domingo, 10 de março de 2019

LESTER YOUNG / BILLIE HOLIDAY - I COVER THE WATERFRONT

  


Faixa do último álbum do saxofonista Lester Young, desaparecido há 60 anos.
A versão cantada de Billie Holiday é apenas uma das várias gravações da canção feitas pela «Lady Day». 
Ela insistia em afirmar que Lester era apenas um amigo. Algumas das mais belas gravações da história do jazz integraram estes dois músicos. 
O filme  «Round Midnight», saído em 1986, foi em parte baseado na vida de Young.

sábado, 9 de março de 2019

SARAH VAUGHAN & BILLY ECKSTINE «I'VE GOT MY LOVE TO KEEP ME WARM»

«TENHO O MEU AMOR PARA ME MANTER QUENTE» 

O dueto fantástico interpreta canção do genial Irving Berlin
Oiçam uma das mais optimistas canções de todos os tempos!



The snow is snowing and the wind is blowing
But I can weather the storm!
What do I care how much it may storm?
For I've got my love to keep me warm
I can't remember a worse December
Just watch those icicles form!
Oh, what do I care if icicles form?
Oh, I've got my love to keep me warm
Off with my overcoat, off with my glove
I need no overcoat, I'm burning with love!
My heart's on fire, the flame grows higher
So I will weather the storm!
What do I care how much it may storm?
Oh, I've got my love to keep me warm
The snow is snowing, the wind is blowing
But I can weather the storm!
What do I care how much it may storm?
Oh, I've got my love to keep me warm
I can't remember a worse December
Just watch those icicles form!
What do I care if icicles form?
Oh-ho-ho, I've got my love to keep me warm
Off with my overcoat, off with my glove
I need no overcoat, I'm burning with love!
My heart's on fire, the flame grows higher
So I will weather the storm!
What do I care how much it may storm?
Oh, I've got my love to keep me warm

Songwriter: Irving Berlin

sexta-feira, 8 de março de 2019

REFLEXÃO: AQUILO QUE PASSA POR POLÍTICA...


Quando os sacerdotes bufões da media falam, incitando as pessoas a pensarem isto ou aquilo, a rejeitarem A e seguirem B, ou vice-versa, desde que sejam sempre passivas… eu tenho tendência para virar a cara para o lado. É que me dá uma náusea, uma sensação de enjoo. Devo ser um caso muito especial, pois senão eles/elas – mediáticos/as – estariam órfãos/órfãs de público.

Aquilo que verifico, afinal, é que todos estes «cientistas» de pacotilha conseguem açambarcar a atenção dum número considerável de pessoas, apenas usando as técnicas de «public relations» e da psicologia mais trivial, mas sempre eficaz. Aliás, estas técnicas manipulativas são eficazes, sobretudo pela simples razão de que têm um público cativo, previamente condicionado, tornado passivo.

A principal questão política - ou sociológica, se se preferir- é que, nas sociedades desta era de consumo de massas e de democracia "representativa", tudo é feito para afastar as pessoas de uma verdadeira intervenção na vida pública.
Os «especialistas» de tudo, ou seja, os «doutores da treta», encarregam-se de «pensar por nós», de falar e escrever o que lhes apetecer, nos seus termos. 
Aquilo que fazem ou dizem é relevante apenas porque lhes foi concedido o monopólio da palavra e da presença nos écrans; os restantes membros da comunidade, os que teoricamente são também cidadãos, apenas têm que ouvir e calar. Dizem-lhes: «vão votar»! Ao mesmo tempo que reduzem ao acto de votar toda e qualquer participação da cidadania, negam-lhe o conhecimento real e verdadeiro das escolhas que lhes apresentam … 
O cidadão é tratado exactamente como sendo menor mental: tal é o desprezo pela inteligência do cidadão-eleitor, que apelam ao voto com campanhas publicitárias feitas de imagens e slogans vazios. 

