um estudo do CEP publicado em Fevereiro de 2019, mostra que o euro beneficiou muito a Alemanha e os Países Baixos, tendo um efeito nefasto nas economias dos países do Sul, Portugal*, Espanha, Grécia e Itália. 



Esta conclusão não é inédita, mas tem o mérito de provar com dados precisos e quantificar o que cada pessoa destes países, em média, beneficiou - ou não  -desde a introdução do euro, em 1999.
Lembro que nos meus escritos sobre o euro - podem encontrá-los neste blog, ver aqui, aqui e aqui - já estava bem claro o papel inibidor do euro nas economias que deixavam de poder desvalorizar suas divisas para manterem a competitividade das exportações. O superávit sistemático de certos países e o déficit sistemático de outros, o desequilíbrio sistemático da balança comercial entre Norte e Sul, o seu claro efeito no desemprego, no endividamento externo, etc. são sinais muito claros de que algo estava e está mal, no desenho da «união monetária». 
O que está mal? 

- Em primeiro lugar, não existindo semelhança de grau de desenvolvimento industrial e tecnológico entre várias zonas do Euro, a criação de uma zona monetária única vai reforçar a penetração dos produtos das zonas mais fortes, em detrimento das mais fracas, visto não existirem barreiras alfandegárias.

- Em segundo lugar, a existência de um mercado único, com uma moeda única implicaria, para ser «fair play», que as regras do mesmo mercado fossem o mais uniformes possível de país para país; ou seja, com as mesmas exigências em relação às condições em que operam os agentes económicos; o mesmo nível de impostos, as mesmas regras nas relações laborais, as mesmas condições de acesso ao crédito, etc, etc. 

- Em terceiro lugar, seria necessário introduzir um mecanismo de garantia de obrigações do tesouro de cada país emissor, uma efectiva garantia solidária do conjunto da zona euro. Isto significaria que, tanto os países ricos, como os pobres, teriam capacidade para pedir empréstimos em condições semelhantes, não haveria o enorme diferencial das taxas de juro; taxas ao nível da inflação ou mesmo menores, para os países mais ricos e taxas altíssimas, um crédito «punitivo», para os pobres. 

As disfunções e anomalias resultantes da introdução da moeda única, nas condições em que tal foi feito, eram absolutamente previsíveis, mas os políticos que fizeram Maastricht tinham uma agenda essencialmente política, não económica. Depois, entronizaram as «regras de Maastricht» como se fossem absolutas, reforçando-as com uma «disciplina» que não tem qualquer significado económico. 

Na verdade, o projecto da UE, especialmente com o tratado de Lisboa e o Euro, é um projecto de construção dum império continental, não duma verdadeira federação de Estados livres e conservando uma parte significativa da sua soberania. Num projecto imperial, como este, as regras são ditadas pelos mais fortes. 

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* Consultar os gráficos da página 12 do referido relatório, para a evolução da situação de Portugal.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

O COLETE DE FORÇAS DA UNIÃO EUROPEIA



Como é que a União Europeia se tornou uma prisão para as Nações e para os Povos?

Muitas pessoas argumentam hoje em dia, em relação ao Euro e à implicação da austeridade sem fim, o seguinte: os países do Sul e - em particular - Portugal, que permanecerem na «Eurolândia» estão fadados a constantemente perder competitividade, sem outro recurso senão o de baixarem as remunerações laborais e as prestações sociais da população mais desfavorecida.
Esta espiral descendente, que faz com que há vinte anos os países do Sul estejam em défice crónico, enquanto a Alemanha e uma mão-cheia de outros Estados (Finlândia, Áustria, Holanda...) tenham um superavit crónico nas suas trocas com os países do Sul, foi sendo «remediada» com crescentes empréstimos pelos Estados do Sul. 
Assim, cada vez maiores quantidades de dívida se foram acumulando. No momento da grande crise do Euro de 2011, estas economias foram quase até ao fundo, à bancarrota. 
Apenas foram «salvas» pela promessa do BCE e de Mario Draghi em fazer tudo o que fosse necessário, para salvar a moeda única. Isto implicou políticas ditas de «quantitative easing» ou seja, de comprar dívida soberana, emitida pelos Estados mais débeis, Itália, Portugal, Grécia, Espanha... por forma a baixar artificialmente o custo da mesma dívida, podendo assim evitar o descarrilar completo das economias da região do Sul.
Como é evidente, este recurso de compra de activos pelo BCE foi uma medida transitória, terminada em janeiro deste ano. Mas, pela sua natureza, também foi uma medida meramente paliativa, visto que não teve qualquer efeito benéfico, em relação às causas do problema.
Com efeito, manteve-se a assimetria, a enorme disparidade, entre as economias do Norte da Europa e as do Sul, com a capacidade agressiva das primeiras em colocar uma série de produtos de elevada incorporação tecnológica nos mercados mundiais, enquanto os países meridionais eram uma espécie de mercado «cativo» para os gigantes do Norte europeu. 
Para que o Sul tivesse hipótese de se desenvolver autonomamente, permanecendo dentro da UE, esta teria de caminhar para um regime verdadeiramente federal, em que as carências/défices de uns eram compensadas pelo superavit de outros. Mas a Alemanha «nem quer ouvir falar» de pagar dívidas dos outros.
 Esta solução implicava que as regiões europeias menos desenvolvidas receberiam um apoio especial e que os seus défices seriam cobertos, na perspectiva de se diminuir progressivamente o fosso entre regiões «ricas» e «pobres». 
Isto seria muito bonito e belo, mas simplesmente, não poderá acontecer porque a Alemanha tem uma visão tacanha, que não lhe permite compreender que superavits crónicos foram obtidos à custa dos défices doutros ou, por outras palavras, se as suas grandes empresas de automóveis, de metalomecânica, de electrónica, etc., conseguiram uma grande fatia do mercado do Sul europeu, isso deve-se ao facto do Sul se ter endividado para comprar esses mesmos bens. 
Por exemplo, a Grécia, durante muito tempo, foi estimulada pelo lóbi alemão de fabricantes de armamentos (e pelos generais da NATO) a sobre-equipar-se com gadgets bélicos caros. Em Portugal, aconteceu uma situação semelhante, com os submarinos encomendados na vigência de um governo de direita.

