sexta-feira, 5 de novembro de 2021

[Sonya Yoncheva] «Io t'abraccio»* de G.F. HAENDEL



 Uma joia musical, extraída da ópera "Rodelinda" de Haendel, interpretada pela potente e subtil soprano búlgara (com a «Accademia Montis Regalis» dirigida por Alessandro de Marchi, e com a mezzo-soprano Karine Deshayes)
Esta gravação dá testemunho das qualidades essenciais da cantora: Nesta peça em dueto Sonya Yoncheva evidencia a sua maleabilidade expressiva, e o seu timbre rico.. Quem quiser apreciar a sua arte, pode ouvi-la na playlist seguinte: Yoncheva

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(* EU TE ABRAÇO)

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

MISSIVA Nº1 À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA



À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA.


05 de Novembro de 2021

(no calendário deste planeta) 


Neste comunicado, irei dar-vos conta de algumas peculiaridades do planeta Terra, onde tenho estagiado, assim como sobre os seus habitantes. 

Irei começar por esclarecer sua organização social e económica, a que chamam de «capitalismo» ou «sociedade de mercado livre». 

Estou apenas nas etapas preliminares do meu estudo; noutras missivas, irei aprofundar e desenvolver melhor os pontos aqui abordados.

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1) O capitalismo e seus críticos


Há essencialmente dois tipos de críticos do capitalismo: 

A) Os que o detestam visceralmente, mas não compreendem como é que funciona: Pelo que a sua análise se fica por mostrar como o capitalismo é «horrível», «injusto», «cruel», «desumano», etc. Estes, não compreendem, que até uma criança sabe isso intuitivamente, que não são precisos calhamaços cheios de sábias elucubrações e eruditas citações.

B) O outro tipo de crítico, é formado por personagens completamente diferentes, no seu temperamento. São pessoas que examinam o capitalismo como um médico examinaria o seu paciente no hospital. Eles «tomam o pulso, medem a tensão, auscultam» e fazem todas as análises necessárias para detetar a «doença essencial» de que enferma o capitalismo. Eles consideram que o capitalismo está doente, muito doente, mas que tem de ser salvo, custe o que custar. Para estes, não existe realmente horizonte para além do capitalismoTêm, portanto, todo um arsenal de remédios. Cada um inclina-se mais para uma ou outra terapêutica.


2) Os agentes do capitalismo

Ora, os que estão numa ou noutra posição crítica (A ou B), estão muito longe da realidade. Mais próximos estão os que «têm as mãos na massa», literalmente. Estes, que eu designarei por C, são agentes diretos do capitalismo, banqueiros, especuladores, comerciantes, capitães de indústria. Todos estes não ligam demasiado a teorias. Estão muito mais interessados em «fazer dinheiro». 

Tendo eu descido de um planeta longínquo, a bordo de uma nave intergaláctica, sondei os três grupos. Mas dei preferência ao terceiro (C). Porque, para quem vem da galáxia Tau, ou Andrómeda, ou outra, estes humanos têm um sistema muito curioso, muito estranho, na verdade. Ele serve para fazerem guerras, espalhar miséria, mas também erguer obras de arquitetura notáveis, desenvolver as artes e as ciências. Até - por vezes - com ele melhoram a condição dos que estão em baixo, na escala hierárquica.

Sem dúvida, eu tenho dedicado mais tempo junto do terceiro grupo, a aprender o que é o capitalismo. Interessa-me a verdade, a realidade, a coisa em si. Não as teorias retorcidas, ou «brilhantes», mas que passam completamente ao lado dos problemas. 

Estou interessado em aprender com os capitães de indústria, os banqueiros, os especuladores. Estes, estão constantemente a navegar dentro do sistema. Aproveitam-se dos grandes ou pequenos movimentos de matéria e de energia, a que chamam «capital», para aumentar o seu património, para possuir múltiplas vezes mais que os pobres, que trabalham para eles, direta ou indiretamente.

Como visitante doutra galáxia, já percebi que o que chamam economia está sempre a alternar momentos de euforia e outros de depressão (em inglês: «boom and bust»). Estes ciclos repetem-se, arrastando todas as atividades, não apenas do domínio financeiro, também produção industrial, agrícola, comércio, etc. 

