Não perca! Ele coloca as questões que ninguém se atreve a colocar!
NB: Ao longo dos anos, tenho acompanhado a crise do dólar. Também tenho ponderado quais as respostas que, sobretudo na Rússia e na China, têm sido implementadas, quer dentro dos seus países, quer no seio dos BRICS. Temos agora, em Kazan, o momento da criação dum sistema internacional, adossado ao ouro e graças ao qual as trocas internacionais beneficiarão de estabilidade e segurança.
A nova unidade de troca não pertencerá a nenhuma nação, ao contrário do sistema resultante de Bretton Woods, que instaurou o dólar dos EUA como divisa de reserva mundial, que todos os bancos centrais dos diversos países deviam possuir como reserva.
No mundo de hoje, as relações monetárias são estruturalmente causadoras de inflação. Esta é, na essência, a perda de valor aquisitivo duma divisa. É o que acontece no constante desvalorizar do dólar US. Este, desde 1971 perdeu 98% do poder aquisitivo face ao ouro, arrastando consigo todas as outras divisas.
A situação de impunidade e o à vontade com que Israel se move nos «palcos» internacionais, apesar das comprovadas violações repetidas do direito internacional e dos direitos humanos, provocam a rutura da Turquia com a OTAN, e a sua aproximação aos BRICS. Este é apenas um dos aspetos da total reorganização das alianças geopolíticas, em curso.
Além das duas guerras acesas no presente, nomeadamente na Ucrânia e no Líbano, há muitas zonas sujeitas a confrontos de «baixa intensidade» e das quais quase não se ouve falar.
No campo económico, as sanções (ilegais) dos países ocidentais, contra certos membros dos BRICS, estão a levar a uma estrutura do comércio internacional separada em duas metades. A necessidade de proteger os bens financeiros dos seus países da rapina exercida pela administração dos EUA, que utiliza o dólar como arma de chantagem e de guerra, levou à construção de outras redes de pagamento internacionais, evitando o SWIFT (controlado pelos EUA), assim como à duplicação - pelos BRICS - de estruturas financeiras e bancárias internacionais, como o FMI e o Banco Mundial.
Entretanto, já existe um número elevado de candidatos à adesão aos BRICS, mesmo antes da conferência anual, em Kazan (Rússia): Nesta, é quase certo que sejam dados passos concretos para instaurar uma divisa nova (de nome provisório «The Unit»), destinada às trocas financeiras e comerciais de grande volume entre os aderentes aos BRICS e, também, envolvendo outros Estados que tenham acordos com esta aliança.
A própria ONU está posta em causa, dada a sua inoperância chocante em relação ao genocídio dos palestinianos civis em Gaza e nos Territórios. Ela própria demonstra a sua inutilidade, ao exibir a sua impotência em manter a paz e fazer respeitar as normas básicas da sua Carta. Esta incapacidade deve-se, em larga parte, à incondicional cobertura que recebe Israel dos países ocidentais, nomeadamente dos EUA, que possui poder de veto nas resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
A constatação de que os EUA não conseguem impor a sua vontade, apesar do poderio militar que (ainda) possuem, não é tranquilizadora, pois há muitos elementos, na Administração e no Pentágono, que pensam ser possível utilizar bombas nucleares como meio de «esmagar» os adversários, sem que estes tenham a capacidade de responder. Mas isto é falso, trata-se de um delírio perigoso de megalomaníacos. Por outras palavras, em caso de confronto nuclear global, a destruição mútua e recíproca está garantida.
A necessidade de convergência de todas as vontades pela afirmação de políticas de paz e pelo fim da guerra como meio de resolução dos conflitos, vai-se tornando cada vez mais evidente, à medida que a situação internacional se agrava.
Johann Jakob Froberger não é deste tempo. Talvez não seja demais considerar ser ele de outra civilização, que não da nossa: Porque tudo o que se encontra na obra deste grande compositor do século XVII é delicadeza, expressão de sentimentos com contenção, subtileza no discurso musical, apelo à interioridade, reflexão filosófica. Nada do que enumerei tem grande repercussão nos auditores da nossa época. Alguns músicos profissionais com vasto conhecimento da sua obra e da época em que foi escrita, tentaram divulgá-lo, fazendo sobressair as suas qualidades. Mas, em vão!
