sexta-feira, 10 de outubro de 2025

COMO É QUE PORTUGAL NÃO FOI ABSORVIDO PELA ESPANHA

 Na realidade, esta questão é um bocado misteriosa para mim, que não sou historiador e tenho ideias demasiado esquemáticas do que foi o Condado Portucalense e todas as relações entre famílias reinantes, de Portugal, Castela e restantes reinos ibéricos, que tanta influência tiveram na evolução da geografia política da Península Ibérica. 

O que me apraz sublinhar é que o estado de guerra não era de todo o mais comum entre os reinos vizinhos de Portugal e Castela. Antes pelo contrário, as casas reais estavam aparentadas por uma série de casamentos entre príncipes dos dois reinos, forma como eram seladas ou consolidadas as alianças, nessa época.  Apenas uma visão maniqueísta coloca os dois reinos ibéricos em contenda permanente. 

Lembremos que o grande período de hostilidade aconteceu no final do Séc. XVI, quando o rei D. Sebastião de Portugal morreu em combate na batalha de Alcãcer Quibir (Marrocos) e foi sucedido pelo Cardeal D. Henrique, o qual não possuía descendência. 

As cortes estabeleceram que o legítimo herdeiro do trono era Felipe IIº de Espanha, tendo os seus exércitos invadido Portugal e derrotado uma fraca resistência militar, fiel ao candidato português ao trono (D. António Prior do Crato, «bastardo» real) e durante 60 anos foi o domínio dos Felipes na coroa de Portugal, não fusionada com a de Espanha, mas mantidos os dois reinos separados, com à cabeça, o mesmo monarca. 

Esta situação agradava a uma parte da aristocracia portuguesa. Por isso não houve grande resistência em Portugal durante a maior parte do período. Foi devido a uma série de acasos felizes que a conjura de 1ª de Dezembro de 1640 teve sucesso. Um facto importante, foi que o exército castelhano estava ocupado - nesse preciso momento  - a reprimir uma insurreição na Catalunha. Esta foi um fracasso, mas o resultado foi que, entretanto, Portugal sob o novo monarca, D. João IV,  teve tempo de organizar um exército próprio e fazer face às incursões espanholas. A guerra «de baixa intensidade» que se seguiu, durou bem até ao reinado de D. João V. Só no  reinado deste monarca português se chegou a uma paz estável com Espanha, com os casamentos de príncipes herdeiros. Nesta ocasião, foi celebrado o casamento entre o monarca espanhol e D. Maria Bárbara de Bragança princesa real, que se tornou assim Rainha de Espanha. 

Porém, os interesses de Espanha e Portugal continuaram a entrechocar-se no continente Americano. Houve combates na América do Sul por causa da delimitação dos territórios das colónias pertencentes a Espanha e a Portugal. Posteriormente, em 1801, na «Guerra das Laranjas» Portugal foi invadido pelo exército espanhol, por iniciativa do primeiro-ministro Godoy e nas boas graças do Consul vitalício, Napoleão Bonaparte.  

Durante a terrível guerra civil espanhola (1936-39), participaram forças portuguesas, de um lado e do outro: são conhecidas participações diretas de comunistas e de anarquistas nas milícias republicanas; do lado falangista, também houve voluntários. Esta guerra ocorreu já durante a ditadura de Salazar (1932-1968). Ele e o seu regime eram totalmente favoráveis aos insurrectos comandados por Franco. Quando algum «rojo» atravessava a fronteira para Portugal, era quase certo que seria apanhado, entregue aos falangistas e executado.  

No período pós-25 de Abril de 74, houve grupos (ELP, MDLP) de portugueses contra-revolucionários (grupos armados, praticando atos terroristas)  que se acolheram em Espanha, onde ainda vigorava o regime falangista. 

