1-Novembro
... Quando as folhas caídas do Outono , sussurantes aos nossos passos, formam um tapete castanho-dourado, cobrindo a terra dum manto protetor das geadas invernais.
É este o mês do negrume e melancolia que me invadem, sem que eu possa evitá-lo.
Meu espírito, em consonância com o Cosmos, retira-se para dentro do seu envólucro corpóreo. O espírito também se recolhe ao abrigo da casa, perto da lareira.
Novembro chega-me com pensamentos que eu gostaria de domar, mas são eles que me invadem, me dominam e me sufocam.
Saberei algum dia fazer com os sentimentos o trabalho do alquimista? Quanto mais se possui de chumbo no cérebro, mais se desejam asas de andorinha!
Na contemplação da Natureza concentro todo o meu ser. Minhas fibras - como arcos tensos - projetam-me para fora, para a realidade do mundo.
Posso olhar, sereno, o mar revolto. Sei que é uma justa metáfora da vida: As ondas te empurram, queiras ou não, no esquife do teu ser; tens de tragar muita água salgada durante o percurso caótico; acabas por ser lançado à praia da vida, a Vida nunca antes vivida, nem sonhada.
2- Atmosfera
Choveu e o ar ficou mais leve! Mais fresco! As nuvens caprichosas desfilam sobre o telhado, a prometer mais chuva. Todas as plantas do jardim se regozijam da abundância e espairecem as folhas sob um tímido raio de sol.
Aprecio este céu mutável, ora trazendo chuva, ora apenas sua promessa não cumprida. As paisagens animam-se em dias assim; não apenas a cor do céu se veste de inúmeros tons de cinzento, também a luz, que ilumina o casario e os campos, faz sobressair as suas verdadeiras tonalidades.
Quando o sol de Verão nos ilumina com seus implacáveis raios, tudo ele desvenda, mas nos satura, também. As cores reverberam; não nos cegam, mas recortam brutalmente a paisagem, em luz e sombra. Agora, na estação das chuvas, o próprio ar vibra com as moléculas de água que se agitam, os pingos irisados que refletem e a névoa que recobre de seus farrapos montes e vales.
A superfície do solo também fica com cores mais variad2as, já não o cinzento-amarelo do pó no Verão; Agora, destacam-se as cores: Os castanhos profundos, os verdes translúcidos, os salpicos de amarelo e os reflexos multicolores das poças, refletindo o céu.
Gosto de passear com a minha cadela por bosques e campos, nestas ocasiões. Ela tem a alegria de descobrir novos odores e aromas, tão intensos para ela, como as cores o são para nós.
Nestas caminhadas não perturbamos a ordem natural, estamos inseridos nela, estamos na «catedral». Com respeito, visitamos seus inúmeros recantos. Trazemos de volta para casa uma renovada colheita de sensações, sem retirar nada, sem perturbar nada.
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