quinta-feira, 28 de março de 2019

A «EUROPA» ONDE ESTAMOS E PARA ONDE VAMOS


Aquilo que se está a passar com o Brexit, não diz respeito apenas ao povo britânico. 
O que está a acontecer, neste momento, deve ser visto no contexto em que as forças neoliberais, no continente e nas ilhas britânicas, têm ainda «a faca e o queijo na mão». 

Os povos estão realmente num colete de forças da «União» Europeia. 
A saída desta prisão dos povos é necessária e implica uma grande lucidez das pessoas e das forças políticas. Implica verdadeira liderança, dirigentes à altura do desafio, propriamente patriotas (que amam o seu país e seu povo). 
Tem de haver uma mudança, que não pode ser protagonizada por políticos - de «direita», de «centro» ou de «esquerda» - que se vendem, para terem um lugar doirado nas instituições eurocráticas (parlamento europeu, comissão de Bruxelas, etc...).

quarta-feira, 27 de março de 2019

BANCOS CENTRAIS DESESTABILIZAM A ECONOMIA MUNDIAL

A reversão, pelos bancos centrais americano (a FED) e europeu (ECB), para uma política de impressão monetária, enquanto suspendem ou revertem os programas de venda de activos, que tinham comprado ao longo destes anos, conjuga-se com a manutenção de juros de referência próximos de zero. 

Esta reviravolta foi oficialmente anunciada pela FED, enquanto o ECB continua a manter taxas - de facto- negativas e retoma a impressão monetária, sob o nome de «TLTRO», para financiar os bancos.
Esta inversão brusca de tendência, pouco habitual no modo de proceder dos bancos centrais, é arriscada e tem um efeito desestabilizador na economia mundial. 
A desistência em regressar paulatinamente a taxas de juro «normais», mostra que os bancos centrais capitularam e compreendem que a economia ocidental, como um adito, já não consegue prescindir do crédito ultra-barato, do «estímulo» constante, para manter (e insuflar ainda mais) bolhas especulativas em variadíssimos domínios, desde as bolsas de valores, até ao imobiliário. 
As economias de vários países emergentes já estão muito afectadas, provavelmente serão as primeiras a entrar em colapso acelerado (veja-se o caso actual da Turquia). 
Quanto aos países no «coração» do sistema capitalista, estes irão experimentar - não somente uma inflação dos activos financeiros, como foi o caso do período dito de «recuperação», entre 2009 e 2018 - mas uma inflação imediata na economia real, que se vai traduzir muito depressa numa espiral de preços ao consumidor. 
Com efeito, de tanto suprimirem as taxas de juro, o grande público já chegou à conclusão de que mais vale acumular quaisquer bens correntes que possam escassear, como bens alimentares, de higiene, medicamentos, etc, do que manter poupanças num banco, a uma taxa negativa, ou inferior à inflação, num ambiente de subida acelerada dos preços.
A responsabilidade desta enorme instabilidade, com as perdas concomitantes na economia real e, sobretudo, do sofrimento da população, deve-se inteiramente às políticas neokeynesianas. 
Este culto neokeynesiano, considera loucamente que a saída para uma crise, causada por excesso de liquidez, é carregar o sistema com ainda mais liquidez. A falácia deste pensamento é tão óbvia, que pode ser desmontada por uma criança. Se a economia fosse beneficiada com mais impressão monetária, então as economias mais prósperas do planeta seriam as do Zimbabwe e Venezuela, pois ambas estão a sofrer de hiperinflação.

