Mostrar mensagens com a etiqueta filosofia política. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta filosofia política. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Os bem-pensantes e o totalitarismo da nova normalidade

 


O Autor deste audio percorre o tema da «servidão voluntária», em especial, nas chamadas «democracias».  Aborda o tema, através da descrição do modo de pensar dos bem-pensantes: Os bem-pensantes são os que se inserem dentro da multidão, alinham-se em função da moral dominante. Os que se alinham dentro do rebanho consideram que «pensam bem» e que estão «no campo do moral».

O totalitarismo desta sociedade manifesta-se na ditadura do «wokismo», as políticas identitárias, a «cancel culture», etc. O wokismo é a forma atual de negação violenta da liberdade de expressão. 


Relacionado:

O NOVO TOTALITARISMO

WOKISMO - ALGUMAS REFLEXÕES

Etienne de La Boétie e o «Discurso da Servidão Voluntária»


domingo, 3 de dezembro de 2023

SE ESTAMOS A VIVER NUMA ÉPOCA EXCECIONAL...

 Se estamos a viver numa época excecional, então devemos cuidadosamente rever todos os conceitos aos quais estávamos mais ligados. Devemos analisá-los criticamente, à luz das realidades emergentes e ver quais os que podem ser resgatados, quais devem ser reformulados e quais os que devem ser «deitados para o caixote de lixo».

Quando reflito sobre isto, a minha mente é imediatamente atraída pela palavra «contenção». Com efeito, as circunstâncias gerais, em cada sociedade e cada vida privada, tornaram-se de tal maneira voláteis, que nós devemos nos interrogar sobre a nossa «grelha de leitura» da realidade. 

Com efeito, os parâmetros que considerámos para avaliar a realidade  social, aqueles sobre os quais nos baseámos no passado, até mesmo no passado mais recente, ou se tornaram obviamente caducos, ou têm de ser reformulados, no todo ou em parte. 

As pessoas que não façam esse exercício, irão sofrer, nas condições de instabilidade e perturbação profunda que agora se estão a revelar. Elas irão  ser arrastadas/induzidas a tomar posições sobre as quais não tinham refletido previamente. 

Assim, em todos os aspetos da vida,  deve-se ser particularmente cuidadoso, não tomar os desejos pela realidade, não pronunciar juízos definitivos, sobre aquilo que parece ser, no momento. 

Dito isto, é verdade que as escolhas que fizermos poderão ser decisivas para nós, pessoalmente e socialmente. O que vi acontecer com muitos, é que tentam «encaixar» as inéditas situações, no molde envelhecido das suas ideologias. Seria este um caso para evocar a parábola bíblica do «vinho novo, em odres velhos».

As novas situações não têm «resposta» em escritos de filósofos, políticos ou economistas, que pensaram e escreveram em contextos totalmente diversos da atualidade. A única coisa de que podemos ter a certeza, é que não existem, em sociologia, economia, ou história, teorias preditivas verdadeiras, genuínas. As que são formuladas, correspondem apenas à visão do Mundo e ao desejo dos seus autores. Ora, esta visão do Mundo, mesmo que fosse muito adequada quando a escreveram, não poderia ter em conta toda a panóplia de descobertas e de ideias que se desenvolveram, entretanto. 

Num período de crise, como dizia corretamente Lenine, há semanas que são tão densas em acontecimentos, que parece que passaram anos. Esses acontecimentos são imprevisíveis no seu desenrolar. Mesmo que sejam previsíveis no seu desencadear. Por exemplo: uma guerra, pode ser previsível, ao se analisar as posições e movimentos das diversas potências. Mas, ninguém pode prever que uma tal guerra futura se desenrole desta ou daquela maneira. Que dure apenas uma semana, ou dez anos. Que dê a vitória inequívoca a um dos lados, ou que se arraste e esgote o lado mais forte. Que o lado mais forte inicialmente, mesmo que vença militarmente, acabe por experimentar o princípio da sua derrocada.

As situações de imprevisibilidade nos mercados são ainda mais patentes. Os que «pilotam» os bancos centrais, munidos de poderosos instrumentos para agir sobre mercados financeiros e a economia geral, não têm o poder que se lhes empresta. São o aprendiz do conto do «Aprendiz -feiticeiro». As economias vivem sujeitas ao caos completo, onde sábias e prudentes decisões são impossíveis de tomar. Os dirigentes efetuam meros «passes de mágica», de tal modo que o vulgo acredita que eles detêm enorme poder. 

A atitude mais inteligente - neste contexto- é de garantir aquilo que nós, pessoalmente, a nossa família, a nossa comunidade, possuímos enquanto meios de preservar a vida. Manter e aumentar a nossa capacidade de aguentar nos tempos mais difíceis das nossas vidas, deveria ser a preocupação primeira.  As «sereias» que apelam para investimentos sumptuários, especulativos, que causam um desequilíbrio, ou que diminuem os ganhos e as hipóteses de ganho, são de rejeitar. Por contraste, as iniciativas para preservação do adquirido e para o aumento da nossa autonomia (exemplos: produção própria de alimentos, geração de energia, etc.) tornam-se vitais, neste contexto. Também importa uma atitude mais racional com a saúde: a boa condição física é ainda mais importante, nas circunstâncias em que colapsam as estruturas e os meios de saúde.

