O que os bem informados não se apercebem, é que, em contraste com a «Guerra Fria Nº1», os poderes usam os avanços da tecnologia e da I.A. para fabricar uma falsa realidade, uma informação «cientificamente» manipulada. Isso, é uma situação inteiramente nova.
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segunda-feira, 4 de março de 2024

CRÓNICA (Nº24) DA IIIª GUERRA MUNDIAL - Alargamento dos perigos

 Nos últimos tempos, no cenário da Ucrânia, a rutura da frente do lado ucraniano, após a queda de Avdiivka veio expor a total incompetência da liderança política e militar da ditadura que governa a Ucrânia. Com efeito, foi devido ao facto de muitas das defesas fortificadas que deviam estar presentes na linha da frente não existirem, que a perda da vila estratégica de Avdiivka se transformou numa retirada desordenada, em pânico. Muitas dessas defesas só existiam no papel; a isso se resumia a aplicação das ajudas ocidentais. As somas colossais que a OTAN tem vertido no caldeirão ucraniano, têm servido sobretudo para  enriquecer ainda mais os muito ricos oligarcas que controlam o poder político, sendo este também possuidor de uma insaciável ganância como se pode verificar pelas mansões luxuosas, da Riviera até Miami, compradas por Zelensky. A imprensa ocidental parece estar a «descobrir» isso e muito mais, como as bases secretas da CIA, em território ucraniano, que desde 2014 espiam o território russo. Nada destas coisas é ao acaso. Estão a preparar a opinião pública para a derrota inevitável, que eles - no entanto - quiseram ocultar, depois de terem feito uma guerra de propaganda demente, enaltecendo as capacidades das forças militares ucranianas e diminuindo de forma grotesca as capacidades do lado russo. 

Mas, infelizmente, perante uma opinião pública, em  larga percentagem," lobotomizada" (castração mental), os sucessos e insucessos da guerra russo-ucraniana irão logo sumir-se no buraco negro de sua não-memória. 



Entretanto, na faixa de Gaza e nos restantes  Territórios Ocupados, o morticínio dos inocentes, das mulheres e crianças, assim como de não combatentes,  prossegue perante a hipócrita atitude dos países ocidentais, em primeiro lugar dos EUA. Seu presidente, embora fale em mitigar os sofrimentos das populações civis, vai fornecendo as bombas e outro material a Israel. No Conselho  de Segurança  da ONU, os EUA vão chumbando as resoluções (penso que já vai na 4ª, que chumbam) de cessar-fogo, nesta guerra cruel de Israel contra a população de Gaza.

Nos países da Europa, os tais que eram «civilizados», os  dirigentes multiplicam os sinais inquietantes de deriva militarista e autoritária: Macron, organiza uma cimeira, no fim da qual e sem dizer cavaco aos participantes, aventa a hipótese de serem colocadas tropas dos países da OTAN no teatro de guerra da Ucrânia, para evitar a derrota total do regime corrupto e fascista de Zelensky. Todos os participantes - numa reviravolta de ópera-bufa - apressaram-se a negar que tenham jamais concordado com tal hipótese.

Porém, dias depois, os serviços secretos russos gravaram e transcreveram uma conversa entre dois generais alemães, em que estes debatem a hipótese de bombardear (eles, alemães, diretamente) a ponte da Crimeia, ou - em alternativa - localidades em território russo, que nem sequer são internacionalmente disputadas. O chanceler Scholz veio confirmar a autenticidade do diálogo interceptado. Porém, a grande preocupação dele não era o seu conteúdo, mas o facto duma tal falha de segurança ter sido possível. Entretanto, é quase certo que os ucranianos já possuam os mísseis alemães Taurus, de longo alcance. 

Tudo está a postos, do lado ocidental, para que a guerra russo-ucraniana se estenda às potências europeias da OTAN, já não apenas em fornecimento de material de guerra, o que já se tem feito desde o princípio do conflito, como também agora com tropas especiais no terreno, com competência para manipular armamento sofisticado, que exigiria muito tempo de treino aos militares ucranianos. Esperemos que esses engenhos de morte de longo alcance não estejam disponíveis a tempo de adiar o final desta cruenta guerra. 

Os ucranianos, a partir de certo ponto, vão ficar incapazes de colocar no terreno, tropas - em quantidade e qualidade - mínimas para defender as suas posições. Nessa ocasião, não poderão continuar e terão de pedir negociações de paz. Alguns analistas calculam que este desfecho ocorra, o mais tardar, em Agosto deste ano.  

Quanto à campanha genocida de Israel, apoiada pelos EUA e países vassalos, será um massacre e uma crueldade sádica completamente inúteis, no que toca aos interesses dos sionistas e vai (indiretamente) colocar em risco Israel, enquanto Estado-nação.

Para avaliar a monstruosidade desta campanha genocida, leia ESTE artigo , de Mike Whitney.



No que toca ao campo imperialista, globalmente, será uma viragem que vai isolar os EUA e países alinhados com eles. 

Os BRICS estão cada vez mais sólidos: em termos de prestígio e de simpatia dos muitos países do Sul Global - coisa de que o público ocidental não se apercebe, devido a ocultação e deturpação nos media. Mas, também estão os BRICS em vésperas de lançar o seu novo sistema de moeda internacional, destinado a enterrar definitivamente o dólar. 

Entretanto, as entidades financeiras internacionais (FMI, Banco Mundial e o BIS), estão moribundas: Não só estão incapazes de lançar a tão propalada divisa digital emitida pelo banco central (CBCD), como já não conseguem capturar os países fracos. Estes sabem que podem obter empréstimos, em condições muito  mais favoráveis, junto do banco dos BRICS e/ou diretamente, em países poderosos (sobretudo, a China).

Alguns têm esperança de que a OTAN se afunde, se desfaça, uma vez que se perceba a sua inútil e antiquada maquinaria militar e a sua ainda mais antiquada doutrina estratégica (na continuidade da 1ª Guerra Fria). Parece-me que o sucesso do campo «multipolar» ultrapassa em muito o domínio militar, pois se verifica ao nível da tecnologia (civil ou militar), da produtividade e inovação, do comércio mundial, da economia (crescimento real do PIB dos seus diversos países) e da diplomacia (cimeiras dos BRICS e da OSX, cada vez mais participadas). 

Os estados-maiores do campo imperialista estão - de certeza - bem informados sobre isso. Não podem fazer nada de significativo em relação a muitos dos aspetos acima indicados. Apenas podem desencadear e acirrar guerras regionais. Não o fazem como etapa para uma guerra nuclear, mas estão a tornar cada vez maior a probabilidade desse «armagedão». 

Com efeito, os melhores especialistas consideram que uma guerra nuclear tem muitas probabilidades de se desencadear por engano, por deteção errada de um ataque nuclear pelo outro campo, sendo demasiado pouco o tempo para deliberar se tal é um ataque efetivo ou apenas um artefacto. 

Estamos assim, neste século tão sofisticado, à mercê de uma falha nos sistemas automáticos de deteção de mísseis balísticos.  

