sexta-feira, 24 de novembro de 2023

CONTROLA OS SEUS IMPULSOS?

 O comércio joga com os impulsos das pessoas  para comprarem. O estímulo para comprar está disseminado em toda a sociedade. É que na sociedade da mercadoria, onde tudo se compra e vende, o ato de comprar é assimilado a duas coisas, no inconsciente:

A - Um prazer sensual, análogo à fase oral/anal da psicologia freudiana. 

Com efeito, a adição de compra compulsiva  é uma patologia muito séria e mais banal  que outras adições que não envolvam ingestão de «drogas». Mas, o sistema de escravização do consumidor consegue desenvolver técnicas para o aumento de sua adição. 

Por exemplo, as luzes e decorações de Natal nas ruas, nos centros comerciais e nas montras: São, afinal, a criação de um ambiente «feérico» que faz as pessoas quererem voltar à infância e deixarem-se arrastar por impulsos de consumo. Este impulso pode ser motivado por desejo de satisfazer entes queridos (o Natal como festa da Família), mas também aqui se trata de uma relação falseada, porque mediada pela mercadoria. Em geral, quer em ocasiões «normais» ou «especiais», o impulso obsessivo de comprar, desencadeia compras inúteis, que desequilibram o orçamento pessoal.

B- Um símbolo de status; por isso é que bugigangas produzidas em série, são publicitadas como algo «exclusivo». De facto, a adição às compras é cuidadosamente cultivada pelos órgãos de  comunicação social de massas, cujos rendimentos são resultantes da publicidade, sobretudo. 

O contexto da sociedade mercantil hipervaloriza a aquisição e acumulação de objetos: As pessoas têm uma relação doentia com a posse de certos objetos, em especial se forem caros, de luxo, de «prestígio». 

Os objetos a que me refiro, não são adquiridos por necessidade ou conveniência, são como um «investimento» afetivo e promocional. 

- Auto-Afetivo, porque as pessoas (simbolicamente) estão a remunerar ou a recompensar, a si próprias.

- Auto-Promocional: Ao exibirem algo ostensivamente caro. Esses itens - mesmo que sejam de pouca ou nenhuma utilidade - estão a exibir a  elevada capacidade aquisitiva de seu possuidor.



Numa sociedade onde a aparência é tudo, onde  ser economicamente bem sucedido, é ser uma «celebridade» e passar a fazer parte da «elite», mesmo que seja de maneira efémera, as pessoas não conseguem amadurecer o seu ego. Permanecem bloqueadas nos afetos infantis, tanto no que respeita à «gula» de compras, como à gula de comida. 

Repare-se nas seguintes situações:

- A epidemia de obesidade (sobretudo, nas camadas menos abonadas), 

- A atitude hedónica, não apenas de adolescentes como de adultos (= adolescentes mentais),

- O crescente número de pessoas que ficam endividadas em excesso, usando cartões de crédito, 

Todos estes (e muitos mais), são exemplos bem visíveis de patologias sociais. Todos são característicos da chamada sociedade de consumo. Por contraste, as características acima não se observam nos períodos históricos anteriores à revolução industrial, ou nas sociedades que - ainda hoje - subsistem fora do modelo dominante.

A alternativa não reside na pobreza voluntária, ou noutro tipo de autoflagelação, para combater os males sociais. É fundamental educar-nos e educarmos as jovens gerações, para não cairmos no ciclo infernal do «consumo pulsional». 

Além disso, temos de compreender que as soluções boas para o ambiente, para a sustentabilidade da biosfera e para uma sociedade harmoniosa são incompatíveis com o capitalismo

É um facto, que o capitalismo precisa do sobre- consumo desenfreado. Por muito que mostrem preocupações «ecológicas» e «socialmente responsáveis», os comerciantes e os industriais só são verdadeiramente movidos por uma coisa, o lucro.

Não é de admirar, pois o modelo de economia e sociedade capitalista, é exatamente aquele que endeusa o indivíduo que enriquece, seja lá por que meios for. Desde que seja rico/a, é uma pessoa interessante, inteligente, etc. Portanto, as pessoas - mesmo que não sejam comerciantes ou industriais - são fortemente encorajadas a procurar enriquecer-se, sem olharem demasiado aos meios. 

