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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

DIÁLOGO SOBRE O FENÓMENO HUMANO III


Imagem: Acampamento de Beríngios, os primeiros a povoar a América. 

 No diálogo sobre o fenómeno humano II, tínhamos abordado alguns aspetos relacionados com a  sexualidade. Hoje iremos prosseguir o diálogo entre um Paleoantropólogo e uma Geneticista, abordando aspetos relacionados com a saúde humana em geral, e com a nutrição em particular.

P- Da última vez que falámos, abordámos a questão fundamental para a sobrevivência da espécie que é a da reprodução e a sexualidade e os fenómenos associados, mesmo que sejam a um nível bastante indireto. Hoje, gostaria de abordar a problemática da nutrição nos humanos, quer passados, quer presentes.

G- Este tema que propões é, pelo que vejo em termos de divulgação em magazines populares e ao nível das crianças e adolescentes, um dos temas mais mal abordados, mais mitificados, talvez tanto como o da sexualidade.

P- Sim; a verdade é que a sociedade contemporânea se baseia num princípio de acumulação; consumir e consumir até mais não poder. A ciência realmente não é divulgada, ou apenas aspetos fragmentários, que não dão uma verdadeira educação elementar aos indivíduos, quer sobre as regras verdadeiras de comer saudavelmente e de maneira equilibrada, quer de possuir uma autonomia na confeção dos alimentos, permitindo às pessoas, às famílias, compor as refeições de acordo com o seu prazer gustativo e respeitando as leis da dietética.

G- Não achas que a sedução joga em desfavor das pessoas, permitindo ou levando a que elas se intoxiquem, ou se envenenem lentamente, para satisfazer o afã de lucro de grandes empresas de alimentação industrializada? As pessoas estão completamente submetidas à indústria alimentar. Compram os produtos já embalados, nalguns casos pré-cozinhados; têm uma preferência pelo que lhes parece mais apetitoso, mas isso não é quase nunca o mais saudável: Os alimentos são sobrecarregados de sal; são adicionados açúcares que despertam o apetite (têm um efeito aperitivo) em múltiplos alimentos confecionados. Além disso, para que o produto tenha uma maior durabilidade nas estantes dos supermercados, são acrescentados vários conservantes; para que esse produto tenha aspeto saudável (só aparência) são acrescentados corantes.

P- Pois, a sociedade industrial, por um lado fornece tudo com o menor esforço. As pessoas podem portanto dedicar-se às tarefas profissionais durante mais tempo, sendo as horas dedicadas aos afazeres domésticos cada vez menores. O cozinhar em família, é apenas atividade para os fins-de-semana, no melhor dos casos. Mas, lembremos que a sociedade humana, nasceu e cresceu em torno da partilha na preparação e confeção dos alimentos. A sociedade e a família organizavam as relações em torno da fogueira, da lareira, do forno... As crianças ouviam histórias contadas pelos adultos, as várias gerações encontravam-se para refeições conjuntas, partilhadas.



G- A produção de grande parte dos alimentos de que dispunham as comunidades agrícolas era comum; a autarcia era quase total. As pessoas comiam essencialmente aquilo que a terra produzia. Faziam algumas trocas comerciais, mas a um nível muito reduzido. Daí que as trocas envolvendo dinheiro não tivessem papel relevante, ao nível das aldeias.

P- Estamos no cerne da questão, pois a uma dada sociedade, organizada de determinada maneira, corresponde um padrão de organização da economia determinado. Ora a economia da produção e consumo alimentar é um aspeto fundamental. Hoje em dia, é tão verdadeiro como há 50 mil anos atrás. Só que as prioridades mudaram; hoje a sociedade está organizada para os produtores/consumidores dedicarem o máximo do seu esforço e tempo a atividades profissionais, e/ou «lúdicas». A alimentação foi industrializada e as pessoas não valorizam, como dantes, as refeições em comum, desde o ato de cozinharem, até à partilha à mesa dos alimentos confecionados, ocasião especial para convívio. Este tipo de convívio está a ser desencorajado pela civilização individualista «extremista», em que é frequente ver-se cada membro da família comer no seu cantinho, vendo o programa de TV, ou jogando no computador ou smartphone, num alheamento total dos outros.

G- A destruição das relações familiares e de amizade, será um aspeto muito negativo de uma sociedade de consumidores «autistas». Mas, para coroar o todo, temos uma epidemia de obesidade, devida à ingestão de comidas hipercalóricas, conjugada com a perda da saciedade natural. Existem mecanismos psicossomáticos e hormonais desencadeando uma sensação de saciedade; na pessoa frustrada, ansiosa, ou desinserida socialmente, estes mecanismos não operam tão bem. Isto explica por que razão a epidemia de obesidade afeta mais pessoas com certos perfis psicossociais.  Nos países afluentes da Europa e da América do Norte, verifica-se que as pessoas das classes mais baixas, as mais destituídas do ponto de vista económico e social, são as que possuem maior taxa de obesidade e doenças associadas (diabetes, cardiopatias, carências vitamínicas...) 

P- A dominação do lobby da alimentação industrial  penetra nos interstícios do Estado. Faz obstáculo a que as crianças e adolescentes recebam nas escolas a educação básica que permitiria a cada um deles, depois de atingido o estado adulto, adotar um comportamento alimentar responsável, favorecendo o seu equilíbrio.  O mesmo se pode dizer em relação à medicina acéfala, destituída de preocupação em prevenir as doenças. Ela fica muito feliz pelo investimento que o Estado faz em aparelhos caríssimos, ou em subsidiar os doentes  que recorram a essa medicina tecnológica.

G- É uma das questões mais graves, a da incapacidade ao nível da sociedade, como um todo, de promover ativamente as boas práticas, não apenas em nutrição, como numa vida saudável, ativa, para todas as idades. A população vive cada vez mais tempo, mas esse aumento de esperança de vida total não tem sido acompanhado por aumentos equivalentes de anos de vida com saúde. Por outras palavras, as pessoas vivem, mas com a carga de doenças múltiplas, resultantes de hábitos errados adquiridos, que se fazem sentir com maior gravidade nos últimos anos de vida. A tecnologia médica progrediu bastante em relação a determinado tipo de doenças que antes eram causadoras de morte. Por exemplo, as doenças causadas por bactérias começaram - há uns 75 anos - a ser tratadas e curadas, graças a antibióticos: Porém, se isso permitiu salvar muitas pessoas jovens ou de meia-idade, aumentando assim a esperança de vida, não foi dar uma melhor qualidade de vida às pessoas...

