sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

CRÓNICA (Nº11) DA III GUERRA MUNDIAL: EUROPA NA ENCRUZILHADA



 Ao Imperador do Ocidente e à sua corte americana, só lhes interessa uma Europa submissa. Têm um conjunto de vassalos, os quais têm de vigiar e manter alinhados, nessa «prisão dos povos» que se designa por OTAN. 

A perversidade da classe dirigente dos EUA pode ser ilustrada pelas medidas que tomaram para reerguer a indústria americana: Os planos implicam claramente tornar a indústria europeia não-competitiva, proibindo-a de comerciar com a Rússia, obrigando-a a fazer a (súbita) reconversão para uma economia de guerra, a suportar todo o esforço humanitário desde quase há um ano, a enorme vaga de refugiados, para os quais não há possibilidade real de integração, e cuja permanência nos países da Europa Ocidental se prevê não seja transitória, perante uma Ucrânia em ruínas, despovoada e falida. 

Para completar o quadro, os europeus estão destinados a comprar petróleo e gás ao preço de mercado, enquanto outros países, competidores industriais (China, Índia e outros participantes nas Novas Rotas da Seda) têm o fornecimento garantido pela Rússia, pelo Irão e pela Venezuela, com um grande desconto (30% abaixo do preço de mercado), da energia de que necessitam. 

A Europa vai encontrar-se, a breve trecho, sem capacidade de competição industrial: não só no que toca à energia, também na ausência de acesso a matérias-primas industriais. Além disso, cada vez mais com uma população envelhecida e onde os trabalhos mais duros mas indispensáveis, têm sido feitos graças a sucessivas ondas de trabalhadores imigrantes.  

Os países europeus ocidentais ficam destinados a serem como uma espécie de «museu vivo» com «parques temáticos» dos séculos passados. O turismo e atividades conexas serão fonte de emprego (direto ou indireto) para dois terços da população. O restante terço da população ativa, será «convidado» a emigrar ou integrará o aparato repressivo (polícia, exército, vigilância). 

Note-se que nos EUA se sabe quando o reino da abundância do petróleo/gás de xisto chega ao fim. Quando estiverem perto desse ponto, o governo dos EUA irá garantir que o consumo interno tenha a prioridade. Os europeus, que se forneçam de gás e petróleo noutro sítio! 

Provavelmente, serão fortemente pressionados a abrir poços nas regiões xistosas europeias, para daí extraírem petróleo e gás. Ou então, vão tentar funcionar à base de energias «renováveis», ou seja, intermitentes. «Fantástico», dirão os «ecologistas da treta» mas - entretanto - a Europa reverteu a um modo de vida «medievo»: Isso não prejudica o «realismo» das  «Euro- Disney» que se irão multiplicar como cogumelos. 

É tudo uma questão de opção: ou os europeus, como carneiros, vão seguir a classe política narcísica, que prefere enterrar os seus povos num futuro de subdesenvolvimento e dependência,  ou  abrem os olhos, deixam de ficar hipnotizados, cheios de medo e sacodem o jugo.

O futuro está em aberto: Se as pessoas quiserem, podem inviabilizar o cenário acima traçado. Ainda vão a tempo. Mas, têm de abandonar as ilusões da viciosa propaganda dos governos, dos partidos de poder e de toda a media corporativa, que mantêm os povos numa espécie de estado infantil.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

COMO SE FABRICAM AS PSICOSES DE MASSAS?


 Continuação, com o vídeo “Controlo mental, manipulação das massas e escravidão moderna”:
https://youtu.be/_8zrTvBN_N8




Jorge Benito analisa em profundidade a psicologia do totalitarismo. 
Escrevi textos sobre a natureza do totalitarismo e o que distingue o totalitarismo de hoje dos do século XX algo semelhante. Consultar: 

[HA-JOON-CHANG] «PORQUE ALGUNS PAÍSES SÃO RICOS E OUTROS, POBRES?»

 Why Are Some Countries Rich and Others Poor? 

Economics for People with Ha-Joon Chang


É interessante o exemplo das lãs inglesas: O facto de que a produção de lã se tornou importante tem a ver com a apropriação dos baldios pelos ricos nobres, expulsando os mais pobres camponeses para a grande cidade. Isso permitiu que os baldios tornados propriedade privada e os campos de cultivo abandonados, fossem pasto para rebanhos de ovelhas, pertencendo a ricos. O desenvolvimento da indústria dos tecidos deu-se nos Países Baixos e na Flandres, porque se deram uma série de fenómenos que favoreceram muito estes centros da indústria renascentista. Não apenas a abundância de lã vinda de Inglaterra, como a profusão de corantes (de origem vegetal, vindos das Índias e trazidas para o Norte da Europa pelos portugueses) que permitiram tingir os tecidos e criar uma indústria florescente de tecidos finos, para toda a Europa consumir.

