sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

ENFERMEIRAS/OS CONTRA A DESTRUIÇÃO DOS SISTEMAS DE SAÚDE



Quando enfermeiros/as em todo o Reino Unido fizeram greve, os/as camaradas portugueses publicaram uma carta aberta em solidariedade com os/as seus/suas camaradas britânicos/as, lembrando aos leitores e pacientes que o seu próprio sistema de saúde encontra-se perante muitos dos problemas que perturbam o Serviço Nacional de Saúde britânico.
Mário André Macedo, um enfermeiro especializado, um dos primeiros subscritores da carta aberta, disse ao «People’s Health Dispatch» que a sua iniciativa tinha sido inspirada por solidariedade e por urgente necessidade de denunciar os estrangulamentos que poderiam colocar de joelhos o Serviço Nacional de Saúde português. De facto, o serviço português tem muitas semelhanças com o seu equivalente britânico, visto que se inspirou no modelo que Beveridge introduziu no Reino Unido.


Embora ainda conserve a associação positiva com o financiamento público e com o acesso universal, as coisas têm piorado para o sistema de saúde pública português ao longo dos anos. Se virmos a situação de enfermeiros/as no sistema, os seus problemas são tão prementes como os dos trabalhadores de saúde no Reino Unido. Os profissionais que assinaram a carta aberta estimam que na década passada, em Portugal os/as enfermeiras/os tiveram uma perda salarial de 20 por cento - o dobro do que os sindicatos de enfermeiros/as do R. U. indicaram.
Durante o mesmo período, milhares de enfermeiros/as emigraram de Portugal para outros países, sendo o Reino Unido um dos países preferidos. Muitas/os enfermeiras/os emigradas/os estão agora também em greve, salienta Macedo, porque estão conscientes das suas responsabilidades em lutar por serviços de saúde de boa qualidade e acessíveis a todos.
Os/as enfermeiros/as que emigraram de Portugal para o Reino Unido estão muito familiarizados com os processos que são pano de fundo da sabotagem dos serviços de saúde pública, colocando os direitos das pessoas à saúde em perigo.


Divisão e Lucros


O sistema de saúde em Portugal, tal como o NHS britânico, tem sido um objeto de interesse para o setor privado desde há bastante tempo. Em ambos os casos, o objetivo dos fornecedores privados é de quebrar os sistemas, privatizar as partes rentáveis e deixar o que resta para um orçamento público reduzido.
Os principais perdedores neste cenário são, obviamente, os pobres e a classe trabalhadora, que não têm alternativa senão procurar cuidados no setor público, qualquer que seja o seu estado.
Mas seria errado pensar que os trabalhadores de saúde não ficam afetados por este processo. Pois, a insistência na austeridade e nos cortes orçamentais que acompanham as tentativas de mercantilizar os sistemas de saúde, faz com que os direitos dos trabalhadores de saúde sejam cerceados, deixando muitos com uma sobrecarga de trabalho e com «burn out».
Em Portugal, a incapacidade do governo atender adequadamente as reivindicações sobre salários e progressões na carreira, levaram à primeira greve nacional nesta profissão, desde o princípio da pandemia de Covid-19.
«Os sindicatos não forçaram a uma ação grevista no cume da pandemia, mas as propostas do governo para a regulação dos nossos salários e de progressão nas carreiras, conduziram a uma grande onda de apoio para este tipo de ação: pelo menos 75% dos/das enfermeiros/as foi favorável a que se fizesse greve» referiu Macedo.


Custo de Vida



Protesto contra a austeridade em Lisboa, Portugal, 
Fevereiro de 2010 (E10ddie, CC 3.0, Wikimedia Commons)


