sábado, 26 de outubro de 2019

CRIMINALIDADE: A FACE ESCONDIDA DA GLOBALIZAÇÃO



Xavier Raufer é criminólogo: esta entrevista, em francês, está centrada sobre o seu livro. 
Fala na entrevista seguinte - em especial - nos terroristas djihadistas do Estado Islâmico: https://www.youtube.com/watch?v=YE6eTOJMKB4

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (IV)

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Ver parte I aqui / parte II aqui / parte III aqui

ESTAMOS NUM MOMENTO DE VIRAGEM, NO DOMÍNIO MUNDIAL.

A possibilidade técnica do Império ganhar uma guerra, seja com «botas no terreno» (Síria) seja através de seus mercenários (Afeganistão) ou guerras por procuração (Arábia Saudita no Iémene) está completamente posta em causa.

A existência de um aparato militar pesado, que consome uma parte enorme do orçamento americano e dos seus aliados, torna impossível a tarefa aos EUA e aliados, de manterem a hegemonia, que implica aguentarem o esforço constante de renovação do armamento e de equipamentos diversos, face a competidores capazes de produzir armas de grande precisão e superiores às do Império. Além disso, esses países estão em expansão económica, enquanto os países na órbita do Império, estão em estagnação ou em recessão. Isto é um facto, mesmo que seja negado pelas estatísticas falsificadas e pela media mercenária.

Do ponto de vista económico, os bancos centrais ocidentais têm levado a cabo uma série de medidas, não apenas «pouco ortodoxas», mas que resultam em fracasso completo, com um crescimento económico «a fingir», com repercussões no muito curto prazo, além de terem produzido montantes de dívida monstruosos, não digeríveis, nem pelas actuais gerações, nem pelas próximas.

A falência do modelo neo-keynesiano pode medir-se pela constante erosão das garantias de que os menos afortunados têm beneficiado, mesmo no próprio coração do Império. Países como os EUA, o Reino Unido, a França, a Alemanha, etc., considerados países ricos, proporcionavam às suas populações níveis elevados de bem-estar (Welfare State). São estes, agora, os pontos do globo onde se nota maior crescimento da miséria, dos sem abrigo, do alcoolismo, de suicídios; tudo isto, em paralelo com a constante perda dos direitos sociais nas últimas três décadas e uma ausência de futuro para as jovens gerações.

A oligarquia, no momento presente, já percebeu que tem de inventar qualquer coisa para ir aguentando, para manter - a todo o custo - a ilusão de que «não há alternativa». Porém, o contraste com outras paragens constitui uma permanente e humilhante negação das suas falaciosas «verdades»: Falo da construção da poderosa e diversificada rede de comércio internacional (OBOR =«One Belt, One Road»), que eles tentaram em vão inviabilizar, para depois - também em vão - dissuadirem de aderir, os países sujeitos ao domínio neo-colonial .

Claro que ainda têm uma parte importante do mundo nas suas garras. Mas, mesmo estas zonas escapam ao seu controlo; ultimamente, eclodiram revoltas no Chile e no Equador. Quanto ao processo de paz em curso no Médio Oriente, os americanos ficaram relegados para um canto, sendo a Rússia de Putin a dar as cartas, como interlocutor capaz de aplanar caminhos para a resolução dos conflitos na Síria e no Iémene.

Quanto à União Europeia, os seus dirigentes deviam ser processados e condenados por tudo o que têm feito no Médio Oriente. Mas os dirigentes nunca fazem «mea culpa». Os povos é que têm de arcar com as consequências da falta de visão estratégica dos líderes.

Pelo menos, em França, isto já não se passa exactamente assim: A revolta dos «gilets jaunes» responde à arrogância do poder, não ainda com a mudança desejada, mas - pelo menos- com um movimento de amplitude suficiente para desmascarar quem fala em «consensos» na sociedade francesa.

