terça-feira, 30 de julho de 2019
VERÃO ALENTEJANO 2019
Uma curta estadia de 3 dias, nos finais de Julho de 2019, numa região do nosso país que ainda não está desfigurada pelo turismo. A maioria das fotos foi tirada no Cabo Sardão.
segunda-feira, 29 de julho de 2019
O IMPÉRIO ESCONDIDO
Os EUA são um conglomerado de territórios, alguns em continuidade, outros distantes de milhares de quilómetros, com múltiplas bases, em vários pontos do globo, as quais são propriamente postos avançados do império.
Este historiador repõe os factos históricos, obrigando a que o público cultivado nos próprios EUA olhe para a sua pátria e território com outros olhos.
Abby Martin entrevista o Prof. de História Daniel Immerwahr sobre o seu novo livro 'Como esconder um Império', onde documenta a história dos «Estados Unidos Alargados».
domingo, 28 de julho de 2019
OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE III)
Para ver a parte 2, ir para aqui
Sem quaisquer pretensões em profetizar seja o que for, tenho de dizer - com toda a sinceridade - que fico surpreendido com a justeza e precisão das minhas previsões. Por exemplo, nunca duvidei que as divisas em papel (ditas «fiat») iriam sofrer uma erosão, tanto maior quanto o «quantative easing» e os juros zero ou negativos viessem distorcer os mercados, implicando que as pessoas, os negócios, os próprios Estados, já não poderiam - de todo - confiar no valor do dinheiro.
Perante a crise da dívida, o elefante na loja de porcelanas que tudo quebra, as entidades ditas «reguladoras», os bancos centrais, apenas têm duas «balas» para carregar a sua pistola:
- uma delas, é a impressão ilimitada de divisas e sua distribuição aos bancos comerciais (o «quantitative easing»); ora, esta tendência é retomada após um interregno breve, menos de dois anos, pela FED (Reserva Federal Americana, o banco central, privado, dos EUA) e não tendo verdadeiramente parado, nos casos do ECB (Banco Central Europeu, emissor do Euro) e do BOJ (Banco central do Japão).
- a outra, é a manutenção dos juros (das obrigações soberanas, isto é emitidas pelos Estados), a níveis que seriam «estimulantes» da economia.
Embora estes juros não permitam qualquer investimento racional em poupança, por parte dos agentes económicos, visto que, em vários casos, já sejam negativos (os bancos cobram ao fim de um ano, uma quantia, em vez de dar um juro ao depositante), eles são defendidos pelos economistas ao serviço dos poderes, por duas razões:
- são encorajadores do consumo, visto que muitas compras actualmente são feitas a crédito [argumento válido, em princípio, mas que implicaria que os salários tivessem uma subida moderada e real, pelo menos acompanhando a inflação, ora os salários não sobem, estagnam... em termos reais, o poder de compra das pessoas diminui]
- vão embaratecer a liquidação das dívidas, sobretudo dos Estados e grandes instituições privadas (banca e grandes empresas). Este argumento não é produzido frequentemente na imprensa mainstream, pois é realmente muito desfavorável à imagem dos poderes do dinheiro e dos Estados. É um facto que o pagamento dos compromissos, desde pensões de reforma, até aos empréstimos (as emissões de obrigações do tesouro, a dez, vinte, trinta ou mais anos) fica muito mais fácil, se o quantitativo dos ditos compromissos (o montante em dívida) ficar praticamente idêntico e a inflação tiver diminuído o valor real do dinheiro: com uma inflação de 2% anual, ao fim de 10 anos, uma pensão de reforma que se tenha mantido sem actualização (é exactamente o que acontece, em muitos países) terá um poder de compra real de menos 20%... Se a inflação real não for de 2%, mas sim muito maior, de 10% (bem mais próximo da realidade, num país como Portugal) ao fim de 10 anos, a mesma pensão valerá cerca de 10 % apenas do valor inicial em termos de poder de compra, ou seja, a partir duma soma aceitável, passa-se para a indigência!
Torna-se evidente que os bancos centrais e os governos, apenas querem safar-se, o melhor possível, da montanha de dívidas que foram fazendo nestes anos e que acelerou após a grande crise de 2007-2008.
