quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

[OBRAS DE MANUEL BANET] Meditação, ouvindo Chopin

MEDITAÇÃO,

 OUVINDO CHOPIN


Enquanto ressoar música nos meus ouvidos
Estarei em paz com Deus, mas não com os outros
Pois os outros estão demasiado cheios das suas vaidades
Para conseguirem parar um pouco seus afazeres
E olharem, ouvirem, sentirem

A Natureza está em roda deles
E neles próprios, mas estão
Fechados à maravilha do sopro
Vital que transforma o ser

Estou contigo, que me dás este bem
Infinito - a música! Estou com o espírito
De Deus, essência criadora e propulsionadora
Do Universo...



 JAN LISIECKI INTERPRETANDO O NOCTURNO EM DÓ # MENOR DE CHOPIN

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

AS ROUPAS NOVAS DO REI E O NOVO MACCARTISMO


                   

No chamado mundo «Ocidental», os media corporativos estão todos basicamente sob controlo, no mais completo sentido da expressão: financeiro, ideológico, de propaganda... Todos eles se põem em bicos dos pés para reproduzir a visão completamente distorcida do que são, hoje em dia, a Rússia e China, assim como outros países que se têm aliado em vários continentes a estas duas potências. 
O mais grotesco nestes media é que eles se assumem como cães de fila dos globalistas ocidentais, acusando quaisquer indivíduos ou organizações de «fazerem o jogo» dos russos. Antes, era a mesma coisa, na era do Maccartismo, quem fosse acusado de ter simpatias pela «Rússia soviética» era logo banido e excluído. Assim, um número enorme de jornalistas, actores, professores, investigadores, ou outros profissionais, tiveram as suas carreiras completamente destruídas, quando não mesmo as suas vidas, pois muitos se suicidaram. 
Hoje em dia, está-se a criar um mito de que pessoas dissidentes do globalismo capitalista ocidental, ao terem uma análise que coincide com a posição da Rússia ou da China sobre determinado assunto, estão necessariamente «a soldo» destas potências. 
Esta «presunção de culpa» é grave, na medida em que, não apenas atacam de forma vil e falsa muitas pessoas pelas suas opiniões (perfeitamente legítimas), como instituem uma forma de exclusão, de censura, de toda uma parte do espectro político ideológico, que eu situo sobretudo na esquerda não capitulacionista, na esquerda que não foi comprada pelos Soros e Cia. Alguns elementos conservadores, curiosamente, também se têm posicionado de forma muito crítica ao imperialismo americano e à vassalagem dos países da NATO.
Compreendo que o controlo da narrativa se revista de  importância estratégica para os defensores do Império. Sem dúvida, existe uma lógica subjacente a isso: evitar que surja e se afirme uma corrente forte na opinião pública, que não se deixe manipular pela propaganda corporativa.   
Tal como a criança, que no conto de Andersen, gritou «o Rei vai nu», aquelas personalidades podem ter um papel catalizador e clarificador das consciências confusas, adormecidas. Daí que os media ao serviço do Império façam «black-out» de tudo o que lhes diga respeito, ou deformem até à caricatura suas posições e pontos de vista. Isto está a tornar-se, nos últimos anos, um processo corriqueiro dentro do «mainstream».
Acredito que apesar das suas técnicas sofisticadas de guerra psicológica, eles não possam moldar as consciências totalmente (embora o desejassem): é que a realidade encarrega-se de contradizer, mais e mais, essas construções ideológicas. 

As mulheres e os homens inteligentes vêem as contradições e adoptam uma postura crítica.   

domingo, 17 de fevereiro de 2019

OBSERVATÓRIO DAS GUERRAS E MILITARISMO DINAMIZA DEBATE NA FÁBRICA DE ALTERNATIVAS

Aconteceu no sábado passado (16 de Fev 2019), na

 Fábrica de Alternativas (Algés):

https://ogmfp.wordpress.com/2019/02/17/falamos-sobre-a-venezuela-ontem-na-fabrica-de-alternativas-alges/


A notícia foi retirada do site do «Observatório da Guerra e Militarismo» que desde o final de Janeiro tem publicado regularmente notícias e artigos de opinião sobre assuntos relevantes naquele âmbito.
As pessoas preocupadas com estes assuntos podem encontrar um grande número de informações interessantes. Para enviar notícias ou artigos de opinião, basta contactar o colectivo que gere o Observatório no menu de abertura em contact

sábado, 16 de fevereiro de 2019

MEDIA MANIPULA PÚBLICO: ADSE E GREVE DOS ENFERMEIROS

                              Conselho da ADSE diz ser preocupante evolução do saldo para 2019

Nesta guerra suja de grandes empresas  de saúde, contra o Estado e o sub-sistema de apoio aos funcionários, vulgo ADSE, a media (quase toda) avança com argumentos que, objectivamente, favorecem e fortalecem a posição dos tais grupos privados. 