O agravamento das condições económicas vai acelerar o processo de deslegitimação da oligarquia. Com a Alemanha a entrar em recessão, observam-se vagas de despedimentos aos milhares, nos sectores automóvel, da metalurgia e outros, que irão desencadear novas ondas. Muitas pequenas e médias empresas sub-contratantes estão ameaçadas. Se a Alemanha é o motor económico da UE, logicamente, vai haver um efeito em toda a zona, a própria economia mundial ficará profundamente afectada, devido ao lugar que nela desempenham a Alemanha e a UE.

A viragem para uma economia centrada no consumo interno, e já não tanto na exportação, prossegue na China, o que tem originado menor crescimento económico, fenómeno que pode ser transitório, ou não. Aos valores altíssimos de crescimento das economias na Europa ocidental, nos anos do imediato pós II Guerra Mundial, sucedeu a progressiva diminuição, até ao ponto de que hoje existe uma contracção do PIB real, em vários países.

Estando o crescimento do PIB, sem dúvida, ligado ao crescimento da população, as economias com saldo populacional positivo vão continuar a crescer, enquanto os países industrializados (Europa, América do Norte, Japão...) irão estagnar ou regredir. 
A China está agora a começar a sentir o efeito de duas décadas de política de filho único (1980-2000), com o envelhecimento e a impossibilidade de substituição das actuais gerações de activos.
Nos países ocidentais, o envelhecimento populacional e a não substituição das gerações, devido a uma natalidade demasiado fraca, já eram fenómenos perfeitamente previsíveis, há muitos anos. Porém, a visão curta e centrada no lucro, tem impedido, nestes países, as transformações económicas e sociais necessárias. Seria preciso uma total mudança de paradigma, quer em termos de trabalho (menos horas de trabalho, distribuição do trabalho pelas pessoas), quer de recursos sociais colectivos (a segurança social, as estruturas da saúde, da educação, etc...). Mas, nenhuma política séria foi até agora ensaiada, face a esta mutação demográfica.

Parafraseando Paul Valéry, digo que todos os impérios têm um fim, todos são mortais. Agora, é a vez do Império dos EUA.
Já vimos isto - na História - com a decadência, até ao estertor final, do Império Romano. Outros impérios sofreram processos análogos; todos eles nos podem dar exemplos semelhantes. A escala do Império dos EUA será mais vasta, mas as etapas fundamentais são as mesmas.
Por exemplo, também o Império Romano decadente produziu dinheiro que valia cada vez menos, por ter cada vez menor percentagem de prata. Hoje em dia, a impressão monetária desenfreada - levada a cabo por quase todos os grandes bancos centrais - faz o mesmo, só que na modalidade digital: o seu efeito prático é de diminuir o valor real da moeda, mantendo seu valor nominal.

Verificam-se agora - como então - a multiplicação de cultos estranhos e de seitas obscuras, a decadência total da moral, sobretudo na classe oligárquica, com suas práticas pedófilas e satânicas. O escândalo de Jeffrey Epstein foi convenientemente abafado, com o «suicídio» deste fornecedor de crianças para pedófilos bilionários e seus lacaios da política.

Efeito imprevisível, nos primeiros tempos da Internet: o potencial de indignação e de revolta das massas não foi multiplicado, pois a Internet, mais ainda que a TV (a «droga» da geração anterior) manipulada pelos interesses poderosos, adormece e desvia a atenção das pessoas para futilidades. Pode-se prever que as pessoas, privadas da sua droga, por motivo de uma rotura social, entrem em carência e sejam capazes de actos violentos, desesperados, por não poderem satisfazer a sua adição.

A fragilidade do sistema é tal, que me espanta não existirem mais situações de ruptura, além daquelas que nós já conhecemos.

A canalização das energias para falsos problemas como seja a emissão de CO2 pelas actividades humanas, tida como «a causa» de todas as perturbações do clima, sabendo-se que o clima é algo - por essência - mutável e que concorrem imensas causas para as suas variações, é um dos processos para manter as massas distraídas das questões realmente fulcrais. 

Nunca se toca, sequer ao de leve, na questão central da extrema assimetria na distribuição do poder e do dinheiro.