Somente sobreviverão os activos não financeiros, os que não possuem o risco de contrapartida: se alguém é detentor de obrigações, emitidas por uma empresa ou por um Estado, a entidade que a emitiu pode entrar em colapso e não honrar a dívida. Todos os outros instrumentos financeiros têm o mesmo problema. O próprio depósito de moeda não está seguro, ao contrário do que os Estados dizem, pois os depósitos podem ser predados para recapitalizar os bancos em perigo de falência. 
Mas, o mais provável, é haver uma perda catastrófica de activos com a hiperinflação. 
Mesmo que o capital em dívida seja nominalmente  devolvido, na realidade, resta apenas uma percentagem irrisória do seu valor inicial, pelo facto da inflação ter destruído o valor da unidade monetária. 
Em particular, os fundos de pensões, sejam eles públicos ou privados, estão em risco iminente de serem varridos na tempestade: os pensionistas continuam a receber a sua pensão nominal, mas o seu valor real (o seu poder de compra), esse, fica dividido por 5, por 10, ou por 20! 

Face a esta viragem, a única possibilidade de salvar o poder de compra das poupanças é convertê-las em bens materiais: as pessoas deverão constituir uma reserva na sua dispensa, para que possam aguentar a subida dos preços. 
Com efeito, a inflação acelera num ápice, sendo um fenómeno exponencial e não linear. Numa progressão exponencial, pode confundir-se, no seu início, com uma progressão linear (ou directamente proporcional); mas isso acontece apenas nos primeiros momentos. Quando começa a fase de aceleração, rapidamente atinge 10 vezes, depois 100 vezes, etc., os valores de partida.

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Gráfico: nos primeiros tempos, o crescimento exponencial (curvas a verde e azul)  é baixo, mas a partir de um certo ponto, inflecte e o crescimento acelera. A curva a vermelho representa o crescimento linear.


As pessoas com acesso a terra agrícola, deveriam já começar ou recomeçar a dedicar-se ao cultivo de géneros alimentares. Num contexto de crise, além destes permitirem, pelo menos, uma parte do sustento próprio, haverá sempre possibilidade de troca, duma parte da produção de alimentos, por outros bens essenciais. 
Também, neste contexto especialmente, deve-se estabelecer ou fortificar as relações de amizade, de boa vizinhança, com gestos concretos de solidariedade e de entreajuda, pois a coesão do tecido social onde estamos inseridos, será um factor decisivo para aguentar uma crise, especialmente se ela for de longa duração.

  

NOAM CHOMSKY - REQUIEM PELO SONHO AMERICANO


Este documentário recente tem legendas em castelhano, entre outras línguas, e pode ser visto no Youtube no endereço seguinte: 

https://www.youtube.com/watch?time_continue=6&v=wp6Rbgv1MLg

terça-feira, 26 de março de 2019

OS MONTES GOLAN, EUA E ISRAEL: MAIS UM EXEMPLO DE UNILATERALISMO




Aquando da manobra de reconhecimento por parte dos EUA de Jerusalém como capital de Israel, com anúncio de que iriam mudar a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, já tinha chamado a atenção [1] para a indiferença total do actual poder em Washington, não apenas pela substância do respeito da legalidade internacional, como mesmo, da sua aparência.

Agora, fica claro que o papel da administração Trump [2] é de servir os desígnios das facções mais extremas do sionismo em Israel, em particular redourando a estrela de Natanyahu a braços com um processo por corrupção que poderá inviabilizar a sua eleição ou tomada de posse. 

O poder em Washington tem-se comportado como um apoio incondicional do governo israelita, assim como do todo-poderoso herdeiro do trono da Arábia Saudita, Mohamed Bin Salman.

 Que mensagem dão estas tomadas de posição [3], estas comprometedoras alianças, sem condições e sem contra-peso de uma legalidade internacional, expressa nas numerosas resoluções da ONU, muitas das quais subscritas por Washington?
Os parceiros e adversários dos EUA ficam claramente com a noção de que Washington se considera acima da legalidade internacional. Isto, apesar de ter sido um dos pilares da sua construção no pós-IIª Guerra Mundial. 
A outra ideia com que ficam todos, é que existem compromissos secretos, acordos que implicam estas posturas. Natanyahu ou Bin Salman por mais poderosos que sejam dentro dos seus respectivos Estados, não seriam nada sem o apoio decisivo dos EUA. 
Por outro lado, os EUA, comprometem-se - ao tomar como aliados incondicionais, esses governos - com um desempenho dos mais negativos, em termos de direitos humanos. Mas Trump e seu governo, continuam a usar a «cantilena» dos direitos humanos, como pretexto para agredir a Venezuela, ou quaisquer outros países que não se submetam ao seu «diktat».