No caso de Portugal, a indústria inglesa veio aqui buscar a lã, no séc. XIX e XX. Portugal tinha, na zona da Serra da Estrela, condições de pasto todo o ano para as ovelhas. Desenvolveram-se aí indústrias de queijaria e das lãs (Covilhã foi uma cidade industrial especializada em tecer lã e no fabrico de tecidos). No Portugal dos anos 50 e 60, muitas vezes, os fatos para homem em tecidos de lã, apareciam com etiqueta de «feito no Reino Unido», embora as lãs e o próprio corte, tivessem proveniência da Covilhã.

PS1: Michael Hudson, professor e economista, em várias obras aborda o protecionismo que permitiu os EUA e outros países desenvolverem-se, protegendo a sua indústria face à concorrência. 

ENVOLVIMENTO DIRETO DA POLÓNIA E DOUTROS PAÍSES DA OTAN

        

ENTREVISTA DE «REDACTED» A JORNALISTA INDEPENDENTE, QUE TEM ACOMPANHADO O CONFLITO NO TERRENO NA UCRÂNIA E POLÓNIA


 O secretário-geral da OTAN afirmou: «Uma derrota da Ucrânia, seria uma derrota da OTAN». 
Isso é bem claro agora, pois eles, da OTAN, estão a fazer uma intervenção direta, com tropas disfarçadas de «voluntários». Cerca de 1200 soldados polacos (pelo menos) terão morrido em combate, na Ucrânia. Isto significa que a Polónia deve ter na Ucrânia a combater, pelo menos, o equivalente a duas divisões. 

Muito do material enviado pelos Ocidentais, é demasiado sofisticado e exige uma aprendizagem de meses para poder ser usado corretamente, logo terá de ser operado por soldados da OTAN, transformados para a ocasião, em «voluntários».  Ou, não é utilizado, mas tem servido para negócios. Na entrevista, cita-se declarações do Presidente do Níger, que afirmou terem sido detetadas armas vindas da Ucrânia, dadas por países da OTAN que só podem ter chegado ao Mali e outros países de África central, através de tráfico ilegal de armas. O valor em dólares das armas que os países da OTAN enviaram para a Ucrânia, ultrapassa o valor total do orçamento militar russo. Os sistemas de vigilância e espionagem por satélite dos EUA e de outros países da OTAN, têm servido para localizar e guiar os mísseis ucranianos para alvos na Rússia.

A população ucraniana é completamente desprezada pelo seu próprio governo; aconselham-na a refugiar-se nos países limítrofes. A Polónia está a sofrer um colapso de suas estruturas de saúde e de assistência social, devido à onda de refugiados vindos da Ucrânia. Não se fala dos 1,5 milhões de refugiados, na maioria, mulheres com crianças pequenas. Na Polónia,  a realidade quer da guerra, quer dos refugiados, não é dada a conhecer realmente ao povo, por causa da censura dos media. Mesmo assim, percebe-se que a maioria dos polacos esteja contra a guerra, apesar de campanhas anti-russas, explorando sentimentos nacionalistas tacanhos.

PS1: Sobre estratégia militar ver/ouvir o Coronel US, Douglas Mc Gregor

PS2: John Helmer publica hoje um artigo no seu blog em que dá conta da opinião de Danilov, um membro da equipa governante em Kiev, que admite que se está a tentar obter um acordo para uma zona desmilitarizada, na Ucrânia. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

LOUIS FOUCHÉ sobre a «crise do COVID» e a medicina feita pelas multinacionais

LOUIS FOUCHÉ, MÉDICO ANESTESISTA, QUE FOI EXCLUÍDO DO SEU EMPREGO, NO HOSPITAL, POR NÃO ACEITAR A «VACINA», ESTÁ EM SINTONIA COM MUITOS MILHARES QUE FORAM DISCRIMINADOS POR ATITUDES SEMELHANTES. 
NA ENTREVISTA, ABRE PISTAS PARA ULTRAPASSAR OS TRAUMAS E A VITIMIZAÇÃO SOCIAL. TEM CONSTRUIDO REDES DE CUIDADOS DE SAÚDE ÀS COMUNIDADES, BASEADOS NA ENTREJUDA E NÃO NO LUCRO ... E FUNCIONA!