O modo de proceder da elite tem sido o de gerir, ao nível dos meios de comunicação destinados ao grande público, a percepção (efeito «matrix»).
As pessoas encontram-se enredadas numa série de mitos e falsos conceitos, mas julgam saber muito sobre os vários assuntos, quando - na verdade - não sabem quase nada. Muitas são incapazes de compreender conceitos elementares e não adoptam uma visão racional da natureza e da sociedade. Daí, o seu recurso à astrologia, às pseudo-ciências, às pseudo-medicinas, etc.
Não é por acaso que a educação se transformou num enorme fracasso para os indivíduos, uma fábrica de insucesso. Os poucos que são capazes de passar através do crivo, são condicionados no seu modo de pensar e agir: os «bons» alunos são insistente e constantemente sujeitos a doutrinação, que se confunde - erroneamente - com saber.

A complexidade dos desafios implica que muitas pessoas vão ser apanhas completamente desprevenidas. Estamos a entrar num período de conturbações económicas, onde serão inevitáveis graves perturbações nas sociedades. Haverá instabilidade social e política.

É dever de quem já abriu os olhos do entendimento, ajudar a abrir os olhos das restantes pessoas. Não só é muito positivo para estas, pois saberão melhor como se defender, como é positivo para as pessoas esclarecidas, porque estas não terão um entorno social hostil.
Em vez de «guias do povo», precisamos de pessoas sábias, serenas e esclarecidas, que sejam respeitadas e ouvidas pela maioria.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O BLOB... UMA ESTRANHA CRIATURA QUE FASCINA CIENTISTAS E PÚBLICO


O Physarium Polycephalum - de seu nome verdadeiro - pertence ao grupo dos mixomicetes. «Blob» é apenas a sua alcunha:
 - é uma célula única, não está compartimentada; a sua estrutura filamentosa é totalmente desprovida de neurónios e pode atingir a extensão de 10 metros quadrados!  
... E muitas mais coisas estranhas podeis ouvir neste vídeo da conferência de Audrey Dussutour:

                                 

    

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

MANLIO DINUCCI: ERDOGAN QUER A BOMBA


                              

“Alguns países têm mísseis nucleares, mas o Ocidente insiste que não podemos possuí-los. Isto é inaceitável”: esta declaração do Presidente Erdogan revela, que a crise vai além daquela iniciada com a ofensiva turca na Síria.

Na Turquia, durante a Guerra Fria, os USA instalaram armas nucleares contra a União Soviética. Em 1962, nos acordos com a URSS para a solução da crise dos mísseis em Cuba, o Presidente Kennedy prometeu remover essas armas da Turquia, mas o mesmo não foi feito. Após a Guerra Fria, permaneceram na Turquia, na base aérea de Incirlik, cerca de 50 bombas nucleares USA B61 (as mesmas inseridas em Aviano e Ghedi, em Itália), direccionadas principalmente contra a Rússia.

Deste modo, seja os EUA ou a Turquia, ambos violam o Tratado de Não Proliferação. Os pilotos turcos, no âmbito da NATO, são treinados (como os pilotos italianos da base de Ghedi) ao ataque com bombas nucleares B61, sob o comando USA. Dentro de pouco tempo, as B61 devem ser substituídas pelos USA, também na Turquia (como será feito em Itália e noutros países europeus) pelas novas bombas nucleares B61-12, também direccionadas principalmente contra a Rússia.

Enquanto isso, porém, após a aquisição turca de mísseis antiaéreos russos S-400, os USA retiraram a Turquia do programa F-35, principal transportador das B61-12: o caça do qual a Turquia deveria ter comprado 100 exemplares e do qual era co-produtora. “O F-35 – declarou a Casa Branca - não pode coexistir com o sistema antiaéreo S-400, que pode ser usado para conhecer as capacidades do caça”, ou seja, pode ser usado pela Rússia para reforçar as defesas contra o F- 35. Ao fornecer a Ankara os mísseis anti-aéreos S-400, Moscovo conseguiu impedir (pelo menos, por agora) que sejam instalados no território turco 100 F-35, prontos para o ataque com as novas bombas nucleares USA, B61-12.

