quinta-feira, 21 de setembro de 2023

O «PIX» DO BRASIL: para as pessoas se adaptarem à sociedade sem cash

Do blog de Martin Armstrong:

«Provavelmente, nunca ouviu falar no sistema Pix, a não ser que viva no Brasil. O PIX é um «ecossistema de pagamento instantâneo», lançado em Novembro de 2020, pelo Banco Central do Brasil. Ele funciona principalmente através de códigos QR, que são usados para dar acesso a pagamentos nas contas correntes digitais. A pandemia ajudou a levar as pessoas a utilizar intensamente a banca digitalizada e agora o sistema ultrapassa a utilização dos cartões de crédito e de débito.

Cerca de 30% de todas as transações em 2022 fizeram-se através do sistema PIX. Porém, somente 20% foram efetuadas com cartões de crédito e 19% com cartões de débito. Três milhares de milhões de transações são feitas através do PIX, em cada mês e este número não cessa de crescer. "A adoção do PIX na sociedade foi muito intensa", comentou Carlos Eduardo Brandt, das operações com o PIX no Banco Central do Brasil. Dois terços da população do Brasil usa agora o PIX, visto que se aclimatou à vida de todos os dias. As transações em papel-moeda (cash) diminuíram de 25% desde 2020. No entanto, os brasileiros antes preferiam o cash e os trabalhadores das áreas rurais habitualmente recebiam os salários em notas de banco.

O Fundo Monetário Internacional vê com agrado o sucesso do PIX e tem estado a estudar o caso. O FMI publicou um estudo em Julho “Pix: Brazil’s Successful Instant Payment System.” (PIX: Bem sucedido sistema de pagamento instantâneo do Brasil). "As autoridades conseguem agora monitorizar os pagamentos mensais e relacionar a atividade económica em detalhe por localização geográfica, tipos de transações, tipos de empréstimos, e mesmo por grupo etário", faz notar o referido estudo. O FMI diz que a obrigatoriedade dos grandes bancos em participar foi um fator que contribuiu para a adoção do PIX.

Cada banco central tem estado a desenvolver a sua versão de «CBDC». O objetivo dos globalistas é de combinar estas divisas digitais numa base de dados centralizada. Embora o PIX não seja uma CBDC, serviu a finalidade de aclimatar os bancos, os comerciantes e o público à ideia duma sociedade sem cash.»

Veja vídeo promocional aqui:




quarta-feira, 20 de setembro de 2023

APONTAMENTOS SOBRE ARTE POÉTICA

Existem tantas formas de escrever poesia quantas as personalidades dos / das poetas que a escrevem.

A característica que considero fundamental, numa composição poética, é sua música. Música intrínseca, ou seja, o discurso moldado para produzir determinadas sonoridades e ritmos, com suas cadências e andamentos, tonalidades e  orquestrações. No fundo, esta foi e continua a ser a matéria-prima poética, o ingrediente principal da magia que nos envolve e surpreende. 

Os atributos acima citados, aplicam-se tanto a uma composição musical, como a uma composição poética. É costume classificar-se as duas em categorias diferentes, estão arrumadas em prateleiras separadas, uma das partituras,  outra dos livros de poesia. Mas, afinal, são o mesmo, somente utilizando notações diferentes.

As pessoas estão demasiado imersas numa norma estreita, racionalizadora. Uma prova dessa estreiteza, é pretender sempre encontrar «o sentido» num poema. Uma peça musical instrumental, salvo quando classificada como «música descritiva», não suscita um tal afã nos auditores, de encontrar «sentido». 

Outra maneira das pessoas passarem ao lado da essência duma obra de arte, seja ela musical, poética ou outra, é estarem interessadas, quase exclusivamente, nas circunstâncias em que o autor escreveu o poema /partitura, que significado essa composição teve na sua vida, etc. Tudo o que é exterior à obra propriamente dita, é esmiuçado como se fosse uma prova de erudição, de bom gosto, até!  

Mas, as pessoas passam e a obra fica... Não me refiro, apenas, às que criaram a obra, mas também às outras, contemporâneas, que a aplaudiram ou ignoraram.

Por vezes, está-se perante um «nado-morto», quando a obra é medíocre. Na nossa época, existe muita arte morta, a arte dita comercial, epítome do mau gosto, que se vende bem. E não me estou a referir a determinado estilo, corrente, ou moda. Mas, no que há de mais baixo em qualquer género de música ou de literatura. 

