sábado, 8 de outubro de 2022

A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL JÁ COMEÇOU

Matthew Piepenburg e Egon von Greyerz 



A indiferença com que muitas pessoas , aparentemente, reagem a esta situação inédita nas suas vidas, deixa-me de boca aberta.  
- O que induzirá esta atitude, quando a crise já está a bater em pleno? 
- Tenho notado que na media «mainstream» quando analistas hipócritas falam da crise financeira, descrevem-na como algo no "futuro", como uma probabilidade. Assim, muitas pessoas vão perpetuando  seus comportamentos de antes da crise. Outras, que se julgam muito espertas, aproveitam-se da descida das bolsas, para investirem suas poupanças no casino globalista. Quanto aos falsos analistas, estes não deixam de «fazer o frete» aos seus patrões, aos que provocaram e tiram partido do colapso. O que eles, os globalistas, chamam uma oportunidade, para nós é uma descida aos infernos.  
Oiçam o diálogo acima e tirem as vossas conclusões.

 

JULIAN ASSANGE: SUA PRISÃO É A DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

 


Leia também artigo de Craig Murray AQUI

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

CRÓNICA (nº9) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: POLÍTICAS NEOLIBERAIS E GUERRA


Poucas pessoas compreendem a distinção entre o dinheiro e «divisas em papel». Porém, é uma distinção fundamental. Dinheiro é, em primeiro lugar, um valor que existe intrinsecamente: Uma dada quantidade de ouro, de prata ou de cobre, estejam ou não amoedados, podem ter essa função. Os pedaços de papel, ou os seus substitutos digitais, não a têm, evidentemente.
O dinheiro verdadeiro, ou seja, algo tangível como um metal e materialmente quantificável é usado desde há mais de 6000 anos como meio de troca, como intermediário nas transações comerciais. A sua desvalorização é possível, como se verificou na península Ibérica do século XVI, quando a quantidade de ouro e sobretudo de prata aumentou rapidamente, em consequência da exploração brutal dos povos e das riquezas minerais do Novo Mundo. Mas, nos tempos mais recentes, a mineração dos metais preciosos é suscetível apenas de acrescentar anualmente uma quantidade muito modesta, que não pode ser causa de significativa descida da sua cotação mundial. O que acontece com o chamado dinheiro-papel, ou divisas-fiat, é completamente diferente. No passado, a impressão era em papel, hoje em dia a «impressão» das divisas é sobretudo digital.

As numerosas crises de hiperinflação que existiram e continuam a existir, não teriam razão de ser, tirando o caso acima citado ou outros análogos, caso não houvesse impressão «em papel» ou «eletrónica» das unidades de troca. Com efeito, estas são unidades, sim --- mas de crédito. Para se perceber esta mudança em profundidade, nada melhor que ler Alasdair Macleod « Imploding credit - The consequences». De uma forma pedagógica e muito bem documentada esclarece o que tem de ser esclarecido, sobre a questão do «dinheiro» que deixou de ser metálico ou, pelo menos, endossado a metal, mas simplesmente unidades de crédito emitidas pelos bancos centrais ou pelos bancos comerciais. A manipulação da quantidade desse crédito em circulação, o seu aumento (ou a sua retirada), influenciam de forma decisiva o valor dessas mesmas unidades de crédito. Se houver aumento, vai haver uma desvalorização deslizante ou brusca do seu valor, em termos de poder de compra. Que importa ser detentor de um trilião de unidades numa divisa (caso do dólar do Zimbabwé), se esta «fortuna» apenas me permite comprar 3 (três) ovos!


Quando o valor aquisitivo das divisas em papel desce, os detentores das mesmas perdem, enquanto que os devedores, que estavam obrigados a pagar determinadas somas, ficam a ganhar. Mas, além disto, existem outras formas de crédito: Por exemplo, se houver um contrato para fazer determinada obra, entregar um carregamento de matérias-primas, ou realizar um dado serviço, estes tipos de contratos estabelecem a obrigação de pagamento, do que beneficia da mercadoria ou serviço àquele que o forneceu, dentro de dado prazo, por exemplo, até 60 dias após entrega ou conclusão da obra, ou serviço. Ele deverá entregar ao fornecedor determinada soma, em divisas. Compreende-se que uma grande oscilação e quebra do valor das divisas seja sempre disruptiva. Ela não vai afundar somente as atividades especulativas, bolsistas e bancárias, como -também- a economia real: Hoje, quase tudo funciona a crédito.