Parece, nesta altura, provável que, entre as opções consideradas em Washington, exista a transferência de armas nucleares USA da Turquia para outro país mais confiável. Segundo o conceituado  Boletim dos Cientistas Atómicos (USA), “a base aérea de Aviano pode ser a melhor opção europeia do ponto de vista político, mas, provavelmente, não tem espaço suficiente para receber todas as armas nucleares de Incirlik”. No entanto, o espaço poderia ser obtido, dado que, em Aviano, já se iniciaram os trabalhos de reestruturação para receber as bombas nucleares B61-12.

Sobre este fundo coloca-se a declaração de Erdogan que, apostando também na presença ameaçadora do arsenal nuclear de Israel, anuncia a intenção turca de ter as suas próprias armas nucleares. O projecto não é fácil, mas não é irrealizável. A Turquia possui tecnologias militares avançadas, fornecidas em particular por empresas italianas, especialmente a Leonardo. Possui depósitos de urânio. Tem experiência no campo de reactores de pesquisa, fornecidos em particular pelos USA. Iniciou a construção de sua própria indústria de energia nuclear, adquirindo alguns reactores da Rússia, do Japão, da França e da China. Segundo algumas fontes, a Turquia já pode ter adquirido no “mercado negro nuclear”, centrifugadoras de enriquecimento de urânio.

O anúncio de Erdogan de que a Turquia se quer tornar uma potência nuclear, interpretado por alguns como um simples jogo a termo, a fim de ter mais peso na NATO, não deve, portanto, ser de subestimar. Ele descobre o que geralmente está oculto no debate mediático: o facto de que, na situação turbulenta causada pelas políticas de guerra, desempenha um papel cada vez mais importante, a posse de armas nucleares, pressionando os que não as possuem a procurá-las.

il manifesto, 22 de Outubro de 2019

Manlio Dinucci
Geógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos





segunda-feira, 21 de outubro de 2019

MERCADO DE OBRIGAÇÕES SOBERANAS = ESQUEMA DE PONZI PLANETÁRIO

                

Para as pessoas não embrenhadas nas subtilezas dos mercados financeiros mundiais, a diminuição constante das taxas de juro das obrigações, nomeadamente as que são emitidas pelos Estados (obrigações «soberanas» ou «do tesouro»), pode parecer misteriosa(*). De facto, a media convencional faz tudo para ocultar a realidade, admitindo que os jornalistas económicos tenham um acesso, pelo menos igual ao meu, à informação sobre estas questões.



A explicação que é dada - normalmente - prende-se com o «relançar da economia». Com efeito, segundo o esquema clássico, um investimento em obrigações (a taxa fixa durante um certo número de anos) terá um retorno inferior ao investimento do capital num mercado mais dinâmico, como o das acções cotadas em bolsa. Em termos de rendibilidade /segurança, os investidores que tiverem um apetite maior para o risco, irão escolher investimentos com maior rendibilidade (as acções), em detrimento dos que ofereçam maior segurança (as obrigações). Se o ambiente económico geral é de optimismo, haverá maior tendência para os investimentos com maior risco, o inverso se passando quando se entra em recessão, ou quando a economia abranda e se perfila uma recessão no horizonte.

