sábado, 5 de agosto de 2017

MAKE BELIEVE...[+ BIOGRAFIA DE JOSEPHINE BAKER]


«Make Believe»
Music by Jerome Kern
Lyrics by Oscar Hammerstein II
                            


SONG LYRICS:

Only make believe I love you
Only make believe that you love me
Others find peace of mind in pretending
Couldn't you? Couldn't I? Couldn't we?

Make believe, our lips are blending
In a phantom kiss or two or three
Might as well, make believe I love you
For to tell the truth, I do.

The game of just supposing
Is the sweetest game I know
Our dreams are more romantic
Than the world we see.

And if the things we dream about
Don't happen to be so
That's just an unimportant technicality.

You and I have never met
We need not mind convention's P's and Q’s.

If we put our thoughts in practice
We can banish all regret
Imagining most anything we choose.



Joséphine Baker (1906-1975), por nascimento Freda Josephine McDonald, foi uma cantora, dançarina, actriz, estrela de revista e resistente francesa.

Foi a primeira vedeta negra. Começou a ficar famosa em Paris, em 1925 dançando semi-nua, na «Revue nègre». 




Avec
Un tout petit, petit rien de rien
Les femmes
Obtiennent tout ce qui leur convient
C'est formidable!
Avec
Leurs tout petits, petits, petits moyens
Elles savent
Troubler le sexe masculin
Mine de rien
Elles attrapent même les plus adroits
Croyez-moi
Avec
Leur tout petit je-ne-sais-quoi
Qu'elles viennent de Rome ou de Brooklyn
Ou même de Copenhague
Qu'elles veuillent une paire de ballerines
Ou même une simple bague
Un peu de charme, un peu de larmes
Et l'affaire est dans l' sac
Avec
Un tout petit, petit rien de rien
Les femmes
Obtiennent tout ce qui leur convient
N'est-ce pas, Mesdames?
Avec
Leurs tout petits, petits, petits moyens
Elles savent
Troubler le sexe masculin
Mine de rien
{x2:}
Elles attrapent même les plus adroits
Ho ho ho... Croyez-moi
Avec
Leur tout petit je-ne-sais-quoi


Adoptou a nacionalidade francesa em 1937 e desempenhou um papel importante, durante a II Guerra Mundial, na resistência. 




Utilizará depois sua enorme popularidade para lutar contra o racismo e pela emancipação dos Negros.


Vejam o documentário abaixo; «A Primeira Super-Estrela Negra»:







sexta-feira, 4 de agosto de 2017

SANÇÕES UNILATERAIS SÃO ACTOS DE GUERRA E CRIMES SEGUNDO LEI INTERNACIONAL

                           

       A política de sanções que a aristocracia americana (e o Estado profundo) está a impor a um presidente fraco e manietado pela sua própria hesitação, está a chegar ao ponto de ruptura com os aliados tradicionais dos EUA. 
Igualmente, a atitude dos chamados «inimigos», russos e chineses, não pode mais continuar a ser de complacência, nem de crer que os líderes do império globalista desejam negociar. 

Com efeito, as sanções são actos de guerra, segundo a definição da ONU. Também segundo o estabelecido pela ONU, é ilegal um país impor sanções a outros, de forma unilateral. É, pois, a lei internacional que está sendo constantemente espezinhada por aqueles em cujo território está a sede da ONU! 

Além da ilegalidade, há outros aspectos substanciais que importa destacar: 
- as populações e não as elites governantes é que são as vítimas de embargos, sanções, etc. 
- estas medidas hostis têm como natural consequência o entrincheirar dos regimes visados; a sua popularidade geralmente cresce; proporciona uma união nacional, ou reforça-se esta, em torno dos líderes. Nunca as sanções resolveram problemas internos de quaisquer regimes.
- finalmente, para os arautos do «comércio livre», uma nação pretender ditar às restantes as regras de quem, como e o quê se pode comerciar é o máximo do cinismo. Embora já soubéssemos que o «liberalismo» deles se resumia a impor os interesses da superpotência dominante aos restantes actores, vemos que deixaram cair a máscara.