A facilidade em escrever e em obter visibilidade (sites na Internet, por ex.) para os escritos, acrescenta uma camada suplementar de ilusão: Porém, não muda em nada a essência do que é produzido, nem a qualidade intrínseca da obra, ou seu valor artístico e literário. 

Esta multiplicação do «lixo» obriga a usar critérios muito mais exigentes. A cacofonia impede que se oiça a boa música, a boa poesia, a boa prosa. 

A verbalização imatura, despudorada, dos sentimentos é uma pornografia. Distingue-se a pornografia de arte erótica, pelo facto daquela apelar somente ao instinto sexual, sem veicular qualquer forma de beleza.

A destruição das formas de arte, muito em particular da música e da poesia, tem sido levada a cabo pela multiplicação da mediocridade. A produção industrial do que vem intitulado como «música» ou «literatura», torna mais difícil a abordagem da arte e obriga a um elitismo, mesmo quando se defende posições antielitistas, na sociedade em geral. 

Vive-se numa época em que muitos perderam as referências do passado e, portanto, deixou de haver possibilidade -para a imensa maioria - de construir um gosto pessoal, usando critérios estéticos próprios. 

Atualmente, não existe um «cânon» nas artes, «vale tudo». Não seria necessário, no entanto, (re)instituir um cânon. Supondo que tal fosse possível, nem acharia desejável. O conhecimento das diversas escolas estéticas deveria fazer parte da formação, desde a infância. A educação do público seria o meio mais importante - a meu ver - de restaurar a qualidade nos domínios artísticos; infelizmente, vai-se no sentido exatamente oposto.


terça-feira, 19 de setembro de 2023

IMPLOSÃO MONETÁRIA NO JAPÃO

Praticamente, durante mais de 30 anos, o Japão viveu no marasmo, embora também numa relativa estabilidade de preços. Como é que foi possível este estranho equilíbrio, nos três decénios de marasmo?
É preciso recuar aos anos de 1990 e ao facto do Banco Central do Japão ter inaugurado uma política que - mais tarde - seria batizada de «quantitative easing». Como se sabe, consiste na impressão monetária pelo banco central, que utiliza as notas frescamente impressas (ou seus equivalentes digitais) para comprar Bonds (obrigações) do Tesouro. Assim, financia a dívida estatal (emissões de dívida através de «bonds do Tesouro»), mas também vai aumentar a massa monetária. No caso dos EUA, este aumento fica «diluído», apesar de muitos anos de política inflacionária, porque os EUA são detentores da divisa de reserva mundial. Isso significa que existe sempre procura para os dólares emitidos nos EUA mas - em grande parte - exportados para todo o Mundo.
Quanto ao Japão, tem sido mais ou menos o contrário disso. O ex-Império do Sol Nascente é um país de gentes muito trabalhadoras, disciplinadas, muito  poupadas (exatamente como os chineses e coreanos, nestes aspetos). A taxa de poupança dos japoneses é da ordem dos 40%. Isto significa que o seu próprio povo é o financiador da economia, com a sua poupança, que investe em contas a prazo, bonds do Tesouro, bonds de empresas, ou em ações da bolsa. A somar a isto, no Ocidente, os traders têm jogado com o par Yen/ Dólar, a chamada «Japanese carry trade»: Pedindo emprestado em Yen, obtinham capital para investir em ativos financeiros. Se bem aplicados, estes iriam dar lucro. Ainda por cima, havia o lucro adicional de devolução do empréstimo numa divisa cada vez mais fraca: O Yen desvalorizou-se cerca de 13 % face ao dólar, nos meses desde Janeiro deste ano, até agora. Se alguém obteve um empréstimo em Yen em Janeiro e com ele conseguiu gerar lucro, a devolução da dívida faz-se em Yen, ou seja, numa divisa valendo menos 13%, em relação ao momento do empréstimo*. E não é tudo, pois os juros são mais baixos que noutros países industrializados. Os juros dos bonds estatais japoneses - que dão a bitola para todo o espectro de juros bancários - têm um valor artificial, próximo de zero. Isto é consequência do constante «quantitative easing», ou seja, da compra dos bonds estatais pelo Banco Central do Japão. Este, na verdade, tem sido o único comprador de dívida estatal japonesa desde há muitos anos.
O endividamento deste país é dos mais altos do Mundo, mas mantém-se graças ao referido sistema artificial de auto-compra pelo banco central; assim, conseguem manter a economia a flutuar, apesar de mais de 30 anos de depressão/recessão.
Os trabalhadores são os que sofrem mais com a erosão - ainda mais severa, recentemente - do poder de compra dos salários. São eles que suportam o peso duma economia comatosa, há muitos anos.
              Gráfico: Inflação dos alimentos no Japão de Outubro 22, a Julho 2023

