Mostrar mensagens com a etiqueta Monopólio. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Monopólio. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 8 de março de 2019

REFLEXÃO: AQUILO QUE PASSA POR POLÍTICA...


Quando os sacerdotes bufões da media falam, incitando as pessoas a pensarem isto ou aquilo, a rejeitarem A e seguirem B, ou vice-versa, desde que sejam sempre passivas… eu tenho tendência para virar a cara para o lado. É que me dá uma náusea, uma sensação de enjoo. Devo ser um caso muito especial, pois senão eles/elas – mediáticos/as – estariam órfãos/órfãs de público.

Aquilo que verifico, afinal, é que todos estes «cientistas» de pacotilha conseguem açambarcar a atenção dum número considerável de pessoas, apenas usando as técnicas de «public relations» e da psicologia mais trivial, mas sempre eficaz. Aliás, estas técnicas manipulativas são eficazes, sobretudo pela simples razão de que têm um público cativo, previamente condicionado, tornado passivo.

A principal questão política - ou sociológica, se se preferir- é que, nas sociedades desta era de consumo de massas e de democracia "representativa", tudo é feito para afastar as pessoas de uma verdadeira intervenção na vida pública.
Os «especialistas» de tudo, ou seja, os «doutores da treta», encarregam-se de «pensar por nós», de falar e escrever o que lhes apetecer, nos seus termos. 
Aquilo que fazem ou dizem é relevante apenas porque lhes foi concedido o monopólio da palavra e da presença nos écrans; os restantes membros da comunidade, os que teoricamente são também cidadãos, apenas têm que ouvir e calar. Dizem-lhes: «vão votar»! Ao mesmo tempo que reduzem ao acto de votar toda e qualquer participação da cidadania, negam-lhe o conhecimento real e verdadeiro das escolhas que lhes apresentam … 
O cidadão é tratado exactamente como sendo menor mental: tal é o desprezo pela inteligência do cidadão-eleitor, que apelam ao voto com campanhas publicitárias feitas de imagens e slogans vazios. 

O sistema mantém-se pela passividade, pela exploração da tendência para a preguiça, pela ausência de curiosidade, da grande maioria. 
Este sistema está desenhado para funcionar na perfeição, com cidadãos apenas interessados em «resolverem» seus assuntos pessoais e seguirem os seus ídolos do desporto, da canção, do cinema… 
Estas formas de alienação funcionam por personificação. O  imagina-se na pele do seu ídolo: consegue aceder a um «estado de graça», identificando-se com o jogador no relvado, ou a cantora no palco, num cenário de sons e cores, etc…  
Assim, transformou-se o povo numa enorme multidão de adolescentes eternos/as, apenas desejosos/as de dar vazão a seus desejos, às suas pulsões. Tais pulsões implicam sempre o consumir, o usufruir dum estatuto especial ou «status», exclusivo duma «elite» do dinheiro. Não é preciso que este consumo seja óptimo, mas tem que ter a chancela mediática que identifica seus consumidores como gente privilegiada e que as outras invejam – supostamente - por não terem possibilidade de tal consumo de luxo, desse tal esbanjar, afinal. 

Assim, o sistema político-mediático que nos governa está permanentemente a inverter os termos daquilo que foi sendo consignado nas constituições e nas leis, ao longo de dois séculos e meio. Os textos legais permanecem, em muitos casos, mas são letra morta, porque não tem havido correlação de forças favorável a que se imponha o seu respeito. Este esvaziamento da democracia tem sido levado a cabo nos últimos 30 anos, pelas políticas ditas neoliberais no domínio económico, acopladas ao crescente autoritarismo político e à reconstituição dos privilégios para uma pequena minoria. 
É essencialmente contra este neo-feudalismo que têm lutado os movimentos sociais nos finais do século passado e primeiros decénios do presente século. 

A passivização do público, a sua transformação em seres pulsionais, em «crianças para toda a vida» é o objectivo dos defensores dos privilegiados. 
As pessoas estão condicionadas a pensarem os políticos como uma casta à parte: os que «sabem sobre todos os assuntos», que «têm ideais e que os defendem com ardor», que - por vezes - mentem, mas «que se lhes deve dar um certo desconto».
O que as pessoas não compreendem é que os políticos profissionais são pessoas comuns, com os seus defeitos e qualidades. Quando são entrevistados ou participam num evento público, têm por detrás o aconselhamento dos especialistas em imagem, têm gabinetes de apoio onde pessoas com valências técnicas, que eles/elas não possuem, lhes vão decifrar questões de economia, de saúde, de relações internacionais, etc. 
Assim, aquilo que dizem em público, será ou aparenta ser, profundo; sobretudo, será aquilo que seu auditório cativo, seu eleitorado e o público em geral, desejam ouvir.