P- Verifica-se que as sociedades não ocidentalizadas do Terceiro Mundo, têm uma população não obesa, mas em sociedades semelhantes, mas que tenham sido culturalmente colonizadas pelo «fast food» e pelas bebidas açucaradas industriais, observa-se os mesmos níveis de obesidade, diabetes, cardiopatias, etc, que no mundo «rico»!

G- O que mais me entristece é que tenho a certeza que os responsáveis pelas medidas políticas dos diversos Estados, sabem perfeitamente, têm conhecimento das estatísticas, têm acesso a estudos, têm técnicos e conselheiros que não podem ignorar as realidades no terreno. Porém, as situações perduram e vão-se mesmo agravando. Não tenho dúvidas que os médicos individualmente lamentam este estado de coisas. Mas existem alguns pequenos grupos, que eu chamaria dos capitalistas da medicina (e da saúde) que têm toda a vantagem num alargamento das necessidades de tratamentos caros, envolvendo aparelhos sofisticados, etc. Esta medicina tecnologizada pode parecer a marca de uma sociedade «desenvolvida» ao eleitor incauto; mas tal sociedade é «mais desenvolvida» apenas na sua forma de exploração. 

P- Muitas vezes interrogo-me, quando sei de alguém que está a fazer terapia por motivo de cancro, se não seria infinitamente melhor, evitando um terrível sofrimento humano, serem  drasticamente  reduzidas as causas ambientais dos cancros. Como sabemos, muitos cancros têm génese ambiental. Entre as causas mais comuns para o aumento de incidência de cancros, tem-se os alimentos com determinadas toxinas, com conservantes, corantes, ativadores do paladar, açúcares, outras  substâncias nocivas desde antibióticos a inseticidas, a metais pesados, etc. que se encontram especialmente nas dietas das pessoas urbanas, com alimentação industrial. A maioria dos cancros deve-se a erros da alimentação (por exemplo: insuficientes fibras ingeridas), à ingestão frequente de substâncias cancerígenas, ao abuso de bebidas alcoólicas, etc.

G- Muitas pessoas têm avitaminoses não diagnosticadas, mas que irão potenciar outras doenças. A sociedade atual vive numa redoma de ilusões, de mitos, em relação às «maravilhas» da medicina. Esta não pode fazer mais, do que ajudar que a Natureza faça o seu trabalho. O melhor que a medicina pode fazer, é ajudar o indivíduo a curar-se ou - dalguma forma - a superar a doença. A crença numa medicina «milagrosa», tem como efeito perverso que as pessoas já não sejam responsáveis pelo seu corpo e saúde, confiando que podem fazer todos os disparates, pois a medicina «encontrou maneira de resolver muitas doenças»!