A ostentação, o consumo de luxo, o consumo hedónico, são o símbolo e o triunfo desejado pela maior parte das pessoas, dentro do  modelo económico e social capitalista.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

A UM DEFENSOR DO 'STATUS QUO' [OBRAS DE MANUEL BANET]



- Tu, que olhas sobranceiro
Os humildes que sofrem
Labutam e lutam
Por sustento de miséria



- Tu, que te julgas superior
Porque o merecias
Quando afinal pouco
Tens de juízo e saber



- Tu, que te orgulhas
De ser escravo
Exibes como adorno
As grilhetas mentais




- Tu, ricaço estás afinal
Nu, sem resguardo
No meio da sociedade
Que sustenta teu fardo



- Tu, esqueces depressa
A quem tudo deves
Ficas mais frágil
Ainda mais exposto




- Tu, serias cómico
Na tua bruteza
Mas és responsável
Por tantos males




- Vai pró Inferno
Aí tens teu lugar
Corre, ocupa-o!
É bem quentinho.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

FOI HÁ 60 ANOS - 'COME ON' - THE ROLLING STONES


 Faz 60 anos que saiu o single «Come On» de estreia dos Rolling Stones.


«Come On», autoria de Chuck Berry, iniciador do rock-n-roll e inspirador da geração rock e pop dos anos 60 e 70. 

Junto link para coleção de singles dos Rolling Stones desde o princípio (1963) até 1968: The London Years.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

MERGULHÁMOS NA BARBÁRIE, DE NOVO


Foto: Criança ferida é transportada para urgência do hospital Al-Shifa






Eu uso a expressão no título acima, não em termos metafóricos, mas literalmente. 

Com efeito, não há nada mais cruel e bárbaro do que a punição coletiva. É isso que governo e exército israelitas estão a fazer em Gaza e nos Territórios Ocupados, incluindo Jerusalém Este.  

Qualquer que seja a avaliação que se faça da ação do Hamas a 7 de Outubro, esta nunca pode ser justificação para o assassínio de mais de 10 mil civis, na sua maioria crianças, mulheres e idosos. O governo de Israel e quem o apoia, é que se colocam à margem da legalidade. Todos nós vemos, horrorizados, que estão a cometer crimes de guerra, «justificando-se» com um tecido de mentiras e de frases bíblicas (usadas fora de contexto, claro).

Se existe culpa coletiva, então o Ocidente é culpado:

A Grã-Bretanha, em primeiro lugar e os vencedores da  IIª Guerra Mundial, a França, a União Europeia, os Estados Unidos e Canadá. 

A Grã-Bretanha, produziu a declaração Balfour, em 1917: Foi negociada com o movimento sionista. Em troca, este devia exercer pressão para a entrada em guerra dos EUA, na 1ª Guerra Mundial. Durante o período entre as duas Guerras Mundiais, muitos judeus foram encorajados a emigrar para a Palestina, mas os autóctones, os palestinianos, não lhes era reconhecido o direito a terem a sua nação. Grupos terroristas judaicos, como a Irgun, fizeram ataques terroristas contra povoações palestinianas, com o objetivo de as expulsar de suas terras. A limpeza étnica e os atos terroristas continuaram depois da IIª Guerra Mundial e da proclamação do Estado de Israel, em 1948. As grandes potências vencedoras decretaram a «solução» dos Dois Estados, que não tinham real intenção de implementar. Os sucessivos governos israelitas, sabendo isso, continuaram a sua política de apartheid e de roubo de terras palestinianas, sem que houvesse real impedimento da parte da ONU. Israel deve ser o país com maior número de resoluções condenatórias na ONU, talvez com a exceção da África do Sul do tempo do apartheid. As guerras Israelo-Árabes de 67 e 73 foram pretexto para causar ainda mais miséria, com a ocupação dos territórios palestinianos. A população nos territórios ocupados tem sido sujeita a brutalidades, prisões arbitrárias, assassinatos pelo exército israelita ou por colonos, expulsão e arrasamento das suas casas, como «punição» por serem da família de membros da resistência. 

A França entregou a Israel a tecnologia necessária para construir bombas nucleares. Israel é uma potência nuclear que - hipocritamente - não o reconhece, só para não ter que se sujeitar a inspeções. 

Todos os anos, em quaisquer circunstâncias, Israel recebe ajuda dos EUA no valor de  3,5 biliões de dólares. É uma ajuda incondicional, portanto pode ser usada como eles entenderem.  Além disso, na situação presente, Biden fez aprovar pelo congresso dos EUA, uma ajuda extra de 40 biliões de dólares e enviou a frota americana para as costas de Israel. 