Verifiquei que usam uma espécie de objetos em papel (antigamente - há mais de 300 anos - eram objetos metálicos, sobretudo ou apenas), pelos quais têm uma veneração especial, «o dinheiro»: 

Este, em vez de ser somente um meio de troca e contabilidade, é-lhe dado um estatuto próprio de «valor». É pensamento mágico! Estão convencidos que tais pedaços de papel têm «valor intrínseco» ou, mesmo, que só eles têm valor! Pode dizer-se que se trata de «culto do dinheiro». Sim, muitos transformaram-se em adoradores desses objetos curiosos, mesmo quando passam o dia a olhar para o écran dum computador ou telemóvel, com números, signos, gráficos, tabelas, esquemas. Supostamente, é para rastrearem o  dinheiro, ou seus equivalentes digitalizados. 

Porém, a quantidade de dinheiro não é constante. Não está correlacionada com o trabalho, contrariamente ao que defendia um senhor barbudo (que se chamava Marx). Esses papéis são postos a circular, fisicamente ou virtualmente, pelos bancos centrais dos diversos países. 

Os bancos centrais são «autónomos», ou seja não dependem - pelo menos no chamado «Ocidente» - do governo, não estão sujeitos a aceitar as diretivas dos políticos. Os que dirigem os bancos centrais podem aumentar ou reduzir a «massa monetária» (a quantidade de dinheiro existente) e até manipularem para aumentar ou diminuir a quantidade do dinheiro circulante. Eles criam dinheiro a partir de nada. 

Mas não são os únicos. Com eles, os bancos ditos «comerciais», fazem empréstimos com dinheiro que eles próprios criaram a partir de nada, a chamada prerrogativa de reserva fracionada, como eles dizem. 

As pessoas, instruídas na «religião do dinheiro» apressam-se a  pedir empréstimos para as suas necessidades vitais ou para os seus extras, tornando-se assim escravas das dívidas contraídas. «Se tudo se passar bem», estarão livres dentro de 30 ou mais anos, depois de terem contraído o empréstimo, numa altura em que já não têm vitalidade, estão demasiado esgotadas. Elas perdem boa parte da vida para «ganhar dinheiro», para pagar as dívidas! 

É assim que este estranho mundo vive. 

Mais lógica tem o mundo das formigas no formigueiro, ou das térmitas na termiteira. Ao menos, tais insetos sociais estão perfeitamente adaptados às suas condições climáticas e outras, ao seu ambiente particular. A seleção natural operou maravilhas: Estas sociedades, de milhões de indivíduos, comportam-se dum modo aparentemente «racional», ao olhar do observador atento. 

Enfim, o modelo das sociedades humanas é como se um bando de símios tentasse imitar uma espécie de insetos sociais (Hymenoptera). Tentariam construir os edifícios e adotar um modo de vida semelhante,  porém sem razoabilidade, sem o bom-senso natural - fruto de milhões e milhões de gerações - que lhes permitisse uma inserção harmoniosa no ecossistema. 

Por hoje, não poderei adiantar muito mais, neste relatório. Preciso ainda de sondar muitos dados e de fazer muitos registos.  

Venho pedir, aos meus irmãos/irmãs da confederação intergaláctica, ajuda! 

- Os humanos não param com as suas atividades frenéticas. Devido à falta de juízo de dirigentes e à indiferença espantosa dos subordinados, estão a perturbar gravemente o equilíbrio do planeta em que habitam. 

- Não digo isto em vão: Já constatei que não lhes faltam poderosos instrumentos de destruição nos seus arsenais. Por outro lado, não têm bom-senso nem amor, ao lidarem com grupos e nações rivais. 