 

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Les Corbeaux (Arthur Rimbaud / Léo Ferré)

Van Gogh, outro artista maldito, deixou-nos este «Campo de trigo sobrevoado por corvos»

Contrariamente a certas análises do poema, tenho ideia que Arthur Rimbaud se refere a uma derrota (da Guerra Franco-Prussiana, de 1870) para, indiretamente, invocar a morte da Comuna de Paris e a destruição do movimento operário («La défaite sans avenir»).
Certos críticos fazem a amálgama da derrota dos exércitos de Napoleão III em Sedan, com a «derrota» pessoal, resultante da indiferença ou hostilidade, que o jovem Athur Rimbaud teria encontrado em Paris, para onde se dirigiu a pé desde Arras (Norte da França), para se encontrar com poetas simbolistas que ele admirava. É verdade que o jovem sofreu um fiasco: os poetas mais em voga rejeitaram suas teorias de «desregramento dos sentidos», que ele preconizava como espécie de «via sacra» para obter a matéria-prima poética que iria florescer, mais tarde. Porém, ele não foi assim tão mal acolhido; devem tê-lo considerado um «garoto» que queria mostrar-se original.

            
   Detalhe de Quadro de Henry Fantin-Latour de 1872, com Verlaine e Rimbaud

Rimbaud era um jovem vagabundo, pobre. Ele esteve em contacto com jovens de classes populares, de costumes sexuais muito mais livres do que a burguesia da qual era oriundo, envolvendo-se em relações com tais filhos do povo. Ele assumiu-se como sendo um deles. Coloca-se claramente ao lado dos communards, dos operários que tomaram as armas em rebelião contra a capitulação vergonhosa dos políticos republicanos.
Mas, em 1872, a memória da Comuna de Paris de 1871 estava bem viva e, sobretudo, da «semana sangrenta», a repressão que se abateu sobre seus defensores, em Junho de 1871, com dezenas de milhares de mortes, decapitando o movimento social e político do proletariado francês. Como poderia ele publicar um poema em memória dos communards? - Impossível!
-Então, ele jogou na ambiguidade. Ele refere-se, de forma não muito explícita, aliás, à derrota do exército francês em 1870, os mortos de anteontem, mas fica implícito para alguém que conheça o contexto da época, que a derrota de ontem, a derrota «sem futuro», foi a da Comuna de Paris.
É muito original o modo como trata o exército de corvos, aqueles que anunciam/lembram o «dever»...Não lhes atribui qualificativos que tradicionalmente se atribuem aos corvos: Aves de «mau-agoiro», aves alimentando-se dos cadáveres após as batalhas, etc. Pelo contrário, os «chers corbeaux délicieux» são pintados como um exército, que progride ao longo das estradas e dos rios, dispersando-se pelos campos de França. Eles gritam, severos, enquanto esvoaçam por cima das cabeças dos peões: «soit donc le crieur du devoir» (sê pois o arauto do dever). A «nossa fúnebre ave negra», por quem estará ela de luto, a nossa ave? Penso que será pelos humildes, que foram esmagados, quer na guerra franco-prussiana, quer na repressão da Comuna de Paris, que lhe seguiu.
Ele pede, para os que ficaram presos (pour ceux qu'au fond du bois enchaîne), depois da derrota sem futuro (La défaite sans avenir), que Deus (Seigneur, é a primeira palavra do poema, portanto, trata-se de uma oração) lhes deixe as toutinegras de Maio (les fauvettes de Mai), símbolo da esperança e renovo da vida. O sentido geral é obscurecido intencionalmente, mas é possível decifrar a intenção de Rimbaud, em homenagear os caídos da Comuna. Não se pode esquecer que este poema foi escrutinado pela censura.

Léo Ferré compõe uma canção magnífica, em correspondência com o significado subjacente do poema de Arthur Rimbaud.

                                         


SEIGNEUR, quand froide est la prairie,
Quand, dans les hameaux abattus,
Les longs angélus se sont tus ...
Sur la nature défleurie
Faites s'abattre des grands cieux
Les chers corbeaux délicieux.

Armée étrange aux cris sévères,
Les vents froids attaquent vos nids !
Vous le long des fleuves jaunis,
Sur les routes aux vieux calvaires,
Sur les fossés et, sur les trous
Dispersez-vous, ralliez-vous !

Par milliers, sur les champs de France,
Où dorment des morts d'avant-hier,
Tournoyez, n'est-ce pas l'hiver,
Pour que chaque passant repense !
Sois donc le crieur du devoir,
Ô notre funèbre oiseau noir !