Se há culpa coletiva para os palestinianos, então também existe para os israelitas e também para todos o países ocidentais que apoiam, ativa ou passivamente, a criminalidade monstruosa do Estado de Israel.

Tenho um profundo desgosto por ver isto tudo. Ajoelho-me diante do povo mártir da Palestina. 

Não existe humanidade «A», humanidade «B», ou «C». É trágico e traz consequências de longo prazo, que a legalidade internacional, as leis humanitárias, as convenções de Genebra, etc., estejam a ser espezinhadas, com a conivência das autodesignadas «democracias». Cada vez mais, são vistas pela maioria da humanidade como um clube de ricos, com mentalidade colonialista e racista

Eu sei que muitas pessoas, nestes países ocidentais, não são egoístas. Estão a lutar para que acabe este horror e se abram vias para uma solução negociada.  Porém, se houvesse consciência suficiente e geral das populações no chamado «Ocidente», do grau de criminalidade do governo de Israel e dos governos que apoiam as políticas de Israel, as coisas não teriam chegado ao ponto desta tragédia. 

O Estado de Israel não é omnipotente: O que faz, sabe muito bem que pode fazê-lo, porque no Ocidente não existe coragem moral dos dirigentes para os obrigar a parar, muito menos de serem julgados como criminosos que são!

Há uma consequência global, para além do que está a acontecer em Israel/Palestina, neste momento:

Criou-se o precedente de que não existem condenação e medidas eficazes para parar um genocídio. Os Estados mais poderosos não estão preocupados com as resoluções da ONU, sequer. 

Amanhã, em qualquer ponto do globo, pode haver outro holocausto, semelhante ao que sofre - agora - o povo palestino. Pode ser no teu país, na tua cidade. Ninguém pode contar com as instâncias internacionais, que tinham o encargo de prevenir, minorar e acabar com  as guerras e os desastres humanitários: Nem a ONU e suas agências, nem o TPI  ou os governos hipócritas que têm a boca cheia da expressão «direitos humanos», mas o cérebro deles está corrompido.

Identifico-me com os ativistas, que em Nova Iorque, em Seul e noutros pontos, fizeram manifestações pela Palestina Livre e contra o Genocídio e Limpeza Étnica que o governo israelita está a levar a cabo. O vídeo mostra algumas dessas ações:


PS1: Abaixo, um sumário da cimeira virtual de emergência dos BRICS, incluindo os novos membros, sobre o genocídio em Gaza e as medidas a tomar (o texto francês tem tradução em inglês e espanhol)

https://www.voltairenet.org/article220045.html

PS2: Jonathan Cook denuncia a deliberada (e transparente) limpeza étnica do governo israelita em relação à população de Gaza, reproduzindo as táticas criminosas da 1ª Nakba, em 1948. Denuncia igualmente a falsa miopia dos órgãos de  informação ocidentais que recusam ver e reconhecer que se está perante um crime hediondo: https://www.jonathan-cook.net/2023-11-21/israel-goals-lies-1948-gaza/

PS3: O Dr. Gabor Maté é sobrevivente do Holocausto judaico, durante a IIª Guerra Mundial. Ele, como verdadeiro humanista, tem palavras justas e severas sobre os dirigentes ocidentais, que apoiam o genocídio e limpeza étnica dos palestinianos, que está realizando o governo e os militares de Israel. Mais uma prova de que ser-se antissionista não tem nada que ver com ser-se antissemita:

https://informationclearinghouse.blog/2023/11/22/the-darkest-thing-ive-seen-dr-gabor-mate-on-western-countries-supporting-israels-gaza-slaughter/

PS4: O ataque ao hospital Al-Shifa, pelas forças do exército de Israel, fez-se sabendo eles que o quartel-general do Hamas NÃO estava localizado por baixo do hospital: Leiam a importante descoberta feita por Consortium News, que invalida o motivo do exército ocupante israelita para atacar o hospital. Além disso, esta tática revela a criminalidade perversa dos responsáveis:
 «But something quite unexpected had happened during this new round of press stories on al-Shifa that completely demolished the entire IDF story line: the IDF had gained control of the real Hamas command and control center in an area where the Hamas leadership had previously had their above-ground offices in the Al Atatra neighborhood, in the extreme northwest of Beit Lahiya city, 8.5km away from al-Shifa.»