Se aceitamos a lógica tradicional, então esta descida constante das taxas de juro das obrigações soberanas, em paralelo com a subida das bolsas, seria sinal de que «tudo vai pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis».
Porém, o mercado das obrigações soberanas, como todos os mercados financeiros hoje em dia, sofre distorções, está viciado, é um jogo em que Estados, os bancos centrais e a grande banca exercem uma pressão constante.
Hoje sabemos que os bancos centrais de muitos países (cerca de 30), retomaram o caminho de «quantitive easing», ou seja, de fornecer dinheiro (aos bancos comerciais) em grande quantidade.
O banco central americano - a «FED» - tem estado ultimamente a fornecer 60 a 75 biliões (segundo Jeff Berwick, o montante diário é de $160 biliões) aos bancos comerciais, para que não «seque» o mercado inter-bancário de empréstimos a curto prazo («overnight lending»).
Este afluxo de dinheiro fresco é obtido pela compra de activos financeiros, que os bancos possuem em reserva, nomeadamente obrigações do tesouro desses mesmos países. Os bancos dos EUA terão uma grande quantidade de reservas sob forma de obrigações do tesouro americano, o banco central europeu e os bancos comerciais da zona-euro, têm uma percentagem elevada de obrigações do tesouro dos países membros da zona-euro, etc. Portanto, havendo procura elevada, mantida pela compra constante dos bancos centrais destas obrigações, os respectivos juros vão diminuir. Isto deve-se ao facto dos portadores de obrigações ficarem com uma maior garantia de que conseguirão facilmente vendê-las, havendo sempre compradores, quanto mais não seja, os bancos centrais.
Chega-se a um ponto em que a procura de obrigações soberanas aumenta, por parte de investidores particulares e institucionais, devido às incertezas da economia.
Nesta altura, aquelas obrigações são percebidas como investimento-refúgio, não são adquiridas com o objectivo de obter lucro, mas de garantir o capital. As obrigações começam a ter uma remuneração muito baixa, abaixo da taxa de inflação do país de emissão, para atingir, depois, uma taxa negativa: ou seja, chega-se à situação dos investidores comprarem obrigações, por exemplo, 1000 euros a dez anos, com a certeza de que, após dez anos, irão recuperar 998 euros.
Em artigo anterior, já tinha explicado como é que o mecanismo destas obrigações com juros negativos, se instalou: a incerteza dos actores institucionais, em relação aos mercados, a incerteza quanto à continuidade no longo prazo do Euro, tem levado a que as obrigações soberanas alemãs (e outras) sejam compradas com taxas de juro negativas. Com efeito, o marco alemão, no qual seria pago de volta o capital investido nas obrigações, no caso dum rebentamento da zona euro, seria cotado - segundo várias estimativas - muito acima (cerca de 20% acima, segundo alguns) do valor do euro, nessa altura.
Mas o investidor particular, que faz o cálculo e avaliação acima descritos, não pode ser responsável exclusivo da enorme quantidade de dinheiro aplicado em obrigações com rendimento negativo que existem hoje, ao nível mundial (cerca de 14 triliões de dólares).
Os diversos investidores institucionais são obrigados, pelas regras em vigor dos seus países, no que respeita à estrutura das suas reservas, a deter significativa percentagem de activos em «valores seguros».
Nestes, estão incluídas as obrigações do tesouro, nomeadamente, dos países onde estas instituições estejam sediadas. Tais imposições legais na estrutura dos activos detidos em reserva, dizem respeito a bancos comerciais, a fundos de pensões, a fundos das seguradoras, etc.
Nos EUA e noutros países, os governos têm estado cronicamente a pedir emprestado mais do que recebem sob forma de impostos. O resultado, é um crescimento da dívida soberana, ao longo dos anos. Com o aumento da dívida, dá-se o aumento dos juros da mesma, que tem de estar incluído nas contas dos orçamentos dos respectivos Estados. Se parte significativa do orçamento é destinada a pagar juros, estas somas não vão ser canalizadas para outros fins, investimentos - directa ou indirectamente - produtivos (e, portanto, não poderão gerar receitas de impostos).
Esta espiral descendente não pode prosseguir de modo indefinido: o dinheiro que é necessário subtrair para pagar os juros da dívida torna-se incomportável para a economia desses países.
Os Estados têm interesse em que baixem os juros da sua dívida soberana, pois assim podem liquidar com dinheiro recém-emprestado, as dívidas antigas, pagando juros mais elevados: por exemplo, se obtiverem um novo empréstimo com juro de 2%, poderão, com esse dinheiro, liquidar dívida que tinha um juro de 4%.