A nossa energia deve estar centrada nos pontos acima, sendo também muito importante não olharmos de forma acrítica para as informações que nos chegam aos ouvidos ou aos olhos. Neste contexto, a informação da mídia é mais enviesada do que nas situações anteriores. Estamos perante ondas sucessivas de condicionamento de massas, primeiro com a histeria do «COVID», depois com a violação sistemática da nossa integridade, a imposição de «vacina», a perseguição da dissidência e a instalação duma censura férrea, além de uma vigilância total. Esta fase antecedeu e preparou as pessoas para aceitarem - perante as guerras da Ucrânia e de Gaza - no meio de campanhas de histeria sucessivas, a transformação do enquadramento legal.  A «legalidade democrática» foi varrida de uma penada, para se reprimir "legalmente"  dissidências e glorificar o bárbaro esmagamento de populações civis, incluindo a ressurreição do conceito, medievo e nazi, de  «culpa coletiva».

Com o medo instilado, pretende-se que as pessoas deixem de pensar, apenas reagindo, apenas seguindo os instintos de gregarismo e de xenofobia. Muitas, adotaram um comportamento de simulação, ou ocultaram a sua posição verdadeira, por medo de serem excluídas, de serem apontadas a dedo. 

O cenário está completamente montado e, aliás, a peça de teatro já começou a desenrolar-se diante dos nossos olhos. Mas, como não compreendemos o enredo desta peça, nem queremos fazer um esforço para o compreender, somos incapazes de protagonismo, de sermos proactivos. 

Se algo de verdadeiro existe nas palavras acima, creio que devemos refletir como agir para modificar este estado de coisas. Para agir maduramente, não devemos ocultar a realidade a nós próprios, nem cair na armadilha da propaganda, de uns ou de outros. Precisamos ser capazes de nos distanciar sem trair as nossas convicções. Não devemos tomar a nossa ilusão, o nosso desejo, pela realidade. Sobretudo, devemos guardar abertura a cada momento; não desenvolver sentimentos de ódio, em relação aos que estejam no polo diametralmente oposto. Sermos adultos, propriamente, quer dizer que somos capazes de analisar e não descartar outros pontos de vista, que nos pareçam - à primeira vista - errados, ou equivocados; por vezes, nós é que estávamos equivocados e os outros  tinham - afinal - razão. 

De nenhum modo, uma atitude sectária se justifica, neste contexto: A atitude inteligente é realizar alianças, o mais amplas possíveis, aos vários níveis. 



segunda-feira, 18 de setembro de 2023

BARBARA STIEGLER: o neoliberalismo está na origem da deriva autoritária


Barbara STIEGLER est professeur de philosophie politique à l’université Bordeaux Montaigne. Elle est notamment l’auteur de « Il faut s’adapter. Sur un nouvel impératif politique » (Folio, 2023) et de « Démocratie ! Manifeste » (Le Bord de l'eau, 2023). Spécialiste du rapport entre la politique et la biologie, Barbara Stiegler s'est intéressée aux origines du néolibéralisme, portées notamment par une injonction à l'adaptation, issue du lexique biologique de l'évolution. Dans cet entretien par Olivier Berruyer pour Élucid, elle revient sur ce qui caractérise notre régime politique, et en tire les conséquences pour la « démocratie » : dans un monde néolibéral, le pouvoir (la souveraineté) ne peut pas appartenir au peuple. En ce sens, l'ère d'Emmanuel Macron se présente comme une forme archétypale de ce régime à bout de souffle et fortement contesté. (*)

(*) Tradução por Manuel Banet:

 Barbara STIEGLER é professora de filosofia política na Universidade de Bordéus-Montaigne. Ela é autora, nomeadamente, de «É preciso adaptar-se. Sobre um novo imperativo político» (Folio, 2023) e de «Democracia ! Manifesto » (Le Bord de l'eau, 2023). Especialista da relação entre a política e a biologia, Barbara Stiegler interessou-se pelas origens do neoliberalismo, propulsionadas nomeadamente por uma exigência de adaptação, saída do léxico biológico da evolução. Nesta entrevista com Olivier Berruyer para Élucid, ele regressa ao que caracteriza o regime político francês e extrai as consequências para a «democracia»: num mundo neoliberal, o poder (a soberania) não pertence ao povo. Neste sentido, a era de Emmanuel Macron surge como forma arquetípica do regime, sem fôlego e fortemente contestado.

domingo, 5 de março de 2023

A SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Serão precisos muitos mortos e feridos numa guerra, para a cidadania europeia acordar e exigir Paz aos seus dirigentes? Creio que sim, creio que - infelizmente - as pessoas ficaram dessensibilizadas da guerra por múltiplas técnicas de supressão dos sentimentos (pelo medo e pelo horror), suprimiram a solidariedade humana, que uma guerra deveria suscitar.