sábado, 18 de junho de 2022

MITOLOGIAS (VII) O GRANDE MITO DO NOSSO TEMPO



O pensamento sobre o mundo que nos rodeia é condicionado pela nossa experiência sensível. Mas não é essa experiência sensível. Esta, depende dos aparelhos sensoriais de que somos dotados, não se pode dissociar da «janela de realidade» à qual eles estão associados. Por exemplo: os olhos humanos estão limitados, na sua capacidade de  deteção, ao espectro visível das radiações eletromagnéticas; a gama de sons que os humanos conseguem ouvir está limitada a um certo intervalo de frequências.
Mesmo que a humanidade tenha superado muitas das limitações à perceção direta do real, através de instrumentos, estes são - afinal - órgãos sensoriais artificiais, como o microscópio, o telescópio, etc.: a perceção tem limites.
Mas, além disso, todo o equipamento científico contemporâneo é baseado nos pressupostos afirmados por uma elite científica nos vários campos e aplicam-se as leis da física. Estas leis, não apenas formam a trama da nossa compreensão do Universo, como são o fundamento sobre o qual construímos os instrumentos, físicos e concetuais, sobre os quais repousa o nosso saber científico.
O Bios é um domínio especial do Cosmos. Pode-se colocar a hipótese de que qualquer ser biológico esteja dotado de sensibilidade e duma forma de consciência, a qualquer nível de complexidade em que realizemos o nosso inquérito. Assim, em relação a bactérias, ou a células integradas num tecido do corpo, não se pode falar duma ausência de sensibilidade, mas de sensibilidade adaptada às suas funções vitais. Esta sensibilidade é finalizada: Claramente, possui um propósito que é o de viver, de continuar a existir enquanto conjunto coerente e integrado. Esta situação é comum a qualquer célula, seja com vida independente, ou integrada num conjunto mais vasto. Note-se que, todas as células estão relacionadas entre si pela descendência; uma célula descende sempre de uma outra, ou outras, células. Temos portanto, para cada célula, seja ela de vida autónoma ou integrada num organismo, a sensibilidade e a «genealogia»: Não serão estas duas características suficientes para determinar que estas unidades de matéria viva, possuem propósito e, mesmo, consciência? O problema é antes devido ao facto da nossa mente estar amarrada ao materialismo mecanicista persistente, disseminado como «senso comum» na nossa época.
Não podemos nos dissociar do instrumento de medida, para fazer uma medição de algo. O princípio da incerteza  de Heisenberg tem grande importância teórica na Física Quântica. Mas, ao nível da filosofia do conhecimento (ou epistemologia), devia-se também adotar o postulado de que não podemos nos debruçar sobre qualquer realidade, empírica ou conceptual, sem que o «aparelho conceptual/metodológico» que é o nosso, deixe de interferir na observação, na interpretação dos dados e na teoria que as enquadra. Trata-se de um vai-e-vem, pois a teoria é influenciada pelas observações do objeto sob investigação, mas o referido objeto não é «visível» sem  teoria explícita, ou implícita. O exemplo seguinte, dá uma ideia do que pretendo exprimir: Quando os humanos olham a Lua, veem mais do que um disco brilhante no céu; veem a Lua como planeta, como satélite do nosso planeta, cujas propriedades foram descobertas ou confirmadas pelas viagens do homem à Lua no século XX, etc. Os homens da antiguidade viam a Lua como Deusa, ou como uma manifestação especial da Divindade. Não há nenhuma civilização ou cultura que veja a Lua somente como um "disco esbranquiçado, no céu noturno". De facto, quando se olha para a Lua é impossível vê-la, simplesmente e somente, assim.
A um nível sistemático pode-se dizer que a observação direta ou mediatizada por instrumentos técnico-científicos, de um qualquer objeto, está profundamente imbuída do modo como nós - indivíduos dentro de determinada cultura, sociedade, época - vemos e pensamos o Mundo. Note-se que a conceptualização do objeto se enquadra dentro da nossa visão do real. 
Tenha-se em conta que existem muitos casos, na história das ciências, em que - literalmente - os cientistas observaram determinado ser ou fenómeno, sem o reconhecer enquanto algo digno de ser analisado, estudado, descrito em detalhe, investigado. Não foi por descuido ou miopia, mas porque não possuíam o conceito que lhes permitia isso: Este, foi criado e desenvolvido depois, noutra geração de cientistas. A partir desse momento e não antes, tal conceito poderá ter sido usado para descrever e estudar o referido objeto ou fenómeno. A transformação deu-se ao nível do domínio cognitivo  ou psicológico; quanto ao objeto, ele sempre foi igual, ou equivalente.
Assim, a realidade que nos dizem ser a «ultima ratio» da ciência, não é mais que um conjunto de visões ou preconceitos duma dada época. Não existe visão «objetiva» na ciência: Há pesquisas, mas elas ocorrem no interior dum certo aparelho ideológico/científico; existe um enquadramento dos fenómenos, das observações, das experiências, dentro do paradigma aceite.
Esse paradigma é difícil de modificar, muitas vezes: Se o pensamento dos físicos fosse realmente objetivo, eles teriam adotado, muito antes de Copérnico, a interpretação heliocêntrica. Existe prova segura de que tal teoria foi enunciada por filósofos gregos da antiguidade. Eles, aliás, forneceram muitos argumentos em apoio de tal teoria.
Uma situação análoga se verificou com a Teoria da Relatividade de Einstein: Muitos cientistas notáveis, na primeira década do século XX, recusaram a teoria de Einstein. Curiosamente, o próprio Einstein, que recebeu o Prémio Nobel, não pela sua Teoria da Relatividade, mas pela explicação do efeito fotoelétrico (um fenómeno quântico), era cético em relação às interpretações da Física Quântica, que outros cientistas desenvolveram na primeira metade do século XX. Ele recusava a existência duma indeterminação ontológica, no íntimo da matéria.
A abertura não é sempre caraterística do pensamento dos científicos. A ideia de que o cientista típico é alguém com grande criatividade intelectual, que pensa fora da rotina, do convencional, é muito romântica, mas totalmente errada, especialmente na nossa época. Com efeito, nos laboratórios de pesquisa ou departamentos científicos das universidades, o mais frequente são atividades de reprodução, com maior ou menor variação, é continuação dos caminhos já traçados. As propostas mais inovadoras são - com frequência - rechaçadas. Os cientistas em posições dominantes, decidem sobre a atribuição - ou não - de créditos para tal ou tal investigação. Eles têm receio de que um projeto envolvendo demasiadas incógnitas, não dê origem a resultados publicáveis. A investigação científica tornou-se convencional, dominada por carreirismos e pouco favorável - afinal - à verdadeira inovação. O único aspeto que mantém este sistema institucional, é a capacidade em atrair financiamentos (estatais e privados). Por outras palavras, os responsáveis pelos laboratórios e institutos especializaram-se em fazer «lobbying», em captar verbas para suas linhas de investigação, para suas instituições.
A ignorância científica, ao contrário do que muitos pensam, está em progressão na nossa sociedade e o fenómeno tem-se acelerado. Os programas do ensino secundário são cada vez mais «leves», nas componentes científicas. Os adolescentes não têm contacto com a ciência experimental, propriamente dita. O que chamam de «revolução» informática consiste em transformar jovens em «ratinhos de laboratório», conectados ao computador, que reagem a estímulos e são mantidos numa dependência (como a adição aos jogos de computador). Isto dá enorme satisfação aos adultos (os pais, ou os educadores), encantados, porque as crianças estão «muito sossegadinhas» em frente aos computadores!
Certos domínios, menos tecnologizados, como a epistemologia (a filosofia das ciências), podem ainda ter alguns progressos nesta civilização. Porém, a generalidade dos domínios tem uma produtividade real muito escassa. Porque razão afirmo tal coisa?  Porque, comparando resultados científicos de hoje com os dum passado não muito remoto (alguns decénios), verificam-se várias coisas imprevistas: Há uma multiplicação de artigos em publicações científicas, mas demasiados não correspondem a reais avanços nas respetivas ciências. Se fizermos uma medição qualitativa honesta, vemos que os investimentos e o número total de pessoas técnicas e científicas se multiplicaram, mas quanto ao progresso científico e técnico, deixam muito a desejar. Para uma mesma quantia investida, a ciência que se fazia há 50 ou mais anos atrás, era bem mais produtiva. Com menos, fazia-se mais, descobria-se mais e inovava-se mais. O aparelho dito científico tem, hoje, um papel de «validação» da sociedade tecnocrática. Isto é patente, por exemplo, em Medicina. Rios de dinheiro são gastos, sem real progresso na saúde da população geral. Este é o resultado mais visível.
Na sociedade futura, alguém que se debruce sobre a realidade da ciência do começo do Século XXI, irá espantar-se com os volumes de investimentos em investigação aplicada à medicina - que implicaram défices de investimentos noutras áreas - consentidos pelas pessoas e pelos Estados. Mas que são tragados por uma medicina devoradora de recursos,  ultra- tecnologizada e com resultados no inverso daquilo que seria de esperar. Com efeito, a população está cada vez mais doente. Está mais dependente dos cuidados de saúde, mais frágil, menos autónoma, em todas as faixas etárias, sobretudo nos países industrializados. 
Sabe-se perfeitamente que muitas doenças podem ser eficazmente combatidas com prevenção, educação e hábitos de higiene. Apenas esta abordagem é eficaz, ao nível populacional, para as doenças ditas «de civilização» (obesidade, diabetes, cancros, alcoolismo, doenças psíquicas, etc.). Isto não é do interesse das grandes farmacêuticas, pelo que as pessoas vão continuar a adoecer e consumir mais remédios, para lucro dos grandes acionistas destes empórios.

