segunda-feira, 1 de abril de 2024
PERCORRENDO O CAMINHO DA ESTUPIDEZ
domingo, 31 de março de 2024
POTÊNCIA DOS EUA É BLUFF
É um "bluff" e está a revelar-se de forma cada vez mais óbvia.
Vamos por partes:
1- O dólar: a hegemonia do dólar está posta em causa a vários níveis. O sistema de Bretton Woods, ou aquilo que dele restava, está completamente posto em causa. Continuam a sentir-se os efeitos inflacionários da retirada (default) de Nixon em 71, quando desacoplou o dólar US da onça de ouro (1 onça de ouro = 35 dólares US*).
2- De seguida, com a constante e catastrófica situação de défices orçamentais e comerciais, os quais atingiram um nível estratosférico, fazem com que a dívida denominada em dólares, seja vista com crescente receio. Esta é a causa da subida rápida das taxas de juro das obrigações soberanas dos EUA, o que - por sua vez - implica a subida correlativa do mercado da dívida, em geral.
3- Estão perante a impossibilidade de sustentar - como durante decénios passados - o sistema do tipo «pirâmide de Ponzi», devido à não aceitação de dólares como pagamento (em especial dos combustíveis); igualmente, pelo constante despejar de treasuries (obrigações do Tesouro dos EUA) nos mercados internacionais. Note-se que a FED (o banco central dos EUA) se tornou o maior comprador destas treasuries. É uma situação análoga da que se verifica com os bonds emitidos pelo Japão, desde há trinta anos: O seu comprador exclusivo é o Banco Central do Japão.
4- Multiplicaram sanções económicas e financeiras e mesmo roubos, contra os países que desagradam aos EUA, que não se submetem à «rules based order» (americana). Assim, muitos países do Sul Global viram que já não podiam confiar nos EUA, enquanto entidade emissora da moeda de reserva e de troca internacional. É impressionante a imbecilidade dos que desenham as políticas de Washington: Têm aquela arrogância dos muito ricos; pensam que o mundo se submeterá sempre à sua vontade.
5- A consequência dessa utilização do dólar como arma, foi a de-dolarização, promovida pela aliança múltipla dos BRICS, que se acompanha pela criação de novo sistema de troca internacional, prescindindo do dólar como intermediário. Além disso, desenvolvem instituições próprias. O «Banco dos BRICS» está envolvido em múltiplos investimentos e assistência a países do Sul Global, deixando «desempregado» o FMI. Não esqueçamos que o FMI, controlado pelos EUA, tem como norma pressionar as suas infelizes presas a fazerem reestruturações do sistema produtivo, que põem as riquezas desses países à mercê dos grandes tubarões que emprestam o dinheiro. Com efeito, o FMI, não é ele próprio o emprestador, mas supervisiona o cumprimento de acordos entre os países que pedem ajuda e consórcios de bancos.
6 - Agora, entrou-se na fase terminal e perigosa. Os EUA já não conseguem impor sua dominação sobre os países ou, mesmo, movimentos de guerrilha, através da força bruta das armas. Durante decénios, quando um país se rebelava, estava sujeito a ser esmagado por vários meios: Bloqueio e embargo do comércio, subversão do regime, ou invasão pelas tropas do Império, sozinhas ou em coligação. Insistiram neste comportamento, ao longo do século XXI, mesmo depois das forças que se opunham ao imperialismo terem aprendido a combater numa guerra assimétrica, ou híbrida. A Somália, o Afeganistão, o Iraque, o Irão, a Síria, o Iémen, são exemplos de recentes fiascos americanos, e não são os únicos.
7 - A prazo, virá o fim do super imperialismo e do mundo unipolar, que tentaram impor, mas que nunca conseguiram totalmente. O chamado Ocidente não é mais que os EUA e os países que lhe prestam vassalagem. São uma minoria, quer em número de países, quer da população e, agora, estão em vias de ser ultrapassados, se não o foram já, na produção de riqueza global. Usam a fundo o controlo que possuem sobre os media ocidentais, para que a cidadania de cada um desses países e dos próprios EUA, não possa tomar consciência da realidade. Mas, existem demasiadas contradições, que acabam por destruir a imagem fabricada de «guerra dos maus contra os bons». Nessa altura os próprios povos dos países outrora dominantes na cena internacional, irão rebelar-se e expulsar os que, enquanto governantes, espoliaram esses países em proveito duma oligarquia global.
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* Até que Nixon retirou a convertibilidade; hoje (01/04/2024) a onça de ouro = 2250 dólares US.
sábado, 30 de março de 2024
sexta-feira, 29 de março de 2024
OPUS. VOL. III 9. AS AÇÕES TÊM CONSEQUÊNCIAS (*)
Há sempre um depois, isso tens de aceitar
quer gostes ou não, tuas ações têm consequências
Assim, quando te lamentas de que não «esperavas»
estás a enganar-te pois já sabias que nada é garantido
O que pode uma mente e uma vontade em face
do destino? Pode muito ... mas não lamentar-se
Na tua postura reside o problema; tomas-te
por outro, imaginas um personagem que não és tu
Mas vem o dia, um certo dia em que o teu sonho
se desmorona; podes tentar construir nova ilusão
ou varreres os escombros e construir algo novo
ou estás sempre a reproduzir os mesmos erros
ou tomas o leme e pões o teu ser noutra rota
A escolha é tua, mesmo que não te agrade escolher
sabes, no fundo, que podes sempre escolher
Embora fazer as escolhas no tempo certo seja o ideal
as oportunidades são mais que as marés
sobretudo para reerguer a tua vida e navegar
As escórias que nos dificultam o caminho
são fáceis de eliminar, só guardar o que tem valor
Os sentimentos e atitudes vitais e comuns
que permitem potenciar a vida em comum
A vida social, a transação não comercial
entre pessoas chama-se amor
Mas está-se numa época muito contrária
a este simples elemento da vida humana
Só podemos viver a vida em plenitude,
ultrapassando as imposições exteriores
que nós interiorizamos e são muitas!