Estamos, portanto, à beira do precipício. Já todos admitem que teremos uma crise económica global, não uma crise «cíclica», como costumam existir no sistema capitalista. Chegou-se ao ponto em que já é tarde demais para os governos e/ou bancos centrais fazerem algo eficaz para prevenir a catástrofe. A este propósito, é de notar que a tentativa da primeira-ministra britânica Liz Truz e do seu Ministro das finanças em fazerem passar um mini-orçamento de emergência falhou, porque a City vetou aspetos da proposta que iam contra os grandes interesses capitalistas. Nestas circunstâncias, o Banco Central Britânico foi obrigado a fazer uma viragem de 180º de emergência ! Isto ilustra a incapacidade de haver uma solução viável dentro do sistema.

             

 Logo, a «solução» que costuma ser adotada nestas circunstâncias, é recorrer à guerra. Foi o caso da Iª Guerra Mundial, mas não só. Uma guerra, implica a destruição massiva de ativos, de capacidade industrial, além de dizimar a população. Por que razão ela é escolhida pela classe capitalista (ou por parte dela), nestas circunstâncias? 

                      Georg Grosz desenhou capitalistas e pobres. depois da 1ª Guerra Mundial

- Porque a guerra permite obter lucros imediatos, com as vendas de armamento e de abastecimento, com garantias do ouro ou das obrigações governamentais. 

- Porque a crise económica, associada à guerra, vai precipitar na falência empresas pequenas, médias ou grandes, que não aguentam por causa das restrições ao abastecimento, ou da perda súbita da clientela, ou dos seus mercados. As grandes empresas e grupos financeiros (abutres) vão tomar conta deste capital, que não foi destruído pela guerra, a um preço de saldo, rentabilizando-o logo que a guerra acabe.

- Porque o país conquistado é um mercado aberto à gula predatória dos capitalistas, é um «Far West» onde estes podem fazer o que quiserem. 

- Porque a classe operária fica manietada, sem possibilidade de mexer-se, de fazer qualquer contestação, greve ou movimentação, em virtude das «leis de estado de guerra», invariavelmente passadas pelos parlamentos. Nestas circunstâncias, os capitalistas  têm a vida tranquila e podem aumentar a exploração até níveis nunca sonhados, antes do desencadear das hostilidades.

- Porque a guerra é acompanhada pela ascensão de ideologias autoritárias (a «fé» no chefe). Isso - em si mesmo - é do agrado da classe capitalista. Vai consolidar a aliança tríplice entre o sabre, a sotaina e a cartola.

Se não estamos mergulhados numa guerra nuclear agora, é porque existe algum bom-senso ou receio, nas «elites» oligárquicas. Mas, existem demasiados políticos no Ocidente, incluindo presidentes ou primeiros-ministros, que são corruptos, incompetentes e manietados por conselheiros, eles próprios, ao serviço de lobbies.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

DIÁLOGO SOBRE O FENÓMENO HUMANO II

Um Paleoantropólogo e uma Geneticista dialogam sobre o que significa o humano. Falam das abordagens que têm ajudado a perceber melhor os fenómenos relacionados com a evolução e com o comportamento desta espécie de símios, que é a nossa .


P - Conforme prometido, aqui estamos para a continuação do diálogo anterior, tão rico e frutuoso, que encetámos na semana passada. Mas, se me permites, gostaria de abordar, enquanto questão prévia à da sexualidade humana, a questão do instinto, da forma como as espécies de símios antropoides conseguem enfrentar de forma flexível e adaptada os desafios no seu ambiente.

G- Sim, como geneticista, uma das coisas que me deixou sempre bastante frustrada, foi a ligeireza com que o mundo científico, sobretudo antes de ser conhecida a totalidade do genoma humano (no virar do milénio), atribuía «genes» para isto e para aquilo, com a maior desenvoltura, especialmente genes que tivessem que ver com o comportamento, com a inteligência, com a comunicação. Este tipo de «genética hipotética» era corrente em estudos genéticos incidindo sobre nossa espécie, sobretudo, mas também nas outras.

P- A projeção da nossa mentalidade no meta-modelo de como funciona o organismo, o cérebro, o genoma, etc. tem sido uma das maiores fontes de erro na interpretação dos seres vivos e, em especial, o comportamento humano. A atribuição da etiqueta «instinto» a sequências de gestos automáticas (ou tidas como tais), impediu o esclarecimento, até hoje, dos processos que determinam a instalação e reforço dessas tais sequências automáticas ou estereotipadas. Com efeito, demasiadas vezes, etólogos e psicólogos usaram a categoria do «instintivo» para qualquer comportamento que não tivesse sido «ensinado e aprendido». O relegar uma parte importante dos comportamentos animais para a categoria do instinto, era um modo de obviar o seu estudo sério, pois era postulada a transmissão hereditária desses comportamentos, através de «genes do comportamento». Estes postulados gratuitos e muito improváveis de «genes», aliás, não favoreceram o avanço da biologia do comportamento.