Os preços, apesar da estabilidade relativa no passado, têm recentemente aumentado, porque o Japão está dependente da importação de muitas matérias-primas, desde o petróleo até aos produtos alimentares. A sua economia, frágil por definição, depende de importação destes bens essenciais. Ela precisa de produzir muito, para exportar e gerar excedentes, obtendo assim divisas estrangeiras fortes. O que tem mantido a situação ao longo de décadas, é a produção industrial e a acumulação de dólares ,em mãos privadas ou públicas (Banco Central), nomeadamente sob forma de bonds do tesouro americano. Talvez o montante global de «US Treasuries» na posse do Japão, hoje ultrapasse o da China. A China Popular tem levado a cabo uma política de se desfazer dos bonds americanos, com o objetivo de fazer baixar o dólar. Tudo leva a crer que ela continue a mesma política, para viabilizar uma futura «moeda dos BRICS».
Porém, os japoneses, face ao aumento generalizado dos preços de matérias-primas nos mercados mundiais, têm de se desfazer dos bonds americanos por razões totalmente diversas. A sua subsistência económica está em jogo: Não conseguem exportar bens industriais, neste contexto de recessão mundial, em quantidade suficiente para obterem os dólares necessários para pagar os bens importados.

Nesta situação, todas as saídas são más:
- Se o Japão deixar que a inflação cresça ,isso vai pressionar um aumento dos juros dos seus bonds do Tesouro. Ora, o Japão está já está demasiado sobre-endividado. Um aumento significativo dos juros dos bonds estatais equivaleria a carregar  o orçamento do Estado com o pagamento de juros mais altos. Isso implicaria um aumento de impostos... Mas, os impostos já são muito altos; logo, inibiria a atividade económica, desde a produção, ao consumo, causando menor rendimento em impostos. Um círculo vicioso!
-Porém, se o Japão continuar a travar a inflação com auto- compra dos bonds do Tesouro, como tem feito durante décadas, haverá um efeito dramático na desvalorização do Yen. Ninguém, fora do Japão, quererá ter contas em Yen, pois sofreria perdas demasiado grandes. Seria, também, o fim da «Yen carry trade».

Se a moeda dum país é desvalorizada, escapando ao controlo do governo e do banco central, isto significa que este país está no caminho da hiperinflação.
Os bonds americanos detidos pelo Japão têm sido vendidos em grandes quantidades porque a economia japonesa está num beco sem saída. Só consegue pagar as suas importações à custa das reservas estratégicas em divisas (dólares), que são normalmente armazenadas em «Treasuries». Tais vendas maciças somam-se ao processo em curso de de-dolarização: Conjugam-se com a guerra monetária levada cabo pelos BRICS, em especial pela China, a principal detentora de «US Treasuries».
Não existe qualquer interesse dos países - quer sejam ou não vassalos dos EUA- em serem detentores de dólares/treasuries como reserva. Verifica-se que, agora, um país pode abastecer-se em petróleo no mercado internacional, comprando, quer à Rússia, quer a países do Golfo, quer à Venezuela, ou a outros, simplesmente pagando o petróleo com ouro, ou com sua divisa nacional, ou com produtos que os países petrolíferos vendedores precisem, etc. Estamos perante o ponto final do império do petrodólar. Tudo isto tem acontecido e não pode ser ignorado. O dólar, enquanto moeda de reserva mundial, está realmente no fim. A hegemonia está posta em causa, por duas razões principais:
A questão da estabilidade das cotações, por um lado: sempre existiu grande especulação com a cotação das divisas dos outros países, em relação ao dólar. Devido a este facto, o comércio e investimento tornam-se mais incertos.
Por outro lado, a utilização do dólar como instrumento de guerra na política externa dos EUA, com as suas sanções, embargos, extorsões, chantagens e roubos.
-----------------------
(*) Uma visão da perda rápida do valor da divisa japonesa é-nos dada pelo gráfico da cotação do ouro em yen. Nestes últimos 5 anos, o valor de um quilo de ouro em yen duplicou: Agora é de 9.180.000 yen/kg; há 5 anos era de 4.500.000 yen/kg.