Mais tarde, aquando da adesão de Portugal e Espanha à então CEE, havia um certo preconceito dos eurocratas e dos principais países membros formando então «o Mercado Comum», em colocar Portugal e Espanha «no mesmo barco». Isto porque viam maior vantagem na adesão da Espanha com a sua indústria, agricultura e relações com a América-Latina. 

Porém, acabaram por encontrar uma fórmula, em que as indústrias portuguesas com maior potencial foram entregues, como «prenda de casamento da CEE» ao país vizinho. Os espanhoís puderam desenvolver em Portugal uma estratégia agressiva de aquisições em vários sectores, na indústria, nas pescas, no imobiliário, etc. O resultado foi o acentuar da «terceiro-mundialização» de Portugal, como se pode verificar até hoje. 

Nos períodos em que Portugal fez face a Espanha, em geral, tinha o apoio duma grande potência, como o Reino Unido ou a França. Também nestas circunstâncias, Portugal teve de ceder muito a seus aliados, não só no seu império colonial, como em relação ao comércio da metrópole: por exemplo, os britânicos conseguiram obter exportações em exclusivo de uma série de artigos para o Reino lusitano  e obtiveram o exclusivo do cultivo e exportação dos vinhos do Porto, da transformação das lãs da Covilhã, etc. 

Pode dizer-se que o Portugal do século XVIII já tinha características de neocolónia, embora fosse - ele próprio - um império colonial. Mas o colonialismo português foi, quase sempre, subordinado a interesses estrangeiros até ao final do período colonial. Com efeito, eram numerosos os empreendimentos agrícolas, industriais e mineiros, nas colónias portuguesas, entregues a parceiros da OTAN (EUA, Reino Unido, França, Bélgica...). Também na metrópole,  durante o período da ditadura de Salazar, as grandes empresas com lucros assegurados eram britânicas, alemãs, estado-unidenses, francesas e doutros países. 

O regime de Salazar e Caetano oferecia as bases estratégicas (as bases aéreas das Lajes, Açores e de Beja) às forças armadas de países da OTAN. Estas, tinham, graças a estas bases,  a possibilidade da sua aviação alcançar pontos estratégicos no Médio Oriente. Em contrapartida, Portugal recebia destes países apoio diplomático dentro  da ONU e noutras instâncias, assim como armamento.

As armas, aviões, carros de combate, etc. fornecidos, eram muitas vezes em segunda mão ou modelos que já não eram usados pelos países doadores (por exemplo, aviões da guerra da Coreia, dados pelos americanos). 

As guerras do período colonial foram guerras «proxi», em que os soldados eram portugueses, mas a grande maioria do equipamento provinha de aliados da OTAN. Quanto aos interesses defendidos, estes eram claramente os dos grandes empórios estrangeiros e da política hegemónica dos EUA, em confronto com o campo socialista e os movimentos anti-coloniais. 

Portugal, em conclusão, é um país muito dependente, quer dos seus parceiros da UE, quer dos seus aliados mais fortes da OTAN. Configura-se uma situação neo-colonial, em que é  mais vantajoso para os senhores feudais (o grande capital internacional) que Portugal permaneça como país nominalmente independente. 

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

REINICIALIZAÇÃO SERÁ ORIENTADA PARA EXTRAIR RIQUEZA DAS PESSOAS!

 Reinicialização (reset em inglês):  o termo escolhido pelos globalistas para a tomada de controlo financeiro e monetário  em todos os países.  Através destas alavancas (controlo do dinheiro digitalizado e controlo dos cidadãos através da vigilância 24/24) e usando os Bancos Centrais, os bancos comerciais e os Estados, eles procuram obter um controlo a 100% da população. 