 


sexta-feira, 30 de julho de 2021

SOBRE A REIFICAÇÃO DA MORTE

A reificação*, que refiro no título, é a transposição da ideia abstrata - a morte - para o mundo social. É uma objetivação, ou seja, a passagem do abstrato ao concreto.

Na nossa época, a morte é personificada como o mal absoluto, como algo que se deve evitar a todo o transe. As pessoas chegam a estimar-se como muito "heroicas" por sobreviverem a uma série de doenças e conseguirem chegar a uma provecta idade. Considera-se um prodígio chegar-se a viver muito para lá dos noventa anos, como se isso fosse - em si mesmo - um bem.
Simultaneamente, a quantidade de pessoas que se suicidam vai aumentando, ano após ano. Sabe-se que, diretamente, não está correlacionado com o estado da economia pois, ao contrário do que se diz, a maior parte dos suicídios não se deve a motivos económicos, mas a fatores de natureza afetiva e psíquica, a depressões não tratadas ou mal tratadas, por exemplo, ou a casos passionais.
A existência da morte é ocultada, negada: as pessoas - cada vez mais - morrem sós, muitas vezes rodeadas de aparelhos de reanimação e outras maravilhas da medicina, mas sem o conforto de estar junto de alguém próximo, cônjuge ou filho(s).

A publicidade utiliza toda a espécie de argumentos envolvendo «saúde», para vender seus produtos ou serviços. Se tivéssemos que avaliar os sectores da economia, exclusivamente, pela publicidade produzida, então o sector da saúde e cuidados com o corpo, seria - de longe - o maior. Empresas com relação à saúde, não só à medicina, como ao «bem-estar», à «nutrição saudável», ao «corpo em forma», etc., multiplicam-se.
Porém, nota-se um aumento exponencial de doenças ditas de civilização, como o tabagismo, o alcoolismo, adição a diversas drogas. Mas não só aquelas: é assustador o aumento da obesidade, associada a outras doenças, desde a diabetes, às doenças cardiovasculares, às doenças do foro psíquico, etc.

Eu penso que esta sociedade está a viver numa espécie de «esquizofrenia civilizacional», devido a uma perda de referências. O que supostamente conta, na vida das pessoas, com a forte pressão social para «ser-se competitivo», é a imagem. É também a ideologia inculcada, do que é ser «um vencedor na vida» ou «um perdedor». Um sem fim de estereótipos, que conduzem os indivíduos a consumir produtos e serviços, que os seduzem e os empurram para ainda maiores excessos e desequilíbrios. Perversamente, inculcam-lhes uma ideia de «saúde», que envolve uma imagem ideal do corpo, da beleza, do equilíbrio, mas apenas enquanto desejo hedónico. Algo que deve ser obtido imediatamente. Vive-se na pulsão, no desejo, na satisfação imediata dos instintos.

A «ciência médica» transformou-se também. Ela está ao serviço da sociedade do consumo hedónico, não está preocupada em prevenir (por mais que o diga), mas em "tratar" ou "curar", o que pode ser fonte inesgotável de negócio.

O medo da morte atinge o paroxismo: O desencadear da paranoia do Covid, instaurou um clima social doentio, uma psicose coletiva.
A ideia de morrer, qualquer que fosse a causa, era assaz banal no tempo dos nossos avós. Morrer aos 50 ou 60 anos, não tinha nada de especial. Morriam muitos recém-nascidos e crianças de tenra idade. O número médio de filhos por mulher era maior, porque a mortalidade infantil era elevada. O número de nascimentos necessários à manutenção do equilíbrio populacional (em torno de 2,1 filhos por mulher fértil, em média), já não existe hoje, na maioria de países ditos «desenvolvidos».
Estes factos acima significam que há meio século ou mais, a família europeia era normalmente maior do que o núcleo «mãe-pai-filhos»; e que ela sofria frequentemente a morte de alguém.
As estruturas hospitalares e os meios tecnológicos eram escassos. O saber médico também era menor, em absoluto, embora os médicos tivessem maior capacidade de atender às mais diversas situações: Tinham, quase todos, de atender a situações de urgência, por vezes em condições sem grandes meios ao seu dispor, e tinham de decidir por si próprios o que fazer, nas situações de risco de vida para o paciente.
As pessoas morriam maioritariamente em casa, tanto nas classes abastadas, como nas mais pobres. Morrer em família, foi experiência humana comum (recorde-se Charles Aznavour, «La Mamma»). 


Haveria, com certeza, para os familiares uma grande dor associada. Mas, morrer só, no hospital hipertecnológico, mesmo que o pessoal médico e de enfermagem seja muito atencioso e humano, será isso um «progresso» da medicina, da civilização, do respeito pelo ser humano?

As pessoas são (ou tornaram-se) de uma cobardia incrível, muitas vezes escondida com argumentos especiosos. Isto indica-nos que elas não foram adequadamente formadas. As pessoas deviam estar moralmente preparadas para as dificuldades da vida, para enfrentar situações penosas. Estão simultaneamente fechadas aos outros, dentro dum casulo egoístico, porém não se coíbem de pedir (ou mesmo exigir) toda a atenção e ajuda, em caso de sofrimento de algum tipo.

A passagem do estado vivo ao estado morto, é a coisa mais banal e natural deste mundo.
É de todo estranho que os humanos de hoje evitem o contacto com pessoas moribundas e isso, mesmo quando se trata dos seus entes queridos.
Verdadeiramente civilizado e humano, seria proporcionar as melhores condições possíveis, incluindo nos ambientes hospitalares, aos familiares mais chegados para estes poderem assistir e consolar, nos derradeiros momentos, um ente querido.

                 

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quarta-feira, 22 de abril de 2020

QUEM TEM TELHADOS DE VIDRO...

O provérbio do título* apropria-se à situação de governo e elite dos EUA tentarem desviar a atenção do público e, com a conivência da media «mainstream», tentarem desencadear uma onda de histeria anti-chinesa.
Infelizmente para eles, as pessoas ainda têm recursos para conhecerem os factos por detrás de um ecrã de propaganda:

                   
Cito aqui três órgãos muito mais fidedignos do que quaisquer gigantes da media.

«Moon of Alabama», um blog mantido por um anónimo, que tem permitido ver muito da propaganda que se tem espalhado nesta guerra híbrida mundial, quer seja contra os regimes iraniano,  russo, ou chinês.