Como medidas de «combate» à crise, apenas fizeram uso das «duas balas» acima descritas e mesmo estas, usaram-nas somente para favorecer os já muito privilegiados (os 0,01%), que tinham a possibilidade de obter empréstimos tão baratos, quase gratuitos, não para favorecer a economia real, onde intervêm pequenos empresários, trabalhadores e suas famílias. O efeito foi que se formaram enormes bolhas nos mercados financeiros - acções e obrigações - acrescidas da bolha no imobiliário, que teve efeitos devastadores na gentrificação dos centros urbanos em todo o mundo, colocando a aquisição dum andar de preço médio, fora do alcance das famílias da classe média, seja em Londres, Paris, ou Nova York ...
Penso que a «elite» que nos desgoverna não vai evitar a crise que aí vem, a qual será com certeza de uma ordem de magnitude maior que a de 2008: a que rebentou há pouco mais de dez anos tinha como epicentro as hipotecas sobre imobiliário feitas a pessoas que não tinham as condições necessárias para as obterem («sub-prime» quer dizer isso). A crise que se desencadeou quase causou a derrocada do edifício bancário mundial e apenas foi «estancada» com a oferta de 26 triliões de dólares (ou o equivalente, noutras divisas) para que os bancos não ficassem a descoberto. Estas enormes somas não foram reabsorvidas, mas antes reforçadas com o constante fluxo de dinheiro (é isso o «quantitive easing»), dirigido às mesmas entidades bancárias. Entretanto, sabendo estas que «tinham as costas quentes» graças aos bancos centrais, em vez de emprestar aos empresários e às famílias, puseram uma parte destas quantias em reserva nos próprios bancos centrais, com um juro quase nulo, mas sem risco; a parte restante, serviu para jogos de auto-compra de acções nas bolsas, destinadas a fazer subir artificialmente as cotações das próprias acções... o que - por sua vez - ia aumentar os bónus que os administradores desses bancos recebiam!
Face a esta situação, pode-se afirmar que estamos pior, a nível do «Ocidente» pelo menos, relativamente à véspera da falência do Lehman Brothers, em Setembro de 2008.
A «resposta» das elites do dinheiro e do poder foi a mais medíocre que se possa imaginar. Não admira que estejam somente a adiar o estoiro final dos vários esquemas de Ponzi (*), que eles próprios instauraram.
Entretanto, vão acelerando a corrida aos armamentos, com a estúpida e perigosa fantasia do «keynesanismo militar» uma teoria que aproveita a ideia de Keynes de que o Estado deve entrar em despesa para ajudar a arrancar a economia do marasmo, mas com a variante «militar», trata-se de despesa não-reprodutora de capital e logo dissipadora de riqueza, não criadora. Pois o armamento e despesas conexas, jamais poderão constituir uma base para enriquecimento global: o destino do armamento, ou é ser armazenado (o armazenamento tem custos); caso não seja usado, fica caduco e será preciso mais dinheiro para construir novas armas; ou, se for utilizado, significa destruição de pessoas e bens. Numa economia globalizada, a miséria dos vencidos também acaba por bater à porta dos «vencedores».
Para convencerem os cidadãos dos seus países de que é preciso acelerar a corrida aos armamentos, recorrem ao medo, ao papão da «ameaça» russa ou chinesa. Eles precisam de tornar a ameaça credível; então, inventam mil e uma situações de potencial conflito. Os estados maiores anglo-americanos tornaram-se especialistas em gerar e gerir o atrito em várias frentes: o Irão e estreito de Ormuz, mas também o Mar da China e as fronteiras russo-bálticas.
Em todos os casos, estão a «brincar com o fogo», pois as provocações podem, num dado momento, ser confundidas com o desencadear duma ofensiva e, por sua vez, suscitarem contra-ataques, ou pode até haver respostas não desejadas pelos comandos superiores, causadas por subordinados demasiado enervados com estas danças e contra-danças.
Em todos os casos, estão a «brincar com o fogo», pois as provocações podem, num dado momento, ser confundidas com o desencadear duma ofensiva e, por sua vez, suscitarem contra-ataques, ou pode até haver respostas não desejadas pelos comandos superiores, causadas por subordinados demasiado enervados com estas danças e contra-danças.
A criminalidade da NATO, dos governos dos países que dela fazem parte e de todas as hierarquias de altas patentes militares, é por demais evidente.