Uma intervenção nesta política-espectáculo mais se pareceria com um jogo de espelhos. Tal intervenção seria análoga àqueles percursos labirínticos nas feiras, com espelhos que nos desorientam e nos fazem andar em círculo… 
A primeira coisa que alguém terá de fazer se deseja entrar neste jogo, é desfazer-se de qualquer prurido moral quando se trata de abocanhar um naco de poder, de influência, de visibilidade mediática… A segunda, será de escolher e seguir o líder, alguém com mais poder, em condições de favorecer o candidato, colocando-o numa lista em posição elegível.

Face a esta desoladora paisagem, face a este espectáculo de cinismo e ganância obscenas, as pessoas sensíveis...
- ou se recolhem num mundo pessoal, íntimo, cultivando seus «jardins secretos»; 
- ou se sentem desesperadas e descrentes de tudo e acabam por se auto destruir, pelas dependências a drogas e de um estilo de vida que acaba por desembocar no suicídio, muitas vezes. 
As pessoas com carácter forte, rebelde, não conformadas, por vezes adoptam uma postura quixotesca, sem qualquer esteio prático, porque não se inserem nas lutas sociais, na vida quotidiana de seus concidadãos e sonham com românticos Che, afinal um mito construído. 
Os restantes, os que escolhem o caminho estreito da resistência realista, mantendo-se próxima do sentir dos outros, sem se auto proclamarem como chefes, estes são demasiado poucos para serem capazes, por si sós, de inverter a tendência.

Embora tudo o que escrevi acima pareça de um pessimismo atroz, não o é, pois é a partir da constatação de uma dada situação, tendo identificado as nossas falhas de toda a ordem, que podemos encontrar os meios para se avançar. 
Não se trata de cruzar os braços e lamentar a nossa impotência, mas antes, de ver como ela foi construída, confeccionada pelos poderes, embora ela não seja uma fatalidade. Porém, um diagnóstico crítico e auto-crítico é necessário para desenharmos estratégias individuais e colectivas, que não terão de ser únicas, nem uniformes, mas que deverão ser confluentes. 
Esta será a metodologia capaz de contrariar e inverter, subvertendo a presente ditadura, que se reveste das aparências da liberdade e da democracia. 
Ela será realisticamente eficaz e alcançará a sua finalidade, se conduzir a que as pessoas se ergam e livremente, democraticamente, moldem o presente e o futuro de suas vidas e das sociedades.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

ESTADO, CAPITALISMO, MONOPÓLIO, GLOBALIZAÇÃO

Debaixo deste título deixo vários pontos de reflexão, que pretendem ir pra além de «uma definição de dicionário» dos acima-mencionados termos.
O Estado tem como elemento fundamental a coacção. 
Mesmo quando não tem aspectos odiosos, a coacção existe e é aceite de forma generalizada. Que essa aceitação seja de bom grado ou mau grado, pouco importa. O facto é que a imensa maioria tem em atenção as leis produzidas pelo Estado: por exemplo, dificilmente alguém consegue deixar de pagar impostos, colectados em exclusivo pelo Estado, através das Finanças, do Fisco. 
Não se deve confundir o Estado com os elementos que ocupam lugares-chave do mesmo. Como em todo o aparelho, as pessoas que o comandam são importantes, mas não são indispensáveis. 
Outro atributo muito citado é o da exclusividade da força armada; não existe no conceito de Estado moderno lugar para forças militares ou militarizadas privadas ou que pertençam a uma qualquer facção particular. Porém, o Estado recorre cada vez mais a serviços de policiamento, de prisões, mesmo a forças combatentes (mercenários) privadas. 
O Estado tem o papel de cunhar moeda, sendo isso citado como atributo de sua soberania. Porém, a partir do Euro, muitos Estados renunciaram a ter a faculdade de o fazerem, para confiar o papel de banco central a uma entidade supra-nacional, o BCE. 
De facto, o Estado, apenas é um instrumento eficaz de coação porque as pessoas têm a sua vida dependente do mesmo; quer se trate de emprego público (frequentemente o Estado é o maior «patrão» numa sociedade), quer se trate de emprego privado, as relações de trabalho são reguladas por leis e acordos laborais. O que se designa por sector da economia «privada», não é mais do que a oportunidade dada pelo Estado, que alguns aproveitam: as oportunidades de «mercado» do capitalismo e tudo o resto, só são possíveis com inúmeros apoios estatais, directos e indirectos, desde a legislação, tribunais, organização burocrática, forças armadas, ensino, às infraestruturas de toda a espécie...