G- É verdade! Uma das descobertas mais inesperadas e «escandalosas» em genética, que decorreu da sequenciação completa do genoma humano, foi a constatação de que - no máximo! - existiriam cerca de 26 mil genes, na totalidade do genoma humano. Ora, isso era muitas ordens de grandeza menor do que as previsões dos cientistas, sobre o número total de «genes» que possuiria o genoma humano. Caso houvesse dezenas de milhões de genes, como muitos acreditavam na comunidade científica, não seria inconcebível que um certo número deles tivesse a função de codificar determinados traços de comportamento. O «instinto» seria meramente a expressão genética desses tais genes de comportamento. Isso era entendido dentro do determinismo biológico e bioquímico, apregoado pela quase totalidade dos cientistas em meados do século XX.

P- A palavra «instinto» é como aquela célebre frase da comédia de Molière, quando um médico explica ao seu paciente que a papoila dormideira (de onde se extrai o ópio) devia as suas propriedades, à misteriosa «virtude dormitiva»! O «instinto» não é mais que uma pseudoexplicação desse tipo. A dificuldade em compreender os fenómenos do comportamento coloca-se tanto em estudos incidindo sobre o Homem, como noutros animais.

G- Nós temos tendência a absolutizar o humano como algo radicalmente diferente doutros animais. Porém, em termos moleculares (construção das diversas moléculas biológicas) e mesmo celulares (a arquitetura das células, as estruturas celulares), muitas vezes não se pode distinguir o que provém dum humano, do que provém de outro mamífero. Não há diversidade verdadeira senão ao nível «superior» de organização, como sejam tecidos e órgãos. Aí sim, é possível distinguir o humano, pela anatomia e pela histologia. Não é realmente possível distinguir uma proteína humana da  doutros mamíferos, pela sua estrutura geral e mesmo pela sua função. Apenas podemos distingui-la pela sequência de aminoácidos, ligeiramente diferente no Homem em relação aos outros animais. Muitas vezes, essa diferença é irrelevante do ponto de vista funcional. A prova disso é que um gene de proteína pode ser inserido num cromossoma de outro ser vivo, obtendo-se a sua expressão correta, quer essa inserção seja num animal de experiência, quer num humano (para substituir um gene deficiente, em terapia genética): Em ambos os casos, o gene inserido desempenha na perfeição, o papel daquele que foi substituir.

P- Volto à questão que ficou em suspenso, do comportamento humano e da sexualidade, a comunidade científica, com especial relevo para os psicanalistas, mas com forte influência também nas outras disciplinas, decidiu transformar a questão da sexualidade humana, de um tabu, num assunto obsessivo e omnipresente. Isto não significa que os mitos envolvendo a sexualidade em si mesma tenham sido desfeitos. Penso que existe uma enorme confusão no espírito de muitas pessoas, que torna ainda mais complexo falar-se neste assunto, desde que se tenha a preocupação de honestidade e não se caia em demagogias.

G- Esta questão exerce sempre um grande fascínio, provavelmente porque, subjetivamente, sentimos que a nossa própria biologia e a nossa psique estão envolvidas. Mas, nesta como noutras questões que envolvem a biologia humana, a condição para se abordar cientificamente um problema é não o fazer com envolvimento dos nossos egos. Será possível com a sexualidade»? Será possível fazê-lo como descrevemos o aparelho circulatório, ou as funções hepáticas?

P- Colocas um problema metodológico sério. Pois nós temos emoções e estas, sendo recalcadas, não sabemos «a priori» quais sejam. Mas, é impossível avançar neste domínio, senão com o distanciamento que conseguimos em relação à descrição e funcionamento dos outros órgãos do corpo humano. Creio que um problema de fundo que tem surgido em muitas discussões sobre a sexualidade, é a permanente redução desta, ao prazer sexual. Esta questão tem «canibalizado» as discussões, sobretudo nas revistas populares e em shows televisivos. Esta questão, legitimamente, é objeto da curiosidade e interesse do público. Porém, as emoções e muitos aspetos típicos das situações amorosas, ficam na sombra.

G- Se nós somos condicionáveis, em termos gerais, isso deve-se às estruturas profundas, que existem em nós - provavelmente no cérebro, em primeiro lugar - que desencadeiam esse condicionamento. Ora, a publicidade usa e abusa de imagens subliminares (ou explícitas) que enviam mensagens imbuídas de conotação sexual. Se o faz, é porque o mecanismo funciona. Nós temos uma grande fragilidade a este respeito: Algumas atitudes e comportamentos, tal como o imaginário, direta ou indiretamente, têm relação com sexualidade. Mas, como em muitos casos de condicionamento, o que funciona mais eficazmente é o que não atinge o nível explícito, ou seja, fica ao nível subliminar. As estruturas psíquicas, a sua instalação e fixação no humano, não só antecedem a sociedade industrial, a televisão , etc.: formam parte do «fundo genético», anterior à emergência da própria espécie H. sapiens, ou mesmo, de seus antepassados mais longínquos.