Da parte dos poderes, da OTAN e dos seus chefes, dos parlamentares, dos primeiros ministros europeus, dos seus governos, em relação à Ucrânia, assistimos a mais de oito anos de manipulação dos sentimentos, de mentira institucionalizada e o militarismo descarado, que vai até à recusa de negociar. Assistimos a tudo isso - nós - da cidadania europeia. Mas, a cidadania manteve-se numa letargia inquietante da qual está, apenas agora, a despertar.
Não sei sobre o assunto, senão consultando fontes diversas, não apenas da media «mainstream», como também opiniões críticas, de pessoas que têm um conhecimento aprofundado e - nalguns casos - direto do que se está a passar nesta guerra do «Ocidente» contra a Rússia, em solo ucraniano e usando o povo ucraniano como «carne para canhão».
A eficácia da neutralização dos sentimentos pelo aparelho ideológico - da media e governos fusionados- experimentou-se durante a crise do SARS-Cov-2. Esta pseudo- pandemia continua a fazer vítimas. As das injeções de «vacina», que apenas serviram para aumentar os lucros da Pfizer e doutros gigantes da indústria farmacêutica. Mas, também são vítimas, as corajosas pessoas que se ergueram contra a monstruosidade e perderam o emprego, não receberam indemnização nenhuma, nem será feita justiça, pelo andar das coisas.
Juntaram as duas coisas: A psicose coletiva do COVID e a crença na propaganda de guerra do Ocidente sobre as sua própria população. Estes mecanismos implicaram a supressão ou inversão dos sentimentos das pessoas «normais» que receberam constantes mensagens de propaganda, como avisos assustadores, falsas informações, descrevendo o inimigo como inumano, tranquilizando a má consciência que grande parte poderia ter, através de respostas ilusórias, tais como:
«O vírus é muito mau e muito mortífero, mas nós sabemos resolver o assunto, que se resume a que te submetas e te vacines, não prestando atenção a avisos vindos de pessoas maldosas, pois a única cura é uma vacinação maciça de todos, incluindo idosos, grávidas e crianças...»
ou
«O Putin é o novo Hitler, a Rússia é o reino do Mal, mas nós vamos apoiar sem desfalecer, de todos os modos, a valente e democrática Ucrânia. Não há dúvida que os maus dos russos vão sofrer uma derrota, face às sanções impostas pelo Ocidente e ao seu apoio em armamento, peritos, mercenários, biliões e mais biliões de dólares».
Note-se que, até pouco tempo antes da invasão russa, o perigo de milícias ucranianas de extrema-direita, integradas nas forças armadas desse país, foi assinalado pela própria media mainstream. Depois, esses elementos de extrema direita desapareceram do «écran mediático» e passaram a ser «heróis». Estas mentiras cosidas com um fio bem visível não apoquentam as pessoas, mesmo depois delas perceberem que, afinal, foram enganadas. Isto só é possível com a ilusão continuada de que as «democracias» ocidentais têm eleições ditas «livres».
Os partidos autorizados pertencem ao espectro de «admissibilidade» dos donos do sistema. De qualquer maneira, só têm hipótese de vencer, quando forem partidos bem financiados, o que implica grandes donativos de grandes multimilionários e das suas empresas. Na comunicação social, a janela de Overton ainda é mais estreita, com seus «fazedores de opinião» nos diversos canais televisivos. Partidos ou candidatos que saem fora do «script» de antemão decidido, são logo calados ou difamados. Ficarão com sua imagem associada àquilo que o eleitor típico mais detesta. Os partidos ou candidatos atacados não têm meios para desfazer as calúnias e repor a verdade. E as coisas estão feitas exatamente para funcionar deste modo.
Qualquer pessoa que use o seu cérebro, que não vá atrás de qualquer propaganda e que conheça algo da história do século vinte, não através das «histórias míticas» mas através de bons autores, que analisam em profundidade os regimes totalitários do passado, irá reconhecer que ou estamos já num totalitarismo, ou para lá caminhamos.
Os que apontam o dedo a regimes «comunistas», dizendo que esses é que são os «verdadeiros» totalitários, são pessoas imbuídas da ideologia neoliberal, ou seus propagadores. Com efeito, é um facto que vários regimes, ditos «comunistas», são capitalismos de Estado com pouca preocupação pela liberdade dos cidadãos.
Mas no «Ocidente» estamos em capitalismo de grandes monopólios (multinacionais), que capturaram o Estado; são outra modalidade de capitalismo de Estado. Os cidadãos não são ouvidos ou respeitados: São antes enganados, manipulados, nutridos de falsidades, de propaganda, como «manada de gado» para fazer exatamente o que a oligarquia quer. Não há qualquer respeito pelos indivíduos, pelos seus direitos cívicos e humanos.
Em que é que uns e outros diferem? No modo como agem e se posicionam, mas ambos os sistemas estão basicamente a fazer a mesma coisa, ou seja,  manterem-se no poder, alargando o controlo a todas as esferas; suprimindo a verdadeira concorrência, tanto no plano económico (com as "rendas de monopólio", presentes em ambos os sistemas), como no plano político, anulando os direitos individuais, coletivos e sociais (suprimem-nos na prática, embora os mantenham nas suas constituições).
Só com imenso trabalho de educação (auto- educação) e de abertura crítica, podemos sair da redoma mental (a Matrix verdadeira) que nos encerra a todos, com o resultado de ficarmos impotentes: Não sabendo «ler» a realidade, não são somente os bons sentimentos que nos permitem combater esta situação. É também necessária uma inteligência de como funcionam os sistemas, para se conseguir mudar algo.
Isso não é dado pela educação formal. Nem vale a pena explicar porquê: Se houvesse uma aprendizagem de pensamento crítico, a cidadania despertaria e nunca permitiria que a acorrentassem, como o têm feito as «elites» políticas e económicas deste mundo.


