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quinta-feira, 20 de abril de 2023

DMITRY ORLOV - Lúcido diagnóstico de doença terminal dos EUA

 Abaixo, link de artigo de Dmitry Orlov (em francês):

Artigo original, em inglês:

https://cluborlov.wordpress.com/2023/04/10/the-futility-of-american-protest/


COMENTÁRIO

A minha impressão depois de ler o artigo acima, é que as sociedades da Europa Ocidental estão de tal maneira colonizadas mentalmente (e de todas as maneiras) pelos EUA, que têm vindo a adotar - inconscientemente - a visão americana do mundo e da sociedade, que lhes era totalmente estranha. A mentalidade que se desenvolveu e prevalece nos EUA, é tipicamente derivada do protestantismo de raiz calvinista, na sua vertente mais fundamentalista (puritana). Essa mentalidade acaba por se entranhar nos diversos estratos da população, pois esta tem sido incessantemente matraqueada durante séculos, por igrejas, sistemas de educação, instituições públicas, empresas, publicidade e cultura de massas.

Para mim, uma grande diferença de mentalidades entre um americano típico e um europeu típico, é que o primeiro está convencido de que «God is on our side», leia-se: do lado da América e do povo americano. Ora, esta é uma crença religiosa:  Está na essência do calvinismo e também do sionismo, ao fazer distinção entre «eleitos»  (Deus está ao seu lado), e os outros (estão perdidos, são pecadores, são perdedores...). É um sistema religioso (a teologia calvinista), que está na base dessa ideologia do «povo indispensável». É aí que radica a lógica das igrejas protestantes fundamentalistas, serem as mais intransigentes apoiantes de Israel, como se o estado sionista, racista e colonial, instalado na Palestina, fosse a «vanguarda» do Reino de Deus na Terra.

No que toca à relação das pessoas com o dinheiro, aos aspetos psicológicos desta relação, como muito bem sublinhou Orlov: Nos EUA, o dinheiro é o critério de tudo. 

Em países de raiz católica, como são os países latinos do sul da Europa, a relação ao dinheiro e à riqueza é (ou era) diferente da relação que têm  os cidadãos dos EUA:

- Tradicionalmente, na Europa do Sul, o facto de alguém ser rico, é compatível com ser-se pessoa de bem, se tiver adquirido a riqueza por meios lícitos e morais. Mas não é automático; os cidadãos estão atentos aos casos de enriquecimento à custa de processos nada limpos. 

Por contraste, para a moral comum dos EUA, ter-se muito dinheiro significa que a pessoa foi «eleita por Deus», que despejou sobre ela riqueza, enquanto sinal divino de que ela estava salva.

 Na Europa, uma pessoa rica pode SER, OU NÃO SER, considerada virtuosa. Mas, nos EUA a riqueza só pode ser sinónimo de virtude.



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PS 1: Uma sociedade em decomposição é aquilo que se pode ver, mas não é noticiado nos media mainstream do lado de cá do Atlântico:

https://www.armstrongeconomics.com/international-news/north_america/chicago-is-a-blue-warzone/

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

QUAL A MELHOR COBERTURA PARA PRÁTICAS PEDÓFILAS E SATÂNICAS?



Comentando a notícia surgida em RT: «Freiras alemãs alugavam crianças órfãs a homens de negócios para orgias e bacanais – notícia suprimida, vista pela media»

A cobertura ideal será a de uma instituição, tal como uma ordem religiosa de freiras, numa sociedade muito «civilizada», como a Alemanha dos anos 70... E as práticas serão efectuadas - discretamente - por distintos cavalheiros com gostos pedófilos, sobre rapazes... dos 8 aos 14 anos.

Lamento que, sob a capa de instituições da Igreja Católica, se tenham praticado e talvez ainda se pratiquem, os crimes mais horrendos, especialmente os que envolvem crianças e depravações sexuais. 