Mas, se este movimento descendente dos juros alivia as contas dos Estados, do ponto de vista da poupança, ele é lesivo. As taxas de juro dos depósitos e dos fundos de poupança estão indexadas à taxa de juro das obrigações soberanas. Se o juro da dívida pública diminui, a remuneração do dinheiro, mantido nas contas a prazo, irá diminuir, mais ou menos na mesma proporção. Os particulares e os investidores institucionais são induzidos a procurar maior rendibilidade do capital, investindo em fundos especulativos, portanto com muito maior risco associado.
Mas, o pior de tudo é o comportamento de risco, induzido nos investidores institucionais: observa-se o aumento do risco, na procura de maior rendimento na Segurança Social pública, ou nos fundos de pensões privados, pois estas instituições têm uma pressão muito grande pelo aumento de pessoas que atingem a idade da reforma, enquanto devido ao desemprego elevado e à baixa natalidade, há cada vez menos pessoas a descontar para estes fundos. Isto significa que a bolsa e os mercados de derivados vão ser áreas financeiras com maior peso destes grandes investidores, como forma de manterem os pagamentos das reformas presentes e futuras, a que estão obrigados.
Devido a isto, quer os fundos de pensões públicos, quer os privados, estão demasiado expostos; corre-se o risco das pensões não serem pagas, por falência. Já ocorreram situações destas em fundos de empresas (privados) e públicos (fundos municipais e outros) nos EUA. Numa eventualidade de crise severa, os sistemas público e privado de pensões irão à falência, nos países de economia de mercado.
A diminuição das taxas de juro da dívida pública, sendo um «alívio» para as finanças públicas, por um lado, por outro é uma catástrofe em perspectiva (cuja dimensão se vai avolumando com o tempo) para as instituições que são garantes das nossas pensões ...
Existe portanto uma contradição insanável entre o interesse da generalidade das pessoas (os pensionistas de hoje e os de amanhã) e o interesse dos que governam os Estados. Estes, são entidades orientadas pela classe política, essencialmente, para ela própria se manter no poder. «Custe o que custar» e «depois de mim, venha o dilúvio» são estes os motes que norteiam a classe política. Evidentemente, ela não diz isso ao seu eleitor!
O esquema de redução da dívida, por redução das taxas de juro das obrigações soberanas, tem sido praticado por todos os Estados europeus sobre-endividados graças ao BCE. São realmente muito poucos, os que não têm precisado de pedir dinheiro emprestado.
Se os empréstimos fossem destinados ao investimento produtivo, o lançamento de dívida pública não seria um problema, desde que a rendibilidade dos investimentos públicos fosse garantida, dentro de um certo prazo. Neste caso, as dívidas contraídas seriam pagas pelo acréscimo de receitas em impostos, em consequência do maior desenvolvimento económico. Porém, não é nada disto que se passa, na generalidade dos casos.
- Em muitos casos, trata-se de cobrir despesas do próprio serviço da dívida, os juros e o capital em dívida, com o novo empréstimo contraído, o que significa - ao fim de certo tempo - uma acumulação incomportável de dívida e de juros.
- Muitos governos lançam programas ambiciosos, mas sem sustentabilidade, para agradar aos eleitores. Depois, têm de cobrir os défices do orçamento com mais empréstimos.
- Noutros casos, «têm de» socorrer instituições bancárias ou outras, que entram em incumprimento. Os governos preferem ter perdas severas, a terem de gerir a situação de bancarrota de um banco, causando pânico generalizado. Por exemplo, tal foi o caso em Portugal, com a falência do BES [Banco Espírito Santo] e de vários outros bancos...
Quando as dívidas públicas e privadas se acumulam de forma exponencial, os Estados e respectivos bancos centrais emitem mais moeda, para «pagar» a dívida, arriscando deste modo fazer disparar a espiral da inflação. Desta maneira, estão a diluir o poder de compra da divisa, ou seja, o seu valor real. É assim que ocorre a perda do poder de compra dos salários, das pensões, das poupanças. Em suma: rouba-se os pobres. É este o caminho que os Estados do Ocidente, mesmo os mais poderosos, têm trilhado, após a crise de 2008.
Agora, nos EUA, na UE, na China, foi retomado ou ampliado o «quantitive easing» (ou seja, impressão monetária, use-se este ou outro eufemismo!). Esta impressão monetária destemperada não é uma escolha dos bancos centrais. Estão encurralados a fazer isso, pois a alternativa era deixar o sistema evoluir sem intervenção. Eles temem que, se não houver intervenção, os valores inflacionados desçam bruscamente, desencadeando um crash e uma brutal recessão mundial. Como se vê, estes banqueiros centrais e governos, entalaram-se a si próprios, colocaram-se a si próprios num beco sem saída.
Globalmente, este estado de coisas é insustentável e a próxima recessão não vai ser suave e passageira, mas antes uma longa depressão, em que muito vão sofrer as classes menos abonadas. Mesmo uma fatia significativa das classes médias será duramente afectada.