                                    https://youtu.be/pukTTXAmENA?si=zFIrZbkhHmlywvZi



terça-feira, 7 de outubro de 2025

GAZA: AS MENTIRAS PROPALADAS PARA ENCOBRIR O CRIME DE GENOCÍDIO


 Escutei várias vezes com atenção este vídeo do «Le Quotidien Global». No seu conteúdo, este relato é dos mais objetivos que tenho até agora ouvido sobre Gaza, a Palestina, Israel, o regime de Netanyahu. Também é notório que os poderes ocidentais, foram apoiantes ativos, sobretudo EUA e Reino Unido, da campanha de terror contra civis, desde o primeiro momento. 

Quando se faz a apologia da ação militar de Israel em Gaza, está-se a criar clima favorável a todos os atos que depois cometeu. Seus apoiantes, chefes de Estado e governo, de vários países ocidentais deveriam também ter um lugar reservado no banco dos reús, no Tribunal Penal Internacional.

Quando a media corporativa perpetua as mentiras típicas da propaganda de guerra e não faz nenhum esforço para desfazer aquilo que propalou, sabemos que a sua missão deixou de ser (há muito tempo, na verdade) de divulgar as notícias o mais próximo possível da realidade e de modo objetivo, neutral, não enviesado.

Ás numerosas pessoas que há dois anos me diziam que o Hamas tinha cometido atrocidades, eu respondia que a saída de 7 de Outubro para fora da prisão de Gaza, FOI UM ATO MILITAR  e que numa circunstância assim, os militantes palestinianos tinham que se preocupar - em exclusivo - em neutralizar as forças inimigas da IDF (forças armadas de Israel) que mantinham o cerco da Faixa de Gaza. 

As barbaridades atribuídas aos gerrilheiros palestinianos eram construções da propaganda sionista, destinada a virar a opinião pública mundial contra os palestinianos. Compreendi logo isso e depois veio a ser confirmado plenamente, com provas irrefutáveis. 

De facto, os objetivos mais importantes da operação da resistência palestiniana foram alcançados. Mostraram que Israel (o seu governo, as suas forças armadas) era opressor, sem qualquer preocupação com os aspectos humanitários, com prazer sádico em matar e humilhar uma população indefesa. 

O objetivo declarado pelo governo de Netanyahu de «liquidar o Hamas», não apenas não foi conseguido, como a posição do Hamas se fortificou no seio do povo palestiniano, como também a nível internacional. Além disso, a questão do estatuto da Palestina enquanto Estado independente, nunca se colocou com tanta força como agora. 

Não sei, evidentemente, o que o futuro trará, mas creio que é importante que Gaza fique como símbolo da barbárie contra um povo indefeso e que resiste desde 1948. 

Com efeito, foi vítima da histórica injustiça que lhe foi feita, quando a ONU reconheceu o Estado de Israel e deixou «no vácuo» a questão do reconhecimento dos territórios palestinanos, conforme prometido, enquanto território nacional dos palestinianos.

O 7 de Outubro de 2023 será lembrado como um gesto de libertação, de coragem dos resistentes, não apenas do Hamas, como doutras organizações da Resistência palestiniana. 

A resistência de todo um povo - os palestinianos de Gaza e dos restantes territórios - ficou demonstrada. Os habitantes de Gaza recusaram abandonar a cidade que tinha sido transformada em ruínas, assim como todas as infraestruturas e recursos (hospitais, escolas, mesquitas, igrejas cristãs, etc), intencionalmente bombardeadas e demolidas pelos  israelitas.

É terrível o peso que devem sentir muitos judeus, pelo mundo fora, perante a perpetuação de crimes em massa, que só têm paralelo no horror e desumanização que os nazis fizeram ao povo judeu, logo em 1933, mas que se foi intensificando como morticínio em massa, nos finais da IIª Guerra Mundial. 

Mas, o sofrimento da população palestiniana durante estes anos todos, desde antes da implantação do Estado de Israel, deveria ensinar a todos que não se pode aceitar um Estado étnico (um Estado que apenas reconheça como cidadãos de pleno direito os de uma dada etnia) e/ou um Estado com religião oficial (em que é crime criticar a religião e onde as leis são moldadas para se conformar com um credo religioso), nem um Estado que discrimine como não-cidadãos quem aí vive desde há séculos e séculos. Chama-se neste último caso, «apartheid», nome dado ao regime de segregação racial promovido pelos brancos na África do Sul, que só acabou na década de 1980.