A necessidade de se encarar esta organização como o factor de desestabilização nº1, em todo o mundo, não é exagerada da minha parte. Basta ver o que diz sobre o assunto Paul Craig Roberts, um ex-subsecretário de Ronald Reagan, que preparou o terreno para o final da Guerra-Fria, por Reagan e Gorbatchov.
A necessidade de se encarar esta organização como o factor de desestabilização nº1, em todo o mundo, não é exagerada da minha parte. Basta ver o que diz sobre o assunto Paul Craig Roberts, um ex-subsecretário de Ronald Reagan, que preparou o terreno para o final da Guerra-Fria, por Reagan e Gorbatchov.
Relativamente a tudo o que ouvimos e lemos nestes dias na media corporativa, aquilo que incide sobre reais questões candentes da actualidade, é muito pouco. A media continua a fazer seu papel ao atulhar os olhos e ouvidos das pessoas com «notícias» irrelevantes, satisfazendo a gula que muitas pessoas têm pelo sórdido, pelo escabroso, pelo indecente...
As verdadeiras notícias, no melhor dos casos, são servidas descontextualizadas. Só os especialistas as compreendem realmente e colocam-nas no devido contexto. Outras vezes, são distorcidas e apresentadas de modo falsamente objectivo, são «fake news» produzidas pelas grandes organizações de media (CNN, BBC, NYT, The Guardian, Libération, Le Monde ...). Note-se que muitos títulos com passado glorioso, foram capturados pelo «politicamente correcto» e pela narrativa obsessiva, que coloca sempre os «outros» como «Império do Mal», não importando que seja em resultado de análises completamente distorcidas e dando crédito a «fontes» muito dúbias. Eles estão cumprindo o papel de instrumentos de propaganda, que lhes foi destinado, dentro do grande esquema da 3ª Guerra Mundial.
As verdadeiras notícias, no melhor dos casos, são servidas descontextualizadas. Só os especialistas as compreendem realmente e colocam-nas no devido contexto. Outras vezes, são distorcidas e apresentadas de modo falsamente objectivo, são «fake news» produzidas pelas grandes organizações de media (CNN, BBC, NYT, The Guardian, Libération, Le Monde ...). Note-se que muitos títulos com passado glorioso, foram capturados pelo «politicamente correcto» e pela narrativa obsessiva, que coloca sempre os «outros» como «Império do Mal», não importando que seja em resultado de análises completamente distorcidas e dando crédito a «fontes» muito dúbias. Eles estão cumprindo o papel de instrumentos de propaganda, que lhes foi destinado, dentro do grande esquema da 3ª Guerra Mundial.
Esta 3ª Guerra Mundial, já tem anos. Começou com o gigantesco ataque de falsa bandeira às Torres Gémeas e ao Pentágono, no dia 11 de Setembro de 2001. Desde então, não parou - não houve nenhum ano decorrido, sem acções militares desencadeadas pelos EUA sozinhos, ou com aliados seus da NATO.
Por isso, é que temos a realidade que temos.
Por isso, é que temos a realidade que temos.
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(*) Esquema de Ponzi: um especulador que inventou uma burla nos anos 1920 para captar incautos; dava juros altos, com os novos capitais que - entretanto- vinham afluindo.
(*) Esquema de Ponzi: um especulador que inventou uma burla nos anos 1920 para captar incautos; dava juros altos, com os novos capitais que - entretanto- vinham afluindo.
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NEOCOLONIALISMO EUROPEU. UMA LANÇA EM ÁFRICA
ARTIGO DE OPINIÃO DE ANTÓNIO PEREIRA
(RETIRADO DE https://ogmfp.wordpress.com/ )
Um
considerável contingente militar europeu tem vindo a ser concentrado nos
últimos anos no Mali. Este enorme país africano, sem saída para o mar, faz
fronteira com sete países vizinhos e tem uma posição geoestratégica
privilegiada no acesso ao deserto do Sahara, uma das principais rotas migratórias da África
subsariana e possui também importantes jazidas de ouro e urânio. Ultimamente
vieram a público notícias sobre as intenções da União Europeia de reforçar
ainda mais, o seu já enorme contingente militar na região.