Uma tal postura equivale a que os EUA estão a auto-sabotar a sua imagem de propaganda que gostariam de dar; a de uma nação que está preocupada com a legalidade, com a democracia e com os direitos humanos. Mas, esta arrogância não revela grande poderio, antes pelo contrário, uma grande fragilidade. 
Pode-se ver a política externa dos EUA como fortemente condicionada por Israel e pela Arábia Saudita, o que apenas mostra a sua enorme fraqueza, a sua dependência mesmo. 
- Terão Natanyahu e Bin Salman meios de pressionar Trump, de um modo tal, que este seja obrigado a «deitar às urtigas» a tal capa de respeitabilidade internacional?
 - Serão tais pronunciamentos, como a declaração relativa aos montes Golan, decorrentes do facto de Washington desejar retirar-se?
- Estaria Washington a preparar o terreno para seus aliados estratégicos da região ficarem mais fortalecidos, antes da sua retirada? 

Seja como for, as convulsões e sofrimentos [4] dos povos no Médio Oriente, quer do povo da Palestina, quer da Síria ou do Iémene, foram claramente causadas pelos EUA e por seus aliados. 
Estas guerras criminosas têm como consequência que os povos dos países da região e doutras zonas do mundo, anseiem pela queda dos EUA enquanto hiper-potência mundial, não sujeita a qualquer restrição, não respeitando leis nem direito, mas impondo pela força a sua vontade. 
Estas manifestações de arrogância («hubris») são afinal mais umas pedras para a tumba de seu suposto estatuto de «nação indispensável», de que se ufanam. 

[1] https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/12/jerusalem-tem-de-ser-promessa-de-paz.html

[2] http://www.informationclearinghouse.info/51329.htm

[3] https://www.asiatimes.com/2019/03/article/us-golan-move-turns-1967-setback-into-reality/

[4] https://www.zerohedge.com/news/2019-03-25/israeli-airstrikes-rock-gaza-target-hamas-command-after-netanyahu-cut-short-us-trip

NÃO ESPIES POR MIM, ARGENTINA


WAYNE MADSEN | 20.03.2019
https://www.strategic-culture.org/news/2019/03/20/dont-spy-for-me-argentina.html