P- Como noutros aspetos da biologia, aceito que os comportamentos se foram complexificando, foram sendo selecionados os indivíduos que tinham um conjunto de características hereditárias que favoreciam a maior flexibilidade ambiental. Explico-me: Há 7 milhões de anos, o ramo primitivo que foi dar os Chimpanzés modernos, o que foi dar os Bonobos modernos e o que foi dar o Homo sapiens moderno, separaram-se. A partir daí, há isolamento genético dessas três espécies de símios. A sua adaptação ao ambiente era fator decisivo para a sua sobrevivência: houve - constantemente - uma propagação diferencial dos genes mais adequados, pelas sucessivas gerações, em resultado da seleção natural. Mas, se virmos a distribuição ecológica atual dos Chimpanzés e dos seus antecessores, assim como a dos Bonobos, constatamos uma coisa: ela vai alargar-se ou estreitar-se consoante a progressão ou contração da floresta tropical-equatorial.
                                                                 Champanzé: Mãe e filho

                                           Bonobo: Mãe e filho

Já no caso das espécies da nossa linhagem, apesar de haver ramos colaterais, que acabaram como «becos sem saída», parece evidente que os mais bem sucedidos foram os que se conseguiram adaptar à Savana, a partir da sua adaptação prévia à Floresta tropical.
Parece-me errado, portanto, procurar a «síntese» entre o Chimpanzé e o Bonobo (atuais) como sendo a chave para as primeiras etapas da construção do humano. Sim, temos parentesco em comum; isso traduz-se por semelhanças tanto anatómicas como comportamentais, no sentido lato. Porém, a exploração eficiente do novo habitat, a Savana, implicou muitas adaptações correlativas e muitas diferenças em relação às espécies de símios que permaneceram no ambiente de Floresta. O andar ereto; a dieta mais especializada em gramíneas selvagens e em carcaças de animais (abandonadas pelos grandes carnívoros); as modificações metabólicas, conduzindo à utilização de energia disponível para o crescimento desproporcional do cérebro; o desenvolvimento de glândulas sudoríferas, a perda paralela de pelagem em grande parte do corpo, (possibilitando a caminhada debaixo de calor intenso, em longos percursos). Trata-se de muitas adaptações correlacionadas, cuja sequência cronológica ainda não está muito clara, sobretudo porque dizem respeito a partes moles, não fossilizáveis.
O andar ereto torna mais conspícuos os órgãos genitais (em ambos os sexos), assim como os seios das mulheres. O maior dimorfismo sexual em símios verifica-se nos gorilas, mas é bastante modesto na nossa espécie e em espécies que antecederam a nossa. Apesar das diferenças anatómicas, houve fósseis que foram considerados por engano (pelos traços anatómicos) como masculinos e se verificou serem femininos, e vice versa, quando se pôde extrair ADN e sequenciar os genes desses fósseis.

G- Aliás, em H. sapiens do Paleolítico, verificou-se que as mulheres tinham parte ativa em caçadas, por diversas evidências. Tal não deveria surpreender, em grupos pequenos, nómadas. Quando o número de adultos num grupo era baixo, não podia haver uma repartição exclusiva por sexos de muitas tarefas. Tal como a caça e colheita, muitas outras atividades devem ter sido partilhadas por ambos os sexos.
O que ocorreu foi uma projeção da imagem convencional do homem e da mulher, do fim do século XIX e princípios do século XX. Os arqueólogos que estudavam o «homem primitivo» admitiram, como dado imutável, o estatuto «inferior» da mulher. O preconceito impede de ver certas evidências, porque aquele que as vê, descarta automaticamente certas hipóteses. Pode até nem ser um processo consciente, nalguns casos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

CRÓNICA(nº8) DA IIIª GUERRA MUNDIAL - ECONOMIA EUROPEIA CAI NO ABISMO

 

Não sou eu que o afirmo; são os mais sérios analistas dos mercados, incluindo os que são pagos pelos grandes bancos, para analisar a evolução financeira e económica mundial. Assim, chegará à mesma conclusão do título deste artigo, qualquer pessoa que se queira debruçar sobre a realidade económica subjacente à IIIª Guerra Mundial.

Não há maneira de esconder com propaganda a derrocada que estamos vivendo: quer no Reino Unido, quer na Alemanha e - em consequência - em toda a Europa Ocidental, o momento da rutura energética, económica e financeira aproxima-se. 

Os dirigentes dos governos e bancos centrais não têm rumo: Há meses, tomaram medidas de contenção, para controlar a inflação; agora estão a reverter essas mesmas políticas, pois a economia real dos seus respetivos países está em recessão. 