Não tenho nenhuma compaixão pelos sionistas e seus comparsas: andaram a atear campanhas de ódio, de propaganda do mais vil conteúdo, para «justificar» os horrores cometidos quotidianamente, nestes dois anos de matança. Não chamo a isto «guerra», pois os alvos principais dos sionistas eram civis e os palestinianos resistentes armados, não tinham meios para contrariar, de modo eficaz, os atos do exército inimigo.

O meu horror e tristeza não ficam confinados ao regime monstruoso de Netanyahu e seus apoiantes internos e externos: 

É que nós temos vivido numa bolha de ilusões, nos regimes ocidentais, de «democracia liberal»; de que estes tinham valores e que os assumiam. Não! Apenas usaram, durante mais de um século, uma «indignação» fabricada, para lançar campanhas contra seus opositores, encobrindo os crimes deles próprios contra forças anti-coloniais, anti-capitalistas, pró-socialismo, pró-autodeterminação, que surgiram neste século e meio, em todos os continentes e nos países-sedes coloniais e imperiais. 



domingo, 5 de outubro de 2025

«CLAIR DE LUNE» DE CLAUDE DEBUSSY (+ Recordação de infância)

EVGUENY KISSIN 


                                           https://www.youtube.com/watch?v=_5h4Y66HnG0


-  NOITE CLARA DE LUAR E ESTRELAS

- VULTOS SOBRESSAÍAM SOB A ABÓBADA CELESTE.

A criança -que era eu - olhava com maravilhamento estes adultos, que evoluíam nos jardins, no ar noturno um pouco húmido. Já era Setembro e, nas montanhas ao longe, uma manta de névoa esbranquiçada recobria os cumes.

A música, essa, era um mistério, um sortilégio inexplicável, um efeito mágico de todo o ambiente que se desprendia dos jardins ornados de estátuas, mosqueadas de musgo verde escuro.

Gostava de poder regressar a estes momentos mágicos, para sempre idos. Mas, pelo menos, posso ouvir com toda a atenção esta interpretação de Evgueny Kissin, do «Clair de Lune» de Debussy. Não me recordo se o concerto de que guardo memória incluía ou não, a célebre peça de Debussy. 
O que sei é que os jardins e a atmosfera nostálgica me transportaram para um estado de sensibilidade serena. Neste estado, consegue-se usufruir dos sons, como se produzidos pelo nosso cérebro: Somos um com a música, embora saibamos perfeitamente que vem de fora de nós.

Recolho-me em Debussy, como noutros compositores, pois cada um deles tem algo único para me dar. É uma espécie de segredo que eu guardo, em relação aos compositores que mais frequento. Talvez Debussy e Rachmaninov, sejam os que melhor me projetam para a infância ideada, sonhada, talvez vivida como se fosse outra vida.

Como se pode ser feliz, na infância ! Se na minha infância o fui, devo-o aos meus pais, que me educaram o gosto musical e me proporcionaram estudar música. Não me tornei um músico profissional, nem um executante que se pudesse apresentar num recital público. 
Porém, estou convencido que apreendo as peças musicais com um grau de compreensão mais elevado, do que se nunca tivesse estudado música. A gramática e o estilo em música são como no discurso literário. A não compreensão dum texto literário, pode resultar da incapacidade em apreender a sua estrutura gramatical e o estilo do mesmo.

O intelecto e a sensibilidade são ambos de grande importância para usufruirmos plenamente da música. Também o silêncio; fazer o silêncio interior, deixando que os sons nos penetrem, se organizem na nossa mente. Só assim conseguimos captar a totalidade da beleza do que estamos a ouvir.