Constatação inquietante: o único vector constante na política externa dos EUA é a imposição pela força da sua vontade, não hesitando até fazer a guerra, sempre que exista uma grande assimetria de armamento com os regimes que eles antagonizam. 

Tão depressa colocam meio mundo sob sanções, como pretendem liderar o concerto das nações; tão depressa cometem e apoiam crimes de guerra sem fim, como se perfilam enquanto paladinos dos direitos humanos; tão depressa apoiam os regimes mais despóticos e contrários ao direito, como pretendem ser a «nação excepcional». 

                           

Talvez agora a UE mostre que não é assim tão servil, talvez saiba dizer «NÃO!» a sanções, que - parece - lhes são antes destinadas: a eles, aos aliados dos EUA, aos parceiros da NATO. 

 Mas eu não acredito que tal possa acontecer, enquanto a população europeia não acordar da letargia em que se encontra. 

Para manter o adormecimento, a media corporativa joga um papel de relevo. Que tem sido assim, mostram-nos as informações e análises sobre o papel da CIA, especialmente nos media da Europa, recentemente vindas a público graças a «whistleblowers» e ex-operacionais das agências secretas. 
Mas, na maioria dos casos, estas informações são ocultadas, ignoradas, pela media ao serviço dos poderosos.

Podemos estar no momento de passagem da «Guerra Fria 2.0» à «Guerra Quente». 

                                       

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

SERÃO ALGUM DIA AS CRIPTOMOEDAS UMA FORMA DE DINHEIRO?

Hoje em dia, a maior parte das pessoas ouviu falar de bitcoin e de outras criptomoedas. 
Não irei repetir o que já escrevi, aqui e aqui
Mas, irei dizer que, face a um universo em delírio de especulação, como seja nos mercados de acções e de obrigações, a forte subida nas cotações das criptomoedas tentará muitos. 

Porém, as pessoas deveriam compreender que, o que é criado a partir de nada e não tem utilidade em si mesmo, não é um bom investimento. 
Assim, eu desaconselho que se tenha uma «fé» nas «moedas fiat», ou seja, nas que são emitidas por algum governo/banco central. 
Os valores das moedas não assentam sobre nada - a não ser sobre a «garantia» (o «fiat» em latim) de que o governo que a emitiu aceitará esta mesma moeda como pagamento (nomeadamente para pagar impostos, criados pelo respectivo governo). 
Mas também não tenho «fé» nenhuma no bitcoin e noutras cripto-moedas, embora por razões diversas. 
Os problemas das criptomoedas vão começar, logo que os governos acharem que estão a deixar demasiado campo para as pessoas fugirem a taxas e impostos. 
Sabe-se que estão em estudo nos bancos centrais de alguns países formas de criptomoedas, mas com controlo dos próprios governos. 
Paralelamente, estão a tentar encontrar um meio de capturar a mais-valia gerada, através de regulamentações que, por um lado, vão dar-lhes um estatuto oficial, como meio de pagamento; mas por outro, vão permitir que sejam controladas, sujeitas a impostos, a taxas. 

A bolha especulativa, nesse momento, irá esvaziar-se e não se sabe ao certo para quando haverá esta mudança. Porém, pode-se pensar que, se rebentar uma crise realmente séria (e os sinais precursores estão a avolumar-se), os governos farão tudo para regulamentar este «mercado de capitais», totalmente  fora do seu alcance. Já estão a tentar isso nos EUA, por exemplo, com legislação que obriga as pessoas a declararem os bitcoins e outras moedas que possuem, quando vão para o estrangeiro.