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

REFLEXÃO GEOESTRATÉGICA

Numa época de grande perturbação, como a que estamos vivendo, o facto de eu me atrever a fazer uma síntese, é - sem dúvida- um empreendimento temerário, da minha parte. Temerário, mas não impossível. Pois os meios fornecidos pela Internet e não controlados pelos poderes, multiplicam a capacidade de qualquer um. Temos acesso a muitas informações no que toca aos vários aspetos da cena internacional - economia, militares, diplomacia, etc.

Porém, a maior parte das pessoas não desenvolveu uma visão de conjunto, esta foi antes tornada opaca, pela enorme quantidade de «lixo informativo» que satura os diversos canais de informação.

           
             Navio de carga alvejado no Mar Vermelho

O meu propósito, aqui, é descrever com a maior franqueza o que tenho vindo a observar neste domínio da geoestratégia, ao longo dos últimos decénios. Deliberadamente, irei coibir-me de fazer prognósticos, sejam quais forem; o leitor que tire as suas conclusões. Eu irei, apenas, fazer o diagnóstico do que tem ocorrido no Mundo desde a implosão da URSS.

Com efeito, este é um marco muito importante para se compreender o que vem a seguir, embora a História contemporânea, o século XX, incluindo as duas Grandes Guerras Mundiais e todas as outras situações de guerra ou de conflito, que ocorreram quer entre as duas guerras mundiais, quer após a 2ª guerra mundial, sejam de primeiríssima importância para se compreender o mundo de hoje.

O marco da implosão da URSS é importante porque significou o desaparecimento de um Mundo dominado por duas superpotências. Mas, contrariamente à esperança ingénua de muitos (eu incluído), não houve paz verdadeira, na Europa e no Mundo: lembro as guerras desencadeadas pelo imperialismo triunfante contra o Iraque e a guerra civil que levou ao desmembramento da Jugoslávia, com os préstimos de uma Alemanha reunificada e força dominante da União Europeia.

Mas, no plano económico, a oligarquia do Mundo afluente deu passos de grande significado (e imprudência), nomeadamente, naquilo que chamam de «globalização». Este nome ocultou, na verdade, o propósito de domínio. Este termo de globalização escondia a ideologia subjacente: o neoliberalismo. Na Europa, principalmente, assistiu-se ao «enrolar» do cenário anterior, ou seja, o Estado Social-Democrático, ou Estado de Bem-Estar. Tratava-se de uma transitória repartição, menos assimétrica da riqueza na população, resultante dos superavits das economias, em crescimento rápido depois a IIª Guerra Mundial, permitindo assim manter satisfeitas as classes não-burguesas (assalariados, pequenos funcionários, campesinato) num consenso fabricado, afastando-as da atração exercida pelo socialismo, considerado por muitos ser a inevitável alternativa aos regimes capitalistas então vigentes. O processo de privatização das empresas estatais foi acompanhado pelo desmantelamento dos direitos sociais, conquistas de decénios de lutas populares. Mas este processo teve também como consequência que os grandes capitalistas já não tinham que enfrentar-se com governos que pretendessem obrigá-los a cumprir os objetivos gerais das sociedades, nas quais suas empresas operavam. Foi também possível essa transição graças ao arregimentar da casta política. Tratou-se de torná-la cativa através da corrupção ou, nos casos de tendências não-capitalistas, a marginalização, confinamento a um ghetto político. Além disso, datam dessa altura as discretas manobras visando ressuscitar a extrema-direita, pela primeira vez, desde o final da IIª Guerra Mundial, em muitos países europeus. Esta extrema-direita, aparecendo à luz do dia e concorrendo a eleições, cativou uma parte do eleitorado descontente. Grande parte do que refiro acima, decorreu durante a década de 1990; pelo menos, o desenrolar em grande escala da nova estratégia da oligarquia e os seus primeiros resultados práticos.

Uma primeira contradição que surgiu e foi-se acentuando: a desindustrialização do mundo capitalista mais afluente, realizada pela transferência de fábricas para zonas de não-respeito das regras do mercado laboral (ausência ou repressão dos sindicatos) e uma total indiferença à preservação do ambiente (indústrias depredadoras de recursos, poluição em grande escala ...). Os grandes capitalistas reconstituíam assim a capacidade de extraírem lucro, graças ao custo muito menor dos salários, à ausência de regulamentação, ou seu incumprimento, quer ao nível dos direitos laborais, quer da proteção do ambiente. Esses países tinham governos desejosos desses investimentos estrangeiros. Primeiro, foram as «maquiladoras» (perto da fronteira do México com os EUA), depois fábricas em países totalmente submetidos aos EUA, como o Haiti, as Filipinas, etc. Logo depois, ainda nos anos 80, a China «comunista» proporcionou uma força de trabalho disciplinada e diligente que permitiu a deslocalização das indústrias de eletrónica e de computadores, dos EUA e dos países mais avançados da UE (Reino Unido, Alemanha, França), para a China.

Entretanto, na ex-URSS, a Rússia estava sofrendo um processo de saque e desmantelamento, pelos oligarcas locais e por capitalistas abutres ocidentais. Quanto aos outros países, que antes faziam parte da URSS, reinavam oligarquias desejosas de vender os recursos nacionais (principalmente minerais) aos capitalistas do Ocidente; alguns desses governos eram formados por velhos burocratas do Partido Comunista que se reconverteram à pressa em vassalos do capitalismo globalizado, mantendo-se no poder através dos métodos autoritários de sempre. O desmantelamento da própria Rússia, era o desejo estratégico da tendência neoconservadora (chamada neocons) nos EUA, que se tinha entrincheirado nos postos chave dos ministérios e fazia parte de influentes «think-tanks». Este grupo, autêntico Estado dentro do Estado, considerava que a vitória na Guerra-Fria não estava completa. Para completá-la, era indispensável desmantelar a Rússia («balcanizar»), o maior país mundial, em termos de área, riquíssimo em recursos e escassamente povoado. Eles conseguiram influenciar a política de sucessivos presidentes dos EUA, desde Clinton, Bush Júnior, Obama, Trump, até Biden. A política externa foi sempre ditada pelos neocons, quer os presidentes fossem republicanos, quer democratas.


Esta situação, perigosa para a paz mundial e, em particular, para a paz europeia, teve o seu culminar com a guerra da Ucrânia. A estratégia, essencialmente a mesma durante mais de dois decénios, deve-se aos mais agressivos políticos e militares, que consideravam que os dirigentes dos EUA e da OTAN não tinham que honrar os compromissos assumidos com Gorbatchov, aquando do processo que levou à reunificação pacífica da Alemanha, em que os soviéticos se comprometeram a retirar suas tropas da Alemanha de Leste (DDR), a troco de não se efetuar o alargamento da OTAN, a países do ex-Pacto de Varsóvia. Este compromisso, assumido por Bush Sénior e - coletivamente - pelos líderes da OTAN, foi repetidamente negado ter existido, embora haja provas concludentes de que foi efetivamente assumido e por escrito .



