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segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Soleils couchants (Paul Verlaine / Léo Ferré )

             
                                    Turner: Pôr-de-sol


  

Soleils couchants


Une aube affaiblie
Verse par les champs
La mélancolie
Des soleils couchants.
La mélancolie
Berce de doux chants
Mon cœur qui s’oublie
Aux soleils couchants.

Et d’étranges rêves,
Comme des soleils
Couchants sur les grèves,
Fantômes vermeils,
Défilent sans trêves,
Défilent, pareils
À de grands soleils
Couchants sur les grèves.

 Paul Verlaine, Poèmes saturniens

 

Léo Ferré chante Rimbaud et Verlaine


Este poema poderia ser considerado uma ilustração dos conselhos dados na famosa «Art Poétique»* (AP) do mesmo Paul Verlaine.

O poema «Soleils Couchants» utiliza como métrica o pentassílabo (AP: «préfère l'impair.... sans rien en lui qui pèse ou qui pose»)

Desenvolve-se na ambiguidade: A aurora que se assemelha ao pôr do sol (AP: «rien n'est plus cher que la chanson grise où l'Indécis au Précis se joint»).

Descreve um sonho onde aparecem fantasmas avermelhados; serão mesmo dessa cor, ou devido à luz avermelhada dos sóis poentes? «Fantômes vermeils, Défilent sans trêve,» (AP: «Pas la couleur, rien que la nuance»)

É muito musical, as rimas são ricas e alternam-se segundo a fórmula AB, exceto para os 4 últimos versos do poema: ABBA. (AP: «De la musique avant toute chose»)

O «tour de force» no poema «Soleils Couchants», consiste em o poeta se servir da construção frásica mais direta, sem adjetivações excessivas ou palavras eruditas, para descrever algo que é da ordem do sonho, sugerido apenas através duma mudança de tom, na passagem da primeira metade para a segunda: Nos oito versos do início, sugere uma atmosfera bucólica e melancólica (a palavra «melancolia» aparece 2 vezes num curto intervalo). Mas, nos oito versos do final, passa para um sonho-pesadelo, com fantasmas avermelhados, que desfilam sem parar, como sóis no poente.

O insólito do poema sobressai pela meta-análise: Aquilo que ele explicitamente diz, não corresponde à realidade. Porque estamos perante um sonho, onde as imagens são imprecisas, ambíguas e incoerentes. Não se encaixam na lógica de quem esteja acordado. A visão de vários pôr-de-sóis, simultâneos, que o poema descreve, entra em conflito com a nossa experiência do fenómeno natural. Além disso, ficamos sem saber se são pôr-de-sóis, ou fantasmas. Todas essas ambiguidades fazem-nos pensar que, afinal, o que descreve verdadeiramente, não é a paisagem vista em sonho, mas um sentimento de angústia.
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(*)

De la musique avant toute chose,
Et pour cela préfère l'Impair
Plus vague et plus soluble dans l'air,
Sans rien en lui qui pèse ou qui pose.

Il faut aussi que tu n'ailles point
Choisir tes mots sans quelque méprise :
Rien de plus cher que la chanson grise
Où l'Indécis au Précis se joint.

C'est des beaux yeux derrière des voiles,
C'est le grand jour tremblant de midi,
C'est, par un ciel d'automne attiédi,
Le bleu fouillis des claires étoiles !

Car nous voulons la Nuance encor,
Pas la Couleur, rien que la nuance !
Oh ! la nuance seule fiance
Le rêve au rêve et la flûte au cor !

Fuis du plus loin la Pointe assassine,
L'Esprit cruel et le Rire impur,
Qui font pleurer les yeux de l'Azur,
Et tout cet ail de basse cuisine !

Prends l'éloquence et tords-lui son cou !
Tu feras bien, en train d'énergie,
De rendre un peu la Rime assagie.
Si l'on n'y veille, elle ira jusqu'où ?

O qui dira les torts de la Rime ?
Quel enfant sourd ou quel nègre fou
Nous a forgé ce bijou d'un sou
Qui sonne creux et faux sous la lime ?

De la musique encore et toujours !
Que ton vers soit la chose envolée
Qu'on sent qui fuit d'une âme en allée
Vers d'autres cieux à d'autres amours.

Que ton vers soit la bonne aventure
Eparse au vent crispé du matin
Qui va fleurant la menthe et le thym...
Et tout le reste est littérature.



2 comentários:

Manuel Baptista disse...

A etiqueta «impressionista» dada a Debussy, não é legítima, deriva de um incidente pontual, sem grande significado. Pelo contrário, o simbolismo, será sua estética natural, tendo frequentado poetes e pintores simbolistas bem conhecidos. Ver:
http://www.scena.org/lsm/sm18-1/sm18-1_debussy_fr.html

Manuel Baptista disse...

https://www.youtube.com/watch?v=5AOppiJqbVo