MB


quarta-feira, 3 de novembro de 2021

[Mattias Desmet] CONDICIONAMENTO DE MASSAS E HIPNOSE

 O condicionamento de massas é um fenómeno social complexo, que se aparenta com a hipnose, mas não é exatamente a mesma coisa. O vídeo abaixo tem grande mérito, porque nos esclarece quais as condições que favorecem o aparecimento deste fenómeno coletivo. Quais são os pressupostos que permitem o aparecimento do fenómeno do condicionamento de massas (aqui, no vídeo abaixo, designado por  «formação de massas»)? - Esta e muitas outras questões são esclarecidas neste profundo diálogo de Aubrey Marcus com Mattias Desmet*, incidindo sobre os tempos de hoje, à luz da história dos totalitarismos.

[*Mattias Desmet é professor de psicologia clínica na Universidade de Ghent (Bélgica); também possui um grau de mestrado em estatística.]


00:00- Introdução 1:22- Estatísticas que não dão certo 3:30- Dinâmica Psicológica 9:50- Condicionamento de Massas (Mass formation) 17:45- Algo muito específico pode ocorrer nestas condições 25:10- O condicionamento de massas no séc. XIX 31:55- Mentecídio 37:27- A experiência de Asch 41:35- Perigos da nossa paisagem presente 47:42- Precisa de média de massas para o condicionamento das massas 53:53- Uma Terceira Via 58:49- Mecanismo do totalitarismo 1:05:10- A importância de estruturas paralelas 1:19:13- Consequências de erguer a voz?

TESTAMENTO [OBRAS DE MANUEL BANET]



Não quero morrer sem escrever um testamento.
Mas que posso eu aí colocar como bens herdáveis?
As coisas materiais estão todas atribuídas, há muito tempo.
As coisas não materiais estão no ar, no vento, no sopro!

Assim, de vento e de imagens farei o meu testamento.
Que vos pertença, Vós que me ledes, assim como se tropeça
Num pequeno tesouro, numa pedra preciosa, abandonada
Um pequeno anel, um nada que deixa o achador contente

Assim gostaria que tu ficasses ao encontrar
Nestas palavras ocas algo que te aproveite!
Não estou inclinado a fazer inventário, porventura
Vós o tendes feito ou não, tanto faz

O que me importa não são obras ditas eternas
Que se esquecem ao virar da esquina,
Nem tão pouco a sorumbática lição de moral
Fustigando que é vão tudo o que nos dá prazer

Não! Esta voz sussurra para vos assegurar
que, quando me for embora desta vida,
Terei muito arrependimento
Muito desaconchego, também!

Não irei de bom grado visitar os outros mundos
Que haja por detrás da cortina, este umbral
De porta que se abre à imensa escuridão e luz.

Para quê escondê-lo? Mais vale dizer
Sempre serei adorador da vida, até ao último sopro
Não tenho nada de mais precioso a dar
Aos mortais como eu, que ficais aqui
Alguns instantes mais, depois
De eu me ir:

- Vede como é bela a vida, não a desfeais
com pequenezas, com mesquinhezes, com raivas ou ódios
Em tudo o que vos couber como destino, dai graças a Deus
Não fiqueis orgulhosos das benesses que tiverdes neste mundo
Mas não desprezai a amizade, o amor, a estima, que são
Afinal, as mais belas e preciosas joias que existem.

Tudo é vão, a não ser o amor que recebeste e que dás
sem cálculo, sem fazer contabilidade; essa é palavra Divina
Amar ao próximo e a Deus, como a nós próprios.

Ámen

terça-feira, 2 de novembro de 2021

ANÚNCIO HONESTO RELATIVO À CIMEIRA DO CLIMA, COP26


 

COMENTÁRIO:
Também se podia referir os mais de 400 jets privados que estão a aterrar em Glasgow, as comitivas com dezenas de automóveis de alta gama, o show do Príncipe de Gales, o cerimonial todo, mais a «segurança», e tudo é o contribuinte que paga. Mas, as coisas não se ficam por aqui! Esta gala destina-se a oficializar o primeiro imposto global ("taxa carbono"), cobrado a todos os povos. Não se lhes pede a sua opinião: Os povos têm de se submeter, mais nada. É mais um passo na concretização do «Great Reset», ou seja, o novo feudalismo planetário. 

PS1: vejam quão «ecológicas» são as taxas carbono!


PS2: Para que fique registado nos anais da estupidez humana, LEIA O SEGUINTE EXCERTO DE ARTIGO DE EGON VON GREYERZ:

«Afinal, a COP26 é apenas exibicionismo político?