O sistema mantém-se pela passividade, pela exploração da tendência para a preguiça, pela ausência de curiosidade, da grande maioria. 
Este sistema está desenhado para funcionar na perfeição, com cidadãos apenas interessados em «resolverem» seus assuntos pessoais e seguirem os seus ídolos do desporto, da canção, do cinema… 
Estas formas de alienação funcionam por personificação. O  imagina-se na pele do seu ídolo: consegue aceder a um «estado de graça», identificando-se com o jogador no relvado, ou a cantora no palco, num cenário de sons e cores, etc…  
Assim, transformou-se o povo numa enorme multidão de adolescentes eternos/as, apenas desejosos/as de dar vazão a seus desejos, às suas pulsões. Tais pulsões implicam sempre o consumir, o usufruir dum estatuto especial ou «status», exclusivo duma «elite» do dinheiro. Não é preciso que este consumo seja óptimo, mas tem que ter a chancela mediática que identifica seus consumidores como gente privilegiada e que as outras invejam – supostamente - por não terem possibilidade de tal consumo de luxo, desse tal esbanjar, afinal. 

Assim, o sistema político-mediático que nos governa está permanentemente a inverter os termos daquilo que foi sendo consignado nas constituições e nas leis, ao longo de dois séculos e meio. Os textos legais permanecem, em muitos casos, mas são letra morta, porque não tem havido correlação de forças favorável a que se imponha o seu respeito. Este esvaziamento da democracia tem sido levado a cabo nos últimos 30 anos, pelas políticas ditas neoliberais no domínio económico, acopladas ao crescente autoritarismo político e à reconstituição dos privilégios para uma pequena minoria. 
É essencialmente contra este neo-feudalismo que têm lutado os movimentos sociais nos finais do século passado e primeiros decénios do presente século. 

A passivização do público, a sua transformação em seres pulsionais, em «crianças para toda a vida» é o objectivo dos defensores dos privilegiados. 
As pessoas estão condicionadas a pensarem os políticos como uma casta à parte: os que «sabem sobre todos os assuntos», que «têm ideais e que os defendem com ardor», que - por vezes - mentem, mas «que se lhes deve dar um certo desconto».
O que as pessoas não compreendem é que os políticos profissionais são pessoas comuns, com os seus defeitos e qualidades. Quando são entrevistados ou participam num evento público, têm por detrás o aconselhamento dos especialistas em imagem, têm gabinetes de apoio onde pessoas com valências técnicas, que eles/elas não possuem, lhes vão decifrar questões de economia, de saúde, de relações internacionais, etc. 
Assim, aquilo que dizem em público, será ou aparenta ser, profundo; sobretudo, será aquilo que seu auditório cativo, seu eleitorado e o público em geral, desejam ouvir.

Uma intervenção nesta política-espectáculo mais se pareceria com um jogo de espelhos. Tal intervenção seria análoga àqueles percursos labirínticos nas feiras, com espelhos que nos desorientam e nos fazem andar em círculo… 
A primeira coisa que alguém terá de fazer se deseja entrar neste jogo, é desfazer-se de qualquer prurido moral quando se trata de abocanhar um naco de poder, de influência, de visibilidade mediática… A segunda, será de escolher e seguir o líder, alguém com mais poder, em condições de favorecer o candidato, colocando-o numa lista em posição elegível.

Face a esta desoladora paisagem, face a este espectáculo de cinismo e ganância obscenas, as pessoas sensíveis...
- ou se recolhem num mundo pessoal, íntimo, cultivando seus «jardins secretos»; 
- ou se sentem desesperadas e descrentes de tudo e acabam por se auto destruir, pelas dependências a drogas e de um estilo de vida que acaba por desembocar no suicídio, muitas vezes. 
As pessoas com carácter forte, rebelde, não conformadas, por vezes adoptam uma postura quixotesca, sem qualquer esteio prático, porque não se inserem nas lutas sociais, na vida quotidiana de seus concidadãos e sonham com românticos Che, afinal um mito construído. 
Os restantes, os que escolhem o caminho estreito da resistência realista, mantendo-se próxima do sentir dos outros, sem se auto proclamarem como chefes, estes são demasiado poucos para serem capazes, por si sós, de inverter a tendência.