Face a uma crise sistémica, as únicas formas de conservação de valor comprovadas são as que correspondem a bens ou serviços reais (imobiliário, terrenos, ouro e prata, obras de arte e de colecção)Para estes bens ou serviços o Estado não pode ir além de um certo montante-limite de imposto, pois -caso contrário - anularia a rentabilidade do investimento, logo afastaria as pessoas de investir e diminuiria a colecta total de imposto. 

O pior investimento, quando se está perante o risco de uma crise de grandes dimensões, é o investimento tipicamente especulativo. 

O funcionamento dos mercados especulativos baseia-se somente em factores psicológicos: Os movimentos devem-se a boatos, ao medo e à ganância. 
Subidas e descidas  de cotação raramente são baseadas em factos comprováveis, em verdades sólidas, mas apenas nas percepções subjectivas dos investidores. Estes são manipulados de mil e uma maneiras, através de boatos ou mitos, propagados com determinados objectivos.  

Quando existem bolhas, muitas pessoas auto-convencem-se de que não há risco, que se está num novo «paradigma», etc. Porém, isso não é senão auto-ilusão. 

              

No caso das cripto-moedas, está-se claramente numa situação de bolha. Só faz sentido aplicar nelas somas modestas, como quando se joga na lotaria ou totoloto.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

CAN'T BUY ME LOVE...?


Estamos sempre ocupados a medir coisas que supomos saber medir, mesmo a felicidade! Ou seja, acreditamos que existe uma maneira de acrescentar mais felicidade, «amor», apenas com um incremento quantitativo, ou com uma diminuição de sofrimento… mas - afinal - as coisas não são bem assim! Embora pareça que o sofrimento humano global diminuiu muitíssimo, a  verdade é que nós, que vivemos numa sociedade relativamente protegida da pobreza em massa, de catástrofes como a guerra ou as suas consequências, não temos em conta a evolução global do mundo. Hipertrofiamos o que está à nossa volta, ao ponto de tudo o que esteja um pouco mais longe do nosso olhar é como se não existisse, ou tem um estatuto de algo abstracto… A sociedade globalizada, em termos de informação, é (paradoxalmente) uma sociedade extremamente centrada no seu umbigo e quando não é assim, quer avaliar os outros, as outras sociedades, pela bitola da sua própria existência.
A qualidade está sempre a ser preterida pela quantidade. A aparência, o «look», é o que importa. Nesta sociedade, não existe nenhuma igualdade de facto, nem «meritocracia», pois as pessoas mais medíocres podem ser içadas aos lugares cimeiros dos negócios, da política, gozar duma popularidade assente apenas em dinheiro, em poder económico. Os pobres ou os remediados não contam ou contam apenas como números, como consumidores, como contribuintes, como votantes… enfim como «coisas» que os «de cima» têm (de vez em quando) de seduzir, têm de fingir que os «compreendem», para melhor perpetuar a servidão voluntária.
A época que vivemos, mesmo nos países afluentes, é caracterizada por uma involução social, mesmo em termos de certos índices quantitativos. As patologias psíquicas e o consumo de psicofármacos (com ou sem prescrição médica) têm aumentado exponencialmente. O sedentarismo, a comida hipercalórica, a acumulação de agressões ambientais, fazem aumentar também exponencialmente os números da diabetes, da obesidade, do cancro …
Os afectos são tratados de forma completamente inadequada. As pessoas jovens em particular são, muitas vezes, enredadas numa visão totalmente distorcida do prazer e da sexualidade. Os suicídios entre jovens também têm crescido.
Eu não sei se podemos considerar que existe um «progresso», quando temos tantas facilidades por um lado e tanto desperdício e tantos problemas ambientais, decorrentes dessa abundância, por outro. Apenas estamos a atirar os problemas para as gerações seguintes. Sabemos que terão muito menos recursos naturais, em todas as coisas largamente consumidas, desde as jazidas de petróleo, às de metais diversos; desde a água disponível para consumo dos humanos, à terra fértil e aos ambientes não degradados, não contaminados.
Valorizamos o dinheiro, que é um mero símbolo, mas - ao mesmo tempo - deixamos que os bancos centrais e os governos organizem uma orgia de desvalorizações, por «impressão monetária», na realidade, electrónica. Há bem pouco tempo atrás, isso era um crime grave! Na realidade, valorizamos o dinheiro enquanto «fétiche», temos uma visão realmente alienada do dinheiro, que vemos como fim em si mesmo, quando apenas deveria ser considerado um meio para determinados fins.
A humanidade tem de voltar a viver noutra dimensão que não a dos bens materiais; não apenas a nutrição do corpo, não apenas a satisfação do desejo hedónico. Deveria parar de «medir» o seu sucesso ou fracasso pela abundância ou falta de dinheiro.
A sociedade fragmentou-se, não existe propriamente, de facto: existe uma colecção de indivíduos, mas solitários, mesmo quando se acoplam. Mesmo quando «convivem», não o fazem senão na superfície mais epidérmica. A sua vacuidade serve para esconder, a eles próprios, a sua tristíssima condição. Muitas pessoas teimam na ilusão pois, lá no fundo, têm medo de serem confrontadas com a sua própria vacuidade.
Uma espiritualidade, que não é sinónimo de religião, mas é outra coisa, pode ajudar a construir indivíduos, famílias e comunidades mais em harmonia consigo próprios. Só podemos realmente progredir na esfera social com uma busca colectiva, mas de proximidade. Os passos teoricamente são simples de enunciar:  
- Reconhecimento da nossa própria alienação e o assumir de que cada pessoa individual não pode, por si própria, encontrar a solução.
- Construção de comunidades intencionais, ou seja, que ponham em comum energias e projectos convergentes, para mudar qualitativamente (aqui e agora) as nossas vidas.
   