200 nações e cerca de 30 000 pessoas estão envolvidas na conferência da COP26 de Glasgow. «COP» quer dizer «Conference of Parties». As Partes assinaram o documento preparatório para a Convenção Sobre Mudança Climática da ONU. Este nome,  COP26 é um nome de conveniência que poderia envolver qualquer número de «partes» de 2 até 200 nações. Para se estar em consonância com o PC (politicamente correto), deve-se seguir de perto e concordar com este grupo, dirigido por burocratas, que têm pouca consideração pelas consequências económicas das suas ações. 

O propósito principal da COP26 é de reduzir a metade as emissões globais em 2030 e atingir um «zero-líquido» (captura de CO2 igual a emissões) em 2050. O Presidente da China não esteve presente, embora o seu país seja responsável por quase 30% das emissões globais. Os EUA estão em segunda posição, com 15 % de emissões mundiais de carbono. 

Portanto, em Glasgow vimos uma mistura heterogénea de burocratas e de membros da elite voando em jets privados e jumbos, para dar sermão ao mundo sobre a eliminação da pegada de carbono em 2050.

Havia uns estimados 400 jets privados. Mesmo Di Caprio participou, para fazer baixar a temperatura.

O governo dos EUA precisou dum certo número de jumbos para transportar o exército de burocratas, do pessoal de segurança, além dum helicóptero e duma frota de potentes carros, para irem do aeroporto para a conferência. Tudo isto para bem do clima, claro.»

[EXCERTO DE ARTIGO DE EGON VON GREYERZ: 

https://www.silverdoctors.com/silver/silver-news/central-bankers-bureaucrats-to-cause-hyperinflation-dont-ignore-opportunity-of-lifetime-in-gold/ ]

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

[Charles Hugh Smith] A CHINA FARÁ REBENTAR A BOLHA DE TUDO

 



Autor: Charles Hugh Smith escrevendo no blog OfTwoMinds blog,


É bem seguro que a China enfrenta problemas estruturais. Uma listagem de artigos no número da Agosto da revista «Foreign Affairs» consagrada à China reflete isso:

A Aposta de Xi: A Corrida para Consolidar o Poder e Evitar o Desastre

A Conta Económica Chinesa: O Preço de Reformas Falhadas

Os Barões-Ladrões de Pequim: Pode a China Sobreviver à Sua Idade Dourada?

A Vida do Partido: Quão Seguro Está o Partido Comunista da China?

Isto são questões espinhosas, difíceis: o precipício demográfico resultante da política de uma criança apenas, a crescente desigualdade de riqueza, a corrupção alastrando, problemas de saúde pública (obesidade e diabetes, etc.), depredação ambiental e uma economia a desacelerar.

O que os analistas convencionais não conseguem compreender plenamente, a meu ver, são 1) a ameaça existencial para o Partido Comunista da China e para a economia chinesa, decorrente da sua bolha de crédito, sem precedentes, formando metástases 2) a sua crise de energia que desponta.

Como expliquei num artigo do meu blog, What's Really Going On in China?, («O que está realmente a ocorrer na China?») o PCC e o governo institucionalizaram informalmente a «irresponsabilidade» (a desconexão entre o risco e as suas consequências) como estando no âmago da sua política.

Qualquer perda financeira, não importa quão arriscada ou quão cheia de dívidas, era coberta pelo Estado (por resgate externo, pelo refinanciar da dívida, por novos empréstimos, etc.). Tal era visto  enquanto "custo do desenvolvimento rápido", consequência da visão de que a ineficiência e o desperdício eram inevitáveis no rápido desenvolvimento da indústria, da infraestrutura imobiliária e de uma economia virada para o consumidor.

Aquilo que os dirigentes da China não compreenderam plenamente foi que esta garantia implícita de «bailouts» (resgates) - o equivalente, nos EUA, ao «A Fed guarda-nos as costas» - incentivou a especulação baseada em dívida, como sendo o «investimento» de mais baixo risco, e de mais elevado retorno, especialmente quando comparado com os investimentos arriscados de baixo lucro, de estreitas margens, nas indústrias de exportação (Lembremos que as margens de lucro das empresas de exportação chinesas rondam os 1% a 3%).