Os britânicos anunciaram pela
voz da primeira-ministra Teresa May que vão reforçar e prolongar a sua missão
no território com novos meios aéreos. Os britânicos têm apoiado, desde 2014, os
franceses nas operações militares Barkhane e Aconit.
A França, antiga potência colonial, mantêm desde esta altura cerca de 3000
militares estacionados em N’Djamena, a capital do vizinho Chade e
importantes meios militares na sua principal base em Gao,
no centro do Mali. Os alemães além
de estarem presentes no Mali inauguraram recentemente uma base militar no Niger.
Aos enormes
contingentes já presentes no terreno, vêm agora juntar-se ainda mais militares
da Estónia, da Dinamarca, da Irlanda e
até de Portugal.
Aparentemente estas operações militares estão em preparação há já algum tempo.
Importa recordar que a União Europeia tinha já anunciado em 2018 a intenção de
gastar 10.5
milhões de euros em equipamento militar e armas nesta região, que se
somam aos 50
milhões de euros anunciados em 2017.
É caso para perguntar: o que se esconde por detrás desta guerra, que se vai intensificar a curto
prazo? Até porque para combater grupos terroristas não são necessários meios
desta envergadura.
António Pereira
sábado, 27 de julho de 2019
O COLAPSO JÁ COMEÇOU
Através de uma demonstração clara e rigorosa, Charles Sannat explica-nos que o colapso poderia ser apenas uma hipótese, porém tal não acontece, porque ele já está aqui.
Evidentemente, tal afirmação parece artificial e puxada pelos cabelos, à primeira vista, tendo ele a inteligência de antecipar as críticas e objecções, com respostas breves mas convincentes, que permitem olhar estas realidades da economia com olhos de ver. Trata-se de escolher a realidade (a «pílula azul» da Matrix) e não ingerir a «pílula vermelha» do sonho, ou da falsa realidade, como no célebre romance de ficção-científica «Matrix».
O que me separa de Sannat não é pouco. É mesmo uma perspectiva distinta, pelo menos, à partida. Porém, o ponto de chegada é praticamente igual. Por isso mesmo, deviam as pessoas que seguem o meu blog estar alerta a partir deste vídeo e deste artigo, se não é o caso de que estejam já.
Tenho feito repetidas chamadas de atenção não apenas para a insustentabilidade da economia pós-falência de Lehman Brothers (Set. 2008), como para a utilização da guerra como forma de adiamento do inevitável colapso final.
Escrevi em 24 de Agosto de 2018, num ensaio intitulado
...
Praticamente, os analistas (mesmo de esquerda) não arriscam ver o fim do capitalismo, enquanto sistema de domínio mundial, tendo o imperialismo como suporte de poder, essencial para o sistema.
Porém, as condições de funcionamento do capitalismo deterioram-se, a capacidade de arrancar lucro é cada vez menor, esse lucro é sempre feito à custa de um maior sofrimento das populações e do ambiente.
Em suma, é um capitalismo depredatório numa escala global, que pretende sempre mais e mais crescimento, o que não é compatível com um mundo finito e cujo funcionamento saudável depende de subtis equilíbrios ecológicos, os quais estão a ser gravemente postos em causa.
Como resultado deste caminhar pelos labirintos da realidade económica e geo-política, as pessoas, por mais diversas que sejam as ideologias à partida, acabam por se pôr de acordo quanto à realidade e quanto a uma leitura da mesma.
Neste blog tenho repetidas vezes dado a conhecer sinais do que se passa, do que está a passar-se sob os nossos olhos, o que realmente tem ocorrido.
Tem sido difícil, apesar das quase 70 mil leituras, deste blog, desde a sua fundação em 2016: As pessoas simplesmente estão anestesiadas pelo preconceito do passado, os anglo-saxónicos chamam a isso «normalcy bias», ou seja, a crença de que o amanhã será como hoje, visto que o dia de hoje foi como ontem.
Por outras palavras, as pessoas teimam acreditar que está tudo «normal», porque o mundo aparenta estar normal.
A minha esperança é que muitas cabeças, que não renunciaram a pensar, a inquirir, comecem a tomar a verdadeira medida das coisas.
Quanto mais amplo for esse despertar, os que já estão a trabalhar no domínio da realidade serão reforçados por amigos e companheiros, que compreendem a não-contradição entre o interesse individual e o colectivo.