Nunca tive especial atracção pelo Catolicismo, devo dizê-lo, mas imaginei que os casos de pedofilia de padres fossem casos isolados, sem grande representatividade. Mas não, quando há uma congregação de freiras em peso, com órfãos à guarda, que fornece «carne fresca» para orgias, não pode ser algo pontual. É algo que foi continuadamente do conhecimento do arcebispado, do topo da hierarquia, pelo menos em Colónia, na parte da Alemanha onde se situa esta instituição. 

Sabe-se que os muito poderosos são frequentemente pessoas imbuídas de sua «excepcionalidade»: Consideram-se, portanto, acima da moral da «ralé». 

A pedofilia está - muitas vezes - associada a cultos satânicos. O satanismo adopta o inverso da moral sexual cristã típica, daí que a homossexualidade e pedofilia sejam práticas correntes nesses círculos. 

O escândalo não se pode circunscrever à Alemanha: coisas deste teor - ou semelhantes em gravidade, no abuso dos direitos humanos e, em particular, das crianças - devem ser investigadas internacionalmente, por uma comissão, sem conflitos de interesses e 100% independente da hierarquia católica. 

Segundo uma perspectiva teológica, não é de surpreender que a Igreja de Cristo - refiro-me à comunidade alargada dos cristãos, sem distinção de congregação ou corrente teológica - seja penetrada pelo espírito do maligno. 

De um ponto de vista laico, a capa perfeita para cometer o mal, o crime continuado, na impunidade total, é ele ocorrer em instituições «acima de qualquer suspeita».


PS1: artigo sobre este assunto, em francês, em

  https://francais.rt.com/international/83486-pedophilie-cardinal-cologne-coeur-scandale-refuse-publier-rapport

PS2: O estranho «black-out» informativo, o pacto de silêncio que a media corporativa assinou, mas que foi ignorado por RT e por outras entidades, mostra onde se chegou, em termos de liberdade de informar e de ser informado. O controle da media é um facto. Quem tiver dúvidas, que analise o que se passou agora com este escândalo...

domingo, 21 de junho de 2020

FRANCISCO Iº E OS SEGREDOS DO VATICANO



Tu, que estás lendo estas palavras, provavelmente não possuis uma ideia muito concreta de todos os aspectos encobertos que rodeiam o papado de Francisco. 
- Quem se senta no trono de São Pedro? Que personagem é ele, por detrás da figura promovida pelos meios sociais de massas? 
- Que fios ligam o Vaticano de hoje e de ontem, a muitas intrigas envolvendo o mundo político e económico contemporâneo? 
Todos nós sabemos algo sobre este assunto, mas muito pouco de concreto e, sobretudo, não relacionamos os factos entre si. 

Este inquérito tem uma clara orientação, sem dúvida. Mas, não se oculta atrás de uma espécie de santidade, de falsa objectividade. 
Publico este vídeo de quase 3 horas, porque me parece ser fonte inestimável de informação. Ela vai muito para além da personagem do Papa actual. É um manancial de referências de grande interesse para  compreensão da História. Acredito que outros possam aqui recolher informação válida e relacionar muitos dados entre si.
A perspectiva em relação aos acontecimentos descritos, é a do autor, como é evidente; o facto de eu a publicar não significa total acordo com ela, nem que possa garantir a validade do que é relatado. 

ÍNDICE TEMÁTICO (Abajo link con Fuentes utilizadas) 00:00 - Introducción 07:00 - Primeros años de Bergoglio 12:00 - ¿Quiénes son realmente los Jesuitas? 31:23 - Guardia de Hierro, la Logia P2 y los Años de Plomo 1:14:27 - El Ocaso del Jesuita 1:26:02 - Resurrección: El Giro a la Izquierda 1:32:09 - El Cardenal y los Kirchner 1:39:58 - Camino al Poder 2:03:49 - Golpe a Benedicto XVI 2:19:48 - Francisco I, Rey de Roma 2:40:23 - El Papa Ecologista, la "Primavera Americana" y el Futuro de la Humanidad ||| Aquí un listado con la mayor parte de las FUENTES utilizadas para la realización del Documental: https://drive.google.com/file/d/1om6DtYNrFkFyh2_NkwmotyOu1LDfEIGc/view





