Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

FRAGILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO, FACE À MUDANÇA TECTÓNICA


                                

Nada mais frágil do que a posição económica e financeira dos EUA (e UE) neste momento. A crise de 2008 foi escondida debaixo de uma «montanha de papel» (ou dígitos electrónicos), o chamado QE (Quantitative easing), política levada a cabo pelos bancos centrais dos dois lados do Atlântico. 
A «recuperação» das economias é tudo menos segura, pois as políticas seguidas não são inflacionárias, mas deflacionárias. 
Com efeito, inflacionário seria haver maior quantidade de dinheiro disponível nas famílias, em particular nas famílias das classes trabalhadoras. São estas que irão gastar mais, simplesmente porque a quantidade do que gastam é função directa daquilo que recebem. 
Pelo contrário, os ricos e a classe média superior, têm usado o capital disponível para especular na bolsa, têm adquirido casas ou andares - muito acima daquilo que a média dos trabalhadores poderia alcançar - mas irão gastar, mais ou menos o mesmo, nos bens de consumo. 
Aquilo que a família média, em qualquer país da UE ou nos EUA, aufere, em termos de poder de compra real, é substancialmente mais baixo do que em 2008, antes da crise do sub-prime. 
A confirmar este diagnóstico da criação e manutenção de ambiente deflacionário, está o facto de que, apesar da «recuperação», o grosso do desemprego, em muitos países do sul da UE não foi realmente reabsorvido. 
Os números reais do desemprego são mantidos numa vaga e nebulosa indefinição, por decisão política de governos, servidos pela média: continuam acima dos 10% para a população em geral e acima dos 40% para os jovens em Portugal, Itália e Espanha, nomeadamente. 
O público está desinformado e manipulado. Assim, a média corporativa «esquece» de mencionar os valores globais, mas refere sistematicamente qualquer dado indicando criação de emprego, conseguindo iludir as pessoas.
Assiste-se a uma espiral de deflação, acompanhada a uma inflação confinada ao mercado financeiro, nomeadamente, com cotações bolsistas em alturas inéditas, sem comum medida com o valor intrínseco das empresas cotadas. 
Neste ambiente, o alavancar dos vários activos, através de derivados (por ex. credit default swaps...), faz aumentar os riscos inerentes a muitos produtos financeiros, ao mesmo tempo que se continua com uma política de supressão dos juros do capital-poupança, que as pessoas idosas, modestas, possuem. Como estes activos não fornecem as quantias esperadas, muitos idosos são obrigados a regressar ao mercado de trabalho, ou a  adiar ao máximo o momento da reforma.

O efeito catastrófico, no Ocidente, das políticas levadas a cabo após o colapso de 2008, apenas foi reportado e diluído no tempo. Não houve, de forma nenhuma, um «curativo». 
O resultado é que pretendem diminuir, ou «normalizar», a quantidade dos activos dos bancos centrais, mas não têm compradores. Recentemente, os bancos centrais de vários países - Japão e Suíça, logo copiados pelos restantes - começaram até a comprar grandes quantidades de acções nos mercados bolsistas. Isto dá uma medida do desespero dos dirigentes destas instituições, em manter a ilusão de economias em recuperação. 
O governo dos EUA possui um «grupo de intervenção financeira», com acesso ilimitado a fundos, para comprar acções ou outros activos, prevenindo uma queda brusca... eles têm usado este mecanismo rotineiramente, para manter as bolsas a «flutuar», apesar delas serem desertadas pelos investidores mais atentos. 
As subidas dos valores das empresas cotadas em bolsa origina maiores dividendos para os accionistas e maiores bónus para os dirigentes, pelo que as grandes empresas estão sistematicamente a reinvestir os seus lucros em acções de si próprias, não utilizando este capital disponível para criar mais valor (aquilo que se esperaria numa economia capitalista saudável). Os juros muito baixos têm permitido que estas empresas usem este crédito muito barato para operações de auto compra de acções. Mas a subida dos juros, começada pela FED, que será seguida por outros bancos centrais, está a tornar estas operações menos rentáveis ou não rentáveis de todo. As bolsas  já começaram a sofrer, a volatilidade a aumentar, vários fundos de fortunas a sair do mercado...

No contexto actual, não seria fácil encontrar pior política do que o «bullying» sistemático que os EUA querem levar a cabo contra a China
Numa guerra comercial, todos são prejudicados. Não são os países do Oriente, fornecedores de bens e serviços ao Ocidente, que irão sofrer mais... quem fica sem defesa são estes países do Ocidente, que perderam, voluntariamente, a sua capacidade produtiva no espaço de 2 ou 3 décadas apenas, para os países ditos emergentes, mas cujo comércio já atinge o top ao nível mundial. 

Não se acredite que a elite que mexe os cordelinhos e comanda os fantoches da política, não tenha previsto e desejado isto tudo:  a minha hipótese tem sido a de que estamos perante os episódios iniciais do «Grande Reset» ou da Mudança Tectónica, defendido por várias eminências do globalismo. 

O papel dos políticos «convencionais» e da media corporativa nisto tudo, é criar uma «narrativa» que permita ao cidadão comum fazer uma leitura equivocada, mas que serve para o levar aonde a mesma elite globalista quer: nomeadamente, a pensar que a próxima «grande crise» é uma «fatalidade» da natureza, ou da economia. 
Não lhe deve nunca passar pela cabeça que esta foi calculada, monitorizada e implementada para realmente haver uma transferência de poder (e de capital) de umas mãos para outras.

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