PS5: Caitlin Johnstone a propósito de dois pesos duas medidas, no seu esclarecedor artigo, afirma:

«Really “international law” does not exist in any meaningful way, which is why powerful governments always just ignore it while the people who are actually detained by the ICC are always from weaker nations (overwhelmingly African). Perhaps nothing better exemplifies this dynamic than the the US government’s American Service-Members’ Protection Act, better known as the Hague Invasion Act. This 2002 law authorizes the use of military force to liberate any US or US-allied military personnel from any ICC attempt to prosecute them for war crimes. “US-allied” would ostensibly include Israeli forces.»

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

ARTIGO CIENTÍFICO IDENTIFICA «SÍNDROMA PÓS-VACINA COVID»

Um artigo, por equipas prestigiadas nos EUA, fundamenta a existência de uma síndroma pós-vacina COVID.
O Dr. Campbell faz uma descrição detalhada deste artigo:





 Dr. Campbell:

«Temos de ouvir o que o paciente diz. Não temos estado a dar atenção ao que ele nos diz»

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PS1: Novo estudo sobre casos FATAIS após vacinas anti-COVID :

https://www.lewrockwell.com/2023/11/jon-rappoport/new-study-death-following-covid-vaccination/

As manobras de encobrimento da medicina institucional e das diversas agências de saúde, já não conseguem evitar que filtre a verdade para o público: Os efeitos secundários e as mortes resultantes de vacinas anti-COVID superam (em muito) aquilo que sobre outras vacinas em estudo, se consideravam como números suficientemente altos - de efeitos secundários e mortes - para se interromper os ensaios clínicos, ou para retirar um medicamento experimental do mercado. 


domingo, 19 de novembro de 2023

EM ESPANHA ESTÃO A CRIAR AMBIENTE PARA A GUERRA CIVIL

   Foto: Rei de Espanha, Filipe VI e Pedro Sanchez, presidente do governo

As ondas que agitam a vizinha Espanha são quase ignoradas pelos portugueses. Mas, não deviam, pois o momento é realmente grave. 

Um coro de vozes indignadas, da direita, faz muito barulho, porque o presidente do PSOE, Pedro Sanchez, negociou com os independentistas catalães  o apoio à votação do novo governo socialista, em troca duma lei de amnistia. Esta, iria resolver a situação dos políticos catalães independentistas que em 2017, organizaram e executaram um referendo pela independência da Catalunha. O referendo foi declarado anticonstitucional e seus organizadores foram presos ou tiveram que se exilar. 

Eu não vou - aqui e agora- discutir  questão do independentismo, tal como se colocou em 2017. A questão de fundo é importante e grave, mas não estou suficientemente por dentro dos assuntos políticos de Espanha, para opinar de modo esclarecido. 

O que vou dizer aqui, é exprimir a minha estranheza por forças da direita considerarem que o indigitado presidente do governo estava a cometer uma falta grave, ao negociar apoio parlamentar junto dos deputados eleitos dos partidos independentistas catalães. 

Indigna-se a gente de direitas, por esse apoio ter implicado negociar uma lei de amnistia. Porém, em muitos países e em diversas circunstâncias, foram feitas leis de amnistia para os crimes políticos. Inclusive em Espanha, os independentistas da ETA, do País Basco, foram amnistiados. 

Os catalães perseguidos e condenados podem ter razão ou não, no que fizeram. Podem ter violado ou não, a constituição de Espanha. Mas, ainda assim, a sua ação foi realizada dentro dos limites da democracia representativa. Por outras palavras; não se tratou de um ato insurrecional.

Os que berram nas ruas contra o recém-empossado Presidente do governo espanhol, estão simplesmente a descarregar o seu rancor contra a esquerda, no que ela representa como posição mais tolerante, mais respeitosa do direito dos outros terem pontos de vista diferentes do nosso. 

Amnistiar, não significa dar razão às pessoas que tinham sido condenadas, nem opinar se a condenação foi justa ou injusta. Significa que, no interesse da sociedade, o facto dessas pessoas serem amnistiadas, é preferível a cumprirem a pena até ao fim. É um processo de sarar as feridas resultantes dos choques políticos que dilaceraram o tecido da sociedade. 