Quando se enfatiza, exclusivamente, como nesta notícia, entre muitas outras, o aumento enorme que os utentes do sistema ADSE terão de pagar a partir de meados de Abril, para obterem consultas em unidades destes grupos, está-se a aumentar a pressão sobre o governo e sobre a ADSE, para ceder naquilo que os grupos privados de saúde pretendem. Não se esclarece, porém, qual a posição respectiva de cada parte em litígio.

Eu tentei compreender o que estava na origem do diferendo entre a ADSE e esses grupos de saúde (hospitais privados da Luz, dos Lusíadas, da CUF...). 
Segundo os protocolos assinados entre a ADSE e esses grupos, os tratamentos aplicados nos internamentos hospitalares eram reembolsados aos hospitais, até um montante de 10% a mais (110%) do seu valor médio de mercado: 
- Ou seja, se uma unidade de tratamento (por exemplo, uma dose de medicamento) tiver o preço médio de 1 €, os hospitais serão reembolsados integralmente, se cobrarem até ao montante de 1,1 €. 
Porém, é frequente os hospitais privados carregarem a nota relativa a todos esses componentes das facturas dos internamentos. Segundo o protocolo em vigor com a ADSE, os hospitais são obrigados, nestes casos, a devolver tudo o que cobraram, acima do referido montante. Este mecanismo tem como objectivo evitar que a ADSE seja defraudada, com facturação excessiva de medicamentos e outros elementos consumidos no interior das estruturas hospitalares. 
A dívida de hospitais privados relativa a tal retorno de facturações excessivas, em relação à ADSE atingiu montantes enormes - salvo erro, da ordem de 48 milhões de € - o que, note-se, é inteiramente da culpa das referidas estruturas privadas de  saúde. 
- Que sentido tem cobrar 2000% a mais por cada comprimido em relação ao seu preço normal, quando este é fornecido num internamento? 
- É um meio abusivo de sacar à ADSE verbas muito acima do serviço realmente prestado aos utentes. É uma fraude, ainda por cima, massiva e continuada. 
Pois, os referidos grupos privados de saúde queriam forçar a ADSE a renunciar à cobrança desses montantes, o que mostra a total ausência de boa-fé destes grupos capitalistas da saúde. 
Eles usam uma arma muito poderosa: o medo dos utentes de ficarem sem os cuidados a que estão habituados, nesses hospitais e clínicas. 
Mas a ADSE estaria em maus lençóis se cedesse à chantagem e os utentes da ADSE também, obviamente: seria um entorse ao contrato entre as partes, constituindo um precedente preocupante, pois significaria que os privados iriam continuar a cobrar somas astronómicas pelos diversos materiais fornecidos aos doentes da ADSE, em internamento naqueles hospitais privados.
                                  

A luta dos enfermeiros, que se radicalizou ultimamente, já vem de longe, assim como as lutas doutros grupos profissionais (professores, outros funcionários...). Estas greves têm sempre uma media apostada em difamá-las. As pessoas não se indignam talvez o suficiente, com isso. 
Aquilo que fazem os media, é sabotar as greves, com reportagens em que pessoas se queixam (justa ou injustamente) dos prejuízos que lhes causa a greve X. 
Pois as greves têm que ter efeitos, ou não seriam eficazes. O hipertrofiar desses efeitos nos media, pela exposição dos mesmos em contínuo, equivale a anular (psicologicamente) a justeza, as razões legítimas, dos grevistas. Também não se costuma ver, ou apenas muito rapidamente, os sindicalistas e os grevistas a explicar as razões de seu movimento, porque motivo tiveram de recorrer à greve, etc... Isto mostra a parcialidade e ausência de deontologia dos media (sobretudo, dos que controlam o fluxo das notícias nos mesmos).

Tal como em relação aos movimentos de greve, a imprensa ao serviço dos interesses corporativos, está a fazer campanha (de forma hipócrita!) a favor dos grupos privados de saúde, contra a ADSE e contra o Estado. 
No meio disto, os interesses legítimos dos funcionários públicos e dos reformados da função pública, não contam, senão como objecto de manipulação e de contenda política.
Seria o mínimo, os responsáveis da Saúde e da ADSE clarificarem completamente a situação e garantirem o acesso aos cuidados de saúde da população. 
O público, em geral, está também a ser instrumentalizado de forma a isolar os «privilegiados», que beneficiam da ADSE, ou seja, pôr uma parte da população contra a outra, para servir a agenda da medicina corporativa.
Sabe-se que os utentes da ADSE descontaram e descontam ao longo de suas carreiras, quer no activo, quer depois de reformados, montantes elevados (da mesma ordem que seguros de saúde). 
Têm direitos que devem ser respeitados por todos. 