A progressão na carreira pode parecer um motivo abstrato para se entrar em greve. Na prática, a ausência dum sistema adequado, traz consequências sérias. “Suponha que é uma enfermeira que vai reformar-se amanhã. No caso de não haver uma mudança no sistema atual, a sua pensão seria cerca de 600 euros mais elevada do que a de uma enfermeira que está a trabalhar há pouco tempo e que irá acumular a mesma experiência e horas de trabalho, que você tem agora.” afirmou Macedo.
Ele reconhece que a seguir à greve, o governo concordou em introduzir certas medidas para valorizar a progressão na carreira. Mas decidiram implementar estas decisões a partir de Janeiro de 2023, sem fazer pagamentos retroativos - o que significa a perda de milhares de euros.
A questão dos aumentos salariais nos/nas enfermeiros/as de acordo com a progressão na carreira, tornou-se mais difícil de ignorar por causa da crescente inflação e do aumento do custo de vida. Por não haver um aumento salarial, em paralelo com a experiência acumulada, cerca de 80 % dos enfermeiros em hospitais e centros de cuidados primários de saúde, têm um salário bruto de cerca de 1500 euros. Após impostos, o seu rendimento fica em cerca de 1000 euros.
Na mesma altura, o arrendamento dum andar com um único quarto de dormir, em Lisboa e em regiões turísticas, como o Algarve, tem um preço mínimo de 700-800 euros. Não é surpreendente que estas regiões sofram duma carência de enfermeiros. É impossível um/a enfermeiro/a viver com este salário.
Alguns dos sindicatos permanecem timidamente satisfeitos com o conteúdo das promessas do governo, esperando que sejam suficientes para recuperar o que foi perdido, em anos anteriores. Outros - nomeadamente o Sindicato de enfermeiros/as (SEP) que liderou a greve de Novembro - já anunciaram que irão continuar a lutar por um acordo mais justo.
Ao fazerem isto, também estão a lutar por um sistema de saúde melhor. Segundo Macedo, “Enquanto trabalhadores da saúde, deveríamos proteger o caráter universal do nosso sistema de saúde. Visto que as/os enfermeiras/os são o grupo mais numeroso dentro do sistema, temos a oportunidade de ter um impacto especial».
Os objetivos dos/das enfermeiros/as é de conseguir uma mudança ao nível local, mas também construir relações mais sólidas com os trabalhadores equivalentes doutros países.
“Só podemos ganhar se tivermos solidariedade recíproca e aprendermos uns com os outros. Nalguns países, a situação dos/as enfermeiras/os é melhor porque o país investe mais no sistema de saúde. Mas, na maioria dos países, são as lutas laborais que realmente fazem a diferença e só nos podemos fortalecer conectando-nos entre nós.” conclui Macedo.


Ana Vracar é correspondente para Peoples Dispatch


«People’s Health Dispatch» é um boletim do People’s Health Movement e de «Peoples Dispatch». Para mais artigos e para subscrever o «People’s Health Dispatch», clicar aqui.
Artigo retirado de Peoples Dispatch.




Tradução de Manuel Banet a partir de:

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

FAIRPORT CONVENTION w/ SANDY DENNY: "Who Knows Where The Time Goes?" (1969)



foto: Sandy Denny na sua casa

 Sandy Denny foi um cometa que passou nos céus e só regressa passados uns 80 anos! 
Ou seja: Quem apreciar a sua elaborada poesia e canto, com entrega total, não encontrará facilmente «outro astro» que possa igualar o brilho do cometa Sandy Denny!




Across the evening sky, all the birds are leavingBut how can they know it's time for them to go?Before the winter fire, I will still be dreamingI have no thought of timeFor who knows where the time goes?Who knows where the time goes?Sad, deserted shore, your fickle friends are leavingAh, but then you know it's time for them to goBut I will still be here, I have no thought of leavingI do not count the timeFor who knows where the time goes?Who knows where the time goes?And I am not alone while my love is near meI know it will be so until it's time to goSo come the storms of winter and then the birds in spring againI have no fear of timeFor who knows how my love grows?And who knows where the time goes


Pode apreciar aqui outra versão da mesma canção:



e «Until the Real Thing Comes Along»:



quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

A QUESTÃO NACIONAL: PASSADO E PRESENTE

 


Foto: Trabalho forçado de «indígenas» nos caminhos de ferro do Ghana, enquanto colónia britânica.

A «questão nacional» é das que se vem arrastando desde os mais recuados momentos da História. Ela - ou melhor, a sua confusão com outros conceitos - ensombrou as sociedades, com guerras de conquista e/ou de resistência e pela autonomia perante poderes autocráticos. 