Para os direitistas que agitam «o papão» da ditadura, da perda da liberdade e do Estado de direito, o que seria «justo»? Seria que os implicados no processo sofressem o castigo mais severo? Seria só de prisão? Talvez mesmo, de pena de morte? Tudo isto, por se terem atrevido a desrespeitar a «sacrossanta» constituição espanhola. Lembro que a constituição atual foi negociada após a morte de Franco, entre governo, forças franquistas e os outros grupos e partidos, na chamada «transição*». 

Para mim e para as pessoas com formação ética, qualquer que seja sua posição partidária, o extremar de posições - neste caso concreto - é criminoso, pois vai reabrir feridas antigas mas nunca totalmente saradas, da trágica Guerra Civil Espanhola de 1936-39.

Alguém, doutra região de Espanha que não da Catalunha, deveria ver com bons olhos a amnistia e também um referendo. Este, deveria ser de tal modo, que não fosse considerado anticonstitucional. Porque, mais vale um divórcio sem demasiados dramas, do que uma guerra civil. Além do mais, a entidade geográfica Península Ibérica foi sempre um conjunto heterogéneo de povos, de culturas e de reinos. 

E, já agora, para lembrança dos portugueses, recordo que os Restauradores de 1640, que «traíram» o Rei (pois Filipe IV era Rei de Portugal, além de ser de Espanha), obtiveram sucesso nesta insurreição, porque havia uma revolução - em simultâneo - na Catalunha. A Restauração da independência de Portugal deve-se - em parte - aos independentistas catalães, que se revoltaram contra a coroa de Espanha e fracassaram. Os portugueses não tiveram que enfrentar logo os poderosos exércitos espanhóis, ocupados na repressão da revolta catalã; tiveram tempo para se organizar na defesa das fronteiras do território.

Mas, hoje em dia, é lamentável que demagogos de extrema-direita e ditos «de centro-direita»,  venham agitar suas hostes, criando um clima de alarme falso porque, na verdade, são eles que põem intenso dramatismo em torno dum processo que é - afinal de contas - banal: A negociação de apoio parlamentar para um governo minoritário.  A amnistia para os independentistas catalães é equiparada por eles, a "traição à pátria". 

Na verdade, eles querem criar uma situação de rutura ao nível institucional, político e sociológico. Eles querem uma grande agitação, um caos. O grande «argumento» deles é falso e nulo, quer em termos políticos, quer jurídicos. A agitação deles visa claramente o derrube do governo recém-nomeado. Pretendem assim reconquistar a maioria e retomar o poder. 

Pelo menos, é o que vejo à distância de umas poucas centenas de quilómetros. Em todo o caso, os meus amigos espanhóis é que têm de resolver o problema, sem se deixarem arrastar por demagogias, de uns e de outros.

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*Veja-se os «Pactos de Moncloa»


sábado, 18 de novembro de 2023

4 FRAGILIDADES DO IMPÉRIO [ Parte II]

Na Parte I deste ensaio, analisámos as fragilidades dos EUA em relação ao sistema monetário mundial e a situação precária do dólar, enquanto moeda de reserva global. Nessa mesma parte I, analisámos igualmente a disponibilidade de energia, suas diversas fontes e sua gestão, assim como a importância da mesma nas guerras levadas a cabo pelo Império.
Na parte II, iremos nos debruçar sobre as fragilidades imperiais do poderio militar e sobre a media corporativa (a «mass media»), enquanto instrumento de propaganda do novo totalitarismo.