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

YUJA WANG INTERPRETA SCHERZO DE RACHMANINOV


                                      

Neste Scherzo, Rachmaninov transcreve para o piano a abertura (para orquestra) do «Sonho de uma Noite de Verão» de Mendelssohn 


A beleza da interpretação de Yuja Wang  é máxima, a meu ver. Os trechos interpretados por ela são como uma revelação. 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

AS OVELHAS E O LOBO

                    Image result for loup et les moutons


Evidentemente, a foto acima é uma montagem. Pela simples razão de que nenhum lobo conseguiria passar despercebido no meio das ovelhas ou ser confundido com o cão-pastor do rebanho.
Mas, se isto é assim no mundo animal, por que razão os humanos - tão mais inteligentes que ovelhas e carneiros -  deixam que «lobos» (alcateias inteiras deles!) se infiltrem no meio de pessoas inocentes, trabalhadoras, ordeiras e pacíficas? 
- Esses «lobos», conseguem facilmente semear a discórdia entre irmãos e irmãs, 
- apropriam-se do fruto do trabalho, a tão preciosa lã, a troco de um pouco de palha, ou mesmo de nada! 
-Não contentes em tosquiá-los, acabam por enviá-los ao matadouro!
Vem esta introdução em jeito de fábula ou de parábola, para comentar a enorme estranheza que causa verificar que um número considerável de cidadãos se deixam iludir (comprar?) pelas sereias do poder fascista totalitário globalista que domina as instituições internacionais (ONU, OMC, FMI, etc.) e cujo o verdadeiro esteio do poder está nas corporações capitalistas multinacionais: 
- os bancos ditos «sistémicos» (uns cinco dos EUA, um pequeno número no espaço europeu...), 
- as grandes firmas de tecnologia (Apple, Facebook, Google, Amazon...), 
- os produtores de hardware e software
- os construtores de máquinas de guerra, os Raytheon, Lockhead Martin, Bombardier, etc. 
Existem outras empresas, com um valor de negócio comparativamente mais baixo que as acima, que desempenham porém um papel crítico no empurrar dos governos para a guerra ou para subversão do poder de governos estrangeiros. Estou a pensar nas empresas de mercenários, por exemplo, a «Academi» que antes se chamava «Blackwater» e muitas outras, que conseguem obter contratos para fazer aquilo que politicamente é inconveniente fazer por exércitos de Estados, sujeitos estes a códigos de conduta e sob observação da cidadania e da media.

Assim, para mim, é perfeitamente claro que existem «lobos» no meio dos cordeiros, existem pessoas e organizações que têm vantagens materiais e de carreira em desencadear e alimentar conflitos armados, guerras entre Estados, ou guerras civis, alimentadas por guerrilhas, que se vão abastecer de armas nos mesmos fornecedores...


O meu espanto não reside na constatação acima, porém: fico espantado pela mistura de ignorância e de auto-sugestão, de uma boa parte dos meus concidadãos, irmãos e irmãs, que têm tudo a ganhar em abrir os olhos, quanto mais não seja para não caírem no logro em que estes lobbies militares e afins costumam  encerrar a população. 

Muitos são aqueles que se consideram «sábios» por ignorar as grandes questões do nosso tempo, a ameaça que pesa sobre todos e cada um. Deixámos , durante demasiado tempo, que os instrumentos de poder ficassem nas mãos de criminosos, de sociopatas e de psicopatas.
Face a isto, há pessoas que, conscientemente, se coloquem numa postura de boicote de toda a «civilização» destrutiva, que está a levar o Planeta e o Homem ao nível de extinção. 
Mas, esses são muito raros e não podemos dá-los como exemplo a seguir: nem toda a gente tem estrutura para isso ou considera aceitável, em nome da sua «pureza», abandonar outros (familiares idosos, ou crianças) à sua sorte. 

O que preconizo como atitude geral, tenho eu próprio que o assumir, sob pena de estar a ser hipócrita. Desde que me conheço tenho adoptado uma atitude crítica em relação aos poderes, que se exercem sobre as pessoas e os povos. 