Mas, os poderosos continuavam a fazer o que lhes apetecia, negando-se a qualquer diálogo sério com a Rússia. Note-se que esta, embora enfraquecida, continuava a ser a segunda maior potência mundial no armamento nuclear. As coisas só começaram a mudar, com a subida ao poder de Vladimir Putin, promovido por Ieltsin, nos seus últimos momentos de lucidez, depois de ter visto em que se transformara a Rússia.

A subida de Putin não se deveu a um golpe de Estado: foi uma evolução dentro dos marcos constitucionais e políticos da Rússia, na transição do milénio. Por mais que demonizem Putin, os propagandistas ocidentais não poderão ocultar o facto de que ele e seu governo propuseram que a Rússia se integrasse na OTAN. Esta proposta foi varrida com um revés de mão, como aconteceu a muitas outras iniciativas de «mão estendida» do governo da Rússia.

A última tentativa de diálogo sério entre gente adulta, tentada pela diplomacia russa, ocorreu no final do ano de 2021. Tratava-se de uma proposta de conversações ao mais alto nível, nos países europeus que - coletivamente - se reuniriam e encontrariam um modus vivendi, assegurando um sistema coletivo de segurança.

Nessa altura, os dirigentes da Europa e dos Estados Unidos já estavam, com o governo vassalo de Zelensky, a preparar o assalto final às repúblicas dissidentes do Don (República Popular de Lugansk e República Popular de Donetsk). Estas tinham-se separado do regime de Kiev, após o golpe de Maidan de 2014, porque não aceitavam serem oprimidas por Kiev, que queria impor-lhes a anulação do seu estatuto (constitucional) de regiões maioritariamente russófonas. Nesta situação, as repúblicas organizaram a sua autodefesa, contra as divisões e milícias (neonazis) de Kiev, apoiadas pelos países da OTAN: Durante 8 anos, foram treinadas, armadas e equipadas pelos ocidentais. Cerca de 14 mil mortes civis, durante esses oito anos (do início da guerra civil ucraniana, até à invasão russa) resultaram do constante bombardeamento, pelo exército do regime de Kiev, de centros de cidades e de outros locais com civis, nas duas repúblicas. Deve-se sublinhar, que Putin hesitou muito até vir em auxílio a este povo russo martirizado. Em Janeiro de 2022, os serviços de espionagem russos sabiam que a ofensiva de Kiev estava iminente. A opinião pública russa nunca lhe iria perdoar, se ele não fizesse nada, perante a ofensiva contra as repúblicas do Donbas: cerca de 70 mil tropas ucranianas de elite, bem treinadas e equipadas, preparavam-se para invadir estes territórios. Poucos dias antes da invasão da Ucrânia pela Federação Russa (24 de Fevereiro de 2022), as repúblicas dissidentes estavam a ser bombardeadas com maior intensidade, num crescendo que prenunciava a invasão iminente pelo exército ucraniano.

Dos desenvolvimentos e peripécias desta guerra, outros terão escrito com bastante rigor e pormenor. Eu contento-me em dizer que foi uma guerra cruel e inútil, que deixará marcas indeléveis nos povos da região, mas também implicará uma divisão duradoira entre europeus ocidentais e orientais.

Hoje, já se pode afirmar - sem parcialidade - que se está perante a derrota do exército ucraniano, após cerca de dois anos de guerra, uma guerra desejada e incentivada pela OTAN. Isto significa cerca de um milhão de baixas de militares ucranianos, além das baixas de civis e da destruição causada pela guerra. Do lado russo, não tenho dados precisos pois, desde o princípio, as fontes oficiais russas não fornecem números. O que dizem as fontes jornalísticas ocidentais tem sido - quase sempre - um exagero, elas são um mero instrumento de propaganda anti- russa.

Em definitivo, a guerra russo-ucraniana é um acontecimento trágico, também para os povos europeus ocidentais: ficaram sujeitos a uma oligarquia militarista e fascistoide, ela própria obedecendo aos imperialistas americanos. Estes, acentuaram o tratamento dos países europeus sob «proteção» da OTAN, como vassalos aos quais se pode mandar fazer tudo o que decida Washington DC.

No futuro, não haverá paz no continente europeu. Pelo menos, rapidamente, pois não se vislumbra tal vontade. Os russos não se sentem inclinados a negociar um acordo: têm experiência de que os dirigentes europeus e norte-americanos não cumprem os compromissos assumidos. Entre muitos factos graves, os dirigentes dos EUA deixaram caducar, não renovaram ou denunciaram os acordos relacionados com armas nucleares (com grande significado no continente europeu), negociados na década de 70 e nas duas décadas seguintes.

Por outro lado, não se pode esperar do lado ocidental uma viragem no sentido da distensão: os militaristas dominam a OTAN. Os governos na Europa ocidental são submissos aos EUA, cada vez mais imperiais. O mais recente caso, é significativo. A decisão americana unilateral de interromper* o envio de gás LNG aos países europeus, o qual era vendido por preço bem alto, aliás. O seu comportamento é mais uma facada nas costas da Europa, depois de terem promovido a destruição no Mar Báltico, dos gasodutos Nordstream I e II, que abasteciam de gás russo a Alemanha e outros países europeus. Os que governam os EUA, não são «amigos» da Europa.

Duvido que a destruição física da população de Gaza, com a complacência e ajuda material do «Ocidente», seja grande trunfo para exibir como prova do respeito pelos direitos humanos e da simples decência, aos olhos dos países do Sul Global (ver PS1).

O ponto a que se chegou, mostra que o momento unipolar da geopolítica mundial está a chegar ao fim. Isto ocorre mais depressa do que praticamente todos os observadores imaginaram.

Não apenas as bases dos EUA em território hostil, sírio ou iraquiano, estão à mercê de ataques por milícias, desejosas de expulsar os americanos. Também as frotas dos EUA e de dois ou três aliados, estacionadas à entrada do Mar Vermelho são «sitting ducks» (alvos fáceis). O mesmo, em relação aos porta-aviões americanos no Mediterrâneo, ao largo de Israel e do Líbano. As forças do Hezbollah têm mísseis com alcance (e com precisão) mais do que suficiente para atingir e afundar esses porta-aviões.

                                  Sitting Duck, em https://johnhelmer.net/

Então, para que se põem os EUA a fazer estas provocações? - Sem dúvida, querem mostrar que não se deixam intimidar e que continuarão a dar o seu apoio ao governo genocida de Netanyahu. Mas, tanto no Iémen como no Líbano, está fora de questão fazerem desembarques com marines, para conquistar posições dos Houthis, ou do Hezbollah. O espetáculo que dão é dum «gigante com os pés de argila». O Irão e todo o Eixo da Resistência (forças governamentais e milícias no Iraque, Síria, Líbano, Iémen e Palestina) aprenderam as táticas que resultam, nesta guerra assimétrica: estão agora a pôr isso em prática. Estão a flagelar o inimigo através de ataques simultâneos e causando baixas, mas não chegam ao ponto de provocar um ataque americano em larga escala, que só seria desencadeado em caso extremo, devido ao risco de fiasco. Esta tensão permanente obriga os americanos a verter cada vez mais reforços, a aumentar os ataques pela aviação e por mísseis; porém, sem vantagem decisiva, sem vitória. No final, terão de recuar, após terem perdido soldados, material de guerra valioso e prestígio.