Reconhecer quais são essas, examiná-las
rejeitando as que nos amesquinham,
aproveitando as que sejam de disciplina
pessoal saudável, selecionando
aquilo que há de bom e suspendendo
o nosso julgamento do que não sabemos
ao certo, ou com grau de certeza suficiente
sabendo que, se esperarmos, saberemos.
Poderemos deslindar e avaliar o valor
de ações, de juízos, de teorias, etc.
mas, não é possível avançar sem grande trabalho
sobre si próprio. Talvez esse seja o significado
profundo do mito de Sísifo. Ele rolava sempre
a pedra para o cume da montanha
Não foram os Deuses que o condenaram
a fazer isso e a repeti-lo incansavelmente
Era a lei da vida; de se procurar acumular
energia potencial,
que se dissipa, inevitavelmente,
rolando pela encosta abaixo.
Porém, nada nos pode demover de fazê-lo
ainda assim; porque se trata da lei da vida
e nós queremos estar vivos. Se perdemos
esta vontade de rolar a pedra encosta acima
então só nos resta nos deitarmos e morrer.
E o dia depois de morrermos, como seremos?
Não haverá energia para «rolar a pedra»
por isso precisa a natureza de fabricar
novos seres vivos, substituindo
os que se foram.
Mas os que se foram deixaram uma obra
ela existe, em torno de nós
e chama-se sociedade, civilização, cultura
Então, este é o verdadeiro potencial,
transcendendo várias gerações.
Por isso, devemos opor a nossa energia às forças de destruição
de anulação do potencial, construído pelas gerações presentes
e passadas; quem quer destruir tudo, são tresloucados
não se constrói, destruindo!
Sim, é preciso escavar para construir um edifício,
mas não se faz senão deslocar terra e rocha de um sítio para o outro!
A destruição que eu falo é bem pior,
traiçoeiras bombas que eliminam vidas, que as ceifam
a destruição de incontáveis gerações humanas
quer sejam edifícios, quer sejam vidas e todo seu potencial
As destruições que se tem diante dos olhos não são sentidas
verdadeiramente pelos que não estejam debaixo das bombas
A solidariedade real, escasseia: a indiferença e egoísmo
face ao sofrimento alheio é uma destruição do que existe
de humano em nós. Colocam-se as imagens de violência,
nos écrans das televisões e dos computadores, estão a ser
veiculadas ao nível subliminar como «espetáculo»,
mesmo os corpos mutilados e as cenas de desespero
perante as câmaras, não são vistas como algo que nos diga respeito,
no mais íntimo. É precisamente neste aspeto, além do imediato
que a guerra (todas as guerras) tem um efeito global destruidor:
Se a humanidade das pessoas desaparece, fica embotada, elas estão
transformadas em robots «de carne e osso», não são seres humanos,
pois deixaram de ter empatia, a capacidade de se colocar na pele do outro.
Tanto para os criminosos como para as suas vítimas, existe o depois:
Depois de feito o abjeto e criminoso ato, ele não será nunca apagado
seja qual for a sentença de tribunais humanos
O espírito universal não será condicionado por isso.
As consequências são incalculáveis para nós, humanos.
(*Inicialmente publicado a 16 de Jan. 2024)
quinta-feira, 28 de março de 2024
MYRET ZAKI: SOBRE GUERRA COGNITIVA E OUTROS ASSUNTOS
Nesta longa entrevista ela tem oportunidade de expor a sua visão sobre a evolução das sociedades ocidentais, dos media, dos problemas que a digitalização levanta, não hesitando em apontar aspetos decadentes do capitalismo financeiro. Ela previu a perda de influência do dólar, há pelo menos doze anos, não com vagas profecias: Ela analisou as disfunções do mundo financeiro, em particular dos bancos centrais, concluindo que estavam a levar a civilização ocidental para a catástrofe.
Ela aconselha, a certa altura deste vídeo, a ter-se um domínio total de qualquer matéria sobre a qual se esteja em desacordo com as opiniões dominantes. Ela diz, com razão, que se deve vigiar todos os detalhes do próprio discurso, para não se dar azo a distorções e falsas acusações.
Acho esta entrevista muito significativa, pois mostra como o «4º poder» se modificou de forma radical e deixou de veicular um olhar crítico sobre os poderosos (do governo, dos negócios), para ser quase em exclusivo o instrumento destes mesmos poderosos.
Sem liberdade de opinião e da expressão livre dessa mesma opinião, a democracia de que usufruímos nos 30 anos depois da IIª Guerra Mundial esvai-se. Sem estas liberdades substanciais, as liberdades formais podem continuar inscritas nas leis e constituições, mas deixaram de existir, na prática.