Quando um presidente dos EUA incompetente contrata como seu «enviado especial» para mudança de regime na Venezuela o mesmo bufão que, nas suas trapalhadas, ajudou a que o escândalo Irão-Contras rebentasse, pode-se esperar tudo.
Abrams, ao ajudar a canalizar por engano fundos que solicitara ao Sultão de Brunei, que, em vez disso, acabaram por ir parar à conta suíça de um rico armador, chamou a atenção e despoletou a investigação sobre o esquema de cobertura Irão-Contras pelas autoridades bancárias suíças.
A descoberta recente, pelo juiz argentino Alejo Ramos Padilla de que a administração de Trump cooptara o regime direitista argentino do presidente Mauricio Macri para atingir a companhia petrolífera estatal da Venezuela e o regime de esquerda do Uruguai, numa enorme operação de extorsão, exibe todos os sinais do enviado imbecil de Trump para a Venezuela, Elliott Abrams. Quando ele era Secretário de Estado Adjunto para os assuntos do Hemisfério Ocidental, durante a administração de Ronald Reagan, Abrams foi indiciado pelo seu papel no comércio ilegal de armas para o Irão em troca dos reféns americanos, mantidos pelas milícias xiitas pró-iranianas no Líbano. Agora, foi repescado da reforma pelo seu colega neo-conservador, John Bolton, para levar a cabo o derrube do governo do presidente Nicolas Maduro na Venezuela.
Durante o episódio Irão-Contras, o nefasto Abrams, que se auto-denomina perito sobre a América Latina, ajudou a usar os fundos obtidos da venda ilegal de armas ao Irão para comprar, no mercado negro, armas para os Contras da Nicarágua. Ele levou a cabo a operação com a assistência do cartel de droga de Medellin na Colômbia e com o líder panamiano Manuel Noriega. Abrams teria provavelmente cumprido uma longa sentença de prisão pelos seus crimes, caso o presidente George H. W. Bush não o tivesse perdoado, assim como a outros condenados pelo caso Irão-Contras, na véspera de Natal de 1992.
As impressões digitais de Abrams, de Bolton, do secretário de Estado Mike Pompeo e do Senador e membro do Comité para as Relações com o Hemisfério Ocidental, Marco Rubio, estão por todo lado neste escândalo de extorsão, que agora abala a Argentina. O juiz Padilla está direccionando o processo contra o regime de Macri, o qual envolve milhões de dólares, que têm sido extorquidos por aliados de Macri contra alvos de oposição política, assim como coerção de falso testemunho exercida sobre estes alvos. Padilla disse ao Comité de Liberdade de Expressão da Câmara dos Deputados Argentina que descobriu «uma rede para-estatal de espionagem de grande magnitude, ideológica, política e judicial», acrescentando que se tratava de “uma teia de operações de espionagem ilegais, envolvendo forças judiciais, do governo, da segurança, dos poderes políticos e dos media”.
Macri esteve associado como sócio no negócio do imobiliário com a Organização Trump, para construir na baixa de Buenos Aires uma Torre Trump. Embora o projecto não tenha vingado, as relações de negócio entre Macri e seu pai, o italo-argentino milionário Francesco Macri, com a Organização Trump estendem-se, no passado, aos dias em que o pai de Donald Trump, Fred Trump, dirigia a empresa e são famosas. Elas incluíram colaborações para construção de imobiliário em Manhattan e em Buenos Aires. Companhias de fachada, off-shore da empresa Trump Organization e da empresa da família de Macri, o conglomerado Socma, estão presentes em documentos da agora defunta firma de advogados da cidade do Panamá, Mossacka-Fonseca.
O juíz Padilla foi recentemente convidado a testemunhar sobre o escândalo de extorsão pelo presidente do Comité para a Liberdade de Expressão, Leopoldo Moreau. O convite surge depois do presidente do Comité de Contra-Espionagem, o senador Juan Carlos Marino, um fiel adepto de Macri, ter recusado convidar Padilla a testemunhar frente ao Comité a que preside. Moreau classificou o escândalo de extorsão «o mais grave escândalo institucional desde que a democracia regressou à Argentina [em 1983],” acrescentando que é “uma máfia dedicando-se a entalar oponentes, forçando ao seu testemunho falso e espionagem.” Padilla indicou como executantes da operação de extorsão, o Delegado Público Federal Carlos Stornelli, o seu próximo associado, Marcelo d’Alessio, os serviços secretos argentinos, a “Agencia Federal de Inteligencia”(AFI), o chefe da AFI, Gustavo Arribas, duas mulheres-congressistas de direita — Elisa Carrió e Paula Olivetto da Coalição Cívica pró-Macri — e o diário de direita, “Clarín”.