domingo, 12 de janeiro de 2020

A PROPÓSITO DAS ELEIÇÕES & CONCEITO DE DEMOCRACIA, NOS EUA


Não farei comentários sobre campanhas para a nomeação do candidato democrata, nem sobre as manobras de Trump, ou de outros... Nem irei fazer aqui uma análise sobre o significado que essas eleições possam ter para além das fronteiras dos EUA. Não; apenas queria chamar-vos a atenção para alguns factos, quando se fala sobre democracia. 

No mundo anglossaxónico, em especial americano, é comum fazerem-se apostas sobre muitas coisas, além das corridas de cavalos. É comum inferir resultados eleitorais a partir das quantias apostadas a favor ou contra a investidura de determinado candidato...como se pode verificar pelo gráfico abaixo, retirado do excelente site Zero Hedge:




                    

Sim, justamente, nesta corrida especial, alguns acabam por ficar de fora, ou porque foram sujeitos a campanha assassina de imagem ou porque não conseguem recolher fundos suficientes para ultrapassar em volume de propaganda outros candidatos mais afortunados (ou subsidiados).
Nota-se que o resultado é conhecido de antemão, com segurança muito grande, pela simples observação das somas investidas num determinado cavalo de corrida, perdão, candidato presidencial. 
Evidentemente, para se ter uma imagem rigorosa do total investido, é necessário saber-se quais as somas que as corporações vão doar, a sua aposta por este ou por aquele candidato. Em geral, elas dão aos candidatos dos dois partidos em contenda (mesmo que dêem mais a um, do que a outro): assim, têm influência garantida no pós-eleição, mesmo que vença o candidato que não é seu preferido. 
As somas astronómicas acabam por ser conhecidas, cerca de um ano depois das eleições, pois são doações legais das empresas, que inscrevem nas suas contas e descontáveis nos impostos, até um montante muito elevado. 
Além das empresas, os ricos costumam doar - a título individual - somas fabulosas, que são também registadas nas contas das campanhas dos partidos e dos candidatos, e tornadas públicas. 
Portanto, o resultado das eleições americanas é invariavelmente, desde há muitas décadas, decidido pelo montante dos capitais investidos nos candidatos. 
A avaliação do montante de que dispõem os vários candidatos é o dado mais seguro para a previsão do resultado eleitoral. Acerta mais vezes do que as sondagens por inquérito a cidadãos inscritos nos cadernos eleitorais.

- Um parêntesis sobre «universalidade» do direito de voto nos EUA: deve-se excluir deste número, a população prisional - a maior do mundo, em termos percentuais; os ex-presos, que tiveram condenações e cumpriram pena; os que não contam, porque nunca se inscreveram nos cadernos... por outro lado, tem de se incluir: os não-nacionais, imigrantes legais ou ilegais, inscritos e pagos para votar num determinado candidato; as pessoas já falecidas, cujos fantasmas insistem em votar... etc.

No fundo, a chamada «democracia americana» não é mais do que a contabilização dos «votos dólares»: quem conseguir mais apoios financeiros, pode comprar mais espaço publicitário em redes de tv, rádio, jornais... consegue mobilizar mais caravanas eleitorais que trilham todo o país... 
Eu não estou a exagerar, não tenho intenção, nem preciso de o fazer. O leitor pode inquirir por si próprio; verá que as coisas são assim, ou em ainda maior escala
Estas considerações poderão chocar as pessoas que, na «velha Europa», acreditam na existência dum único modelo de «democracia ocidental». 
É verdade que, nos últimos tempos, as campanhas eleitorais no lado de cá do Atlântico, começam a assemelhar-se, às campanhas eleitorais no país do Tio Sam. Ingenuamente, as pessoas poderiam pensar que isto é meramente «uma questão de modas». No entanto, estarão enganadas: a democracia / «poder do povo», não é compatível com a democracia «do dólar» (ou «do euro»). 
Esta divergência tem raízes religiosas/morais/históricas muito profundas.