Como a solução de federalismo equilibrado dentro da UE não é possível, os países mais fracos apercebem-se que a UE se tornou - de facto - um império, um colete de forças que mantém os países sob um jugo. A situação é muito vantajosa para as classes empresariais dos países do Norte. Estas fazem beneficiar com umas migalhas suas populações respectivas, para estas se manterem submissas. 
Quanto aos países do Sul, eles são submetidos ao ciclo infernal da austeridade: a austeridade significa uma restrição grande no consumo da maioria; logicamente, o comércio e indústria -  dependentes do consumo interno para prosperarem - entram em falência; as falências trazem mais desemprego, emigração para os jovens e piores salários e pensões, para os restantes; estas condições agravadas tornam cada vez pior a economia destes países, visto que muitas indústrias e serviços dependem fortemente do mercado interno. 
Por verem este descalabro, é que os italianos elegeram partidos ditos «populistas» (ou seja, que defendem o povo!). Isto traduziu-se numa imediata hostilidade dos «grandes» (França e Alemanha, sobretudo) e da «Comissão Imperial de Bruxelas». 
  
A perversidade do Tratado de Lisboa faz com que um país não possa facilmente retirar-se do Euro. Para tal, terá de se retirar TAMBÉM da própria UE. 
Nesta saída, vemos a Grã-Bretanha (que nunca pertenceu ao Euro) envolvida. É um processo longo, penoso e causador de grandes perdas... é exactamente o que os burocratas de Bruxelas querem para «tirar as peneiras» aos países que queiram fazer uma saída, negociada ou não, da UE. 
O mecanismo congeminado neste Tratado de Lisboa, absurdo, perverso, contraproducente, está agora a dar os seus «amargos frutos». 
Mas o que estes processos todos revelam é a impossibilidade de genuíno federalismo «top-down». O federalismo genuíno, por essência, tem de ser um processo levado a cabo com muita prudência, para que o povo esteja em condições de não aderir ou de poder retirar-se, a qualquer momento. Uma associação voluntária de pessoas a uma organização, pode ser usada como comparação: se a retirada da organização tem um custo incomportável - económico, jurídico e político - essa tal organização não é muito diferente das «máfias», as associações de criminosos, para as quais as pessoas são recrutadas e depois não têm outra saída possível, senão a morte. 
Neste caso, o das Nações na UE, é um facto que não têm como recuperar a sua autonomia, mesmo que o façam por um processo democrático de autodeterminação. 
Uma eventual decisão de saída, no caso da UE, terá um custo político, social e económico tal, que as pessoas acabam por renunciar, não por convicção, mas por medo e por cansaço.

Não existe «refundação» possível, para uma coisa destas. 
Poderia haver dissolução da UE, seguida de acordos bilaterais, mas numa base completamente diferente: hipoteticamente, tal comportamento permitiria restaurar a confiança. A Europa ficaria unida por uma série de acordos bilaterais, benéficos para ambas as partes, que poderiam ser reformulados, ampliados, restringidos ou até revogados, por acordo entre Estados. 
Ao pretenderem uma «refundação» da União Europeia, os grandes (Alemanha e França) querem apenas mostrar que a sua visão da Europa tem de prevalecer sobre todas as outras. A sua «refundação» é somente uma tentativa de imposição da sua liderança do processo. Penso que é tarde demais.
A União Europeia está no ocaso. Os governos de vários países, dentro e fora da UE, aperceberam-se bem deste fenómeno.  Porém, a opinião pública portuguesa tem sido mantida na ignorância total do que se está a passar. 
A maior parte do «establishment» político de Portugal está visceralmente dependente das benesses vindas da UE. São esses privilégios que custam muito sacrifício para a generalidade dos portugueses, sem qualquer benefício no horizonte. A casta dos políticos do poder são um insulto ao povo, mesmo ao povo que vota neles!

- É assim que a União Europeia se tornou uma prisão para as Nações e para os Povos.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

PORTUGAL, PARAÍSO FISCAL... PARA ESTRANGEIROS!

        
                                          https://www.youtube.com/watch?v=-9Gg6wGYVcA

          BREVE COMENTÁRIO A FRANCK DEDIEU

Os dados mencionados são correctos. 

O interessante é que o PS não nega absolutamente nada destes factos. Assume-os, como aliás não podia deixar de ser. 
Este afluxo de dinheiro, que Franck refere correctamente, teria de ser canalizado para investimento reprodutivo, para melhorias de infraestrutura, especialmente nas vilas esquecidas do interior, para que houvesse um verdadeiro desenvolvimento sustentável. 
Assim, lamentavelmente, Portugal apenas reforça o seu destino de neocolónia [como a Grécia, a Tunísia, etc, etc] para férias (do tipo Club Med. ou  equivalente) da classe média dos países europeus mais afluentes.  

domingo, 23 de setembro de 2018

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE I)

                          Resultado de imagem para tsunami


Olhando para o Mundo da minha janela, reparo que o jogo da grande política e estratégia não pára; mas - à superfície - tudo é feito para que as pessoas tenham uma percepção de que «tudo está na mesma». 