Já tinha avisado. Isto não se deve a eu possuir dons divinatórios. Porém, eles (os que nos desgovernam) sabiam aquilo que estavam a fazer e quais as graves consequências, mas faziam-no, apesar de tudo, pois a alternativa era confessarem que andaram a enganar seus concidadãos. Eles irão continuar a destruir a base económica das nações: Pois esconder o desastre nunca pode ser uma política para enfrentar (já nem digo prevenir) esse mesmo desastre. 

Estou cada vez mais convencido de que estes dirigentes estão a jogar o jogo que lhes foi atribuído pelo Fórum de Davos, ou seja, por uma oligarquia plutocrática que pretende assim acabar com a independência dos Estados e mesmo dos capitalistas médios e dos agricultores, que - potencialmente - podiam ser oposição ao seu «Great Reset». 

Muitas vezes escrevi neste blog qual o propósito escondido por detrás desta crise global manufaturada: Trata-se de destruir a independência dos indivíduos, das pequenas e médias empresas e dos Estados mais fracos. 

A estratégia é clara: sufocar todos os grupos não-oligárquicos, a imensa maioria da população, através da penúria de bens essenciais e da energia, para eles ficarem na dependência direta dos grupos oligárquicos («Não possuirás nada... e serás feliz»). 

A concentração de riqueza, maior que a de quaisquer fortunas passadas, será mantida e consolidada pelo controlo monopolista dos mercados nacionais e internacionais. Não haverá independência dos governos, mesmo os das grandes potências. Estes, não terão independência em relação à classe oligárquica para impor leis «anti-trust», ou que limitem a finança especulativa (como a lei dos EUA, Glass Steagall). Quem ditará a lei aos governos e portanto aos povos respetivos, serão os grandes grupos mundiais, os mesmos que se reúnem em Davos, nos encontros Bilderberg ,ou noutros fórums.

Assim, na sombra discreta dos gabinetes, estão a ser cozinhadas as piores investidas contra os povos. Estes, farão a experiência  amarga de serem acorrentados pelos políticos que eles mesmos elegeram. Irão acordar para a realidade, mas nessa altura, já será tarde demais. As cidadanias dos países sujeitos ao globalismo - Europa, América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coreia do Sul - estarão debaixo dum feudalismo à escala global. 

Mas, este conjunto de países dominados pela oligarquia de Davos, só terá hegemonia numa parte do Mundo. Isto, por causa da emergência do eixo Euroasiático, dos BRICS, das Novas Rotas da Seda, dos Países do Sul seus aliados. 

A oligarquia ocidental não conseguirá fazer a sua lei ao resto do Mundo, sujeito a 600 anos de colonialismo e neocolonialismo. Este mundo tem perfeita memória da destruição que isso implicou para as suas civilizações e povos. 

A aliança que está a desenvolver-se entre grandes países Rússia, China, Irão, Índia e outros, menos grandes, menos populosos, tem o potencial de atrair a imensa maioria das nações do Terceiro Mundo. Com o andar do tempo, a classe operária e a classe média dos países ocidentais também acabará por despertar, quando perceber como foi enganada pelos seus líderes. Nessa altura, haverá uma série de revoluções no Ocidente.

Entretanto, a «elite» enraivecida por seus planos serem postos em causa e por não conseguir alcançar seus objetivos, pode entrar num processo - demente - de fuga para a frente. É algo muito temível, porque a guerra nuclear torna-se assim cada vez mais provável, no concreto. 

Trágica ironia da História: São os globalistas que estão a destruir a própria civilização que os colocou no poder. Hoje em dia, preservar o direito das Nações a disporem delas próprias, é preservar - a todos nós-  daquele perigo. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

POR QUE RAZÃO A MEDIA NÃO REPORTA AS DECLARAÇÕES DE PUTIN E XI JIN PIN?

 «In his Moscow address, he said: “They do not wish us freedom, but they want to see us as a colony. They want not equal cooperation, but robbery. They want to see us not as a free society, but as a crowd of soulless slaves.”»

https://consortiumnews.com/2022/10/03/patrick-lawrence-the-strong-and-the-merely-powerful/