Além disso, a forma como a nacionalidade é percebida, não é a duma simples constatação das diferenças étnicas, com aspetos genéticos, culturais, linguísticos, etc. Porque, a estas constatações, somam-se sistematicamente elementos valorativos, quer subindo, quer baixando, um vasto conjunto de pessoas, dentro das sociedades. Trata-se portanto de afirmar ou reforçar uma desigualdade. Este aspeto da questão é porventura o mais grave, pois funciona como terreno propício comum aos racismos e xenofobias. Ou seja, é o esteio de todas as indignidades e crueldades, que seres humanos têm infligido a outros seres humanos.

Ultimamente, vários povos inseridos em nações, que são sempre conjuntos multiétnicos, têm sofrido (de novo!) as consequências catastróficas da visão racista das etnias, a que gerou as ondas que vieram desembocar na Iª e IIª Guerras Mundiais. 

As pessoas esquecem, demasiado facilmente, que a ciência instituída afirmava, por volta de 1900, como estando provada a superioridade de certa(s) «raça(s)» em relação a outras. Considerava-se que era natural países imperialistas e colonialistas, dominarem os outros. Que povos «indígenas» não-europeus, precisavam de ser «civilizados» pelos europeus. 

Os revolucionários do passado não eludiram as questões da nação e da pátria. Porém, que eu saiba, os autores socialistas, comunistas e anarquistas do século XIX nunca teorizaram a nação num sentido nacionalista. Pode dizer-se que estiveram muito atentos aos fenómenos do nacionalismo e às rebeliões contra a opressão colonial. 

Na visão «ocidental» dominante, pelo contrário, trata-se de fazer passar um discurso de autoabsolvição. Os seus autores, ou quem os encomenda, são, obviamente, os mesmos que levaram os povos das sedes coloniais às guerras e à destruição de etnias e nações, na imensa maioria do que hoje se chama «3º Mundo».

A desmontagem e exposição do conceito de superioridade racial de certas nações, como sendo falso e ideológico, nunca foram efetuadas seriamente na Europa junto do grande público. Isto, apesar das catástrofes que foram a Iª e IIª Guerras Mundiais. Com efeito, nos países ditos do 1º Mundo, não se fez nunca uma correção, nunca se expôs os crimes do colonialismo e imperialismo. Não são os povos em si mesmos, dos países coloniais e imperiais, quem têm a principal responsabilidade: São as classes dirigentes, que ocultam ou deformam, pois nunca quiseram considerar-se culpadas. 

Os estudos aprofundados que instituições académicas possam produzir, apesar do seu mérito, não se traduzem - nos países outrora metrópoles coloniais - numa pedagogia para a generalidade do povo. Pelo contrário, nas camadas populares desses países, pode notar-se, por vezes, um nacionalismo agressivo, com a identificação com as «gestas», que foram as guerras e conquistas. Tal não nos deveria admirar, pois as formas ideológicas e caricaturais do ensino da História, têm sido um dos pilares do obscurantismo e da propaganda. 

A classe dominante não pode sê-lo, senão à custa do engano e da ausência propositada de pensamento crítico no ensino. Não é por acaso que tal acontece, quer no ensino, quer na media e no «entretenimento». Os «bons e os maus», é assim que são construídos todos os enredos, em especial, nas ficções que envolvam  guerra. 

A minha convicção, neste campo, é que as pessoas deveriam ser educadas sobre as origens da nossa espécie. Deveriam perceber, profundamente, que a origem comum da humanidade, não é mais assunto «de opinião»: Transformou-se numa das poucas certezas que a ciência nos pode dar.

A maioria das grandes religiões (cristianismo, islamismo, budismo e outras), são «não-étnicas». Existe predominância desta ou daquela religião, em certas partes do Globo e em determinados países. Porém, salvo manipulação e distorção da religião, não há um assumir de que existam origens separadas, «criações separadas», dos grupos humanos, na base da sua diversidade. O que já é um progresso; nem sempre foi assim. 