Esse movimento, aliás, já começou, em muitos países; ele é destinado a salvaguardar as pessoas, o seu património, a sua cultura e agricultura.
Todas as outras pessoas foram hipnotizadas, zombificadas, por tecnologias digitais e sobretudo, por uma ideologia totalitária matreira, que se apresenta com as vestes «liberais». Pode-se falar com propriedade de «totalitarismo digital», para caracterizar o fenómeno.
Serão essas que serão mais facilmente engolidas na imensa onda do tsunami económico, da catástrofe global em curso.
Não estou a referir-me a mais uma crise do capitalismo. Estou a falar do fim do capitalismo. Mas, não é razão para os anti-capitalistas se alegrarem pois, em substituição do odiado capitalismo, não virá uma qualquer nova forma de socialismo, de maior justiça social e económica.
Será antes uma retoma do feudalismo, mas agora numa escala global; um neo-feudalismo, ou seja, um sistema mundial controlado por uma dúzia de imensas fortunas, que tratarão os Estados como súbditos...
terça-feira, 23 de julho de 2019
OS MERCADORES DE CANHÕES E O FIM DO COMPLEXO MILITAR-INDUSTRIAL NOS EUA
ARTIGO DE
OPINIÃO POR Dmitry Orlov via Club Orlov blog,
TRADUÇÃO POR
MANUEL BAPTISTA, PARA O OBSERVATÓRIO DA GUERRA E MILITARISMO
No seio da
vasta teia burocrática do Pentágono existe um grupo encarregue de monitorizar o
estado geral do complexo militar-industrial e a sua permanente capacidade para
satisfazer as exigências da estratégia nacional de defesa. A secção para aquisição e a secção para política industrial
gastam cerca de $100.000, por ano, para produzir um Relatório Anual para o
Congresso. Ele está disponível para consulta pela generalidade do
público. Está mesmo disponível para o público em geral na
Rússia e os peritos russos têm satisfeito a sua curiosidade mergulhando nele.
De facto, ele
encheu-os de optimismo. Note-se, a Rússia quer paz, mas os EUA parecem
querer a guerra e continuam a fazer gestos ameaçadores contra uma longa lista
de países que recusam seguir a sua escolha, ou simplesmente não partilham seus
«valores universais». Mas, agora, acontece que proferir ameaças (e
sanções económicas, cada vez mais ineficazes) é praticamente tudo o que os EUA
consegue realizar, apesar dos níveis absolutamente astronómicos de despesa com
a defesa.
Vejamos
com o que se parece o complexo militar-industrial dos EUA, visto sob lentes
russas.
É importante
notar que os autores do referido relatório não estavam a tentar convencer os
legisladores a financiar um projecto específico. Isto torna-o mais
valioso do que muitas outras fontes, para as quais o objectivo dos autores é
desencadear a generosidade das verbas federais e que -portanto –
tendem a ser pouco rigorosos nos factos, mas abundantes na propaganda. Sem
dúvida, que a política continua desempenhando um papel, na forma como vários
detalhes são tratados, mas parece limitado o número de questões incómodas, que
os autores descartaram para compor o quadro, na análise da situação e na
formulação de recomendações.
O que mais
chocou os analistas russos foi o facto destes peritos avaliarem o complexo
militar-industrial dos EUA numa perspectiva de …mercado! Na realidade, o complexo militar-industrial russo é
exclusiva propriedade do governo russo e trabalha somente em seu interesse:
qualquer outra coisa seria considerada traição. Mas o complexo
militar-industrial dos EUA é avaliado com base na sua…rentabilidade! De
acordo com o referido grupo de trabalho do Pentágono, tem de – não só fornecer
produtos para os militares – mas, igualmente, adquirir uma fatia de mercado no
comércio global de armamento e, talvez o mais importante, maximizar o lucro dos
investidores privados. Neste aspecto, tem-se saído bem: para 2017, a média da
margem de lucro antes de impostos, dos fabricantes de armas dos EUA, variou
entre 15 e 17%. Nalguns casos – a Transdigm, por exemplo – conseguiram obter
nada menos de 42 – 45%. “Ah!” exclamaram os peritos russos, “descobrimos o
problema! Os americanos legalizaram a agiotagem
de guerra!” (Esta, a propósito, é apenas uma das muitas formas da
chamada corrupção sistémica, que floresce nos EUA.)