Embora tudo o que escrevi acima pareça de um pessimismo atroz, não o é, pois é a partir da constatação de uma dada situação, tendo identificado as nossas falhas de toda a ordem, que podemos encontrar os meios para se avançar. 
Não se trata de cruzar os braços e lamentar a nossa impotência, mas antes, de ver como ela foi construída, confeccionada pelos poderes, embora ela não seja uma fatalidade. Porém, um diagnóstico crítico e auto-crítico é necessário para desenharmos estratégias individuais e colectivas, que não terão de ser únicas, nem uniformes, mas que deverão ser confluentes. 
Esta será a metodologia capaz de contrariar e inverter, subvertendo a presente ditadura, que se reveste das aparências da liberdade e da democracia. 
Ela será realisticamente eficaz e alcançará a sua finalidade, se conduzir a que as pessoas se ergam e livremente, democraticamente, moldem o presente e o futuro de suas vidas e das sociedades.


quinta-feira, 7 de março de 2019

PEQUIM NÃO NECESSITA DE «PORTAS DAS TRASEIRAS» DE HUAWEI

                      

Um perito diz que a National Security Agency dos EUA nunca encontrou «portas das traseiras» da Huawei para a espionagem chinesa.

 Por FRANK CHEN

 Enquanto os EUA e alguns dos seus aliados se juntam para excluírem a Huawei das suas infraestruturas de telecomunicações, alguns peritos em cibersegurança ocidentais questionam abertamente as razões de porem em destaque e penalizarem a empresa chinesa de tecnologia.
Eles dizem que é «inverosímil» que a Huawei tenha construído as chamadas «portas das traseiras» nos sistemas porque teriam medo de ser detectadas, em especial considerando que Pequim já pode «hackear» (invadir) os sistemas estrangeiros sem recorrer a tal auxílio.
Washington insiste em que qualquer nação que utilize aparelhagem da Huawei nas redes sem fios da próxima geração (5G) está a dar a Pequim um instrumento directo para espionagem. Os americanos dizem que o gigante de tecnologia baseado em Shenzhen, ao colocar um laço global no equipamento de 5G está a colocar-se às ordens do poder, pondo a empresa a funcionar como agência de Pequim.
As autoridades dos EUA também citam a lei chinesa que «compele os seus cidadãos e suas companhias a participar em actividades de vigilância».

                          

A directora financeira de Huawei, Meng Wanzhou está agora em liberdade sob caução em Vancouver depois de ter estado detida durante uma paragem em trânsito no aeroporto da cidade, em Dezembro. O Canadá pode decidir extraditá-la a pedido dos EUA por alegadamente ter violado as sanções contra o Irão.  Foto: Reuters

Mas os peritos em segurança disseram à «Associated Press» que o governo dos EUA estava provavelmente a exagerar esse risco. A realidade é que Pequim não necessita de implantar software malicioso (malware) ou acesso clandestino a aparelhagem da Huawei como routers, interfaces ou estações de Internet sem fio para se infiltrar nas redes do estrangeiro, as quais já têm «notoriamente fraca segurança» fazendo delas prezas fáceis de serem exploradas.
Jan-Peter Kleinhans, um especialista do grupo berlinense «Neue Verantwortung Stiftung» especializado em segurança informática e vigilância de Estados, diz que se os chineses quiserem conectar-se ou imiscuir-se nas redes globais «eles farão isso independentemente do tipo de equipamento que esteja usando» e que os hackers ao serviço de Pequim, são muito eficientes e não têm mostrado preferência pela tecnologia de uma empresa sobre a de outra.
Além disso, a Huawei já teria sido apanhada e banida há muitos anos se tais portas das traseiras tivessem sido instaladas nos seus equipamentos, para benefício da espionagem de Pequim, pois teria sido descoberta pelos seus clientes estrangeiros ou pelos serviços de segurança dos governos.
A Huawei accionou um contra-processo contra o governo dos EUA por acusações fabricadas e sem quaisquer provas, da sua alegada cumplicidade em espionagem.


Os aliados europeus têm mostrado relutância em adoptarem um banimento sem provas do equipamento da Huawei. Por exemplo, a Alemanha assinalou que não faz tenção de restringir o negócio da Huawei, firmando em vez disso um acordo de não-espionagem recíproca com a China. A Polónia e República Checa (ambas as nações membros da NATO) têm também autorizado a Huawei a penetrar nos respectivos mercados de telecomunicações e de usuários finais.
A AP também citou Priscilla Moriuchi, ex-directora das operações do Extremo-Oriente da NSA (National Security Agency) dos EUA de que não tinha conhecimento da NSA ter jamais encontrado «portas das traseiras» criadas pela Huawei para a espionagem chinesa.
                     Passengers watch a television screen broadcasting news about Edward Snowden on a train in Hong Kong, June 14, 2013. The former US spy contractor Edward Snowden created an international furore when he revealed US surveillance secrets to the media. Snowden was in Hong Kong when the first stories about the leaks were published. As Washington sought his extradition, Hong Kong allowed Snowden to leave in June for Moscow where he was given asylum. Supporters see him as a whistle-blower who boldly exposed government excess, but others consider him a traitor. Photo: Reuters/Bobby Yip
Uma foto de 2013 mostra passageiros vendo as notícias sobre Edward Snowden num comboio em Hong Kong. O ex-espião contratante, dos EUA, criou uma indignação internacional quando revelou  à media internacional os segredos da vigilância dos EUA. Como Washington procurou obter a sua extradição as autoridades de Hong Kong autorizaram-no a partir para Moscovo onde lhe foi dado asilo. Foto: Reuters