Não sei o que o amanhã trará, por isso não faço conjeturas. Não me admira que, nos próximos tempos, a instabilidade aumente. Poderá haver novos focos de violência e de guerra.

A chamada «globalização» foi um enorme fiasco. Agora, o Globo está dividido: Dum lado, os herdeiros das potências coloniais e neocoloniais, o Ocidente; do outro, o Sul Global, com a locomotiva da aliança tríplice Rússia - China - Irão, em coordenação com os restantes Estados dos BRICS alargados. Ao todo, estes já perfazem a maioria da população mundial e cerca de metade do PIB mundial.

Murtal/ Parede, 31 de Janeiro de 2024




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* Parece inacreditável, mas esta medida, que prejudica os aliados/vassalos dos EUA, terá que ver com questões internas dos EUA, nomeadamente a «revolta» do governador do Texas e/ou com a luta contra «alterações climáticas». Veja:

PS1: A sentença do TIJ - que obrigava o Estado de Israel a tomar conta das situações humanitárias - foi sabotada pelo mesmo Estado de Israel, com o pretexto de que a UNRW era capa para ativistas do Hamas. Em consequência, os ocidentais decidiram de imediato suspender a sua contribuição financeira, no momento em que esta é absolutamente indispensável aos cerca de 1,7 milhão de refugiados. Se esta medida parece retaliação contra a população de Gaza, é porque é isso mesmo, de facto: 


PS2: Leia a notícia abaixo que confirma e reforça a nossa primeira informação sobre a «suspensão» do envio de LNG dos EUA para a Europa: https://www.zerohedge.com/geopolitical/russian-media-thrilled-bidens-lng-gift-putin

PS3: Como afirmei anteriormente ( ver AQUI) não há dúvida de que se está num momento em que a classe dominante, em desespero, vai fazendo erros atrás de erros, cada qual mais grave: https://www.moonofalabama.org/2024/02/screw-the-facts-europe-commits-itself-to-further-escalation.html#more

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

UCRÂNIA: REGIME DE ZELENSKY CONTESTADO POR DENTRO


 Pirâmide demográfica da Ucrânia: As classes etárias em torno dos 25 anos estão em défice acentuado. 

 https://www.moonofalabama.org/2023/11/ukraines-demographics-dictate-to-end-the-fight.html

O comandante-chefe das forças armadas ucranianas, Zeluzhnyideu uma entrevista ao magazine britânico «The Economist», em que se mostra realista em relação à guerra Ucrânia-Rússia. Este posicionamento desagradou aos setores de extrema-direita, que controlam o governo de Zelensky e à CIA, que controla o regime de Kiev. 

Porém, a mortandade causada pela guerra de atrição prolongada acaba por tornar impossível a defesa das próprias linhas de retaguarda ucranianas, por falta de soldados. No desespero de encontrar mais carne para canhão, o governo de Kiev decretou a conscrição forçada dos estudantes do ensino superior e de jovens mulheres. 

Zelensky e fanáticos de extrema-direita que o rodeiam, temem somente por eles próprios. Apesar da retórica nacionalista, não têm consideração pelo futuro do seu país e do seu povo.  Há cada vez maior dissidência em relação ao governo. Tem havido boatos segundo os quais três generais estariam em vias de ser demitidos.

É certo que o sacrifício das mais jovens gerações é absurdo, nestas circunstâncias. A probabilidade de vencer é nula e o seu sacrifício põe em xeque o crescimento demográfico no pós-guerra. A situação militar é tão má, que a Ucrânia deveria propor um cessar-fogo e negociar um tratado de paz, mesmo que ele seja nos termos ditados pela Rússia: É isso, ou o desaparecimento da Ucrânia, enquanto Estado independente. 

Na sua arrogância estúpida, os governantes americanos e europeus não puseram sequer a hipótese duma derrota ucraniana e ainda menos, com esta amplitude. 

Alguns observadores pensam que um dos motivos para os EUA terem dado carta branca à campanha genocida de Israel sobre a população de Gaza, é que ela vem desviar as atenções da enorme derrota dos EUA e da OTAN na Ucrânia.

A questão demográfica já existia muitos anos antes do início da guerra com a Rússia, em Fevereiro de 2022. O défice demográfico, agora mais acentuado, limita severamente a viabilidade  económica da Ucrânia, no período pós-guerra. 

- Explicações pormenorizadas sobre o assunto no blog Moon of Alabama, «Ukraine's Demographics Dictate To End The Fight».

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PS1 - Veja a entrevista dada pelo Prof. Jeffrey Sachs, dada a 21 de Nov. 2023:   https://www.youtube.com/watch?si=Atgmv32VbAFjQ0RI&v=CsDPDIx8bPY&feature=youtu.be

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

BULLSHIT NOTE [WILLIAM BANZAI]

 Graças ao talento e boas conexões de William Banzai, podemos mostrar, em primeira mão, o aspeto da nova Bullshit Note, que irá ser posta a circular:


Uma nova era para os EUA é inaugurada, com Joe Biden e seu governo.

Aquela cara parada, o olhar vazio, como de um imbecil, reconhecem? 

O novo formato de «Bullshit Note» tem as assinaturas necessárias para ser legal: 

Volodymyr Zelensky e Hunter Biden. 

Em breve, irá circular nos EUA. Não creio que tenha grande procura mundial, apesar dos esforços conjugados de Jerome Powell, Janet Yellen e todos os destacados «bullshit PhDs».

domingo, 20 de agosto de 2023

Seymour Hersh: O VERÃO DOS FALCÕES

Seymour Hersh: Summer of the Hawks (O Verão dos Falcões)

O tomar os desejos pela realidade continua sendo a regra na equipa de política externa de Biden, enquanto continua a carnificina na Ucrânia.




O Secretário de Estado Anthony Blinken fala durante a cimeira para líderes africanos em Washington, DC, 02 de Agosto 2023. (Foto oficial do Departamento de Estado por Chuck Kennedy)

(transcrevo o artigo da página de Seymour Hersh / Substack )


It’s been weeks since we looked into the adventures of the Biden administration’s foreign policy cluster, led by Tony Blinken, Jake Sullivan, and Victoria Nuland. How has the trio of war hawks spent the summer?

Sullivan, the national security adviser, recently brought an American delegation to the second international peace summit earlier this month at Jeddah in Saudi Arabia. The summit was led by Crown Prince Mohammed bin Salman, known as MBS, who in June announced a merger between his state-backed golf tour and the PGA. Four years earlier MBS was accused of ordering the assassination and dismemberment of the journalist Jamal Khashoggi at the Saudi consulate in Istanbul, for perceived disloyalty to the state.

As unlikely as it sounds, there was such a peace summit and its stars did include MBS, Sullivan, and President Volodymyr Zelensky of Ukraine. What was missing was a representative of Russia, which was not invited to the summit. It included just a handful of heads of state from the fewer than fifty nations that sent delegates. The conference lasted two days, and attracted what could only be described as little international attention.