Bastam-me dois exemplos para ilustrar esta tendência:

Primeiro, a enorme perda de influência do dólar, o qual já não tem o domínio que teve outrora sobre os mercados financeiros, sobre as trocas comerciais e, sobretudo como moeda de reserva inquestionável, com a qual amigos e inimigos tinham de contar, nos cofres dos seus bancos centrais, sem o que muitas operações vitais deixavam de poder realizar-se. 
Hoje em dia, não apenas se desenvolve o sistema da nota de crédito em Yuan, dando muito maior flexibilidade a trocas efectuadas fora do dólar em África e no Médio Oriente, mas a China e Rússia estão a adquirir uma quantidade recorde de ouro, o que só pode significar que claramente estão a preparar a transição multipolar, como também vão-se livrando do dólar. 
A Rússia praticamente não tem mais «Treasuries» (obrigações do tesouro dos EUA, normalmente usadas como meio de reserva de dólares), lançou-as no mercado em Abril-Maio deste ano e avisou que o dólar já não era um activo «confiável». 
Quanto à China, com a sua «Belt and Road Iniciative» (as Novas Rotas da Seda), tem vindo a fazer empréstimos em dólares (uma maneira inteligente de se livrar deles) a países africanos, os quais podem pagá-los de volta, sob forma de Yuan ou de matérias-primas. 
A China tem usado também «Treasuries» para financiar mega-projectos de infraestruturas -caminhos-de-ferro, portos, aeródromos, estradas, etc. - em todo os espaço euro-asiático, para criação de um espaço único de circulação de mercadorias, desde a península coreana até às margens do Atlântico. 
Poderia continuar a dar exemplos de perda de influência americana e de perda de controle da situação geoestratégica relacionadas com ocaso do dólar, como moeda de reserva universal.  
Basta-me referir que as sanções económicas e as tarifas punitivas decretadas por Trump, apenas indicam fraqueza, não impressionam por aí além, fazem mais mal à população dos EUA e dos seus aliados europeus, do que propriamente aos países alvo das mesmas, nomeadamente o Irão e a China. Têm, ambos os governos destes Estados, meios para circunscrever  e tornear os prejuízos causados e sabem que as ditas sanções são fruto do desespero e susceptíveis de se transformarem em «tiros pela culatra». 
O mundo inteiro vê isso e pensa que os dias do Império do dólar estão contados.

O segundo exemplo, é o da movimentação da Itália para fora da zona euro. Os italianos não querem mais sofrer com o euro. Sabem que o seu caminho é o da saída. 
Mas, querem fazer as coisas de maneira mais inteligente que os gregos, que ficaram entalados com uma dívida impagável e uma espoliação de muitos activos e propriedades (incluindo portos e aeroportos) dados em contrapartida de «resgates» mais que dúbios. 
A Itália tem possibilidade de decretar a saída do Euro mas, para isso, terá de proteger-se de efeitos secundários que poderão ser demasiado penosos, tanto política como economicamente. Só será possível fazerem a transição se tudo for preparado em segredo e no último instante decretarem o controlo de capitais e o fecho  dos bancos (com a possibilidade da população retirar algumas centenas de euros por semana  das suas contas-correntes nos ATM). 
Isto, a acontecer, automaticamente criará uma crise de confiança no espaço europeu,  pelo que todos os países da «eurolândia» serão arrastados para soluções similares se não quiserem logo ver seus próprios bancos colapsar, por insolvência manifesta. 

Estes dois exemplos não me tiram o sono, felizmente, porque eu não detenho meios para influenciar os acontecimentos: só teria se fosse um grande bilionário ou trilionário, dono de bancos  e de ramos inteiros de indústrias.

Mas tenho o bom-senso de me precaver destas eventualidades, que parecem como uma enorme vaga, um tsunami, que se vai aproximando cada vez mais da costa, enquanto as pessoas despreocupadas, não ligam, continuam na praia a apanhar sol e a brincar... 

Não é somente por compaixão e solidariedade humana mais básica, que não tenho vontade que essas pessoas sejam vítimas de uma tal desgraça. Quanto maior número de pessoas souberem precaver-se, melhor estarão - colectivamente - para reconstruir as coisas. 
Não sei como nem quando irá rebentar, mas uma catástrofe económico-política de grandes dimensões está fermentando, somente a media hipócrita, ao serviço dos seus donos, mantém todos distraídos. 

Tenho poucas esperanças numa revolução mundial, que varra de vez este capitalismo depredador e monstruoso: Seria bom que, ao fim e ao cabo, esta crise vindoura assinalasse a morte e enterro do sistema capitalista mundial. Mas isso, embora não seja inverosímil, não me parece provável. 

Em qualquer circunstância, para retomar a analogia da vaga gigante ou tsunami, não perdemos nada por subir para colinas, a umas centenas de metros acima do nível do mar. 
Mesmo que a minha análise seja demasiado sombria e afinal não aconteça nada de muito grave, o que se perdeu, fazendo essa pequena retirada? 
Se, pelo contrário, as minhas previsões se realizarem, aqueles que - por ignorância ou desleixo -  ficam na praia a brincar... com certeza serão varridos e arrastados pelo tsunami, sem salvação possível. 

sábado, 1 de setembro de 2018

MAQUIAVEL ERA ITALIANO...NÃO ESQUEÇAMOS!