D’Alessio foi preso a 15 de Fevereiro deste ano. Nas 22 horas de gravações audio e video incriminatórias de d’Alessio, este declarou ter recolhido 12 milhões dólares, em subornos de indivíduos que tinham sido ilegalmente sujeitos a chantagem, desde Agosto de 2018. Quanto a Stornelli, pensa-se ter ele conduzido a operação de extorsão com conhecimento e encorajamento da Ministra da Segurança, Patricia Bullrich. Stornelli recusou comparecer diante do juiz Padilla ou a entregar seus telemóveis, como lhe tinha sido ordenado judicialmente. O indivíduo que seria o presumido «colector» de fundos destas operações, Salta Mayor Gustavo Sáen, próximo aliado de Macri, forneceu os seus telemóveis pessoais a Padilla.
Padilla, que tem estado sob intensa crítica dos media pró-Macri, tem sido descrito, por alguns, como o equivalente na Argentina de Robert Mueller, o Conselheiro Especial dos EUA, investigando Trump.
Padilla revelou que d’Alessio trabalhou para a CIA e que tinha na sua posse documentos da embaixada dos EUA em Buenos Aires, manuais da CIA sobre agentes encobertos na Argentina e na Venezuela, e armas licenciadas nos EUA. Os textos de mensagens usando WhatsApp, extraídas do smart-phone de d’Alessio, tinham a ver com espionagem contra o Uruguai, chantagem para obrigar a fazer falso testemunho contra o governo de Maduro de Venezuela, a que submetera um advogado da “Petróleos de Venezuela, S.A.” (PdVSA), a companhia estatal venezuelana de petróleos, cujos activos foram tomados pela administração Trump, e de ter enviado relatórios, via mala diplomática, a um centro de espionagem dos EUA, no Estado do Maine, onde  está situado o «US Navy’s Very-Low Frequency Navy Communications Station», na cidade de Cutler. Padilla disse que, na busca a casa de d’Alessio’s na cidade de Esteban Echeverría, “Encontrámos documentos, ficheiros de serviços secretos, blocos de apontamentos com dados detalhados sobre filhos, esposas e parentes daqueles que estavam a ser alvo de chantagem, aparelhos para espionagem como câmaras ocultas, drones, uma arma que chamou a atenção de todos” Padilla estava obviamente a referir-se à tentativa de assassinato falhada contra o presidente venezuelano Nicolas Maduro em Agosto passado, operação relacionada com os operativos da CIA, baseados na Colômbia. A operação visando a PdVSA era uma tentativa, em parte, de falsamente ligar a empresa ao tráfico de drogas e de armas e outras operações ilícitas para acusar o presidente Maduro e seu antecessor, Hugo Chavez, de envolvimento em tais operações. Padilla descobriu que a operação para denegrir Maduro e Chavez envolvia não apenas d’Alessio e a CIA, mas igualmente a DEA, a agência dos EUA de combate à droga. A operação, com o nome de código “OPERATION BRUSA DOVAT,” envolvia o anterior director da PdVSA, Gonzalo Brusa Dovat, um cidadão uruguaio, e enquadrava-se no plano global da administração Trump para congelar os bens da companhia de petróleos venezuelana no estrangeiro. Outras mensagens de texto de d’Alessio revelavam uma armadilha para comprometer o ministro das obras públicas Julio de Vido e seu secretário, Roberto Baratta, utilizando dados roubados por um operacional da NSA (National Security Agency dos EUA) David Cohen, que trabalhava para “Energía Argentina SA” (ENARSA), a agência estatal argentina da energia. Cohen foi constituído arguido pelas autoridades argentinas a 8 de Março. Padilla também descobriu o envolvimento dos serviços de espionagem de Israel na operação para-estatal de extorsão.
Padilla revelou que a operação de extorsão visava também a actual senadora da oposição e ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner e vários proeminentes jornalistas anti-Macri.
Também se descobriu no telemóvel de d’Alessio mensagens de texto de membros da equipa de Trump na Casa Branca, oferecendo a Macri «apoio mediático» (“media coaching”) para sua campanha de re-eleição de 2019. O ex-estratega principal de Trump, Steve Bannon deu assistência efectiva ao presidente neo-nazi brasileiro Jair Bolsonaro, durante a sua campanha vitoriosa de 2018. Em Fevereiro deste ano, Bannon designou o filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, um senador brasileiro, como o chefe para a América Latina da organização mundial fascista, chamada «O Movimento».
A operação conjunta da Argentina/CIA/Israel, centrava-se na tentativa de comprometer o governo de esquerda da “Frente Amplio de Uruguai” do presidente Tabaré Vázquez, numa falsa ligação à missão comercial iraniana operando no Uruguai. D’Alessio tinha em sua posse, segundo foi revelado, correspondência com cabeçalho da embaixada dos EUA em Buenos Aires e com cabeçalho do ministério da defesa de Israel. A ligação forjada ao Irão foi utilizada como justificação para uma operação ilegal de vigilância dos políticos da Frente Amplio, incluindo o presidente Vázquez, o antigo presidente José “Pepe” Mujica e sua esposa, a actual vice-presidente Lucía Topolansky.