A ironia consiste no conhecimento geral de que os EUA fizeram aquilo exactamente de que acusam a Huawei de estar fazendo.
De acordo com documentos expostos em 2013 pelo contratante dissidente da NSA, Edward Snowden, que fugiu de Hong-Kong e obteve posteriormente asilo de Moscovo, os EUA «plantaram dispositivos de vigilância nos equipamentos de redes,  fabricados por companhias como Cisco Systems, e estes depois foram distribuídos pelo mundo inteiro».
As revelações chocantes do dador de alerta estiveram na origem de uma exclusão dos produtos Cisco da parte de Pequim.
Apesar do bloqueio coordenado dos EUA, a Huawei afirma que estabeleceu contratos com 30 firmas emissoras de sinal, internacionalmente, para teste e ensaio de redes 5G e tecnologias sem fios («wireless»).





quarta-feira, 6 de março de 2019

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS? - SIM, MAS HOJE ISSO SIGNIFICA ARREFECIMENTO



Com muito pouca vergonha, a turma dos histéricos climáticos insiste em alimentar o medo das pessoas com o mito de que estamos num momento crítico de risco de subida das temperaturas globais do planeta, em consequência das actividades humanas e em particular das emissões de CO2. 
Todos os dias oiço e vejo notícias alarmistas e não fundamentadas. Trata-se duma enorme e monstruosa campanha para conseguir dois fins bem precisos: 

- vender a transição para um capitalismo «verde»; ou seja, criar mercado para tecnologias supostamente neutrais em termos de emissões de CO2, mas que - na realidade - são muito poluidoras. 
Elas são designadas de «renováveis», mas implicam utilização de minerais, cuja mineração e transformação são poluidoras, depredadoras dos recursos do ambiente, além de devoradoras de energias fósseis. Mas isto não é revelado ao público...

- aumentar o controlo da oligarquia globalista,  através das taxas carbono, uma forma de taxar os pobres e de manter os ricos controlando os circuitos financeiros. Muitas pessoas não têm outro meio de subsistir, de ganhar o seu sustento, senão consumindo combustíveis fósseis. Estas taxas carbono formam uma enorme reserva financeira, uma renda ao dispor dos governos e entidades globalistas, para reforçarem o seu poder e controlo. 
O mercado de direitos de emissão de carbono, um mercado gerido e controlado pela grande finança internacional, além de fornecer capitais frescos para os grandes bancos, serve para manter o actual sistema monetário, caduco, baseado em dívida. 

Abaixo, um video do meteorologista David Dilley, que explica seriamente (embora com humor!) alguns aspectos fundamentais da ciência do clima. 
Espero que ajude a compreender melhor a questão, permitindo assim que a campanha de obscurantismo utilizando as aparências de ciência seja derrotada e exposta. 




terça-feira, 5 de março de 2019

A UM ANO DE DISTÂNCIA DO «CASO SKRIPAL»


                             

Lembram-se com certeza do barulho e histeria que rodearam, há precisamente um ano atrás, este caso jamais plena e satisfatoriamente esclarecido?

Pois, um distinto escritor, Michael Antony, um britânico residente na Suíça, produziu recentemente uma narrativa alternativa, que sintetiza brilhantemente aquilo que se sabe sobre o caso rocambolesco e apresenta uma solução racional, baseada em evidências, que nos permite compreender toda a engrenagem envolvida neste caso. 