Num artigo intitulado «Ministro Savona: o Euro é o plano do Reichsbank alemão de 1940, a Itália devia retirar-se dele!» (1), o GEFIRA  retraça os dilemas e as escolhas da elite italiana, a que está discretamente a puxar os cordelinhos do teatro do poder,  qualquer que seja o governo de turno: de «esquerda», «direita» ou mesmo «populista». 

 É muito interessante notar a enorme divergência das contas correntes entre a Alemanha e restantes países do Euro (ver gráfico, retirado do referido artigo). 
O facto é que este sistema, embora altamente favorável para a Alemanha, não é sofrível pelos restantes países, sobretudo, os que tiveram anos de medidas de austeridade, retracção brutal do poder de compra da população e altos níveis de desemprego e de emigração.

                         

O artigo é extenso e merece ser lido na íntegra. Segundo ele, será a elite italiana que irá determinar o momento do «grande terramoto» da saída do Euro. A população apenas é ouvida e atendidas as suas aspirações, quando isto é compatível com os planos da tal elite. 

Considero que é um artigo muito informativo e bem pensado sobre a relação da Itália com a UE. Resta  tirar as consequências práticas do mesmo, pois o que é previsto para Itália, também terá repercussões importantes em Portugal. 

Neste cenário político-económico-financeiro, caminha-se, ou para o abandono puro e simples do Euro, ou para sua transformação em moeda contabilística, para cálculo do «deve e haver» com o exterior, com a lira a circular novamente no mercado interno do país.  

O artigo termina com o parágrafo seguinte (tradução minha): 
«O establishment italiano compreende que é a classe no poder, não o povo, que gere o país. Que o Euro seja abandonado  ou não, isso não é assunto do povo.  
Se e quando eles decidirem fechar o interruptor do Euro, irão fazê-lo de modo que o público aplauda. Ao fim e ao cabo, Maquiavel era italiano.»

terça-feira, 7 de agosto de 2018

BANCO CENTRAL EUROPEU - UM CÍRCULO VICIOSO INFERNAL INSTALADO NA ECONOMIA EUROPEIA

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A política monetária decidida pelos bancos centrais traduz-se em efeitos concretos nas economias, não apenas nas regiões correspondentes às divisas que emitem, como até globalmente, na economia mundial.
Como exemplo podemos citar a FED, Reserva Federal Americana, o banco central dos EUA. Com as sua política de subida progressiva das taxas de juro, o «tapering», desde há dois anos atrás, tem mantido o dólar bastante alto, mesmo ao ponto de este seu valor, face a outras divisas, ser prejudicial para os próprios EUA. Além disso, o alto valor do dólar tem sido desastroso para os países emergentes, que têm pedido dinheiro emprestado em dólares e vêm a sua dívida aumentar sem poderem fazer nada.

Do lado do banco central europeu (ECB) nada disso aconteceu, entretanto. Apenas uma vaga promessa de que iria reduzir o programa de compra sistemática das emissões de dívida dos países mais fracos do euro. Caso o ECB efectivamente cumpra a promessa, as obrigações destes países irão, sem dúvida, sofrer um tombo (e os juros das mesmas, uma subida abrupta). Veremos se irá aplicar mesmo esta medida que anda a anunciar há tanto tempo
Em consequência dos juros das obrigações soberanas desses países, a estrutura toda do crédito ficará afectada, provocando um arrefecimento brusco da economia. 
Mas a economia do espaço Euro está longe de estar «sobreaquecida»; esta travagem equivaleria a uma descida para nova crise de depressão. 
As economias dos países que beneficiam das compras sistemáticas de obrigações soberanas (Portugal, Espanha, Itália, Grécia) estão - neste momento - a sobreviver, com algumas dificuldades. O encarecimento brusco dos juros seria sinónimo de catástrofe para elas. A economia real sofreria imediatamente com isso e também os especuladores internacionais, «hedge funds», etc., iriam atacar o Euro e «abocanhar», por baixo preço, muitos activos rentáveis, denominados em Euros. 

O ECB causa e mantém uma estrutura artificial do crédito no espaço Euro, ao fazer as compras sistemáticas da dívida dos referidos países. As obrigações destes, estando artificialmente cotadas, vão influenciar o preço do dinheiro, a estrutura do crédito em toda a zona. 
A remoção deste amparo artificial irá fazer com que as obrigações de dívida dos países do sul europeu revertam para valores realistas, que reflectem o grau de confiança dos investidores internacionais nestes títulos e, por extensão, nas economias dos países emissores. 
Assim, criou-se uma dependência tremenda, entre o banco central e os países mais fracos da zona Euro. A continuação deste estado de coisas, que dura desde 2012, levanta a questão importante da alocação do capital: 
- Com efeito, num sistema capitalista, a maneira de avaliar a pertinência de um investimento é pelo retorno sobre o capital investido, o rendimento obtido depois de descontadas as diversas despesas, incluindo o custo do crédito. Ora, caso o crédito seja artificialmente baixo, a avaliação da adequação e rentabilidade dum investimento poderá ser muito falseada. 
Quanto mais tempo a estrutura do crédito estiver distorcida e der sinais errados à economia real, mais se irão multiplicar os investimentos equivocados, que resultarão em perdas em vez de lucros, logo num maior número de falências. 
Uma má alocação do capital, o seu desvio para muitos negócios que são apenas rentáveis na aparência e no curto prazo, verifica-se já hoje, em detrimento de outros investimentos, que poderiam ser realmente produtivos: 
- Vejam-se as valorações bolsistas, geralmente a níveis de 20 ou 30 vezes acima da avaliação das empresas cotadas, ou no imobiliário: trata-se de bolhas especulativas, portanto totalmente insustentáveis e destinadas a rebentar, mais cedo ou mais tarde.