Às colónias britânicas da América do Norte, aportaram no século XVII e seguintes, os puritanos, que eram reformados calvinistas, vindos principalmente de Inglaterra e mas também de outras terras europeias (Holanda, França, Alemanha...). 
A teologia calvinista caracteriza-se pela doutrina da predestinação. Segundo esta doutrina, Deus escolheu, no início da Criação, os humanos todos - até ao fim dos tempos - destinados a serem salvos e os que estavam, de antemão, condenados. Podemos sorrir, hoje em dia mas, nessa época de sectarismo e fanatismo religioso, as pessoas calvinistas acreditavam totalmente nesta doutrina. 
Elas ficavam muito inquietas e desejosas de saberem se faziam parte das «escolhidas», das salvas, indo para junto do Criador, ou se estavam condenadas. Nesta angústia, vislumbravam os sinais que permitiam identificar quem era, ou não, «escolhido». Assim, uma pessoa bem sucedida nos negócios era, certamente, um «eleito do Senhor», segundo esta visão. 
Esta mentalidade, que perdura na elite do dinheiro nos EUA de hoje, forneceu o enquadramento mental e ideológico mais favorável ao capitalismo nascente, por comparação com a Itália ou a Península Ibérica, católicas. 
Com o andar dos tempos, as pessoas (mesmo as não-crentes) mergulhadas nesta cultura calvinista/puritana, passaram a assimilar sucesso financeiro, a ter uma benção. Se alguém possui muito capital, é sinal de que é um eleito, um escolhido por Deus e - por isso mesmo - favorecido nos negócios e em todos os aspectos da vida. Ter riqueza é sinal claro e evidente de ter virtude, pois foi escolhida por Deus. 
Ser rico é uma virtude (nos EUA). 

Nessa época, nos países católicos, igualmente fanáticos à sua maneira, a relação com a riqueza estava marcada pela visão teológica medieval, associando a abundância de bens materiais, com o luxo, o pecado ... Na Europa católica, o rico é temido e invejado, mas não amado ou respeitado. Considera-se que ele pode ter adquirido a sua riqueza por meios legítimos, ou não. Nos países católicos, há muita inveja em relação aos ricos: é frequente ouvir-se dizer mal de alguém, insinuando que obteve sua fortuna por meios «pouco honestos». 

Não nos devemos espantar se nos EUA, em vez do lema «um homem, um voto», o que vigora - na realidade - é a equação «um dólar = um voto». Isto é um facto tão banal, que não choca quase ninguém. 

Para a mentalidade do europeu, as palavras «democracia» e «eleições» têm significados totalmente diferentes, em relação às mesmas expressões, nos EUA.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

IMACULADA CONCEIÇÃO - 8 DE DEZEMBRO - FERIADO NACIONAL

Para comemorar (à minha maneira) o dia 8 de dez...
Padroeira de Portugal e das Forças Armadas Portuguesas, 
e dia feriado instaurado por Salazar*


 AULA DE EDUCAÇÃO SEXUAL..com MONTY PYTHON,

   ( ESTAS REVISÕES NÃO FAZEM MAL A NINGUÉM)



                                           UMA INESQUECÍVEL LIÇÃO DE HUMOR
                                           
        Vale a pena explorar TODA A FILMOGRAFIA dos geniais MONTY PYTHON!

............
* Citando:

«Mesmo o feriado da Imaculada Conceição, que é formalizado em 1948, é celebrado durante anos como o Dia da Consagração de Portugal a Nossa Senhora.
"Não se celebrava o dogma. O salazarismo manteve sempre a separação entre Estado e Igreja, apesar da grande influência da Igreja. Os feriados eram sempre celebrações cívicas", afirma o historiador.
Em 1952, Salazar acaba com o 31 de Janeiro e o 3 de Maio e junta três festas católicas à Imaculada Conceição (8 de Dezembro), ao Natal e ao 1.º de Janeiro, assim nascendo o Corpo de Deus (móvel), o 15 de Agosto (Assunção de Maria) e o Dia de Todos os Santos (1 de Novembro).»