Unz Review, um site que congrega muitas opiniões e informações censuradas no mainstream, quer sejam com conotações de direita ou de esquerda. Um antídoto para o pensamento único, simplista e totalitário do mainstream.


O blog «The Saker» (em vários idiomas): alojado na Islândia, tem mostrado como a propaganda da media nos induz em erro, sistemática e propositadamente. A pessoa responsável pelo blog é um americano de origem russa. Tem afirmado a sua posição conservadora. Podemos ler nele as crónicas do jornalista brasileiro radicado em Hong Kong, Pepe Escobar:


Baseando-me nestas e noutras fontes, tenho hoje a convicção de que o vírus causador do Covid-19 não foi produto de engenharia genética dum laboratório chinês, como o instituto de virologia de Wuhan.
Para acrescentar injúria à dor da epidemia que fez tantos mortos e doentes na China, assim como a retracção catastrófica da sua economia, os dirigentes americanos vêm alegar mentiras e suscitar uma campanha desabrida de propaganda.
O objectivo é duplo, o de manter a sua população crente na narrativa do governo de que foram tomados de surpresa e não foram avisados atempadamente pelas autoridades chinesas; portanto, atribuindo a catástrofe sanitária nos EUA a agentes exteriores maléficos, ao «governo chinês comunista».
O outro objectivo é o de fazerem pressão e intimidação, para avivar a guerra híbrida que têm levado a cabo contra a China (já antes de Trump ascender à presidência, lembrem-se do «pivot to Asia» de Obama, destinado a fazer o cerco à República Popular da China). No meio desses conflitos, os regimes ocidentais da UE e outros, não terão coragem (calculam os americanos) de estabelecer relações mutuamente vantajosas com a China e vão sujeitar-se, temerosos, a participar nas guerras híbridas ordenadas por Washington.


                      

Até onde levará a deriva autoritária do regime de Washington, um Estado ao qual se aplica bem o termo «Rogue State»? 
Perante o colapso económico, agravado pela falência total da indústria de petróleo de xisto (consequência não intencional do estado de «lockdown» em metade do planeta) existirá a tentação de uma fuga para a frente, ou seja, de uma guerra cinética com os seus principais rivais ao nível mundial, com efectiva possibilidade de desencadear o Apocalipse nuclear. 
No entanto, pessoas com influência nos diversos países, incluindo nos EUA, como Paul Craig Roberts ou  muitas outras, têm vindo a desmascarar as falsidades, desde os pseudo ataques químicos do governo sírio de Assad, até à delirante pseudo-conjura do «Russiagate», o que mostra, afinal, a crescente ineficácia da propaganda da media ao serviço do poder e do próprio poder. Com efeito, embora consigam iludir - momentaneamente - largas fatias da opinião pública, estão - em simultâneo - a perder toda a credibilidade no médio/longo prazo, em especial, junto das pessoas não-«radicais».

Além do sofrimento causado directamente pela epidemia de Covid-19, também a saúde mental de muitas pessoas pode ser profundamente afectada pela exposição à propaganda sobre o vírus, misturada com a propaganda belicista, com tonalidades racistas (anti-chinesas, neste caso) e anti-comunistas.

Ninguém merece ser enganado e tratado como carne para canhão. Porém, é aquilo que os neocons - que dominam o aparelho de Estado de Washington - querem. A sua loucura deve ser reconhecida como tal pelas pessoas sensatas, independentemente de suas posições ideológicas.

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*«Quem tem telhados de vidro, não deve lançar pedras aos telhados dos vizinhos»



sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O PRIMEIRO E O SEGUNDO CÉREBRO, O MICROBIOMA E A SAÚDE HUMANA



Esta lição do Dr. Gundry explica muitos factos, entre eles: 
- a destruição do nosso ecossistema interno, por uma alimentação inadequada ou devido à presença de glifosato 
- compreensão e possibilidade de melhor prevenção de doenças como Parkinson, Alzheimer e outras doenças.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

ÚNICA MANEIRA DE VIVER SAUDÁVEL [JOEL FUHRMAN]


              https://www.youtube.com/watch?v=gBGnX8aLc6A

Este video é muito rico em informação. Não é exagerado, é realista. Oiçam e vejam, vale a pena!

Ver também o vídeo do artigo seguinte:

ALIMENTAÇÃO E DOENÇA: O ALIMENTO COMO DROGA


https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/07/alimentacao-e-doenca-o-alimento-como.html

domingo, 19 de agosto de 2018

GLIFOSATO, UM PRESENTE ENVENENADO...

                 Farmers spray 200m pounds of weedkiller on crops, including corn, soybeans, wheat and oats, every year. 
      
A estratégia clássica dos grandes grupos económicos é de se expandirem , derrotando toda a concorrência, impondo as suas tecnologias, com exclusão de todas as alternativas, externalizando os danos que estas trazem à sociedade e natureza.

Um caso realmente típico disso é o da Monsanto/Bayer e do seu produto glifosato (comercializado sob o nome de «Roundup»).
Nos anos noventa, a Monsanto desenvolveu um sistema associando herbicidas, entre os quais o glifosato, com plantas de cultivo geneticamente modificadas, para incluírem genes de resistência aos mesmos. Assim, o milho, por exemplo, portador desses genes de resistência podia ser copiosamente tratado com glifosato, apenas as plantas «daninhas» ou espontâneas iriam ser afectadas e erradicadas. A Monsanto gabava-se que as plantações de milho, soja, etc geneticamente modificadas tinham a capacidade de resistir a doses altíssimas de herbicida, garantindo uma  monda química eficaz e a «impossibilidade» (que já se verificou ser falsa; ver, por exemplo, aqui ) de desenvolver resistência aos referidos herbicidas. 