SARAH VAUGHAN: THE SHADOW OF YOUR SMILE

Esta canção de amor extraída do filme «The Sandpiper» de 1965, com Liz Taylor e Richard Burton, tornou-se muito famosa e foi cantada por inúmeros intérpretes. 

The shadow of your smile When you have gone Will color all my dreams And light the dawn Look into my eyes my love and see All the lovely things you are to me Our wistful little star It was far, too high A teardrop kissed your lips And so did I Now when I remember spring All the joys that love can bring I will be remembering The shadow of your smile

                                        


Aqui, mais um exemplo da portentosa voz de Sarah Vaughan, da sua sensibilidade artística e bom gosto, que tornam qualquer melodia ou canção por ela  interpretada, algo muito pessoal... 
No final desta gravação, extraída de um documentário, ouve-se também 
comentar que Sarah fumava, bebia, etc. e não se importava de afirmá-lo. 


sexta-feira, 28 de julho de 2017

O SONHO DOS «NEOCONS»: CONQUISTAR A RÚSSIA

Há mais de vinte anos, o regime decorrente da dissolução da URSS estava sob ataque cerrado.
Image result for yeltsin falling' drunk
Os «conselheiros», que rodeavam Yeltsin e toda uma corte da barões envolvidos na maior traficância de bens nacionais jamais ocorrida em toda a História, não apenas russa, como de todo o planeta, tinham como verdadeira missão, não a transformação dos despojos da URSS numa «democracia» de mercado ao estilo ocidental, mas sim numa neo-colónia dos triunfadores da guerra fria, o Império USA e seus acólitos atlantistas.
O saque foi interrompido no entanto, porque Yeltsin, apesar de muito doente de alcoolismo e de cardiopatia, percebeu que estava a ser um joguete de forças que apenas desejavam esse destino para a Rússia, o de neo-colónia.

Image result for yeltsin putin


Chamou Putin, uma surpresa para os atlantistas e para muitos dos bilionários russos recém-instaurados graças à década de 90, essencialmente a pior vivida pela população russa, desde o fim da IIª Guerra mundial.
Basta lembrar a subida exponencial dos suicídios, do alcoolismo, a diminuição brusca da esperança de vida, a fome, a miséria, o aumento de banditismo, além do terrorismo associado a islamitas salafitas na Tchetchénia e noutras repúblicas do Caucaso.  