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(*) NOTA: Pode-se pensar que o aumento da dívida vá fazer subir as taxas de juro. Porém, é exactamente o contrário. 
Harry Dent, cita o economista Lacy Hunt, que explica o fenómeno:
 https://www.silverdoctors.com/headlines/world-news/harvard-trained-economist-what-higher-debts-do-to-bond-rates/

sábado, 19 de outubro de 2019

CONSPIRAÇÕES NUTRICIONAIS


James Corbett denuncia como é que os mitos científicos relacionados com nutrição são mantidos durante décadas, suportados por campanhas oficiais de aconselhamento das pessoas. 
Estão à vista os resultados desastrosos destas campanhas cujo fracasso ou total ineficácia, se traduzem na obesidade e em muitas doenças ditas «de civilização», afinal resultantes de comportamentos alimentares aberrantes. Isto tudo tem sido feito com a cobertura da ciência e da media sensacionalista. 
Os grandes interesses do sector alimentar estão profundamente envolvidos nestas campanhas, mas os próprios Estados são parte integrante e activa neste desastre da saúde pública.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

ESTÃO EM CRISE DUAS MOEDAS COM PARIDADE CAMBIAL COM O DÓLAR

                                
Chamo a atenção para o artigo de Tom Luongo, que analisa em pormenor a crise de legitimidade no governo de Hong Kong e a desestabilização desta «praça-forte» da finança internacional na Ásia e que possui desde há longos anos uma moeda local, o dólar de Hong Kong (HKD) em paridade cambial com o dólar US , por um lado...  
...Por outro lado, lembra-nos Luongo, existe outra moeda em paridade cambial com o dólar, o Riyal da Arábia Saudita (SAR). Ora,  o desastre que tem sido ultimamente a guerra do reino da Arábia Saudita com os Houthi do Iémene, poderá precipitar uma mudança estratégica  na região.

                                  
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Analisemos historicamente o papel que desempenharam ambas as paridades cambiais com o dólar US, o qual tem sido a moeda de reserva internacional, desde o fim da II Guerra Mundial. 


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No lado chinês, durante os anos de isolamento do regime comunista da China em relação ao «ocidente», a praça financeira de Hong Kong, colónia britânica até 1997, desempenhou um papel insubstituível para a China continental, de porta de entrada e saída de mercadorias e de fluxos de capitais. A partir da grande viragem protagonizada pela política de Deng Xiao Ping, este papel foi reforçado. Nos últimos vinte anos, de crescimento exponencial, a China utilizou Hong Kong de modo intensivo para atrair os fluxos de capitais para investimento no território da RPC. Do ponto de vista dos capitalistas interessados em investir na RPC, era muito mais tranquilizador estar baseado em Hong Kong, que tinha e tem um conjunto de garantias relativas aos capitais estrangeiros, devido aos acordos de devolução válidos até 2047, do que a alternativa de Xangai, onde se aplica em pleno a legislação da RPC. 
Para atrair os investimentos via Hong Kong, a paridade do dólar de Hong Kong (HKD) com o dólar US, é estratégica. Com efeito, o governo da China tem vindo a desvalorizar sua moeda nacional, o Yuan, como forma de manter a competitividade dos produtos «made in China». Ultimamente, ainda se fala mais da desvalorização da divisa chinesa, uma guerra cambial no seguimento da guerra comercial, inaugurada por Trump. 
Tornando-se instável a situação de Hong Kong, havendo tendência para fuga de capitais, ou diminuição acentuada da entrada de capitais frescos para fazer negócios com a China, é provável que o dólar de Hong Kong não consiga manter paridade cambial com o dólar US. A certa altura, o dispêndio de dólares US - nas reservas do banco central de Hong Kong - para sustentar o dólar de Hong Kong, pode ser excessivo e haver o desligar da paridade cambial.
Há fortes indícios duma «mãozinha ocidental» na desestabilização política de Hong Kong: mesmo que não tenha sido iniciada mas apenas aproveitada pelos EUA, esta é uma arma que eles estão a usar, para forçar a China a ceder em certos aspectos fundamentais desta guerra, dita «comercial». 
O que nos é vendido como «guerra comercial», é - na realidade - o redesenhar das esferas de influência mundiais, ou seja, como é que as duas super-potências (China e EUA) vão partilhar o mercado global e que tipo de relacionamento se vai estabelecer entre elas.