Está, desde há vários anos, instalado um sistema de dependência mútua, mas destrutivo, porque a remoção destas compras sistemáticas pelo ECB poderá precipitar uma catástrofe; mas sua manutenção apenas origina distorção inflacionária dos mercados, que mais cedo ou mais tarde, acabam por reverter aos valores de longo prazo.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

ECB E OUTROS BANCOS CENTRAIS REUNIDOS EM SINTRA

                       
A reunião em Sintra deverá apresentar poucas novidades e não terá outro fim senão propaganda.
 Espera-se que Draghi avance com alguns detalhes sobre a política do ECB para o próximo ano, em particular dê pistas sobre o modo como as compras de activos pelo ECB vão reduzir-se ao longo do tempo. O crescimento anunciado das taxas de juro, esse vai ter que esperar mais tempo. Assim, o ECB mantém as taxas perto de zero, durante pelo menos mais um ano. 
As medidas drásticas pós crise de 2008, a política de zero por cento de juros, a compra de activos -muitos deles tóxicos - aumentando a carteira dos bancos centrais até níveis nunca vistos antes, supostamente terão levado a uma recuperação da crise. Porém, tal não é nada líquido. Primeiro porque esta «recuperação» é a mais incipiente e prolongada no tempo, com uma série de indicações da economia real que os podem legitimamente fazer duvidar do efeito benéfico das medidas. Estas tiveram como resultado mais palpável a subida das bolsas de acções nos vários países ocidentais, mas em grande parte esta subida não corresponde a um efeito de maior desempenho das empresas ou de maior disponibilidade de meios das famílias ou mesmo de investidores institucionais, como os fundos de pensões. Estes aumentos das bolsas explicam-se sobretudo por um lado, pelas auto-compras realizadas pelas grandes empresas, pois obtinham crédito praticamente gratuito, tendo usado largamente esse crédito para aumentar artificialmente a sua cotação bolsista (satisfazendo assim os accionistas  e enchendo com bónus as algibeiras dos gestores) e, por outro pelas avultadas e sistemáticas compras pelos bancos centrais, nomeadamente temos conhecimento do facto no caso do banco do Japão e do banco nacional suíço, mas penso que haverá outros. Além disso, a compra sistemática das obrigações soberanas - pelo ECB - criou uma distorção muito grande no mercado do crédito. A anulação deste «quantitative easing» pelo ECB irá com certeza originar muitas perturbações nos mercados, sobretudo nos do imobiliário e no crédito às empresas, ambos com efeitos «bola de neve» potencialmente catastróficos.
Mas os banqueiros centrais e os políticos dos governos respectivos todos eles dançam a mesma dança: uma vez é o BCE, outra vez a FED, outra vez o Banco Central do Japão. Os bancos centrais da China e da Rússia, às vezes, também participam na valsa, embora não o façam ao compasso dos ocidentais... tentam desligar-se da hegemonia do dólar: o banco central russo desfez-se de metade das obrigações do tesouro dos EUA em Abril. O banco central da China também vem reduzindo a sua exposição ao dólar. 
Num contexto de guerra económica, os prejuízos das altas tarifas no comércio (impostas por Trump) terão como resposta, vendas maciças das obrigações do tesouro dos EUA, originando descidas no valor de mercado das mesmas. Apenas a FED e o Tesouro dos EUA irão adquirir esses activos, mas estão limitados, pois a dívida gerada acumula-se sem controlo. 

Em geral, existe uma orientação globalista dos bancos centrais ocidentais, que permite que a oligarquia se tenha mantido e enriquecido, enquanto a imensa maioria tem vindo a perder capacidade económica. Os dirigentes que andam há quase dez anos a espevitar a inflação, com o objectivo de espevitar a economia,  podem ser responsabilizados pela ruína das «classes médias» na Europa ou na América. Com efeito, aqueles cujos salários ou pensões - no melhor dos casos - estagnaram em termos nominais, desde há uma década, tiveram um decréscimo de nível económico da ordem de 50% ou mais. Mas os economistas com vendas nos olhos ou comprados pela grande finança, continuam a pregar a teoria «neokeynesiana», que cada vez se torna mais grotesca por, sistematicamente, o remédio preconizado levar ao contrário do que tinham desejado. Isto chama-se (para retomar a célebre definição de Einstein)  insanidade, ou seja, repetir vezes sem conta o mesmo acto, apesar de resultados contrários  ao objectivo pretendido: O «quantitive easing» conduz à destruição de capital, pois massa monetária não é igual a riqueza, o que toda a gente sabe!

quinta-feira, 7 de junho de 2018

O EURO FOI UMA BOA OU MÁ IDEIA?

                

O Euro nasceu muito antes de ser decretada a transição das moedas nacionais dos estados-membros. É uma criação de Maastricht, assim como uma série de outras «inovações maravilhosas», de que não parámos - nós, cidadãos europeus - de pagar o preço.