As implicações deste caso estão longe de estar encerradas. Não é de excluir que se volte a assistir a novos casos da mesma natureza ou do mesmo género. Ou seja, fabricações de serviços secretos ocidentais, para convencer as opiniões públicas zombificadas, com o objectivo último de criar um ambiente de nova «guerra fria» com a Rússia.
  
Claro que nunca saberemos toda a verdade sobre o assunto. Mas, pelo menos, com os elementos de que nós dispomos, sabemos que a versão oficial - a das autoridades britânicas - não pode ser verdadeira, nem sequer é verosímil. 

Leiam os artigos abaixo e avaliem:

https://michaelantonyblog.wordpress.com/2019/02/22/the-alternative-skripal-narrative/

https://off-guardian.org/2019/03/04/the-skripal-case-one-year-on/

segunda-feira, 4 de março de 2019

BASES POR TODO O LADO, EXCEPTO NO RELATÓRIO DO PENTÁGONO


                     

 Tradução por Manuel Banet Baptista, inicialmente publicado em:

https://ogmfp.wordpress.com/2019/03/03/bases-por-todo-o-lado-excepto-no-relatorio-do-pentagono/



Por Nick Turse  TomDispatch


Num espaço de horas, depois do Presidente Trump ter anunciado a retirada das forças do EUA da Síria, o equipamento da base de al-Tanf já estava a ser inventariado para ser removido.  A mais importante base americana na Síria estaria (talvez) sendo riscada dos livros do Pentágono – só que, al-Tanf nunca esteve efectivamente nos livros do Pentágono. Inaugurada em 2015 e, até recentemente, albergando centenas de soldados dos EUA, é uma das muitas bases militares que existem algures entre a luz e a sombra, um reconhecido posto avançado que nunca fez parte do inventário oficial de bases do Pentágono.

Oficialmente, o Departamento da Defesa mantém 4.775 «locais», espalhados por todos os 50 Estados, por oito territórios dos EUA e por 45 países estrangeiros. Um total de 514 destes postos avançados estão localizados no estrangeiro, de acordo com o Catálogo mundial do Pentágono. Apenas para mencionar alguns da longa lista, estão nela incluídas as bases no Oceano Índico de Diego Garcia, de Djibouti, no Corno de África, tal como no Perú e em Portugal, nos Emiratos Árabes Unidos e no Reino Unido. Mas a versão mais actualizada do catálogo, emitida em 2018 e designada como «Relatório das Estruturas de Bases»  (BSR), não inclui a base de al-Tanf. Ou qualquer outra das bases na Síria ou no Iraque, ou outros locais onde se saiba que tais acampamentos militares existem e, ao contrário da Síria, estejam em expansão.

De acordo com David Vine, autor de “Uma Nação de Bases: Como é que as Bases Militares dos EUA no Estrangeiro Afectam a América e o Mundo,” pode haver centenas de bases semelhantes, fora dos registos oficiais, em todo o mundo. «Os locais ausentes são um reflexo da falta de transparência do sistema do que considero serem as 800 bases dos EUA fora dos 50 Estados e de Washington, D.C., que têm pontilhado o globo desde a IIª Guerra Mundial» afirma Vine, que é também membro fundador da recém criada Coalição Pelo Rearranjo e Fechamento das Bases no Estrangeiro, um grupo de analistas em assuntos militares, que atravessa o espectro ideológico e advoga a redução da «pegada global» dos militares dos EUA.

Tais bases, ausentes dos registos, estão fora deles por um motivo. O Pentágono não quer falar delas.  “Falei com o oficial de contacto com a imprensa, responsável pelo «Relatório da Estrutura das Bases» e não tem nada a acrescentar, nem ninguém com quem se possa falar mais sobre isto, neste momento” Foi o que a porta-voz do Pentágono, tenente-coronel Michelle Baldanza afirmou ao TomDispatch, quando interrogada sobre as muitas bases misteriosas do Departamento da Defesa.
“As bases não recenseadas estão imunes de escrutínio pelo público e mesmo pelo Congresso,” explicou Vine. “As bases são uma manifestação física da política estrangeira e militar dos EUA; portanto, bases fora-do-registo significa que os militares e o executivo estão a tomar decisões políticas sem debate público, frequentemente gastando milhões ou biliões de dólares e que, potencialmente, podem envolver-se em guerras e conflitos sobre os quais o nosso país não sabe nada.”


Quais São Elas?