Texto completo em:
 http://www.penacovactual.pt/2012/09/os-feriados-em-portugal-tempos-de.html

terça-feira, 2 de maio de 2017

F DE FARSA ... DE FÁTIMA

Dizem que Fátima foi um milagre. Eu até estou de acordo, num certo sentido... Foi um milagre, sem aspas, que um mau cozinhado de reaccionarismo e clericalismo, possa ser celebrado como testemunho da fé de milhões de católicos.

Eu penso que é uma celebração pagã, no sentido de que o Cristianismo verdadeiro não tem nada que ver com a ideologia que emana da farsa grotesca.

Penso que é uma manifestação encoberta de satanismo: para encobrir crimes, que vão desde padres pedófilos e seus cúmplices na hierarquia, ao apoio às ditaduras sanguinárias (como as ibéricas, de Salazar e Franco, ou as sul-americanas...)

A contradição máxima entre os Evangelhos e a pompa, ostentação e poder financeiro do Vaticano e das igrejas de muitos países... não incomoda nada certos católicos; é que, na verdade, eles adoram o «bezerro de ouro»...

Do lado dos poderes (governo, presidente e outros), que se deviam reger pelo princípio da laicidade: para eles, a laicidade do Estado serve para todas as outras religiões, mas não para o catolicismo; o que é - evidentemente - a negação do próprio princípio de laicidade...

Algumas opiniões críticas sobre Fátima:

https://aviagemdosargonautas.net/2017/04/30/fraternizar-25-de-abril-43-anos-depois-d-marcelo-o-palavroso-e-alguns-tiranetes-mais-por-mario-de-oliveira/

https://aviagemdosargonautas.net/2017/04/30/sinais-de-fogo-a-grande-farra-por-soares-novais/


https://aviagemdosargonautas.net/2015/05/13/livrolivros-fatima-s-a-de-pe-mario-de-oliveira/

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A REVOLUÇÃO LUTERANA TERÁ SIDO A MAIS IMPORTANTE DA MODERNIDADE

Não é em vão que coloco a hipótese do título:  A REVOLUÇÃO LUTERANA TERÁ SIDO A MAIS IMPORTANTE DA MODERNIDADE.

A cultura atual é sobretudo uma cultura que despreza o sacro, os assuntos de religião, mesmo entre aqueles que intelectualmente ainda se dizem possuir religião. 
Por isso, é bastante difícil fazer compreender aos contemporâneos que Lutero, ao abrir a Bíblia, lê-la e interpretá-la, ao traduzi-la em alemão, língua vernácula, não tem paralelo em importância na história das ideias do nosso tempo. Sim, ele foi contra o papado dessa altura, mas nisso não foi único, não foi o único que se rebelou contra os privilégios do clero, que os denunciou. Jan Hus, Zwingli e muitos outros antes e depois dele, fizeram-no nos termos mais enérgicos. 


Porém, aquilo que ele faz quebra a ideia de que o indivíduo apenas pode se aproximar de Deus sob a condução da igreja instituída, sob a orientação do poder eclesiástico, o qual se confunde com o poder temporal, nesse momento do fim do século XV e princípios do século XVI. 

Nessa época, também, os reis de Portugal estavam empenhados em continuar e aprofundar uma expansão do poder régio, por terras então desconhecidas (para os europeus ocidentais). Os «descobrimentos» portugueses e espanhoís, foram uma enorme abertura ao mundo, foram uma transformação brutal nesses países colonizados a ferro e fogo, uma acumulação de riquezas que iniciou a era capitalista na Europa, etc. 
Mas o facto de que a Escritura pode ser lida, pode ser ponderada e meditada por todos os que saibam ler e escrever, mudou a própria concepção do que seja o ensino. O escolástico ou académico típico passou a englobar no seu estudo a análise criteriosa das fontes, a discutir o rigor das traduções, etc. 
O legado do luteranismo, como ramo da religião cristã, sendo rico e contraditório, não o pretendo ter avaliado aqui. Apenas desejo sublinhar a enorme importância da ruptura operada por Lutero, uma ruptura, muito para além dos aspectos institucionais da Igreja, das relações com o poder civil, etc. Uma ruptura que, sendo essencialmente espiritual, sendo baseada num desejo de maior fidelidade à Escritura, vai arrastar múltiplas consequências: 