O capitalismo é frequentemente definido como modo de produção, mas esta definição deverá contemplar a historicidade deste. Pois nem sempre houve capitalismo, no passado remoto, e -provavelmente - será substituído por outro modo de produção no futuro. 
A característica mais relevante do capitalismo não é a exploração, pois essa ocorreu também em sistemas feudais ou esclavagistas; é sim, o facto de que a organização da produção é relegada para o domínio individual. Isto é, não se trata de um sistema onde as decisões sobre investimento ou produção estejam centralizadas. 
No capitalismo é reconhecido que será, em última instância, o interesse do capitalista (a maior parte das vezes associado a outros) a decidir e não o Estado ou outra entidade. Esse interesse em produzir algo ou fornecer tal ou tal serviço é determinado pela existência de uma necessidade da sociedade, uma necessidade que se traduz numa procura, num mercado. 
A coisificação do próprio trabalho e do  trabalhador, transformado em mercadoria, é a consequência desta disposição do sistema produtivo, não de uma perversidade intrínseca dos capitalistas
A existência de capitalismo não se acomoda bem com a permanente intervenção do Estado no mercado. 
Isto verifica-se, com uma grande acuidade, por exemplo, com a manipulação por entidades estatais ou para-estatais (bancos centrais) do «custo do dinheiro», ao fazerem baixar artificialmente a taxa de juro das obrigações soberanas. Arrastam assim toda a economia para um jogo perigoso, em que múltiplos actores fazem apostas arriscadas, tomam posições apenas porque os juros estão muito baixos. Com isso, tornam inviáveis os investimentos com menos rentabilidade imediata, dão um sinal ilusório de investimento produtivo, criam ilusões de rentabilidade em empresas e sectores que não são e acaba por ter um efeito destruidor de capital e da poupança. 

A monopolização de sectores inteiros da economia desenvolveu-se numa escala sem precedentes no século XX. Os monopólios permitem que os preços ao consumidor sejam mais baixos, num primeiro tempo, apenas. Porém, trazem a destruição de muitas empresas, não só pequenas e médias, como também grandes, que eram a concorrência e permitiam que o consumidor pudesse escolher entre vários produtos/serviços, mantendo uma pressão para baixar os custos e preços. Na fase de domínio do mercado, os monopólios vão ditar os preços aos consumidores, aumentando o lucro em muitas ordens de grandeza. Inevitavelmente, esta monopolização da economia traz custos sociais, desemprego, mas também um abaixamento da qualidade e da diversidade. 
Na economia dominada por monopólios, o Estado é apenas um regulador da «lei» instituída pelos monopólios, é um vassalo dos grupos corporativos. Com a financiarização da economia dos países afluentes, em particular a partir das últimas duas décadas do séc. XX, o sector bancário e os grandes fundos de investimento privados (hedge funds), vão dominar a economia e o próprio Estado, na medida em que impõem as normas de acordo com os seus interesses. 

A globalização é um fenómeno correlacionado com a transformação do capitalismo, nos finais do século passado. O capitalismo deixa de estar limitado pelos factores nacionais. 
O mercado de bens e serviços passa a ser global. Igualmente, o próprio mercado dos capitais é completamente globalizado, o capital pode circular sem qualquer impedimento, sem que os próprios Estados tenham direito a regular os seus fluxos. 
Paralelamente, instaura-se um regime em que a não-existência de alternativa ao capitalismo, adquire carácter de norma. 
Exemplifico com o tratado de Lisboa da UE, que instaura a obrigatoriedade dos países signatários (e quem depois aderir à UE) manterem uma economia «de mercado», um eufemismo de capitalista. Não importa que - eventualmente- os povos queiram sair do capitalismo e mesmo que explicitem este desejo nas urnas. 
A globalização é um fenómeno exclusivo do capitalismo nos seus últimos estádios, em que a vontade popular deixou de ser - mesmo em termos meramente formais e jurídicos - o fundamento do regime.  A globalização é, na essência, um extremar de posições imperialistas, pois através de instrumentos financeiros, consegue-se subjugar países como a Grécia, Espanha, Portugal, Itália, etc, amarrando-os à dívida. 
Esta foi contraída por governos, sem o aval do povo, da mesma forma que foi feito com os regimes autoritários de países africanos, nos anos 70 e 80, com ajuda do FMI (programas de «ajustamento estrutural»). 
O resultado, num e noutro caso, é um pesado fardo de endividamento, e consequente perda de qualquer semblante de independência nacional. 
Note-se que a globalização anula a independência dos países mais fracos, naquilo que ela tem de mais básico, ou seja, deixando de haver possibilidade da população determinar, por escolha democrática entre vários partidos, qual o rumo para a sua  própria vida. Note-se que não tem nada que ver com «internacionalismo». Este termo significa o oposto no sentido profundo, não se deve confundir com globalização
É do interesse do povo e dos trabalhadores de qualquer país e de todos os países, que estes se libertem das cadeias do capital, das opressões, que impedem a sua plena afirmação, como nações oprimidas. Isto é internacionalismo.
O capital, habilidosamente, faz crer que foi a globalização que trouxe os avanços tecnológicos do presente: Porém, sabemos que foram o produto do trabalho humano, de incontáveis cientistas e técnicos, trabalhadores especializados ou não, dos mais  variados sectores. 
É falacioso o argumento de que «existe uma globalização boa». Porquê confundir este processo destrutivo com outra coisa, com o engenho humano em geral e com a natural tendência para a troca mutuamente vantajosa, na base do comércio?