Seria normal
que cada empresa contratante na defesa, simplesmente tomasse o seu lucro a
partir do preço final mas, em vez disso, há toda uma cadeia alimentar
de contratantes, os quais – legalmente – são obrigados a maximizar os lucros
dos seus accionistas. Mais de 28000 companhias estão envolvidas, mas
os contratantes de defesa de primeira linha, para os quais o Pentágono dirige
2/3 das encomendas, consistem apenas em Seis Grandes: Lockheed Martin, Northrop
Grumman, Raytheon, General Dynmics, BAE Systems and Boeing. Todos as outras
empresas estão organizadas numa pirâmide de sub-contratantes com cinco níveis
hierárquicos e cada uma delas faz por sugar, o melhor possível, os níveis acima
deles.
A insistência
nos métodos de mercado e a exigência de maximização da rentabilidade, é um
processo incompatível com a despesa na defesa, a um nível muito elementar; a
despesa com defesa é intermitente e cíclica, com longos períodos de baixos
níveis de encomendas importantes. Isto obrigou os Seis Grandes a
fazerem cortes nos departamentos de produção de defesa, para aumentar os
dirigidos à produção civil. Igualmente, apesar do tamanho enorme
do orçamento de defesa dos EUA, este é finito (e havendo apenas um planeta para
fazer ir pelos ares), tal como também o é o mercado global de armamento. Visto
que, numa economia de mercado, uma empresa é colocada perante o dilema de
crescer ou ser comprada, isto precipitou imensas fusões e aquisições,
resultando o presente mercado concentrado em alto grau, onde existem uns poucos
actores principais, em cada domínio.
Em resultado
disto, na maioria dos domínios, como discutem os autores nos 17 domínios – a
marinha de guerra, as forças terrestres, a força aérea, a electrónica, o armamento
nuclear, a tecnologia espacial, etc -, pelo menos num terço das vezes,
o Pentágono tem a escolha de exactamente um contratante, para um dado contrato,
fazendo com que a qualidade e o tempo de entrega sofram por isso e resultando
em subida dos preços.
Num certo
número de casos, apesar do poderio industrial e financeiro, o Pentágono
encontrou problemas insolúveis. Concretamente, acontece que os EUA tem
apenas um estaleiro com capacidade para produzir porta-aviões nucleares (é
apenas um, e o navio porta-aviões Gerald Ford não é propriamente um sucesso). O
referido estaleiro é o «Northrop Grumman Newport News Shipbuilding» em Newport,
Virginia. Em teoria, poderia construir três navios em paralelo, mas dois dos
lugares estão sempre ocupados pelos porta-aviões existentes, que precisam de
manutenção. Isto não é caso único: o número dos estaleiros com capacidade de
construção de submarinos nucleares, de contratorpedeiros e de outros tipos de
navios, é também exactamente um. Portanto, em caso de conflito prolongado com
um adversário a sério, em que uma proporção importante da armada dos EUA tenha
sido afundada, há impossibilidade de substituir os navios afundados, num espaço
de tempo razoável.
A situação é –
de algum modo – melhor quanto às fábricas de aviões. As fábricas existentes podem produzir 40 aviões por mês e, se
necessário, conseguiriam produzir 130. Por outro lado, a situação com tanques e
artilharia é absolutamente deplorável. De acordo com o referido relatório, os
EUA perderam completamente a capacidade de construir a nova geração de tanques.
Já nem é uma questão de faltarem fábricas e equipamentos; os EUA vai na segunda
geração de engenheiros que nunca efectuou o design de tanques e a que o fez,
está prestes a reformar-se. Os da nova geração, que os substituem, não têm
ninguém de quem aprender e só sabem de tanques pelos filmes e jogos vídeo.
Quanto à artilharia, resta apenas uma linha de produção nos EUA que pode
produzir canhões com diâmetro maior que 40 mm e esta seria incapaz de activar a
produção em caso de guerra. A empresa contratante recusa-se a expandir a
produção, a não ser que o Pentágono garanta – pelo menos – 45 % de escoamento,
visto que senão, será não rentável.