A Coalição pelo Realinhamento e Encerramento das Bases notou que os EUA possuem cerca de 95 por cento das bases militares no estrangeiro, enquanto países como a França, a Rússia e o Reino Unido, têm cerca de 10-20 bases no estrangeiro, cada. A China possui apenas uma.
O Departamento de Defesa até se gaba de que as suas localizações incluem 164 países. Dito de outro modo, tem uma presença militar em 84 por cento das nações deste  planetaou, pelo menos, assim reivindica o Departamento de Defesa. Após TomDispatch ter pesquisado sobre tal número numa página Internet, destinada a contar a «história» do Pentágono ao público em geral, esta foi mudada rapidamente. “Apreciamos a sua diligência em ir ao fundo deste assunto,” disse a tenente-coronel Baldanza. “Graças às suas observações, actualizámos o sítio defense.gov para  ‘mais de 160.’”




O que o Pentágono ainda não definiu é o termo «local». O número 164 está mais ou menos a par com a avaliação do Departamento da Defesa das estatísticas de efectivos, que mostra pessoal colocado em 166 locais no estrangeiro, incluindo algumas nações com um número escasso de militares dos EUA e outras, como o Iraque e a Síria, em que a dimensão dos efectivos das tropas é obviamente muito maior, mesmo se não incluídas na lista ao tempo do recenseamento. (O Pentágono afirmou, recentemente, que existem cerca de 5.200 militares no Iraque e, pelo menos, 2.000 na Síria, embora este número deva agora reduzir-se significativamente.) O inventário de tropas no estrangeiro também contabiliza tropas em territórios americanos como Samoa, Puerto Rico, Ilhas Virgens, e Ilha Wake. Dúzias de soldados, segundo o Pentágono, também estão estacionados em “Akrotiri” (que, de facto, é uma aldeia na ilha grega de Santorini !) e milhares de outros estão aquartelados em locais «desconhecidos».
No seu último relatório, o número total das tropas com «localização desconhecida»,  excede 44.000.

                 Official Defense Department manpower statistics show U.S. forces deployed to the nation of "Akrotiri."

Os custos anuais com o pessoal militar dos EUA no estrangeiro, tal como manter e gerir tais bases, atinge uma estimativa de 150 biliões de dólares anuais. O custo dos postos avançados apenas, soma, aproximadamente, dois terços do total. “As bases dos EUA no estrangeiro custam cerca de 50 biliões de dólares por ano, só para as edificar e manter, o que poderia ser usado em necessidades prementes nos EUA, na educação, saúde, habitação e infraestruturas” faz notar Vine. 
Talvez o leitor não fique surpreendido por as declarações do Pentágono serem um bocado vagas, sobre onde as tropas estariam estacionadas. O novo sítio Internet do Departamento da Defesa contabiliza “4.800+ sítios de defesa” à volta do mundo. Depois de TomDispatch ter pesquisado sobre esse total e como se relaciona com a contagem oficial de 4.775 locais mencionados na listagem oficial do BSR, o sítio Internet foi mudado para “aproximadamente 4.800 sítios de defesa.”
“Obrigado por apontar a discrepância. Estamos a mudar para um novo sítio Internet, estamos a actualizar informação,” escreveu a tenente-coronel Baldanza. “Por favor refira-se ao «Base Structure Report» (BSR) que tem os últimos números.”
Num sentido literal, o «Base Structure Report» tem realmente os números mais recentes — mas a sua precisão é outro assunto. “O número de bases contabilizadas no BSR tem pouco a ver com o número efectivo de bases dos EUA fora dos Estados Unidos, diz Vine. “Muitas bases, muitas delas bem conhecidas e outras secretas, têm sido deixadas de fora da lista.”
Um exemplo notório é o da constelação de postos avançados que os EUA construíram em África. O inventário oficial da BSR apenas menciona um punhado de locais aí – na Ilha de Ascencion, tal como em Djibuti, no Egipto e no Quénia. Na realidade, no entanto, existem muitos mais locais em muitos outros países africanos.