Image result for chechen war

Putin e seus apoiantes souberam dominar os donos de fortunas (Berezovsky, Khodorkovsky…) obtidas com a compra de empresas por um preço ridículo e imediatamente rentáveis.

Image result for khodorkovsky arrest

Esta venda ao desbarato processou-se da seguinte maneira: os grandes conglomerados da URSS eram juridicamente propriedade do povo soviético. Quando se procedeu ao desmantelamento do regime soviético, houve que dar uma aparência de legalidade a esse processo. Lembraram-se então de distribuir títulos de propriedade dos bens nacionais a cada cidadão russo, por forma que ele teria a possibilidade de transacioná-los.
Assim aconteceu com praticamente todos os tais «donos» de títulos, pois eles estavam perante uma desproteção completa face à hiperinflação que se abatera sobre o rublo (vejam as taxas de desvalorização, nos anos 90, de 1 para mil!).
Com um rublo em queda livre, uma involução total do aparelho produtivo, um aumento exponencial do crime organizado, etc… não foi difícil a um certo número de «espertos» obterem os tais títulos de propriedade, oferecendo aos seus detentores somas muito ridículas, aos olhos de hoje.
Assim, arrivistas da pior espécie conseguiram - num ápice - multiplicar as suas fortunas por dez ou por cem, através de métodos com a aparência de «legais»!
Na primeira década do nosso século deu-se o reerguer do Estado russo, pelas mãos de Putin e seus apoiantes. Desencadeou-se um processo de reverter parte das riquezas, principalmente petróleo e gás, para benefício nacional, sem eliminar porém a totalidade dos oligarcas formados na década anterior.
A partir desse momento, com a restauração da produção industrial e a correlativa capacidade de exportação da Rússia, os aliados atlantistas do Império, começaram a perceber que seria melhor entrarem em parceria estratégica com o novo senhor do Kremlin, beneficiando de fluxo contínuo de gás natural para abastecer as suas economias, assim como de uma parte importante do petróleo (extra OPEP), não sendo mais reféns energéticos absolutos dos países árabes, principalmente da Arábia Saudita e dos Emiratos.

Image result for russia gazprom facilities

Estavam eles - os dirigentes dos principais estados da UE - muito contentes, quando os americanos - sob a administração Obama - decidem interferir pesadamente, através de ONGs que recebiam ajudas de milhões (foram, pelo menos, gastos 5 mil milhões, segundo disse Hillary Clinton em público) para derrubar o governo constitucional e democraticamente eleito na Ucrânia.
Em Fevereiro de 2014, sob a estreita tutela de Victória Nulan, os neo-nazis conseguiram derrubar, num golpe violento, o governo ucraniano.

Image result for stepan bandera ucrania
Eram saudosos do tempo em que legiões ucranianas (o seu chefe, Stepan Bandera, foi promovido a herói e inspirador dessa escumalha neo-nazi) se aliaram a Hitler para massacrar polacos, judeus, e «vermelhos». São histéricos capazes das piores atrocidades, como vieram a demonstrar meses depois, em Odessa. Furiosamente anti-russos, ao ponto de não deixar nenhuma hipótese às províncias do leste, maioritariamente russófonas, senão ficarem independentes do poder instalado.
Os americanos tinham o que queriam. As relações, entre a Rússia e a União Europeia, tinham-se degradado. Para culminar, fabricaram o trágico incidente com o avião de passageiros em Julho de 2017, para incriminar falsamente os russos pelo sucedido, ao mesmo tempo que inviabilizavam uma peritagem independente e neutral para investigar as causas e circunstâncias desta tragédia.