domingo, 29 de agosto de 2021

RESILIÊNCIA E AUTONOMIA

 [Ensaio, por Manuel Banet]

 

Tenho escrito frequentemente sobre estes tópicos, ao longo de 5 anos de existência do blog. Estes conceitos têm sido abordados por mim, de várias maneiras e sob vários ângulos. Tem havido, da minha parte, uma reflexão constante, ela própria alimentada por leituras muito diversas, que me têm ajudado a ver os problemas com maior lucidez e espírito prático.
Neste escrito, gostaria de fazer uma síntese das minhas descobertas e reflexões, com o objetivo prático da construção da autonomia e resiliência pessoais e coletivas, ou seja, de resistir à onda de totalitarismo que o mundo tem vindo a sofrer, nestes tempos conturbados.
Os dois conceitos, autonomia e resiliência, estão relacionados, mas não são inteiramente sobreponíveis.

Entendo por autonomia, a capacidade de gerarmos os meios de vida indispensáveis, sem ter de recorrer a fonte exterior à nossa comunidade, ou podendo estar dependentes de fontes externas para certos produtos e matérias-primas, mas onde nenhuma destas fontes detenha um poder avassalador sobre a nossa vida. Implica mantermos uma real possibilidade de substituir a importação por produção autóctone.
Ao nível individual, a autonomia implica não estarmos na dependência de outrem para conduzir a nossa vida, embora tenhamos ricas e diversificadas relações com os outros. Uma interdependência social equilibrada e diversificada é condição de autonomia, ao nível do indivíduo, na sociedade.

Quanto à resiliência, esta traduz-se pela capacidade de autorregeneração, perante uma séria perturbação da nossa capacidade de viver, de desempenharmos as tarefas habituais das nossas vidas.
Em geral, esta capacidade de resiliência é tanto maior, quanto os sistemas tenham múltiplas iterações dos mecanismos vitais: Quando um dado controlo, uma dada regulação do sistema vital falha, intervém outra forma de controlar, de regular este mesmo sistema. Isto passa-se ao nível dos organismos, da fisiologia dos seres vivos. Também ocorre nos ecossistemas, embora seja menos frequente o uso do termo de resiliência, nestes. Mais frequentemente, fala-se de adaptabilidade, de flexibilidade...
Ao nível das sociedades humanas, a resiliência pode ser observada, também. Embora, tal como para os ecossistemas, seja menos frequente a utilização do termo. Por exemplo, quando sociedades afetadas por guerras ou catástrofes naturais, «renascem das suas cinzas», com grande vigor, diz-se que são resilientes. Estas sociedades, embora estabeleçam laços amistosos e comerciais com várias potências, elas têm a sabedoria de não se deixar transformar em neocolónia de nenhuma delas.
Quanto à resiliência ao nível individual, o termo tem sido mais aplicado quando alguém é vítima dum grave trauma, de ordem física e/ou psíquica, que supera, vencendo assim circunstâncias que poderiam implicar a morte ou, pelo menos, uma vida muito diminuída. Exemplos: os atletas para-olímpicos; pessoas que sofreram maus tratos na infância e conseguem superar estes traumas; pessoas sobreviventes duma catástrofe, ou duma guerra e que conseguem superar os traumas. Mas, podemos alargar o conceito, não envolvendo necessariamente trauma físico ou psíquico. Ele pode ser de ordem económica ou social. Note-se, porém, que um forte ataque à capacidade de subsistência do indivíduo é, quase sempre acompanhado, por perturbações físicas e psíquicas, por vezes severas.