PS1: A economia do Japão, desde meados dos anos 80, revela-se como um enorme «esquema de Ponzi», que está agora a desmoronar-se. Pode ser a antevisão do que se vai passar com esquemas de Ponzi ainda mais monstruosos, que são as economias americana e da Europa. Veja o documentário seguinte, em francês:


MANOBRAS SOBRE COTAÇÃO DO OURO E CRISE DO IMOBILIÁRIO DE ESCRITÓRIOS [Pierre Jovanovic]



 A media mainstream e o lixo internet- que costumam encher os ecrãs para satisfazer a procura dum público sempre ávido de noticiário económico e financeiro- são capazes de (quase) anular estas notícias. Felizmente, existem alguns jornalistas independentes e corajosos, como Pierre Jovanovic. Ele faz revistas de imprensa totalmente esclarecedoras e baseadas sobre os dados da imprensa mainstream, em grande parte. 
- Então qual é a vantagem delas? É que com estes resumos, ficas com uma panorâmica do que se passa. Isto não está bonito de se ver, logo os jornalistas e os «analistas» vendidos ao capital, fazem constantes piruetas verbais para nos convencer de que «as coisas, afinal, não estão assim tão mal como dizem!»
 No entanto, o BCE - e muitos outros bancos centrais - vão comprando ouro às toneladas, com a maior discrição. É sinal de que sabem muito bem que a inflação vai acelerar e muito: Eles não têm outra solução, senão acelerar a impressão monetária. Caso contrário, os Estados não poderiam dar a ilusão de serem solventes! 
Muitos outros tópicos são cobertos por esta revista de imprensa de Pierre Jovanovic. Não deixe escapar esta oportunidade de se informar do que está a acontecer, realmente!

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

BARBARA STIEGLER: o neoliberalismo está na origem da deriva autoritária


Barbara STIEGLER est professeur de philosophie politique à l’université Bordeaux Montaigne. Elle est notamment l’auteur de « Il faut s’adapter. Sur un nouvel impératif politique » (Folio, 2023) et de « Démocratie ! Manifeste » (Le Bord de l'eau, 2023). Spécialiste du rapport entre la politique et la biologie, Barbara Stiegler s'est intéressée aux origines du néolibéralisme, portées notamment par une injonction à l'adaptation, issue du lexique biologique de l'évolution. Dans cet entretien par Olivier Berruyer pour Élucid, elle revient sur ce qui caractérise notre régime politique, et en tire les conséquences pour la « démocratie » : dans un monde néolibéral, le pouvoir (la souveraineté) ne peut pas appartenir au peuple. En ce sens, l'ère d'Emmanuel Macron se présente comme une forme archétypale de ce régime à bout de souffle et fortement contesté. (*)

(*) Tradução por Manuel Banet:

 Barbara STIEGLER é professora de filosofia política na Universidade de Bordéus-Montaigne. Ela é autora, nomeadamente, de «É preciso adaptar-se. Sobre um novo imperativo político» (Folio, 2023) e de «Democracia ! Manifesto » (Le Bord de l'eau, 2023). Especialista da relação entre a política e a biologia, Barbara Stiegler interessou-se pelas origens do neoliberalismo, propulsionadas nomeadamente por uma exigência de adaptação, saída do léxico biológico da evolução. Nesta entrevista com Olivier Berruyer para Élucid, ele regressa ao que caracteriza o regime político francês e extrai as consequências para a «democracia»: num mundo neoliberal, o poder (a soberania) não pertence ao povo. Neste sentido, a era de Emmanuel Macron surge como forma arquetípica do regime, sem fôlego e fortemente contestado.

domingo, 17 de setembro de 2023

JOHN HELMER: ANGLO-AMERICANOS REPETEM ERRO FATAL DE NAPOLEÃO*



Oiça o podcast (ver link em baixo) de «Gorilla Radio» (Chris Cook), com John Helmer e Dave Lindorf. 