Reuters reported that Zelensky’s goal was to get international support for “the principles” that that he will consider as a basis for the settlement of the war, including “the withdrawal of all Russian troops and the return of all Ukrainian territory.” Russia’s formal response to the non-event came not from President Vladimir Putin but from Deputy Minister of Foreign Affairs Sergei Ryabkov. He called the summit “a reflection of the West’s attempt to continue futile, doomed efforts” to mobilize the Global South behind Zelensky.

India and China both sent delegations to the session, perhaps drawn to Saudi Arabia for its immense oil reserves. One Indian academic observer dismissed the event as achieving little more than “good advertising for MBS’s convening power within the Global South; the kingdom’s positioning in the same; and perhaps more narrowly, aiding American efforts to build consensus by making sure China attends the meeting with . . . Jake Sullivan in the same room.”

Meanwhile, far away on the battlefield in Ukraine, Russia continued to thwart Zelensky’s ongoing counteroffensive. I asked an American intelligence official why it was Sullivan who emerged from the Biden administration’s foreign policy circle to preside over the inconsequential conference in Saudi Arabia.

“Jeddah was Sullivan’s baby,” the official said. “He planned it to be Biden’s equivalent of [President Woodrow] Wilson’s Versailles. The grand alliance of the free world meeting in a victory celebration after the humiliating defeat of the hated foe to determine the shape of nations for the next generation. Fame and Glory. Promotion and re-election. The jewel in the crown was to be Zelensky’s achievement of Putin’s unconditional surrender after the lightning spring offensive. They were even planning a Nuremberg type trial at the world court, with Jake as our representative. Just one more fuck-up, but who is counting? Forty nations showed up, all but six looking for free food after the Odessa shutdown”—a reference to Putin’s curtailing of Ukrainian wheat shipments in response to Zelensky’s renewed attacks on the bridge linking Crimea to the Russian mainland.

Enough about Sullivan. Let us now turn to Victoria Nuland, an architect of the 2014 overthrow of the pro-Russian government in Ukraine, one of the American moves that led us to where we are, though it was Putin who initiated the horrid current war. The ultra-hawkish Nuland was promoted early this summer by Biden, over the heated objections of many in the State Department, to be the acting deputy secretary of state. She has not been formally nominated as the deputy for fear that her nomination would lead to a hellish fight in the Senate.

It was Nuland who was sent last week to see what could be salvaged after a coup led to the overthrow of a pro-Western government in Niger, one of a group of former French colonies in West Africa that have remained in the French sphere of influence. President Mohamed Bazoum, who was democratically elected, was tossed out of office by a junta led by the head of his presidential guard, General Abdourahmane Tchiani. The general suspended the constitution and jailed potential political opponents. Five other military officers were named to his cabinet. All of this generated enormous public support on the streets in Niamey, Niger’s capital—enough support to discourage outside Western intervention.

There were grim reports in the Western press that initially viewed the upheaval in East-West terms: some of the supporters of the coup were carrying Russian flags as they marched in the streets. The New York Times saw the coup as a blow to the main US ally in the region, Nigerian President Bola Ahmed Tinubu, who controls vast oil and gas reserves. Tinubu threatened the new government in Niger with military action unless they returned power to Bazoum. He set a deadline that passed without any outside intervention. The revolution in Niger was not seen by those living in the region in east-west terms but as a long needed rejection of long-standing French economic and political control. It is a scenario that may be repeated again and again throughout the French-dominated Sahel nations in sub-Saharan Africa.

There are distinctions that do not bode well for the new government in Niger. The nation is blessed, or perhaps cursed, by having a significant amount of the remaining natural uranium deposits in the world. As the world warms up, a return to nuclear generated power is seen as inevitable, with obvious implications for the value of the stuff underground in Niger. The raw uranium ore, when separated, filtered and processed is known worldwide as yellowcake.

The corruption so often “talked about in Niger is not about petty bribes by government officials, but about an entire structure—developed during French colonial rule—that prevents Niger from establishing sovereignty over its raw materials and over its development,” according to a recent analysis published by Baltimore’s Real News Network. Three out of four laptops in France are powered by nuclear energy, much of which is derived from uranium mines in Niger effectively controlled by its former colonial overlord.

Niger is also the home of three American drone bases targeting Islamic radicals throughout the region. There are also undeclared Special Forces outposts in the region, whose soldiers receive double pay while on their risky combat assignments. The American official told me that “the 1,500 US troops now in Niger are exactly the number of American troops who were in South Vietnam at the time John F. Kennedy took over the presidency in 1961.”

Most important, and little noted in Western reporting in recent weeks, Niger is directly in the path of the new Trans-Saharan pipeline being constructed to deliver the Nigerian gas to Western Europe. The pipeline’s importance to Europe’s economy was heightened last September by the destruction of the Nord Stream pipelines in the Baltic Sea.

Into this scene came Victoria Nuland, who must have drawn the short straw inside the Biden Administration. She was sent to negotiate with the new regime and to arrange a meeting with the ousted President Bazoum, whose life remains under constant threat from the governing junta. The New York Times reported that she got nowhere after talks she described as “extremely frank and at times quite difficult.” The intelligence official put her remarks to the Times in American military lingo: “Victoria set out to save the Niger uranium owners from the barbaric Russians and got a huge single-finger salute.”

Quieter in recent weeks than Sullivan and Nuland has been Secretary of State Tony Blinken. Where was he? I asked that question of the official, who said that Blinken “has figured out that the United States”—that is, our ally Ukraine—“will not win the war” against Russia. “The word was getting to him through the Agency [CIA] that the Ukrainian offense was not going to work. It was a show by Zelensky and there were some in the administration who believed his bullshit.

“Blinken wanted to broker a peace deal between Russia and Ukraine as Kissinger did in Paris to end the Vietnam war.” Instead, the official said, “it was going to be a big lose and Blinken found himself way over his skis. But he does not want to go down as the court jester.”

It was at this moment of doubt, the official said, that Bill Burns, the CIA director, “made his move to join the sinking ship.” He was referring to Burns’s speech earlier this summer at the annual Ditchley conference near London. He appeared to put aside his earlier doubts about expanding NATO to the east and affirmed his support at least five times for Biden’s program.

“Burns does not lack self-confidence and ambition,” the intelligence official said, especially when Blinken, the ardent war hawk, was suddenly having doubts. Burns served in a prior administration as deputy secretary of state and running the CIA was hardly a just reward.

Burns would not replace a disillusioned Blinken, but only get a token promotion: an appointment to Biden’s cabinet. The cabinet meets no more than once a month and, as recorded by C-SPAN, the meetings tend to be tightly scripted affairs and to begin with the president reading from a prepared text.

Tony Blinken, who publicly vowed just a few months ago that there would be no immediate ceasefire in Ukraine, is still in office and, if asked, would certainly dispute any notion of discontent with Zelensky or the administration’s murderous and failing war policy in Ukraine.