Uma parte do público, nem sequer vai parar e escutar esta música: Só lhes interessa o ribombar do efeito fácil. Os que têm ainda sensibilidade musical e não foram tragados pela medíocre reprodução "ad nauseam" dos «hits» (que também existem) na música antiga, clássica, ou erudita; estes poucos, adoradores da beleza serena e reflexiva da música virada para o interior, são muito facilmente captados pela música de Froberger. Nesta, são capazes de encontrar ecos de seus próprios sentimentos e estados psicológicos, que lhes dão uma proximidade especial a esta música.
A Duquesa Sibila de Wittemberg estimava tanto as composições do seu músico pela sua rara qualidade, que, graças a ela, parte muito significativa da obra do seu súbdito foi preservada e chegou até nós.
Abaixo, reproduzo as seis Partitas «Auf der Mayerin» seguidas de Courante, Double e Sarabande, extraídas do volume dedicado a Sybill, Duquesa de Württemberg.
Podeis apreciar as peças isoladas, ou em Suites, que organizei na playlist FROBERGER - MEDITATION
Froberger está plenamente inserido na sua época. Pode-se dizer que a sua música vai buscar as melhores partes da tradição germânica, da francesa (sobretudo, do rico reportório de alaúde) e também da Itália do Norte. Compreende-se, pois ele esteve numa posição privilegiada, como músico nas cortes da Alemanha do Sul e Central, que eram outros tantos focos onde se cruzavam as tendências referidas.
A sua interioridade e subtileza celebrizaram peças como "Le Tombeau de Monsieur de Blancroche", homenageando a memória do Mestre alaudista parisiense, que morreu nos braços de Johann Jakob, após uma queda nas escadas. Note-se, esta peça está toda virada para o interior, para os sentimentos de profunda estima que Froberger tinha para com o alaudista, seu amigo. Só no final, com uma longa escala descendente, aparece o elemento obviamente descritivo da queda, que lhe foi fatal.
Não me vou alongar com as outras peças que vos proponho, pois podeis ler muito boas análises por músicos e musicólogos profissionais. Penso que quem esteja disponível para uma audição atenta, pode intuir qual o idioma dos afetos neste músico extraordinário, subtil e melancólico.
No contexto histórico e em termos estilísticos, contribuiu para o amadurecimento da forma «Suite» para o cravo. Além disso, alargou a técnica de composição e de execução deste instrumento, através da variada paleta expressiva.
Talvez, os "DEZ DIAS QUE ABALARAM O MUNDO"* das nossas vidas.
Eu estive doente e tive de assistir a minha esposa, também ela doente. Por isso, não escrevi, nesta semana, novos artigos para meus leitores do blog. Mas, agora que estou melhor, consegui apenas publicar dois vídeos esclarecedores:
O 1º, é uma entrevista de Glen Greenwald ao Prof. Jeffrey Sachs.
Para se perceber como chegámos a este ponto, é preciso ter uma noção de todo o desenvolvimento que conduziu ao estado presente. A entrevista é intitulada «A Guerra Ucraniana Foi uma Jogada Estouvada» e faz todo o sentido, porque, como o Prof. Sachs recorda, os EUA e a OTAN, durante anos, tudo fizeram para que se chegasse a este estado. Mas, não só a provocação à guerra foi estouvada, como foi de incrível irresponsabilidade, a sucessão de recusas, a cada vez que a Rússia vinha propor conversações para novo acordo de paz e segurança no continente Europeu.
o 2º, é Andy Schectman, um comerciante e especialista de mercados de metais preciosos, que não tem dúvidas sobre a leviandade dos dirigentes políticos, banqueiros centrais e da classe dos oligarcas ocidentais.
Todos eles estavam absolutamente seguros, até há bem pouco tempo, que o dólar era inexpugnável como moeda de reserva e como moeda de intercâmbio comercial em todo o mundo. As forças que se opunham ao dólar tinham, no entanto, excelentes economistas e estrategas, não deixando passar as oportunidades de fortalecer a construção dos BRICS e das trocas entre eles, prescindindo do dólar, assim como do desenhar de uma moeda não vinculada a um país, mas a um pacote de matérias primas, onde o ouro entrava com uma cota de 40%.