Este é o fator oculto que está a minar a produtividade e a economia chinesas: a dívida em todos os sectores está a subir em flecha, para financiar a especulação, não os ganhos de produtividade.

Esta institucionalização da irresponsabilidade incentivou os jogos de apostas menos produtivos e de maior risco  - Não somente para grandes conglomerados como EverGrande, mas também para as famílias da classe média, que investiram no sistema de «shadow-banking» (um conjunto de empréstimos desregulamentados no sector privado, para financiar devedores com risco elevado, a juros altos) e compraram dois, três ou quatro apartamentos para «investimento».

As contradições resultantes desta massa de poupança investida em condomínios vazios, são sistémicas e perigosas: 1) logo que um andar esteja arrendado, perde valor pelo facto de ser «usado» 2) a vasta maioria dos andares de «investimento» é ilíquida, visto que a maior parte dos novos compradores quer um andar novo, não um usado, portanto o mercado para os usados é extremamente estreito, fora das localizações mais desejáveis, no interior de cidades como Pequim ou Xangai.


Este investimento maciço em apartamentos vazios e ilíquidos gerou perversidades sociais e financeiras: agora, que os andares em áreas mais cobiçadas custam 30-40 vezes o salário de um colarinho branco, os jovens têm de aspirar as poupanças da família alargada para conseguir pagar o andar. Os homens jovens incapazes de comprar um apartamento, veem suas possibilidades de casar evaporar-se.

Uma consequência da relação incestuosa do controlo de Estado com a especulação desenfreada, é o verdadeiro e vasto fosso separando os rendimentos, que se liga à corrupção, num feed-back que se reforça mutuamente: quanto mais rico te tornares, mais próximo do poder te encontras e vice-versa.

Como o sistema de «shadow banking» na China é opaco, até mesmo para os reguladores estatais, é bem possível que os líderes chineses não tenham uma noção da extensão do risco sistémico envolvido nos excessos do shadow banking. Parafraseando a célebre frase de Donald Rumsfeld, "é um desconhecido, desconhecido" para os fazedores da política chinesa.

Esta acumulação monumental de dívida e de especulação é agora uma ameaça existencial para o Partido, a dois níveis:

1) como todas as bolhas rebentam, independentemente das restantes condições, quando esta bolha o fizer, o abalo será suficientemente severo para ameaçar o controlo do Partido sobre a economia.

2) a evaporação desta riqueza fantasma, induzirá o povo a procurar um bode expiatório e o Partido é o candidato nº1, pois ele nutriu e protegeu os bem conectados e os ricos, não tendo protegido os 99% das consequências severas do rebentamento da bolha.

Ao terem criado as condições para a expansão da bolha e para a criação de montanhas de dívida e de promessas implícitas de resgates, o PCC e o governo entalaram-se eles próprios num beco: não existe maneira indolor de desinchar uma bolha especulativa de tão avassaladoras proporções.

Tendo em conta a biografia do Presidente Xi (em especial, a sua experiência pessoal na Revolução Cultural 1966-1976), os seus escritos e a sua consolidação do poder, é claro para mim que Xi compreende que a bolha está prestes a escapar ao seu controlo e portanto, o tempo é escasso e as opções de política estão limitadas a uma triagem ou seja, a salvar os mais saudáveis e deixar que a Natureza se ocupe dos que estão mais próximos de morrer.

Também vejo que Xi apreende a premente necessidade de quebrar a quase absoluta confiança de que o Estado irá resgatar («bail out») toda a gente, até mesmo a que pede emprestado e que especula da forma mais insensata, de tal modo que suas jogadas dão enormes perdas.

A opinião geral no Ocidente é que "a China não pode permitir-se que Evergrande falhe" porque este enorme conglomerado irá obviamente fazer cair muitos dominós, gerando um grande sofrimento financeiro. 
Eu penso que a visão do Presidente Xi é o oposto: «Nós não podemos permitir-nos salvar Evergrande», pois isso iria abrir as comportas das atitudes irresponsáveis («moral hazard») que Xi está a tentar fechar.