O resultado é que o uso do glifosato se foi expandindo, contaminando muitos ecossistemas agrícolas e naturais, afectando muitas espécies de plantas, que nunca foram invasivas de campos cultivados, sobretudo acumulando-se na cadeia alimentar até ao ser humano.
Estudos com mães lactentes no Brasil, mostraram que 83% destas possuíam vestígios de glifosato no seu leite. O glifosato não é uma substância inócua para os animais e para o homem. O glifosato tem propriedades cancerígenas, mas isto foi intencionalmente ocultado pelas próprias autoridades sanitárias da Alemanha.
Por muito prejudicial que este glifosato seja, devemos ter em perspectiva que é um caso apenas, produzido por uma companhia, mas existem outros milhares que têm efeitos colaterais graves sobre a saúde humana e a Natureza. 
No seu conjunto, a civilização tecnológica tem sido completamente desrespeitadora do princípio de precaução, que implica a não-utilização de qualquer substância, cujo efeito no ambiente possa implicar grave prejuízo (quer no imediato, quer futuramente). 
Na busca do lucro a qualquer preço, os grandes da agro-indústria, da indústria farmacêutica, das biotecnologias, têm distorcido, ocultado, falsificado os dados que tinham obtido nas suas investigações e conseguem comprar os mais diversos poderes públicos, incluindo os próprios legisladores

A sistemática ocultação dos efeitos nefastos faz com que governos e as sociedades aceitem a novidade, se adaptem a ela, usem correntemente esses produtos, sendo depois a sociedade a pagar os referidos efeitos nefastos. Esta externalização dos danos permite que os produtos sejam rentáveis para o seu produtor. 
Com efeito, está-se perante uma ocultação sistemática, conseguida também à custa de uma corrupção do Estado e dos seus agentes.
Se houvesse reconhecimento da perigosidade dos produtos em causa, ou as entidades protectoras da saúde e do ambiente decretavam a sua exclusão do mercado, ou eles seriam severamente regulados e restringidos no seu uso. Tanto num caso, como no outro, não haveria lucro, não poderiam rentabilizar as operações que levaram a colocar o produto no mercado, desde a sua concepção, investigação, desenvolvimento, produção,  até à comercialização. 
Segundo estudo publicado, o custo dos poluentes ambientais excede  9 milhões em vidas humanas e 4,6 triliões dólares anuais, mais do que a guerra, o tabagismo, a fome, ou os desastres naturais.
A sociedade humana e a Natureza são constantemente agredidas, sujeitas às piores depredações e em última instância, à morte, para que os tais gigantes da agro-química ou outras corporações capitalistas de grande poder, continuem a obter os seus lucros!

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O VERDADEIRO IMPACTO DA COMIDA RÁPIDA (FAST FOOD)

                     

                            Toxiphobe Leaders Tend to Be Paranoid Tyrants

                                            Comidas de plástico, vidas de plástico... 

Sabes qual o preço real que pagas (pagamos todos) por essa comida supostamente «barata»?

- Conta com uma elevada probabilidade de adoeceres com cancro, diabetes, obesidade... 

- Conta com a destruição sistemática de floresta tropical para obtenção de pastos ou para plantações (milho ou soja) destinadas a rações para alimentar o gado, a carne no teu hamburger.

- Conta com todos os subprodutos de plástico, desde copos, talheres, barquetes, etc. correntemente usados pela indústria «fast-food» e que acabam a contaminar os oceanos ou são incinerados. Neste último caso, vai contaminar a atmosfera com moléculas cancerígenas. 

- Conta com a destruição de milhares de pequenas empresas familiares, cafés e restaurantes, que forneciam refeições na zona onde se vão implantar estes fast food.

- Conta com o desaparecimento da qualidade de vida, do convívio natural que se organiza em torno de uma refeição familiar ou de amigos.

- Conta com a perda de autonomia das pessoas, incapazes de cozinhar, de confeccionar uma refeição simples para elas próprias e os seus, a partir de matérias primas não processadas adquiridas numa loja ou supermercado...

quarta-feira, 12 de julho de 2017

ALIMENTAÇÃO E DOENÇA: O ALIMENTO COMO DROGA

A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA PADECE DE UMA GRAVE DOENÇA: A ALIMENTAÇÃO INDUSTRIALIZADA


Com a sofisiticação que conhecemos em medicina e biologia, pode-se medir no cérebro as respostas aos alimentos ou drogas em determinadas zonas e o efeito nestas, «remuneradas» com ondas de prazer (na realidade, neurotransmissores que ativam certos circuitos neuronais). São substancialmente parecidos, nos seus efeitos nos centros cerebrais do prazer, o sabor de um alimento açucarado e duma dose de droga (anfetamina, heroína, cocaína, cannabis, etc) 

Os industriais da alimentação jogam com um cocktail de moléculas, não apenas para obterem «sabores», mas também para conseguirem a adicção do cliente. 

                  

A Radio Canada apresenta um video de grande interesse para a saúde pública. Os médicos e pessoal de saúde confrontados com os maus hábitos alimentares da população (pelo menos em Portugal) costumam responder com aquilo que é de mais fácil aceitação para o público... tomar um medicamento, um comprimido para isto e para aquilo... 
O problema é que isto funciona objectivamente como reforço do comportamento adictivo, pois «desculpabiliza» o paciente em relação à quantidade e à qualidade do alimento ingerido. 

Tomando exemplo de mim próprio: há uns anos tive a notícia desagradável de sofrer de hipertensão e de ter de fazer tratamento sob pena de ter um ataque cardíaco. 
Receitaram-me estatinas, que eu tomei durante algum tempo. Mas as estatinas interferiam com outro medicamento que eu tomava regularmente (e não podia deixar de tomar). 
Por isso, em vez de continuar com as estatinas, decidi fazer uma  dieta rigorosa, limitando a ingestão de gordura animal, de acúcares, de gordura vegetal hidrogenada... 
Sem extremismos, tornei-me «vegetariano» a 80%, ou seja, ainda como carne e peixe, mas em proporção diminuta... 
Consegui não apenas sobreviver mas viver melhor, com tensão arterial normal e sem quaisquer drogas para baixar a tensão. Mas tive de exercitar a vontade, não comer em cafés e pastelarias a não ser em circunstâncias indispensáveis, ir muito pouco a restaurantes e, nestes, escolher os pratos com rigoroso espírito crítico...
As pessoas deviam deixar de seguir o seu «instinto» e educarem o seu paladar, para apreciar a subtileza dos sabores de frutas e legumes, a sua enorme variedade, evitarem certo tipo de cozinhados, os fritos - por exemplo - muito saborosos mas desastrosos em termos de saúde, etc. 
O «instinto» é o resultado de milhões de anos de evolução biológica: pode ter ainda um valor de sobrevivência para muitas situações, mas noutras, é desencadeador de resposta comportamental muito inadequada. 
É caso do seguinte reflexo, instalado há milhões de anos: «comida doce = a boa comida»

domingo, 21 de agosto de 2016

PONTO DE VISTA DE UM BIÓLOGO SOBRE O VÍRUS ZIKA

                     Na página da OMS sobre o vírus Zika, é afirmado que existe consenso científico sobre ser este vírus causa de microcefalia e síndrome de Guillain-Barré.