Hoje, as narrativas de criação separada são tidas como míticas pelos antropólogos e outros cientistas e são explicitamente tratadas como tal. Ideologias que postulavam origens independentes umas das outras, de facto, não apenas estavam cientificamente erradas, mas também serviram como doutrinas de pseudo ciência, com consequências graves. Tal aconteceu com o regime nazi, com o apartheid na África do Sul e com outros regimes.

A questão nacional está muito claramente codificada na Carta das Nações Unidas e noutros documentos, assinados pelos Estados-membros da ONU, que proíbem a discriminação dos indivíduos com base na sua etnia, religião e cultura de origem. Não só isso, como é reconhecido o direito duma minoria étnica ou nacional, ver respeitadas as tradições e as vivências culturais próprias, como parte integrante e inalienável dos seus direitos humanos. Além disso, é explicitamente reconhecido o direito à autodeterminação: O direito a qualquer população se emancipar da tutela dum Estado, no qual se encontra e construir as suas próprias instituições. 

Ao nível dos princípios e do seu significado, é possível que especialistas em Direito Internacional se ponham de acordo, mas quanto a políticos, mesmo dizendo respeitar os textos com força legal, não fazem mais, por vezes, do que demagogias e sofismas.

A vontade popular deveria ser expressa diretamente através de referendos. No entanto, isso é impedido - na prática - em muitos casos. Aquilo que impede essa expressão por referendo, é geralmente um contexto de conflito aceso, que pode chegar à guerra civil. Frequentemente, este conflito é acirrado ou provocado pelos próprios governos dos Estados. Por isso, as questões de cunho étnico, têm estado na origem de guerras civis, muito violentas e onde são cometidos graves crimes, de parte a parte.  

Nesta pequena discussão, quis enfatizar o que é o conceito de nação, como afirmação de «superioridade» de um povo em relação a outro(s) e que este conceito está na origem de conflitos. 

Por contraste, a nação enquanto conjunto político multiétnico, é caracterizada por igual respeito pelos vários grupos étnicos e pessoas que os compõem. Este conceito é compatível com um modo de vida pacífico, tolerante, apropriado à nossa época. 

A visão mitificada da nação, como uma espécie de «super tribo», ou seja, baseada somente na origem étnica dos indivíduos, não apenas é racista, também é contrária ao entendimento contemporâneo da ciência biológica e antropológica. 

É uma construção ideológica, um instrumento de dominação de classe que é infundido nas várias camadas do povo, para que considere como seu «dever» oprimir os outros, que podem até ser seus vizinhos e familiares. 

Importa compreender que, na panóplia ideológica neocolonial e imperial, as narrativas nacionalistas têm um conteúdo totalmente diferente e falso, das abordagens contemporâneas da sociologia, da antropologia ou da história. 

PS:  ​O que é ​«nacionalismo étnico»​?​ 

Desde logo, deve ser visto como radicalmente distinto dum nacionalismo​ ​​POLÍTICO, onde a nação é reconhecida como uma construção política à qual pode pertencer qualquer indivíduo de qualquer origem étnica, na condição de aceitar a constituição e leis pela qual se rege. Esta visão da nação como uma construção política, vem da Revolução Francesa, do conceito de nação dos republicanos franceses, que inclusive aceitaram como nacionais e portanto elegíveis para a Assembleia Nacional, cidadãos da Polónia e da Irlanda, e outros, pois estavam com o regime republicano instaurado.


​Quanto ao caso triste e trágico do nacionalismo OUN, trata-se de algo completamente distinto: A organização terrorista ucraniana OUN nascida nos anos 1920, começa por ser um movimento anti-polaco na região de Lvov, que correspondia à província da Galícia do Império Austro-Húngaro, para derivar para um movimento de apoio ao nazismo na IIª Guerra Mundial, responsável por dezenas de milhares de mortes de civis polacos, judeus e ucranianos soviéticos. São criminosos de guerra, sem qualquer dúvida e realmente torna-se muito preocupante que os poderes ocidentais, em particular, os da U.E. estejam a branquear a origem assumida dos partidos no poder em Kiev e a darem uma ideia falsa, intencionalmente (pois sabem a verdade), ocultando o seu racismo e colaboração com o nazismo, como se eles fossem «democratas» e «patriotas»...
Consultem estes links:





segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Debussy: Suite Bergamasque (interprete: Seong-Jin Cho)