A crise que vivemos hoje é uma crise sistémica, portanto é tanto económica, como social ou moral. Todos os níveis operam e interagem uns sobre os outros. A gravidade deste momento não pode ser exagerada, ela tem sido devastadora para as sociedades, para as comunidades e para os indivíduos. Não é meu objetivo, neste escrito, detalhar como se chegou a este ponto. Eu, aliás, abordei esta questão em muitos outros escritos. Aqui, pretendo essencialmente chamar a atenção para as alternativas, de autonomia e resiliência, nos indivíduos e nos coletivos.
A nossa visão do sistema económico-político-social, não pode ser redutora, não pode simplesmente «ignorar» um fator, seja ele qual for. A ignorância pode falsear a nossa avaliação, no momento mais crítico.
Para concretizar o que quero dizer, imaginemos a analogia com a condução automóvel: O condutor de um automóvel, recebe a informação visual «pelo canto do olho», de que alguma coisa se está a mover. Ora, esta coisa pode ser algo inócuo, por exemplo, um pedaço de papel ou de plástico que se move pelo efeito do vento, mas pode ser algo muito perigoso também; imagine-se outro veículo, que se aproxima a grande velocidade. Porém, visualmente, no instante em que o condutor se apercebe desse objeto, representa algo muito minoritário, no campo de visão total. Mas, o cérebro do condutor tem de focalizar a atenção, durante um momento pelo menos, na imagem desse objeto em movimento. Só uns escassos milissegundos depois, o cérebro decide «vou fazer algo em relação a isto, ou não vou». O cérebro do condutor tem de decidir se esta visão periférica pode ser, ou não ser, um perigo. Há um mecanismo automático de análise do objeto e da própria situação, tudo a um nível subconsciente.
A resposta que adotamos, é resultante de várias componentes. Eu penso que podemos agrupar essas componentes em três níveis, sem simplificar excessivamente.
1) A nossa «visão», a discriminação do que compõe a cena, em si mesma (acuidade sensorial).
2) A nossa avaliação interior da mesma, em termos de sobrevivência, a perceção do perigo (instinto).
3) A resposta elaborada, fundamentada na experiência vivida prévia, baseada no conhecimento prático e teórico de situações análogas (raciocínio).
Note-se que, mesmo quando não respondemos a um dado estímulo, quando inibimos a resposta de forma semiconsciente ou consciente, estamos a decidir não responder. Isto é, portanto, algo diferente da ignorância real do acontecimento.
É possível treinarmos capacidades envolvidas nos três níveis acima citados:
A) Acuidade sensorial: por exemplo, a capacidade de discriminação auditiva aumenta com treino de audição de música clássica e sobretudo, com a prática de música, mesmo se apenas a um nível amador. Neste exemplo, não melhoramos fisicamente o nosso sentido da audição, melhoramos a nossa capacidade em discriminar mentalmente entre os sons, com maior subtileza do que na ausência de educação. Podemos aplicar o mesmo raciocínio aos restantes sentidos…
B) O instinto não é - por definição - algo que se possa adquirir/aprender. No entanto, é possível estarmos atentos aos sinais do corpo. Estes são de transmissão automática, em si mesmas. Frequentemente, desencadeiam respostas instintivas. Estas estão a querer comunicar-nos algo de vital. Devemos escutar os nossos instintos, o que não significa segui-los cegamente, como é óbvio. Ser-se «instintivo» não é sinónimo de rude ou primário; pelo contrário, pode ser uma característica de pessoas mais sensíveis aos outros, capazes de maior empatia.
C) O raciocínio é algo que não se desenvolve meramente na esfera da lógica, da matemática. No nosso intelecto jogam muitas outras forças, que nos levam a efetuar escolhas não totalmente racionais, mas que racionalizamos. A possibilidade de melhoramentos reside na compreensão destes mecanismos do intelecto. O «mago ilusionista» distrai-nos a atenção com algo, enquanto efetua a operação oculta, o «truque mágico». Uma parte de nós próprios é como esse «mago ilusionista», quando raciocinamos. Os nossos desejos, sobretudo os não conscientes, são determinantes nas nossas escolhas, mas não nos apercebemos. Sabermos isso, infelizmente não evitará que tal continue a acontecer. Mas, permite-nos evitar os escolhos da autoilusão. É importante estarmos conscientes para a tendência, muito comum, de acreditarmos ser verdade, aquilo que nós desejamos que seja.
Consoante a maneira como vemos o mundo, assim teremos maior ou menor poder de resposta aos desafios deste mundo. Esta resposta, será mais ou menos adequada, em termos de sobrevivência. Mas, para além do nosso desempenho como observadores e da compreensão global das situações, também é importante sabermos dar a resposta adequada. Podemos compreender teoricamente uma coisa e, no entanto, a resposta não se dar, ou dar-se de forma inapropriada, ou com atraso demasiado grande para ser eficaz.

Uma vez enunciadas estas considerações gerais e apriorísticas, quero agora me debruçar sobre as duas propriedades (resiliência a autonomia) no concreto.