Havia alegações falsas nos ficheiros guardados por d’Alessio de que a missão comercial iraniana no Uruguai estava fazendo negócios com a Argentina, através duma companhia russa de fachada. A informação forjada terá sido fornecida aparentemente pelos serviços secretos de Israel, o MOSSAD. D’Alessio foi identificado por Padilla como fazendo parte de uma operação visando o Hezbollah libanês. Descobriu, sem surpresa, que d’Alessio estava em ligação com o presidente da câmara de comércio Argentina-Israel em Buenos Aires.




As revelações de Padilla levaram o juiz de instrução uruguaio do crime organizado, Luís Pacheco, a afirmar que poderá solicitar mais informação sobre o escândalo das extorsões ao governo da Argentina.




Está-se perante a possibilidade de tentativa de golpe contra o presidente Vázquez, ajudada e avalizada pela CIA e a Casa Branca de Trump. A 13 de Março, Vázquez demitiu o comandante-chefe do exército, General Guido Manini Ríos, por este ter criticado os julgamentos de oficiais culpados de violações dos direitos humanos na ditadura militar uruguaia, por se ter reunido com políticos direitistas de oposição, e mais grave ainda, por ter visitado Bolsonaro, que elogiou ditaduras militares passadas do Brasil e doutras nações latino-americanas, incluindo o Uruguai, a Argentina e o Chile.




A CIA, dirigida pela defensora da tortura, Gina Haspel, tornou-se a tropa de choque do exército que serve os desejos de Trump e as escuras políticas neo-conservadoras de Bolton e de Pompeo. É claro que Abrams, Bolton, Pompeo, Rubio, Bannon e seus protegidos, incluindo Macri e Bolsonaro, estão a tentar recriar a OPERAÇÃO CONDOR dos anos 1960, 70 e 80, uma aliança dos serviços secretos das ditaduras da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, que eram os membros titulares, enquanto o Equador e o Peru eram membros associados. Dezenas de milhares de militantes de esquerda foram perseguidos e executados, na época da Operação Condor, que operava em plena concordância e com participação da CIA.




O regime de Macri respondeu às revelações de Padilla perante a câmara dos deputados da Argentina iniciando um processo de impugnação contra o juiz. O ministro da justiça requereu formalmente ao Conselho da Magistratura, que tem autoridade sobre os juízes, para abrir uma investigação formal a Padilla. Padilla foi sujeito a uma campanha perversa de difamação nos media argentinos pró-Macri, com alguns críticos questionando mesmo seu serviço militar durante a guerra das Malvinas contra os britânicos. Padilla, neste ponto, não difere de Robert Mueller, cujo serviço no Corpo de Marines no Vietnam também foi questionado pelos aliados de Trump.

TRADUÇÃO DE MANUEL BAPTISTA 


domingo, 24 de março de 2019

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE ii)


[ver parte 1 aqui

As situações complexas e contraditórias que se nos deparam são completamente indecifráveis se nos mantivermos pela imprensa «mainstream». Isto porque a dita imprensa apenas relata acontecimentos pontuais, dando relevo aos aspectos imediatos, ignorando os aspectos de longo prazo ou de contexto.