O euro é considerado como um grave problema para as economias depauperadas do Sul da Europa. 
Com efeito, antes do euro, as diferenças de produtividade entre os países do Norte e do Sul eram compensadas por desvalorizações das moedas dos países do Sul, o que repunha a competitividade das suas economias. 
O efeito era uma taxa de inflação superior (não muito) à do Norte e uma escala de salários mais dinâmica que a do Norte. Esta favorecia a economia destes países, pois o mercado interno era (e continua a ser) o principal componente do PIB e é fundamental para alimentar as pequenas empresas. Estas sempre foram o principal componente do tecido produtivo  em Portugal, Espanha, Itália e Grécia.

Agora, o governo italiano vai tentar aquilo que o governo grego não conseguiu: autonomizar-se em relação ao euro, em relação à estrutura da dívida, que sustenta a arquitectura da «moeda única». 
A possibilidade de reestruturação do mercado obrigacionista interno em Itália já está a causar muita irritação nos eurocratas. 
Porém, já em 2011, relativamente a Portugal, preconizei exactamente a mesma medida, a qual teria a vantagem de manter em mãos nacionais uma boa parte da dívida, estancando, do mesmo modo, a sangria de capitais, que iam buscar maior rentabilidade e/ou segurança noutras paragens.

A problemática do euro não pode ser vista desligada das moedas com as quais compete ao nível mundial, em particular o dólar. Se este baixa, o euro sobe e vice-versa. 
Mesmo descontando o efeito dos movimentos especulativos, temos um sistema «oscilante», mas cuja balança fica mais do lado de Wall Street, sempre atenta a tirar partido das fraquezas do euro e da zona euro. 
A especulação  pura é responsável por muita saída de capital do espaço europeu, mas também e sobretudo as taxas praticadas pelos bancos centrais respectivos. 
Enquanto o BCE continua com uma taxa quase nula, a FED (nos EUA) tem vindo a subir a sua taxa de referência. Os bonds (obrigações) do outro lado do Atlântico têm uma remuneração superior e isso alimenta o efluxo constante de capital europeu para os EUA. Enquanto perdurar esta situação no mercado obrigacionista, a Europa vai continuar a perder capitais. 

Mas, logo que o BCE decida aumentar a sua taxa de juro, logo que cancelar o seu programa de compra de activos financeiros dos diversos bancos europeus (Quantitative Easing), os juros das obrigações soberanas vão subir. Toda a estrutura do custo do crédito vai ficar abalada. Isso vai-se repercutir no  mercado imobiliário, em particular, pois é um mercado muito dependente do crédito bancário. 

Não existe meio de acabar com a impressão monetária incondicional («quantitative easing»), sem que haja um efeito na economia: será uma situação análoga do «síndroma de privação» de um heroinómano. O organismo económico europeu habituou-se à sua injecção de capital, tal como o toxicodependente, à sua dose... 


O caminho, para os países do euro saírem da «camisa de sete varas» em que estão metidos, não é único e resultará de uma prova de força da capacidade política e institucional dos diversos intervenientes. 
Neste momento, a capacidade da Alemanha impor o seu diktat está diminuída, não só pela fraqueza do apoio popular a Merkel (progressão do partido soberanista, AfD), como também pelo facto de os Italianos não estarem nas mesmas condições que os gregos em 2012. 
Eles terão, com certeza, aprendido algo com o fiasco do governo de Tsipras, face aos alemães e à Comissão Europeia. Os italianos saberão jogar de outro modo. 

O facto do dirigente da «Lega», que tem uma implantação praticamente apenas nas províncias do Norte («Lega Nord»), ter sido aclamado entusiasticamente, no Sul, pela população diz muito. Ou seja, a rejeição do caminho de submissão à ditadura eurocrática e a insistência na soberania do povo italiano, são um eficaz catalizador de vontades. 


A eurocracia deitou a perder o projecto da União Europeia
Uma boa ideia (uma Europa unida, para além dos seus particularismos nacionais), muito mal executada (imposta desde o centro pelas oligarquias), torna-se uma ideia desacreditada, ao ponto de ficar liquidada durante séculos!

quinta-feira, 8 de março de 2018

EUROPA JUNKIE DAS INJECÇÕES DE LIQUIDEZ DO BCE

Com a redução para metade das compras mensais do BCE de 60, para 30 biliões em activos dos bancos e obrigações soberanas, os mercados do velho continente já estão a sofrer. O suposto estímulo não estimulou senão uma dependência, como um junkie, que depende da sua injecção quotidiana de heroína monetária, para continuar a fingir que está activo e que existe um mercado, que existem instituições financeiras solventes, que existem estados não falidos, para não falarmos da dívida sempre crescente de grande número de empresas, especialmente as empresas familiares, sobre as quais repousa 60 a 80 % do emprego e da produção nos países da Eurolândia.
Os analistas já prevêem, com razão, o arrefecimento da economia, para níveis equivalentes a uma estagnação. Teremos um novo ciclo de «estagflação» ou seja estagnação económica, com inflação, supostamente baixa, mas somente por manipulação dos índices pelas agências governamentais. O episódio anterior de estagflação foi nos finais dos anos setenta e princípios dos anos oitenta. Foi uma altura muito dura para as classes trabalhadoras de todos os países europeus. Foi também a altura em que as pressões, económicas, políticas, sociais começaram a fazer romper o «dique» dos países do Leste, do Pacto de Varsóvia.