So the White House’s wishful approach to the war, when it comes to realistic talk to the American people, will continue apace. But the end is nearing, even if the assessments supplied by Biden to the public are out of a comic strip.

© 2023 Seymour Hersh

NOTE TO SCHEERPOST READERS: We are happy to be able to run some of Sy Hersh’s pieces from his new Substack venture. Please, if you can, sign up at seymourhersh.substack.com so you can support Sy Hersh’s work and the ability to bring it here on ScheerPost. Thank you!

sábado, 8 de julho de 2023

SCOTT RITTER DÁ ENTREVISTA ESCLARECEDORA

NB: Desde os primeiros tempos deste blog que tenho publicado sobre a Ucrânia e o renovo da guerra-fria no continente europeu. Convido os leitores a pesquisar neste blog, usando palavras-chave relevantes como «Ucrânia», «Rússia», «OTAN» etc.


Scott Ritter: Cobardia dos líderes do Ocidente, em especial dos EUA, ao  sacrificarem o povo da Ucrânia na guerra contra a Rússia, não arriscando intervir abertamente com suas tropas. 
Scott Ritter fala sobre a forma como a Operação Militar Especial ocorreu e o papel dos países da OTAN na rutura do acordo já negociado com o governo Zelensky nas conversações (Turquia, em Março 2022).
Scott Ritter dá vários esclarecimentos  sobre...
- O papel do agrupamento Wagner na resistência das repúblicas do Donbass e depois na Operação Militar Especial. 
- O jogo de Prigozhin a partir do momento em que já não podia ter, oficialmente, o agrupamento Wagner nas repúblicas de Donetsk e Lugansk, que integraram a Federação da Rússia, pois a lei russa proíbe que sejam usadas tropas mercenárias no seu solo. Estava previsto estes mercenário serem recrutados como voluntários pelo exército russo e inseridos em unidades regulares.
- Descreve o esquema corrupto de gestão e de recrutamento dos mercenários de Wagner por Prigozhin.
Scott Ritter relembra que ele tinha previsto que este Verão de 23 seria de revolução na Europa
- Explica as razões pelas quais as sanções europeias e americanas contra a Rússia foram um fiasco.
                                                 
                                                                       ....



 Veja também uma avaliação da situação por B. de «Moon of Alabama»

segunda-feira, 10 de abril de 2023

CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL (nº12) GUERRA E PROPAGANDA



 Já sabemos que a guerra é um acontecimento disruptivo e uma catástrofe pessoal, familiar e social, para os povos nela envolvidos. Também sabemos que, quem governa, apresenta «motivos» para fazer a guerra. Pretextos, mais ou menos bem cozinhados, com «factos» inventados e «falsas bandeiras», como foi a «invasão polaca» dum posto fronteiriço da Alemanha, pretexto para o desencadear da invasão da Polónia pelas tropas do IIIº Reich, ou a provocação permanente, «secando» o Japão de petróleo (1) e empurrando o Japão imperial contra os EUA para, desta forma, o governo americano ter um pretexto credível junto da sua opinião pública, para entrar em guerra, juntando-se aos Aliados da coligação anti- hitleriana. 

                                      Pilotos kamikases japoneses,  IIª Guerra Mundial

Mas, para manter a adesão dos próprios cidadãos dum país em guerra, a máquina de propaganda do Estado e a media ao serviço dos interesses dominantes, vão esforçar-se por fabricar uma realidade, para manter o apoio popular a essa guerra e às posições do governo, não com base em realidades mas, antes, com base na distorção dos factos. Usam uma narrativa que se impõe através da repetição exaustiva da mentira. Uma técnica aprendida com Goebbels: «Se disserem uma mentira mil vezes, ela passa por verdade». Mas também, com a omissão de factos relevantes, ou o hipertrofiar de hipóteses, mais ou menos verosímeis, como se fossem «factos» inquestionáveis. 

                      Joseph Goebbels, ministro de Hitler

Por exemplo, a OTAN e os seus governos apresentaram a invasão russa de 24 de Fevereiro de 2022, como sendo uma «agressão não motivada». Evidentemente, com a omissão de que antes desta guerra russo-ucraniana, nos 8 anos após o golpe realizado com auxílio dos EUA e da UE, que derrubou um governo legítimo, os «ocidentais» prepararam, equiparam e treinaram, as forças militares ucranianas, de modo a que estas atingissem o nível considerado «apto para combater nas fileiras da OTAN». 

O exército ucraniano (2), em Janeiro de 2022 estava posicionado no Don e preparava-se para invadir os territórios das Repúblicas rebeldes. Tal invasão iria, segundo os estrategas da OTAN e da Ucrânia, «resolver» o problema do separatismo pela erradicação da resistência por meios militares, ou seja, negando enfática e explicitamente o compromisso, a solução negociada que era substância e letra dos acordos de Minsk. Em suma: preparavam-se abertamente para completar o crime de genocídio, contra uma parte da sua própria população.

Claro que esta situação nunca é explicada ao público dos países ocidentais, quer pelos governos da OTAN, quer pelos media que alinham caninamente com a política dos respectivos governos, liderando campanhas histéricas em relação aos «inimigos».  


Tropas da OTAN em treinos no Báltico junto à fronteira da Rússia

De facto, o verdadeiro inimigo fala a nossa língua, tem lugares proeminentes nos departamentos de Estado, pode considerar-se - sem exagero - que é composto por traidores ao serviço de uma potência estrangeira ...  Penso que já compreenderam que me estou a referir aos nossos respetivos governos,  com as máquinas de apoio político e propagandístico, que eles manobram. 

Ao fim e ao cabo, eles conseguem exercer o seu papel, ou porque as pessoas têm sido enganadas, ou porque, quem sabe a verdade, tem medo de a dizer frontalmente. A intimidação é o objetivo das campanhas de difamação contra vozes dissonantes, mesmo as vindas de dentro do  próprio sistema, sejam de políticos, militares, académicos, ou de celebridades. Nestes casos, a «penalidade» habitual é o blackout e o ostracismo; mas, pode ir até ao assassinato (3)  .

                                 MLK Jr.: Assassinado por se opor à guerra do Vietname

Os vira-casacas também são de todas as épocas. Já se veem pessoas a fazer uma «conversão», a «repudiar» a causa que defenderam, como se - de repente - tivessem visto «a luz», ou como se tivessem sido «contra» em segredo. Na verdade, viram algo bem mais terra-a-terra; viram que as probabilidades do seu lado ser vencedor, se esfumaram. 

No caso da presente guerra da OTAN contra a Rússia, aquela aliança militar (agressiva e não defensiva) está numa situação desfavorável e por sua própria culpa. Os EUA e "aliados" (= vassalos) mostraram imensa «húbris», nenhum senso, nenhuma precaução: Desrespeitaram os acordos de Minsk, dos quais eram cossignatários, juntamente com o governo ucraniano e os governos das Repúblicas do Don. Tudo o que fizeram durante esse período, foi encorajar a agressividade do governo da Ucrânia. Este, controlado por nacionalistas-étnicos, que têm um ódio de morte à Rússia e aos russos, queria «limpar» de russófonos as Repúblicas separatistas do Don.  