Um caso interessante é aquilo em que se tornou a contenda política nos EUA, em que vêm à superfície os elementos que contradizem a narrativa dominante. Trump, não sendo nenhum anjo, não era aquele «agente dos russos» que os porta-vozes democratas pintavam. Os CNN, NYT, WP, e outros da imprensa e televisões «mainstream», transformaram os americanos nos alvos duma gigantesca operação do tipo «psy-op». Antes da eleição de Trump em 2016, este tipo de campanhas (de guerra psicológica, afinal) eram reservadas, pela CIA e outras agências dos EUA, ao exterior. Destinavam-se a desestabilizar regimes que não lhes agradavam. Isso agora mudou, pois os alvos de tais operações TAMBÉM se tornaram o poder político e o povo americanos: um extenso artigo de Matt Taibbi sobre o «Russiagate»  esclarece-nos sobre a importância deste caso.

Outra situação, bastante desprezada pela imprensa «mainstream» e muito significativa para os países da Europa meridional, é a impossibilidade do sistema da UE e, especialmente da Moeda Única, instituída em Maastricht (1992), jamais ter correspondido aos fins apregoados pelos políticos da época: a propalada convergência das economias, dos níveis de vida e bem-estar dos diversos povos, a solidariedade dentro da UE, blá, bla, blá!
 O artigo de Eric Toussaint, embora não partilhe todos os pormenores da sua análise, ajuda à compreensão de qualquer pessoa que, realmente, queira saber o que está em jogo, na economia mundial e, em particular, na UE. 
Um posicionamento dos cidadãos da UE, seja ele qual for, não pode ser esclarecido, se não dispuserem destas informações!

A terceira fonte informativa debruça-se sobre a mudança tectónica, que está ocorrendo «por detrás da cortina», ao nível dos Bancos Centrais, das Organizações como FMI, Banco Mundial, BIS, e muitas outras. Esta mudança vai implicar a reorganização do sistema monetário, porque o reino hegemónico do dólar (e do petro-dólar) está mesmo no fim. Jim Willie, o editor de «Hat Trick Letter», tem acertado em muitas previsões do que vem acontecendo. Tenho seguido este autor, pela qualidade intrínseca das informações e análises que fornece. Os seus interesses estão mais centrados no seu país, os EUA, o que é natural; porém, ele tem uma vasta rede de contactos internacionais, em posições que lhes permitem compreender o que se passa. 
Infelizmente, os supostos «analistas» económicos da imprensa «mainstream» fazem como se nunca tivessem conhecimento de tais factos. Para um leitor que apenas consulte esta imprensa, a crise mundial - cujos sinais precursores já despontam - irá cair como uma «trovoada em céu azul». A entrevista de Jim Willie, dada a X22 Spotlight recentemente, é muito esclarecedora.

Se as pessoas pensam que sou um seguidor acrítico dos três autores supra-citados, desenganem-se. 
Eu tenho em elevada estima uma pessoa, mesmo quando discordo dela em pontos significativos, se ela nos traz algo de novo, algo que nós não sabíamos. Quando nos dá evidências, apoiando as informações. Com o tempo aprendi a separar «o trigo do joio», a saber quais os autores são para se tomar a sério, mesmo quando não podem revelar as suas fontes. 
Como é que se sabe que determinado autor é de confiança? 
- Quando ele/ela tem a humildade de reconhecer que errou, que se enganou neste ou naquele aspecto. Ninguém é infalível.

No caos do mundo contemporâneo, é absurdo pensar-se que alguém ou alguma organização possam ter uma clarividência absoluta. 
Assim, também é insensato confiar na «solução» de um mundo globalizado, com um governo mundial, um banco central mundial,  forças armadas mundiais, etc, etc. É este, porém, o caminho perigoso e totalitário para o qual nos querem arrastar, políticos, empresários, banqueiros e outras pessoas em altos cargos.
 A informação real sobre uma série de fenómenos ocultados ou distorcidos pela media mainstream deve ser lida atentamente por pessoas mais esclarecidas - sejam elas jornalistas, académicos, ou doutras áreas -, que devem usar os seus talentos para divulgar as informações que obtiveram. 
De outro modo, é impossível ao cidadão comum tomar conhecimento dessas realidades.

sábado, 23 de março de 2019

REFLEXÃO: O CONTRÁRIO DO AMOR...