Image result for malaysia airlines crash ukraine

Desde 2014 até agora e apesar de todas as variações de humor em Washington, apesar da mudança de presidente, que se presumia ser decisiva em política internacional, as políticas de Washington resumem-se a impor um regime de sanções, restringindo o comércio, proibindo  contactos, cercando a Rússia com mísseis, etc.
Este tipo de comportamento é compensador para manter a hegemonia da superpotência no curto prazo, mas tem o grave inconveniente de não poder ser levado para além de um certo ponto. Com efeito, o ponto de ruptura já foi alcançado em dois casos, de forma totalmente visível:
- com o governo turco - há cerca de um ano- na sequência de uma tentativa de golpe contra Erdogan, que este afirma teve apoio dos EUA.  

Image result for turkey coup attempt

- agora, com o governo alemão, visto que a Alemanha tinha sido poupada a incluir a construção do gasoduto Nord Stream no regime de sanções, imposto a todos os membros da NATO e decorrente da situação na Ucrânia.

Image result for merkel and nord stream

Este gasoduto é uma obra conjunta da Rússia e da Alemanha e irá abastecer em gás natural este último país, por um trajeto bem mais seguro do que os gasodutos actuais que passam pela Ucrânia e são susceptíveis de sabotagem, de serem danificados por falta de manutenção adequada, etc.
A Alemanha é um país industrial que teve o bom senso de não exportar toda a sua infraestrutura e produção e, portanto, necessita absolutamente de um fornecimento  regular de energia, a um preço competitivo, coisa que os EUA não poderão dar, pois não têm capacidade de colocar seus excedentes do «fracking» de forma regular, durante largo prazo. Nem jamais conseguirão fazê-lo a preços inferiores aos russos. Ou seja, eles queriam obrigar os europeus a privarem-se de uma fonte de abastecimento de energia abundante e relativamente barata, por uma energia mais cara e contingente!

Não é difícil ver que a hegemonia dos EUA está periclitante.

Image result for g20 hamburg trump

É muito menos fácil compreender para onde se dirige o mundo, dado que existem demasiadas forças contraditórias na geopolítica mundial e que as questões decisivas quase nunca são expostas de forma franca e aberta. Pode mesmo dizer-se que nunca o são, pois raras vezes se vem a saber realmente o que estava em jogo, mesmo passados decénios sobre os acontecimentos.
Do meu ponto de vista, a perigosidade do Império Anglo-Americano irá crescendo. Porque não conseguirá ter sucesso em amarrar o sistema financeiro mundial ao petro-dólar, mas verá cada vez mais países se unirem em torno de projectos concretos que irão viabilizar maior intercâmbio, comércio, desenvolvimento, através da iniciativa «One Belt One Road», ou seja, «a nova rota da seda».
Como tem sido hábito desde o final da II Guerra Mundial, os grandes poderes irão continuar a disputar as suas zonas de influência através de guerras  por procuração, cada um procurando desestabilizar o adversário em zonas críticas e onde estejam já presentes as sementes da discórdia.
O Médio Oriente vai continuar por algum tempo a sofrer este destino, como encruzilhada entre vários interesses contraditórios e numa região do globo simultaneamente rica em termos de combustíveis fósseis e vital em termos das rotas comerciais marítimas Leste-Oeste.
Mas o grande «bolo» será, sem dúvida, o Continente Europeu, demasiado grande e poderoso para ser - simplesmente - «neo-colonizado» por americanos ou por sino-russos.
Apenas será possível, a qualquer deles, obter parcerias estratégicas, ou seja, em que a Europa mantenha a sua capacidade de autonomia, não sendo lacaio ou vassalo de nenhum dos superpoderes.
Por isto, ou apesar disto, os EUA apostaram - veja-se o papel deles no golpe da Ucrânia- na desestabilização e em subjugar os seus aliados europeus. O tiro saiu-lhes pela culatra. No entanto, eles deixaram no seu rastro, destruição de vidas, de economias e vários Estados falidos. Não é apenas o caso da Ucrânia, mas também da Líbia e, num certo grau, o da Síria.
Certamente, a principal causa do fluxo de refugiados que assola a Europa, nestes anos e tem desestabilizado os vários governos, é a política americana no Médio Oriente e Norte de África.