Vamos analisar este suposto «consenso científico». Vários factos têm sido omitidos e ocultados do grande público, não apenas relativamente às causas conhecidas das microcefalias, como também ao facto de epidemias de vírus Zika serem descritas, desde a descoberta deste vírus em 1946, como causando apenas doença muito ligeira e transitória.
Não se pode transformar uma correlação em relação causal sem fazer um arriscado salto lógico: com efeito, no caso do Zika, as causas de aumento de microcefalia são múltiplas.

- Com efeito, as zonas onde isso se verifica, também são zonas rurais infestadas por múltiplos agentes patogénicos, como os da febre dengue, também veiculada por inseto, e outras doenças tropicais.
O facto de que sejam as zonas rurais as de maior incidência da doença, aquelas onde são usados por rotina pesticidas de elevada toxicidade, deveria ser visto com cuidado. As pessoas mais pobres da população estão, por norma, ligadas a atividades agrícolas. As águas não são tratadas convenientemente e podem transportar concentrações tóxicas de herbicidas e pesticidas, especialmente durante alguns períodos do ano.
É notório o facto de que muitos destes produtos são disruptores hormonais.  Estes produtos têm um comportamento análogo de hormonas naturais do ser humano, sendo o corpo enganado e respondendo a estes análogos - disruptores hormonais - como se fossem hormonas verdadeiras.
Assim, toda uma classe de moléculas tem sido descrita como funcionando como análoga de hormonas sexuais, masculinas (androgénios) ou femininas (estrogénios). Ora, tais análogos na alimentação de mulheres grávidas podem ultrapassar a barreira placentária se a sua concentração for muito elevada, afetando o desenvolvimento do embrião e do feto.
Estes factos não são devidamente avaliados pela literatura científica, que não correlaciona os tais surtos de microcefalia com grandes concentrações de pesticidas, ou moléculas resultantes de transformação química ou bioquímica destes mesmos pesticidas, nestas áreas infestadas pelo vírus Zika.
É estranho, por outro lado, que não coloquem a questão de que o vírus deve ter existido, talvez desde que existe espécie humana (embora tenha sido descrito apenas em 1946), não tendo causado senão infeções benignas, na maior parte dos casos, o que faz com que este vírus esteja presente e assintomático, em largas percentagens da população mundial.
Estas populações deveriam ter logicamente um acréscimo de microcefalias dos recém-nascidos, da mesma ordem de grandeza que as populações afetadas nas zonas rurais do Brasil. Mas isto não se verifica!
Então teríamos de postular uma mutação que aumentasse muitíssimo o efeito patogénico do vírus sobre os fetos e isso seria com certeza fácil de constatar. Hoje em dia, uma sequenciação de um pequeno genoma, como seja o de um vírus, não é nenhuma proeza técnica, mas antes uma rotina. Poderia muito simplesmente ser comparado o genoma dos vírus encontrados em populações onde existe o tal aumento exponencial de microcefalia com o genoma do vírus em zonas endémicas, mas onde não exista diferença da taxa de microcefalia em relação à população geral. Só assim teríamos um teste que convenceria definitivamente as mentes mais críticas de que há evidências de relação entre vírus Zika e microcefalia.
A não existência deste estudo comparativo - que seria muito fácil de levar a cabo, dados os meios ao dispor da OMS – revela algo inquietante relativamente à OMS: uma agenda oculta, uma espécie de necessidade de monitorizar o pânico, para que as populações aceitem como «natural» uma série de restrições dos seus movimentos e do seu comportamento. Não se vai nunca buscar às raízes profundas do mal. Omite-se sempre a miséria como fator de insalubridade, quando é sabido que pessoas da mesma região geográfica têm índices indicativos de saúde completamente diferentes, consoante os seus níveis económicos e culturais.
As pessoas mais suscetíveis de ter contaminações são as que têm apenas a opção de beber águas contaminadas, porque vivem em zonas de grande insalubridade, zonas onde se acumula a população mais pobre.
As doenças, especialmente as epidémicas, causam muito pânico e comportamentos irracionais, pois há um misto de crenças de que elas sejam um «castigo divino» ou uma «experiência de cientistas loucos».
A OMS pode mudar a ênfase dos seus estudos e campanhas para atacar as  doenças nas suas causas, as quais estão praticamente sempre correlacionadas com a pobreza. Porém, isso implicaria pôr em cheque os próprios poderes que sustentam o sistema.
- Os governos preferem gastar rios de dinheiro em obras de fachada em vez de melhorar aspetos básicos, como os sanitários.
- Os grandes empórios da química e do agronegócio espalham substâncias tóxicas em vastas zonas, promovem a monocultura com espécies modificadas geneticamente, as quais possuem a capacidade acrescida de resistir a esses herbicidas, etc.
- Os próprios sistemas de saúde dentro de cada país e das organizações internacionais estão apontados para o lucro, não para a prevenção das doenças.
Foi calculado que muitas doenças graves poderiam ser evitadas com inspeções e tratamentos de rotina desde a infância. Verificou-se a eficácia desta abordagem, nomeadamente, num programa desenvolvido nos anos 50-60, no Canadá, que abrangia uma monitorização periódica gratuita da saúde dentária das crianças e jovens em todas as escolas. Este programa foi responsável pela diminuição na população, em geral, de vários tipos de doença: Por exemplo, a endocardite, doença grave causada por bactérias que se instalam na cavidade bucal, em consequência de má higiene oral e de cáries dentárias.
Além de causar muito sofrimento e morte, deixar que a doença atinja o grau de gravidade de uma endocardite, quando poderia ser evitada com o tratamento precoce duma simples cárie dentária, é típico do sistema de saúde do nosso tempo. Com efeito, a medicina está autenticamente refém dos interesses instalados e estes ganham mais, muito mais com o tratamento do que com a prevenção.
Se um Estado tiver em atenção verdadeiramente a saúde da população, deve apostar dez vezes mais na prevenção do que na cura das doenças. Como exemplos de prevenção, cito o investimento em infraestruturas com efeito na saúde pública, como sejam redes de tratamento de águas residuais, de processamento eficaz dos detritos urbanos, a monitorização generalizada da saúde materno-infantil, uma rede sólida de medicina escolar, para que todas as crianças em idades escolar, assim como os adultos em contacto diário com estas crianças, sejam professores, sejam auxiliares de educação, tenham uma cuidada e séria inspeção de saúde. 
Igualmente nos locais de trabalho, as comissões de higiene e segurança deveriam estar instaladas e funcionais; nestes locais, a Inspeção do Trabalho deveria agir preventivamente, para verificar se as normas estavam a ser cumpridas pelos patrões e empregados.  
Penso que muitas doenças e mortes precoces e evitáveis da população poderiam ser reduzidas em 80%, se houvesse uma mentalidade virada para a saúde preventiva.
Eu sempre pensei que a prevenção é a mais inteligente e adequada forma de preservar a saúde, quer a nível individual quer a nível de sociedade.