- O Iluminismo, em grande parte, nasce em consequência da Reforma, pois esta coloca como questão fundamental que a Bíblia tem que ser um livro aberto, um livro que os olhos e espírito do crente podem e devem ler, sobre o qual ele deve meditar, seria e constantemente. A Natureza, dirão os Iluministas, é um livro aberto também e Deus deu-nos a capacidade de conhecimento e temos de exercitá-lo estudando a Sua Obra, que é a Natureza.

- O princípio da educação popular, já não é apenas bom para o povo saber ler e escrever. É mesmo uma missão dos soberanos luteranos espalharem ao máximo a educação, por forma a que o povo tenha pleno acesso à leitura da Bíblia. Não foi com considerações materialistas, utilitárias, que as escolas para o «povo miúdo» foram fundadas, mantidas e expandidas. Foi na base de uma noção teológica, de criar as melhores condições possíveis para os súbditos aprenderem a Palavra de Deus. 
Nos países católicos, pelo contrário, a instrução elementar era tida como conducente a atitudes sediciosas, a questionar a autoridade: só uma pequena minoria, privilegiada social e economicamente (ou não, mas destinada ao baixo clero) tinha acesso a aprender a ler e escrever. A elevada taxa de analfabetismo continuou como uma chaga durante vários séculos, até bem dentro do século XX, no Sul da Europa [Portugal, Espanha, Itália (do sul)...]

- O princípio da liberdade religiosa; a fé cristã é afirmada com rigor nos países do Norte da Alemanha e Escandinávia, a versão luterana da mesma é abraçada pelos monarcas, aristocracia e altos funcionários, mas não se vê uma conversão forçada, na generalidade dos casos, não se vêem perseguição e autos de fé, como em países católicos, com a Inquisição, que condenaram muitos intelectuais à fogueira por «ideias protestantes, heréticas». 
A liberdade religiosa permitiu, mais tarde, a liberdade política; apenas depois de ser admitido que se poderia ser leal ao soberano, apesar de não se professar a mesma religião ou confissão, se tornou aceite que a dissidência política não era sinónimo de traição à pátria. 
Isso demorou muito tempo a ser aceite, mas veja-se que os países com melhor e mais longo registo de liberdade política, também são os que tiveram maior tolerância em termos religiosos, entre eles os de confissão luterana maioritária.

Evidentemente, muito do que aconteceu em 600 anos, foi devido a enormes forças sociais que se desenvolveram, mas certos acontecimentos da vida intelectual, como o pregar as 95 teses na porta da Universidade de Wittemberg, assim como a Bíblia traduzida para o alemão por Lutero, têm uma marca simbólica muito grande. 

Como acontecimento intelectual, só consigo encontrar paralelo no «De Revolucionibus» o célebre tratado de Copérnico, que desencadeou uma controvérsia científica, a qual foi desde cedo «misturada» com argumentos teológicos.

Em Portugal, alguns espíritos, apesar da Inquisição, ousaram estudar as teses luteranas. 
Um deles, Damião de Goís, teve a audácia de falar com o próprio Lutero e seus adeptos. 

Ele era um diplomata, um cronista (historiador) do Reino, alguém com cargos oficiais. Isso foi a sua proteção, pois quando foi denunciado ao Santo Ofício, não terá sido violentamente interrogado; mas não deixou de ser condenado, de sofrer prisão e humilhação, por ter encetado o diálogo com luteranos. 
Goís, provavelmente, era um erasmiano ou seja, advogava uma reforma por dentro da Igreja, sem ruptura.