quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

REFLEXÕES SOBRE ECONOMIA, SOCIEDADE E GUERRA

                           

ECONOMIA REAL VERSUS ECONOMIA DIGITAL No meu treino em biologia, que incluía com especial destaque bioquímica celular, microbiologia e ecologia, habituei-me a reflectir sobre a economia natural, ou seja a grande eficácia de seres vivos e dos ecossistemas que eles formam em optimizar a extracção e utilização de energia do ambiente.
O padrão de economia natural poderia ser o «equivalente de uma molécula-grama de glicose» ou fracções desta unidade, assim como na economia se adoptou o padrão do «equivalente energético do barril de petróleo», exactamente porque, num caso como noutro, o combustível é universal fonte de energia e as suas utilizações directas ou indirectas estão na base de toda a construção dos seres vivos num caso, das sociedades no outro.
Porém, as pessoas não têm o bom senso de realmente verem a economia, seja ela na escala global ou local, como essencialmente o modo como a energia é obtida e distribuída. Para isso concorrem diversos factores, como seja a separação da grande maioria da população do trabalho agrícola, para todo um ecossistema que utiliza o excedente agrícola para tornar possível a utilização de cada vez maior percentagem de mão-de-obra em tarefas de indústria ou de serviços. Assim, poucas pessoas (5 a 10%) nas sociedades ditas desenvolvidas têm profissão na produção de alimentos, o que faz com que a imensa maioria deixe de pensar e equacionar as suas vidas, a sua actividade, os seus projectos, em termos do real acesso a fontes de alimentos.
ECONOMIA MONETÁRIA A monetarização da economia começou há muitos séculos, porém a extinção de comunidades autónomas e auto-suficientes deu-se muito progressivamente. No mundo inteiro existem ainda vastas zonas onde as trocas não são mediadas pelo dinheiro, porém a imensa maioria dos humanos não vive nessas zonas. A humanidade vive maioritariamente em cidades, as quais possuem frequentemente muitos milhões de indivíduos. Embora uma certa agricultura urbana exista e tenha um papel a desempenhar no futuro próximo, não creio que as sociedades no seu todo estejam vocacionadas para uma reconversão completa de paradigma.
Penso que, a prazo, haverá uma mudança. Porque a economia das sociedades humanas não pode continuar a viver numa ficção, a de que o dinheiro, que é apenas papel ou electrões num computador, possa ser mais do que uma representação muito indirecta e muito simbólica do que é a riqueza verdadeira, ou seja, a que resulta de uma produção real, tangível, de bens, matérias-primas, produtos agrícolas ou piscícolas, assim como de bens industriais de toda a ordem, com utilidade – directa ou indirecta- na economia real.
O DINHEIRO COMO DÍVIDA Quando o mundo é inundado de unidades de crédito, de dívida (centenas de triliões de dólares!), que são tidos como receptáculos de valor quando, na realidade, não possuem nada a afiançar este mesmo valor. Quando as disfunções diversas originam assimetrias globais e brutais, quer entre países, quer no interior do mesmo país. Quando a única resposta dos bancos centrais a situações de risco de falência dos grandes bancos, tem sido «imprimir» dinheiro a rodos, oferecer-lhes esse dinheiro gratuitamente, ao comprar aos bancos títulos que eles possuem, mas que são sem valor ou com diminuto valor de mercado, pelo seu valor nominal. Quando se preparam os governos para fazer desaparecer o dinheiro físico, obrigando as pessoas a terem uma conta bancária (na Índia, por exemplo, muitas pessoas nas zonas rurais não possuem conta bancária), isto com o propósito claro de taxar as pessoas numa segunda fase, fazendo-lhes pagar para terem as suas poupanças no banco, em vez de receberem por isso um juro, por mínimo que fosse.
DESAPARECECIMENTO DO DINHEIRO FÍSICO Num contexto destes, a própria «elite» do dinheiro está a querer acelerar a vinda de uma enorme crise, que seja percebida pela população como uma situação de urgência extrema, que obrigue à tomada de medidas excepcionais: a totalidade dos activos financeiros terão de ser mantidos cativos dentro do sistema bancário, não poderá haver transacções em dinheiro físico, tudo será processado por via electrónica. Isso trará duas consequências:
-o dinheiro depositado pode ser - ele próprio - fonte de lucro para os bancos, independentemente deste servir ou não para gerar empréstimos;
- qualquer pessoa pode ter a sua vida escrutinada até ao ínfimo pormenor, por decisão arbitrária de poderes judiciais ou policiais, sem que o próprio cidadão tenha a menor ideia de que isso está acontecendo (transparência máxima da entidade controlada e opacidade máxima do poder controlador).
TOTALITARISMO Este cenário que, de ano para ano, se vai tornando mais visível, corresponde à ascensão de um totalitarismo planetário, de uma enorme acumulação de poder, mas de formas que não parecem – inicialmente – nefastas quer para a subsistência, quer para os direitos humanos das pessoas. Ou seja, estamos a assistir a uma progressiva transformação na chamada «Nova Ordem Mundial», um regime mundial de controlo máximo sobre a generalidade da população, que se pode classificar como «neofeudal».
CONTROLO Infelizmente, as pessoas aderem a ilusões de toda a espécie, acreditam em ideologias políticas que supostamente lhes trarão a salvação, mas isso não tem a mínima importância para os senhores do mundo. As pessoas poderiam organizar-se em cooperativas e em associações diversas, com finalidade de autogerir a sua vida. Nada disso está no horizonte a curto prazo, infelizmente, pois as pessoas têm ilusões persistentes e induzidas pela lavagem ao cérebro permanente. As campanhas de desinformação e deseducação constantes, junto com o conformismo (o que foi ontem, é ainda hoje e será também amanhã…) e a cobardia (a pseudodemocracia dita representativa é a perfeita desculpa para isso), encarregam-se de manter as populações calmas, submissas. Quando ocorrem explosões de descontentamento popular, elas viram-se contra os símbolos do poder e sobre seus agentes, não sobre os que são responsáveis directos do estado de coisas. As possibilidades de insurreições com verdadeiro ímpeto libertador, revolucionário, são mínimas, a elite sabe-o e conta sobre isso; porém, para se assegurar de que tem mão em qualquer dessas situações, ela própria manipula as ONGs, criadas ou subsidiadas pelos vários poderes (vejam-se as ONGs que o multibilionário Jorge Soros financia e controla, em muitos pontos do globo, através da sua fundação, por exemplo…)   
GESTÃO MUNDIAL DA CRISE A situação que se vem desenvolvendo é de uma crise mundial, mas as pessoas no «ocidente» não se apercebem disso, em geral. No entanto, sabemos que a catástrofe atinge muitos povos do chamado «Terceiro Mundo», afinal de contas a maioria da humanidade. Quando a crise atingia – no passado – proporções alarmantes para os poderes, uma das saídas possíveis era a guerra. Hoje em dia, essas guerras ocorrem, mas não enquanto confrontos directos entre superpotências. São confrontos em que as forças em presença são aliadas de um ou outro superpoder, que fica na retaguarda, fornecendo armas, informações, algumas vezes com «conselheiros» no terreno, só muito raramente tem envolvimento directo, com tropas combatentes.  

 AS GUERRAS DE HOJE Este permanente estado de guerra de intensidade baixa, porque não envolve o confronto directo entre potências nucleares, é porém eficaz em manter um determinado número de países debaixo da órbita de certas potências, enquanto outros alinham com potências rivais. Sem dúvida, o controlo de matérias-primas como o petróleo e outras, é um objectivo geoestratégico, mas também se verifica que, nas sociedades mais ricas, existem grupos de interesses fortemente mobilizados para empurrar os seus dirigentes para a guerra. Estes grupos corporativos são directamente e economicamente beneficiários de situações de guerra; não apenas os consórcios de armamento, mas também outros, como grandes empresas de construção civil e de infra-estruturas, pois à destruição causada por uma guerra, deverá suceder – mais tarde ou mais cedo- uma reconstrução dos edifícios e equipamentos destruídos. Vemos, portanto, que a guerra é hoje em dia, mais do que nunca, um negócio. 

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