Temos de compreender, não estamos numa «guerra leal», em que o «inimigo» é visto simplesmente como alguma nação ou conjunto de nações, que se opõe ao nosso campo. O que caracteriza esta guerra, esta IIIª Guerra Mundial, é que se trata duma guerra total e híbrida. Híbrida, porque usa meios como sanções económicas, a guerra psicológica com as táticas de ocultação, distorção e fabricação de notícias, a propaganda, o matraquear ideológico, etc. Estes meios são usados em permanência, além dos propriamente militares. É uma guerra total porque os hegemónicos EUA não admitem outra solução senão um domínio, sem partilha, do sistema internacional, feito de acordo com as suas conveniências e não numa qualquer «ordem mundial», mas na mais completa desordem. Eles pretendem assim assegurar a predação e a rapina das riquezas dos povos e seus recursos naturais. Este super-imperialismo ( M. Hudson) pode ser disfarçado de muitas maneiras perante os seus próprios cidadãos; tentam o mesmo em países submetidos à sua órbita. Trata-se de pôr em jogo o que chamam de «soft power». Este é o poder de influenciar, condicionar, atrair as pessoas doutras nações e civilizações, a se submeterem perante o fascínio da máquina produtora de ilusões, da cinematografia de Hollywood, da música rock, de milhões e milhões de horas de séries televisivas apresentando o «american way of life» (totalmente falso) como sendo o modelo que quaisquer pessoas sensatas deveriam adotar. Evidentemente, a propaganda antissocialista e anticomunista, também emanou dos mesmos centros, durante mais de 70 anos, apresentando a imagem mais negativa destes regimes e das forças que defendiam soluções anticapitalistas. Os cidadãos são sujeitos a esta lavagem ao cérebro durante gerações.
A guerra psicológica esteve sempre presente, durante mais de um século, sobretudo desde que surgiu a URSS e houve um apelo para os setores revolucionários da classe operária se libertarem do jugo do capitalismo e instaurar o socialismo. Tais forças, em muitas sociedades não tinham força suficiente para porem em risco as «democracias», mas amedrontaram as burguesias. Por isso, elas criaram, financiaram e apoiaram os partidos fascistas. Estes, acabaram por tomar o poder, primeiro em Itália (onde tinha havido o «biénio vermelho»), em Portugal (onde o regime democrático não reprimia com «suficiente vigor» o operariado revolucionário), na Espanha (onde Franco e outros generais se sublevaram contra a república), para se alastrar na Alemanha, Áustria, Hungria, Roménia. Houve tentativas de golpes fascistas em França e noutras democracias «liberais».
A guerra psicológica, hoje em dia, é aplicada «cientificamente» e parte significativa da «intelectualidade» ou das profissões «intelectuais», está disposta a «fazer a sua parte», neste condicionamento de massas. Não é por acaso, que os meios de comunicação social e da Internet, nas mãos de grandes empresas capitalistas, têm tanto poder, ao ponto de nulificarem qualquer real possibilidade de expressão livre e independente dos poderes. Logo que algo desagrade aos poderes, isso é retirado, através de mecanismos de censura que os regimes fascistas do passado nunca  conseguiram implementar com tanta eficácia. Os meios disponíveis permitem anular todo o «perigo» de meus escritos terem uma difusão significativa. Assim, contrariamente à censura do tempo da Inquisição ou dos regimes ditatoriais do século XX, o processo de orientação da informação nas massas, opera sobretudo pelo mecanismo da saturação de «memes». Se algo é dito e redito com intensidade suficiente e dando a ideia de «diversidade», a massa irá acreditar piamente, um número bastante menor - mas consistente - irá fingir que acredita, só para não ser incomodado, uma pequena minoria irá tentar desmascarar esta construção da «verdade», através de contrainformação, mas sem sucesso, pelo menos, junto da grande maioria. Viu-se e vê-se ainda, com a campanha de condicionamento a propósito do coronavírus, propulsionado ao nível de «pandemia» e que serviu para testar (como se os humanos fossem cobaias) o arsenal de guerra «informativa», ou seja de condicionamento de massas, pelos governos e pelos interesses capitalistas mais poderosos.

A guerra mundial que está em curso, iniciada com o ataque bárbaro e criminoso das forças da OTAN contra a Jugoslávia em 1999 (há 23 anos!), vai durar enquanto não houver mudança da estrutura de poder mundial. Até lá, os países mais poderosos vão fazer a guerra (híbrida), que terá como causa e razão de ser a repartição das áreas de influência. Essa guerra híbrida será também, tanto quanto puderem, uma guerra através de terceiros (by proxi) e isto porque eles sabem que a sua estabilidade doméstica fica posta em causa - no longo prazo - se o seu povo for obrigado a suportar uma guerra. Por isso as forças da NATO estão a impor uma guerra à Rússia através da Ucrânia. Lembremos que as guerras de atrição são (quase sempre) ganhas pelos que têm menos a perder (os Vietnamitas, os Afegãos, etc), enquanto os que têm mais meios técnicos e económicos para fazer a guerra, também têm uma população «amolecida» que não aceita sacrificar o seu conforto e por isso deixa de apoiar o seu governo. Foi o que aconteceu, nomeadamente, com a Guerra do Vietname e com a contestação generalizada que causou no povo e juventude americanos.