O regime ucraniano estava decidido a fazer este ato de agressão contra o seu próprio povo, razão pela qual os russos invadiram a Ucrânia em Fevereiro de 2022, logo depois de terem formalmente reconhecido a independência das duas repúblicas do Don. Afinal, eles não fizeram mais do que impedir a realização do ataque iminente contra as referidas repúblicas. Um exército ucraniano de elite, com armas modernas, estava estacionado, desde Janeiro de 2022, em frente da região do Don. Quotidianamente, bombardeavam zonas citadinas das repúblicas, causando mortos e feridos civis. Nas últimas semanas antes da invasão russa, intensificaram os bombardeamentos, facto que foi observado e registado pelos observadores da OSCE

À partida, toda a gente bem informada sobre as forças militares em presença, sabia que o resultado da guerra seria o que está a acontecer, agora. Uma derrota dos exércitos ucranianos, face à superioridade numérica, em equipamento e à produção industrial russa (sobretudo de munições) nas quantidades necessárias para abastecer as tropas do lado russo. 

Do lado ucraniano, o exército foi desbaratado nos primeiros dias da invasão, a sua força aérea foi neutralizada, assim como as defesas antiaéreas. Sofreu imensas perdas em soldados bem treinados, tendo que preencher as fileiras com recrutas muito pouco ou nada treinados, arrastados muitas vezes à força (4). Quanto ao material, era desadequado, ou por ser antiquado (material da era soviética), ou dos países da OTAN, o qual ou não se adequava às condições do terreno, ou era demasiado sofisticado, obrigando a um treino longo (feito em países da OTAN; França, Alemanha, etc.); ou esse equipamento era servido por soldados da OTAN, transformados em «voluntários». Assim, para os militares e políticos da Ucrânia, a única esperança de não perderem a guerra era o envolvimento direto e sem máscara dos países da OTAN.                                          

A Polónia, membro da OTAN, interveio com um número apreciável de efetivos (estimados em cerca de 20 mil homens) e tem sofrido pesadas baixas. Campos de treino de mercenários (quase todos de países da OTAN) no oeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Polónia, foram atingidos por mísseis hipersónicos russos, causando muitos mortos e feridos. 

Era claro que a Rússia podia usar estas mesmas armas, impossíveis de interceptar, contra os estados-maiores políticos e militares inimigos. Porém, o jogo da Rússia não era de aniquilar o governo ucraniano, mas de o obrigar a sentar-se à mesa de negociações. Conseguiu estabelecer, na Bielorrússia primeiro, e depois na Turquia, conversações com vista a um cessar-fogo e á paz. Isto passou-se pouco mais de um mês após o início da invasão. Em Istambul, as delegações tinham chegado a um pré-acordo. O presidente ucraniano, Zelensky, muito pressionado pelos Anglo-Americanos (Boris Johnson foi a Kiev para dar «o recado»), deu ordem para a delegação ucraniana congelar as conversações e recusar qualquer acordo. Nesta altura, a propaganda dos ocidentais fazia grande barulheira, fazendo crer que os russos estavam em retirada, enfraquecidos, que estavam a perder a guerra. Podemos ter a certeza que os estados-maiores e as agências de espionagem ocidentais sabiam que isso não era verdade. Mas queriam convencer as opiniões públicas, de que a sua escolha de fazer a guerra à Rússia, usando como «ariete» o regime ucraniano, estava a dar bons resultados. O estado-maior ucraniano também não podia ter ilusões, mas os políticos ucranianos ultra- nacionalistas (para não dizer nazis) queriam, a todo o custo, a continuação da guerra. Eles chegaram a assassinar a sangue-frio um diplomata ucraniano que participou nas negociações de Istambul. Fizeram isso, como sinal de que seriam impiedosos com quaisquer que, no governo e forças armadas ucranianas, se atrevessem a propor uma solução negociada com a Rússia.

Além da opinião pública ignorar (por ser desinformada) o que aconteceu, em especial, nestas conversações e como foram brutalmente interrompidas pela ingerência direta anglo-americana, ela era quotidianamente «bombardeada» com falsos relatos horripilantes, sobre a conduta dos soldados russos em território ucraniano. Nalguns casos, foi possível comprovar que os crimes foram perpetrados pelas tropas ucranianas (5) e falsamente atribuídos aos soldados russos. 

A propaganda da OTAN e da imensa maioria da media ocidental, também seguiu aquela frase, que dizia que «a mentira é tanto mais facilmente engolida pelas massas, quando mais inverosímil parecer» (Goebbels).

No cômputo geral, a guerra na Ucrânia está perdida para a OTAN e os ucranianos têm um país depauperado, em ruínas, um Estado com uma dívida astronómica e incapaz de refazer um semblante de unidade nacional. Depois de tudo o que fizeram, o governo e seus apoiantes estão desacreditados perante a população. 

Este resultado era previsível. Desde a guerra da Coreia (que foi uma espécie de «empate») as guerras em que os EUA se envolveram diretamente, ou que foram instigadas por eles, resultaram em desastre, mesmo quando os EUA estiveram, temporariamente, numa posição militar de domínio absoluto nas primeiras fases (lembram-se do Iraque?). 

Os neocons têm a obsessão do domínio (full spectrum dominance) e sobretudo, preferem a destruição do «inimigo», a qualquer solução negociada. Lembrem-se naquilo em que transformaram a Líbia, o país mais próspero de África. Quando podem causar divisões entre países, ou entre fações num país, fazem-no, mascarando as ingerências como «revoluções coloridas»; foi assim na Síria e numa dúzia doutros países do Médio-Oriente e noutras regiões.

O problema, falando pragmaticamente, é que as guerras diretas entre superpotências são demasiado perigosas,  podem transformar-se em holocausto nuclear.  Nesta hipótese, afetando gravemente toda a humanidade, não haverá senão vencidos. Ou, caso sejam as chamadas guerras por procuração, vão causar a destruição dos países e o seu empobrecimento duradoiro, para além das mortes, feridos e destruição (foram os casos do Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iémen e agora o caso da Ucrânia).

Por isso, um governo responsável nunca deveria empurrar outras nações para a guerra. O que chamam «diplomacia dos EUA», é apenas fazer intervir a CIA, a NED e outras agências encobertas, que promovem a subversão dos regimes que não agradam ao poder imperial dos EUA. Eles também impõem sanções brutais, destinadas a afetar as populações, por definição inocentes dos crimes, praticados ou não, pelos seus governos. São especialistas em criar casus belli, usando ataques de falsa bandeira, fornecendo o pretexto para bombardeamentos e invasões, literalmente não deixando «pedra sobre pedra». Depois, dominam esse país de modo colonial. Tal comportamento é essencialmente igual nas administrações democratas ou republicanas. Todo este caos traz imensos lucros para as empresas de mercenários (6) e fornecedoras de equipamento militar e armamento (a maior indústria e que mais exporta, nos EUA). Esta política alimenta e é alimentada pela corrupção a todos os níveis, desde as empresas com contratos para a «reconstrução» desses países, até às chorudas «comissões» aos membros do governo e do congresso.