Começando pela autonomia:
- Como é que uma pessoa, uma família, um grupo, uma comunidade… podem conservar e aumentar seu grau de autonomia?
Penso que deve existir uma vontade consciente para isso acontecer. Os indivíduos devem estar conscientes e predispostos ao fazer determinadas escolhas. Logicamente, se alguém escolhesse por eles, estaria a contradizer o próprio princípio de autonomia. Mas, num plano menos trivial, as questões da motivação, da livre determinação, da convicção profunda que não deriva do exterior, parecem-me fundamentais. Todas as questões enunciadas na frase anterior relevam da educação, no sentido lato. A educação não é doutrinação, não é o inculcar de valores exteriores. Portanto, a autonomia é sinónimo de exercício da liberdade consciente, pelas pessoas, as famílias, as comunidades e todos os grupos, grandes ou pequenos, de seres humanos.
Esta autonomia vai de par com o debater, em coletivo, as questões que se colocam ao grupo, num modo respeitoso dos outros. Também isso se aprende. Nem sempre se vê tal comportamento. Algumas pessoas não se coíbem de manipular as restantes. Querer manipular os outros de forma disfarçada, é querer tomar o controlo, ou seja, exercer um poder sobre os outros. Isto é totalmente diferente do grupo exercer coletivamente o poder. O grupo que dá a si próprio regras de funcionamento, objetivos, um rumo estratégico, é um coletivo que atingiu a maturidade, no que respeita à autonomia, enquanto grupo. Ele saberá preservar a autonomia individual, reconhecendo e respeitando os direitos e necessidades de cada membro.
No século XIX, em particular, existiram inúmeras experiências de construção de sociedades baseadas na igualdade, na solidariedade e no respeito do indivíduo. Tais tentativas não foram em vão, embora, hoje em dia, haja tendência em apoucar esta rica experiência humana. Nós estamos numa época de involução social e não de progresso, neste domínio. De facto, temos estado a referir como surgiram as primeiras formas de socialismo efetivo, sobre a maneira como se exerceu e exerce.
O movimento cooperativo, sejam cooperativas de produção, de distribuição, agrícolas ou de produção artística, todas elas brotaram de um solo fértil em ideias e desejo de igualdade, equidade, solidariedade verdadeira. Por isso mesmo, as tendências autoritárias, difamaram tais experiências cooperativistas. A tática foi a de chamar «utópico» a este socialismo que foi, desde o início, o mais prático, o mais concreto, e cujos pioneiros eram operários. Isto é propriamente perverso. Mas as pessoas com verdadeiro desejo de autonomia têm muita vantagem em conhecer o socialismo genuinamente operário, as formas que este assumiu desde os alvores no século XIX e  sua evolução. Uma história e abordagem que os autoritários de toda a espécie preferem que seus seguidores ignorem.
É preciso ter uma perspetiva histórica. Além da compreensão aprofundada, ela também serve para mostrar que a realidade atual não pode ser pior que a dos pioneiros do século XIX, que construíram as primeiras cooperativas, os primeiros a associarem-se em sindicatos.
Estou convencido de que não há necessidade de se ir procurar uma fórmula nova, inédita, para abordar a questão de como se deve gerir, de modo democrático e igualitário, um grupo, uma cooperativa, uma associação. Não acredito que as transformações tecnológicas tenham o condão de modificar a natureza humana na sua essência. Podem, quanto muito, induzir determinados comportamentos e dificultar outros. Mas, justamente, o essencial é a escolha consciente dos indivíduos e esta escolha pode e deve ser feita em qualquer época histórica. Ela tem a ver com valores, com ética, não é tributária deste ou daquele grau de desenvolvimento das condições materiais numa dada sociedade. Isto tem de passar pela educação da autonomia. As «escolas de autonomia», de hoje como de ontem, podem tomar uma estrutura formal de sindicatos, de cooperativas ou de outras associações. Na medida em que sejam compostas por indivíduos imbuídos de um espírito de autonomia, o seu funcionamento tenderá a ser o reflexo coletivo dessa mentalidade.
A família, neste contexto, é a «cooperativa natural», por excelência. A tarefa de demolição da família, levada a cabo pelo capitalismo, desde os seus primórdios, tem muito a ver com a necessidade dele desarticular essa forma natural de resistência à normalização, à subjugação do indivíduo. O capitalismo ambiciona ver o indivíduo «livre»... de laços familiares. Mas o termo livre, aqui, não é no sentido habitual do termo, mas no sentido de «livre para ser explorado», para ser usado e abusado pelos donos do capital. A família foi, durante milénios, a «unidade económica básica», a «escola elementar de vida», para além da relação biológica.
As pessoas que não se coadunam com a mentalidade dominante, têm frequentemente dificuldades, pois muitas não possuem qualquer experiência prévia, ou demasiado escassa, de trabalho em coletivos. Um problema complexo que tais coletivos enfrentam é de conseguir abertura, sem diluição das características próprias. A abertura necessária para se crescer numericamente, pode originar a entrada de indivíduos com boa vontade, mas cuja educação está ainda longe do ideal de autonomia. O querer crescer a todo o custo, pode ter um efeito dissolvente na qualidade das relações e na autenticidade dos processos internos de um grupo. Mas, o inverso, ou seja, um funcionamento fechado, pode desencadear o aparecimento de práticas sectárias, mesmo quando a maioria não perfilha tal modo de funcionamento.
A forma de organização em rede, associando entre si estruturas, como cooperativas e outras coletividades, pode ter a sua oportunidade histórica, agora. No momento em que se dá o desmoronar da «economia de casino» e em que as pessoas irão sofrer tremendas dificuldades.
Se, nestas circunstâncias, as pessoas não aprendem ou reavivam seus conceitos de entreajuda, de autonomia e cooperação, então o seu futuro será, provavelmente, de escravatura. Penso que muitas pessoas já perceberam isto. Quanto mais se aprofundar a crise do capitalismo, mais a necessidade de autonomia se vai tornar patente. Nestas circunstâncias, a organização de estruturas do tipo cooperativo, em interação e em rede com outras, semelhantes, vai desenvolver-se. Não consigo imaginar de que modo subsistam durante muito tempo, as presentes formas predadoras de exploração dos humanos e do ambiente. Estas formas, o neoliberalismo, a financeirização da economia, levaram ao caos e à destruição humana e ambiental. Só podem desejar a continuação disso, os psicopatas do poder económico ou político.