A media atual, no Ocidente, é literalmente uma arma poderosa que, não apenas anestesia a opinião pública de seus próprios países, também a intoxica e a fanatiza com relatos mentirosos e cruéis. Desumaniza os «do outro lado», permitindo assim que as oligarquias continuem com a barbárie da guerra. Por isso, é claro que o que dizem do outro lado tem de ser completamente falseado, distorcido, porque nada pode contradizer a imagem de maldade absoluta que é pintada permanentemente dos povos e dos dirigentes das potências opostas. Só quando os povos deixarem de «acreditar» na propaganda de guerra disfarçada de informação, os poderes se sentirão obrigados a moderar seus ímpetos. Porque no passado, não muito longínquo, o rei ou o chefe militar, tinha de ir com as tropas enfrentar o inimigo no campo de batalha; se não o fizesse, o seu exército iria fraquejar e seria derrotado. O elemento psicológico funcionava, mas a lealdade ao chefe implicava que este se mostrasse intrépido, corajoso, pronto a morrer pelo seu povo, mesmo que isto não fosse exatamente assim. Hoje, o elemento psicológico tem a ver com a distorção intencional e repetida do campo adversário, como se «aquilo que parece, acabasse por existir, na realidade». Até certo ponto, esta falácia tem funcionado, porque permite manter as pessoas na ilusão. Devido a este engano, elas acabam por tomar como verdadeiro aquilo que - provavelmente - nunca aceitariam, se tivessem um retrato realista, não partidário, das situações. Porém, no longo prazo, a população acaba por ser massacrada pela sua própria «elite», no altar fantasmagórico da «pátria»... A descida ao mundo real, quanto mais tardia for, mais dura será

domingo, 2 de outubro de 2022

A EUROPA METEU-SE NUM BECO SEM SAÍDA

   Maidan (2014) a violência do golpe de Estado, instigado e apoiado pelos Ocidentais

Quando diversos governos europeus se precipitaram, na sequência da invasão russa da Ucrânia, para executarem as sanções, é notável que um certo número destas, como a expulsão dos Bancos russos do sistema SWIFT, ou a tomada (não o congelamento) das reservas em divisas detidas pelo Banco Central da Rússia, não tivessem sido jamais consideradas como possíveis, publicamente. O efeito devastador de tais sanções inéditas seria de causar um colapso da economia da Rússia, a sua descida subsequente no caos e a revolta contra Putin e o seu governo. Estas expectativas foram, nessa altura, enfaticamente afirmadas pelos governos atlantistas e seus propagandistas. Essa tal ênfase, faz-me pensar que estavam 100 % confiantes do seu resultado.
O facto é que a economia e o próprio Estado russo se tinham estado a preparar para esta guerra económica, desde que verificaram o papel dos ocidentais no golpe de Estado na Ucrânia, o golpe dito de Maidan, que derrubou um governo legítimo e instalou forças nacionalistas, chauvinistas, as piores de que há memória, desde o fim da IIª Guerra Mundial. Eu lembro-me perfeitamente das declarações histéricas de certos líderes do triunfante golpe de Maidan em 2014. A perseguição furiosa aos elementos russófonos, foi ao ponto de uma guerra de extermínio, de etnocídio, contra uma parte do próprio povo ucraniano. As províncias do Don eram províncias russas ofertadas por Lenine à república soviética da Ucrânia em 1922, a Crimeia foi povoada por russos desde o final do século XVIII, e estes são muito maioritários nesta península. Por outro lado, houve impunidade total dos elementos (conhecidos) pelo bárbaro crime de imolação pelo fogo de mais de 40 pessoas que se refugiaram no edifício dos sindicatos, em Odessa (outra cidade claramente russófona). Em consequência do ataque violento à sua cultura, às suas propriedades, meios de subsistência e -sobretudo- à sua própria vida, os russófonos da Ucrânia foram empurrados para a guerra civil pelos bandidos de extrema-direita. Estes foram chamados, eufemisticamente, pelas chancelarias e pelos órgãos de imprensa, de «nacionalistas», quando na verdade, integravam uma extrema-direita nazi, em continuidade com a divisão SS formada por ucranianos durante a IIª Guerra Mundial e culpada de inúmeros massacres e atrocidades.
Nada do que ocorreu durante estes oito anos, incluindo a invasão russa e a recente inclusão as ex-províncias ucranianas de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, no território da Rússia, teria acontecido, se europeus e americanos, desde 2014, não tivessem jogado no confronto e na provocação com a Rússia, às suas fronteiras, nesta área tampão extremamente complexa do ponto de vista das etnias, da História, etc.
Todo este jogo absurdo, por parte dos governos da Europa ocidental, mostra até que ponto eles são vassalos do poder de Washington. Com efeito, é este que mantém a Europa refém e «protege-a», assim como os gangsters «protegem» os comércios que lhes pagam um tributo. A cobardia e corrupção dos seus dirigentes políticos, é o que torna viável o jogo americano. Ao ponto de se aplicar perfeitamente a interrogação retórica, «com amigos assim, para que são precisos inimigos?»
Agora, estamos perante uma classe política que não sabe o que fazer. Toda ela está totalmente impotente para evitar os rigores de austeridade, de inflação galopante, de miséria e de fome, causados nos respetivos povos pela sua própria estupidez. O povo e os trabalhadores já percebem e não perdoarão. Os dirigentes europeus embarcaram numa violenta guerra de sanções, em proveito alheio (Washington) sem sequer se precaverem das (prováveis) consequências de ficarem cortados dos principais fornecimentos de gás, petróleo, adubos e cereais! Absurdo, mas verdade. Incrível, mas autêntico. Nada nem ninguém poderá negar a evidência dos factos.
Todos os dados apontam para isto. Os governos europeus da OTAN caíram na armadilha, que seu «suserano» os EUA, lhes pregou, para os ter na mão.
Tinham ainda uma pequena «tarefa» a fazer para dar o golpe final. A sabotagem, tornando inviáveis, no curto e médio prazos, os fluxos de gás dos gasodutos NS 1 e NS2. Assim a Alemanha e outros, não iriam poder retomar as importações de gás russo. A saída diplomática da guerra é do interesse dos europeus ocidentais, além de ser - obviamente - vital para o povo ucraniano. Mas, encontrar uma saída diplomática, é aquilo que Washington mais deseja evitar, no  presente conflito no Leste da Europa.
Penso que as circunstâncias em que se encontra a Europa ocidental hoje, podem causar um choque de tomada de consciência. Não creio possível a continuação da pantomima de que os Americanos são «amigos» e «aliados» dos europeus:
- O dólar joga claramente contra o euro e agora contra a libra: OS MEIOS FINANCEIROS, A COMEÇAR PELA FED E POR WALL STREET, agem como inimigos dos europeus, querem captar as suas indústrias mais valiosos, as indústrias de ponta. Eles querem que a Europa se desindustrialize, para as melhores indústrias europeias se instalarem nos EUA. Estas indústrias beneficiarão de regimes especiais de proteção. As economias dos países ocidentais, sobretudo as dos mais poderosos, são agora privadas do acesso às fontes de energia seguras e baratas, para depois serem saqueadas e exportadas (as mais interessantes) para territórios do Tio Sam.
O que digo acima é evidente. Pois, de uma forma ou de outra, é exatamente o que JÁ OCORRE DEBAIXO DO NOSSO OLHAR. Talvez eles consigam salvar a sua economia da hecatombe, à custa da hecatombe dos seus «amigos e aliados» europeus. Mas, será isto um verdadeiro triunfo?