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O contrário do amor não é o ódio, apesar de ser isto que as pessoas geralmente respondem, se lhes perguntarmos qual o oposto semântico de amor.

O oposto do amor é a indiferença. 
Embora pareça estranho que não seja o ódio ou o desamor, de facto, não é: ódio e desamor são, muitas vezes, consequência de um desespero de amor, de um amor não correspondido, ou de alguém se sentir despeitado/a.

Ora, a nossa sociedade contemporânea tem muito ódio escondido, muito desamor reprimido, porém muito pouca manifestação genuína de amor, em todos os sentidos da palavra.
Parece que a civilização do consumo e da mercadoria recalca (ou extirpa?) aquilo há de mais humano no ser humano, a empatia e a compaixão. 
Falta empatia e assim coexistem bairros de lata ao lado de condomínios de luxo. Falta empatia e as pessoas passam  por pedintes ou sem abrigo, nas ruas mais comerciais de capitais dos países afluentes com total indiferença, sem verem, sem notarem. Falta empatia; porém, as pessoas «emocionam-se» com algo que vêem nos pequenos ecrãs e até se «mobilizam», solidárias com causas distantes, a muitas centenas ou milhares de quilómetros.

A questão importante e prévia, é saber:
- Será inevitável esta mudança comportamental individual e colectiva, correlacionada com a progressão (que não progresso) da civilização tecnológica, que satura os indivíduos com bens materiais, enquanto os esvazia de empatia autêntica, de densidade humana, de espiritualidade? 
- Ou será possível reverter isso?
Na hipótese de que será possível essa reversão, como é que se pode conceber que tal aconteça? Quais os aspectos fundamentais, que a tornarão possível? 

Não sei, mas no caso de haver saída disto tudo, ela terá que ser não compatível com os valores desta sociedade, portanto em ruptura com os mesmos. Que esta ruptura seja brusca ou suave, não posso adivinhá-lo. 
Mas, aquilo que sei, é que este estado de coisas piora a humanidade em todos os aspectos, desde a dignidade das pessoas (individualmente tomadas), até ao próprio sentido da vida (na sua dimensão global e social). 

E a indiferença, então? Sim, o contrário do amor, que fazer dela, no meio disto tudo? 
- Creio que, na verdade, as pessoas mascaram de indiferença, fingem não ver, aquilo que lhes causa medo, pavor: o facto de se ver um sem-abrigo causa pavor, na medida em que - lá no fundo - se teme que isso nos possa acontecer. Uma tal eventualidade é vista como o atingir da degradação última.
A indiferença é então sinónimo de medo, de intimidação, de estar em «denegação», até mesmo, duma forma atenuada de esquizofrenia.  
A «arma» que o amor pode usar, é mostrar que não há que ter medo, que podemos abordar as questões por outro ângulo, aquele que - justamente - a media corporativa e todos os pregadores de moral se esforçam por não nos mostrar. 
Este ângulo é o seguinte: tudo tem uma ou várias causas, tudo tem a sua origem. Sabendo-se qual ou quais as causas, temos meio-caminho andado para as extirpar. O outro meio-caminho, será o procurar meios adequados para esse fim.

Todas as pessoas que sofrem e têm medo, no fundo, anseiam libertar-se desses males. 
A sua libertação passa por uma auto-educação, pelo seu apoderamento, mas tal só é viabilizado se estiverem construindo, em simultâneo, novas formas de estar e de conviver. 
Os novos valores, ou a reafirmação e plena compreensão de valores ancestrais, terão de emergir, na negação dialéctica dos quadros mentais que nos foram impostos.