PODERIO MILITAR



Todos os impérios baseiam-se na força sobre outras nações e na expansão territorial. Ambas as características são dependentes de um exército, uma máquina de guerra bem equipada e treinada, que possa conquistar, manter as conquistas e forçar a submissão dos povos.
O exército dos EUA tem de corresponder às missões que lhe são confiadas pelo poder político. Mas este, dominado nas últimas décadas pela fação mais belicista ,«neocon» do Status Quo, tem usado a força militar a torto e a direito. As guerras do império são essencialmente de agressão, quer ocorra ou não a invasão terrestre do território inimigo, quer haja ou não uma coligação com potências vassalas.
O facto mais saliente, em termos geopolíticos, é que desde o 11 de Setembro de 2001, as guerras em que os EUA se envolveram, foram todas derrotas militares, o que tem um efeito dentro dos próprios EUA, mas também junto dos outros governos e povos, aliados ou adversários.
Os EUA mantêm cerca de 800 bases em todo o Globo; algumas, têm poucas centenas de soldados; outras têm dezenas de milhares. O dispositivo para este domínio global é muito complexo e pesado.
Tanto em equipamento, como armamento, combustível, meios de transporte e logística, estas bases são uma pesada e complicada estrutura, que tem o Pentágono como vértice.
A OTAN, com sede em Bruxelas, reúne grande número de países europeus, mas é controlada por Washington. O comandante-chefe é sempre um general dos EUA. Várias bases na Europa são utilizadas para armazenar cabeças nucleares e vetores correspondentes (mísseis ou aviões). Estas bases estão em violação de leis de países como Itália, que proíbem o estacionamento e trânsito de armas nucleares.
Quase oitenta anos após o fim da II Guerra Mundial, uma potência vencedora (os EUA) continua a ocupação militar da Alemanha, da Itália e de outros países. Teoricamente, estes exércitos de ocupação americanos fazem parte do dispositivo multinacional da OTAN. Porém, as bases da OTAN funcionam segundo o modelo americano e estão submetidas à cadeia de comando, dominada por generais dos EUA. Formalmente, os EUA não estão a «ocupar» estas nações. Mas, é assim que parte significativa da população os vê. O mesmo ou semelhante, se passa com o Japão e a Coreia: Nestes casos, trata-se apenas de contingentes dos EUA. O modelo é reproduzido noutras paragens, em maior ou menor escala.
Em bases de maior dimensão, os militares têm bairros separados nas vilas ou cidades próximas dos quartéis, onde vivem com as suas famílias. Estas pequenas amostras de «American way of life» vivem em circuito fechado, ignorando largamente a vida e cultura dos países onde estão instalados. Isto provoca grande frustração na população autóctone e também torna as bases menos capazes de se defenderem de um ataque. É verdade que eles têm militares e polícia dos próprios países ocupados, que podem servir como agentes repressores de qualquer movimento de contestação violenta, ou pacífica das bases. Mas, tal não impede o surgimento de movimentos significativos de rejeição das bases. Em vários pontos (Okinawa, no Japão, Jeju, na Coreia do Sul, em La Rota, em Espanha, etc.) essa contestação pacífica tem feito manifestações todos os anos.
De um momento para o outro, num país qualquer, pode despoletar-se um processo que obrigue à saída duma base dos EUA nesse território. Tal é verosímil que aconteça na Síria ou no Iraque. Também é possível na Turquia, um importante membro da OTAN: As posições tomadas pelo seu presidente, Erdogan - para as quais tem apoio popular massivo - têm entrado em choque com as posições de Washington.
O dispositivo de domínio global dos EUA, por mais forte e potente que seja, é demasiado frágil para aguentar ataques em simultâneo às suas bases, em pontos geográficos distantes.
Também se verifica que - no terreno - as forças dos EUA não estão capazes de combater numa campanha antiguerrilha, como se verificou no Afeganistão e noutros cenários recentes. Em consequência disso, a estratégia dos EUA tem consistido em arrasar todas as estruturas «revertendo-as à idade da pedra». Mas, tais «feitos de armas» são horrendos crimes de guerra que ficam gravados na memória coletiva dos povos-mártires.
A doutrina de que os EUA podem usar, em primeiro lugar, armas nucleares «táticas» foi emitida e aprovada, logo no início deste século. Esta doutrina foi um recuo em relação à doutrina prévia. Anteriormente, os EUA usariam a arma nuclear como dissuasora, como resposta a um ataque nuclear, nunca preventivamente. Tal posicionamento era mais adequado ao desanuviamento entre superpotências. Mas justamente, é isso que os «neocons» querem evitar. Eles estão convencidos que os EUA podem ganhar uma guerra nuclear e assim manter sua hegemonia mundial. É para esse objetivo que apontam o programa (o PNAC) dos neocons, as suas declarações e os seus atos. A China e a Rússia são vistas como inimigas, sujeitas a provocações ou, mesmo, a «guerras através de intermediários». Isto acontece, porque os neocons têm dominado sucessivas administrações, quer elas sejam Democratas, ou Republicanas.