 ALGUMAS REFERÊNCIAS RELACIONADAS:

https://thecradle.co/Article/Columns/16307

https://consortiumnews.com/2022/09/30/scott-ritter-the-onus-is-on-biden-putin/

https://www.nakedcapitalism.com/2022/09/michael-hudson-on-the-euro-without-germany.html

https://www.youtube.com/watch?v=2wpMMSvKUTU

https://www.globaltimes.cn/page/202209/1276456.shtml

https://www.unz.com/article/nordstream-the-signal-that-washington-knows-it-has-lost-the-great-game/


PS1: Agora, que Blinken classificou (na Sexta feira passada, 30 de Set.) as explosões dos gasodutos no Báltico como «uma tremenda oportunidade» ou seja, agora, os europeus têm de comprar LNG americano em grande quantidade, não há mais lugar para dúvidas. A húbris da administração Biden é reveladora de QUEM fez essas sabotagens. Não me custa crer que os americanos tiveram a colaboração operacional dos britânicos e polacos e conhecimento prévio dos membros da NATO do Báltico, Alemanha, Dinamarca, Suécia. Veja:

 https://www.zerohedge.com/geopolitical/blinken-calls-sabotage-attacks-nord-stream-pipelines-tremendous-opportunity

Se os Estados da Europa ocidental tivessem governos nacionais e não fantoches, esta situação deveria conduzir à rutura com os EUA e ao rebentamento da própria NATO.
https://www.unz.com/runz/american-pravda-of-pipelines-and-plagues/


PS2: A candidatura da Ucrânia à «entrada de emergência» na NATO, teve como resposta um frio «NÃO» do lado da NATO. Aos americanos, obviamente, não lhes interessa que a Ucrânia esteja dentro da NATO. Querem que a Ucrânia lute contra a Rússia até à exaustão das suas forças, mas sem alastramento à NATO, o que iria certamente significar uma guerra direta NATO-Rússia.