                            East Africa Response Force soldiers during emergency response exercise, Camp Lemmonier, Djibouti. (U.S. Air Force photo by Senior Airman Peter Thompson)

Uma recente investigação pelo Intercept, baseada em documentos obtidos do «U.S. Africa Command» através da Lei de Liberdade de Informação, revelava a existência de uma rede de 34 bases, sobretudo agrupadas no Norte e Oeste deste continente, assim como no Corno de África. A «postura estratégica» da AFRICOM consiste em ter maiores postos avançados, «duradoiros», incluindo dois «locais de operações avançadas» (FOSes), 12 «locais de segurança em cooperação» (CSLs) e 20 mais austeros, conhecidos como «localizações contingentes» (CLs).
O inventário do Pentágono incluí dois locais: Ilha de Ascension e a jóia da coroa de bases de  Washington em África, o Camp Lemonnier em Djibouti, que se expandiu de 88 acres, no início dos anos 2000, até cerca de 600 acres, actualmente. O referido relatório «Base Structure Report», no entanto, omite um «local de segurança em cooperação» (CSL) no mesmo país, o Chabelley Airfield, um posto-avançado menos vistoso, a cerca de 10 Km do primeiro, que tem servido como base de drones em África e no Médio Oriente.
A listagem oficial do Pentágono também menciona uma base pela designação obscura de “NSA Bahrain-Kenya.” A AFRICOM tinha começado por descrevê-la como um grupo de armazéns construídos na década de 1980, no porto e aeroporto de Mombaça, no Quénia, mas agora aparece como «CSL» na listagem de 2018. No entanto, há uma outra base no Quénia, o Campo Simba, mencionada em 2013, num estudo interno do Pentágono sobre operações secretas com drones na Somália e no Iémen. Pelo menos duas aeronaves pilotadas de vigilância estiveram baseadas aí, na altura. Simba foi, há algum tempo, uma  instalação operada pela Marinha; agora é mantida pela Força Aérea, concretamente pelo Esquadrão Expedicionário Nº475 de Base Aérea, parte da Esquadra Aérea Expedicionária Nº435.

O pessoal dessa mesma esquadra aérea pode ser encontrado noutro posto avançado, que não está mencionado no «Base Structure Report»,  situado no lado oposto do continente. O BSR declara que não regista informação sobre locais «não EUA» e que menciona somente os que tenham pelo menos 10 acres  de tamanho e que valham pelo menos 10 milhões de dólares. Porém, a base em questão — A Base Aérea 201  em Agadez,  no Níger — tem já um custo em construções de 100 milhões de dólares, quantia que será em breve eclipsada pelo custo de funcionamento da base, de 30 milhões de dólares anuais. Quando, em 2024, o presente acordo de dez anos cessar, seus custos de construção e de funcionamento atingirão cerca de 280 milhões de dólares.

Outras bases que faltam no relatório BSR são as do vizinho Camarões, incluindo uma base de longa duração em Douala, um campo aéreo de drones na longínqua Garoua e uma instalação conhecida como Salak. Este local, segundo uma investigação de 2017 pelo Intercept, pela Forensic Architecture, e por Amnesty International, tem sido usado por pessoal dos EUA e por contratantes, para vigilância com drones e missões de treino, e pelas forças camaronesas, aliadas dos EUA, para prisões ilegais e torturas.

Segundo Vine, o facto de manterem secretas as bases africanas dos EUA tem vantagens para Washington: Protege os aliados neste continente da possível oposição pela presença de tropas dos EUA, enquanto garante que não haverá um debate a nível doméstico sobre despesas e compromissos dos militares envolvidos. “É importante para os cidadãos dos EUA saberem onde estão baseadas as suas tropas em África e em todo o mundo” disse ao TomDispatch, “porque a presença de tropas dos EUA custa biliões de dólares todos os anos e porque os EUA estão envolvidos ou potencialmente envolvidos em guerras e conflitos que poderiam ter uma escalada e ficarem fora de controlo.”


As tais Bases Ausentes

África está longe de ser a única zona em que a lista oficial do Pentágono não se coaduna com a realidade. Durante mais de duas décadas, o «Base Structure Report» ignorou as bases em toda a espécie de zonas de guerra, com intervenção de americanos.  No culminar da ocupação do Iraque, por exemplo, os EUA tinham 505 bases aí, desde postos avançados, até bases com instalações gigantescas. Nenhuma delas aparecia nas listagens oficiais do Pentágono.
No Afeganistão, os números ainda são mais elevados. Tal como foi noticiado por TomDispatch em 2012, a Força Internacional liderada pelos EUA tinha cerca de 550 bases naquele país. Se forem adicionados os postos de controlo da ISAF – pequenas bases para garantir a segurança de estradas e aldeias – à contagem das mega-bases, o número atinge o valor de 750. E se tivermos em conta as instalações estrangeiras  – incluindo as logísticas, as administrativas e as instalações de apoio – o comando conjunto da ISAF contabilizou 1.500 locais. A quantidade das que estavam ao cuidado dos americanos ficou porém misteriosamente ausente da contagem oficial do Departamento de Defesa.