Tenho observado que os que são escolhidos (por meios ditos democráticos, ou por outros) para chefiar os outros são - muitas vezes - pessoas muito pouco apropriadas, pelo perfil psicológico: pessoas que têm ânsia do poder, que se consideram uns iluminados, personalidades narcisistas... 
Assim, não admira que o seu modo de «resolver» os problemas não seja do meu agrado. 
Não digo que umas escolhas, feitas com base em deliberações horizontais, estejam automaticamente isentas de erro. Mas, as que efectivamente são erros, são susceptíveis de ser corrigidas mais depressa e melhor, do que as que foram tomadas por algum «chefe». O próprio princípio do poder hierárquico implica que um indivíduo possa tomar decisões de modo discricionário, sem dar contas a ninguém: assim, apenas e tão somente, o apontar dum erro já será considerado «crime de lesa majestade». 

Algumas pessoas, assumem que a organização hierárquica é inevitável. Dizem que a  sociedade contemporânea é de uma imensa complexidade. Porém, a sociedade de há um século atrás, não era «muito mais simples». A minha resposta, é que o ser humano tem uma capacidade de se organizar de modo maleável, tendo em conta as circunstâncias em que está vivendo.

Iludidos pelas tecnologias de comunicação, fazemos «de conta» sobre as coisas que realmente contam. Estas, são coisas demasiado profundas, não podem ser descartadas como se fossem «velharias». 
Nem têm que ver com o suporte informacional onde assenta a mensagem: a mentira é uma mentira, quer seja propalada oralmente, por um texto manuscrito num papiro,  por telemóvel, ou ...etc.

A atitude inteligente e adulta tem de ser crítica, prudente, racional, pedagógica em relação aos nossos semelhantes, ou seja, a grande maioria das pessoas. 

Não é difícil os «lobos» meterem «a cunha» entre pessoas, até mesmo amigas, até mesmo com grande afinidade de ideais: o facto é que a nossa civilização decadente tem hipertrofiado o indivíduo, endeusado o ego, o que tem sido muito eficaz para controlar as «massas», reduzidas a entidades nucleares, isoladas, totalmente alienadas e ignorantes de que o são... 
Trabalhar no sentido oposto é privilegiar a troca directa, a entre-ajuda, a não competição, a audição permanente do outro, a construção de algo em comum, a vários níveis.
Ao fim e ao cabo, necessitamos de estar conscientes da «regra de ouro» veiculada, desde tempos imemoriais pelas religiões e pela sabedoria dos povos:  «Trata os outros como gostarias de ser tratado/a» ou, na sua formulação negativa: «Não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti».
Porque, se formos até ao fim da nossa reflexão e quisermos mesmo cumprir a regra, teremos de ser conscientes, amáveis, abertos, solidários, responsáveis, confiáveis... 
Todas as pessoas no nosso entorno acabarão por sentir a transformação. Podemos ter a certeza que - a partir desse momento - haverá correspondência, não em todas as pessoas, mas nalgumas, com certeza.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O CAMINHO PARA A PAZ PELO COMÉRCIO

                        Image result for trade new silk road

No passado remoto, as rotas comerciais eram abertas a golpes de espada ou tiros de canhoneira.
Basta pensarmos na maneira como Vasco da Gama e seus sucessores no Índico impuseram um monopólio comercial português e expulsaram os comerciantes árabes, aí instalados desde há vários séculos.
Ou ainda, como o Reino Unido, no tempo da Rainha Vitória, impôs o comércio de ópio à China, através de duas guerras cruéis, das quais resultaram tratados humilhantes para os chineses.
Com efeito, a «liberdade de comércio» que foi imposta pelos marinheiros e soldados dos impérios ocidentais não tem grande coisa que ver com as teorias de livre comércio dos liberais. Em vez de livre comércio trataram de impor o seu domínio imperial, a todo o mundo não europeu. Muitas das desgraças de hoje têm as suas raízes diretas nessa época, de expansão agressiva e bélica dos colonialismos.
Porém, por outro lado, constata-se que a realização de tratados comerciais ou a aceitação de regras comuns às trocas comerciais é um primeiro passo para a normalização de relações diplomáticas ou que estas têm como corolário imediato, o desenvolvimento das relações comerciais.
A abertura da China, ainda no período de Mao nos anos 70,  foi devida de facto, ao seu desejo de fazer comércio e esse desejo foi correspondido por poderosos interesses privados ocidentais.
A negação de comércio, como sejam as guerras de tarifas ou ainda pior, as sanções, os embargos, os bloqueios, são armas muito cruéis e absolutamente ineficazes, no mundo de hoje. Tal tem sido a atitude dos EUA e seus vassalos «aliados» da OTAN e UE …
A guerra comercial ou económica começou com a Rússia depois do golpe na Ucrânia, que depôs um governo legítimo, mas que tinha optado por união económica com o espaço Russo e não com a União Europeia. Essa guerra económica só trouxe dificuldades aos comerciantes, agricultores e industriais dos países ocidentais.
No campo russo, trouxe uma reação de defesa nacionalista, de se autonomizar do «Ocidente»; sobretudo, de produzirem eles próprios, tendo – portanto - um efeito estimulante na indústria e na agricultura.