domingo, 12 de junho de 2016

Viver Bem, Prevenir Diabetes e Doença de Alzheimer



Comer Açúcares Pode Aumentar o Risco de Doença de Alzheimer*

por Shin Ohtake

(*) traduzido por Manuel Banet Baptista
Eating Carbs Can Increase Risk of Alzheimer’s Disease


Os investigadores têm tentado descobrir a causa da doença de Alzheimer e, embora os cientistas ainda não tenham sido capazes de determinar a causa exata desta doença... a informação recente tem  sugerido que dietas de baixa qualidade estão associadas à doença de Alzheimer.
Com efeito, há estudos que mostram um elo forte entre uma dieta de má qualidade... em especial, o sobre-consumo de açúcares «rápidos», que causam insensibilidade à insulina... e a doença de Alzheimer, de tal modo que alguns médicos e investigadores alcunharam esta doença como: Diabetes de Tipo 3. 
Vejamos como é que os açúcares têm impacto sobre o cérebro:
Como é que a Insulina Age sobre o Teu Cérebro
A insulina é a hormona libertada quando ingeres açúcares. Ela é responsável pela absorção celular do açúcar no corpo. Note-se que o açucar pode ser armazenado como glicogénio no teu fígado e músculos... e qualquer excesso de açúcar que não fique aí armazenado, irá ser convertido e acumulado em gordura. Por esta razão, a insulina é também referida como hormona de armazenamento de gorduras.
Isto é a razão pela qual se comeres demasiados açúcares, aumentas de peso. Simplesmente, não consegues armazenar todo o açúcar sob forma de glicogénio, então o restante transforma-se em gordura. A tua insulina pode dar conta de uma certa quantidade de açúcar, especialmente se ela vier de alimentos não-processados e naturais, como frutos e legumes. Aliás, podes comer vegetais durante todo o dia, que a tua insulina não terá problemas com isso.
No entanto, a tua insulina NÃO  está desenhada para dar conta da quantidade excessiva do açúcar presente em comida à base de alimentos contendo açúcar refinado e outras comidas processadas. O consumo excessivo do açúcar, com demasiada frequência, irá desencadear quase fatalmente o não-funcionamento normal da tua insulina. Ora, é neste ponto que começas a ter problemas sérios. Isto é conhecido como «insensibilidade à insulina». É a primeira etapa para te tornares diabético. Se continuares a comer da mesma maneira e a consumir um excesso de açúcar, a tua insulina acabará por parar totalmente de funcionar e terás adquirido resistência à insulina e diabetes. É assim que tu tornas um Diabético do Tipo 2.
Então que relação tem isso a ver com o teu cérebro?
Estudos bem recentes mostraram que a insulina tinha impacto no modo como funcionam os sinais dentro do teu cérebro. Quanto menos funcional estiver a tua insulina, menos ótimo será o trabalho dos teus sinais cerebrais. Suspeita-se que aqui exista um forte nexo causal entre a resistência à insulina e a demência.
Por que está a Diabetes Relacionada com Alzheimer
Estudos mostraram que uma pessoa com diabetes tem mais 65% de probabilidade de desenvolver Alzheimer. Os investigadores descobriram que a resistência á insulina causa uma aceleração da formação das placas, no cérebro, sendo esta acumulação de placas diretamente associada a Alzheimer. Além disso, há estudos que sugerem que o mau desempenho da função insulínica também está associado com degenerescência das células cerebrais. Os investigadores acreditam que, quando o teu corpo se torna resistente à insulina, as células resistentes ficam privadas da glucose que necessitam para sobreviver.
Prevenção da Diabetes e Alzheimer
Visto que existem provas suficientes ligando a resistência à insulina com o diabetes e com Alzheimer, as mudanças dietéticas que ajudam os diabéticos podem também servir para prevenir o desencadear de Alzheimer e outras doenças degenerativas dos tecidos cerebrais.  É evidente que a insulina tem um papel fundamental para a saúde do teu cérebro, pelo que para otimizar a função da insulina, deves manter uma baixa ingestão de açúcares.
Consegue-se melhor uma dieta com baixo teor de açúcares através da eliminação (ou limitação) de açúcares «rápidos», tais como o pão, as massas e os alimentos processados, tais como cereais, bolachas e bolinhos.  Em vez disso, ingere açúcares presentes nos alimentos não-processados, tais como legumes e frutos... Aliás, podes ingerir tantos legumes quanto quiseres.  Os frutos têm um teor de açúcar (frutose) mais elevado, mas é absolutamente seguro consumi-los em quantidades moderadas, pois têm fibras dietéticas que ajudam a diminuir a reação insulínica.
Recomendo que limites o consumo de açúcares «rápidos» e aumentes o consumo de legumes, frutos e alguns alimentos seguros com amido. Não é apenas o tipo de dieta mais saudável que tenho recomendado em geral, mas também a melhor maneira de queimar as gorduras e evitar permanentemente o sobrepeso... E, agora, sabemos que é uma ótima maneira de preservar a saúde do nosso cérebro, também!

Referências

  • http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2012/09/24/poor-diet-causes-alzheimers-disease.aspx
  • http://www.impactaging.com/papers/v6/n9/full/100690.html
  • http://www.alzheimers.net/2013-11-04/do-carbs-and-gluten-cause-alzheimers/
(retirado de:)   http://www.maxworkoutclub.com/articles/entry/eating-carbs-can-increase-risk-of-alzheimers-disease
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