 


Claude Debussy, Paul Verlaine e o Simbolismo

Paul Verlaine (1844 -1896) tem sido considerado um dos chefes de fila do movimento Simbolista. 
Tal era a sua potência poética que - apesar da sua «má vida» e dos amores proibidos com Artur Rimbaud - o elegeram o «Príncipe dos Poetas», do Parnasso Contemporâneo. 
A sua arte é talvez a forma mais acabada de síntese entre o clássico e o moderno.
Quando nos debruçamos sobre a sua obra, valorizando os aspetos estéticos, ficamos extasiados pela musicalidade, subtileza e pela utilização de audácias de estilo que seriam lembradas pelos seus sucessores.
Afinal de contas, é certo que ele seja o Príncipe: Porque, que mais pode uma alma literária desejar para sua posteridade, do que ser admirada, plagiada, estudada, posta em música e isto, em sucessivas gerações!?

A peça Clair de Lune (Luar) de Debussy, integrada na suite «Bergamasque», não sendo um «poema musicado» é uma peça que banha na atmosfera simbolista e possui óbvias referências à poesia de Verlaine. Não apenas o nome «Clair de Lune» é idêntico a um dos poemas da recolha das «Fêtes Galantes» mas, no poema de Verlaine, este menciona «masques et bergamasques»: Trata-se de uma ironia saborosa, pois «masques» (máscaras) estão unidas, pela rima interna, com «bergamasque» a dança renascentista, originária de Bergamo, Itália.
Estou convencido que Debussy escolheu este título da suite «Bergamasque», como forma de homenagear o poeta simbolista.
Os versos de Verlaine têm sido postos em música por sucessivas gerações de compositores, desde Gabriel Fauré e Reynaldo Hahn, a Léo Ferré e Georges Brassens ... e muitos mais! 




Clair de lune

Votre âme est un paysage choisi
Que vont charmant masques et bergamasques
Jouant du luth et dansant et quasi
Tristes sous leurs déguisements fantasques.

Tout en chantant sur le mode mineur
L'amour vainqueur et la vie opportune,
Ils n'ont pas l'air de croire à leur bonheur
Et leur chanson se mêle au clair de lune,

Au calme clair de lune triste et beau,
Qui fait rêver les oiseaux dans les arbres
Et sangloter d'extase les jets d'eau,
Les grands jets d'eau sveltes parmi les marbres.
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[Tradução de Manuel Banet]

Ao Luar

Vossa alma é a paisagem escolhida
Onde se movem máscaras e bergamascas
Tangem alaúdes, dançam e vão quase
Tristes sob suas roupagens de fantasia.

Enquanto cantam em modo menor
O amor triunfante e a vida sorridente, 
Parecem não crer na  sua felicidade
E sua canção mistura-se ao luar

Ao luar calmo, triste e belo
Que faz sonhar pássaros nos ramos
E soluçar de êxtase repuxos de água,
Grandes repuxos esbeltos entre os mármores.

CRISE ENERGÉTICA; SUA ORIGEM E A QUEM BENEFICIA

 


A EUROPA E A SUA ECONOMIA SÃO AS vítimas PRINCIPAIS DE SEU SEGUIDISMO DA POLÍTICA DOS EUA! ESTE O RESULTADO , agora CLARO, DO QUE PREVI HÁ CERCA DE UM ANO ATRÁS!!!

«Na guerra híbrida que estão a levar a cabo contra a Rússia, desde 2014 e contra a China, desde 2017, muitas das sanções (Nota: são atos de guerra económica) têm um efeito boomerang: São mais prejudiciais para os países que as fazem , do que para os visados.» (citação de artigo de 26 Dez 2021)

domingo, 1 de janeiro de 2023

FUNDO SOBERANO RUSSO AUTORIZADO A SUBIR PERCENTAGEM DE YUAN ATÉ 60%

 https://www.reuters.com/markets/currencies/permitted-share-chinas-yuan-russian-wealth-fund-doubled-60-finmin-2022-12-30/