O facto do Estado resgatar os jogadores do sector privado (e de empresas estatais) foi o que levou a uma bolha baseada na irresponsabilidade, que Xi está determinado em fazer rebentar agora, quando ainda tem possibilidade de controlar o processo.

Por outras palavras, o Presidente Xi compreende que está no momento, «agora ou nunca», de retomar o controlo duma bolha financeira, inflada pela irresponsabilidade; a única maneira possível, será de fazer pagar as perdas por quaisquer que tenham exposição [aos investimentos especulativos]. A lógica subjacente, é o dilema entre retomar o controlo agora, provocando o rebentamento da bolha, ou deixar que ela se expanda e vá implodir de modo incontrolado (e portanto, ameaçador para o Partido).

Xi concluiu que o primeiro passo, para ser capaz de forçar que assumam as perdas, quaisquer que tenham exposição às apostas especulativas, era consolidar o poder num grau tal, que as costumeiras fações que se serviam do poder para evadir as consequências, fossem forçadas a aceitar sua quota-parte de perdas.
Dada a história e estrutura do Partido, tal exigirá que Xi estenda o controlo a níveis não vistos desde Deng e Mao.

No meu ponto de vista, Xi viu corretamente que estava a fazer-se tarde e que a resistência institucional ao fim dessas  promessas implícitas de resgates e a expansão sem fim da dívida, só poderiam ser superadas, se o seu poder político fosse quase-absoluto.

O rebentamento da bolha movida pela irresponsabilidade e especulação com a dívida, é uma necessidade para preservar o PCC e o poder de Estado; meias-medidas que protegessem os compinchas corruptos, apenas aumentariam a indignação popular, quando a bolha acabasse por rebentar.

É a esta luz que se deve ver a campanha de vários anos de Xi contra a corrupção mais visível e o recente reavivar do conceito de «prosperidade comum», ambos preparando o terreno para pôr fim ao comportamento de irresponsabilidade e para a demolição controlada dos excessos de dívida e de especulação que têm afetado a economia e que ameaçam retirar o controlo ao PCC.

Agora, porém, dão-se grandes ironias. Foi a capacidade da China, em gerar imensas quantidades de dívida, que basicamente permitiu o resgate da economia global em 2008-09, 2015-16 e em 2020. Sim, a Reserva Federal resgatou o setor banqueiro global (na ordem de 16 triliões de dólares em fianças e linhas de crédito) em 2008-09 e inflacionou a bolha especulativa nos EUA, ao criar 3.5 triliões de dólares pela impressão monetária (quantative easing), mas a expansão da dívida causada pela China foi igualmente uma fonte importante de procura global, o que evitou que as economias globais mergulhassem na recessão.


O custo deste «salvamento» não foi apreendido na altura: a elevação da irresponsabilidade até um estatuto quase religioso nos EUA e na China e a expansão das bolhas especulativas alimentadas pela dívida, até alturas jamais atingidas.
Só existem duas opções de políticas:
1) recolher a rede de segurança e recusar resgatar os excessos especulativos, daí fazendo rebentar a Bolha de Tudo,
ou
2) jogar o jogo de manter a bolha em expansão, até implodir por ela própria, num desfecho inevitável, devido às instabilidades sistémicas intrínsecas às bolhas.

Xi escolheu corretamente a política nº1 e ao fazê-lo, posicionou o Partido como o defensor do povo, ou seja, apresenta-se como anticorrupção, pôs na ordem bilionários como Jack Ma e está anunciando que o Estado não irá salvar EverGrande.

A política nº2 tem sido adotada pela Reserva Federal e pela liderança política dos EUA, levianamente. Ao inflacionarem a bolha, deixam que as consequências da irresponsabilidade, a bolha causadora de agravamento na desigualdade de rendimentos e a corrupção, vão -fatalmente - socavar a credibilidade de ambas, tanto da Fed, como da classe política.

As ruturas nos abastecimentos revelam que o sistema económico e financeiro estão estreitamente ligados e estão, enquanto tal, extraordinariamente expostos ao risco de colapsos em cascata, sobretudo quando os nodos-chave se tornam em pontos de congestionamento ou rutura.