                            Image result for middle east refugees

Recentemente, nos EUA, o grupo designado por «neocons», que se entrincheirou há décadas no «Estado profundo», tem mostrado como ainda possui um peso muito grande, por directa ou indirecta sabotagem da política de Trump. Com isso, pretende obrigar o poder presidencial a conformar-se com a política internacional que tem vindo a ser seguida, indiferentemente, por administrações republicanas e democratas.  
É necessário compreender que este grupo dos «neocons» não se contenta com os EUA serem a primeira potência militar do planeta, eles querem dominância total: isto significa que o seu  objectivo é o de fazer com que não existam competidores, não apenas no plano militar, como no plano económico e de desenvolvimento científico-tecnológico, pois estes três aspectos se entrelaçam de forma indissociável.
Assim, o plano deles é tornar o mais difícil possível, que a China e a Rússia se desenvolvam, se expandam, tanto nas suas capacidades industriais, como nas trocas comerciais com o resto do mundo. Eles querem que existam «regimes espantalhos», como o Norte Coreano, para «justificar» uma política de sanções.
Esta forma de guerra económica, de assédio, serve muito bem aos EUA para continuar a intimidar (fazer bullying) aos outros países, sejam eles competidores ou aliados.

Image result for thaad system in south korea

A lógica neocon está completamente viciada por uma visão megalomaníaca de uma América superpoder «bondoso» da história mundial, apenas ela capaz de levar a todo o globo a democracia como eles a concebem, ou seja, o  regime liberal capitalista, tal como existe na Europa e América do Norte.
No longo prazo, porém, eles sabem que a estratégia dita de «contenção» não chega.
Para o seu objetivo ser alcançado, para essa tal hegemonia, têm de desmantelar a Rússia.
A Federação Russa terá, na perspectiva deles, de se fragmentar, ficando como uma série de mini-estados facilmente controláveis, sem poder para contrariar o grande poder hegemónico.
Eles não temem a guerra nuclear; pensam que ela será ocasião de arredar definitivamente a competição que faz obstáculo aos seus grandiosos projetos.

Se esta descrição vos parece vinda de mentes enlouquecidas, pois é verdade: mas não é a minha, nem a de muitos analistas que descrevem os problemas, mais ou menos, nos mesmos termos.
Ela é a visão louca de um poderoso grupo, os «neocons», que tem dominado totalmente a política externa americana desde os tempos do presidente Bill Clinton e tem mantido o seu controlo, apesar das mudanças na Presidência e no Congresso, nestas últimas décadas.

[OBRAS DE MANUEL BANET] PROJECTO PARA UMA SUITE

PROJECTO PARA UMA SUITE*

1-  Andante maestoso

À hora em que o falcão desdobra as suas asas e se eleva para, logo de seguida, planar acima das estepes ainda silenciosas, ouve-se o trotar longínquo de uma mula.
Na curva do caminho pedregoso, surgem a montada e seu cavaleiro, talvez centauro, sobrevivente do tempo em que os licórnios vinham comer flores nas mãos de donzelas apenas recobertas pelo movediço manto de seus cabelos acetinados... do tempo em que os pomos de ouro eram fruto das árvores existentes nos jardins das Hespérides... desse tempo em que  os homens e as mulheres podiam entregar-se sem mácula aos alegres jogos do amor, sob as ramagens acolhedoras de bosques verdejantes.
Agora que o cavaleiro se encontra mais próximo, já se podem distinguir os traços do seu jovem rosto: seus olhos parecem perdidos na contemplação do horizonte; seus lábios finos apenas entreabertos sugerem – mais do que desenham – um sorriso no seu rosto. Todo ele respira nobreza feita de serenidade, de força tranquila, de fusão com a paisagem grandiosa e bravia.


