Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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domingo, 17 de setembro de 2023

JOHN HELMER: ANGLO-AMERICANOS REPETEM ERRO FATAL DE NAPOLEÃO*



Oiça o podcast (ver link em baixo) de «Gorilla Radio» (Chris Cook), com John Helmer e Dave Lindorf. 

Compreenda as analogias e diferenças: O resultado é semelhante. É essencialmente o mesmo erro estratégico, apesar das diferenças de pormenor.

 https://gorilla-radio.com/2023/09/14/gorilla-radio-with-chris-cook-john-helmer-dave-lindorff-september-13-2023/

John Helmer é o mais antigo correspondente ocidental em Moscovo. Ele é o autor do blog «Dances With Bears»


(*) Comentário de Manuel Banet:

 Alguns leitores poderão achar insólito o título, pois pensam que quando os autores se referem ao erro fatal de Napoleão, estão a evocar a invasão pelas tropas imperiais francesas, da Rússia em 1812. Sem dúvida, que esse foi um grande erro, mas «motivado» pelo fracasso do (grande) erro anterior, a saber, «o sistema continental». Tratava-se de um bloqueio ao comércio britânico que tinha de ser cumprido por todos os aliados e «neutros», obrigados a rejeitar a entrada nos portos dos navios de comércio britânicos, inviabilizando toda a espécie de comércio de bens manufaturados e matérias-primas, muitas vindas do ultramar (Ásia, América, África...). Este «diktat» de Napoleão sobre todas as potências europeias continentais, cedo se tornou um fracasso. O comércio continuou sob forma ilegal, com explosão do contrabando, especialmente, nas zonas costeiras mais propícias. Os russos, apesar de batidos repetidas vezes pelos exércitos imperiais e assinarem a «paz de Tilsit», na qual o Czar Alexandre I aceitava o «sistema continental», a verdade é que o volume de contrabando de mercadorias inglesas era imenso. Napoleão, vendo que tinha decretado algo impossível de fazer cumprir, tomou este «desrespeito» do bloqueio das mercadorias inglesas, como pretexto para a invasão da Rússia. 

A analogia com os dias de hoje é que os anglo-americanos queriam forçar um banimento de toda a frota comercial russa, assim como um severo controlo e limitação nos preços do petróleo russo exportado, mas não conseguiram nada disso. Logo que as sanções foram decretadas, os russos desenvolveram novas rotas, por vias marítimas seguras, bordejando o mar Ártico, a Coreia do Norte e a China, de forma a escoarem e receberem toda a espécie de mercadorias, incluído as suas exportações de petróleo. De tal maneira a situação se tornou favorável, que os preços do petróleo têm subido muito acima do «teto» imposto pelas potências da OTAN, aos países amigos ou inimigos. Quem tem beneficiado muito são vários potentados petrolíferos do Golfo, os quais compram discretamente petróleo russo, com desconto, para o venderem depois, como se fosse deles e realizando um confortável lucro. Também a Índia tem beneficiado dos descontos, que lhe permitem sustentar a sua economia, tal como muitos outros países em desenvolvimento.

No caso presente, não existe uma guerra naval (ainda), nem houve um «Trafalgar», a vitória naval britânica que destruiu para sempre as ambições de domínio francês nos mares. Porém, os anglo-americanos falharam redondamente nas sanções e bloqueios que queriam impor, não só aos russos, como a quaisquer países que desejassem comerciar com eles. Dois anos depois, os resultados estão à vista: foi um imenso fiasco, que só desorganizou e debilitou os países da OTAN, subjugando inteiramente a UE à vontade imperialista americana.


terça-feira, 2 de maio de 2023

FRANCISCO GOYA «DOIS DE MAIO DE 1808»

 