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A paridade do dólar US com o Riyal (SAR), está intimamente relacionada ao acordo dos EUA com os sauditas, negociado em 1973, na origem do chamado petro-dólar. 
Recordemos que Kissinger conseguiu obter que os barris de petróleo só pudessem ser cotados e vendidos em dólares US, em troca de uma protecção total do Reino, então o maior produtor de petróleo da OPEP. 
Toda a política dos EUA no Médio Oriente tem estado orientada para manter esta exclusividade da venda do petróleo em dólares, mais importante ainda do que o acesso directo dos EUA ao crude. 
Com efeito, enquanto houver necessidade de dólares US para comprar crude no mercado internacional, a moeda nacional dos EUA poderá continuar a ser a principal moeda de reserva mundial. 
A paridade cambial do riyal (SAR) com o dólar US facilita o afluxo de capitais, não apenas para investimento no reino saudita, como também para todos os sultanatos em redor. Vai permitir que os investidores internacionais estejam mais seguros, quanto ao retorno sobre seus investimentos. 
A garantia cambial é muito importante para os negócios. Com efeito, sem tal garantia cambial, o investimento num país com moeda instável e com tendência para desvalorização periódica, pode anular qualquer rentabilidade dos capitais investidos. Esta é uma das razões principais por que o volume do investimento estrangeiro fica abaixo do seu potencial, em muitos países ditos «em desenvolvimento».   

No momento em que ocorre uma mudança tectónica nas relações económicas, financeiras e geopolíticas ao nível mundial, não é coincidência que duas moedas com paridade cambial com o dólar US, estejam sob «ataque». Note-se que num caso (Hong Kong), a desestabilização joga a favor do «reino do dólar US», enquanto no outro caso (Arábia Saudita), é precisamente o contrário.
- Desestabilização em Hong Kong, cria uma situação de escassez de investimento estrangeiro na China, no momento em que esta necessita de ainda mais capital do exterior, para consolidar a sua economia, no momento em que está a realizar a grande viragem duma economia de exportação, para uma economia mais vocacionada para satisfazer o consumo interno. 
- Desestabilização na Arábia Saudita, fragiliza o principal aliado dos EUA no Médio Oriente, ao ponto de se equacionar o afastamento do príncipe herdeiro e responsável da guerra no Iémene, perante a situação de derrota estrondosa do seu exércitoface aos Huthis. 
Embora a Arábia Saudita tenha sido compradora de muito armamento sofisticado aos EUA, Reino Unido, França... observa-se, recentemente, uma mudança «deslizante» de suas alianças, com a China a substituir-se paulatinamente aos EUA, propondo a compra de petróleo saudita utilizando o yuan (em troca da entrada de capitais chineses na Aramco) e a Rússia a oferecer-se como garante da defesa e fornecedora de armamentos de ponta à monarquia saudita.

São demasiado complexas as jogadas envolvidas. Nada do que se passa no Médio Oriente (vejam-se os últimos desenvolvimentos na situação da fronteira Síria-Turquia) nos é explicado de forma cabal. 
A media limita-se a reproduzir o discurso de propaganda dum ou doutro governo. Nunca equaciona - nas suas pseudo-análises - a agenda globalista, a Nova Ordem Mundial
No entanto, embora eu não tenha ideia precisa dos pontos em negociação, tenho a certeza de que esta agenda globalista está sendo negociada agora, discretamente.