Em relação à resiliência, no sentido individual ou social, penso que o fundamental é procurar encontrar os meios pelos quais esta resiliência se exprime e se traduz em comportamento, no momento adequado. Vejamos como:
Quando se faz uma pesquisa na Internet, deparamo-nos com artigos e vídeos em quantidade abundante, procurando «ajudar-nos» a encontrar as saídas para as situações encontradas, sobretudo que envolvem aspetos da vida afetiva, mas também do foro profissional. Não digo que estejam todos a procurar atrair o cliente, para o convencer a frequentar um «curso», disto ou daquilo. Mas, geralmente, as suas propostas e soluções são parecidas, variando apenas os ingredientes, mantendo-se o essencial, que é «Sigam o que eu digo e serão felizes». Por mais que digam, não estão a proporcionar outra coisa, senão uma dependência, uma ilusão.
Mas, uma pessoa que esteja realmente desperta, consciente da necessidade de uma autonomia e resiliente, vai procurar outro tipo de ajuda. Vai tomar consciência de que suas dificuldades, ou problemas radicam num ataque geral contra o indivíduo, pelas forças trituradoras do capitalismo. A saída para a dificuldade ou problema passa, portanto, por se associar com pessoas confiáveis, que nutram os mesmos ou semelhantes sentimentos e pontos de vista, incluindo a recusa de utilizar meios violentos. Se as pessoas começarem a dar confiança umas às outras, e nenhuma às corporações e aos Estados, em breve serão construídas redes eficazes de solidariedade e entreajuda, não hipotecadas a interesses corporativos, nem às burocracias estatais.

Tentam impor-nos agora uma ditadura mundial, servindo-se de governos nacionais e de instâncias globalistas internacionais (OMS, ONU, FMI, OMC, etc.) Se o chamado «Great Reset» for bem sucedido, isso significa que a oligarquia mundial triunfou. Ela já detém, atualmente, a maioria dos bens financeiros e uma fatia substancial dos bens tangíveis – propriedade imobiliária, industrial, terras de cultivo, etc. Eles utilizam o pânico artificialmente criado pela média, em torno de uma infeção viral, bastante inócua em si mesma, mas transformada em "grande perigo do vírus mortífero". Isto permite que o grande capital, com toda a tranquilidade, se desfaça de ativos financeiros hipervalorizados que ainda detém e os transforme em ativos «sólidos» (não-financeiros). Entretanto, as pessoas que se deixaram iludir pela «bolha de tudo» e investiram em ações ou outros papéis (capital fictício) loucamente inflacionados, ficarão sem nada. Os multimilionários já estão agora múltiplas vezes mais ricos, beneficiários da crise artificial do COVID e vão ficar ainda mais.

A melhor resposta às ofensivas do grande capital, aliado com os Estados, parece-me ser dupla:
1ª O desmascaramento das suas manobras, de um modo claro, não demagógico, de forma a convencer o maior número possível sobre a sua realidade. Podemos chamar a isto «Operação O Rei Vai Nu». Quanto mais pessoas perceberem, mais estarão do nosso lado, mais se recusarão a fazer «o frete» ao grande capital, mais espalharão o saber sobre a conjura REAL, desmascarando os que querem calar toda e qualquer resistência, com a etiqueta de «teoria da conspiração». Com efeito, para uma trapaça resultar, o trapaceiro tem de convencer suas vítimas de que está tudo bem, de que seguindo este caminho estarão em segurança, etc. Desmascarar os trapaceiros é desarmá-los, é impedi-los de continuarem o seu jogo.
2º Construirmos a nossa vida, sem recorrer a essas grandes corporações.
Por exemplo, a criação de bancos cooperativos. Eles existem em vários países. Na Alemanha, por exemplo, captam uma fração significativa das poupanças (1).
Outra vertente, é a existência de unidades, familiares ou de maior dimensão, de agricultura biológica. Desenvolveu-se um mercado que, não apenas fornece produtos de qualidade certificada aos consumidores, mas também que está fora da agroindústria. Esta, continua a utilizar produtos fitossanitários cancerígenos, adubos que desequilibram os solos e os tornam cada vez menos aptos à agricultura e recorrem às sementes de plantas geneticamente modificadas, sujeitas a patente, redutoras da biodiversidade e escravizadoras dos agricultores (2).
As alternativas não são do agrado dos gigantescos poderes tecnológicos e financeiros, mas são perfeitamente viáveis e desejáveis. São de aqui e de agora; não são utopias. Talvez, isso seja um dos fatores mais decisivos, embora subestimado por alguns.
Curiosamente, o poder oligárquico toma isso muito a sério, porque sabe o potencial perigo que representa o que seja descentralizado e não submetido aos seus monopólios. Com efeito, quando se pensa bem nisso, na agressividade das ofensivas deles, em todos os domínios, parece mais uma desesperada «fuga para a frente». Eles sabem bem que não têm nada a oferecer de positivo às pessoas. Mas, precisam dar uma ilusão de serem «ecológicos», inovadores, apoiantes de soluções «verdes», e também indispensáveis filantropos, apostados em combater epidemias e erradicar a fome…