INSURREIÇÃO EM MADRID CONTRA EXÉRCITO DE NAPOLEÃO

Goya realizou esta tela apenas em 1814 e não estava presente aquando dos acontecimentos de Madrid, de 2 e 3 de Maio de 1808. 
No entanto, a energia e veracidade da cena dão a impressão que o artista a presenciou. 
Goya (1746-1828) era um liberal. Não aceitava o poder absoluto, fosse ele dos Bourbon ou de Napoleão. As suas séries de gravuras «Os desastres da Guerra» mostram a brutalidade e crueldade de parte a parte, das tropas de ocupação e dos insurretos.
Os mamelucos formavam um pequeno contingente (uma ou duas companhias) da Guarda Imperial a cavalo, que Bonaparte tinha trazido para França quando deixou o Egipto. Eram sírios de religião cristã copta, pessoalmente ligados ao Imperador. 
Os insurretos deviam temê-los e detestá-los ainda mais que aos outros corpos do exército que ocupava Madrid.
O espaço é quase fechado, apenas se vê uma nesga de céu, o que corresponde às ruas estreitas do centro de Madrid. Porém, esta sensação de espaço fechado dá uma intensidade particular à cena. Note-se que os corpos dos humanos e cavalos ocupam praticamente a totalidade da tela.
Percebe-se a violência do combate de rua, com os guardas a cavalo, por um lado, armados com sabres e montando potentes cavalos e os populares, por outro. Estes, estavam apenas armados com uma espingarda ou facas, ou até de mãos nuas, para travar e derrubar os mamelucos.
 
Mameluco da Guarda Imperial 
em combate singular com dragão russo. 
A cor laranja avermelhada («garance») das calças do mameluco central que está a ser derrubado, corresponde à do uniforme em uso. No entanto, tem o efeito de focalizar a nossa atenção neste personagem. 
Por contraste, é em tons sombrios a roupa do popular erguendo o punhal que irá golpear o mameluco. É como se a mancha vermelha no quadro estivesse a anunciar o rio de sangue  jorrando dos guardas derrubados.
Emana deste quadro uma energia de tragédia: Tanto nos que assaltam a escolta, como nos guardas montados encurralados. Ambos estão a lutar pelas suas vidas, com desespero. 
Este quadro é um exemplo precoce de romantismo pictórico. Provavelmente, inspirou pintores mais tardios, como Eugène Delacroix (1798 - 1863) e outros, que compuseram quadros de batalhas com guerreiros orientais.

NB: Esta obra «reside» no museu do Prado. De momento, está a visitar-nos no Centro cultural de Cascais, com outros quadros e gravuras de Francisco Goya.

domingo, 10 de julho de 2022

[MOON OF ALAMBAMA] AS ILUSÕES DO OCIDENTE EM RELAÇÃO À UCRÂNIA*

[ *Título Original: 'Drinking The Kool-Aid' On The War In Ukraine

https://www.moonofalabama.org/2022/07/drinking-the-kool-aid-on-the-war-in-ukraine.html#more ]

O autor do blog Moon Of Alambama argumenta contra um analista, Pat Lang , que diz:

«Nunca deixo o patriotismo ou outro sentimento obscurecer a minha análise. A Rússia passou o seu ponto de culminação da sua ofensiva e está sujeita a uma súbita inversão da fortuna.

O ponto culminante é um termo de estratégia militar no livro  "Sobre a Guerra" por Carl von Clausewitz. Nascido em 1780, Clausewitz serviu no exército prussiano. Posteriormente, juntou-se ao exército russo imperial, na guerra contra Napoleão, antes de regressar como Chefe-de-estado-maior da Prússia. Mesmo hoje, «Sobre a Guerra» continua a ser de leitura obrigatória, em muitas academias militares.



[...]

À medida que a batalha ou ofensiva se desenvolvem, a relação de forças (respetivamente, do atacante e do atacado) inicial de 3 para 1, vai encolher primeiro até 2 para 1, depois até 1 para 1, ou mesmo menos. Chega-se a um ponto em que o atacante tem só o mínimo de forças capazes de manter o outro lado em situação defensiva. Para além disto, ultrapassa-se o ponto culminante do ataque. Se a batalha ou a guerra não terminarem antes que tenha sido alcançado esse ponto, é verosímil que se dê a derrota do atacante.

Pat Lang advoga que a Rússia teria alcançado esse ponto culminante e portanto teria ficado com suas forças exaustas e já não possuía as vantagens da ofensiva, pelo que estaria a ponto de ver sua fortuna reverter. Mas, isto presume que estejamos a ver uma guerra típica, como aquelas em que Clausewitz participou, ou como as marchas de Napoleão ou de Hitler em direção a Moscovo, a primeira das quais, representada por  Charles Minard (abaixo),  estava certamente no pensamento de Clausewitz.


                    
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A Grande Armée de Napoleão realmente sofreu uma atrição de 450000, até 10000 homens, o que obviamente excedeu o ponto culminante.

Mas a guerra na Ucrânia é uma «operação militar especial» e muito atípica, por variadas razões. 


[artigo completo e integral no link seguinte:]

https://www.moonofalabama.org/2022/07/drinking-the-kool-aid-on-the-war-in-ukraine.html#more