Yeol Eum Son: Noturno em Dó # menor, para piano solo, do disco de noturnos de Chopin (alguns são em versão de piano solo, outros com orquestra de cordas).
Sarah Chan: Os puristas dirão que a versão para violino e piano é um atentado contra a música de Chopin! Mas, as pessoas com ouvido e sensibilidade irão apreciar deveras este maravilhoso Noturno, também na sua versão para violino e piano.
Este concerto é o meu preferido dos dois que nos deixou o mago polaco da música para piano.
Há uma anomalia curiosa na sua numeração, pois acontece que este foi o primeiro a ser escrito, mas aparece com o nº de catálogo posterior ao 1º publicado (o qual, afinal foi o nº2, na realidade!).
Há quem diga que Chopin tinha pouca capacidade para escrever para orquestra e que portanto, a sua produção orquestral é demasiado escassa. Eu divirjo dessa interpretação, pois acho que este concerto mostra até que ponto ele soube moldar a matéria musical. Sem dúvida, que o aparato da orquestra está ao serviço da brilhante execução no piano. Mas, afinal, não é isso mesmo a essência da forma-concerto para instrumento solista?
Chopin compunha aquilo que iria interpretar, pessoalmente. Sabia bem como era difícil e subtil passar das notas escritas numa partitura, para a ideia musical que esteve na sua origem.
Será necessário alguém como Daniil Trifonov, para estar à altura do desafio de interpretar - com o vigor e subtileza necessários - este concerto, criado em Varsóvia em 1830, pelo próprio Chopin.
Oiço estas peças muitas vezes, sem nunca ficar enfastiado. São do romantismo no seu apogeu, de uma inspiração sublime. Elas são únicas no reportório de Chopin, diz-se que foram inspiradas pelos poemas patrióticos de Adam Mickiewicz.
As Baladas são poemas musicais, porém não se podem classificar na categoria de música descritiva ou programática. São muito livres na sua forma: talvez sejam a expressão do estado interior do compositor, ao ler os referidos poemas.
Quanto à interpretação, não encontrei, até hoje, algo que satisfaça melhor o meu gosto em relação a estes extraordinários pedaços de música. Com efeito, eles exigem alma e técnica, numa combinação subtil, refinada.
Enquanto ressoar música nos meus ouvidos Estarei em paz com Deus, mas não com os outros Pois os outros estão demasiado cheios das suas vaidades Para conseguirem parar um pouco seus afazeres E olharem, ouvirem, sentirem A Natureza está em roda deles E neles próprios, mas estão Fechados à maravilha do sopro Vital que transforma o ser Estou contigo, que me dás este bem Infinito - a música! Estou com o espírito De Deus, essência criadora e propulsionadora Do Universo...
JAN LISIECKI INTERPRETANDO O NOCTURNO EM DÓ # MENOR DE CHOPIN
O impromptu é uma forma que pretende simular o improviso ou que é derivada do improviso.
O que me fascina neste tipo de música é a sua adequação ao piano.
Schubert também escreveu peças notáveis, designadas por «impromptu».
Porém, sendo Chopin o mais notável compositor para piano de todos os tempos, segundo o meu gosto subjectivo, é com imenso prazer que eu oiço esta composição.
[SE OS SONHOS INFESTAM A MINHA VIDA,
É PRECISO DAR ESPAÇO AOS SONHOS, SE UMA MELODIA ME ENCHE A
ALMA, É PRECISO QUE ELA SAIA, RESPIRE]
Eu dei-me a sonhar a melodia desta
célebre peça. Ela estava presente no interior do meu sonho, desempenhava
um papel... Mas qual?
Tinha um timbre familiar e antigo,
este piano, cujas notas percutiam no interior da minha cabeça.
Não posso fazer mais do que
conjeturas sobre o que sonhei: talvez um encontro à beira do lago Balaton? Um
passeio pelas dunas de Deauville? Uma tarde soalheira à sombra duma latada em
Colares?
Não sei; não posso senão fantasiar.
Qualquer coisa como o reencontrar de uma paisagem, que se escondia na minha
memória, como de outra vida se tratasse... Há tanto tempo já!
Porém, os sentimentos de nostalgia e
de tristeza mesmo, não me pareciam assim tão insuportáveis; gostava de
vaguear por esses espaços meio reais, meio sonhados.
Tudo se prendia com afetos, com
ausências, com romances para sempre insatisfeitos. Assim
como conversas bruscamente truncadas, que nunca mais terão a sua continuidade.
Assim é a nossa vida, uma sucessão
de momentos, alguns de espanto, muitos de enfado. Assim nós seremos um dia, somente recordação saudosa de outras eras.
Depois... Bem, depois é... um outro
começar, outra vida que desponta e vem encher outro peito, outra
cabeça, de inúmeros sentimentos e pensamentos...
Perdoa-me, estou cometendo o crime de
lesa-música, ao reduzir algo tão sublime a sensações pessoais. Pessoalíssimas.
Mas este escrito destina-se apenas a exorcizar uma obstinada reverberação do
espírito.