Não quero morrer sem escrever um testamento.
Mas que posso eu aí colocar como bens herdáveis?
As coisas materiais estão todas atribuídas, há muito tempo.
As coisas não materiais estão no ar, no vento, no sopro!
Assim, de vento e de imagens farei o meu testamento.
Que vos pertença, Vós que me ledes, assim como se tropeça
Num pequeno tesouro, numa pedra preciosa, abandonada
Um pequeno anel, um nada que deixa o achador contente
Assim gostaria que tu ficasses ao encontrar
Nestas palavras ocas algo que te aproveite!
Não estou inclinado a fazer inventário, porventura
Vós o tendes feito ou não, tanto faz
O que me importa não são obras ditas eternas
Que se esquecem ao virar da esquina,
Nem tão pouco a sorumbática lição de moral
Fustigando que é vão tudo o que nos dá prazer
Não! Esta voz sussurra para vos assegurar
que, quando me for embora desta vida,
Terei muito arrependimento
Muito desaconchego, também!
Não irei de bom grado visitar os outros mundos
Que haja por detrás da cortina, este umbral
De porta que se abre à imensa escuridão e luz.
Para quê escondê-lo? Mais vale dizer
Sempre serei adorador da vida, até ao último sopro
Não tenho nada de mais precioso a dar
Aos mortais como eu, que ficais aqui
Alguns instantes mais, depois
De eu me ir:
- Vede como é bela a vida, não a desfeais
com pequenezas, com mesquinhezes, com raivas ou ódios
Em tudo o que vos couber como destino, dai graças a Deus
Não fiqueis orgulhosos das benesses que tiverdes neste mundo
Mas não desprezai a amizade, o amor, a estima, que são
Afinal, as mais belas e preciosas joias que existem.
Tudo é vão, a não ser o amor que recebeste e que dás
sem cálculo, sem fazer contabilidade; essa é palavra Divina
Amar ao próximo e a Deus, como a nós próprios.
Ámen
1 comentário:
Para outras obras poéticas do autor deste blog consultar:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2020/07/obras-de-manuel-banet-poesias-2016-2020.html
Enviar um comentário