A situação é
semelhante para uma longa lista de áreas; é melhor para tecnologias com uso
duplo, que podem ser obtidas a partir de companhias de produtos civis e
significativamente pior para as altamente especializadas. O custo unitário para
cada tipo de equipamento militar tem subido ano após ano, enquanto os volumes
adquiridos são cada vez mais baixos – por vezes atingem zero. Nos últimos 15
anos, os EUA não adquiriu um único novo tanque. Continuam a modernizar os
modelos antigos, mas a um ritmo de não mais de 100 unidades, por ano.
Devido a todas
estas tendências, a indústria de defesa continua a perder, não só engenheiros
especializados, como o pessoal qualificado para executar o trabalho. Os
peritos do estudo citado estimam que o défice em máquinas-ferramentas atingiu
os 27%. No passado quarto de século, os EUA deixaram de fabricar uma vasta
variedade de equipamento para manufactura. Somente metade desses instrumentos
podem ser importados de nações aliadas ou amigas; para o restante, há apenas
uma fonte, a China. Analisaram as cadeias de abastecimento de 600 dos
mais importantes tipos de armas e encontraram que um terço destas têm falhas,
enquanto outro terço está completamente inviável. Na pirâmide de cinco
patamares dos sub-contratantes do Pentágono, as manufacturas de componentes
estão quase sempre relegadas para o terço inferior e as notícias de que
terminaram com certa produção ou mesmo que encerraram totalmente, tendem a
ficar submersas no pântano burocrático do Pentágono.
O
resultado final de tudo isto, é que o Pentágono continua a ser, em teoria,
capaz de efectuar pequenos incrementos na produção de armas para compensar as
perdas correntes em conflitos localizados, de baixa intensidade, num contexto
geral de paz, mas mesmo agora, isto está no extremo limite das suas
capacidades. No caso de um conflito a sério, com uma nação bem armada, aquilo
em que será capaz de dispor será apenas e somente o material e partes
sobresselentes dos stocks, que ficarão rapidamente esgotados.
Uma situação
análoga prevalece na área dos elementos de terras raras e de outras
matérias-primas para produzir componentes electrónicas. De momento, as reservas acumuladas destas matérias, necessárias
para produzir mísseis e tecnologia espacial – nomeadamente satélites – é
suficiente para os próximos cinco anos, à taxa de uso corrente.
O relatório
enfatiza especialmente a situação trágica na área de armas nucleares. Quase
toda a tecnologia para comunicações, escolha de alvos, cálculo de trajectórias
e armamento das cabeças dos mísseis intercontinentais (ICBM) foi desenvolvida
nos anos 1960 e 70. Até hoje, os dados são carregados a partir de disquetes de
5 polegadas, que pararam de ser produzidas em massa há 15 anos. Não há
substituição para elas e as pessoas que fizeram o seu design estão já «a fazer
tijolo». A opção escolhida tem sido comprar pequenas quantidades produzidas, de
todos os consumíveis, a preços extravagantes, e desenvolver a partir do zero a
completa tríade de componentes estratégicos baseados em terra, a um custo de 3
orçamentos anuais do Pentágono.
Existe um
grande número de problemas específicos em cada área, descrita no relatório, mas
a mais importante é a perda de competência entre o pessoal técnico de
engenharia devido ao baixo nível de encomendas para peças suplentes ou para o
desenvolvimento de novos produtos. A
situação é tal que novos e promissores desenvolvimentos saídos de centros de
investigação como o DARPA não podem ser realizados face ao presente conjunto de
competências técnicas. Para um certo número de especializações-chave, existem
menos de três dúzias de especialistas treinados, com experiência.
Esta situação
deverá continuar a deteriorar-se, com uma diminuição de 11-16%, na próxima
década, do pessoal empregado no sector da defesa, principalmente pela ausência
de jovens candidatos qualificados, para substituir os que estão a reformar-se.
Um exemplo concreto: o trabalho de desenvolvimento do F-35 está próximo do fim
e não será necessário desenvolver um avião de combate até 2035-2040; no
intervalo, o pessoal envolvido no seu desenvolvimento estará sub-ocupado e o
seu nível de competência irá deteriorar-se.