                         

Existem agora muito menos instalações assim no Afeganistão – os números podem descer ainda mais nos próximos meses, na proporção da redução das tropas. Mas a existência do Campo Morehead, da Base Fenty de operações avançadas, do Aeródromo de Tarin Kowt, do campo Dahlke ocidental, do Aeródromo de Bost, tal como do Campo Shorab,  uma pequena instalação no que foi antes o local das bases gémeas conhecidas como Campo Leatherneck e Campo Bastion, são incontestáveis. No entanto, nenhuma destas jamais apareceu no «Base Structure Report».

Analogamente, embora já não existam mais de 500 bases dos EUA no Iraque, nos anos mais recentes, visto que regressaram tropas americanas a este país, alguns quartéis foram restaurados ou construídos de raiz. Estes incluem o Complexo Besmaya Range, a base de Sakheem, a  base de Um Jorais, e a base aérea Al Asad, assim como o  aeródromo de Qayyarah Ocidentaluma base situada a 40 milhas a sul de Mosul, mais conhecida por “Q-West.” De novo, não encontrareis quaisquer delas na lista oficial do Pentágono.

Nestes dias, é difícil obter informação rigorosa sobre efectivos militares nas zonas de guerra, onde estejam envolvidos americanos, assim como sobre o número de bases em cada uma delas. Como explica Vine, “Os militares dizem que mantêm os números secretos, em parte, para esconder as bases dos seus adversários. Mas, como não será difícil localizar as bases em locais como a Síria ou o Iraque, tal secretismo é destinado antes a prevenir o debate ao nível doméstico, sobre o dinheiro, o perigo e mesmo para evitar tensões diplomáticas e inquéritos internacionais.

Se o objectivo do Pentágono tem sido o de evitar o debate doméstico, tem sido alcançado ao longo dos anos, escapando às questões sobre a sua postura global ou sobre o que um colaborador regular de TomDispatch, Chalmers Johnson designava como o “Império de bases americano.”
Em meados de Outubro, TomDispatch  perguntou a Heather Babb, uma outra porta-voz do Pentagon, sobre os postos avançados no Afeganistão, no Iraque e na Síria, que estavam ausentes do relatório «Base Structure Report», assim como os que faltavam em relação às bases africanas. Entre outras questões colocadas a Babb: O Pentágono poderia dar uma simples contagem – ou uma listagem – de todos os postos avançados? Possui uma verdadeira contagem das instalações no estrangeiro, mesmo que esta não tenha sido revelada ao público – uma lista que afinal fizesse o que a «Base Structure Report» apenas alega fazer? Outubro e Novembro passaram sem resposta.
Em Dezembro, em resposta aos pedidos de informação, Babb respondeu – em linha com a política usual de manter os cidadãos americanos no escuro acerca das bases que estes pagam e sem ter em conta a dificuldade de negar a existência de postos que se estendem de Agadez no Níger a Mosul no Iraque – «Não tenho nada a acrescentar», declarou ela, «à informação e aos critérios que estão incluídos no relatório».

A decisão do Presidente Trump em retirar tropas americanas da Síria, significa que o relatório de 2019 «Base Structure Report» será provavelmente o mais preciso desde há alguns anos. Pela primeira vez, desde 2015, a contabilidade dos postos avançados do Pentágono já não omitirá a guarnição de al-Tanf (ou, de novo então, talvez o faça). Mas isso ainda deixa de fora centenas de bases, ausentes da listagem oficial. Um posto avançado terá saído, mas quem sabe quantos ainda faltam?

Nick Turse é editor da redacção de TomDispatch e colaborador de Intercept
O seu livro mais recente intitula-se “Next Time They’ll Come to Count the Dead: War and Survival in South Sudan.”(«Na próxima, vez virão para contar os mortos: guerra e sobrevivência no Sudão do Sul»).
O seu sítio Internet é NickTurse.com.