Hoje em dia, a China é quem irá beneficiar da fragilidade da economia europeia. Está a implantar as suas plataformas de troca de Yuan por moedas ocidentais, quer na City de Londres, quer no Luxemburgo, em Frankfurt ou ainda Zurique. 
Vai chegar um momento, não tarda muito, em que o «consenso» vai virar, será então muito melhor possuir algo sólido, algo que não seja um «activo financeiro», nem uma conta bancária, ou o mínimo possível... pois o grande «reset» está aí, à vista, é preciso ser míope para não o ver chegar. 
Os poderes (incluindo os orientais) estão em conluio para que esse tal reset tenha um mínimo de sobressaltos, de modo que apenas os pobres, ou as classes médias, sofram o embate principal. 
Os sistemas de previdência, os fundos das pensões de reformas, etc. tudo isso (o nosso capital acumulado, não esqueçamos) vai servir como combustível para a grande fornalha. 
Os Estados e outros «grandes devedores» sairão «magicamente» solventes de todos estes episódios, enquanto o comum dos mortais irá ficar ainda mais dependente do «Welfare State», com a falsa benesse do «rendimento incondicional».
Mas, talvez as coisas não se passem exactamente a contento dos oligarcas!


quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

ESTATUTO NEO-COLONIAL DE PORTUGAL

                                   
                                     

estatuto de neocolónia * de Portugal é o verdadeiro impedimento a uma arrancada para o desenvolvimento, deste retângulo à beira Oceano plantado.

Tenho defendido, ao longo dos anos, esta visão e tenho dito a quem me quer ouvir que, se não se tivesse deixado enredar na malha das dependências neocoloniais, Portugal seria hoje uma espécie de «Suíça» do Atlântico.

Enquanto ponto de partida e de chegada natural para todo o comércio transatlântico, esse lugar é-lhe devido. 

Em termos estratégicos, controla a passagem do Atlântico Norte e Atlântico Sul e a rota atlântica em direção ao Mediterrâneo; Portugal foi e é ainda elemento geoestratégico de primeira importância.

A cobardia e a venalidade dos dirigentes deste país, ao longo das épocas históricas, é que tem feito com que o potencial enorme deste território e a coragem e tenacidade de suas gentes sejam desprezados e espoliados. 

Sem as circunstâncias especialíssimas do espaço português e da natureza flexível e determinada do seu povo, não seria possível os parasitas prosperarem, ao longo dos séculos. 

A forma de manter submissa uma pessoa é de a convencer de que ela é uma «coitadinha»,  que precisa da nossa «ajuda». Em relação a uma nação, não é muito diferente. 

É precisamente o que têm feito os gatos gordos da UE e dos EUA. Aproveitam-se dos gatinhos gordos de cá (que miam em consonância perfeita com os seus chefes), os espertos que por cá pululam, para continuarem o seu jogo, sem oposição à altura.

A forma de oposição do tipo frente de libertação anti-colonial, tipicamente uma estrutura inter-classista, parece-me ser a única viável, face ao nosso estado de neocolonialismo inconfessado, tanto devido às circunstâncias históricas, como à situação de hoje, em Portugal.

Porém, essa frente, só tem possibilidade de prosperar, caso os seus membros ponham acima dos seus interesses de grupo, o interesse nacional. Guardo esperança de que apareça um conjunto coeso e dinâmico de mulheres e de homens assim, cedo ou tarde, neste país.   

O chamado pai da democracia, Mário Soares, em múltiplas ocasiões, falou sobre a importância da tolerância para a democracia. Quando falava disso, quase ninguém compreendia o que ele tinha em mente. Poucos compreendiam que ele falava das inúmeras discussões, terrivelmente desgastantes, que qualquer democrata português teria de aguentar com outros, que, embora dizendo-se democratas, o que procuravam, antes de mais, era dominar. 

Também eu experimentei, algumas vezes, tais esgotantes debates, sem fruto nem proveito, que por aí ocorrem. Em resultado disso, sou um «anti-político» num certo sentido, embora seja um observador atento da política. 

Para os meus amigos /amigas (quer estejam envolvidos/as em projectos políticos ou não), apenas digo o seguinte: vejam o que as pessoas fazem, não apenas o que dizem ou proclamam. 

Enfim, vejam se alguém é sério e coerente com o que afirma, não pela análise discursiva, mas pela análise da coerência entre a prática, no mundo real, e as ideias que proclama.

Está claro, para mim, que além dos fatores económicos, existem fatores de cultura, civilizacionais, que justificam o estado em que se encontra qualquer país, qualquer agregado humano.

Por exemplo, no caso da China, o confucianismo domina nas mentes e permanece como pano de fundo cultural. 
No confucianismo, existe uma opção clara pela ordem, pela estabilidade, pelo respeito para com os ancestrais e para com os progenitores.  Este respeito e consideração são igualmente dados à família alargada, ao grupo étnico, à nação. 

Pelo contrário, em Portugal, reina um individualismo exacerbado, não existe solidariedade familiar verdadeira, muito menos existe verdadeira solidariedade de classe, ou de cultura, ou de nação. 

Quando digo que não existe, não nego que tudo isso, de facto, possa existir numa fração, numa parte da cidadania deste país; mas eu faço a «soma vetorial» das vontades e das ações, para compreender para onde vai a barca... 

A barca de Portugal é uma jangada, prestes a desconjuntar-se, sem leme nem liderança, onde se encontram formigas, ignorantes de que estão no meio do alto mar e que têm de se juntar e fazer causa comum, para salvamento da jangada. 

Mas as pessoas não são «formigas». 
Elas podem perceber o que é real e superar o que eu chamo de «complexo neocolonial». 
 Sobretudo, podem exercer ações eficazes para que não sejam escravizadas (mentalmente, como primeira etapa para a escravidão completa), para proveito dos senhores de terras longínquas, sejam da China ou do Ocidente, do Norte ou do Sul. 

