As numerosas crises de hiperinflação que existiram e continuam a existir, não teriam razão de ser, tirando o caso acima citado ou outros análogos, caso não houvesse impressão «em papel» ou «eletrónica» das unidades de troca. Com efeito, estas são unidades, sim --- mas de crédito. Para se perceber esta mudança em profundidade, nada melhor que ler Alasdair Macleod « Imploding credit - The consequences». De uma forma pedagógica e muito bem documentada esclarece o que tem de ser esclarecido, sobre a questão do «dinheiro» que deixou de ser metálico ou, pelo menos, endossado a metal, mas simplesmente unidades de crédito emitidas pelos bancos centrais ou pelos bancos comerciais. A manipulação da quantidade desse crédito em circulação, o seu aumento (ou a sua retirada), influenciam de forma decisiva o valor dessas mesmas unidades de crédito. Se houver aumento, vai haver uma desvalorização deslizante ou brusca do seu valor, em termos de poder de compra. Que importa ser detentor de um trilião de unidades numa divisa (caso do dólar do Zimbabwé), se esta «fortuna» apenas me permite comprar 3 (três) ovos!
Estamos, portanto, à beira do precipício. Já todos admitem que teremos uma crise económica global, não uma crise «cíclica», como costumam existir no sistema capitalista. Chegou-se ao ponto em que já é tarde demais para os governos e/ou bancos centrais fazerem algo eficaz para prevenir a catástrofe. A este propósito, é de notar que a tentativa da primeira-ministra britânica Liz Truz e do seu Ministro das finanças em fazerem passar um mini-orçamento de emergência falhou, porque a City vetou aspetos da proposta que iam contra os grandes interesses capitalistas. Nestas circunstâncias, o Banco Central Britânico foi obrigado a fazer uma viragem de 180º de emergência ! Isto ilustra a incapacidade de haver uma solução viável dentro do sistema.
Logo, a «solução» que costuma ser adotada nestas circunstâncias, é recorrer à guerra. Foi o caso da Iª Guerra Mundial, mas não só. Uma guerra, implica a destruição massiva de ativos, de capacidade industrial, além de dizimar a população. Por que razão ela é escolhida pela classe capitalista (ou por parte dela), nestas circunstâncias?
Georg Grosz desenhou capitalistas e pobres. depois da 1ª Guerra Mundial
- Porque a guerra permite obter lucros imediatos, com as vendas de armamento e de abastecimento, com garantias do ouro ou das obrigações governamentais.
- Porque a crise económica, associada à guerra, vai precipitar na falência empresas pequenas, médias ou grandes, que não aguentam por causa das restrições ao abastecimento, ou da perda súbita da clientela, ou dos seus mercados. As grandes empresas e grupos financeiros (abutres) vão tomar conta deste capital, que não foi destruído pela guerra, a um preço de saldo, rentabilizando-o logo que a guerra acabe.
- Porque o país conquistado é um mercado aberto à gula predatória dos capitalistas, é um «Far West» onde estes podem fazer o que quiserem.
- Porque a classe operária fica manietada, sem possibilidade de mexer-se, de fazer qualquer contestação, greve ou movimentação, em virtude das «leis de estado de guerra», invariavelmente passadas pelos parlamentos. Nestas circunstâncias, os capitalistas têm a vida tranquila e podem aumentar a exploração até níveis nunca sonhados, antes do desencadear das hostilidades.
- Porque a guerra é acompanhada pela ascensão de ideologias autoritárias (a «fé» no chefe). Isso - em si mesmo - é do agrado da classe capitalista. Vai consolidar a aliança tríplice entre o sabre, a sotaina e a cartola.
Se não estamos mergulhados numa guerra nuclear agora, é porque existe algum bom-senso ou receio, nas «elites» oligárquicas. Mas, existem demasiados políticos no Ocidente, incluindo presidentes ou primeiros-ministros, que são corruptos, incompetentes e manietados por conselheiros, eles próprios, ao serviço de lobbies.
7 comentários:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2016/10/estrategias-globalistas.html
Há seis anos atrás, já tinha avisado aonde esta política nos iria levar. Eu apenas tenho seguido as informações e opiniões dos melhores analistas e politólogos, quaisquer que sejam as suas tendências. Pois eu recolho o que me interessa para formar a minha opinião!
A subida da taxa de juros de referência, implica uma subida geral dos juros. Isso vai diminuir a concessão de empréstimos. Isto, por sua vez, significa que os bancos comerciais, mesmo bancos muito grandes como o Crédit Suisse, ficam com menor base de negócio. A alavancagem destes bancos é muito grande e existem quantias enormes mas indeterminadas de contratos derivados «over-the-counter». Daí que seja possível haver uma falta de pagamento dum grande banco, como houve, no caso do «Lehman Brothers» em 2008.
Para compreender como o Mundo não-ocidental está moldando o futuro, leia a entrevista de Michael Hudson ao «The Cradle»: https://www.unz.com/pescobar/michael-hudson-a-roadmap-to-escape-the-wests-stranglehold/
https://www.zerohedge.com/political/bidens-nuclear-armageddon-statements-not-based-any-evidence-us-intelligence
A CIA contradiz a visão apocalíptica do discurso de Biden
Um grupo de congressistas americanos propõe que os EUA retirem seus militares da Arábia Saudita e dos UAE em retaliação por terem concordado na OPEC+ reduzir a produção diária de crude em dois milhões de barris/dia, a partir de Novembro. A presença de tropas «infiéis» nos locais sagrados do Islão sempre foi um incómodo político par os sauditas. Perdem «proteção» militar americana, mas ganham popularidade no mundo árabe e no mundo não-OTAN.
Leia:
MOSCOW, October 9 - RIA Novosti. A group of members of the US House of Representatives have proposed withdrawing US troops from the UAE and Saudi Arabia in response to the OPEC + decision to cut oil production by two million barrels per day, the Washington Times writes .
The draft "Tensive Partnership Act", presented by Democratic parliamentarians Tom Malinowski, Sean Kasten and Susan Wilde, provides for the withdrawal of the American contingent along with air defense systems, including the Patriot and THAAD complexes.
"The sharp decline in oil production in Saudi Arabia and the UAE, despite President Biden's flirting with both countries, was an act of hostility against the United States and a clear signal that they have chosen the side of Russia in its confrontation in Ukraine," the deputies said in a statement. [...]
A cronologia e os factos dão razão a Mike Whitney: https://www.unz.com/mwhitney/some-of-us-dont-think-the-russian-invasion-was-aggression-heres-why/
A guerra provocada perversamente pelo Estado Profundo (Deep State) dos EUA, está já a provocar graves fissuras nos países da UE e NATO. Veja:
https://www.youtube.com/watch?v=t6lcOXedfm0
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