Chegou o tempo em que o poder político e económico dos EUA se está a revelar tal como ele é, na realidade. 

O que descrevi acima faz sentido, em si mesmo. Além disso, explica a muito recente movimentação de ex-aliados dos EUA, Arábia Saudita, Turquia, Japão... Estão a desertar o campo «ocidental» ou seja, os EUA, mais seus vassalos, porque temem a «benevolência» yankee!

Por estes motivos, creio sinceramente que os maiores inimigos do chamado Ocidente são, sem sombra de dúvida, OS SEUS PRÓPRIOS GOVERNOS.


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1) O Japão, nessa altura, tinha os EUA como seu único fornecedor de petróleo. O Japão era um aliado do «Eixo», com a Alemanha, Itália e outras potências.

2) Eram cerca de 80 mil, os soldados das unidades de elite do exército ucraniano, estacionados frente às fronteiras das repúblicas separatistas.

3) Martin Luther King, é um exemplo: tem sido celebrado como «mártir da causa negra», mas hoje, sabe-se que ele foi assassinado porque se ergueu contra a GUERRA DO VIETNAME.

4) Filmes vídeo mostram civis a serem arrastados e metidos à força em camiões do exército em cidades ucranianas.

5) É o caso muito falado da vila de Bucha, onde os ucranianos construíram uma encenação  depois de terem matado civis «colaboradores» dos russos (pessoas que receberam ajuda sob forma de alimentos), dispuseram os cadáveres alinhados ao longo da estrada principal, muitos tinham ainda a braçadeira branca que significava que não eram inimigos dos russos.

6) Um exército sempre pronto a intervir, com mais de 50 mil homens disponíveis a qualquer momento.

segunda-feira, 3 de abril de 2023

KIM IVERSEN: «A GUERRA PODE TERMINAR EM BREVE, DIZ ZELENSKY»

Na entrevista com Scott Ritter,  militar dos EUA que participou do dispositivo para vigilância do cumprimento do tratado de limitação de armas estratégicas, são esclarecidos muitos pontos da guerra de desgaste, que tem levado ao sucesso da «Operação Especial da Rússia».



 

quarta-feira, 1 de março de 2023

CRÓNICA* (Nº11) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: «STOP THE KILLING !! PAZ AGORA!!»



https://libertarianinstitute.org/news/stop-the-killing-major-antiwar-protests-held-in-germany-france-and-italy/

Apesar do black-out mediático e do comportamento ameaçador dos governos europeus face a toda a dissidência, múltiplas manifestações pela paz ocorreram no fim de semana passado na Europa. Veja a notícia acima.

Entretanto, no cenário da guerra na Ucrânia, Bahkmut está de facto cercada. Esta cidade é o ponto chave das ligações no Donetsk e tem sido defendida pelo exército ucraniano, à custa de muitas centenas de mortes (diárias!) e de feridos. Muitos analistas militares, incluindo dos EUA, pensam que é um desperdício de homens, de material e de energia sem qualquer razão lógica. A guerra tem sido conduzida, do lado ucraniano, por políticos desde Kiev, onde Zelensky pousa como uma espécie de «herói de opereta». O chefe do estado-maior, o general Zelusny, tem tentado levar Zelensky e seu governo a tomarem medidas que protejam as suas tropas, encolhendo de dia para dia, dizimadas pela guerra de atrição, levada a cabo pelas forças russas. Mas, suspeita-se que o intuito dos conselheiros americanos, ingleses e de outros países da OTAN, que «aconselham» Zelensky seja, em primeiro lugar, o de obter o máximo desgaste político e militar no lado russo; não estão interessados na paz, que pouparia milhares de vidas de militares e civis ucranianos. 

Se pensarmos bem, de facto a guerra no terreno será a verdadeira guerra e a guerra dos media, por mais influentes que estes sejam sobre as populações ocidentais, não têm nenhum efeito prático. Mesmo as ajudas muito concretas de todo o tipo da OTAN, financeiras, em peritos militares, em armas e em equipamento, têm muito pouco efeito. Os envios de material miliar, desde mísseis, a tanques, canhões, veículos de transporte, não têm muito efeito pois eles são destruídos com frequência, antes mesmo de serem utilizados em combate (detetados e destruídos nos locais de armazenamento, pelos russos) 

Veja-se a crueldade dos dirigentes políticos da OTAN. Eles sabem a verdade, tão bem ou melhor que nós, só que inundam o espaço mediático de falsas informações que nunca são desmentidas nos media ocidentais, para convencer as pessoas comuns que a Rússia está a perder a guerra. Eles sabem que isso é falso, mas precisam de fabricar um falso consenso (e que não resulta de conhecimento esclarecido) sobre esta guerra, nos países ocidentais. 

Creio que os militares mais realistas dentro dos países da OTAN começam a ficar nervosos. Pois, a guerra não é assunto para ser conduzido ao sabor dos caprichos políticos, por mais que seja um facto eminentemente político. Citando Von Clauzevitz, um dos estrategas militares que derrotou Napoleão: «A guerra é a continuação da política por outros meios». Porém, nenhuma guerra contemporânea pode (deve) ser chefiada por políticos. 

Para além de todo o aspeto subjetivo, das simpatias ou antipatias (altamente subjetivas) que se possa ter, uma coisa é certa, nesta guerra: Putin abstém-se de interferir diretamente na condução das operações militares; o seu general em chefe, Gerasimov tem a sua confiança política, para  levar a cabo as operações com vista ao objetivo político-militar de derrotar as forças armadas da Ucrânia e as da OTAN. 

Os do lado oposto, da OTAN, estão a conduzir este infeliz país para um estado muito pior do que ele teria, se tivesse havido acordos em Março do ano passado em Istambul, entre as delegações russa e ucraniana. Mas este acordo foi interrompido, por um volte-face súbito de Zelensky, que se terá dobrado às pressões fortes de Boris Johnson, que visitou Kiev por essa altura. 

No contexto militar geral atual, os verdadeiros amigos da Ucrânia (diferente de «amigos do regime ucraniano») são aqueles que lutam para que haja negociação efetiva de um cessar-fogo. É fundamental que os verdadeiros pacifistas pressionem os governos ocidentais para ajudar a criar as condições para uma paz, pois estes governos são os que insistem para a continuação da situação de guerra. O povo da Ucrânia não deve ser bode expiatório do imperialismo dos EUA e da OTAN.

 O povo ucraniano e o povo russo, é que são importantes (nisto incluo os soldados, pois são o povo em armas). As considerações geoestratégicas de um e do outro lado, podem ser racionalizáveis, podem ter a sua lógica própria, mas elas não são - de modo algum - racionais. Porque o racional seria iniciar conversações de paz.

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(*) Consulte os mais recentes artigos desta série:


https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/11/cronica-da-iii-guerra-mundial-um.html


https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/10/cronica-da-iii-guerra-mundial.html


https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/10/terceira-guerra-mundial-economia.html


https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/09/cronica-da-iii-guerra-mundial.html