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*Nota: tenho escrito sobre este assunto desde os «Cadernos Luta Social», no tempo em que Sócrates era primeiro-ministro: a minha análise mantém-se válida, na atualidade.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

NOTAS SOBRE «QUANTITATIVE EASING» DO BCE

                                            

Acima, uma nota de cem biliões de dólares do Zimbabué. 
Na realidade, embora esteja lá escrito «one hundred trillion», nas línguas latinas, os nomes que se dá aos números são diferentes das anglossaxónicas. 
A partir dos nove zeros, os anglo falantes usam o «billion» (por influência norte-americana, os brasileiros adotaram também esta convenção), enquanto os europeus continentais dizem «um milhar de milhões». 
Quanto ao poder aquisitivo desta nota: parece que, nos mercados deste país, ainda se pode comprar um par de ovos com ela!
                                           
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Principais riscos e consequências do «Quantitative Easing» 
do Banco Central Europeu são:

. A distorção dos mercados de dívida
Não é somente a dívida soberana (obrigações do tesouro, etc.) dos diversos países que está cotada de maneira artificial, é todo o mercado. Há uma distorção de toda a estrutura dos juros, do preço do dinheiro. No capitalismo, esta distorção tem efeitos gravosos, porque leva a investimentos mal direccionados, a estimativas de rentabilidade de negócios fora da realidade, etc…

. A impossibilidade dos PIIGS se livrarem da dívida.
Se a taxa de juro para pedir novos empréstimos for muito baixa, não haverá governo que resista a continuar a gastar mais do que o seu respectivo país produz, pela simples razão de que, se fizesse o contrário (ou seja, uma verdadeira contenção orçamental), perderia o poder, nas próximas eleições (ou mais cedo!). Continuará a haver endividamento destes países, com reestruturações das respectivas dívidas, mais cedo ou mais tarde.

. A hiperinflação

                       

A moeda única significa que o sistema é tão forte, quanto o seu elo mais fraco. Se um país do Euro entrar em espiral inflacionária, os restantes sofrerão logo o contágio; não haverá possibilidade de evitar que a desconfiança se repercuta sobre todo o espaço do Euro, em conjunto. 
O BCE aponta uma meta de 2% de inflação, na zona Euro. Esta meta é irrealizável, a não ser através de manipulações das estatísticas. Há uma inflação escondida, muito mais elevada, que se exprime nos aumentos do imobiliário, da bolsa e noutros mercados (arte, metais preciosos, etc.). 
Nenhum governo jamais conseguiu manter a inflação a um nível determinado. Simplesmente, é um fenómeno que escapa aos mecanismos de moderação que governos e bancos centrais possuam. A inflação vai acelerando, até se tornar hiper-inflação. Os políticos optam, mesmo assim, por inflacionar, porque o público não compreende o fenómeno e não os identificará como sendo os seus causadores. 

. O marasmo económico
O BCE está na origem das bolhas especulativas no imobiliário e nas bolsas. Criou um clima de euforia artificial, em que os investidores são atraídos a fazer investimentos com risco, porque «têm as costas quentes», com as compras sistemáticas do BCE. Com efeito, estas compras, baixando artificialmente o custo do crédito, são responsáveis pela subida das bolsas e de todos os ativos financeiros. Por contraste, nos diversos países, a economia real (de bens e serviços) não recuperou sequer os níveis anteriores à crise de 2007/2008. 
Ao tornar tão apetitoso - para os especuladores - jogar nos mercados de ações, de obrigações e de produtos derivados, o BCE está a provocar uma enorme drenagem de capitais financeiros, desviados do investimento na economia real, para a economia de casino. O marasmo económico actual, com o seu cortejo de sofrimento social, elevado desemprego, emigração, etc. deriva, em grande parte, dessa drenagem de capitais.

. O Banco Central Europeu fica afogado em papel
Ao comprar ativos financeiros num mercado totalmente artificial, o BCE (ECB) sabe que não tem hipótese de se ver livre, algum dia, destes mesmos ativos. No mercado, logo que acabe o programa de compra de 60 biliões mensais de activos pelo BCE,  estes mesmos ativos passarão a valer quase nada, ou uma pequena fracção do valor de sua compra aos bancos. 
Afogado em papel invendável e sem valor, o ECB não poderá esperar que o Euro seja fortalecido, internacionalmente.

. A desvalorização face a metais preciosos, dólar e criptomoedas
Tal como em 2010/2011 - quando estalou a crise das dívidas soberanas da Irlanda, Grécia, Portugal e Itália -  na próxima crise, os capitais irão refugiar-se nos metais preciosos, no dólar (nas obrigações do tesouro americano) e agora também nas cripto-moedas. Mas a dívida actual acumulada na Eurolândia é ainda maior do que em 2011. Os juros das obrigações soberanas denominadas em Euros irão subir e o valor do Euro, face às outras divisas, irá descer acentuadamente.

.A ampliação dos efeitos de uma crise económica 
Ao nível internacional, a sobrevalorização das cotações bolsistas, das obrigações e de toda a espécie de activos financeiros, atingiu uma dimensão assustadora. 
Muitos especialistas consideram que uma crise de grandes dimensões virá, certamente. Nem o BCE, nem os estados-membros, estão preparados para tal crise: erradamente, estimam que poderão «diluir» seus efeitos. 
Mas esta diluição chama-se, na realidade, «criação monetária»: 
- A criação monetária tem um limite, o da perda de confiança total numa divisa, e que se traduz pelo disparar incontrolável da inflação!