Enquanto a Reserva Federal continua a imprimir triliões para continuar a inflar a bolha, a escassez na economia global já está a inviabilizar sectores-chave nas economias da China e da União Europeia. A realidade está em vias de fazer a sua intrusão na fantasia da Fed, de que as bolhas podem continuar - para sempre - desconectadas da economia no mundo real.

Em resumo: o rebentar da Bolha de Tudo não é o objetivo de Xi; este é um efeito secundário inevitável (dano colateral) do rebentamento da bolha especulativa chinesa.

Dado o facto de que todo o sistema financeiro está interconectado intimamente, o colapso de EverGrande é muito mais a história dos dominós a caírem, do que a das perdas diretas: não serão as perdas diretas que irão deitar abaixo o sistema financeiro, mas antes os dominós tombarem, quando os que sofrem perdas diretas, por sua vez, implodem e se tornam insolventes, falhando o pagamento de empréstimos, de juros das obrigações, incapazes de satisfazer as condições contratuais, e assim por diante.

O consenso no Ocidente é de que a China não pode permitir-se deixar a bolha rebentar, porque o sofrimento seria tão severo. Os que acreditam nisto, têm uma pobre compreensão da história da China, especialmente no século XX.

Sendo o rebentar a bolha na China a opção nuclear, Xi tem razões para estar confiante de que poderá fazê-lo: Se isso aumentar o nível de sofrimento para 11, ele sabe que a maioria do povo irá aceitar; quanto aos que não aceitarem, irão juntar-se a Jack Ma, na sua reforma forçada.

Eu estimo que Xi vê o fim da irresponsabilidade e o rebentamento da bolha na China, como uma situação em que o estado das coisas apenas piorará, quanto mais tempo se demorar a pôr-lhe cobro.

A grande ironia agora é que, em vez de salvar a economia global através da expansão da bolha da dívida, a China irá fazer rebentar a Bolha de Tudo Global. Para enfatizar o óbvio, o facto de estar no primeiro plano na economia global, faz da China um dominó de importância primordial. Quem pensar que a bolha especulativa da Fed nos EUA, pode tornar-se imune ao colapso dos dominós estreitamente associados, está a autoiludir-se num pensamento mágico.

Os extremos de excesso de dívida na China e a especulação já estão a desfazer-se, Xi não tem outra opção. Não existe um escape sem custos, apenas haverá como escolha, uma triagem, e Xi já estabeleceu um caminho pelo qual preserva o controlo do Partido, ao forçar todos os que têm exposição, a absorverem as inevitáveis perdas, quando as bolhas de dimensões sem precedentes rebentarem.

A fila dos dominós, que já começaram a tombar, estende-se por toda a economia global e sistema financeiro. Planifique adequadamente.

CONCERTO DE CHOPIN PARA PIANO E ORQUESTRA, Nº2 EM FÁ MENOR

 







Este concerto é o meu preferido dos dois que nos deixou o mago polaco da música para piano. 

Há uma anomalia curiosa na sua numeração, pois acontece que este foi o primeiro a ser escrito, mas aparece com o nº de catálogo posterior ao 1º publicado (o qual, afinal foi o nº2, na realidade!). 

Há quem diga que Chopin tinha pouca capacidade para escrever para orquestra e que portanto, a sua produção orquestral é demasiado escassa. Eu divirjo dessa interpretação, pois acho que este concerto mostra até que ponto ele soube moldar a matéria musical. Sem dúvida, que o aparato da orquestra está ao serviço da brilhante execução no piano. Mas, afinal, não é isso mesmo a essência da forma-concerto para instrumento solista? 
Chopin compunha aquilo que iria interpretar, pessoalmente. Sabia bem como era difícil e subtil passar das notas escritas numa partitura, para a ideia musical que esteve na sua origem. 

Será necessário alguém como Daniil Trifonov, para estar à altura do desafio de interpretar - com o vigor e subtileza necessários - este concerto, criado em Varsóvia em 1830, pelo próprio Chopin.

I. Maestoso II. Larghetto III. Allegro vivace