Esta moeda internacional que, estou quase certo, vai ser proclamada na próxima Cimeira dos BRICS de Kazan, terá um respaldo muito maior do que o dólar (moeda dita «fiat»), que apenas tem como respaldo a «palavra» , as «promessas» do governo dos EUA.
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*O título do livro de John Reed, de reportagem sobre os dez dias de 1917, que antecederam e imediatamente sucederam à tomada do Palácio de Inverno pelos bolcheviques em 25 de Outubro (do calendário ortodoxo). John Reed, o jornalista e revolucionário, cidadão dos EUA, a quem foi concedida a honra de ser enterrado na Praça Vermelha.
Canções de Anónimos, Claudin de Sermisy, Orlando di Lasso e Josquin des Prez
As canções aqui apresentadas são muito célebres. Porém, existe toda uma literatura - que vai desde os finais do século XIV, até meados do séc. XVI - largamente por explorar. Embora seja conhecida, não é realmente divulgada ao mesmo nível das outras produções musicais do passado.
Também na Península Ibérica se compunham canções profanas. Muitas delas eram copiadas para cancioneiros, pequenos livros com poemas de autores diversos; a música era anotada ou implícita. Os acompanhamentos eram improvisados a partir da melodia.
Um pouco mais tarde, começaram a ser feitas transcrições e glosas (variações) de obras do reportório profano, tanto de peças ibéricas, como de outras origens (italianas, francesas, flamengas...).
Gonçalo de Baena, António de Cabezón e outros, na primeira metade do século XVI, deixaram transcrições de canções, em cifra. Estas transcrições de canções, incluindo glosas, estão na origem da literatura ibérica para tecla. Inicialmente, estas peças instrumentais eram próximas dos modelos vocais. Porém, depois, passaram a ter os traços específicos de instrumentos de tecla.
A partir de finais do séc. XVI, as peças instrumentais, ou eram completamente independentes de modelos vocais, ou somente usavam uma frase de composição vocal, sacra ou profana, como tema.
El grillo, el grillo è buon cantore
Che tiene longo verso
Dalle (dalle) beve (beve) grillo (grillo) canta (canta)
Dalle dalle, beve beve, grillo grilo, canta
El grillo, el grillo è buon cantore
Ma non fa come gli altri uccelli
Come li han cantato un poco
Quando la maggior el caldo
Alhor canta sol per amore
El grillo, el grillo è buon cantore
Che tiene longo verso
Dalle (dalle) beve (beve) ts-tss (ts-tss) ts-tss (ts-tss)
Dalle dalle, beve beve, grillo grilo, canta
El grillo, el grillo è buon cantore
Van de fatto in altro loco
Sempre el grillo sta pur saldo
Quando la maggior el caldo
Alhor canta sol per amore
"Quand je bois un vin clairet
Ami tout tourne, tourne, tourne, tourne
Aussi désormais je bois
Anjou ou Arbois
Chantons et buvons, à ce flacon faisons la guerre
Chantons et buvons, les amis, buvons donc !"
Tant que vivray en âge florissant Je servirai Amour, le Dieu puissant, En faits et dits, en chansons et accords. Par plusieurs jours m'a tenu languissant, Mais après deuil m'a fait réjouissant, Car j'ai l'amour de la belle au gent corps. Son alliance, Est ma fiance : Son coeur est mien, Mon coeur est sien : Fi de tristesse, Vive liesse, Puisqu'en Amour a tant de bien.
Quand je la veux servir et honorer, Quand par écrits veux son nom décorer, Quand je la vois et visite souvent, Les envieux n'en font que murmurer. Mais notre Amour n'en saurait moins durer : Autant ou plus en emporte le vent. Maulgré envie Toute ma vie Je l'aimerai, Et chanterai : C'est la première, C'est la dernière, Que j'ai servie, et servirai.
Nas descrições que acompanham os vídeos, no Youtube, podem-se ler dados biográficos e sobre as peças gravadas.
Algumas das letras são de tipo burlesco (Matona mia cara...), «bem humorado» (El Grillo), ou "chansons à boire" (Tourdion). Outras, são obras requintadas, de poetas frequentando a corte, como Pierre de Ronsard (Mignonne, allons voir si la rose...), ou Clément Marot (Tant que vivray...).