Embora, de
momento, os EUA continuem à cabeça das despesas mundiais com defesa ($610
milhares de milhões de um total de $1.7 biliões em 2017, o que perfaz cerca de
36% de todas as despesas militares no planeta) a economia dos EUA já não
tem capacidade para suportar a pirâmide tecnológica completa, mesmo num momento
de relativa paz e prosperidade. No papel, os EUA continuam a aparentar
ser os líderes da tecnologia militar, mas as fundações da sua supremacia
militar foram erodidas. Os resultados disto são plenamente visíveis:
- Os EUA ameaçaram a Coreia do Norte com
acção militar mas, depois, foram forçados a recuar, porque não tinham
capacidade de combater numa guerra contra ela.
- Os EUA ameaçaram o Irão com acção
militar, mas foram forçados a recuar, porque não tinham capacidade de
combater numa guerra contra ele.
- OS EUA perderam a guerra do Afeganistão
contra os Talibãs e quando o conflito mais longo da história dos EUA
estiver finalmente terminado, a situação política reverterá ao «status quo
ante», com os Talibãs no governo e os campos de treino de terroristas
islamitas de novo operacionais.
- Os agentes dos EUA (sobretudo Arábia
Saudita), combatendo no Iémene causaram um desastre humanitário, mas foram
incapazes de vencer militarmente.
- As acções dos EUA na Síria levaram a uma
consolidação do poder e do território do governo sírio e a uma nova
posição de domínio regional por parte da Rússia, do Irão e da Turquia.
- A segunda maior potência militar da
NATO, a Turquia, comprou o sistema de defesa S-400, russo. A alternativa
dos EUA é o sistema Patriot, que custa o dobro do preço e não funciona
realmente.
Isto tudo
aponta para o facto de que os EUA já não possuem um poderio militar propriamente
dito. Isto é uma boa notícia pelas,
pelo menos, quatro razões seguintes.
Primeiro, os
EUA são de longe a mais belicosa nação sobre a Terra, tendo invadido uma data de nações e continuando a ocupar muitas
destas. O facto de que já não possa lutar, significa que as oportunidades para
a paz estão destinadas a aumentar.
Segundo, assim
que entrar na consciência geral que o Pentágono é, nada mais que uma sanita
gigante, por onde se escoam os fundos públicos, estes fundos serão
cortados e a população dos EUA poderá
ver as somas que correntemente engordam os agiotas da guerra serem gastas em
algumas estradas e pontes, embora seja mais provável que vá para pagar os juros
da dívida federal (enquanto houver liquidez).
Terceiro, os
políticos dos EUA vão perder a capacidade de manter a cidadania num estado
permanente de ansiedade sobre a «segurança nacional». De facto, os EUA possuem uma «segurança natural» – dois oceanos
– e não precisam muito de qualquer defesa nacional (desde que se mantenham
dentro das suas fronteiras próprias e não tentem causar distúrbios nos outros).
Os canadianos não irão invadir e embora a fronteira do sul precise de alguma
vigilância, esta pode ser assegurada a nível dos Estados e condados, por alguns
tipos que usam armas e munições, que já estão de ambas equipados. Logo que o
logro da «defesa nacional» a 1,7 biliões de dólares deixar de pesar nos seus
ombros, os cidadãos comuns poderão trabalhar menos horas, ter maiores lazeres e
sentirem-se menos agressivos, ansiosos, deprimidos e paranóicos.
Finalmente,
mas não menos importante, será maravilhoso ver os agiotas da guerra reduzidos a
esgravatar no ferro-velho para obterem
uns trocos. Tudo o que os militares têm sido capazes de produzir desde há longo
tempo é miséria, aquilo que se designa tecnicamente por «desastre humanitário».
Olhem para o rescaldo da intervenção na Sérvia/Kosovo ou no Iémene, e o que
verão? Quer para os seus habitantes, quer para cidadãos dos EUA que perderam
parentes seus na guerra, que tiveram de ser amputados, ou que sofrem de PSTD
(Síndroma de Stress Pós-Traumático), ou de traumatismos cerebrais.
Seria apenas
justiça que a miséria provocada fosse bater à porta daqueles que a causaram e
se aproveitaram dela.
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domingo, 21 de julho de 2019
RÃO KYAO - FADO BAILADO
A qualidade deste trabalho - de 1983 - faz dele, no presente, uma óptima escolha para audição de fado instrumental. É um clássico, num certo sentido.
Esta versão instrumental dos fados - plena de requinte e inspiração - beneficiou das prévias incursões do saxofonista e flautista pelos territórios do jazz e da música indiana.
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