MÍDIA CORPORATIVA OU DE MASSAS

A «liberdade de imprensa» é porventura a característica mais saliente da democracia liberal. Mas as chamadas «democracias liberais» já não são nem uma, nem outra coisa.
A era da Internet foi uma decepção, pois não deu fácil e livre  acesso à informação e à difusão de informação «cidadã», com um mínimo de impacto. O dispositivo cedo foi controlado por grandes conglomerados de mídia, encerrando os internautas numa espécie de mundo fictício - a verdadeira «matrix» - de que só alguns têm plena consciência.   
Os provedores de Internet pertencentes às grandes corporações da Silicon Valley foram abordados pelo poder político em relação aos «abusos» que podiam cometer os usuários da Internet. Serviram-se de pretextos, como o do combate à pedofilia, à pornografia infantil, ao terrorismo islamista, etc. para os forçar a desempenhar o papel de agentes de vigilância massiva. Assim, o pequeno mundo de Google, Facebook, Microsoft, Youtube, etc ficou perante o seguinte dilema: ou mantinham uma estrita neutralidade e ficavam confinados às margens, ou aceitavam jogar o jogo e teriam imensos contratos do governo. Inclusive tiveram e têm contratos em parceria com as agências de «inteligência» (de espionagem), a NSA, a CIA, etc., permitindo a estas realizar atividades de espionagem em massa, de censura e de intoxicação da opinião pública, proibidas pela constituição às agências governamentais. Agora são o domínio de «entidades privadas», que recolhem e analisam os nossos dados e depois os fornecem ao Estado.
O que resta, em termos de «democracia», é uma paisagem esquálida, onde mais de 90% de cidadãos não têm efetivamente acesso a informação significativa, apenas recebem informações de agências, televisões, jornais, sites internet, «sérios», «credíveis», que fornecem informação aprovada pelo governo, ou pelas agências deste. 
O caso mais patente foi aquando da encenação da pandemia de Covid: Esta foi o pretexto para calar (enquanto não se podem eliminar) os dissidentes, lançando campanhas de difamação pública, perante as quais não havia a mínima possibilidade de retorquir, desmentir, ou contradizer. Depois, foi a campanha histérica anti-russa, aquando da invasão russa da Ucrânia, que «justificou» mais umas tantas excomunhões. Agora mesmo, é a campanha terrorista unânime dos media «de referência», equiparando as pessoas que estão contra a limpeza étnica dos palestinianos por Israel, a terroristas, antissemitas, apoiantes do Hamas, etc. 
Que podemos dizer? 
Sem informação livre, não existe democracia. Estamos a atingir o ponto em que os poderes das  chamadas «democracias ocidentais», deixam cair a máscara e se revelam como executantes de dispositivos totalitários, pondo em cena o pesadelo orwelliano ou plagiando as medidas de controlo social da China «comunista».
As pessoas viveram numa atmosfera de relativa liberdade de opinião, no Ocidente, quando isso era importante para afirmar o contraste com os regimes totalitários da URSS e de seus aliados. Estava-se numa era de confronto entre duas superpotências, dois modos de conceber o mundo, dois modelos de sociedade. Assim, a imprensa ocidental foi - durante algum tempo - relativamente livre e relativamente independente do poder de Estado. Não deixo -porém - de relativizar, pois muita imprensa estava nas mãos de grandes magnates. Estes não iriam permitir que tudo fosse publicado, sobretudo se colidia com os seus impérios.  
O chamado «4º poder» significou que a imprensa tinha independência em relação aos outros três poderes do Estado (poder legislativo ou parlamento, o executivo ou governo e  o judicial ou os tribunais). Agora, «o 4º poder» significa que a imprensa e media em geral são os porta-vozes do poder do dinheiro, o qual tem os políticos na mão.  
Se os donos dum grupo de media acharem que isso coincide com seus interesses,  deitam abaixo um governo; se acham que um governo impopular deve ficar, custe o que custar, vão promover campanhas a favor do governo e de difamação da oposição.
Quem não reconhece a situação, ou faz parte do dispositivo governamental/ mediático, ou é mantido na ignorância sobre os mecanismos do poder e  a manipulação das consciências.   
O que acontece com este processo, é que (citando Hannah Arendt): «Se todos te mentem constantemente, o que vai acontecer, não é que passas a acreditar nas mentiras; é que deixarás de acreditar seja no que for». 
Já há cada vez mais pessoas que rejeitam as narrativas do poder e que são céticas radicais. Esperemos que elas consigam contrariar a deriva totalitária a que assistimos no Ocidente.