Compreenda as analogias e diferenças: O resultado é semelhante. É essencialmente o mesmo erro estratégico, apesar das diferenças de pormenor.

 https://gorilla-radio.com/2023/09/14/gorilla-radio-with-chris-cook-john-helmer-dave-lindorff-september-13-2023/

John Helmer é o mais antigo correspondente ocidental em Moscovo. Ele é o autor do blog «Dances With Bears»


(*) Comentário de Manuel Banet:

 Alguns leitores poderão achar insólito o título, pois pensam que quando os autores se referem ao erro fatal de Napoleão, estão a evocar a invasão pelas tropas imperiais francesas, da Rússia em 1812. Sem dúvida, que esse foi um grande erro, mas «motivado» pelo fracasso do (grande) erro anterior, a saber, «o sistema continental». Tratava-se de um bloqueio ao comércio britânico que tinha de ser cumprido por todos os aliados e «neutros», obrigados a rejeitar a entrada nos portos dos navios de comércio britânicos, inviabilizando toda a espécie de comércio de bens manufaturados e matérias-primas, muitas vindas do ultramar (Ásia, América, África...). Este «diktat» de Napoleão sobre todas as potências europeias continentais, cedo se tornou um fracasso. O comércio continuou sob forma ilegal, com explosão do contrabando, especialmente, nas zonas costeiras mais propícias. Os russos, apesar de batidos repetidas vezes pelos exércitos imperiais e assinarem a «paz de Tilsit», na qual o Czar Alexandre I aceitava o «sistema continental», a verdade é que o volume de contrabando de mercadorias inglesas era imenso. Napoleão, vendo que tinha decretado algo impossível de fazer cumprir, tomou este «desrespeito» do bloqueio das mercadorias inglesas, como pretexto para a invasão da Rússia. 

A analogia com os dias de hoje é que os anglo-americanos queriam forçar um banimento de toda a frota comercial russa, assim como um severo controlo e limitação nos preços do petróleo russo exportado, mas não conseguiram nada disso. Logo que as sanções foram decretadas, os russos desenvolveram novas rotas, por vias marítimas seguras, bordejando o mar Ártico, a Coreia do Norte e a China, de forma a escoarem e receberem toda a espécie de mercadorias, incluído as suas exportações de petróleo. De tal maneira a situação se tornou favorável, que os preços do petróleo têm subido muito acima do «teto» imposto pelas potências da OTAN, aos países amigos ou inimigos. Quem tem beneficiado muito são vários potentados petrolíferos do Golfo, os quais compram discretamente petróleo russo, com desconto, para o venderem depois, como se fosse deles e realizando um confortável lucro. Também a Índia tem beneficiado dos descontos, que lhe permitem sustentar a sua economia, tal como muitos outros países em desenvolvimento.

No caso presente, não existe uma guerra naval (ainda), nem houve um «Trafalgar», a vitória naval britânica que destruiu para sempre as ambições de domínio francês nos mares. Porém, os anglo-americanos falharam redondamente nas sanções e bloqueios que queriam impor, não só aos russos, como a quaisquer países que desejassem comerciar com eles. Dois anos depois, os resultados estão à vista: foi um imenso fiasco, que só desorganizou e debilitou os países da OTAN, subjugando inteiramente a UE à vontade imperialista americana.


sábado, 16 de setembro de 2023

CÉUS DE OUTONO [OBRAS DE MANUEL BANET]

 


Quando o frio e as primeiras chuvas

Esvaziam os locais de veraneio

Quando os matizes de cinzento 

Se desfraldam nos céus

É nessa ocasião que passeio

A minha melancolia

Contando as gaivotas

Que na praia se aquecem





Os céus sempre mutáveis

Exibem o portentoso fresco

Que nenhuma mão humana

Pode representar com pincéis

E cores numa imensa tela





Quando o Sol se põe

Iluminam-se breves os flocos

D' algodão das nuvens,

Espetáculo grandiloquente

Onde os azuis e os roxos,

Os rosa e os laranja 

Se casam em apoteose

Serena e lânguida 





Em breve, o pano de veludo 

polvilhado de luzes

 Recobre o oceano e as falésias

Cenário dum novo drama

E a noite entra em cena