Já no caso da Venezuela, o bloqueio e guerra económica por parte dos EUA, já duram há cerca de um decénio, mas a severidade foi aumentando neste último ano, ao ponto de um relator especial das Nações Unidas, considerar que as políticas de sanções dos EUA podiam configurar um crime contra a humanidade, nos termos da definição da ONU.
A guerra económica dos EUA contra Cuba vem desde o triunfo da revolução que depôs o ditador favorável aos EUA. Ela perdura desde há 60 ou mais anos e não trouxe mais do que sofrimento e privações para a população da ilha, sem nenhum efeito de fragilização do regime castrista. Claro que, para eles, este objectivo de subversão de um regime adverso é perfeitamente válido e «moral»: para eles, imperialistas, não contam as populações que serão sempre as primeiras vítimas de tais bloqueios.
A noção de que estes países, que se designam a si próprios por «democracias ocidentais», não são mais do que países governados por mafiosos, que querem impor, por meios de chantagem e pela força, a sua lei a outras nações, pode parecer exagero às pessoas imbuídas de cultura «ocidental», porém nos países que agrupam três quartos da população mundial, esta noção é absolutamente trivial.
A existência de uma fina capa ideológica de «liberalismo», não resiste a dois segundos de análise, quando nos debruçamos sobre políticas concretas. Se «liberalismo», significa sobretudo liberdade de comércio, representada pela tradição liberal de Locke, Adam Smith, etc., então a China e Rússia de hoje, assim como vários dos seus parceiros são porta-estandartes e verdadeiros obreiros desse liberalismo.
A liberdade de comércio é vital para aquela enorme parte de humanidade (no mínimo, 6 mil milhões), pois ela tem como meio de subsistência essencial a produção de bens agrícolas, de matérias primas minerais, ou de bens manufacturados.
A evolução dos países «ocidentais» [América do Norte, Europa ocidental, Austrália, Nova Zelândia e Japão] no último quarto de século, foi no sentido da «terciarização» da economia, da desindustrialização ou seja, do abandono da economia produtiva para a economia especulativa.
Nestes países, cuja riqueza assentou sobre séculos de pilhagem das colónias e escravidão, a estratégia de «terceirização» foi saudada pelos mais míopes e corruptos, visto que é realmente preciso fazer um esforço para acreditar que uma economia se pode sustentar com «serviços» e onde o lema tem sido «consumir, consumir, nem que seja a crédito».
As transformações na estrutura produtiva na China, mas também na India, Paquistão e outros, foram muito rápidas e conseguiram produzir a maior transformação de que há memória, de populações secularmente carenciadas, com padrões de nível vida muito baixos; uma saída da pobreza para grande parte da população. O enorme crescimento da classe média, nestes países, tem permitido um crescimento exponencial, pois os produtos manufacturados já não terão como escoadouro exclusivo a exportação, mas também vai crescendo o mercado interno para estes produtos, incluindo os de gama alta, o que permite não estarem tão dependentes dos caprichos das ex-potências coloniais e imperialistas.
As «Novas Rotas da Seda» são realmente a concretização imparável deste extraordinário florescimento económico, o qual terá repercussões benéficas também noutros países, que tinham mantido um grau incipiente de desenvolvimento.
Para todos os intervenientes nas redes comerciais, a questão central vai ser a estabilidade das condições de trocas. Daí que haja um interesse material pela paz, o que é sempre muito mais poderoso do que qualquer ideologia.
Mas, se ideólogos no Ocidente quiserem defender o liberalismo na sua pureza, pois aí terão oportunidade de se colocarem do lado dos que querem manter abertas as rotas comerciais, querem estabelecer e manter trocas benéficas para todas partes… deverão repudiar os militaristas, os loucos que querem o mundo inteiro sob sua hegemonia e relações baseadas na força e no medo.
A evolução das relações internacionais pode sofrer muitos episódios, nem todos beneficiando a liberdade de comércio. Mas, no longo prazo, a humanidade que produz irá decidir como e em que termos se farão as trocas, aplicando as boas práticas de reciprocidade, de não ingerência, de relações mutuamente vantajosas, de resolução pacífica dos diferendos…
… será um renovo da civilização.