Mais, saints du ciel, en haut du chêne,.
Mât perdu dans le soir charmé,
Laissez les fauvettes de mai
Pour ceux qu'au fond du bois enchaîne,
Dans l'herbe d'où l'on ne peut fuir,
La défaite sans avenir.




segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Soleils couchants (Paul Verlaine / Léo Ferré )

             
                                    Turner: Pôr-de-sol


  

Soleils couchants


Une aube affaiblie
Verse par les champs
La mélancolie
Des soleils couchants.
La mélancolie
Berce de doux chants
Mon cœur qui s’oublie
Aux soleils couchants.

Et d’étranges rêves,
Comme des soleils
Couchants sur les grèves,
Fantômes vermeils,
Défilent sans trêves,
Défilent, pareils
À de grands soleils
Couchants sur les grèves.

 Paul Verlaine, Poèmes saturniens

 

Léo Ferré chante Rimbaud et Verlaine


Este poema poderia ser considerado uma ilustração dos conselhos dados na famosa «Art Poétique»* (AP) do mesmo Paul Verlaine.

O poema «Soleils Couchants» utiliza como métrica o pentassílabo (AP: «préfère l'impair.... sans rien en lui qui pèse ou qui pose»)

Desenvolve-se na ambiguidade: A aurora que se assemelha ao pôr do sol (AP: «rien n'est plus cher que la chanson grise où l'Indécis au Précis se joint»).

Descreve um sonho onde aparecem fantasmas avermelhados; serão mesmo dessa cor, ou devido à luz avermelhada dos sóis poentes? «Fantômes vermeils, Défilent sans trêve,» (AP: «Pas la couleur, rien que la nuance»)

É muito musical, as rimas são ricas e alternam-se segundo a fórmula AB, exceto para os 4 últimos versos do poema: ABBA. (AP: «De la musique avant toute chose»)

O «tour de force» no poema «Soleils Couchants», consiste em o poeta se servir da construção frásica mais direta, sem adjetivações excessivas ou palavras eruditas, para descrever algo que é da ordem do sonho, sugerido apenas através duma mudança de tom, na passagem da primeira metade para a segunda: Nos oito versos do início, sugere uma atmosfera bucólica e melancólica (a palavra «melancolia» aparece 2 vezes num curto intervalo). Mas, nos oito versos do final, passa para um sonho-pesadelo, com fantasmas avermelhados, que desfilam sem parar, como sóis no poente.

O insólito do poema sobressai pela meta-análise: Aquilo que ele explicitamente diz, não corresponde à realidade. Porque estamos perante um sonho, onde as imagens são imprecisas, ambíguas e incoerentes. Não se encaixam na lógica de quem esteja acordado. A visão de vários pôr-de-sóis, simultâneos, que o poema descreve, entra em conflito com a nossa experiência do fenómeno natural. Além disso, ficamos sem saber se são pôr-de-sóis, ou fantasmas. Todas essas ambiguidades fazem-nos pensar que, afinal, o que descreve verdadeiramente, não é a paisagem vista em sonho, mas um sentimento de angústia.
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(*)

De la musique avant toute chose,
Et pour cela préfère l'Impair
Plus vague et plus soluble dans l'air,
Sans rien en lui qui pèse ou qui pose.

Il faut aussi que tu n'ailles point
Choisir tes mots sans quelque méprise :
Rien de plus cher que la chanson grise
Où l'Indécis au Précis se joint.

C'est des beaux yeux derrière des voiles,
C'est le grand jour tremblant de midi,
C'est, par un ciel d'automne attiédi,
Le bleu fouillis des claires étoiles !

Car nous voulons la Nuance encor,
Pas la Couleur, rien que la nuance !
Oh ! la nuance seule fiance
Le rêve au rêve et la flûte au cor !

Fuis du plus loin la Pointe assassine,
L'Esprit cruel et le Rire impur,
Qui font pleurer les yeux de l'Azur,
Et tout cet ail de basse cuisine !

Prends l'éloquence et tords-lui son cou !
Tu feras bien, en train d'énergie,
De rendre un peu la Rime assagie.
Si l'on n'y veille, elle ira jusqu'où ?

O qui dira les torts de la Rime ?
Quel enfant sourd ou quel nègre fou
Nous a forgé ce bijou d'un sou
Qui sonne creux et faux sous la lime ?

De la musique encore et toujours !
Que ton vers soit la chose envolée
Qu'on sent qui fuit d'une âme en allée
Vers d'autres cieux à d'autres amours.

Que ton vers soit la bonne aventure
Eparse au vent crispé du matin
Qui va fleurant la menthe et le thym...
Et tout le reste est littérature.