A Rússia foi exposta a uma severa guerra de sanções, que começou pouco depois do golpe de Estado pró-ocidental de Maidan, em 2014. Porém, com a invasão russa da Ucrânia, os países do Ocidente, liderados pelos EUA, fizeram uma brutal (e obviamente ilegal) confiscação dos fundos em divisas, presentes nos bancos ocidentais e pertencentes ao Banco Nacional da Rússia (o banco central, detentor de ouro e divisas em reserva) confiscando também os bens de pessoas individuais, apenas por serem russas.
Face a esta atitude de extrema hostilidade dos poderes ocidentais, a reação da Rússia foi totalmente previsível: Desfazer-se das divisas de países hostis, que tinham tido parte nesse roubo. Cerca de metade das reservas em divisas estrangeiras da Rússia, as que se encontravam em bancos ocidentais, foram «congeladas», mas - na realidade - com a intenção de nunca mais as devolverem, pois a UE e os EUA têm estado a fazer planos para «reconstrução da Ucrânia», utilizando os fundos russos «congelados» (ou seja, roubados).
Naturalmente, surge agora a decisão de aumentar para o dobro a participação de ouro (de 20 para 40%) e de yuan (de 30% para 60%) permitidos para esse fundo soberano nacional da Rússia. Sem dúvida, os países hostis à Rússia não poderão esperar um qualquer interesse da Rússia em (continuar a) exportar energia (gás natural e petróleo) para eles. Terão de se abastecer junto de outros, no mercado internacional.
A estratégia deles, países ocidentais, querendo impor ao mundo um preço máximo sobre o petróleo, falhou redondamente com o «não» da Arábia Saudita e dos países da OPEP.


Mas, note-se, este desfecho inicia uma nova era, onde as economias dos dois blocos - euroasiático e «atlântico» - estão praticamente divorciadas, a própria China estando mais interessada em exportar para países seus amigos, do que para seus adversários geopolíticos que têm designado (oficialmente) a China como a principal ameaça.
Mesmo que a guerra russo-ucraniana acabe e se estabeleça num acordo de paz, é muito provável que se mantenha a partição entre o domínio do «yuan-ouro», ou seja, onde as notas de crédito em yuan (incluindo as de pagamento da energia) sejam convertíveis em ouro; e a «zona dólar», com os EUA e seus aliados anglo-saxões (Reino Unido, Austrália, Canadá Nova Zelândia), assim como a União Europeia (quase todos, membros da OTAN). Note-se que as zonas monetárias vão estar imbricadas: Existirão países no «Ocidente», que continuarão a ter boas relações com o Eixo Euroasiático, tais como o Brasil (membro dos BRICS), a Venezuela, a Argentina e outros da América Latina e Caraíbas. O mesmo, em relação a muitos países, antes tidos como pró-ocidentais, nos continentes Asiático e Africano. 
Por outro lado, do Extremo Oriente ao Médio Oriente, por maior que seja o crescimento do comércio com a China, através das Novas Rotas da Seda, muitos países quererão manter boas relações com os EUA e o Ocidente, aos níveis económico e militar (armamento, sistemas de defesa, treino de tropas e cooperação em informação e espionagem,...).
Note-se também, que o Mundo, no decurso da 1ª Guerra Fria, experimentou severas restrições ao comércio internacional. Mas, o nível de sanções agora atingido, é tal que a chamada globalização vai apenas ser uma memória do passado. Com o comércio internacional sendo severamente atingido, haverá necessariamente um empobrecimento global. Isso irá também afetar todos os países que pretendem manter-se neutrais.
Creio que vai durar e ser muito significativo, dentro do conjunto de decisões monetárias, económicas e de defesa, o efeito desta decisão do Fundo Nacional russo. Vai estender-se muito para além do ano de 2023, que agora começa.
A guerra entre a Ucrânia (apoiada pela OTAN) e a Rússia, é um momento infeliz e transitório desta guerra mundial híbrida (a IIIª Guerra Mundial). Porém, tudo indica que esta medida não é de simples retaliação, face às sanções massivas dos países ocidentais: Será antes um mudar definitivo de rumo da Rússia, não apenas em termos de política monetária, mas também económica e geoestratégica.