2- Allegro con moto

Duas criança brincam no terreiro de uma casinhota à beira da estrada. Seus gritos estridentes encorajam montadas imaginárias, aladas sem dúvida, como Pégaso; em torno dos seus pés descalços elevam-se nuvens de poeira doirada.
De rompante, começam aã descida do outeiro, fazendo rolar pedras e torrões de terra, numa carga esfuziante até À beira do riacho onde se vão refrescar; mergulham seus corpos na água turbulenta, dando enormes espadeiradas na sua superfície, que afugentam libélulas e outros insectos multicolores... nos seus espíritos juvenis, mais não são do que uma armada de piratas num oceano imenso.
As sombras dos salgueiros alongam os seus braços, afagando os rapazes num amplexo enternecido. O Sol esconde-se atrás das colinas, lá ao longe, fazendo piscadelas aos dois irmãos despreocupados.
Assim como quem se despede da sua amada, mergulham eles uma última vez, antes de saírem deste lugar encantado, com os seus corpos reluzentes, percorridos por arrepios a cada carícia da brisa.


3- Adagio molto

A sombra invade lentamente o vale; a gritaria das aves extingue-se progressivamente, dando lugar a silêncios prolongados, entrecortados de quando em vez, por uivos longínquos, que o eco das montanhas reproduz com várias intensidades. Esses uivos produzidos por um velho lobo, parecem assim provir de uma numerosa alcateia.
Depois, quando a única luz que percorre as encostas escarpadas das montanhas é só a do disco róseo de Diana, o silêncio é total.
Numa atmosfera surreal, á medida que as constelações se acendem uma por uma, na abóbada celeste, pode-se ouvir o piar discreto de corujas, mochos e outras aves nocturnas.
É nesse instante que surge o som rústico de uma flauta, em melodia arrastada, apenas acompanhada por leves acordes de alguma lira ou harpa. As variações sobre o tema vão-se sucedendo, acentuando cada vez mais um vago sentimento nostálgico.
No final, um trilo muito longo deixa a melodia num cume instável e toda a natureza se cala, tensa, como que suspensa por um fio acima de um precipício.


4- Staccato

Primeiro vêem os gnomos; cada cabriola destes pequenos deuses deixa um rasto de luz no solo, como um flash de néon.
Depois, quando a Lua se descobre de entre um biombo de nuvens, surgem as asas membranosas de morcegos, rodopiando numa valsa sabática.
Por fim, em longas filas, pela encosta acima, uns vultos, segurando candeias e tochas.
No cume reúnem-se num largo círculo e entoam preces numa língua desconhecida. As suas vozes confundem-se com o vento que faz balançar os ramos dos pinheiros.
No meio desse círculo mágico, primeiro de forma ténue, depois nitidamente, surge um ser – misto de bode e de humano – cuja cabeça cornuda está aureolada pelo disco lunar. Começa então um fantástico baile, em que os espectros ensaiam grotescos passos de dança.
No auge do Sabat, o bode ergue-se e toma entre suas patas um facho, com o qual “abençoa” os macabros dançarinos.


5- Finale, vivace

A visão do movimento anterior desvanece-se num horrendo trovão e uma tempestade furiosa rebenta. Este final é entrecortado pelos raios que rasgam as trevas, pelos fogos fátuos, no cimo das árvores.
Após o ribombar dos trovões, uma chuva densa cai sobre o vale, imensa cortina de água que ensopa a terra.
A alvorada surge num ambiente ainda nublado mas os cantos das aves – primeiro timidamente e, progressivamente, com maior intensidade – erguem uma sinfonia ao novo dia, retomando o tema da flauta,  transfigurando-o de melancólico em uma melodia plena da alegria de viver.


-----
* DA RECOLHA INÉDITA «UM CORPO MERECE SEMPRE VIVER» (1987-1989)