Como construir uma estratégia coletiva resiliente?
Nas segunda metade do século XVI, um filósofo, Étienne de la Boétie, escalpelizou a relação dos súbditos com os poderosos, de modo tão rigoroso que seu folheto «De La Servitude Volontaire» continua sendo uma referência essencial em filosofia política. Ele apresenta o argumento de que a servidão dos súbditos é voluntária, no sentido em que estes não são realmente obrigados a fazer a maior parte do que fazem, a sujeitarem-se abjetamente ao poder. Mas, com isso, estão a reforçar grandemente o poder que os oprime, os esmaga e lhes extrai o rendimento do seu trabalho.
As coisas não mudaram, na essência. Nós esquecemo-nos - em inúmeras ocasiões - que, ao escolher um determinado produto e não outro, estamos a dar força a entidades que detestamos, enquanto ao não consumirmos determinado bem ou serviço, que no entanto, é feito pelos nossos aliados naturais, estamos a negar-lhes apoio (3).
Multiplicando aqueles pequenos gestos, a população dos consumidores dispõe de um poder que, muitas vezes, ignora. Acaso as grandes empresas gastariam quotidianamente milhões com a publicidade, se não fosse essencial persuadirem os consumidores?
Somos coniventes, até mesmo quando nos deixamos iludir. Tome-se como exemplo as campanhas ditas de solidariedade social, organizadas por certas ONGs, com a conivência dos Estados: As percentagens das doações para ajudar populações pobres, ou pessoas sofrendo de doença incurável, ou para apoio à alfabetização de crianças, etc., e que vão efetivamente parar às pessoas em causa, são - muitas vezes - ridículas (da ordem duns 10 ou 20 %, apenas) enquanto o restante fica para aquelas ONGs, com muita capacidade mediática, que fazem sua publicidade de forma a desencadear compaixão nas pessoas comuns.
A redução da democracia ao voto, é um dos truques mais óbvios de todos os poderes estatistas. Mas nós sabemos que «votar» não é sinónimo de «participar», por mais que eles nos queiram convencer disso. Os poderes que nos governam querem que «nos mobilizemos para votar». Votemos, pois, de todas as maneiras:
- Votemos com a carteira, comprando o máximo de coisas e serviços exteriores aos grandes circuitos, aos grandes poluidores, aos exploradores do trabalho das crianças e dos baixos salários no Terceiro Mundo.
- Votemos com os pés, desertando os grandes espaços dos hipermercados e centros comerciais, preferindo o comércio de proximidade.
- Desertemos espetáculos alienantes e uniformizadores; votemos, fazendo desporto, jogging, camping, etc., e sem usar acessórios poluentes, não-biodegradáveis, o que não diminui em nada – pelo contrário – a qualidade do exercício físico e do contacto com a natureza…
- Votemos com os neurónios, desligando-nos da TV, das redes sociais e dos jogos vídeo: Todos eles servem para nos «agarrar», como uma droga (sim, de facto, têm um efeito aditivo…).
- Votemos de corpo presente, afirmando a nossa vontade, nas ruas e nas praças, onde as pessoas se manifestam e reúnem por objetivos confluentes.
- Votemos com a nossa participação ativa em associações: de vizinhança, ambientais, políticas, ou outras, dentro das quais estejamos dispostos a colaborar.
- Sejamos resilientes, sejamos ativos/ativas, esta é a mensagem, em resumo. Quanto a votar em tal ou tal partido, em tal ou tal candidato, podes fazê-lo se achares útil, mas que isso não seja alibi para não fazeres mais nada.

 _____________________

(1) Desempenham também um importante papel, mobilizando capital para investimento, em pequenas e médias empresas, normalmente na região onde estão implantados.

(2) Portugal, com solos muito menos contaminados que os dos países do centro e norte da Europa está em boa posição para desenvolver projetos rentáveis de agricultura biológica. Uma boa oportunidade para exportação de produtos de elevada qualidade.

(3) Pequenos comerciantes e consumidores têm interesses convergentes. Uma educação para o consumo responsável, não deve ser apenas virada para critérios ecológicos, mas também para contrariar práticas monopolistas na distribuição.



 

[Gostava de receber o vosso feedback sobre o conteúdo deste ensaio. A discussão está aberta a quem quiser nela participar. Pode fazê-lo nos comentários abaixo deste artigo, qualquer que seja a sua opinião, mas de forma respeitadora dos outros, sem insultar ou menosprezar. Obrigado!]